dezembro 07, 2021

QUESTÃO DA GRAVATA OU A QUESTÃO DE SER OU PARECER - J.M.D.




Antes de tentar desvendar, do ponto de vista simbólico, a questão do uso de gravata, me parece necessário um pouco de história para vê-la um pouco mais claramente e não me confundir em um saco de nós.

A palavra cravate aparece pela primeira vez na França em 1651: designa então uma faixa de pano, que os cavaleiros croatas usavam ao pescoço, e ao mesmo tempo, o cavalo desses cavaleiros que Luís XIII havia chamado para servir em seus exércitos.

Forma francesa do croata, por muito tempo designou na verdade um tipo de cavalo e, por extensão e referência aos cavaleiros croatas, cavaleiro militar ligeiro, usado como mensageiro ou para liderar ataques relâmpago.

Luís XIV instituiu um regimento de "gravatas reais" em que o soldado comum usava um nó simples de linho, enquanto o suboficial tinha direito ao algodão, o oficial à seda e o general a uma fita de renda.

No processo, a gravata passou a designar também o lenço bordado, geralmente de seda, com o qual as bandeiras eram adornadas e, na linguagem dos marinheiros, a corda que envolve um mastro ou uma âncora. Depois, de cânhamo, tornou-se a corda com que penduramos os condenados à morte. Ela também será um instrumento de tortura para a Inquisição.

Ainda por extensão, a partir do século XVIII, a gravata passou a ser emblema de altas patentes de certas ordens, sendo o exemplo mais famoso o Gravata do Comandante da Legião de Honra.

Só no século XVII é que, na França, a gravata passou a designar uma peça de roupa masculina, no caso, uma tira de material flexível, estreita e longa, usada na parte de cima da camisa e amarrada no pescoço enquanto , para as mulheres, a mesma tira de tecido era chamada de lavaliere em homenagem à favorita do rei.

Foi nessa época que se forjaram expressões coloquiais como "atira um último na gravata" "fica por trás da gravata", sem dúvida porque os aristocratas enxugavam a boca com ela, razão pela qual trocaram esse pedaço de lenço várias vezes a dia.

Mais tarde, o empate passa a ser um termo desportivo, nomeadamente o golpe com que, no boxe ou no boxe francês, se dá um pontapé no queixo do adversário.

Claro e você pode imaginar, a gravata se não apareceu na França até o século 17, seu porto é muito mais antigo, encontramos na China usada por soldados chineses no século 3 aC, também a encontramos no Egito em Roma etc ...

Na Europa, a partir do século XVI, para alguns, em reação ao puritanismo luterano, os homens e mais particularmente os da corte, começaram a enriquecer seus trajes a ponto de torná-los extravagantes: bordados, rendas, golas adornadas com pedras preciosas.

Em seguida, usamos jabots de renda da Flandres ou de Veneza que, ao se dissociarem gradualmente da gola, tornam-se um acessório de vestuário completo: nasceu a gravata moderna.

A gravata se tornou uma marca registrada do status social e da riqueza de quem a usava.

Agora nos aproximamos do nosso tempo, no início do século 19, os britânicos inventaram os chamados trajes elegantes que, em última análise, nada mais é do que o traje correto que conhecemos hoje.

 É composto por uma calça, um colete, uma jaqueta e uma camisa cujo colarinho é adornado com uma gravata.

O cânone dessa roupa foi definido por George Bryan BRUMMEL, apelidado de "o namorado" ou o rei da moda.

Por sua simplicidade e conforto, esse traje foi rapidamente adaptado por todas as classes da sociedade inglesa, as pessoas, é verdade, contentaram-se em torná-lo um traje excepcional para ser usado aos domingos ou durante importantes cerimônias de “casamento ou funeral”.

Obviamente, os franceses foram facilmente convencidos por esse estilo de roupa que foi rapidamente adotado pela burguesia.

Foi logo após a Primeira Guerra Mundial que a gravata que conhecemos hoje realmente se concretizou e foi na década de 1920 que ela foi definitivamente decidida.

Depois dessa pequena história que tentei resumir, irei examinar e dar a vocês meu ponto de vista sobre o uso da gravata.

A gravata, do padrão “traje social” definido pela BRUMMELL, não é mais uma peça   decorativa, ornamental ou de realce , passando a fazer parte integrante desta norma.

