novembro 19, 2021

A BANDEIRA BRASILEIRA - Evangelista Mota Nascimento


Evangelista Mota Nascimento, 33º I:. escritor, professor e membro regular das Lojas Simbólicas: Visconde de Vieira da Silva, nº 14 - Oriente de Barra do Corde, Maranhão e Heitor Correi de Melo, nº 19 - Oriente de Açailândia, Maranhão.

A frase “ORDEM E PROGRESSO” foi escrita em novembro de 1889, por Raimundo Teixeira Mendes, escritor, filósofo, maranhense de Caxias, que, repassou para os governantes da época o modelo da bandeira brasileira, prontamente adotado e elogiado. 

A cidade maranhense de Caxias é provavelmente a única a estar presente simultaneamente na história dos dois maiores símbolos da nossa Nação -- a Bandeira e o Hino. 

A Bandeira é uma criação do filósofo e matemático caxiense Raimundo Teixeira Mendes (1855 -1927). Seu dia, 19 de novembro, é a data em que, em 1889, quatro dias após a Proclamação da República, Teixeira Mendes entregou ao marechal Deodoro da Fonseca o desenho que o maranhense voluntariamente criou. Durante quatro dias, de 15 a 19 de novembro, a Bandeira brasileira era uma “cópia servil” da bandeira dos Estados Unidos pintada de verde e amarelo (no lugar do vermelho e branco americanos).

Na Bandeira brasileira, até a frase “Ordem e Progresso”, extraída por Teixeira Mendes da obra do filósofo francês Auguste Comte, pode ser creditada ao poeta caxiense Gonçalves Dias, que a escreveu e a descreveu em sua obra “Meditação”, de 1846, enquanto o livro “Système de Politique Positive”, de Comte, é de 1852. Trato extensamente desse assunto em meu texto “’Ordem e Progresso’ -- Um Lema Caxiense?”.

Se o Maranhão e Caxias estão presentes na Bandeira do Brasil, com o desenho e, quiçá, com o lema, também é dupla a participação maranhense-caxiense no Hino Nacional: os trechos de versos da “Canção do Exílio”, do caxiense Gonçalves Dias, na letra do Hino (“nossos bosques têm mais vida” e “nossa vida [em teu seio] mais amores”) e a proposição legal de o Hino Brasileiro ter uma letra (pois antes era só melodia).

A proposição foi do escritor caxiense Coelho Netto, quando deputado federal, no Rio de Janeiro (antiga capital da república). Coelho Netto, que era deputado federal e desde 1906 defendia uma letra para o Hino brasileiro, apresentou duas emendas sobre o assunto, em 1909 e 1910, que foram rejeitadas, mas, em 1922, no centenário da Independência, o Congresso Nacional, por pressão do presidente Epitácio Pessoa, finalmente aprovou uma letra para o Hino, de autoria de Osório Duque-Estrada. Coelho Netto escreveu, em 1909: “ - Esse hino tem sido companheiro das nossas glórias e vicissitudes e precisa ser cantado por todos os filhos deste grande país. É um hino que canta, mas não fala. É preciso que fale, que saiba traduzir a beleza das nossas mulheres, a pureza do nosso céu, o ruído das nossas cascatas e a impetuosidade do nosso amor”.

***

Nos mais diversos lugares e localidades deste País, seja em um submarino brasileiro no fundo do mar, seja no Pico da Neblina, no mais rarefeito ar, está tremulando especialmente a Bandeira do Brasil -- criação de um caxiense, Raimundo Teixeira Mendes.

Desde 19 de novembro de 1889, após a proclamação da República, a bandeira que estamos vendo agora é a mesma que vem presidindo e testemunhando, do mais alto ponto, o correr dos acontecimentos em nosso território.

Cada símbolo nacional tem a sua função, o seu valor. Mas nem o selo, nem o sinete, nem mesmo o brasão das armas nacionais têm estado tão presente nos olhos e na alma do povo brasileiro quanto a sua bandeira.

A bandeira é o hino em tecido: basta vê-la nos grandes momentos para sentirmos aquela mesma comoção sadia, a mesma emoção positiva de orgulho cívico, de cidadania gloriosa.

É assim ao vibrarmos com o esportista vitorioso que empunha, mesmo sem mastro, o quadrilátero verde-amarelo.

É assim ao nos comovermos com a bandeira enorme sob a qual desfilam anônimas pessoas do povo nas passeatas.

É assim quando a vemos empunhada por braços firmes e passadas fortes dos estudantes e dos soldados nos desfiles de 7 de setembro.

A Bandeira Brasileira não deve ser um objeto com datas certas para acontecer, aparecer. Ela deve estar mais presente no dia-a-dia. Na Capital do País, Brasília, pessoas da iniciativa privada mantêm um movimento cívico para ter-se e manter-se a Bandeira Brasileira frente aos prédios de suas empresas. Não se trata de ufanismo piegas, mas de orgulho de ser cidadão e de pertencer a esta Nação.

A Bandeira é isso: aquela que se eleva no simbolismo da luta; aquela que se declina no momento de luto.

Seja no calor da batalha ou na frieza da mortalha, a bandeira, a meio mastro ou no alto, ensina que não nos devemos baixar, derrotados ou derrotistas. Devemos, sim, abrir os olhos e firmar a visão, num gesto de determinação e de superação que “aos fortes e aos bravos só pode exaltar”.

E pelo pouco tempo de existência de nosso País, ter conseguido o destaque que nós temos no concerto das nações significa que esta também é uma terra de bravos.

Viva a bandeira brasileira! Tenha-a sempre à mão. Agite-a: ela espanta os insetos da anticidadania. Use-a: ela é um tônico contra a falta -- ou a fraqueza -- de civismo.

Que a mensagem de “ORDEM E PROGRESSO” de nossa Bandeira continue a balizar o caminho pelo qual todos nós, governantes e governados, empregadores e empregados, devemos trilhar. Que a ordem, aqui, signifique não só disciplina e disposição, mas também boa administração das coisas e das causas públicas. E que o progresso seja, por sua vez, sinônimo de justiça social.

Que as cores da bandeira adquira outros tons. Que o verde, além do simbolismo das matas, seja o da esperança realizadora daqueles que não se acomodam.

Que o amarelo não represente apenas a fartura do nosso ouro, mas a riqueza da cultura do nosso povo.

Que o azul não se limite ao limite das nossas vistas, que é o céu; mas se amplie por uma visão além dele, que é o espírito.

E o branco, que este não simbolize apenas a paz que é a ausência de guerra, mas a paz de consciência ante as muitas guerras que temos de vencer para reabilitar a maior parte do nosso povo e fortalecer, assim, a própria cidadania, a própria nacionalidade, o próprio País.

