novembro 22, 2021

O QUE É A CHARITAS MAÇÔNICA? - Sérgio Quirino



O ir. Sérgio Quirino é um notável erudito da maçonaria e é o atual Grão-Mestre da GLMMG 2021/2024


Na tradução literal charitas é a caridade. Nesta versão direta perdemos parte da essência do vocábulo e o limitamos a “doações”, “esmolas”, “beneficência”, “favor” e tudo mais que envolva algo de material.

Naturalmente, não há nada de errado neste sentido semântico. Nossas instruções destacam a Fé a Esperança e a Caridade como as três virtudes teologais. Desta forma, nada mais natural para nós Maçons do que, com base na virtude da caridade, suprir os menos afortunados que nos cercam com os bens materiais que lhe faltam. Porém, não abrange a totalidade da Charitas Maçônica.

Lembremos que a caridade no sentido material não passa do cumprimento elementar de um dever maçônico. Afinal, toda a oportunidade que perdemos de ser úteis, e qualquer socorro negado nos tornam perjúrios.

A ética nos ensina que não devemos gozar os prazeres da vida sem regramentos. A ausência da justa medida nos prazeres materiais chega às raias de uma ofensa àqueles que tem poucos recursos. E, no caso dos realmente iniciados, emerge uma tremenda angústia quando se veem impossibilitados de socorrer os carentes.

Portanto, a caridade maçônica como doação se estende para além do material, pois não se alimenta o espirito com o pão.

O termo latino charitas expressa dois substantivos: Caridade e AMOR. Das três virtudes teologais descritas no Livro da Lei consta que a maior é a Caridade. Porém, em algumas edições desta passagem, a palavra caridade é substituída por “amor” ou ela aparece entre parênteses: caridade (amor).

Se compreendermos a “Charitas Maçônica” como “Amor Maçônico”, estaremos, aí sim, inserindo em nossos labores as verdadeiras ações de “benevolência”, “misericórdia”, “piedade” e “tolerância”.

A DÁDIVA É UM ATO ESPONTANEO

DE DAR ALGO MATERIAL OU NÃO, A ALGUÉM.

SER MAÇOM É UMA DÁDIVA

SER MAÇOM É A DÁDIVA DE SI MESMO

Muitas vezes, a caridade é representada como uma mão estendida. Observe que ela ou está vazia ou segurando outra mão. A maior doação é se doar. O maior amor é amar.

A matéria precisa de pão, mas ela é apenas o veículo do espírito. Precisamos alimentar também aqueles que estão desamparados espiritualmente. Um sorriso, “emprestar os ouvidos”, abraçar um corpo senil, acalentar um doente, cantar para alguém, dançar, contar estórias, são provas de amor, são, portanto, a pura caridade.

A CARIDADE MAÇÔNICA NÃO É DOAR ALGO, MAS SE DOAR.

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, um legítimo Construtor Social.



novembro 21, 2021

OS QUATRO ELEMENTOS - José Castellani




Os quatro elementos conhecidos na Antiguidade eram: o ar, o fogo, a água e a terra.

Em todas as teorias cosmogônicas do mundo antigo, existe a ideia de um elemento primordial, do qual derivariam todos os demais elementos.

O mais antigo conceito relativo a essa ideia é aquele associado aos trabalhos do sábio grego Thales, de Mileto, que considerava a água como elemento fundamental.

Na Grécia mesmo, todavia, muitos filósofos defenderam idéias diferentes. Anaxímenes afirmava que o elemento primordial era o ar, já que ele podia ser condensado, formando nuvens e chuvas, cujas águas, evaporando, formavam, novamente, o ar, deixando um resíduo sólido de terra.

Heráclito, com base no mitraísmo persa, que via a manifestação do poder divino no fogo, defendia a teoria desse elemento, afirmando que tudo, no mundo, está em constante transformação e que o elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o fogo.

Feresides escolheu, como fundamental, o elemento terra, pois, afirmava ele, ao se queimar um corpo sólido, obtém-se água e ar.

Aristóteles, finalmente, defendendo uma concepção de Empédocles, afirmava que esses quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram formados por combinações deles.

Todavia, assim como os antigos discípulos de Zoroastro, ou Zaratustra, na antiga Pérsia, os hermetistas, os alquimistas e os Rosa-cruzes consideravam o fogo como o símbolo da divindade, já que, esotericamente, ele é o único elemento cósmico, daí as denominações de fogo fluídico (o ar), fogo líquido (a água), fogo sólido (a terra), e fogo sideral (o próprio fogo), dadas aos quatro elementos.

A Cabala hebraica aplica a expressão fogo branco ao Infinito Incognoscível de Deus (o Ein Soph) e a expressão fogo negro à sabedoria e à luz absoluta (a cor negra é o resultado da absorção de toda a luz).

Os antigos rosa-cruzes possuíam uma cerimônia chamada fogo novo, que era celebrada no sábado de aleluia, em homenagem à ressurreição de Jesus.

Tudo o que existe é filho do fogo e é através dele que tudo se renova; daí a máxima hermética Igne Natura Renovatur Integra (o fogo renova toda a Natureza), cujas iniciais, *I.N.R.I.*, já foram usadas com diferentes sentidos, inclusive pelo cristianismo.

As ideias de Aristóteles, básicas para a alquimia e úteis na astrologia, eram ensinadas nas escolas de pensadores de Alexandria, no Egito.

Nela, se deu a fusão entre as práticas egípcias e as teorias gregas, mais tarde desenvolvidas pelos Árabes.

Estes, ao conquistar, em 642 a.C., o Egito, trouxeram, para o Ocidente, a nova contribuição à cultura da época.