Assim, mesmo que o terno não inclua mais necessariamente calças, colete e jaqueta combinando e, portanto, do mesmo tecido e da mesma cor, a gravata continua sendo a marca de "terno formal" sem a qual o traje, mesmo relativamente correto , então se torna uma roupa casual esportiva ou de lazer.

No entanto, o terno, tal como definido por esta norma, não é apenas uma roupa dita indumentária correta, ele permaneceu e marca um significante social.

Em alguns casos, além disso, tornou-se um equipamento de pertencimento e representação (uma profissão, uma função, um escritório, uma corporação, uma instituição, um grupo social, um clube, uma ordem)

Notarei, no entanto, que a priori, a gravata é inseparável dos outros elementos "do traje social"; no entanto, pode ser diferente de outras peças para, por exemplo, permanecer dentro da estrutura de um vestido correto, para marcar uma oposição (por exemplo, uma gravata de couro, uma exigência de gravata rosa para homossexuais, uma convicção política (um vermelho   ou gravata verde), também marca a adesão a um clube, torna-se então um sinal de reconhecimento.

Porém, de minha parte, acho que a gravata continua e continua sendo um significante social muito forte, quase aristocrático. Na França, o empate foi um grande burguês para se tornar um burguês e agora um “pequeno burguês”.

Além disso, basta andar todos os dias na cidade para ver que a gravata não é usada por setores inteiros da população, apenas quem quer marcar sua correspondência com uma determinada classe social ou com um determinado ambiente.

É por isso que a gravata, assim como o terno, remete a um status ou reconhecimento.

Um exemplo entre muitos outros. Hoje todos os dias na televisão ou nos mercados das cidades, vemos os candidatos às eleições municipais ou cantonais, exibindo-se com lindos ternos e lindas gravatas de boas marcas mas discretos porque não precisa de nada. Pois bem, vejam, observem, os candidatos que dizem ser de verdadeira esquerda ou os candidatos antiglobalização não usam terno nem gravata, ao não colocarem esses acessórios ditos vestidos, colocam-se diretamente em fase e em relação a eles. de baixo., eles querem marcar sua diferença daqueles acima que detêm e querem manter o poder.

É por isso que, de minha parte, penso que o uso de terno e gravata pode até   constituir um obstáculo, cultural ou psicológico na relação com o outro. Bernard WEBER, observa "não ouvimos mais o que as pessoas dizem, apenas observamos como falam, como ficam ao dizê-lo e se a gravata combina com o lenço do bolso"

Paul COELHO, por sua vez, afirma que "hoje em dia, a gravata tornou-se um símbolo de alienação de poder ou sinal de uma atitude discriminatória".

Porque na verdade a gravata, apresentada como um acessório de moda, não tem uso prático, ao contrário, por exemplo, do cinto, do lenço ou dos suspensórios.

O mesmo vale para o traje elegante. As roupas que vestimos devem nos proteger do frio e do mau tempo, mas também protegem a nossa privacidade. Quando vestimos calça, uma camisa, com um suéter e uma jaqueta, estamos vestidos corretamente e podemos passear tranquilamente pela cidade ou no escritório sem sermos notados. Então, por que um terno e uma gravata?

Eles   são, portanto,   apenas   acessórios que pertencem à forma e não à substância, portanto, repito, o terno e a gravata, que é o seu corolário, existem apenas para marcar uma diferença social ou um status.

Não vou discutir o sistema de consumo em que estamos, e que enfatiza o uso de marcas conhecidas e reconhecidas. Porque hoje não só é preciso vestir um terno elegante com gravata, mas também escolher a marca com cuidado, aquela que vai destacar o seu poder aquisitivo "você tem que estar na moda".

Se a gravata não tem utilidade e é apenas o sinal de pertença, e tudo o que se pretende pertencer, não há contradição entre a tolerância e o universalismo reivindicado pela Maçonaria, e uma prática que, do triplo ponto de vista sociológico, psicológico e cultural, é vivido por muitos como segregação?  

Seria o empate a barreira entre quem detém o poder e quem não detém, pode-se pensar de fato, o interior e o exterior. No entanto, o ritual recomenda que deixemos os metais na porta do templo, lembremo-nos do significado deste pedido.

Os maçons defendem a igualdade dentro e fora dos templos.