Em fim. Raimundo Teixeira Mendes nasceu na cidade de Caxias, Maranhão no dia 5 de janeiro de 1855. Filho de Raimundo Teixeira Mendes e Ernestina Torres de Carvalho. Foi para o Rio de Janeiro estudar num colégio de jesuítas e depois no Pedro II, onde passou a se interessar por matemática e filosofia positivista. Defensor das ideias republicanas ingressou na Escola Central, depois Escola Nacional de Engenharia, mas interrompeu os estudos devido a uma divergência com seu diretor, o visconde do Rio Branco, e concluiu o curso em Paris.

Foi divulgador das teorias de Augusto Comte no Brasil, na capital francesa fundou o primeiro templo da Religião da Humanidade, na casa em que morreu Clotilde de Vaux, companheira de Comte. De volta ao Rio de Janeiro, onde se radicou definitivamente estudou medicina, mas não concluiu o curso. 

De 1890 a 1908, publicou vários livros, entre eles A propósito da liberdade dos cultos, a política positivista, regulamento das escolas do exército, a comemoração cívica de Benjamin Constant, a liberdade religiosa, a liberdade espiritual, a organização do trabalho, a diplomacia e a regeneração social.

Baseada nos princípios propostos do filósofo francês Augusto Comte, Teixeira Mendes influenciou os eventos sociais da Igreja Positivista do Brasil, sediada no Rio de Janeiro, que tinha como diretor Miguel Lemos de quem Teixeira Mendes tornou-se seu vice-diretor.

Em 1888 a abolição da escravatura veio coroar de êxito parcial seus esforços, juntamente com diversos outros líderes e agitadores abolicionistas. Todavia, sua importância tornou-se realmente grande.

No amanhecer do dia 15 de novembro de 1889, Benjamin Constant Botelho de Magalhães destituiu o Gabinete do Visconde de Ouro Preto e proclamou a República. Imediatamente após a proclamação, Miguel Lemos e Teixeira Mendes se reuniram com Benjamin Constant para avaliar a situação e apoiar ou não o novo regime. No dia 19 de novembro, quatro dias após a proclamação, Raimundo Teixeira Mendes apresentou ao governo provisório, por meio do Ministro da Agricultura, o também positivista Demétrio Ribeiro, um projeto de bandeira nacional republicana, em substituição ao projeto anterior, o qual atualizou a bandeira imperial, mantendo o verde e o amarelo - indicando com isso a permanência da sociedade brasileira - e substituindo o brasão imperial pela esfera armilar com uma idealização do céu do dia 15 de novembro e o dístico “Ordem e Progresso” (da autoria de Augusto Comte) - indicando a evolução para um regime político aperfeiçoado e o espírito que deveria animar esse novo regime. O projeto foi prontamente aceito.

A cor verde, amarela e azul, assim como o posicionamento da faixa “Ordem e Progresso” e das estrelas, foi uma orientação de Miguel Lemos e Manuel Pereira Reis, as quais ficaram conhecidas como “Apreciação Filosófica” de Teixeira Mendes nos mais importantes eventos políticos da nova república, assim como: a separação entre a Igreja e o Estado, a revolta da vacina, a negociação dos limites territoriais projetado por Barão do Rio Branco, a participação do Brasil na 1ª Guerra Mundial, a legislação trabalhista, o respeito às mulheres, a proteção dos animais e inúmeros outros assunto de interesse nacional.

No parágrafo primeiro do Art. 13 da Constituição de 1988, define como símbolos da República Federativa do Brasil, a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. Sem dúvida, os símbolos só podem ser os do Decreto 5.700, de 1971. No parágrafo segundo do mesmo artigo, estabelece que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

Concluem-se então estes fragmentos biográficos do maranhense natural de Caixa, Raimundo Teixeira Mendes, faleceu em sua residência situada na Rua Benjamin Constant, cidade do Rio de Janeiro, em 28 de junho de 1927. O cortejo fúnebre saiu para o Templo da Humanidade, na Glória, e de lá para o Cemitério São João Batista, onde foi sepultado, em 30 de junho do ano de 1927, onde pessoas da sua família leu o versículo 19 do capítulo 26 do livro do profeta Isaías: “Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos”.

Por estas e outas contribuições no campo literário e cultural o seu nome foi indicado e aprovado, Patrono da Cadeira nº 7, da Academia Açailandense de Letras.

Açailândia, Maranhão, 19 de novembro de 2021.

novembro 18, 2021

*QUAL O REAL OBJETIVO DA MAÇONARIA? - Ir. Denilson Forato, M.I.



A Maçonaria tem três objetivos essenciais: a instrução moral, física e intelectual; a moral abrange a espiritualidade; a física o conhecimento e a intelectual a mística. Os ensinamentos maçônicos buscam sempre nos lembrar os três deveres fundamentais do ser humano, ou seja, os deveres para conosco, com a humanidade e para com Deus. Para com Deus reconhecendo sua presença em tudo e sua fabulosa obra, o universo.

Para com a humanidade, consistindo em nossas famílias, a pátria e o universo, tendo como tarefa levar o conhecimento, a solidariedade, enfim, os nossos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Para conosco consistindo em nosso aperfeiçoamento, o desbastar da pedra bruta, a busca do equilíbrio entre a mente e o corpo. Sendo esta a tarefa mais difícil de todas, a de olhar para dentro de nós mesmos, reconhecendo nossos defeitos, nossas limitações e ainda em certos momentos encontrar em nós sentimentos e atitudes as quais combatemos por princípio. Termos em certos momentos a consciência de nossa ignorância.

Todas as vezes que nos vemos irritados, insatisfeitos, atribuindo nosso insucesso a causas externas, como: pessoas, trabalho, dificuldade financeira, devemos neste momento olhar para dentro de nós mesmos, pois o bem estar, a felicidade, o equilíbrio como queira se chamar está dentro de nós, pois o mundo não muda, mas a nossa visão do mundo sim, esta pode ser modificada e só depende de nós. Busque através de Deus, do conhecimento, do autocontrole, de qualquer forma, mas busque sempre.

Todos nós passamos por momentos muito bons e também revezes e em vários destes estavam vocês, meus queridos irmãos, nos bons e nos difíceis.

É comum após alguns anos de maçonaria, alguns se interrogarem, o que estou fazendo aqui? Será que estou sendo útil ou será que a Maçonaria me é útil? Frequentemente encontro irmãos adormecidos, por este ou aquele motivo, muitos dizem “a maçonaria não é mais a mesma”, “maçonaria virou copo d’água”. Muitos acham que a maçonaria deve mudar o mundo, a política, a sociedade toda, mas sequer consegue mudar a si mesmo, sofrem em  reconhecer uma série de defeitos.