MAÇONARIA DE PAU - Louis Block


(Palavras do Gr.'. Mestre, Pod.'. Ir.'. Louis Block, de Yowa, sobre o que ele chama “maçonaria de pau”:) 

“Muitos maçons que aprendem a recitar o ritual de maneira automática, não sabem que através de suas místicas palavras há ocultos pensamentos e significados que bem merecem ser descobertos”.

Semelhantes maçons estão aptos para viver mecanicamente balbuciando frases ritualísticas, como alguns devotos insípidos cantam as rezas em latim, cujo real significado pouco, ou nada, conhecem. 

Uma coisa é estar apto para desempenhar e recitar um ritual e outra é saber que o ritual tem um significado; e conhecer qual é esse significado, aplicando-o á sabedoria, força e beleza, em nossa vida diária.

A Maçonaria não serve para cega e estúpida devoção, consagrada a ela por homens de pau, que não sabem por que a servem; o que ela ama é a inteligente lealdade de homens que pensam e que têm uma razão para a sua fé.

Ela ocultou as suas lições em frases místicas, não com o propósito de que aprendamos um número de palavras de estranhos sons, que sempre permanecerão para nós vazios e desprovidos de significado, mas com o fim de nos fazer pensar.

Muitos recitam o ritual como se contivesse algum mágico encanto e, para esses, o simples fato de que não podem entender o que ele diz, parece dar a suas frases misteriosas um poder milagroso.

Estes homens podem constituir boas máquinas, porém nunca serão maçons.

O Maçom que não consagra tempo para estudar e pensar, que nunca examina nem reflexiona, que só decora que não penetra no significado aparente da palavra para buscar o pensamento real que se acha oculto no mais intimo desta, será sempre maçom, mas no nome, somente.

Bom dia meus irmãos.


Traduzido do Boletim do Grande Oriente do Uruguay, de novembro de 1913

novembro 20, 2021

CONSCIÊNCIA , COR E DATA - Newton Agrella





Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante, um dos mais renomados intelectuais da maçonaria.

Do ponto de vista essencialmente  filosófico temos a liberdade de entender que a "Consciência"  é a percepção que temos daquilo que se passa, dentro ou fora de nós.

Trata-se do acúmulo de experiências produzidas e resultantes de nossos próprios pensamentos, sentimentos e atos.

Consciência não tem cor, não guarda vestígios, não levanta bandeiras e tampouco se constitui num bem alienável.

A Consciência é um atributo do espírito e do pensamento humano que se manifesta na própria relação interior que cada um de nós exercita ao longo da vida.

Reconhecer qualidades, valor e igualdade entre as pessoas, não é Consciência, senão um puro exercício de civilidade.

O que se percebe no entanto, é uma insistente ideia de se politizar a consciência, conferindo-lhe caráter histórico, social e até midiático, como se fosse um instrumento transformador do comportamento humano.

O resgate da memória das vicissitudes, do sofrimento, das humilhações e de todo e qualquer outro percalço, que o ser humano submete ou a que é submetido, não é um agente para que se promova uma releitura da história.

A legitimidade reside em reconhecer os erros e não repeti-los.

Quando um país precisa instituir um dia para chamar a atenção de um contingente significativo de sua população, e que portanto não pode ser chamado de minoria, é porque tem transitado há muito tempo, pelos caminhos mais tortuosos e sórdidos de sua história.

Respeito e Dignidade, Direitos e Obrigações fazem parte de um acervo ético e moral.


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CALENDÁRIO CABALISTA LUNISSOLAR



Os astros seguem, imperturbáveis, em seus movimentos, e o ser humano procura formas de registrar em números, a passagem do tempo. Essa é a função dos calendários.

O primeiro calendário que se tem notícia foi o dos sumérios, há cerca de 5000 anos, e era baseado no espaço de tempo decorrido entre duas luas novas (29 dias, 12 horas e 44 minutos). Assim também é o calendário hebraico, onde cada mês se inicia na lua nova.

Reza a tradição que esse foi o calendário adotado quando o Criador mostrou a Moisés a lua nova de Nissan (Áries), duas semanas antes da saída do Egito, que ocorreu na lua cheia.

Atualmente, esse calendário é do tipo lunissolar, no qual os meses seguem as fases da lua, mas também leva-se em conta as estações. Por isso os meses são de 29 e 30 dias (nem mais nem menos), alternadamente. Um ano hebraico possui 354 dias, contra 365 do calendário gregoriano, ou solar. Isso dá uma diferença de 11 dias entre os dois.

Para a correção desses 11 dias, em relação às estações do ano, acrescenta-se um mês adicional de Adar a cada 3 anos (33 dias). Em alguns anos é necessário subtrair um dia do mês de Kislev (que normalmente tem 30 dias), ou acrescentar um dia ao mês de Chesvan (que normalmente tem 29 dias).

Assim, a cada lua nova temos um novo mês, sempre na mesma estação do ano.

O TÚMULO DO REI HIRAM DE TIRO - Ir.: Luciano Rodrigues.



O túmulo do Rei Hiram está localizado a alguns minutos de carro, a sudeste de Tiro na aldeia de Hanaway. É um sarcófago colossal de calcário, construído sobre um alto pedestal, ao norte da fronteira com Israel. Este túmulo pode ser encontrado e visto no Google Maps com uma placa turística marrom na estrada próxima.