Meus irmãos sou diferente com gravata ou sem gravata, pensarei menos ou pensarei melhor? Em um piscar de olhos, se eu usar uma gravata muito apertada, terei menos oxigênio que irrigará meu cérebro e me tornarei menos eficiente em meu pensamento.

Paul COELHO ainda o considera que a única utilidade da gravata é tirá-la assim que chegar em casa para se dar a impressão de que foi libertado de alguma coisa, mas não sabe de quê.

Além disso, observemos que os irmãos imediatamente após o traje tiram a gravata antes de irem à mesa durante as festas.

Eu disse que a gravata era originalmente aristocrática, era um sinal de pertencimento à nobreza. Não podemos presumir então que, se usarmos a gravata, é apenas para nos convencer de que fazemos parte de uma nova elite.

Ouso esperar que quando formos fardados sejamos maçons, se vestirmos terno e gravata não seja para nos comportarmos como o domingo quando vamos à missa, porque se queremos homenagear alguém ou algo em uma igreja, em um templo maçônico não há nada a honrar e principalmente pelo Grande Arquiteto do universo, se ele existe.

Da minha parte, o importante não é usar ou não usar gravata, o importante é dar sentido ao que se faz, o importante é não se esconder atrás do costume, para mim a substância prevalece sobre a forma.

O importante é a assiduidade, o trabalho realizado dentro e fora da pousada e o envolvimento na tentativa de se tornar melhor.

Então, por que usar gravata, ou por que não usar, cabe a todos pensar a respeito e, principalmente, quando encontrar o significado, respeitar a escolha do outro.

Talvez uma pista a seguir, vamos meus irmãos ao final do raciocínio, se eu usar gravata, que isso é apenas um acessório e não um sinal de poder ou reconhecimento social, vamos dar um sentido a isso. Que fazemos, nos tornamos estetas, nos atemos ao gosto e à beleza, usamos a gravata, mas usamos, de cores vivas, de cores extravagantes com originalidade, talvez também com humor, que esta gravata nos torne mais bonitos e mais elegantes, principalmente no grau de aprendiz, nós somos em plena luz,   vivemos um novo nascimento, é uma alegria, e não estamos tristes nem de luto.

Por fim, permita-me este último questionamento: o bom senso popular diz que o vestido não faz o monge, seria o vestido e, portanto, a gravata que faria o pedreiro? Um maçom que não usa gravata no mundo secular, mas apenas de uniforme, seria pedreiro em meio período, do meio-dia à meia-noite, então meus irmãos se perguntam: queremos nos   aproximar do ser ou permanecer no a aparência.

Finalmente, para relaxar essa tábua de nós, uma resposta rápida às perguntas que os homens muitas vezes se perguntam sobre a gravata e, em particular, a de um notário, se, se quando falamos sobre uma gravata todos os homens pensam e imaginam isso, então por que gravata notário , Darei a minha interpretação: os notários muitas vezes têm grandes problemas de reflexão porque é sempre necessário resolver o cerne do problema e, como muitas vezes, não sabemos a que área recorrer, devemos,   portanto, estar sempre entre os dois.


dezembro 06, 2021

AMOR FRATERNAL - Sérgio Quirino



Sérgio Quirino - é o Grão-Mestre - GLMMG 2021/2024

A expressão Amor Fraternal aparece com frequência em diferentes Ritos e Graus. Por isso acabamos por compreender o proposito e a justificativa de determinadas ações e inclinações.

Amor é sentimento de carinho e de afeto entre seres que possuem a capacidade de os demonstrar, de se afetarem entre si.

Não se trata de exclusividade do Ser Humano. Todos nós, de alguma forma, em algum momento compartilhamos carinho e afeto, por exemplo, com um cãozinho.

Entre nós humanos é comum confundir o sentimento do amar imediato por um lado, com o amor fraternal profundo, por outro. A paixão é em si um perigo, por nós claramente combatida em nossos rituais. Ainda que seja aquele fulguroso e romanceado amor súbito e inesperado, mesmo assim, precisamos submetê-lo à razão.

Em determinados momentos “amamos” algo ou alguém de forma obstinada, quase que sacralizada. Embora verdadeiro, este sentimento não é amor, é desejo. Ele se firma na posse e no domínio. No anverso da posse há a necessidade de amar algo ou alguém, que também não é o amor; e sim a carência.

