novembro 09, 2021

HORUS - FILHOS DE RÉ - Leonardo Redaelli



A adoração do falcão tem suas raízes nas mais antigas concepções dos deuses do Egito. Já os primeiros reis estavam ligados ao seu aparecimento. No entanto, a partir do sul do Alto Egito até o Delta, várias divindades falcões foram adoradas e como sua fusão em Hórus permaneceu incompleta, este deus também apresenta uma imagem não muito uniforme que se opõe tenazmente a qualquer classificação, especialmente mítica e genealógica. Como um mestre do ar que viaja pelo céu, ele está associado ao sol. Horakhty é, portanto, o "Horus do horizonte", a forma diária do sol. Harmakhis, o “Horus no horizonte ”, tornou-se o nome da Grande Esfinge de Gizé.

Haroéris, “Horus o Velho”, era considerado filho de Re. O surgimento do culto a Osíris, bem como a identificação de Hórus com o rei, no entanto, criaram uma nova concepção. Se o falecido rei era Osíris, seu filho e sucessor deveria ser Hórus, portanto filho de Osíris e Ísis. Nessa qualidade, ele foi chamado de Harsiésis, filho de Ísis. Seu aspecto de filho-afilhado, Harpócrates, tornou-se quase independente na última época. Hórus, como falcão ou antropomorfo com cabeça de falcão, pode usar como emblema tanto as coroas dos Dois Países quanto o sol rodeado por um uraeus. Seus olhos simbolizam o sol e a lua e, como um disco solaralado, simboliza o céu em geral. Em muitos santuários, falcões sagrados eram mantidos , por exemplo em Philae, Edfu ou Hermopolis.

O sacerdote Djedhor de Athribis, no 10º nome do Baixo Egito, nos deixou um relatório detalhado sobre isso no final do século 4 aC Nesta cidade era adorado Hórus Khentekhtai, que aparentemente vivia em um respeitável salão hipostilo no terreno do templo. Para a manutenção do falcão, era necessário um poço com água doce e pura, um parque com árvores e um pombal. No cemitério dos falcões, não foram apenas enterrados os falcões sagrados encontrados mortos. Como rei divino e filho de Osíris, Hórus vinga seu pai * (Harendotes) e luta por sua herança; sob o aspecto solar, ele derrota os inimigos deD. Nos mitos, as duas ideias se misturam em uma disputa estranhamente comovente entre Hórus e Seth. Esse curioso deus, com a cabeça delgada e alongada de “animal sethiano ” que não pode ser identificada zoologicamente, só se tornou um personagem negativo através do mito osiriano, mantendo suas características positivas originais. Ele também é um dos reis divinos; com Hórus, ele consegue " a unificação dos países" e luta contra o inimigo original de Re, a serpente Apopis.

Por outro lado, disfarçado de hipopótamo ou crocodilo, também pode se tornar adversário de Re e, arpoado por Hórus, perde sua força. Sendo o “vermelho”, ele é empurrado de volta para o deserto, estéril, grosseiro e perverso, trazendo a tempestade e as nuvens da tempestade, inimigas da vida e do poder real. Depois do assassinato de Osíris e da perseguição ao pequeno Harpócrates, o mito retrata em detalhes a disputa entre Hórus e Seth pela sucessão. Há 80 anos, adversários se enfrentam perante o tribunal divino da Enead, quando o Conselho se reúne para tomar uma decisão.decisão. Enquanto todos os deuses imploravam por Hórus, Re se sentiu ignorado e ficou chateado. Foi consultado Ba, o touro de Mendes, que por sua vez pediu a perícia de Neith. Como ela também defendeu os interesses de Horus, Re tornou-se agressivo. Chamando Hórus de "um fraco que chupa seu dedo", ele ficou muito ofendido quando foi informado de que seu naos estava vazio (o que é correto, já que ele era adorado ao ar livre). Seth argumentou que ele era o maior e o mais forte e que todos os dias ele matava Apopis, o oponente de Rá. E os deuses aprovaram isso.

Quando Ísis se defendeu com fúria, Seth ameaçou nocautear os deuses e ele conseguiu pela força que Ísis fosse excluída do processo. Então o Conselho mudou - se para a "ilha do meio" e o barqueiro recebeu a ordem estrita de não deixar Ísis passar em hipótese alguma. Mas, disfarçada de velhinha, ela o enganou e o subornou com um anel de ouro. Chegando na ilha, ela se transformou em uma bela mulher, seduzindo Seth para fazê-la acreditar que um estranho estava tentando despojar o filho de seu falecido marido de sua propriedade . Indignado com tal injustiça, Seth tomou partido contra si mesmo e o Enead confirmou esse fato. Então vieram os duelosque Horus venceu por pouco com astúcia e com o apoio de sua mãe. Mas o tribunal ainda não decidiu.

Era preciso que Osiris interviesse a favor da justiça e de seu filho tomando uma atitude ameaçadora, para que Seth fosse preso e para que Hórus pudesse receber sua herança. Seth foi, no entanto, recompensado e aceito no "barco de milhões de anos" como filho do Deus Sol. Ainda assim, a reputação de Seth não melhorou . Combinando as idéias da vingança do pai e da aniquilação dos inimigos de Re , o ritual dos "dez arpões" foi celebrado, sob o aspecto de um espetáculo de culto, no lago sagrado do templo de Hórus em Edfu. De seu barco, Horus Behedety arpoou Seth, representado por um hipopótamo ou crocodilo. O rei compareceu da costa,vestindo o adorno do deus caçador Onouris. No final da cerimônia, o hipopótamo foi esfolado e distribuído para nove deuses.

Desde a última época, a lenda de Ísis e o menino Hórus tem sido um dos temas mais populares da crença popular. Com elementos ternos ou às vezes até sentimentais, embelezamos o relato da perseguição por Seth, o tio malvado: Como ele enviou todos os tipos de animais temíveis e como Ísis, no entanto, conseguiu proteger a criança e curá-la das picadas de cobras e picadas de escorpião . Isso dificilmente era feito sem bruxaria e magia, e Harpócrates gradualmente se tornou um ser auxiliar contra todas as feras e poderes do mal quesão ao mesmo tempo os adversários de Re. Para a prática mágica, usamos pequenas estelas nas quais o filho Hórus estrangula cobras e escorpiões, doma leões e gazelas e pisoteia crocodilos. Esses relevos eram usados ​​como amuletos; eles foram colocados na água ou aspergidos com água que se tornou curativa. Um sincretismo tardio equiparou o filho Hórus ao deus de lótus Nefertem. Foi associado ao deus protetor Bes e os gregos viram nele uma reminiscência de Hércules como uma criança que estrangulava cobras.

Publicado em Bulim - Boletim N ° 11 - 30 de outubro de 2009

POSTULANTES À INICIAÇÃO - Valdemar Sansão



Vimos oferecendo através desses artigos, uma ideia mais ou menos aproximada, desta grande Instituição aos que nela pretendem ingressar.

Objetivamos proporcionar-lhes uma antevisão do terreno em que poderão vir a pisar e da trilha que, obviamente, terão de seguir nesta Fraternidade, centro de União e meio de conciliar, por uma amizade sincera, pessoas que, sem ela, não se conheceriam.

Graças ao prestígio de que tem desfrutado em todos os períodos de sua história, a Ordem Maçônica tem sido sempre um imã que atrai inúmeros candidatos à Iniciação.

Geralmente mal informados acerca dos objetivos da Instituição, alguns a tem procurado com intenções interesseiras, ofuscados que foram por um dos seus aspectos: o de sociedade de mútuos socorros.

Se tivéssemos que realizar uma viagem por regiões desconhecidas, é certo que antes de partir analisaríamos tudo quanto se relacionasse com ela.

Para ingressar na Maçonaria, entretanto, o Candidato, de modo geral, não é preparado.

É necessário que ele saiba para onde vai e distinguir também, e claramente, a meta a atingir.

Assim completamente desinformado o candidato concebe sobre a Maçonaria idéias em geral errôneas.

Incapazes de explicar aos postulantes o que seja a Maçonaria, certos proponentes (padrinhos) e sindicantes procuram cercá-la com um desnecessário e despropositado mistério.

Por esta razão, não concordamos que postulantes sem o menor conhecimento sobre a Ordem, suas finalidades, sua história, organização, disciplina, objetivos e doutrina, transponham a entrada de nossos Templos.

A Maçonaria compõe-se de homens de boa vontade, bem intencionados, dotados de sentimentos de solidariedade humana. Os que quiserem ingressar em seu meio devem possuir este espírito de bem servir.

Seus ensinamentos não impõem limites à livre investigação da Verdade, e, para garantir essa liberdade, espera que a criatura humana se corrija se modifique, se transforme para melhor. Tais deliberações do espírito representam a busca de sua auto- iluminação, pedida a seu favor na cerimônia de Iniciação, ou seja, de sua ligação à Maçonaria:

Auto-iluminação – A auto-iluminação está estreitamente vinculada ao desenvolvimento da sabedoria e do amor. Trabalhando as nossas imperfeições de caráter, de vibração, de pensamento e do comportamento, entre outras coisas.

Não se conquista a sabedoria sem o combate sistemático ao egoísmo – a mais grave doença da humanidade – que atinge tanto indivíduos como nações e que amesquinha as relações e envilece os corações.

Sabedoria – Não se pode adquirir sabedoria se cultivarmos a inveja, sentimento inferior que nasce do irrefreável desejo de possuirmos algo que não nos pertence. Nós não avançamos no campo da sabedoria se formos exageradamente auto condescendentes desculpando-nos a toda hora pelas nossas falhas, desatenções, grosserias, erros e coisas do gênero.

Amor – No que concerne ao Amor, ainda temos o dever e a coragem de nos reconciliarmos com os nossos inimigos e desafetos. “Quem não é capaz de perdoar, não vive em paz nunca”. É verdade. Se carregarmos o peso da mágoa dentro de nós, como podemos nos harmonizar?