Rei Hiram de Tiro é um personagem significativo na Maçonaria. Ele é introduzido na Maçonaria como um amigo e aliado do rei Salomão que assiste este último na construção da famosa Casa de Deus em Jerusalém, o Templo de Salomão. O que não é tão conhecido é que ele também era um aliado do Rei Davi, pai de Salomão, e ajudaram-no a construção de seu palácio em Jerusalém. Tiro é um antigo porto fenício e está localizado no que hoje é conhecido como o Líbano e atualmente é conhecido como Sur. Foi do Líbano que veio o famoso cedro encontrado tanto no palácio de David quanto no Templo do Rei Salomão. Além de suprimentos, o rei Hiram era conhecido por artesãos que fornecia, lenhadores, carpinteiros, pedreiros e outros trabalhadores para ajudar na construção de vários edifícios famosos, assim Tiro era um centro bem conhecido por arquitetos e artífices.

Rei Hiram era um rei fenício que reinou de cerca de 980-947 A.C. (embora esta data pode ter uma variação de 10 anos). Dizem que ele viveu até os 53 anos de idade, mas reinou apenas 34 deles, após suceder seu pai Abibaal. Existe uma confusão do texto bíblico com os prazos que não combinam muito bem com Salomão e David lidar com um “rei Hiram” durante um tempo de cerca de 54 anos.

Rei Hiram na Bíblia

Hiram era politicamente oportuno, quando viu o poder dado por Deus a David, por sua própria sobrevivência, Hiram sabia que era melhor tornar-se um aliado de Davi, em vez de um inimigo, embora pareça que a sua amizade pessoal era genuína.

“E Davi se tornou maior e maior, pois o Senhor, o Deus dos exércitos, estava com ele. E Hiram, rei de Tiro, enviou mensageiros a Davi, e madeira de cedro, também carpinteiros e pedreiros que construíram David uma casa.” (2 Samuel 5: 10-11)

Depois que David morreu, Hiram continuou a amizade com Salomão, fornecendo materiais e operários qualificados para a construção do Templo:

“Agora Hiram, rei de Tiro, enviou os seus servos a Salomão, quando ouviu que o haviam ungido rei em lugar de seu pai; Para Hiram sempre amei David”

“E Salomão mandou dizer a Hiram: Você sabe que Davi, meu pai, não pôde edificar uma casa ao nome do Senhor seu Deus, por causa da guerra com seus inimigos que o cercaram, até que o Senhor colocá-los sob as solas dos seus pés. Mas agora o Senhor meu Deus me tem dado descanso de todos os lados; não há nem adversário, nem infelicidade. E propósito para que eu construir uma casa para o nome do Senhor meu Deus, como o Senhor disse a Davi, meu pai: Teu filho, que porei sobre o teu trono em seu lugar, esse edificará a casa ao meu nome. Agora, pois, manda que cedros do Líbano ser cortado para mim; e os meus servos irá juntar-se aos teus servos, e eu vou pagar por seus servos tais salários que você definir; para você saber que não há ninguém entre nós que saiba cortar madeira como os sidônios.”

“Quando Hiram ouviu as palavras de Salomão, muito se alegrou, e disse: Bendito seja o Senhor neste dia, que deu a Davi um filho sábio sobre este tão grande povo.“

“E Hiram enviou a Salomão, dizendo: Eu ouvi a mensagem que enviou para mim; Estou pronto para fazer tudo o que desejar em matéria de cedro e de madeira cipreste. Meus servos trazê-lo para baixo para o mar a partir do Líbano; e eu vou fazê-lo em balsas para ir pelo mar até o lugar que você dirigir, e eu vou tê-los quebrado lá em cima, e você deve recebê-la; e você deve satisfazer meus desejos, fornecendo alimento para minha casa “.

“Então, Hiram forneceu a Salomão com toda a madeira de cedro e cipreste que ele desejar, enquanto que Salomão deu Hiram vinte mil coros de trigo, para sustento da sua casa, e vinte mil coros de azeite batido. Solomão deu isso a Hiram ano a ano. E o Senhor deu a Salomão sabedoria, como lhe tinha prometido; e houve paz entre Hiram e Salomão, e os dois fizeram um tratado”.


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novembro 19, 2021

TODO DIA É TEU DIA BANDEIRA - Adilson Zotovici

 


Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif  169 de S. Caetano do Sul é intelectual e um dos mais talentosos poetas da maçonaria brasileira.

Não será só neste dia 

Desta data costumeira 

Toda honra e cortesia  

A ti amada Bandeira 


Tu que trazes alegria 

Desfraldada, alvissareira, 

Aprazes com simbologia, 

Em tuas cores, altaneira


Tens até na geometria  

Diversidade verdadeira 

Estrelada, que inebria, 

Com tua frase sobranceira 


Teus súditos com eutimia 

Seguir-te-ão... vanguardeira 

Com fidelidade à porfia 

Na imensidão sem fronteira 


Tua história te credencia 

Da Liberdade herdeira 

Teu povo impõe soberania 

Na oratória ou na trincheira 


Festiva a paragem ou sombria  

Hasteada ou não... mensageira 

Que tua imagem propicia 

A emoção derradeira 


Grande Arquiteto te Guia 

Por ti morrerão se ELE queira 

Os obreiros da maçonaria 

Oh Pendão, Flâmula Brasileira !


A BANDEIRA BRASILEIRA - Evangelista Mota Nascimento


Evangelista Mota Nascimento, 33º I:. escritor, professor e membro regular das Lojas Simbólicas: Visconde de Vieira da Silva, nº 14 - Oriente de Barra do Corde, Maranhão e Heitor Correi de Melo, nº 19 - Oriente de Açailândia, Maranhão.

A frase “ORDEM E PROGRESSO” foi escrita em novembro de 1889, por Raimundo Teixeira Mendes, escritor, filósofo, maranhense de Caxias, que, repassou para os governantes da época o modelo da bandeira brasileira, prontamente adotado e elogiado. 