Há ainda outros belos sentimentos que confundimos com amor, como a admiração e a amizade, oriundas do compartilhamento de gostos, afinidades e propósitos. Isto também não é amor.

SERIA O AMOR FRATERNAL EGOCENTRICO E AUTOFÁGICO?

A frase causa impacto pela herança cultural que as palavras carregam consigo. Devemos compreender e agir de forma a que os elogios, lisonjas, essas inclinações contrárias aos princípios da moralidade, não nos afetem. As ações de amor fraternal são espontâneas e sem ganhos pessoais. Seu ganho é a felicidade interna e a saciedade emocional que nos afasta das paixões.

AMOR FRATERNAL É A DEDICAÇÃO AO OUTRO A PONTO DE FAZERMOS SACRIFÍCIOS,

QUE SÓ SERÍAMOS CAPAZES DE FAZÊ-LOS POR NÓS MESMOS.

Do adjetivo fraternal ao substantivo amor, não é para aprender que devemos amar o irmão; e sim para entender que devemos descobrir no Irmão o amor que nos fortalece. Assim se desencadeia um processo de confiança mútua, da procura pelo crescimento em conjunto, da resposta imediata e espontânea do ato-reflexo, do sorrir e ser feliz com a felicidade do Irmão.

A Maçonaria apregoa e defende a necessidade da prática do Amor Fraternal como instrumento de fortalecimento de nossos Laços: “Oh! Quão bom e suave é que os Irmãos vivam unidos”

A cada pedra colocada na construção do Templo material usa-se uma argamassa para uni-las. Na construção do Templo Místico usamos a argamassa do Amor Fraternal, cimento místico que une espíritos a fortalecer sua base horizontal e permitir seu crescimento vertical.

O Amor Fraterno é o principal sentimento que devemos, diária e conscientemente, cultivar entre nós.

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, um legítimo Construtor Social.

Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo. Vamos em Frente!

Fraternalmente


A ASTRONOMIA, UMA DAS 7 CIÊNCIAS LIBERAIS - Marcelo Gavlik Batista da Silva




Ir.'. Marcelo Gavlik Batista da Silva, MM, filiado à ARLS Vale do Jamari n° 38 – GLOMARON.

Introdução

A Astronomia foi um tema muito importante para os nossos antepassados. O seu estudo possibilitou a previsão de eventos que aumentaram consideravelmente as possibilidades de sobrevivência na terra. Com os avanços da tecnologia, nos últimos 300 anos muito se descobriu, mas isto é só a ponta do iceberg, provavelmente, a ponta da ponta.

Este trabalho visa sintetizar alguns conhecimentos modernos da Astronomia e fazer uma referência, como forma de homenagem, ao Astrofísico Stephen Hawking, falecido em 2018.

Astronomia

Os nossos antepassados não sabiam onde estavam, que dia era, quando o frio viria, ou quando as diversas espécies de animais iriam migrar de uma região a outra. De acordo com a Teoria da Evolução das Espécies, quando o hominídeo primitivo desceu das árvores e passou a andar sobre duas pernas, a observação do horizonte e do céu passaram a ser mais frequentes, fator decisivo na identificação de padrões nos astros que “giravam em torno” da Terra.

O sol que sempre “nascia” no Leste e “repousava” no Oeste, a lua, que também percorria os céus com trajetórias diferentes a cada dia, as estrelas que com o passar dos dias ia mudando de lugar, tudo isso passou a ser observado. Na busca por uma explicação, estes fenômenos acabaram dando origem às mais diversas teorias, a maioria delas envolvendo criaturas míticas e deuses.

Todas as civilizações que nos precederam fizeram referências aos astros, tendo o sol maioritariamente o papel principal no regimento da vida, sendo representado pelo Deus principal nas religiões politeístas. Com a evolução da ciência e das tecnologias usadas para o seu estudo, grande parte da mitologia foi explicada por cálculos matemáticos, modelos científicos e teorias muito bem fundamentadas.

Com o conhecimento que temos hoje, muitas teorias podem parecer cômicas, mas dada as condições do tempo na qual foram inventadas, elas são muito bem elaboradas, com ligações entre os astros e eventos que por consequência da ação dos mesmos afeta a nossa vida na Terra. Muitas destas teorias foram consideradas como verdades absolutas e inquestionáveis, inclusive com punições rigorosas contra aqueles que ousassem levantar hipóteses contrárias.