Hoje vivemos em imensos conglomerados urbanos, com família desfeitas, drogas, falta de Deus, com pessoas com problemas psíquicos graves, não mais em pequenas cidades, onde a influência dos justos e de boa formação era a regra, por isso temos tanta dificuldade em influenciar em massa, mas podemos e devemos continuar o trabalho pequeno em extensão, mas de enorme valor.

Não fossem as leis, mesmo com graves distorções viveríamos em condições piores do que animais, pois o ser humano é destrutivo em sua essência, e isto fica evidente quando suas necessidades não são satisfeitas.

Meus queridos irmãos, a maçonaria não é um reduto de homens perfeitos, mas sim um seleto grupo que busca a superação humana, a sabedoria e o conhecimento que não vem do dia para a noite e sim de forma gradual. Cada reunião em Loja é rica do inicio ao fim, basta enxergar, algumas melhores que outras, mas sempre muito produtivas.

A presença de cada irmão traz Luz à Loja, esta Luz é conhecimento, é riqueza, é espiritualidade, cada um com seu espírito formando uma egrégora positiva e construtiva.

Por tudo isso, e resumidamente, venho a esta Loja para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para glorificar a verdade e a justiça. Que Deus permita que eu nunca desista.

CARBONÁRIA - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz





O Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz é um dos mais prolíficos escritores e intelectuais maçônicos do país, membro da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras.


A Carbonária era uma sociedade secreta fundada na Itália no século XIX, em que erroneamente se associa à Maçonaria, provavelmente por ter adotado, por cópia, práticas semelhantes, levadas por Maçons que pertenciam às duas Sociedades.

Da mesma forma que Maçom é Pedreiro, Carbonário era “Carvoeiro”.

Sete ou mais Irmãos Maçons constituem uma Loja e vinte ou mais “Bons Primos” Carvoeiros formavam uma “Venda”.

A região em que se encontra uma Loja chama-se Oriente e onde se encontrava uma “Venda” chamava-se “Floresta”.

Três ou mais Lojas formam uma Obediência e vinte ou mais “Vendas” formavam uma “Venda Central”. Havia, também, uma outra instância, a “Alta Venda”, formada por representantes (deputados) das “Vendas Centrais”.

Como a Maçonaria, a Carbonária tinha o seu alfabeto secreto.

Algumas ideologias maçônicas eram afins com a Carbonária, como o combate ao absolutismo e à intolerância religiosa, além do patriotismo e a defesa da democracia e dos ideais liberais.

A Carbonária caracterizava-se também por valores anticlericais e por sua atuação política e revolucionária, tendo atuado tanto na Itália quanto em outros países latinos europeus e sul-americanos. 

O Carbonário Maçom italiano Giuseppe Garibaldi participou no Brasil das forças separatistas derrotadas na Revolução Farroupilha.

Tal como a Maçonaria fora condenada pelo papa Clemente XII na bula In Eminenti de 1738, a Carbonária foi condenada pelo papa Pio VII na encíclica Ecclesiam de 1821.

novembro 17, 2021

DO EMPOBRECIMENTO DAS LINGUAGENS - Dominique Lelys

 


(…) A linguagem telegráfica e ultrassimplificada, que hoje p r e d o m i n a , é  capaz de  transmitir mensagens imediatas e sentimentos primitivos, assim como faz a “ l i n g u a g e m ” d e muitas espécies animais. Está associada a textos curtos e músicas pobres, repetitivas.

 A linguagem humana é muito mais do que isso. Ela fala de história, atualiza o passado, indica o futuro, refere-se ao que não existe, transmite conceitos, narra sentimentos e descreve objetos complexos.

 Em vez de escolas e famílias adaptarem-se ao empobrecimento vocabular e sintá tico, elas devem contribuir para enriquecer crianças e jovens. Quem não domina  uma linguagem rica não pode conhecer Shakespeare , Guimarães Rosa, a Ilíada e tantos outros monumentos da nossa humanidade.

 Afastados desse universo simbólico sofisticado, também não conseguem apreciar Villa-Lobos, a Pietà ou uma bela solução arquitetônica. 

 A ideia de rebaixar a escola em nome da inclusão só reproduz a exclusão. 

 Cesar Benjamim 

O desaparecimento progressivo dos tempos (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado...) dá origem a um pensamento no presente, limitado ao instante, incapaz de projeções no tempo.

 A generalização da familiaridade, o desaparecimento das maiúsculas e da pontuação são todos golpes fatais à sutileza da expressão. Eliminar a palavra "saudade" não é apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existe nada. 

Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos oportunidade de pensar bem. Estudos têm demonstrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de traduzir as emoções em palavras. 

Sem palavras para construir um raciocínio, o pensamento complexo caro a Edgar Morin é dificultado, tornado impossível. Quanto mais pobre a linguagem, menos pensamento existe.

 A história é rica em exemplos e há muitos escritos de Georges Orwell em 1984 a Ray Bradbury em Fahrenheit 451 que relataram como ditaduras de todas as convicções dificultaram o pensamento, reduzindo e distorcendo o número e o significado das palavras. Não há pensamento crítico sem pensamento. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético - dedutivo sem dominar o condicional? Como imaginar o futuro sem conjugação com o futuro?

Como apreender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, bem como a sua duração relativa, sem uma linguagem que faça a diferença entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que pode acontecer, e o que será depois que o que pode acontecer tenha acontecido? 

Se hoje se ouvisse um grito de guerra, seria o grito dirigido a pais e professores: façam com que seus filhos, seus alunos, falem, leiam e escrevam. Ensinar e praticar o idioma em suas mais variadas formas, mesmo que pareça complicado, principalmente se for complicado.

Porque nesse esforço está a liberdade. Quem explica o tempo todo que é preciso simplificar a grafia, purgar a linguagem de seus " defeitos", abolir gêneros, tempos, nuances, tudo o que cria complexidade são os COVEIROS DA MENTE HUMANA. 

 Não há liberdades sem exigências. Não há beleza sem pensar na beleza.

 Christophe Clavé


HAMLET NA MAÇONARIA: SER OU NÃO SER… MAÇOM - Márcio dos Santos Gomes




A conhecida e dramática frase “ser ou não ser, eis a questão” reflete a angústia existencial e a antológica dúvida do príncipe na obra “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”, escrita por William Shakespeare (1564-1616) na viragem do século XVII, onde o famoso personagem medita sobre o dilema de vingar ou não a morte do pai. Tal situação decorre do facto de Hamlet se ver diante de uma realidade que não era aquela imaginada, sendo subitamente colocado diante de revelações do fantasma do seu pai a demonstrar que o seu mundo perfeito era uma farsa, frente à complacência da corte. O momento desta descoberta da verdade dos factos também é registado na célebre frase “há algo de podre no reino da Dinamarca”.