A cidade maranhense de Caxias é provavelmente a única a estar presente simultaneamente na história dos dois maiores símbolos da nossa Nação -- a Bandeira e o Hino. 

A Bandeira é uma criação do filósofo e matemático caxiense Raimundo Teixeira Mendes (1855 -1927). Seu dia, 19 de novembro, é a data em que, em 1889, quatro dias após a Proclamação da República, Teixeira Mendes entregou ao marechal Deodoro da Fonseca o desenho que o maranhense voluntariamente criou. Durante quatro dias, de 15 a 19 de novembro, a Bandeira brasileira era uma “cópia servil” da bandeira dos Estados Unidos pintada de verde e amarelo (no lugar do vermelho e branco americanos).

Na Bandeira brasileira, até a frase “Ordem e Progresso”, extraída por Teixeira Mendes da obra do filósofo francês Auguste Comte, pode ser creditada ao poeta caxiense Gonçalves Dias, que a escreveu e a descreveu em sua obra “Meditação”, de 1846, enquanto o livro “Système de Politique Positive”, de Comte, é de 1852. Trato extensamente desse assunto em meu texto “’Ordem e Progresso’ -- Um Lema Caxiense?”.

Se o Maranhão e Caxias estão presentes na Bandeira do Brasil, com o desenho e, quiçá, com o lema, também é dupla a participação maranhense-caxiense no Hino Nacional: os trechos de versos da “Canção do Exílio”, do caxiense Gonçalves Dias, na letra do Hino (“nossos bosques têm mais vida” e “nossa vida [em teu seio] mais amores”) e a proposição legal de o Hino Brasileiro ter uma letra (pois antes era só melodia).

A proposição foi do escritor caxiense Coelho Netto, quando deputado federal, no Rio de Janeiro (antiga capital da república). Coelho Netto, que era deputado federal e desde 1906 defendia uma letra para o Hino brasileiro, apresentou duas emendas sobre o assunto, em 1909 e 1910, que foram rejeitadas, mas, em 1922, no centenário da Independência, o Congresso Nacional, por pressão do presidente Epitácio Pessoa, finalmente aprovou uma letra para o Hino, de autoria de Osório Duque-Estrada. Coelho Netto escreveu, em 1909: “ - Esse hino tem sido companheiro das nossas glórias e vicissitudes e precisa ser cantado por todos os filhos deste grande país. É um hino que canta, mas não fala. É preciso que fale, que saiba traduzir a beleza das nossas mulheres, a pureza do nosso céu, o ruído das nossas cascatas e a impetuosidade do nosso amor”.

***

Nos mais diversos lugares e localidades deste País, seja em um submarino brasileiro no fundo do mar, seja no Pico da Neblina, no mais rarefeito ar, está tremulando especialmente a Bandeira do Brasil -- criação de um caxiense, Raimundo Teixeira Mendes.

Desde 19 de novembro de 1889, após a proclamação da República, a bandeira que estamos vendo agora é a mesma que vem presidindo e testemunhando, do mais alto ponto, o correr dos acontecimentos em nosso território.

Cada símbolo nacional tem a sua função, o seu valor. Mas nem o selo, nem o sinete, nem mesmo o brasão das armas nacionais têm estado tão presente nos olhos e na alma do povo brasileiro quanto a sua bandeira.

A bandeira é o hino em tecido: basta vê-la nos grandes momentos para sentirmos aquela mesma comoção sadia, a mesma emoção positiva de orgulho cívico, de cidadania gloriosa.

É assim ao vibrarmos com o esportista vitorioso que empunha, mesmo sem mastro, o quadrilátero verde-amarelo.

É assim ao nos comovermos com a bandeira enorme sob a qual desfilam anônimas pessoas do povo nas passeatas.

É assim quando a vemos empunhada por braços firmes e passadas fortes dos estudantes e dos soldados nos desfiles de 7 de setembro.

A Bandeira Brasileira não deve ser um objeto com datas certas para acontecer, aparecer. Ela deve estar mais presente no dia-a-dia. Na Capital do País, Brasília, pessoas da iniciativa privada mantêm um movimento cívico para ter-se e manter-se a Bandeira Brasileira frente aos prédios de suas empresas. Não se trata de ufanismo piegas, mas de orgulho de ser cidadão e de pertencer a esta Nação.

A Bandeira é isso: aquela que se eleva no simbolismo da luta; aquela que se declina no momento de luto.

Seja no calor da batalha ou na frieza da mortalha, a bandeira, a meio mastro ou no alto, ensina que não nos devemos baixar, derrotados ou derrotistas. Devemos, sim, abrir os olhos e firmar a visão, num gesto de determinação e de superação que “aos fortes e aos bravos só pode exaltar”.

E pelo pouco tempo de existência de nosso País, ter conseguido o destaque que nós temos no concerto das nações significa que esta também é uma terra de bravos.

Viva a bandeira brasileira! Tenha-a sempre à mão. Agite-a: ela espanta os insetos da anticidadania. Use-a: ela é um tônico contra a falta -- ou a fraqueza -- de civismo.

Que a mensagem de “ORDEM E PROGRESSO” de nossa Bandeira continue a balizar o caminho pelo qual todos nós, governantes e governados, empregadores e empregados, devemos trilhar. Que a ordem, aqui, signifique não só disciplina e disposição, mas também boa administração das coisas e das causas públicas. E que o progresso seja, por sua vez, sinônimo de justiça social.

Que as cores da bandeira adquira outros tons. Que o verde, além do simbolismo das matas, seja o da esperança realizadora daqueles que não se acomodam.

Que o amarelo não represente apenas a fartura do nosso ouro, mas a riqueza da cultura do nosso povo.