O Comportamento – O comportamento é um reflexo da personalidade e pode ser, por meio da instrução, alterado. Com a Iniciação, a Maçonaria não pretende transformar o homem profano em um ser perfeito, diferente dos demais, criando uma figura especial, como acontece nas religiões, o indivíduo que se dedica a amar o próximo exteriorizará um comportamento social cada vez melhor.

No entanto, o comportamento maçônico difere do comportamento profano. A diferença reside no fato de o maçom viver em Loja e conviver com outros maçons, em uma permuta constante de suas virtudes que afloram do seu interior espiritual.

Conhecimento – Outro elemento crucial à aquisição de sabedoria refere-se ao conhecimento. A Maçonaria também nos alerta sobre a necessidade de nos instruirmos permanentemente. Se há algo que envolve educação continuada é o estudo da Maçonaria. Sempre há novos ângulos a ser divisados, assim como veios a ser explorados.

Tolerância – É uma atitude de indulgência no julgar a outrem e de compreensão para com as suas fraquezas. O maçom deve sentir perfeita tolerância para com toda e qualquer forma de manifestação de consciência, de religião ou de filosofia, cujos objetivos sejam os de conquistar a Verdade, a Moral, a Paz e o Bem Estar Social. E, para auxiliar a todos, é preciso tudo compreender. Mas a fim de alcançar esta perfeita tolerância, deve em primeiro lugar, libertar-se da superstição, combatendo o fanatismo e as paixões que acarretam o obscurantismo.

A Loja Maçônica é um lugar onde se devem reunir homens tolerantes de boa vontade, que amem a justiça e a nobreza, homens desejosos de serem úteis aos outros e que tenham uma verdadeira compreensão desta maravilhosa palavra que se chama Fraternidade.

A Maçonaria nos ensina a propósito, que devemos ser tolerantes com as falhas alheias, mas severos com as nossas próprias. A tolerância é um dos esteios da Maçonaria, uma das suas colunas mestras. É muito difícil a prática da tolerância, que por isso resulta ser uma virtude. Mesmo que resulte sacrifício, o maçom tem o dever de tolerar os defeitos, as agressões e as falhas de seus Irmãos. Para que possamos aspirar ser tolerados, é necessário que aprendamos a nos exercitar na prática da tolerância.

Discernimento – Devemos adotar: discernimento, desapego, amor e silêncio. Devemos ser verdadeiros no falar e agir, uma vez que o fingimento e a mentira são os maiores obstáculos à nossa elevação. Devemos ser abertos para ouvir, humilde para propor, sábios para decidir e responsáveis para realizar.

Humildade – Virtude que conduz o indivíduo à consciência de suas limitações, de suas fraquezas e do seu pouco mérito, pelo que não se deixa lisonjear.

Não significa se rebaixar, se menosprezar, se anular completamente, mas ter a consciência plena do que falamos, do que somos e do que nos compete fazer com vistas ao progresso do espírito. O maçom tem o dever de fortalecer a virtude da humildade, porque só assim será tolerante e poderá desarmado de todas as ciladas, amar a si mesmo e consequentemente ao seu próximo. A humildade é uma das virtudes mais recomendada pela Maçonaria.

Caridade – não se circunscreve apenas a distribuição de roupas, calçados, utensílios que não nos interessam mais, nem tampouco à doação dos haveres monetários que nos sobram. Referimo-nos aqui à atenção aos semelhantes, à demonstração de interesses pela sorte e bem- estar destes, ao telefonema solidário, à visita ao doente necessitado e, até mesmo, a um mísero “e-mail “solicitando informações do Irmão (ou familiar) distante.

Além do exercício individual da caridade, a Loja em conjunto, por intermédio hospitaleiro, (um Irmão da Loja, cuja obrigação é visitar, cuidar e socorrer os enfermos, membros da Loja, e ainda os profanos que lhe forem designados. Para levar a efeito as caridosas resoluções da Loja e visitar doentes e Irmãos necessitados, é geralmente escolhido um médico para ocupar este importante cargo).

O Dever – O dever é uma obrigação que é observada como princípio; existem múltiplos deveres a serem observados pelos homens, sendo os principais: deveres para com Deus; deveres para com a família; deveres para com o próximo; deveres com a pátria e deveres para consigo mesmo.

Os deveres maçônicos não vêm catalogados, mas brotam ao passo que surgem, por meio do conhecimento.

Nada é imposto na Maçonaria, mas o Maçom tem consciência do que deve cumprir e observar.

Os deveres marcham paralelamente com os direitos; ninguém poderá exigir um direito enquanto não observar os deveres. O maçom deve seguir as normas que lhe são estabelecidas.


 

novembro 08, 2021

HISTORIA DO TAROT DE MARSELHA - Leonardo Redaelli



“Por volta do século 16, o Tarot de Marselha e Aure era muito comum na Europa. Inicialmente, eram usados ​​apenas para brincar. Depois, quando os ciganos chegaram à França e à Itália, acrescentaram pedras aos seus processos divinatórios. Marcados, voos de pássaros e nuvens porque estas imagens lhes falavam bem. Em 1781, Antoine Court de Gébelin, na sua obra Le Monde primitif, dedica algumas páginas à análise e interpretação dos Tarôs de Marselha. atribui-lhes uma origem egípcia. Etteila, um wigmaker parisiense apaixonado pelo ocultismo concebeu, a partir da leitura do Mundo Primitivo, um tarô de 78 cartas.Alguns autores anônimos localizaram mesmo no século XVII a origem dos tarôs na mítica Atlântida.

O século 19 viu um ressurgimento do interesse nas cartas de tarô. Muitos autores examinaram seu significado, entre outros FAbre d'Olivier, Papus (D. Encausse), Eliphas Lévy (Abbé Constant). Este último ligou as primeiras 22 cartas, lâminas ou arcanos maiores, às 22 letras hebraicas. O ocultista suíço Oswald Wirth, secretário de Stanilas de Guaita, esteve na origem do tarô dos livros ilustrados da Idade Média, bem próximo do tarô de Marselha. Na Inglaterra, Mac Gregor Mathers fundou a Ordem da Golden Dawn, que incluía Aleister Crowley, Butler Yeats, Arthur E. Waite, todos seguidores do tarô como instrumento de meditação e adivinhação. O mago Dion Fortune (Violet wirth), membro desta ordem, publicou uma obra notável, a cabala mística. .... "

(Dicta e Françoise, Tarot de Marseille, Mercure de France)

Em resumo, descobrimos que o Tarot de Marseillle é uma salada russa com ciganos, templários, cabalistas judeus, mais alquimia e é por isso que gosto deste tarô embora já não o pratique muito. Porque você tem que ser bom para praticá-lo corretamente.

“Os desenhos dos arcanos menores, uma sucessão de construções geométricas, evocam o pentagrama mágico. Retiram os motivos das rosetas das catedrais ou lembram grandes botões, o que reforça a vitalidade dos símbolos. As 22 lâminas maiores, de forma aparente desordem, na verdade reconstitui uma jornada interior. Os arcanos de X a XI são as forças divinas que revigoram a união e a criação; a lâmina XII é uma dobradiça: representa o nascimento para a vida espiritual; do arcano XIII ao arcano XXI o homem persegue sua busca pelas vicissitudes da existência material.O arcano XXII, o Mastro, não é numerado: não é levado nem levado, mas reforça o valor da carta que o segue.

- as lâminas alegóricas: o imperador, a imperatriz, a justiça, a roda da fortuna, a Casa de Deus - as lâminas cristãs: o papa, o eremita, o julgamento (a ressurreição de Lázaro), o mundo (o símbolo dos quatro evangelistas) - as lâminas alquímicas: a carruagem, a força, o Arcano sem nome, temperança, o Diabo - as lâminas pagãs: a papisa (sacerdotisa da religião Drúdica ou forma celta de Ísis), os Amantes (Eros), o Enforcado (Odin, o deus celta, frequentemente representado nesta situação), o Mastro (gigante nos antigos Tarôs, São Jacques de Compostela) - as lâminas astrológicas: a lua, o sol, a estrela - o malabarista simboliza o homem no universo. "

Isso é um pouco do que podemos dizer sobre o Tarot de Marselha. Existem vários tipos de cartas de tarô que podemos usar. É um suporte para a pessoa com visão útil para se concentrar, mas com o tempo diminui naturalmente. Como tal, é mais um suporte e um caminho de vida. Deve ser usado com cuidado, porque indica um caminho possível e, acima de tudo, não se deve ficar dependente dele e não seguir à risca as suas decisões. Além disso, os cartões precisam ser santificados e há muitas regras sobre as quais não vou falar aqui, exceto para aqueles que estão interessados. (nota: tudo o que está em itálico vem de "Bíblia Prática do Tarot de Marselha", Dicta e Françoise Tarot de Marselha Mercure de França) Arcane.


O CHAPÉU NA MAÇONARIA - Kennyo Ismail



O Ir.  Kennyo Ismail, do Distrito Federal é escritor, tradutor, editor, professor universitário, acadêmico, um dos mais renomados estudiosos e intelectuais da maçonaria no Brasil. 

Qual a origem do chapéu na Maçonaria, usado pelo Venerável Mestre, nas reuniões de Aprendiz e Companheiro e por todos os Mestres, nas reuniões de Mestre Maçom?

Uma das obras de José Castellani declara que herdamos o chapéu preto dos judeus ortodoxos, e que o chapéu em Loja é a “coroa maçônica”, influência da realeza européia, usada pelo Venerável como símbolo de sua posição de liderança.

Afinal de contas, herdamos dos judeus ou dos reis europeus? E os judeus ortodoxos, usam o chapéu preto porque se consideram reis? Não há como misturar uma coisa com a outra, chapéu de judeu com coroa de europeu. Mas Castellani e muitos outros Irmãos tentaram.

Se herdamos o chapéu dos judeus ortodoxos, será que não deveríamos adotar também a circuncisão? Ou talvez as tranças nas orelhas e a barba longa?