Provavelmente ainda iremos vivenciar descobertas que desconstroem convicções sólidas sobre diversos temas, por isso, reforço a máxima “vamos questionar tudo”, ou “questione a autoridade”. Um exemplo desta situação é a teoria de Aristóteles de que dois objetos A e B, sendo B com massa duas vezes maior que o objeto A, cairia numa velocidade duas vezes maior que este. Hoje sabemos que a ação da gravidade é a mesma nos dois, fazendo ambos caírem com velocidade igual; o que diferencia a velocidade é a resistência do ar. Esta teoria foi dada como verdade por mais de mil anos, sendo que duas pessoas sem graduação científica alguma poderiam simplesmente lançar dois objetos de massas nessa relação e contar o tempo de queda, quebrando a teoria de um dos mais famosos sábios da antiguidade.

Hoje sabemos que moramos na superfície de uma rocha gigante para nós, minúscula para o resto do universo, com a cor azul quando vista de longe (não tão longe assim), que gira em torno de uma bola de fogo gigante (mais uma vez para nós), suspensas no vácuo, presas por uma teia invisível chamada força gravitacional. A nossa rocha possui massa suficiente para que a própria gravidade resulte no movimento de rotação (torque gravitacional), o que dá origem ao dia e à noite, enquanto o movimento de translação dá origem às estações do ano.

A bola de fogo que nos aquece também não está parada, está presa pela força gravitacional do centro da nossa galáxia, que chamamos de Via Láctea, que “amarra” centenas de bilhões de outras bolas de fogo, que olhando ao céu chamamos de estrelas. O nosso sol está a 26 mil anos luz do centro da nossa galáxia, que possui cerca de 100 mil anos luz de diâmetro.

Além da Via Láctea, existem outras centenas de bilhões espalhadas pelo cosmos, cada uma com centenas de bilhões de estrelas, sendo que cerca de 25% delas possuem planetas nas suas órbitas, muitos deles provavelmente contendo água na forma líquida, condição básica para a vida como conhecemos. A busca por vida nesses planetas está apenas engatinhando, mas já foram identificados centenas destes apenas na nossa galáxia, o que torna a existência de alguma forma de vida fora da Terra, ainda que primitiva, altamente possível. Sabemos que já foram identificados microrganismos capazes de resistir à radiação e ao vácuo existente fora da nossa atmosfera, retomando os seus processos biológicos com a adição de água.

Um dos grandes nomes da Astrofísica é Carl Sagan, que dedicou a sua vida ao estudo e à melhoria da didática com que esse conhecimento era repassado à população em geral. Entre as suas contribuições para a humanidade está a série televisiva Cosmos, sendo a sua versão revisada e atualizada apresentada pelo também astrofísico Neil DeGrasse Tyson, e que serviu de base para a elaboração deste trabalho.

Um dos grandes projetos de Carl Sagan foi a sonda Voyager 1, lançada no universo para fora da órbita do Sol contendo um disco rígido com informações sobre a Terra, incluindo sons como o barulho de uma cachoeira, o choro de um bebé, um trecho de uma música de Blues e um mapa cósmico da nossa posição no universo, sendo perfeitamente possível que uma inteligência extraterrestre possa ler esse mapa e nos encontrar. Este mapa inclusive foi visto como perigoso por cientistas renomados como Stephen Hawking, para quem haveria o risco de a Terra ser colonizada por seres hostis aos humanos.

Um dos maiores gênios da era contemporânea foi Stephen Hawking, um cientista britânico amplamente conhecido fora do círculo dos cientistas, talvez por passar anos numa cadeira de roda, respirando por aparelhos e comunicando-se com auxílio de máquinas.

A mente brilhante de Stephen Hawking contribuiu muito para a ciência, apresentando leis mecânicas para os buracos negros, teoremas da singularidade, e aproximadamente duas semanas antes da sua morte, concluiu um trabalho a ser apresentado à comunidade científica que apresenta cálculos matemáticos embasando a sua teoria do multiverso. Uma das suas obras literárias, “Uma nova história do tempo” (2005) deveria ser leitura obrigatória para todos.