A situação de dúvida acima relatada é uma constante que persegue o ser humano na sua trajetória terrena, presentes em momentos decisivos e impregnados de dualidades, envolvendo o que queremos ser ou sermos o que podemos. Enfim, como viver a vida. Alguns chegam a afirmar que felizes são aqueles que, ao viverem permanentemente alienados e não se verem confrontados com choques de verdades, não percebem as realidades do mundo e fazem a sua caminhada de forma descomprometida ou por vezes também construída ou fruto de um mito onde cada um a percebe de um modo diferenciado, como bem representadas na conhecida “Alegoria da Caverna” ou “Mito da Caverna”, uma passagem de “A República”, do filósofo grego Platão (400 a.C.).

É amplamente sabido que ao longo da história muitas pessoas procuram estruturar-se em clubes de serviços, grupos, associações, fraternidades, entidades com mais variados objetivos, de cunho material, social, cultural, religioso, civil, etc., onde prevalece a cooperação, a partilha, a ajuda mútua e a solidariedade. Aos membros e dirigentes de tais entidades cabe, dentre outras ações, encontrar pessoas com as qualificações e o ideal necessários para dar continuidade aos trabalhos, que se comprometam e se envolvam de forma plena a garantir a consecução dos objetivos definidos.

A Ordem Maçônica não foge a este receituário, por isto condiciona a seleção dos seus futuros membros a rígidos valores como probidade, honra ilibada e consciência cidadã, pois neste aspecto reside a sua força. Uma vez aceite a proposta de ingresso e superada a fase de sindicância e iniciação ritualística, outros valores são incutidos nos estudos e discussões regulares, de forma a que o iniciado aprimore a tolerância, a compreensão do verdadeiro amor ao próximo e à Pátria, despertando o interesse e exaltando a necessidade de trabalho pela felicidade do género humano e à consagração da solidariedade como a primeira das virtudes e o combate aos vícios inerentes ao ser humano, que é o objectivo a ser perseguido continuamente.

A serem seguidos os critérios e regulamentação previstos para a escolha e o escrutínio dos candidatos, observada a cautela nas diligências encetadas para aquilatar o grau de qualificação e valores demonstrados pelos possíveis interessados, não haveria espaço para frustrações e desistência ao longo da caminhada maçónica. Apesar disto, verificam-se por vezes procedimentos sumários de escolha e convite, com vistas a manter ou repor os quadros de algumas Lojas com número reduzido de obreiros, que desaguam em danos irreversíveis, decorrentes do comprometimento dos valores tão caros à Ordem, facultando a entrada a pessoas despreparadas, em busca de vantagens ou com o simples objectivo de serem chamados de “irmãos” e distribuir palmadinhas nas costas para demonstrar camaradagem e proximidade, para angariar simpatias pessoais e popularidade.

Por outro lado, mesmo após os cuidados cautelares, a frustração é do próprio iniciado, que se vê desiludido nas suas expectativas, nomeadamente por falhas dos dirigentes das Lojas em o envolver em atividade que cativem a sua atenção ou o instruam competentemente nos Princípios da Ordem.

Num primeiro momento o obreiro começa a emitir alguns sinais de insatisfação, como faltar às reuniões, por vezes sem justificação coerente, ou mesmo chegar atrasado, cumprimentando um ou outro, e não se interessando pelos assuntos tratados. Muitos tornam-se resmungões, não dão valor aos encontros festivos, descuidam-se das funções do cargo, caso os tenham, ou o recusam, quando convidados a atuar. Frequentar os ciclos de estudos da Escola Maçónica e reuniões da Loja de Pesquisas, ou mesmo visitar outras Lojas, nem pensar. Neste aspecto, não é raro ouvir-se no “jornal da caserna” que aqueles irmãos voluntários da Escola Maçónica estão a inventar ou a alterar a ritualística ou não sabem do que estão a falar, esquecendo que este fórum é para discussão e nivelamento de informações e não para ensinar aos que já o sabem.

Quando o assunto é apadrinhar um candidato, o argumento de não conhecer alguém com o perfil adequado é recorrente. Nas reuniões, os desinteressados estão sempre a recordar o “adiantado da hora” para que os trabalhos não se prolonguem e não comprometam o assistir ao jogo de futebol do dia, o copinho da praxe, etc. Tudo isto, sem entrarmos nas situações de formação de “panelinhas” e articulações políticas para processo sucessório nas Lojas e provocação de cizânia entre irmãos, comportamento típicos dos discípulos de Bakunin.

Neste contexto, algumas reflexões precisam ser feitas pelas Lojas e pelos obreiros que se identificam numa destas situações. Quanto às Lojas, várias perguntas podem ser feitas, como por exemplo:

O que podemos fazer para envolver e comprometer os obreiros?

Onde estamos a falhar?

As nossas reuniões são dinâmicas ou apenas cumprem as formalidades?

Temos apresentações de trabalhos que suscitam discussões e crescimento intelectual?

Estamos envolvendo a família nas atividades festivas e de companheirismo?

Estamos cuidando dos nossos aprendizes e companheiros, dando o suporte de “mentoring”?

No caso do obreiro temos questões como:

O que tenho feito para a Loja?

Tenho sido assíduo às reuniões?

Tenho interesse pelos assuntos tratados?

Participo das atividades extra Loja?

Recuso cargos ou substituir irmãos ausentes por motivo de força maior?

Faço visitas a outras Lojas?

Acompanho a evolução do(s) meu(s) afilhado(s)?

Indico novos nomes para compor a Loja?

Convido irmãos de outras Lojas para nos visitar?

Se nada disto é feito, então a Loja pode estar a trilhar um caminho tortuoso que fatalmente levará à sua extinção. Quanto ao obreiro, caso se sinta responsável por esta situação, é chegado o momento de se colocar como o melancólico Hamlet, onde o “ser” se tornou uma opção e ele agora tem que ponderar e escolher, sabendo que se não se sentir preparado o suficiente para fazer a escolha de forma consciente e alinhada com os postulados da Ordem, e chegar à conclusão que tudo não passou de uma escolha de ocasião, o seu prazo de validade expirou. Então, o passo seguinte é tratar de saber como obter o “quite-placet”, na certeza de que, se correr, o bicho não pega.


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novembro 16, 2021

SER ESCRITOR - Marcelo Rates Quaranta



Ser escritor é transcender a alma através da pena. O escritor é aquele que tem a sensibilidade de perceber as emoções que voam ao seu redor, fazendo do seu próprio coração o ponto de pouso de cada sentimento. 

É aquele que tem a habilidade de prospectar nos corações alheios os seus sentimentos, e os converter em palavras, transformando um pedacinho da vida num poema, num texto, numa frase...  Ele é  o coração que escreve. A sua lágrima e o seu sorriso pertencem a ele, porque ele os fez acontecer.