Na verdade, o uso do chapéu na Maçonaria é praticamente inverso ao uso do chapéu pelos judeus! Os judeus utilizam o chapéu, obrigatoriamente, durante as orações e cerimônias religiosas, em sinal de temor a Deus. Já o Maçom utiliza durante toda a reunião e retira o chapéu exatamente nos momentos de orações, em sinal de respeito! Dessa forma, fica claro que o uso do chapéu pelos Maçons não tem nenhuma relação com o uso do chapéu pelos judeus ortodoxos, como pensava Castellani.

Já a teoria do chapéu ser um símbolo da “coroa maçônica”, influenciada pelo símbolo de liderança, que distingue o rei dos demais, seria mais plausível, afinal de contas, o Venerável Mestre representa o Rei Salomão, não é mesmo? Porém, porque o Venerável não utilizaria uma verdadeira coroa em Loja? Uma coroa de louros, ou flores, ou de metal? Porque seria um chapéu preto, de abas caídas (REAA) ou mesmo uma cartola (Rito de York)? E por que todos os Mestres usariam em reuniões de Mestre, se o representante do rei Salomão é apenas o Venerável?

Na Grécia Antiga, o chapéu era símbolo de sabedoria e liberdade. O famoso escritor Maçom Oliver comenta sobre o mesmo significado para os romanos, tendo sobrevivido na Maçonaria, desde as Guildas Romanas. Sua relação com a sabedoria permaneceu na Idade Média, como os chapéus dos magos denunciavam, os quais foram adaptados para cartolas pelos mágicos. O chapéu representa proteção. Se, na prática, o chapéu protege a cabeça do dono contra o sol, simbolicamente, o chapéu é como um elmo, que confirma e protege a sabedoria que se encontra na cabeça do Venerável Mestre. Assim sendo, o chapéu do Venerável Mestre pode realmente ser interpretado como uma coroa representativa de sua autoridade. Porém, uma autoridade com base na Sabedoria, assim como a de Salomão. E é por serem detentores da sabedoria maçônica que todos os Mestres utilizam o chapéu nos Ritos originados na França.

O costume do uso de chapéu pelo Venerável Mestre era um costume na Maçonaria inglesa, até a fusão que originou a Grande Loja Unida da Inglaterra. Após a fusão, os antigos costumes foram “reformulados” para agradar ambas as partes, e a tradição do chapéu, simplesmente, foi descartada. O único Ritual na Inglaterra, que mantém o uso do chapéu pelo Venerável Mestre, é o Bristol. Mas por uma ironia do destino, essa tradição permaneceu viva nos EUA. E os Ritos de origem francesa também mantiveram esse antigo costume, tão presente no Brasil.


novembro 07, 2021

SOU A MAÇONARIA...!!! - Erwin Seignemartin.




Faz muito tempo que nasci...!!! 

Nasci quando os homens começavam a acreditar em um Deus único. Fui combatida, vilipendiada e até fizeram troça do meu ritualismo e doutrina mas, através dos tempos foram reconhecendo minha seriedade e princípios, acabei sendo reconhecida como uma entidade íntegra que congrega homens íntegros. 

As encruzilhadas do mundo ostentam catedrais e templos que atestam a habilidade de meus antepassados. Eu me empenho pela beleza das coisas, pela simetria, pelo que é justo e pelo que é perfeito. Espalho coragem, sabedoria e força para aqueles que as solicitam.

Para comprovar a seriedade de meus princípios, sobre meus Altares está o Livro Sagrado, a Bíblia, e minhas preces são dirigidas a um só Deus Onipotente.

Meus filhos trabalham juntos, sem distinções hierárquicas, quer seja em público, quer seja em recintos fechados, em perfeita união e harmonia. Por sinais e por símbolos, eles ensinam as lições da Vida e da Morte, as relações do homem para com Deus e dos homens para com os homens. 

Estou sempre pronta a acolher os homens que atingindo a idade legal e que sejam possuidores de dotes morais e reputação acima de qualquer reparo, me procuram espontaneamente, pois, não faço proselitismo nem campanhas para angariar adeptos...!!!

Eu acolho esses homens e procuro ensiná-los a utilizar meus utensílios de trabalho, todos voltados para construir uma sociedade melhor...!!! 

Eu ergo os caídos e conforto os doentes. Compadeço-me do choro de um órfão, das lágrimas de uma viúva e da dor dos carentes...!!!

Não sou uma Igreja nem um Partido Político, mas meus filhos têm uma grande soma de responsabilidade para com Deus, para com sua pátria, para com seus vizinhos, para com a comunidade em geral. Não obstante são homens intransigentes na defesa de suas liberdades e de sua consciência.

Propago a imortalidade da alma porque acredito ser por demais pequena uma só vida no imenso universo em que vivemos. 

Enfim, sou uma maneira de viver...!!!

Eu sou a Maçonaria...!!!



A MÚSICA DOS NÚMEROS - Irmão Vartan



Irmão Vartan  - Loja Fidélité et Prudence à l'Orient de Genève

A Antiguidade conhece a harmonia das esferas que é uma teoria de origem pitagórica, baseada na ideia de que o universo é governado por relações numéricas harmoniosas, e que as distâncias entre os planetas na representação geocêntrica do universo - Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno - são distribuídos de acordo com proporções musicais. As distâncias entre planetas correspondentes a intervalos musicais. A harmonia das esferas é baseada na série digital 1,2,3,4,9,8,27 que corresponde à fusão da série das primeiras potências de 2 (2,4,8) e a série do primeiras potências de 3 (3,9,27). A partir dessas séries, podem-se derivar as razões numéricas nas quais os intervalos musicais são baseados. Por exemplo, 1: 2 corresponde à oitava, a proporção 2: 3 para a quinta a proporção 3: 4  na quarta, a proporção 4: 5   a terça maior e a proporção 9: 8 o tom.

Essa representação do universo como uma harmonia teve tanto sucesso que, para os estudiosos do início da Idade Média, a escala perfeita era, sem dúvida, a chamada escala de Dorienne, que começa em D. O caso particular desta escala é a sua construção que se assemelha ao ESPELHO (eis uma palavra-chave para todos nós, meu querido padre:). Quer dizer que a nota fundamental D se torna a "porta" para o céu, mas também para a Terra, uma vez que em ambas as direções   terminamos exatamente   nos mesmos intervalos, vemos o mesmo resultado.

A música, parte do antigo quadrium, é conhecida em F \ M \ também com o nome de Harmony, termo que pode ter vários significados.

1) Este termo é usado para designar a paz e o bom entendimento que devem reinar entre os membros de uma mesma oficina.

2) A coluna harmonia foi originalmente entendida no sentido militar do termo: grupo de sopros e hoje é qualquer tipo de conjunto musical, participando de   cerimônias maçônicas.

3) As orquestras da Loja - conhecemos o caso particular da Loja de São João da Palestina - compostas quase exclusivamente por membros da orquestra da Opéra Comique de Paris, com a equipe de uma orquestra real.

Vemo-los tocar especialmente em ocasiões como a iniciação de grandes personagens (Voltaire em 1778), uma cerimónia fúnebre, uma visita ou um banquete de encomenda em homenagem ao imperador, por exemplo.

Hoje prefiro designar música - harmonia. Ao chamá-la assim, eu valorizo, significa que não levo em consideração a música que não "harmoniza". Não há conexão aqui com consonâncias e dissonâncias, mas apenas com boa e má música. O ruim não merece ser chamado de harmonia.

Zero

É o vazio (árabe: Zeroh-void) ou o ovo do mundo? Todos os componentes eletrônicos operam usando codificação binária.

Segundo O. Wirth, o Aprendiz deve meditar nos números 1 - unidade, 2 - binário, 3 - ternário, 4 - quaternário.

O Companheiro irá retomar esta meditação, mas de 4 - a tétrade Sagrada de 1 a 4,

5 - a Quintessência, 6 - o hexagrama, 7 - o setenário.

Unidade

"  Ó Pai dos Deuses, Tua Palavra é a Fundação do Céu e da Terra" Suméria, quinto milênio aC.

Pitágoras e seus discípulos (Philolaos) afirmavam que os números   governam o mundo. Em Baudelaire encontramos a frase “Tudo é número. O número está em tudo ” .

Número divino por excelência, a unidade primordial, ligada ao céu entre os babilônios - representado por um ponto no meio de um círculo. A partir daqui nasceu o conceito de um Deus, o monoteísmo. A unidade do mundo corresponde à de Deus. A alma universal é uma. O Verdadeiro, o Justo e o Belo são do mesmo princípio da Unidade, o Ideal que é a Meta. Na mitologia egípcia, o pai universal, Osíris, está unido à mãe universal, Ísis, que representa a natureza. É o símbolo da Criação e do Amor.

Na música, conhecemos o final de Cantus Firmus que é o tema principal (melodia), daí o conceito de unidade característica, portadora de impulsos musicais facilmente decifráveis ​​e reconhecíveis. O Dux da fuga, o tema de uma sonata e finalmente a melodia de uma canção são portadores desse impulso. O uníssono como um intervalo, mas também o primeiro grau de uma escala ou a função tônica de um acorde   representam a unidade. E não é por acaso que a função tônica, na música, é denotada pelo algarismo latino I. O UM reflete a tonalidade final não contraditória.

Binário

É a Terra coberta e fertilizada pelo céu. É também dualidade - alta e baixa, fertilidade e esterilidade, Ying e Yang, mais ou menos. A dualidade pode se tornar complementaridade, é a base do casal, gestor da geração. Para O. Wirth, é o número da ciência, representa a diferenciação essencial ao conhecimento. As duas colunas J \ e B \ correspondentes a teses e antíteses:

Assunto - Objeto Solar - Lua Ativa - Luz Passiva - Escuridão Positiva - Negativa Mãe-             Pai                                                                 

Reconhecemos os dois solstícios do ano, mas também os dois St Jean: St Jean Batiste e St Jean Evangéliste. Os dois pólos, as duas naturezas das coisas: divina e humana e pela união dos dois sexos M e F que nos traz de volta à unidade de uma nova qualidade.