Que o azul não se limite ao limite das nossas vistas, que é o céu; mas se amplie por uma visão além dele, que é o espírito.

E o branco, que este não simbolize apenas a paz que é a ausência de guerra, mas a paz de consciência ante as muitas guerras que temos de vencer para reabilitar a maior parte do nosso povo e fortalecer, assim, a própria cidadania, a própria nacionalidade, o próprio País.

Em fim. Raimundo Teixeira Mendes nasceu na cidade de Caxias, Maranhão no dia 5 de janeiro de 1855. Filho de Raimundo Teixeira Mendes e Ernestina Torres de Carvalho. Foi para o Rio de Janeiro estudar num colégio de jesuítas e depois no Pedro II, onde passou a se interessar por matemática e filosofia positivista. Defensor das ideias republicanas ingressou na Escola Central, depois Escola Nacional de Engenharia, mas interrompeu os estudos devido a uma divergência com seu diretor, o visconde do Rio Branco, e concluiu o curso em Paris.

Foi divulgador das teorias de Augusto Comte no Brasil, na capital francesa fundou o primeiro templo da Religião da Humanidade, na casa em que morreu Clotilde de Vaux, companheira de Comte. De volta ao Rio de Janeiro, onde se radicou definitivamente estudou medicina, mas não concluiu o curso. 

De 1890 a 1908, publicou vários livros, entre eles A propósito da liberdade dos cultos, a política positivista, regulamento das escolas do exército, a comemoração cívica de Benjamin Constant, a liberdade religiosa, a liberdade espiritual, a organização do trabalho, a diplomacia e a regeneração social.

Baseada nos princípios propostos do filósofo francês Augusto Comte, Teixeira Mendes influenciou os eventos sociais da Igreja Positivista do Brasil, sediada no Rio de Janeiro, que tinha como diretor Miguel Lemos de quem Teixeira Mendes tornou-se seu vice-diretor.

Em 1888 a abolição da escravatura veio coroar de êxito parcial seus esforços, juntamente com diversos outros líderes e agitadores abolicionistas. Todavia, sua importância tornou-se realmente grande.

No amanhecer do dia 15 de novembro de 1889, Benjamin Constant Botelho de Magalhães destituiu o Gabinete do Visconde de Ouro Preto e proclamou a República. Imediatamente após a proclamação, Miguel Lemos e Teixeira Mendes se reuniram com Benjamin Constant para avaliar a situação e apoiar ou não o novo regime. No dia 19 de novembro, quatro dias após a proclamação, Raimundo Teixeira Mendes apresentou ao governo provisório, por meio do Ministro da Agricultura, o também positivista Demétrio Ribeiro, um projeto de bandeira nacional republicana, em substituição ao projeto anterior, o qual atualizou a bandeira imperial, mantendo o verde e o amarelo - indicando com isso a permanência da sociedade brasileira - e substituindo o brasão imperial pela esfera armilar com uma idealização do céu do dia 15 de novembro e o dístico “Ordem e Progresso” (da autoria de Augusto Comte) - indicando a evolução para um regime político aperfeiçoado e o espírito que deveria animar esse novo regime. O projeto foi prontamente aceito.

A cor verde, amarela e azul, assim como o posicionamento da faixa “Ordem e Progresso” e das estrelas, foi uma orientação de Miguel Lemos e Manuel Pereira Reis, as quais ficaram conhecidas como “Apreciação Filosófica” de Teixeira Mendes nos mais importantes eventos políticos da nova república, assim como: a separação entre a Igreja e o Estado, a revolta da vacina, a negociação dos limites territoriais projetado por Barão do Rio Branco, a participação do Brasil na 1ª Guerra Mundial, a legislação trabalhista, o respeito às mulheres, a proteção dos animais e inúmeros outros assunto de interesse nacional.

No parágrafo primeiro do Art. 13 da Constituição de 1988, define como símbolos da República Federativa do Brasil, a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. Sem dúvida, os símbolos só podem ser os do Decreto 5.700, de 1971. No parágrafo segundo do mesmo artigo, estabelece que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

Concluem-se então estes fragmentos biográficos do maranhense natural de Caixa, Raimundo Teixeira Mendes, faleceu em sua residência situada na Rua Benjamin Constant, cidade do Rio de Janeiro, em 28 de junho de 1927. O cortejo fúnebre saiu para o Templo da Humanidade, na Glória, e de lá para o Cemitério São João Batista, onde foi sepultado, em 30 de junho do ano de 1927, onde pessoas da sua família leu o versículo 19 do capítulo 26 do livro do profeta Isaías: “Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos”.

Por estas e outas contribuições no campo literário e cultural o seu nome foi indicado e aprovado, Patrono da Cadeira nº 7, da Academia Açailandense de Letras.

Açailândia, Maranhão, 19 de novembro de 2021.

novembro 18, 2021

*QUAL O REAL OBJETIVO DA MAÇONARIA? - Ir. Denilson Forato, M.I.



A Maçonaria tem três objetivos essenciais: a instrução moral, física e intelectual; a moral abrange a espiritualidade; a física o conhecimento e a intelectual a mística. Os ensinamentos maçônicos buscam sempre nos lembrar os três deveres fundamentais do ser humano, ou seja, os deveres para conosco, com a humanidade e para com Deus. Para com Deus reconhecendo sua presença em tudo e sua fabulosa obra, o universo.