O escritor está no DNA de cada uma de suas criaturas e vive a vida dos seus personagens, ri com eles, sofre com eles, angustia-se por eles, ama por eles, odeia por eles, perdoa e se vinga por eles, como se vivesse mil vidas dentro de uma sinergia louca onde em minutos todos os sentimentos se embaralham. 

O escritor é cada personagem num momento diferente do coração, que muda numa fração ínfima de eternidade. O escritor é amor suficiente pra ser um deus, e pérfido o suficiente para ser o diabo. Como deus ele cria, dá vida, conduz e ainda determina a hora e a forma da sua morte. Ele é a virtude dos mocinhos, o suspiro dos apaixonados,  a tristeza dos desvalidos, a volta por cima e a derrocada. Como diabo ele é a vingança, a trama, o drama e a maldade. 

Não basta saber escrever. É preciso dividir suas emoções com cada uma das suas criaturas. É preciso amar o bom e o mau. É preciso ver cada personagem como um filho, com todas as suas virtudes e defeitos. Ele não pode odiar o que ele cria.

Ser escritor é aprender muito mais com suas criaturas do que ensinar como criador. É se ler e enxergar que é a sua própria vida que está projetada em cada uma das suas obras, e fazer da sua  própria existência peças formatadas entre muitos prólogos e tantos outros epílogos.

Ser escritor é amar e viver a vida intensamente, fazendo do papel uma bula, um manual de instruções da sua própria passagem pelo mundo. É ser o mago das emoções e um manipulador sorrateiro, que pega o coração do seu leitor com as mãos e faz dele o seu brinquedo. É transformar a folha do papel num elemento mágico, capaz de  penetrar na alma alheia.

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Eu amo ser escritor, porque amo pelos que amam e odeio pelos que odeiam, e com isso condiciono a minha própria vida à ponta de uma pena.

O NOTÁVEL MAÇOM GOETHE - Walter Celso de Lima

 

1.     Introdução:


     Johnn Wolfgang von Goethe nasceu em 28 de agosto de 1749, em Frankfurt am Main, então Sacro Império Romano-Germânico e faleceu em 22 de março de 1832 (aos 82 anos) em Weimar, então Grão-Ducado de Saxe- Weimar-Eisenach, Confederação Germânica. Foi um escritor, filósofo, cientista e estadista alemão. Foi maçom. Seus trabalhos incluem quatro romances, poesia épica e lírica, dramas em prosa e verso, memórias, uma autobiografia, crítica literária e estética e tratados sobre botânica, anatomia e cores.


2.    Biografia e suas Obras:


         Goethe era um poliglota. Falava latim, grego, francês, italiano, inglês e hebraico (Matussek, 2002). Recebeu aulas de dança, equitação e esgrima. Frequentava muito o teatro. Celebridade literária aos 25 anos, enobrecido em 1782 pelo duque de Saxe-Weimar, Karl August, Duke de Saxe-Weimar-Eisenach (1757-1828), após sucesso de seu romance  Die Leiden des jungen Werthers (O Sofrimento do Jovem Werther) – 1774. Participou, então, do movimento literário Sturm und Drang (Tempestade e Desejo). Durante seus primeiros dez anos em Weimar tornou-se membro do Conselho Privado do Duque, participou de comissões de guerra, supervisionou a abertura de minas de prata e implementou uma série de reformas administrativas na Universidade de Jena.

      Estudou direito na Universidade de Leipzig, de 1765 a 1768,desistindo em seguida. Na época apaixonou-se em 1766 por Anna Katharina Schönkopf (1746-1810), tendo-a enaltecida em seus versos. Escreveu a comédia Die Mitschuldigen (Os Cúmplices). Retornou a Frankfurt. Depois de uma grave enfermidade, Goethe deixou Frankfurt, em 1770, para terminar seus estudos na Universidade de Estrasburgo. Em Estrasburgo, Goethe estudou Shakespeare. Entre 1770 e 1771, Goethe apaixonou-se pela Friederike Elisabetha Brion (1752-1813), para quem fez vários poemas (Koopmann, 2014).

      No final de agosto de 1771, Goethe adquiriu o grau acadêmico deLicentia Doccendi em direito. Estabeleceu, então, em Frankfurt, uma pequena prática jurídica que não deu certo. Encerrou depois de alguns meses sua carreira como advogado. Dedicou-se, então, à literatura. Escreveu Götz von Berlichingen, história de um cavaleiro imperial alemão, mercenário e poeta (1480-1562). Em 1774, escreveu um livro que lhe traria fama mundial: Die Leiden des jungen Werther (O Sofrimento do Jovem Werther)

      Em 1775, Goethe foi convidado à corte de Karl August, duque de Saxe-Weimar-Eisenach. Goethe passou a viver em Weimar.

      Em 1776, Goethe estabeleceu um relacionamento com Charlotte Albertine Ernestine von Stein (1742-1827), da corte de Weimar e amiga íntima de Friedrich Schiller (1759-1805) - Safranski, 2009. Charlotte era uma mulher mais velha e casada. Este vínculo íntimo durou dez anos, quando Goethe partiu para Itália.

      Em 1779, Goethe assumiu a Comissão de Guerra do Grão-Ducado. Em 1782, Goethe assumiu o cargo de Chanceler do Tesouro do Ducado, uma espécie de primeiro-ministro. Goethe foi enobrecido em 1782, acrescentando “von” ao seu nome.


Fig. 1 – Goethe. Pintura feita em 1787, por Angelica Kaufmann (1741-1807, pintora suíça), quadro em exposição no Goethe-Nationalmuseum (Weimar).

      A viagem de Goethe à Itália e Sicília foi de 1786 a 1788. No final de 1788, Goethe visitou Veneza.O primeiro trabalho científico de Goethe, Pflanzenmetamorphos(Metamorfose das Plantas) foi publicado em 1788, após sua viagem à Itália. Tornou-se Diretor-Gerente do Teatro de Weimar (Himmelseher, 2010) e em 1794 iniciou uma grande amizade (Safranski, 2009) com o dramaturgo, poeta, historiador, físico e filósofo Friedrich Schiller (Johann Christoph Friedrich von Schiller, 1759 – 1805, poeta, filósofo, médico, historiador e dramaturgo alemão). Durante este período, Goethe publicou seu segundo romance: Die Lehre von Wilhelm Meister (Os Ensinamentos de Wilhelm Meister), o poema épico Hermann und Dorothea (Hermann e Doroteia) e, em 1808, a primeira parte de sua obra prima Faust (Fausto).


Fig. 2 – Goethe aos 79 anos. Pintura feita em 1828 por Joseph Karl Stieler (1781-1858), pintor alemão. Em exposição na Neue Pinakothek, museu de arte, em Munich.