O primeiro passo para a música polifônica é a segunda voz, a alternativa, a antítese que reflete e esclarece a primeira. Nas grandes obras musicais, ela se emancipa e muitas vezes se torna tão autônoma, ao ver uma expressão forte que se pergunta onde está a melodia “real”. E aqui está a chegada de uma nova qualidade estética. Nem A nem B, mas A e B juntos e sua união   que nos traz de volta à unidade de uma nova qualidade.

O segundo tema da sonata é a alternativa, ela necessariamente carrega uma nova ideia, sempre em uma nova tonalidade. Idem para o segundo movimento do ciclo musical. O acorde de segundo grau (II) é um subdominante muito colorido.

Três

três ternário é a marca do sobrenatural, do celestial.

Representa a síntese, a solução explicada pela trindade.

            Ativo -  Passivo -  Neutro

            Pai -  Mãe -  Filho

As joias características dos três primeiros oficiais são uma ilustração da lei do Ternário.

            Nível                  Perpendicular                Quadrado

            1º supervisor        2º supervisorV \M \ As três viagens dos aprendizes  Três graus: aprendiz, jornaleiro, mestre Três idades: Infância - Maturidade - Velhice Três almas: Vegetativo - Animal - Inteletivo Três dimensões: Comprimento, largura, Altura ( profundidade)                

Três níveis do mundo: Céu, Terra e Inferno.

Poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário.

Mineral, Vegetal, Animal.

Pai, Filho e Espírito Santo

Sabedoria, Força, Beleza.

Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Três é simbolizado pela pirâmide: Filho, Espírito Santo, Deus

A morte de Cristo aos 33 anos e sua ressurreição no terceiro dia.

Na sonata clássica, o terceiro movimento é a síntese dos dois primeiros. Muitas vezes   um Rondo, um derivado da popular dança Rondeau.

Entre os grandes mestres compositores, encontramos fugas a tré soggetti (temas). Freqüentemente, o terceiro tema é curto e conciso, "apenas algumas notas".

Porque ? Porque deve se adaptar aos temas anteriores, já existentes. O terceiro tema é uma espécie de apoteose e síntese da tese anterior (primeiro tema) e antítese (segundo tema)   .

O terceiro intervalo: Toda a música da chamada época clássica até hoje é construída em terços.

Funcionalidade: O acorde é muito multicolorido e multifuncional ao mesmo tempo dominante (V e VII), mas também tônico (III e V) principalmente o III que é o grau característico para a tonalidade.

O quaternário

É estabilidade e permanência, é também a purificação quádrupla sofrida pelo iniciado.

Entre os pitagóricos, é a tétrade, o mistério da criação, já que quatro gera dez (1 + 2 + 3 + 4). O templo clássico também é apresentado com uma fachada quadrada (a terra) e frontão triangular (o céu).

Os quatro elementos: terra, ar, água e fogo, mas também os quatro pontos cardeais.

Material: Em vez disso, são os quatro estados fundamentais da matéria: sólido, líquido, gasoso e sutil.

Antítese: quente, seco, frio, úmido. Os quatro evangelistas. Quatro grupos sanguíneos, quatro direções, quatro estações.

O quaternário é o coro musical humano completo (SATB) para glorificar a Deus e, ao mesmo tempo, prantear os mortos.

É também um dos picos da   arte musical humana representada no quarteto de cordas. É a música mais íntima que um compositor pode criar.

Os quatro movimentos da última obra para os chamados músicos clássicos - a sinfonia.

A fuga quádrupla tão incompleta quanto é (Bach: A última fuga)

A fuga tem quatro vozes, vocais ou instrumentais.

O quarto intervalo é o inverso do quinto. Um intervalo clássico de tom e harmonia. Funcionalidade: IV é a subdominante por excelência   e, como a mãe terra, é ela quem dará à luz a tônica (I), pois é um quinto inferior.

Quintessência

O. Wirth “O homem é chamado a desenvolver em si mesmo um princípio mais forte que os elementos. O homem vence o animal, cinco vitórias em quatro. A quintessência prevaleceu sobre o quaternário dos elementos. “ O cinco é o número do Homem:“ Cinco libras de Moisés ”; para Pitágoras três, quatro e cinco é igual a Deus, Mundo e Homem. Três ao quadrado mais quatro ao quadrado é igual a cinco ao quadrado.   Os cinco dedos da mão. Cinco sentidos humanos: visão, olfato, tato, paladar, audição. O templo de Salomão tinha três cinco e sete degraus. A estrela flamejante - a rosa mística. Na verdade, o cinco é um novo começo qualitativo.

Pentatônico. O primeiro tom que pode ser encontrado em todos os cantos do mundo, mas acima de tudo típico da música dita chinesa ou do Extremo Oriente. Com o pentatônico, temos pela primeira vez uma nova qualidade, pois pode expressar todos os sentimentos humanos.

O quinto, como intervalo, é a base de nossa escuta musical. Tudo é explicável e dito pelo ciclo dos quintos.

Funcionalidade: V o verdadeiro dominante e instabilidade por excelência. Sempre centrípeto em relação à tônica.

Seis

2x3 é o inacabado - Adão é criado no sexto dia - Jesus morre na cruz no sexto dia na sexta hora.

O número mais ambíguo. Perto da perfeição, pois a soma de seus divisores é igual a ele. Conhecemos a criação do mundo em seis dias. O número de impossibilidade. O casamento frutífero do fogo e da água é representado graficamente pela figura conhecida como Selo de Salomão.

O masculino ativo e o feminino passivo.

A estrela do Macrocosmo, o mundo em grande escala, o fim de uma expansão, é a figura imperfeita desde humana.

Na música, é uma chave nova porque a oitava é dividida em seis intervalos iguais: segundos maiores. A falta de segundos menores leva o tom a uma "conformidade" ou mesmo a uma "unificação".

O sexto intervalo é o reverso de três (não sua duplicação). O acorde, a sextuna, é a reversão do quintórdio e pousa na terça do acorde. Parece uma certa instabilidade (já que posta em três e não em um) e seu lado positivo é sua coloração específica. Função: o acorde da sexta é ambíguo porque ou é subdominante de uma cor específica e enriquecedora ou, o que é particularmente interessante, é o “substituto” da tônica. Sua aparência enriquece   os tons harmoniosos.

Sete

Mítico por excelência. Um quarto do mês lunar. A semana. As sete estrelas visíveis a olho nu. Entre os números primos, o sete é o primeiro que não pode ser inscrito no círculo euclidiano porque o heptágono não pode ser construído em um círculo de 360 ​​°. A soma de 1 a 7 é igual a 28. Este é o ciclo lunar. O sete simboliza a união entre o céu e a terra 3 + 4. Construímos o templo de Salomão em sete anos, mas também no ano sabático, que é o ano após o ciclo de seis anos. Precisamos de sete mestres   para que a loja seja justa e perfeita. Na Antiguidade, conhecíamos as sete artes liberais. Trivium, (Gramática, dialética, retórica) e Quadrivium (música, geometria, astronomia e aritmética).

É lógico que o sete seja o número da tonalidade. A soma de quatro e três, terra e céu, conclusão e perfeição. Desde a Antiguidade a tonalidade, no sentido europeu, é composta por sete graus. Os modos antigo, gregoriano, maior e menor. Todas as grandes obras musicais foram criadas com base nisso.

Função: O acorde de sétima é, na maioria dos casos, diminuído. Em sua função dominante, é amplamente utilizado desde o nascimento da polifonia. Hoje ainda é um acorde básico para compositores.

Intervalo: o sétimo é muito dissonante. Ele enquadra o D7, o acorde que acentuará o dominante em direção à tonalidade Um e em direção à Tônica.

Enquanto refletia e meditava sobre os números, percebi que nada está isolado no mundo, tudo obedece a regras gerais. Nos alunos pode-se estabelecer ligações entre disciplinas opostas. A multidisciplinaridade do quadrivium, com vários milhares de anos, faz-me pensar que as diferentes disciplinas são na verdade que os diferentes aspectos de uma mesma é a mesma matéria chamada Universo ou Cosmos. Por fim, toda construção musical desde a Antiguidade até os dias atuais é inspirada no conceito de números pitagóricos porque eles próprios são o espelho do Universo.

As semelhanças são hilárias.

Nas obras astronômicas de Johannes Keplers e nas considerações científicas e filosóficas de Leibniz, a unidade de suas disciplinas no grande corpus místico das ciências pitagóricas não   é contestada. Não devemos, portanto, entender o uso de figuras digitais em Bach  como um simples entretenimento, mas como uma aplicação das grandes leis divinas.

Vamos refletir e meditar juntos:

A obra musical começa e termina na mesma tonalidade ou mesmo na mesma nota (1)

Assim que temos duas vozes falamos de polifonia. A dualidade é representada pela oposição das escalas maior e menor.

A afinação de três tons é   a base da harmonia musical.

O Coral de quatro Diferentes Vozes ou coro misto (Soprano, Alto, Tenor e Baixo) é o coro completo de mestres compositores aplicados em grandes obras musicais.

O sistema pentatônico é uma escala musical composta por cinco tons diferentes de sons. Cinco acidentes são conhecidos pelos sete sons básicos.

A escala de seis tons.

O intervalo de 7 tons representa, portanto,   a fusão do céu e da terra.

E além dos sete?

Os oito inseridos entre 7 e 9, ambos divinos, simbolizam a ressurreição. É por acaso que o 8º tom da escala é a repetição da nota base?

É por acaso que os compassos 2 e 4 são chamados de "tempus imperfectum", ao contrário do 3x3   (duplamente divino) o compasso de nove tempos chamado "tempus perfectum".

Doze é o produto de 3 x 4, portanto, materialização do divino no terreno e a marca da obra de Deus. A soma de todos os semitons é igual a 12. Usamos 12 escalas maiores e 12 escalas menores   = 24.

O Dux (tema) da última fuga inacabada (JSBach: Die Kunst der Fuge - toda a obra   composta em D!) Consiste em sete sons que são escritos de tal forma que, ao lê-lo para frente e para trás, acabamos com o mesmo resultado ...

Estas são minhas palavras V.'. M.'.