Para com a humanidade, consistindo em nossas famílias, a pátria e o universo, tendo como tarefa levar o conhecimento, a solidariedade, enfim, os nossos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Para conosco consistindo em nosso aperfeiçoamento, o desbastar da pedra bruta, a busca do equilíbrio entre a mente e o corpo. Sendo esta a tarefa mais difícil de todas, a de olhar para dentro de nós mesmos, reconhecendo nossos defeitos, nossas limitações e ainda em certos momentos encontrar em nós sentimentos e atitudes as quais combatemos por princípio. Termos em certos momentos a consciência de nossa ignorância.

Todas as vezes que nos vemos irritados, insatisfeitos, atribuindo nosso insucesso a causas externas, como: pessoas, trabalho, dificuldade financeira, devemos neste momento olhar para dentro de nós mesmos, pois o bem estar, a felicidade, o equilíbrio como queira se chamar está dentro de nós, pois o mundo não muda, mas a nossa visão do mundo sim, esta pode ser modificada e só depende de nós. Busque através de Deus, do conhecimento, do autocontrole, de qualquer forma, mas busque sempre.

Todos nós passamos por momentos muito bons e também revezes e em vários destes estavam vocês, meus queridos irmãos, nos bons e nos difíceis.

É comum após alguns anos de maçonaria, alguns se interrogarem, o que estou fazendo aqui? Será que estou sendo útil ou será que a Maçonaria me é útil? Frequentemente encontro irmãos adormecidos, por este ou aquele motivo, muitos dizem “a maçonaria não é mais a mesma”, “maçonaria virou copo d’água”. Muitos acham que a maçonaria deve mudar o mundo, a política, a sociedade toda, mas sequer consegue mudar a si mesmo, sofrem em  reconhecer uma série de defeitos.

Hoje vivemos em imensos conglomerados urbanos, com família desfeitas, drogas, falta de Deus, com pessoas com problemas psíquicos graves, não mais em pequenas cidades, onde a influência dos justos e de boa formação era a regra, por isso temos tanta dificuldade em influenciar em massa, mas podemos e devemos continuar o trabalho pequeno em extensão, mas de enorme valor.

Não fossem as leis, mesmo com graves distorções viveríamos em condições piores do que animais, pois o ser humano é destrutivo em sua essência, e isto fica evidente quando suas necessidades não são satisfeitas.

Meus queridos irmãos, a maçonaria não é um reduto de homens perfeitos, mas sim um seleto grupo que busca a superação humana, a sabedoria e o conhecimento que não vem do dia para a noite e sim de forma gradual. Cada reunião em Loja é rica do inicio ao fim, basta enxergar, algumas melhores que outras, mas sempre muito produtivas.

A presença de cada irmão traz Luz à Loja, esta Luz é conhecimento, é riqueza, é espiritualidade, cada um com seu espírito formando uma egrégora positiva e construtiva.

Por tudo isso, e resumidamente, venho a esta Loja para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para glorificar a verdade e a justiça. Que Deus permita que eu nunca desista.

CARBONÁRIA - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz





O Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz é um dos mais prolíficos escritores e intelectuais maçônicos do país, membro da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras.


A Carbonária era uma sociedade secreta fundada na Itália no século XIX, em que erroneamente se associa à Maçonaria, provavelmente por ter adotado, por cópia, práticas semelhantes, levadas por Maçons que pertenciam às duas Sociedades.

Da mesma forma que Maçom é Pedreiro, Carbonário era “Carvoeiro”.

Sete ou mais Irmãos Maçons constituem uma Loja e vinte ou mais “Bons Primos” Carvoeiros formavam uma “Venda”.

A região em que se encontra uma Loja chama-se Oriente e onde se encontrava uma “Venda” chamava-se “Floresta”.

Três ou mais Lojas formam uma Obediência e vinte ou mais “Vendas” formavam uma “Venda Central”. Havia, também, uma outra instância, a “Alta Venda”, formada por representantes (deputados) das “Vendas Centrais”.

Como a Maçonaria, a Carbonária tinha o seu alfabeto secreto.

Algumas ideologias maçônicas eram afins com a Carbonária, como o combate ao absolutismo e à intolerância religiosa, além do patriotismo e a defesa da democracia e dos ideais liberais.

A Carbonária caracterizava-se também por valores anticlericais e por sua atuação política e revolucionária, tendo atuado tanto na Itália quanto em outros países latinos europeus e sul-americanos. 

O Carbonário Maçom italiano Giuseppe Garibaldi participou no Brasil das forças separatistas derrotadas na Revolução Farroupilha.

Tal como a Maçonaria fora condenada pelo papa Clemente XII na bula In Eminenti de 1738, a Carbonária foi condenada pelo papa Pio VII na encíclica Ecclesiam de 1821.

novembro 17, 2021

DO EMPOBRECIMENTO DAS LINGUAGENS - Dominique Lelys

 


(…) A linguagem telegráfica e ultrassimplificada, que hoje p r e d o m i n a , é  capaz de  transmitir mensagens imediatas e sentimentos primitivos, assim como faz a “ l i n g u a g e m ” d e muitas espécies animais. Está associada a textos curtos e músicas pobres, repetitivas.

 A linguagem humana é muito mais do que isso. Ela fala de história, atualiza o passado, indica o futuro, refere-se ao que não existe, transmite conceitos, narra sentimentos e descreve objetos complexos.

 Em vez de escolas e famílias adaptarem-se ao empobrecimento vocabular e sintá tico, elas devem contribuir para enriquecer crianças e jovens. Quem não domina  uma linguagem rica não pode conhecer Shakespeare , Guimarães Rosa, a Ilíada e tantos outros monumentos da nossa humanidade.

 Afastados desse universo simbólico sofisticado, também não conseguem apreciar Villa-Lobos, a Pietà ou uma bela solução arquitetônica. 

 A ideia de rebaixar a escola em nome da inclusão só reproduz a exclusão. 