      Na década de 1790, Goethe manteve várias conversas escritas com vários pensadores: Friedrich Schiller, Johann Gottlieb Fichte (filósofo idealista alemão, 1752-1814), Johann Gottfried von Herder (filósofo, teólogo e poeta iluminista alemão. 1744-1803), Alexander von Humboldt (polímata, geógrafo, naturalista, filósofo e cientista prussiano, 1769-1859), Wilhelm von Humboldt (filósofo, linguista e diplomata prussiano, 1767-1835, irmão de Alexander), August von Schlegel (poeta romântico, professor de sânscrito, tradutor de Shakespeare, 1767-1845), e Friedrich von Schlegel (poeta romântico, filósofo, filólogo, hinduísta, 1772-1829, irmão de August). A reunião destes escritos formou uma obra chamada de Weimarer Klassik (Classicismo de Weimar).

     Em 1806, Goethe estava vivendo em Weimar com sua amante Johanna Christiane Sophie Vulpus (1765-1816), com quem se casou posteriormente. Em outubro de 1806, o exército de Napoleão invadiu a cidade. Soldados franceses ocuparam a casa de Goethe (Damm, 2001). Beberam vinho e fizeram grande alvoroço. Depois, invadiram o quarto de Goethe. Christiane comandou a defesa da casa. Fez com os empregados, barricadas na cozinha e no porão contra os franceses. A firmeza de Christiane provocou a fuga dos franceses (Damm, 2001). Logo depois, Goethe se casou com Christiane (em 19 de outubro de 1806). O casal já tinha tido vários filhos, incluindo o mais famoso, Julius August Walter von Goethe (1789-1830). Chistiane faleceu em 1816.


Fig. 3 – “Chistiane com cachecol”, desenho a lápis feito em 1789 pelo próprio Goethe, ed. C.H. Beck, Munique, 1982.

      Em 1823, tendo se recuperado de uma cardiopatia quase fatal, Goethe se apaixonou pela baronesa Ulrike von Levetzow (1804-1899), de 19 anos, último amor de Goethe.

      Em 1832, aos 82 anos, Goethe faleceu em Weimar, de insuficiência cardíaca. Suas últimas palavras foram Mehr Licht ! (Mais Luz !). Está enterrado no Cemitério Histórico de Weimar, ao lado de Schiller (Koopmann, 2014).

Fig. 4 – Os caixões mortuários de Goethe e Schiller na cripta de Weimar.

 

3.    Goethe como maçom:


         Goethe foi iniciado em 1780 na Loja Amalia, em Weimar(Brachy, 2000). O nome completo da Loja é “Anna Amalia zu den drei Rosen” (Anna Amalia nas Três Rosas) que, em 2005, completou 250 anos. A Amalia “A” é usada pelos irmãos da loja como uma referência à fundadora, a duquesa Anna Amalia.- Anna Amalia von Braunschweig-Wolfenbüttel (1739-1807) – Fig. 5. A Loja trabalha no Rito Zinnendorf (Aguilar, 2020). Este é o rito mais praticado na Alemanha, na atualidade. É um rito cristão e trinitário, isto é, quem pratica este rito necessariamente deve ser cristão e acreditar na Santíssima Trindade. O rito teve muita influência do Rito Sueco. O Rito tem 7 graus. Foi criado por Johann Wilhelm Kellner von Zinnendorf, médico cirurgião do Exército Prussiano, nascido em Halle an der Saale, Estado da Saxonia-Anhall, em 1731 e falecido em Halle, em 1782. Criou, em 1770, a Grande Loja Nacional dos Maçons da Alemanha (Groβe Landsloge der Freimaurer von Deutschland) onde foi Grão-Mestre em 1776. O compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), maçom, trabalhava neste Rito. Sua ópera A Flauta Mágica (Die Zauber Flöte) bem apresenta este Rito, exceto, obviamente, dos segredos do rito.

Goethe foi maçom ativo até sua morte (Koopmann, 2014).

Goethe também foi atraído pelos Illuminati da Baviera, uma sociedade secreta fundada em 1776 (Schüttler, 1991).



Fig. 5 – Joia da Loja Anna Amalia zu drei Rosen – 1806.

Em sua obra maior “Fausto”, Goethe descreve como vender a alma (de Fausto) ao diabo pelo poder sobre o mundo físico. Fausto enaltece o materialismo. Considerado símbolo da modernidade, Fausto relata a tragédia de um homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio pelo seu poder, especialmente pela energia da paixão pela técnica e pelo progresso material. Fausto é entregue aos prazeres materiais e, finalmente, é levado para o inferno. Fausto diz: “A arte é longa e avida é curta” (Claudon, 2011).   


Fig. 6 – Goethe; no pescoço a Cruz do Comandante da Ordem Leopoldo Imperial-austríaca, no peito esquerdo a Cruz de Oficial da Legião de Honra Francesa, e no peito a direita a estrela da Grã-Cruz da Ordem de Vigilância dos Saxões-Weimar. Pintura feita em1822 por Heinrich Christoph Kobe (1771-1836), pintor alemão. Em exposição no Goethe-Nationalmuseum, Weimar, Alemanha.

 

Fig. 7 – O brasão de Goethe 1782.


Goethe era cristão e racionalista. Embora luterano na infância e adolescência, quando adulto nunca mais frequentou sua igreja (Simm, 2000). Segundo Goethe (Goethe, 2010), sua fé foi abalada pelo terremoto de Lisboa (1755) e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763, guerra entre França, Áustria, Suécia e Espanha contra Inglaterra, Portugal, Rússia e Prússia). Era, também, um panteísta e humanista (Matussek, 2002).

Dizia Goethe que “o mundo não é mal”. O escritor gaúcho Luís Fernando Verissimo (1936), usando os dizeres de Goethe, completou: “O mundo não é mal, mas é muito mal frequentado”.


Fig. 8 – “Goethe na campanha romana”. Pintura de 1787, feita por Johann Heinrich Wilhelm Tischbein (1751-1829), pintor alemão.

Há umas ideias paradoxais de Goethe sobre França. Goethe lutou contra França, teve sua casa invadida por soldados franceses e foi molestado por franceses. Entretanto, Goethe considerava França berço da cultura europeia e assim a respeitava. “Como eu poderia escrever canções de ódio aos franceses quando não sentia ódio? Entre nós, nunca odiei os franceses, embora tenha agradecido a Deus quando nos livramos deles. Como eu poderia, a quem as únicas coisas significativas são a civilização (die Kultur) e a barbárie (selvageria), odiar uma nação que está entre as mais civilizadas do mundo e à qual devo grande parte de minha própria cultura? De qualquer forma, este negócio de ódio entre nações é uma coisa muito curiosa. Você sempre o achará mais poderoso e bárbaro nos níveis mais baixos da civilização. Mas existe um nível em que desaparece completamente, e onde alguém se coloca, por assim dizer, acima das nações, e sente o bem-estar ou a angústia de um povo vizinho como se fosse o seu” (Beachy, 2000).