Irmão Vartan  - Loja Fidélité et Prudence à l'Orient de Genève

novembro 06, 2021

TETRAMORPHOS NO APOCALIPSE




Uma tradição antiga e muitas vezes desconhecida

Um dos temas mais comuns da arte cristã é o quase onipresente Tetramorphos ou Tetramorfos. Do grego tetra (“quatro”) e morphé (“forma” ou “forma”) a palavra aplica-se, em geral, a qualquer representação de um conjunto de quatro elementos.

Mas na arte cristã, o Tetramorphos refere-se quase exclusivamente à maneira mais comum de descrever os quatro evangelistas, cada um deles acompanhado ou representado por uma figura, três deles sendo animais e apenas um (aquele que acompanha ou representa Mateus) humano ou, mais frequentemente, uma figura angelical alada.

Tais imagens, ao contrário de alguns outros motivos zoomórficos tradicionais da arte cristã, têm bases bíblicas. Elas correspondem à visão dos chamados “quatro seres viventes” de Ezequiel: o profeta descreve quatro seres: “Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia.” Esse Tetramorphos carregou o trono ou carruagem do Senhor.

Pode-se apenas imaginar de onde Ezequiel tirou essas imagens complexas.

Todos sabemos que a combinação de diferentes seres e símbolos era bastante comum no antigo Egito, assim como na antiga Mesopotâmia. Lembremo-nos das esfinges egípcias, dos touros babilônicos alados e das harpias gregas. Curiosamente, o próprio Ezequiel foi um dos profetas judeus que viveu durante o exílio na Babilônia por volta do século 6 antes de Cristo, então sua visão poderia ter sido influenciada pelos antigos motivos da arte assíria, na qual essas combinações eram de fato bastante comuns.

A Revelação de João (isto é, o livro do Apocalipse) ecoa a visão de Ezequiel em seu quarto capítulo: “O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo”.

Agora, por que essas criaturas são designadas para um evangelista específico? Por que a águia está emparelhada com João, por exemplo? Há razões associadas às particularidades dos Evangelhos de cada autor, segundo São Jerônimo. Procure esses quatro símbolos nas gravuras dos evangelistas ou, por si só, decorando as fachadas dos livros e dos púlpitos do Evangelho.

Mateus é associado ao homem alado, ou anjo, porque o seu Evangelho se concentra na humanidade de Cristo, afirma São Jerônimo. O Evangelho de Mateus inclui uma narrativa sobre a genealogia de Jesus.

O leão é relacionado a São Marcos, porque o seu Evangelho enfatiza a majestade de Cristo e sua dignidade real, assim como o leão é tradicionalmente considerado o rei dos animais. O Evangelho de Marcos começa com a voz profética de João Batista, clamando no deserto como um rugido de leão.

A Lucas associa-se o touro, porque seu Evangelho se concentra no caráter sacrificial da morte de Cristo, e o touro sempre foi um animal sacrificial por excelência, tanto para o judaísmo quanto para o paganismo romano.

Por, João está associado à águia por duas razões: primeiro, porque seu Evangelho descreve a Encarnação do Logos divino, e a águia é um símbolo daquilo que vem de cima. A segunda, porque como a águia, João, em sua Revelação, viu além do que está imediatamente presente. Por isso São João Evangelista é chamado de “Águia de Patmos”.

BOAZ OU BOOZ - Rodrigo Peñaloza

 


Rodrigo é  Peñaloza Ph.D em Economia pela University of California at Los Angeles (UCLA), M.Sc. em Matemática pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e Ba. em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). É professor adjunto do Departamento de Economia da UnB, Mestre Instalado, filiado à Loja Maçônica Abrigo do Cedro n.8, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica do Distrito Federal. Fonte: Medium

Nas Lojas brasileiras muito se confunde quanto à forma correta do nome Boaz, uns dizendo Booz, outros Boaz. Neste texto, eu procuro mostrar duas coisas. Primeiro, que o correto é Boaz, o que, aliás, é trivial, pois, para tanto basta observar a pronúncia hebraica. Em segundo lugar — e principalmente — , eu procuro dar uma explicação sobre o porquê de os tradutores antigos, ao escreverem a Septuaginta e a Vulgata, optaram pela transliteração incorreta do nome.

O termo Boaz aparece 18 vezes no Livro de Ruth, 3 vezes nas Crônicas, 1 vez em 1 Reis, 1 vez em Mateus e 1 em Lucas.

Na edição maçônica norte-americana da Bíblia Sagrada (Heirloom Bible Publishers, Kansas), o termo é Boaz. Na Encyclopedia of Freemasonry, de Albert Mackey (1917), é Boaz. Em Light on Masonry, de Elder D. Bernard (1828), é Boaz. O Manual of Freemasonry, de Richard Carlile (uma exposée da Maçonaria publicada aos poucos na revista The Republican, em 1825), é Boaz. No The Complete Ritual of the Scottish Rite Profuselly Illustrated, editado por um Soberano Grande Comendador (anônimo), 33o, e complementado por J. Blanchard, no século XIX (sem data), é Boaz. Em Morals and Dogma, de Albert Pike (1871), é Boaz.

Em todas as obras antigas, enfim, o termo é Boaz. Isso não nos surpreende, se observarmos que na escrita hebraica massorética, o que temos é בֹּ֫עַז (Bṓʿaz) e que, além disso, não existem vogais repetidas no Hebraico, de modo que Booz é uma pronúncia incorreta. Nos tempos modernos, o Irmão Harry Carr, em seu artigo “Pillars and globes, columns and candlesticks”, publicado em Ars Quatuor Coronatorum, Transactions of the Quatuor Coronati Lodge №2076 London, em 2001, e apresentado antes na Vancouver Lodge of Education and Research, em 20 novembro de 1998, é Boaz. Nesse artigo, Harry Carr reproduz alguns trechos de exposées publicadas entre 1760 e 1765, nos quais o termo é Boaz.

Por que, então, alguns autores nacionais insistem que o correto é Booz ou, quando muito, que tanto pode ser Booz quanto Boaz? Há duas razões para esse erro. O primeiro deles — e mais óbvio — é o desconhecimento do Hebraico. Em geral o argumento usado é que na escrita hebraica antiga não existiam vogais até o surgimento dos sinais massoréticos (século X), o que, segundo eles, justificaria qualquer pronúncia. Porém, não atentam para o fato de o Hebraico não admitir vogais repetidas, o que prontamente elimina Booz, de modo que, neste caso, a suposta ambivalência não existe.

A segunda razão está nas traduções portuguesas da Vulgata. De fato, na Vulgata o termo é Booz. Se São Jerônimo (347–420 d.C.) traduziu o Antigo Testamento diretamente do Hebraico para o Latim, por que optou por Booz e não Boaz? Só vejo duas explicações. Primeiro, em sua época, ainda não existiam os sinais massoréticos, que indicam as vogais. Somente alguém absolutamente fluente em Hebraico poderia ler corretamente o texto hebraico. São Jerônimo, porém, era ilírio e só aprendeu Latim e Grego no início de sua vida adulta. Quando maduro, mudou-se para Jerusalém para estudar Hebraico. É bem provável que, diante de uma dúvida, consultasse a Septuaginta, a versão grega da Bíblia, que também traz Booz (Βοος, que deve ser lido como Βοός, pois não é possível, por razões morfológicas, dizer Βόος em Grego).

Nessa série encadeada de porquês, surge mais um. Por que a Septuaginta traz Booz e não Boaz? Por uma razão muito simples. Boaz é nome próprio e é oxítono. Em Grego, um nome próprio masculino pode terminar em –ας, como ὁ Ξανθίας (cuja pronúncia é ksanthías, donde veio o nosso Xântias), mas não pode jamais ser oxítona. O mesmo ocorre com os substantivos terminados em –ας, como ὁ νεανίας (o jovem), que não podem ser oxítonos. Por outro lado, substantivos terminados em –ος podem ser oxítonos, como θεόϛ (theós, pronuncie the-ós, com o th ligeiramente aspirado).

Dessa forma, os sábios que verteram a Bíblia para o Grego podem ter optado por Booz (Βοός) em vez de Boaz apenas para preservação do acento tônico na última sílaba, uma exigência natural se a intenção era não desvirtuar demais a pronúncia de um nome próprio e fazê-lo ser entendido pelo leitor ou ouvinte grego. Em outras palavras, se a intenção era fazer a história bíblica minimamente inteligível ao grego, os tradutores tinham de resolver a seguinte questão: ou preservavam a grafia BOAZ mas trocavam o acento tônico da última para a penúltima sílaba (ou seja, Bóaz) ou trocavam Boáz para Boós e preservavam a oxítona. O nome Boáz, oxítono, soaria muito estranho ao ouvido grego, mas não Boóz e tampouco Bóaz. O que é mais próximo de Boáz: Bóaz ou Boóz? Eles julgaram que era Boóz. Dessa forma, São Jerônimo, mesmo que estivesse ciente da correta pronúncia hebraica, pode ter optado por Booz por influência da Septuaginta, tendo preferido, sabiamente, manter uma coerência entre a versão latina e a versão grega já estabelecida há séculos.

Os autores maçônicos antigos devem ter sabido disso, pois todos, no mínimo, eram fluentes em Latim, com boas noções de Grego e alguns até de Hebraico, além de, sendo em sua maioria protestantes, terem em mãos a versão protestante da Bíblia, que, ao contrário da Vulgata, trazia Boaz, graças ao gênio de Lutero. Textos não-maçônicos também trazem Boaz, como Historiarum Totius Mundi Epitome, seção 16, de Cluverius Johannes, de 1667.