 Cesar Benjamim 

O desaparecimento progressivo dos tempos (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado...) dá origem a um pensamento no presente, limitado ao instante, incapaz de projeções no tempo.

 A generalização da familiaridade, o desaparecimento das maiúsculas e da pontuação são todos golpes fatais à sutileza da expressão. Eliminar a palavra "saudade" não é apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existe nada. 

Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos oportunidade de pensar bem. Estudos têm demonstrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de traduzir as emoções em palavras. 

Sem palavras para construir um raciocínio, o pensamento complexo caro a Edgar Morin é dificultado, tornado impossível. Quanto mais pobre a linguagem, menos pensamento existe.

 A história é rica em exemplos e há muitos escritos de Georges Orwell em 1984 a Ray Bradbury em Fahrenheit 451 que relataram como ditaduras de todas as convicções dificultaram o pensamento, reduzindo e distorcendo o número e o significado das palavras. Não há pensamento crítico sem pensamento. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético - dedutivo sem dominar o condicional? Como imaginar o futuro sem conjugação com o futuro?

Como apreender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, bem como a sua duração relativa, sem uma linguagem que faça a diferença entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que pode acontecer, e o que será depois que o que pode acontecer tenha acontecido? 

Se hoje se ouvisse um grito de guerra, seria o grito dirigido a pais e professores: façam com que seus filhos, seus alunos, falem, leiam e escrevam. Ensinar e praticar o idioma em suas mais variadas formas, mesmo que pareça complicado, principalmente se for complicado.

Porque nesse esforço está a liberdade. Quem explica o tempo todo que é preciso simplificar a grafia, purgar a linguagem de seus " defeitos", abolir gêneros, tempos, nuances, tudo o que cria complexidade são os COVEIROS DA MENTE HUMANA. 

 Não há liberdades sem exigências. Não há beleza sem pensar na beleza.

 Christophe Clavé


HAMLET NA MAÇONARIA: SER OU NÃO SER… MAÇOM - Márcio dos Santos Gomes




A conhecida e dramática frase “ser ou não ser, eis a questão” reflete a angústia existencial e a antológica dúvida do príncipe na obra “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”, escrita por William Shakespeare (1564-1616) na viragem do século XVII, onde o famoso personagem medita sobre o dilema de vingar ou não a morte do pai. Tal situação decorre do facto de Hamlet se ver diante de uma realidade que não era aquela imaginada, sendo subitamente colocado diante de revelações do fantasma do seu pai a demonstrar que o seu mundo perfeito era uma farsa, frente à complacência da corte. O momento desta descoberta da verdade dos factos também é registado na célebre frase “há algo de podre no reino da Dinamarca”.

A situação de dúvida acima relatada é uma constante que persegue o ser humano na sua trajetória terrena, presentes em momentos decisivos e impregnados de dualidades, envolvendo o que queremos ser ou sermos o que podemos. Enfim, como viver a vida. Alguns chegam a afirmar que felizes são aqueles que, ao viverem permanentemente alienados e não se verem confrontados com choques de verdades, não percebem as realidades do mundo e fazem a sua caminhada de forma descomprometida ou por vezes também construída ou fruto de um mito onde cada um a percebe de um modo diferenciado, como bem representadas na conhecida “Alegoria da Caverna” ou “Mito da Caverna”, uma passagem de “A República”, do filósofo grego Platão (400 a.C.).

É amplamente sabido que ao longo da história muitas pessoas procuram estruturar-se em clubes de serviços, grupos, associações, fraternidades, entidades com mais variados objetivos, de cunho material, social, cultural, religioso, civil, etc., onde prevalece a cooperação, a partilha, a ajuda mútua e a solidariedade. Aos membros e dirigentes de tais entidades cabe, dentre outras ações, encontrar pessoas com as qualificações e o ideal necessários para dar continuidade aos trabalhos, que se comprometam e se envolvam de forma plena a garantir a consecução dos objetivos definidos.

A Ordem Maçônica não foge a este receituário, por isto condiciona a seleção dos seus futuros membros a rígidos valores como probidade, honra ilibada e consciência cidadã, pois neste aspecto reside a sua força. Uma vez aceite a proposta de ingresso e superada a fase de sindicância e iniciação ritualística, outros valores são incutidos nos estudos e discussões regulares, de forma a que o iniciado aprimore a tolerância, a compreensão do verdadeiro amor ao próximo e à Pátria, despertando o interesse e exaltando a necessidade de trabalho pela felicidade do género humano e à consagração da solidariedade como a primeira das virtudes e o combate aos vícios inerentes ao ser humano, que é o objectivo a ser perseguido continuamente.

A serem seguidos os critérios e regulamentação previstos para a escolha e o escrutínio dos candidatos, observada a cautela nas diligências encetadas para aquilatar o grau de qualificação e valores demonstrados pelos possíveis interessados, não haveria espaço para frustrações e desistência ao longo da caminhada maçónica. Apesar disto, verificam-se por vezes procedimentos sumários de escolha e convite, com vistas a manter ou repor os quadros de algumas Lojas com número reduzido de obreiros, que desaguam em danos irreversíveis, decorrentes do comprometimento dos valores tão caros à Ordem, facultando a entrada a pessoas despreparadas, em busca de vantagens ou com o simples objectivo de serem chamados de “irmãos” e distribuir palmadinhas nas costas para demonstrar camaradagem e proximidade, para angariar simpatias pessoais e popularidade.

Por outro lado, mesmo após os cuidados cautelares, a frustração é do próprio iniciado, que se vê desiludido nas suas expectativas, nomeadamente por falhas dos dirigentes das Lojas em o envolver em atividade que cativem a sua atenção ou o instruam competentemente nos Princípios da Ordem.