         Goethe teve um encontro com Napoleão, em 2 de outubro de 1808, em Erfurt, capital da Turíngia, Alemanha (Friedenthal, 2010; Friedenthal, 2005; Seibt, 2008). Napoleão Bonaparte (imperador francês, 1769-1821) falava muito mal o francês, segundo Goethe. O francês de Goethe era perfeito, formal, literário, enquanto o francês de Napoleão era com sotaque corso (idioma corso ou córsico, com similaridades ao italiano da Toscana) e seu linguajar era informal, grosseiro, rústico e inculto (conforme Goethe, 2010 e Broers, 2014; Seibt, 2008). Goethe e Napoleão discutiram política, os escritos de Voltaire e a obra de Goethe, que Napoleão disse que a lia, especialmente “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (Broers, 2014; Swales, 1987). Trocaram ideias, também, sobre Maçonaria (Seibt, 2008). Há controvérsias sobre se Napoleão foi maçom. Mas conhecia muito sobre Maçonaria e nomeou seu irmão sanguíneo José Napoleão Bonaparte (1768-1844 rei de Nápoles (1806-1808), rei da Espanha e das Índias (1808-1813) iniciado em Marselha em 1793 e designado Grão-Mestre do Grande Oriente de França (1804-1815). Napoleão não gostava do Rito Moderno (que então não era denominado assim) por ser de origem inglesa. Não gostava do Rito Escocês por ser de origem irlandesa e escocesa. E apoiava o Rito Adonhiramita por ser genuinamente francês. Goethe sabia disto (Goethe, 2010; Montez, 2005). Não se sabe, exatamente, quais as ideias trocadas entre Napoleão e Goethe sobre Maçonaria.



Fig. 9 – O encontro de Napoleão com Goethe. Fotogravura de uma pintura de Eugène Ernest Hillemacher (1818-1887), pintor francês.

Goethe saiu da reunião com Napoleão profundamente impressionado com o intelecto de Napoleão (Broers, 2014; Seibt, 2008). Disse Goethe sobre a reunião com Napoleão: “Nada mais alto e agradável poderia ter acontecido comigo em toda minha vida” (Ferber, 2008).

Goethe escreveu: “Napoleão é o homem! Sempre iluminado, sempre claro e decidido, e dotado de energia suficiente para executar o que ele considerava vantajoso e necessário. Sua vida foi o passo de um semideus, de batalha em batalha, e de vitória em vitória. Pode-se dizer que ele está num estado de iluminação contínua. Por esse motivo, seu destino é mais brilhante do que qualquer outro que o mundo tivesse visto antes dele, ou talvez jamais o verá” (Seibt, 2008).

 

4.    Considerações Finais:

                  Goethe foi o criador de muitas ideias que tiveram grande efeito no século XIX e até hoje. Escreveu vários livros sobre poesia, ensaios, críticas, trabalhos iniciais sobre evolução, linguística e filosofia. Era fascinado por mineralogia. Seus escritos de não ficção estimularam o desenvolvimento de muitos filósofos como Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831, filósofo alemão, importante figura do Idealismo Alemão – Deutscher Idealismus), Arthur Schopenhauer (1788-1880, filósofo alemão, desenvolveu a metafísica ateísta e o pessimismo filosófico), Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855, filósofo e teólogo dinamarquês, primeiro filósofo existencialista, desenvolveu a ética cristã), Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900, filósofo, compositor, poeta e filólogo alemão, crítico radical da verdade em favor do perspectivismo, procurou dar resposta estética à “morte de Deus”, desenvolveu o conceito de Superhomem – Übermensch), Ernst Alfred Cassirer (1874-1945) filósofo alemão, filosofia idealista da ciência, desenvolveu a teoria do simbolismo, muito importante para a Maçonaria), Carl Gustav Jung (1875-1961, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica), Johann Christoph Friedrich von Schiller (1759-1805, filósofo, poeta, médico, historiador e dramaturgo alemão) – Schings, 2011. Com Schiller, Goethe desenvolveu uma amizade muito produtiva. Discutiam, frequentemente, questões relativas à estética.

O drama “Fausto” é sua criação artística mais famosa. Germaine de Staël (Anne Louise Germaine de Staël-Holstein – 1766-1817, escritora e historiadora francesa pertencente ao romantismo) apresentou o classicismo e o romantismo alemão sendo Goethe um “clássico vivo”, um gênio alemão que uniu “tudo o que distingue a mente alemã” (Gillespie, Engel, 2008). Staël declarou que Goethe “é um herói cultural europeu”.

Na Inglaterra vitoriana, Goethe exerceu profunda influência sobre George Ellot (Mary Ann Evans, conhecida pelo seu pseudônimo George Eliot, foi uma romancista e poeta do período vitoriano – 1819-1880). Eliot apresentou Goethe como “eminentemente o homem que nos ajuda a alcançar elevado ponto de observação” e elogiou sua “grande tolerância”. Goethe foi o "Médico da Idade do Ferro" e "o pensador mais claro, maior e mais útil dos tempos modernos" com uma "visão ampla e liberal da vida". Afirmou também: “Goethe foi o maior homem de letras alemãs ..... e o último verdadeiro homem universal que caminhou sobre a terra” (Röder-Bolton, 1998).



Fig. 10 – Monumento aos poetas Goethe e Schiller, em Weimar (Safranski, 2009).

 

         Goethe tornou-se referência fundamental para Thomas Mann (Paul Thomas Mann, 1875-1955, romancista, ensaísta e filantropo alemão, laureado com Prêmio Nobel de 1929. Fugiu do nazismo refugiando-se na Suíça, EUA e depois, novamente, Suíça onde faleceu. Mann é um dos expoentes do Die Exilliteratur, ou a literatura alemã escrita no exílio).

         O drama de Fausto é muito atual. Hoje, de maneira geral, o homem “se vendeu ao demônio”: quer ter posses, é materialista e consumista. Trocou seu comportamento e seu pensar visando posses materiais. Trocou cultivar virtudes por ter poder e ter posses. Acredita ter mais valor o “ter” do que o “ser”. E o fim é o “inferno”. Como Fausto. Muito interessante Goethe ter previsto este mundo atual a mais de 200 anos. Hoje, quase todos são Fausto: quer ter, quer aparecer, quer ter poder.