Conclui-se, assim, que a pronúncia correta é Boaz e que, além disso, Booz é apenas a herança de uma característica fonética do idioma Grego, que herdamos por intermédio da Vulgata. A opção pelo aparente erro fonético se deve à perspicácia dos antigos tradutores, convictos que estavam de tornar esse e outros nomes hebraicos inteligíveis aos ouvidos gregos, sem prejuízo do significado mais profundo das histórias que traduziam.



novembro 05, 2021

OS TRÊS GRAUS DO RITO SCHRÖDER - Ir:. Rui Jung Neto


Ir:. Rui Jung Neto, ex-V.M. (AltStuhlMeister) “Aprendendo, ensinarás. Ensinando, aprenderás.” Colégio de Estudos do Rito Schröder - Colegiado Diretor. Cinq. Ben. A.R.L.S. "Concordia et Humanitas" Nr. 56 – ao Or. de Porto Alegre - RS Fundada em 24/06/1958 no Rito Schröder M.R.G.L.M.E.R.G.S. 

Uma análise sintética.

Antes de tratar especificamente dos três Graus do Rito Schröder, creio ser importante estabelecer quando surgiram os três Graus simbólicos e, para isto, vou me socorrer da obra do Ir. Nicola Aslan: "O Historiador e Ex-V.M. da Loja Quatuor Coronati, Ir. Lionel Vibert, afirma: "os termos Aprendiz, Companheiro e Mestre-Maçom são escoceses e foram empregados pela primeira vez pela Maçonaria Inglesa em 1723." Sobre o mesmo assunto escreve R. Le Forrestier: A inovação mais notável (da G.L. de Londres) foi a criação dos Graus denominados Especulativos ou Simbólicos. Os talhadores de pedra só tinham uma classe, a dos Companheiros, já que os Aprendizes não faziam parte da Corporação, cujos membros só possuíam os sinais de reconhecimento mantidos, ciumenta e zelosamente, secretos. O único ato solene de recepção era, portanto, o da admissão entre os Companheiros. 

Na Freemasonry (Franco-Maçonaria) Especulativa, ao contrário, onde a antiga aprendizagem profissional não tinha mais razão de ser, os candidatos eram admitidos diretamente na associação e a primeira Cerimônia Ritualística era agora a recepção ao Grau de Aprendiz. A razão pela qual o termo de Mestre serviu, a partir de 1725, para designar não mais uma função mas uma dignidade e tornou-se a denominação de um terceiro Grau, parece ter sido o desejo de fazer uma escolha entre os membros cada vez mais numerosos da associação e de constituir um "High Order of Masonry" (uma "Alta Ordem da Maçonaria"), como o Grau de Mestre foi algumas vezes denominado." 

Atualmente existe, entre os modernos historiógrafos da Maçonaria, o consenso de que a separação das instruções em três graus não era utilizada nas Lojas operativas. Isto nos leva a concluir com segurança, que a divisão da Maçonaria Especulativa (modernamente denominada Simbólica) em três Graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, que já era utilizada pela Maçonaria Escocesa desde o Século XVII, ocorreu na Grande Loja de Londres somente entre 1717 e 1725. Desta forma, quando Schröder foi Iniciado em 1774, os três Graus já estavam consolidados e eram aceitos como universais por todos os sistemas maçônicos (Ritos). Sabemos que o Rito Schröder teve sua origem baseada principalmente no "Livro das Constituições" de 1723, da Grande Loja de Londres, e no "Antigo Ritual" descrito no livro "The Three Distinct Knocks on the Door of the Most Ancient Freemasonry - As Três Batidas Diferentes na Porta da mais Antiga Franco-Maçonaria", de 1760. 

Com base nestas duas fontes, o Ir. Friedrich Ludwig Schröder aboliu o misticismo e os "altos Graus" introduzidos na Maçonaria Alemã no decorrer do Século XVIII e utilizou-se do simbolismo simples das ferramentas da Arte da Construção como instrumento para promover a elevação moral dos seus Irmãos. Schröder, um representante do classicismo alemão, através de um estudo minucioso, procurou a essência da Maçonaria, aconselhando-se com um grande círculo de Irmãos dentre os mais renomados maçons, escritores e filósofos da sua época (Herder, Fessler, Meyer, Bode, etc).

O Ritual de Schröder está expresso em uma linguagem insuperável na qual pulsa o espírito do humanismo clássico e fica evidente a simplicidade original como característica mais importante da Maçonaria moderna, formando um conjunto harmônico constituído pelos 5 rituais originais que englobam os três Graus do Rito (Loja de Aprendiz, com a Loja de Mesa e a Loja de Funeral; Loja de Companheiro e Loja de Mestre). 

Neste trabalho, analisarei de forma sintética cada um dos Graus e procurarei destacar suas características fundamentais a luz do que acredito ter sido o pensamento original do Ir. Schröder. A meu ver, fruto da sua vasta pesquisa maçônica mas também, do período histórico excepcional vivido na Europa no final do Século XVII e no decorrer do Século XVIII, principalmente nas províncias de língua Alemã, na Inglaterra e na França. Nesta época floresceu o "Iluminismo", movimento cultural que valorizou a razão, aboliu os preconceitos de raça e religião, libertou o homem do autoritarismo e difundiu a crença no progresso fundamentado na liberdade de pensar. 

Sua força afetou todos os ramos do conhecimento e das artes, sendo considerado pelo filósofo e maçom Lessing como o primeiro movimento a defender a livre manifestação do pensamento. Acredito que Schröder, um verdadeiro mestre no domínio da linguagem e da dramatização, trabalhou em perfeita sintonia com os acontecimentos de seu tempo e o pensamento dos maiores maçons alemães, muitos dos quais eram seus amigos e com os quais contou para elaborar seus rituais, nos quais colocou o que de melhor havia em termos de Filosofia Racionalista e Humanista, defendendo sempre a igualdade entre os Irmãos e a busca da verdadeira Fraternidade. Para Schröder, a Franco-Maçonaria era e sempre foi uma Confraria que unia homens virtuosos para em conjunto estudarem os símbolos da Arte da Construção e desenvolverem a Moral, a Ética, a Caridade e o Amor Fraternal. 

Em muitas passagens o Ritual enfatiza a confiança que os Irmãos depositam uns nos outros e a harmonia que deve prevalecer na Fraternidade. O Grau de Aprendiz Maçom nos ensina que

1: "Os Maçons formam uma Fraternidade espalhada entre os povos, países e classes, cujo fim consiste no espírito do verdadeiro amor fraterno para promover a legítima humanidade, isto é, proporcionar o domínio dos puros princípios morais em todos os círculos e empregar suas atividades em boas obras. Porém em nossas reuniões usamos símbolos e alegorias para expressar os nossos ideais, e segundo a origem histórica de nossa instituição, escolhemos como símbolos principais os instrumentos de construção." O Ir. Schröder, que acreditava ser a Maçonaria "uma união de virtudes", declarou em um veemente discurso proferido em 1789 aos Irmãos de Hamburgo: "Meus Irmãos, considerem antes de tudo, as lições tiradas das vidas virtuosas dos homens sábios, de estabilidade, de prudência e de sigilo que nos foram ensinadas no Primeiro Grau. Pensem nestes preceitos e nos subseqüentes modelos! ...elas são a base material da qual a grande corrente da Fraternidade foi formada...". Expressava assim, a importância dos valores morais contidos simbolicamente nos instrumentos dos antigos pedreiros-livres e do Humanitarismo, doutrina filosófica e política que pretende eliminar as injustiças através da ação direta do homem e, por decorrência, mudar para melhor a própria sociedade que nos cerca. 

Também, sobre a importância da Moral e seu uso no simbolismo da Maçonaria, cito dois consagrados autores que definem conceitos perfeitamente adequados para a prática maçônica em geral e para a do Rito Schröder em particular: - Alec Mellor (maçom e escritor francês) nos lembra que: "A Franco-Maçonaria define-se como "um sistema particular de moral, velada pela alegoria e ilustrada pelos símbolos." - definição esta, já utilizada na Inglaterra do Século XVIII”. - José Castellani (maçom e escritor brasileiro contemporâneo) nos esclarece que: "os símbolos maçônicos representam a maneira velada através da qual a instituição dá, aos seus iniciados, as lições de moral e ética, que fazem parte de sua doutrina". 

Para Schröder o desenvolvimento da Fraternidade, dentro de princípios éticos e de elevada moral, é a verdadeira finalidade da Maçonaria e praticar a caridade é materializar o ideal maçônico de levar o amor fraterno para todos os homens, não só para os Irmãos. A Moral e a Ética são pré-requisitos indispensáveis do homem-maçom. As Lojas, por reunirem homens virtuosos, devem reforçar e elevar cada vez mais o padrão ético dos seus integrantes. Cabe também a Loja de Aprendiz, além da instrução dos significados dos símbolos, estimular o Aprendiz a pensar e a agir como maçom, levando o modo de vida da Fraternidade Maçônica para o seu dia-a-dia e não somente algo para ser utilizado nas reuniões da Loja. Este é um desafio que cada um de nós deve assumir como seu! 

Com "fervor, fidelidade e firmeza", o Aprendiz desenvolve um "comportamento exemplar, seu pensamento livre de preconceitos e sua amizade leal para com seus Irmãos, baseada em princípios morais". Por isto, trabalha-se tanto neste Grau, que serve como "alicerce" para a construção do Templo individual do homem-maçom. Esta também é a base para o desenvolvimento maçônico dos futuros Companheiros e Mestres e isto deve ser valorizado. 

Quero ainda enfatizar que, é na Loja de Aprendiz que tem início a formação dos futuros Companheiros e Mestres e, por isto, é muito oportuno realizar reuniões, debates e seminários incentivando a participação de Aprendizes e Companheiros, sendo acessíveis aos Mestres interessados, para que os Irmãos tenham condições de aumentar seus conhecimentos, abrir seus horizontes e assumir suas responsabilidades na Fraternidade. O Grau de Companheiro Maçom será abordado citando parte da análise do Ir. Hans Heinrich Solf, membro da Loja de Pesquisas “Quatuor Coronati”, n° 2076, da Grande Loja Unida da Inglaterra através do Trabalho Origem e Fontes do Ritual Schröder: “... Isto despertou o talento de Schröder como ator dramático para criar um Ritual inteiramente novo, com sua própria concepção deste Grau. 