Num primeiro momento o obreiro começa a emitir alguns sinais de insatisfação, como faltar às reuniões, por vezes sem justificação coerente, ou mesmo chegar atrasado, cumprimentando um ou outro, e não se interessando pelos assuntos tratados. Muitos tornam-se resmungões, não dão valor aos encontros festivos, descuidam-se das funções do cargo, caso os tenham, ou o recusam, quando convidados a atuar. Frequentar os ciclos de estudos da Escola Maçónica e reuniões da Loja de Pesquisas, ou mesmo visitar outras Lojas, nem pensar. Neste aspecto, não é raro ouvir-se no “jornal da caserna” que aqueles irmãos voluntários da Escola Maçónica estão a inventar ou a alterar a ritualística ou não sabem do que estão a falar, esquecendo que este fórum é para discussão e nivelamento de informações e não para ensinar aos que já o sabem.

Quando o assunto é apadrinhar um candidato, o argumento de não conhecer alguém com o perfil adequado é recorrente. Nas reuniões, os desinteressados estão sempre a recordar o “adiantado da hora” para que os trabalhos não se prolonguem e não comprometam o assistir ao jogo de futebol do dia, o copinho da praxe, etc. Tudo isto, sem entrarmos nas situações de formação de “panelinhas” e articulações políticas para processo sucessório nas Lojas e provocação de cizânia entre irmãos, comportamento típicos dos discípulos de Bakunin.

Neste contexto, algumas reflexões precisam ser feitas pelas Lojas e pelos obreiros que se identificam numa destas situações. Quanto às Lojas, várias perguntas podem ser feitas, como por exemplo:

O que podemos fazer para envolver e comprometer os obreiros?

Onde estamos a falhar?

As nossas reuniões são dinâmicas ou apenas cumprem as formalidades?

Temos apresentações de trabalhos que suscitam discussões e crescimento intelectual?

Estamos envolvendo a família nas atividades festivas e de companheirismo?

Estamos cuidando dos nossos aprendizes e companheiros, dando o suporte de “mentoring”?

No caso do obreiro temos questões como:

O que tenho feito para a Loja?

Tenho sido assíduo às reuniões?

Tenho interesse pelos assuntos tratados?

Participo das atividades extra Loja?

Recuso cargos ou substituir irmãos ausentes por motivo de força maior?

Faço visitas a outras Lojas?

Acompanho a evolução do(s) meu(s) afilhado(s)?

Indico novos nomes para compor a Loja?

Convido irmãos de outras Lojas para nos visitar?

Se nada disto é feito, então a Loja pode estar a trilhar um caminho tortuoso que fatalmente levará à sua extinção. Quanto ao obreiro, caso se sinta responsável por esta situação, é chegado o momento de se colocar como o melancólico Hamlet, onde o “ser” se tornou uma opção e ele agora tem que ponderar e escolher, sabendo que se não se sentir preparado o suficiente para fazer a escolha de forma consciente e alinhada com os postulados da Ordem, e chegar à conclusão que tudo não passou de uma escolha de ocasião, o seu prazo de validade expirou. Então, o passo seguinte é tratar de saber como obter o “quite-placet”, na certeza de que, se correr, o bicho não pega.


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novembro 16, 2021

SER ESCRITOR - Marcelo Rates Quaranta



Ser escritor é transcender a alma através da pena. O escritor é aquele que tem a sensibilidade de perceber as emoções que voam ao seu redor, fazendo do seu próprio coração o ponto de pouso de cada sentimento. 

É aquele que tem a habilidade de prospectar nos corações alheios os seus sentimentos, e os converter em palavras, transformando um pedacinho da vida num poema, num texto, numa frase...  Ele é  o coração que escreve. A sua lágrima e o seu sorriso pertencem a ele, porque ele os fez acontecer.

O escritor está no DNA de cada uma de suas criaturas e vive a vida dos seus personagens, ri com eles, sofre com eles, angustia-se por eles, ama por eles, odeia por eles, perdoa e se vinga por eles, como se vivesse mil vidas dentro de uma sinergia louca onde em minutos todos os sentimentos se embaralham. 

O escritor é cada personagem num momento diferente do coração, que muda numa fração ínfima de eternidade. O escritor é amor suficiente pra ser um deus, e pérfido o suficiente para ser o diabo. Como deus ele cria, dá vida, conduz e ainda determina a hora e a forma da sua morte. Ele é a virtude dos mocinhos, o suspiro dos apaixonados,  a tristeza dos desvalidos, a volta por cima e a derrocada. Como diabo ele é a vingança, a trama, o drama e a maldade. 

Não basta saber escrever. É preciso dividir suas emoções com cada uma das suas criaturas. É preciso amar o bom e o mau. É preciso ver cada personagem como um filho, com todas as suas virtudes e defeitos. Ele não pode odiar o que ele cria.

Ser escritor é aprender muito mais com suas criaturas do que ensinar como criador. É se ler e enxergar que é a sua própria vida que está projetada em cada uma das suas obras, e fazer da sua  própria existência peças formatadas entre muitos prólogos e tantos outros epílogos.

Ser escritor é amar e viver a vida intensamente, fazendo do papel uma bula, um manual de instruções da sua própria passagem pelo mundo. É ser o mago das emoções e um manipulador sorrateiro, que pega o coração do seu leitor com as mãos e faz dele o seu brinquedo. É transformar a folha do papel num elemento mágico, capaz de  penetrar na alma alheia.

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Eu amo ser escritor, porque amo pelos que amam e odeio pelos que odeiam, e com isso condiciono a minha própria vida à ponta de uma pena.