         O Goetheanum, localizado em Dornach, cantão de Solothum, Suíça, é um centro mundial do movimento antroposófico, denominado em homenagem a Goethe. Antroposofia é uma doutrina mística formulada pelo pensador Rudolf Steiner (Rudolf Joseph Lorenz Steiner, 1861-1925, filósofo, arquiteto, economista e esoterista austríaco). O edifício Goetheanum projetado por Steiner, inclui 2 teatros de 1500 lugares cada, galeria, biblioteca e espaços administrativos da Sociedade Antroposófica. Neste teatro são realizadas apresentações festivas de Fausto.

         Goethe-Institut (Instituto Goethe) é a instituição cultural da República Federal da Alemanha, fundada em 1951 e seu centro está localizado em Munich, Bavaria. Promove o estudo do alemão em todo mundo e conhecimento cultural, da sociedade e da política da Alemanha. Trata-se de uma associação cultural sem fins lucrativos, autônoma e politicamente independente. Opera em todo mundo, com 159 institutos, promovendo o estudo do idioma alemão e incentivando o intercâmbio e as relações culturais internacionais. No Brasil há Institutos Goethe em Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

A UNESCO declarou um Memorando Goethe patrimônio literário mundial.

A Universidade de Goethe (Johann Wolfgang Goethe Universität Frankfurt am Main) é uma universidade fundada em 1914, como universidade de cidadãos, isto é, fundada e financiada por cidadãos de Frankfurt. Atualmente possui cerca de 45.000 alunos distribuídos em 4 campi. Oferece bolsas especiais para brasileiros. A Universidade possui 20 vencedores de prêmios Nobel entre seus docentes.

         Para terminar, uma das frases de Goethe “Somos todos responsáveis pela ausência de valores”. Esta ideia foi muito explorada por Albert Camus (1913-1960, filósofo, escritor e jornalista francês, premiado com Nobel em Literatura, em 1957). Ausência de valores lembra Fausto.

         Goethe foi o mais importante escritor em idioma alemão. Suas ideias, sua vida maçônica, são exemplos importantes de moralidade, austeridade, humildade e sapiência. Repito uma das frases mais importantes e atuais de Goethe: “somos todos responsáveis pela ausência de valores”.

 

BIBLIOGRAFIA:

61 obras de Goethe (eBook), em diversos idiomas, podem ser lidas em

http://www.gutenberg.org/ebooks/author/586 Acessado em 29.dez.2019.

Todas as obras de Goethe, em alemão, podem ser lidas em Projekt Gutenberg – DE, s/d

https://www.projekt-gutenberg.org/autoren/namen/goethe.html Acessado em 25.jan.2020.

- Aguilar, R. “El Rito Zinnendorf o Rito de Reuchell”. Retales de Masoneria 10 (103): pp: 37-41, 2020.

- Beachy, R. “Recasting Cosmopolitanism: German Freemasonry an Regional Identity in the Early Nineteenth Century”. Eighteenth-Century Studies, 33 (2), pp: 266-274, 2000. Também em:

 https://muse.jhu.edu/article/10887

 ou https://www.jstor.org/stable/30053687?seq=1 Acessado em 29.dez.2019.

- Broers, M. “Europe Under Napoleon”. London: I.B. Tauris, 2014.

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- Eckermann, J.P. “Gespräche mit Goethe“. (Conversa com Goethe).

Herausgegeben von Christoph Michel unter Mitwirkung von Hans Grüters.  (Publicado por Christoph Michel com a colaboração de Hans Grüters). Frankfurt am Main: Deutscher Klassiker Verlag, 2011.

- Ferber, M. “A Companion to European Romantism”. Hoboken, N.J.: John Wiley & Sons, 2008.

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         e seu tempo). 15ª edição. Munchen: Piper, 2005.

- Gemünden, G. “Framed Visions: Popular Culture, Americanization and

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- Goethe, J. W. “Fausto I: Uma tragédia (primeira parte)”. Apresentação,

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- Goethe, J.W. “Fausto”. (partes I e II). São Paulo: Martin Claret, 2004.

- Goethe, J.W. “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. São Paulo: Martin Editora, 2007.

- Goethe, J.W. “Autobiography: Truth and Fiction Relating to My Life”.Aus meinem Leben: Dichtung und Wahrheit – Da minha vida: poesia e verdade), Project Gutenberg, 2010a.

http://www.gutenberg.org/ebooks/573  também: https://archive.org/details/autobiographyofg00goet/page/n4

QUAL FOI O MOMENTO MAIS FELIZ DE SUA VIDA ?



 - Quando o bilionário nigeriano Femi Otedola, em uma entrevista por telefone, foi questionado pelo apresentador de rádio: "Senhor, o que você se lembra que o tornou o homem mais feliz da vida?"

Femi disse: - 

“Passei por quatro estágios de felicidade na vida e finalmente entendi o significado da verdadeira felicidade.

“A primeira etapa foi acumular riquezas e meios. Mas nesta fase não consegui a felicidade que queria.

“Em seguida, veio a segunda etapa de coleta de objetos de valores. Mas percebi que o efeito dessa coisa também é temporário e o brilho das coisas valiosas não dura muito.

“Então veio a terceira fase de obtenção de grandes projetos. Foi quando eu tinha 95% do fornecimento de diesel na Nigéria e na África. Também fui o maior proprietário de navios da África e da Ásia. Mas mesmo aqui não obtive a felicidade que tinha imaginado.

“A quarta etapa foi quando um amigo meu me pediu para comprar cadeiras de rodas para algumas crianças com deficiência. Quase 200 crianças.

“A pedido do amigo, comprei imediatamente as cadeiras de rodas.

“Mas o amigo insistiu que eu fosse com ele e entregasse as cadeiras de rodas às crianças. Eu me preparei e fui com ele.

“Lá eu dei essas cadeiras de rodas para essas crianças com minhas próprias mãos. Eu vi o estranho brilho de felicidade nos rostos dessas crianças. Eu os vi todos sentados nas cadeiras de rodas, se movendo e se divertindo.

“Era como se eles tivessem chegado a um local de piquenique onde estão compartilhando um prêmio acumulado.

“Eu senti uma alegria REAL dentro de mim. Quando decidi ir embora, uma das crianças agarrou minhas pernas. Tentei libertar minhas pernas suavemente, mas a criança olhou para meu rosto e segurou minhas pernas com força.

“Abaixei-me e perguntei à criança: Precisa de mais alguma coisa?

“A resposta que essa criança me deu não só me deixou feliz, mas também mudou completamente minha atitude em relação à vida. Esta criança disse:

‘Quero me lembrar do seu rosto para que, quando me encontrar com você no céu, eu possa reconhecê-lo e agradecê-lo mais uma vez.’ "

"Esse foi o momento mais feliz da minha vida. "

*Pelo que você seria lembrado depois de deixar o local que você está agora?*