A uma tanto laboriosa explanação do Painel da Loja que é complemente omitida, colocou em seu lugar os princípios morais explanados numa bela linguagem e toda a cerimônia tem o significado de inculcar no candidato esperança e alegria. As viagens são acompanhadas com comentários encorajadores e flores e música são importantes fatores neste Grau. ... Ele conhecia todos os Rituais importantes de seu tempo, mas o seu mais ardente desejo era voltar as fontes. Já foi mencionado que Schröder acreditava que tinha havido somente uma cerimônia de iniciação aplicada à Maçonaria Operativa mas, quando o estágio da Especulativa havia sido plenamente desenvolvido, certas velhas usanças tiveram de ser abandonadas e novos elementos ritualísticos foram portanto introduzidos. Schröder compreendeu que ele não podia voltar a roda de evolução, mas ele sentiu que os Rituais existentes para a cerimônia de elevação eram supérfluos. 

Na verdade nenhum sistema Maçônico (Rito) tem sido capaz de providenciar uma função satisfatória para este Grau e é afirmado que o melhor conteúdo alegórico é o que Schröder e seus amigos deram para ele. Com um preciso instinto do espírito do seu tempo, a aurora do Iluminismo e o surgimento do romantismo, ele recolocou as citações enfadonhas e explanações do Velho Testamento como simples ensinamentos de Ética e Moral Maçônica. Tão estritamente quanto possível, porém de nenhum modo sem criticismo, ele conservou seus textos dentro da estrutura do Ritual que ele havia escolhido e ele o adornou com comentários instrutivos e encorajadores em vez de citações Bíblicas. 

O objetivo de trabalho numa Loja maçônica era para ele o cultivo de uma Fraternal e espiritual comunidade pela prática de cerimônias ritualísticas."... No Grau de Companheiro aprendemos através da calma meditação e da diligência no trabalho a importância do autoconhecimento e da fidelidade às leis da Fraternidade; a valorizarmos alegremente a Amizade, a Beleza e a busca da Verdade, conquistando assim a confiança dos nossos Irmãos e progredindo em nossa caminhada maçônica. O Grau de Mestre Maçom é, para o Rito Schröder, o último e mais elevado Grau da Maçonaria, sendo consagrado à busca incessante da perfeição e ao cumprimento inflexível dos seus deveres, servindo de exemplo de conduta aos Companheiros, Aprendizes e profanos. 

Como modelo de perfeição, o Mestre deve conhecer o melhor possível os três Graus, os Usos e Costumes da Fraternidade, a Legislação da sua Potência e da sua Oficina, bem como as obrigações inerentes a cada cargo, sejam elas ritualísticas ou administrativas. Prepara-se assim para Instruir os Aprendizes e Companheiros e para assumir um cargo de Oficial, podendo chegar a Venerável Mestre da sua Loja por delegação de seus iguais, recebendo assim a autoridade e o poder para dirigir os trabalhos por um determinado período. 

Todo o trabalho em Loja deve procurar educar e formar o maçom, visando prepará-lo para ser Mestre. Ao Mestre do   Rito Schröder cabe também, a pesquisa e a reflexão filosófica sobre o destino final do homem e sua preparação para a morte a qual representa mais um passo na evolução natural do ser humano. Por isto, o Mestre Maçom do Rito Schröder deve encarar a morte de quatro maneiras principais: a) alegórica ou simbólica: a Lenda do 3o Grau, significando o cumprimento do dever à custa da própria vida, exemplo legado pelo Mestre Hiram Abiff; b) o eterno ciclo da natureza, onde um novo homem nasce (ou renasce) para substituir aquele que partiu ("ele vive no filho"); c) a crença na imortalidade da Alma (ou do Espírito), que parte para o Oriente Eterno e lá nos aguarda para o derradeiro reencontro; e, d) a certeza de que a morte virá e que devemos nos preparar através do cumprimento das nossas obrigações pois podemos ser levados a qualquer momento. 

O Mestre Maçom deve encarar esta situação como algo natural e normal e, não, com temor ou horror. Devemos viver com intensidade, pois nossa passagem por este plano pode ser interrompida a qualquer momento ("Não nos amedronta a Morte!".). 

Finalmente, ser Mestre significa trilhar zelosamente a senda da Sabedoria. Significa ser mestre de si mesmo, trabalhando com ininterrupta força de vontade no seu próprio aperfeiçoamento e pode ser comparado com a idade adulta do Homem, quando assumimos plenamente nossas responsabilidades perante a vida. Para que possamos refletir sobre a real importância do Grau de Mestre no Rito Schröder, incluo trecho escrito originalmente pelo Ven. Ir. Friedrich Ludwig Schröder, P.G.M.: “A Maçonaria é uma fraternidade e, como tal, adotou os instrumentos de trabalho do maçom, e por isso não pode possuir mais do que os três Graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Assim era ela em todos os países onde existiam Corporações. Com o grau de mestre fechava-se o círculo. Àquele que anseia alguma coisa mais além não é mestre, ou seja, não compreende que são seus deveres e suas habilidades que o tornarão um verdadeiro mestre. ... Foram os rituais falsificados em vigor, pouco satisfatórios, repletos de lacunas e defeitos (além de outras causas funestas), que deram motivos para que a Teosofia, as Ordens de Cavalaria, a Alquimia e a Magia procurassem guarida na Maçonaria. Nada pôde ser mais nefasto do que quando se passou a confundir a Maçonaria com uma Ordem. A Maçonaria é uma irmandade voltada ao trabalho, uma construção, uma obra que, com seus estatutos, provas de admissão e habilidade, procura ressaltar as virtudes do mestre. Eis o que de mais elevado pode alcançar a natureza humana.” Acredito ser evidente que existe uma identidade doutrinária comum entre os ritos maçônicos regulares, além do simbolismo das ferramentas dos antigos construtores e da admissão exclusiva através da Iniciação. 

Diferencia-se, no entanto, em muitos outros aspectos, dentre eles, sua liturgia e dramaturgia e o desenvolvimento do seu método de ensino. Em Loja, o maçom é apresentado ao simbolismo e às cerimônias ritualísticas; ouve as preleções e instruções contidas nos rituais ou nos trabalhos elaborados por seus Irmãos; apresenta suas idéias; aprende a ouvir e respeitar idéias divergentes e às minorias (a exigência da unanimidade em algumas votações da Loja é a máxima prova deste respeito). 

Se tiver empenho, estabelecerá uma ligação com a doutrina da Maçonaria, a filosofia do Rito adotado e com o pensamento da sua Loja. Aprenderá que a moral maçônica é racional, expressada pelo amor à verdade, pelo respeito à razão, à sinceridade intelectual, à soberania da consciência que se impõe contra a superstição e contra o dogmatismo. É uma moral solidária, pois pretende que o maçom, mais do que "ter bons costumes" ou “boa reputação”, seja tolerante, dedicado, disposto a servir seus irmãos e semelhantes e a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para promover o bem estar da sua família, da sua Pátria, da sua Loja, das suas relações na vida profana e, por decorrência, o Bem da Humanidade. 

Aprender, para poder praticar e ensinar, o conjunto de princípios e práticas do Rito no qual foi Iniciado ou no qual sua Loja trabalha, é dever de todo o maçom. Conhecer os demais Ritos, respeitando suas origens, princípios e práticas, demonstra seu interesse na procura do auto-aperfeiçoamento. A Maçonaria exige de cada um de nós, a busca constante do conhecimento, da perfeição e da Verdade e, freqüentar a Loja, é fundamental, mas não é o suficiente. São necessários também, o estudo constante dos rituais e muita reflexão. Para podermos formar nossas próprias convicções sobre tudo o que vemos, ouvimos, vivenciamos, estudamos e aprendemos.

POR QUE OS APRENDIZES SE SENTAM NO NORTE? - Kennyo Ismail

 


O Ir.  Kennyo Ismail, do Distrito Federal é escritor, tradutor, editor, professor universitário, acadêmico, um dos mais renomados estudiosos e intelectuais da maçonaria no Brasil. Publicado em Simbologia

Para os IIr.'. Aprendizes e Companheiros

Com exceção do Rito Brasileiro, que inverteu as posições do REAA, os Aprendizes se sentam na Coluna do Norte em todos os demais Ritos. Nos ritos de origem francesa (Escocês, Moderno e Adonhiramita), eles se sentam na última fila do Norte, enquanto que nos ritos de origem que podemos chamar de “anglo-saxônica” (Shroeder, York e rituais do Reino Unido como o de Emulação), eles se sentam na primeira fila do Norte.

Qual é o motivo para os Aprendizes se sentarem no Norte? Essa é uma pergunta muito comum em Loja e que costuma receber as mais variadas respostas, algumas totalmente sem nexo:

“Porque a pedra bruta está no lado ocidental do norte, e o Aprendiz é uma pedra bruta”.

“Porque o Aprendiz precisa ficar na Coluna da Força para ganhar força para o trabalho”.

“Porque o Aprendiz tem que ficar perto do Primeiro Vigilante, que o instrui”.

“Porque o Aprendiz tem que ficar de frente para o Segundo Vigilante, que é quem deve instruí-lo”.

Essas afirmações chamam a atenção para um outro ponto:

De onde tiraram que os Vigilantes são os responsáveis por instruir os Aprendizes e Companheiros? Existe alguma fala na Abertura e Encerramento dos trabalhos em que os Vigilantes assumem essa responsabilidade? As instruções obrigatórias desses graus, que constam nos Rituais, são feitas pelos Vigilantes?

Respostas: Não. Apenas em algumas das cerimônias inventadas de posse e nos Estatutos modernos das Obediências é que os Vigilantes “ganharam” essa responsabilidade. As instruções para Aprendizes e Companheiros não são presididas pelos Vigilantes. Elas são presididas pelo Venerável Mestre e apenas contam com a participação dos Vigilantes, assim como contam com outros Oficiais da Loja.

Você pode estar se perguntando agora: Então, por que diabos os Vigilantes são considerados responsáveis pela instrução de Aprendizes e Companheiros?

Simplesmente criou-se esse “hábito” por conta da equivocada interpretação de que os Vigilantes “governam” as colunas onde os Aprendizes e Companheiros estão sentados, então deveriam ser responsáveis por eles.

Os Vigilantes não são ritualisticamente os responsáveis pela formação dos Aprendizes e Companheiros, independente de ser o 1º Vigilante para os Aprendizes e o 2º Vigilante para os Companheiros, ou vice-versa. Na verdade, os Oficiais da Loja são responsáveis por instruir Aprendizes e Companheiros conforme as instruções do Ritual, e sob comando do Venerável Mestre. É dever ritualístico do Venerável Mestre, que é o Mestre da Loja, definir se eles estão preparados para subir mais um degrau. Isso não deveria ser responsabilidade dos Vigilantes, apesar de se terem criado esse costume e legislado em favor disso. As dúvidas que um Aprendiz ou Companheiro por ventura possam ter deveriam ser sanadas pelo seu padrinho, o Mestre Maçom responsável pelo seu ingresso na Loja. É para isso que servem padrinhos, para garantir a formação de seus afilhados!

Enfim, com base nessas observações, verifica-se que as respostas dadas sobre o Aprendiz no Norte que são relacionadas à instrução dos Vigilantes não correspondem com a verdade.

Quanto à reposta de que o Aprendiz fica na Coluna da Força para ganhar força para o trabalho, isso é uma ofensa para a inteligência de cada maçom. Substituiremos o maço e o cinzel por alteres, se assim for! O efeito será melhor para tal simbologia!

Já a afirmação de estar relacionado com a posição da pedra bruta em Loja também é ilógica. Afinal de contas, em alguns ritos a pedra bruta não fica na Coluna do Norte, enquanto que Aprendizes permanecem lá! Então, qual é o motivo?

É simples. A Loja possui 03 Luzes que a governam: Venerável Mestre, Primeiro Vigilante e Segundo Vigilante. Essas 03 Luzes ficam localizadas em 03 lados do templo: Oriente (VM), Ocidente (1º Vig) e Sul (2º Vig). Ora, o templo possui 04 lados, então um não possui Luz: o Norte! Por esse motivo, a Coluna do Norte é considerada o “lado escuro do templo”.

O Aprendiz até pouco tempo atrás era um candidato na escuridão, desejoso de receber a Luz. Seu lugar é no lado mais escuro do templo onde, simbolicamente, sua visão poderá se acostumar com a Luz que lhe é dada aos poucos. O Aprendiz está no hemisfério norte, enquanto o Sol está fazendo seu giro do Oriente para o Ocidente inclinado ao Sul, o que indica que o Aprendiz está no inverno do hemisfério norte, quando as noites são maiores que os dias, ou seja, a escuridão ainda prevalece sobre a luz do dia.

Isso está muito bem registrado nas instruções dos rituais mais antigos, mas se perdeu na evolução de muitos ritos e na constante “revisão” que quase todos sofrem constant

novembro 04, 2021

DA MAÇONARIA TEÍSTA À MAÇONARIA DEÍSTA - Rui Bandeira




Definido o que se deve entender por deísmo e por teísmo, estamos então em condições de indagar se existe uma Maçonaria teísta e uma Maçonaria deísta, quais os significados destas expressões e as diferenças entre elas.

Na época da Maçonaria Operativa, não havia discussões na Europa. Era-se cristão ou judeu e ponto final. A religião entrava na vida de cada indivíduo, não através de uma busca racional, mas como uma característica essencial. E a religião era o que os responsáveis da Igreja diziam que era.

Analisar questões teológicas era encargo de muito poucos de entre os pouquíssimos que sabiam ler e escrever. A grande massa dos Povos tinha a religião do Estado onde se encontrava ou do senhor a quem servia. Não era, sequer, uma questão de escolha. Era de sobrevivência. Literalmente falando.

Não se punha, pois, a questão de se ser deísta ou teísta. O conceito de deísmo nem sequer existia. Todos eram teístas, porque todos eram crentes. E quem não fosse, calava e fingia sê-lo, se queria continuar integrado na sociedade, vivo e de boa saúde...

Na Europa de então, opções religiosas havia duas: o cristianismo (primeiro apenas sob a batuta do papa de Roma; depois, com a Reforma, com dois grandes campos de escolha: o catolicismo ou, com diversas variantes, o que se convencionou chamar de protestantismo) e o judaísmo, aquele amplamente majoritário.

Todos os maçons eram, por definição, crentes e cristãos.

A Maçonaria Operativa, como instituição eminentemente profissional, não destoava do resto das instituições existentes e todos eram teístas. Nem se concebia que pudesse ser diferente!

O tempo e a evolução social, porém, vieram a alterar esta situação. A partir de finais do século XVI, inícios do século XVII, gradualmente as Lojas maçônicas operativas começaram a admitir elementos não integrantes da profissão de construtores em pedra.

Foram senhores que mandavam construir igrejas e contratavam e pagavam, para esse efeito, os oficiais construtores, exercendo sobre estes manifesta influência econômica, que demonstravam interesse em compartilhar dos segredos da Arte Real da construção. Foram influentes cavalheiros ou nobres que assumiam o papel de protetores das corporações de maçons, enfim, a pouco e pouco foram sendo Aceites não construtores nas Lojas. E as Lojas passaram a ser locais de congregação de maçons livres e aceites.

Maçons livres, os oficiais construtores que não dependiam de senhores, que eram livres de trabalhar e exercer o seu ofício onde quisessem e pudessem. Maçons aceitos, aqueles que, não sendo oficiais construtores, tinham sido aceites no seio das Lojas.

A Maçonaria original, operativa, era essencialmente cristã. Na Europa esse era o pensamento religioso largamente dominante. Para além deste, existia apenas o judaísmo, minoritário e simplesmente tolerado. Às vezes, pouco. Nalguns locais (na Península Ibérica, por exemplo), nada.

Todos os textos primitivos maçônicos espelham a doutrina cristã. Mesmo as Constituições de Anderson o mostram.

Na redação original dos Landmarks, os princípios informadores da Maçonaria não se fazem referência a Volume da Lei Sagrada, menciona-se, clara e diretamente, a Holly Bíblia, a Bíblia Sagrada.

Com o advento do pensamento deísta e a sua inegável influência na Maçonaria, a concepção desta como tributária da religião cristã é substituída por uma muito mais abrangente concepção como tributária da "Religião com a qual todos os homens concordam" (expressão, aliás, já constante nas Constituições de Anderson).

Este mais abrangente entendimento inelutavelmente que levou a certa descristianização da Maçonaria. Se esta era o ponto de confluência de todos os crentes de todas as religiões, a plataforma mínima de entendimento de todos, a "religião com a qual todos concordam", então não se podia impor aos não-cristãos as preces cristãs, por exemplo.

A Primeira Grande Loja de Londres, instituída em 1717, estabeleceu o princípio deísta na Maçonaria. Outros maçons, respeitadores da sua tradição, vinda da Maçonaria Operativa, discordaram dessa evolução e constituíram a Grande Loja dos Ancients (Antigos), apelidando os da Grande Loja de Londres de serem, erradamente, no seu ponto de vista, Moderns (Modernos).

Foi da tensão entre estas duas concepções da Maçonaria, uma declaradamente teísta, na esteira operativa, e outra assumidamente deísta, foi dos debates entre uma e outra, que se forjou a Maçonaria Moderna.

A Grande Loja dos Antigos, decisivamente influenciada por Lawrence Dermott, autor da compilação que constituía o conjunto de textos essenciais dos Antigos, o Ahiman Rezon, incluía nos seus rituais uma oração para ser dita pelos cristãos, onde se pedia a Deus, designadamente:

Dote-os (os novos Maçons), com a competência da sua Divina Sabedoria para que eles possam, com os Segredos da Maçonaria serem capazes de entender os Mistérios da Santidade do Cristianismo.

Os Antigos verberavam os Modernos por estes descristianizarem o ritual; os Modernos defendiam a inclusão da Maçonaria a todos os crentes, qualquer que fosse a sua religião pessoal, qualquer que fosse a sua concepção do Criador.

Com a união das duas Grandes Lojas rivais, em 1813, na Grande Loja Unida de Inglaterra, venceu a concepção deísta da Maçonaria.


Portanto, hoje pode com correção afirmar-se que a Maçonaria é deísta.


Deísta, porque, ao abrigo do princípio da assunção do Divino através da Razão, admite no seu seio todos os crentes, não apenas os que originalmente nela eram admitidos (cristãos).


Deísta, porque ponto de encontro, denominador comum de todos os crentes, respeitando a crença individual de cada um.


Neste sentido, deísta, porque não apenas cristã.


O primeiro judeu iniciado foi-o numa Loja de Londres, em 1732: Edward Rose.


Só mais tarde vieram a ser iniciados Muçulmanos e depois seguidores de outras religiões.


Maçonaria deísta é, pois, a Maçonaria hoje correntemente aplicada, que aceita no seu seio crentes de todas as religiões.


Não quer isto dizer que renegue a sua origem cristã.


Não o faz. 

Designadamente, mantém, em especial em alguns dos Altos Graus, graus especificamente cristãos.


Mas, mesmo esses, um não cristão que a eles queira aceder e não se sinta desconfortável com o ideário cristão neles expresso, pode recebê-los.


Uma última nota: quando se diz que a Maçonaria é deísta, não se pretende dizer, nem se aceita, que se destina exclusivamente a deístas.


Porque apenas se exige crença num Criador, sendo despicienda qual é E COMO A ELA SE CHEGOU.


Na Maçonaria convivem fácil e proveitosamente deístas e teístas.

Seja qual for a sua religião.


Também em Maçonaria a evolução se fez do teísmo para o deísmo, numa perspectiva de inclusão, nunca de exclusão.


Por isso, a Maçonaria Moderna é deísta, sem prejuízo de ter no seu seio - e muito confortavelmente - muitos teístas.


Porque ser, individualmente, teísta, deísta, católico, luterano, anglicano, calvinista, evangélico, judeu, muçulmano, hindu, etc., etc., etc. e ainda etc., desde que crente, é absolutamente indiferente!