Conclusão

A Astronomia, ciência tão importante para a espécie humana desde a antiguidade, encontra nos tempos atuais significativos avanços. A cada dia novas descobertas demonstram que há muito mais para se descobrir além do que se sabe, e graças ao trabalho de astrofísicos modernos como Stephen Hawkings, Carl Sagan e Neil DeGrasse Tyson, um pouco deste conhecimento tornou-se acessível a todos.

A ciência foi e sempre será de extrema importância nas nossas vidas. Quanto mais estudamos, mais vemos quão pequenos e insignificantes somos diante da grandeza do universo. Diante desta grande verdade, que possamos assumir o controle dos nossos egos como seres humanos, e como maçons, possamos refletir sobre aquela premissa básica da nossa Ordem, segundo a qual devemos estar sempre abertos à constante investigação da verdade.

Referências

COSMOS, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO-TEMPO. Ann Druyan e Steven Soter, Cosmos Studios e Fuzzy Door Productions, 2014.

dezembro 05, 2021

A SOLIDARIEDADE MAÇÔNICA - Hugo Schirmer



A Solidariedade Maçônica não consiste, como creem o vulgo e o profano, no amparo incondicional de um Ir∴ ao outro.

Os laços da Fraternidade, quanto ao amparo moral ou material (individual ou coletivo), são oferecidos àqueles que, apesar de praticarem o Bem, sofrem os revezes das vida.

Para os que, trabalhando lícita e honradamente, correm o risco de soçobrar; ou mesmo para os que, tendo fortunas, sentem infelicidade em seu interior e amargas suas almas.

Para estes IIr.’. a Solidariedade Maçônica deverá  e será colocada em prática, pois aí haverá uma causa justa e nobre.

Em nossa iniciação, juramos amar o Próximo como a nós mesmos, cuja máxima representava o compasso sobre o nosso peito, na justa medida para a construção do mundo de Fraternidade Universal.

Juramos ainda defender e socorrer nossos IIr∴; todavia, quando um Ir∴ se desvia da Moral que nos fortifica, ele simplesmente rompe a Solidariedade que nos une.

Estará então em condições notórias de deixar de ser um Ir∴, perdendo todos os direitos ao nosso auxílio material e, principalmente, ao nosso amparo moral.

Há quem defenda que Irmão será sempre Irmão, contudo a própria legislação que rege a Ordem declara sua suspensão desse Direito, sob determinadas circunstâncias. 

Logo, essa Solidariedade não dá guarida à ignorância e ao preconceito.

Em igualdade de circunstâncias, devemos preferir um Ir∴ a um profano; mas nunca devemos fazê-lo se assim cometermos uma injustiça - a cada um, o que é de seu mérito.

Ela não existe para ferir nossa consciência.

Seus ensinamentos nos conduzem a proteger um Ir∴ no que for justo e honesto, mas sem boas e justas razões não devemos favorecê-lo pelo simples fato de ser Ir∴.

Ademais, tal Princípio nos ensina tanto a dar quanto a não pedir sem a justa necessidade.

A Ordem, idealmente, só admite entre os seus membros aqueles que são probos, de caráter ilibado, que tenham a faculdade chamada inteligência e que sejam livres e de bons costumes.

Assim é natural que MM∴ cheguem a posições sociais elevadas, visto se destacarem por suas qualidades pessoais.

Se alguém pretende obter o mesmo, utilizando-se unicamente de um sistema de favorecimento, proteção e acobertamento fazem mal em entrar para o seu seio.

Sua admissão padece de vício insanável, de erro essencial quanto à pessoa.

Para estes casos, nossa Ação Moral, nossos Princípios e Leis hão de serem instrumentos seguros para separarmos o joio do trigo - e ficarmos com o trigo.

A Solidariedade, aliás, não está adstrita aos Ir∴, estende-se a todos os Homens e se materializa não apenas no amparo imediato, mas na educação.

O exercício da Solidariedade, assim, deve pautar-se em duas palavras - tolerância e humildade.

A predominância da Humildade se faz necessária em todas as ações que empreendermos e desenvolvermos, para que o auxílio não se transforme em esmola e enodoe a alma do necessitado.

A Tolerância para com os nossos semelhantes, quer em suas opiniões, quer em suas crenças, impõe-se para garantir a Liberdade e a Justiça.

É pensamento muito bem traduzido por Voltaire: “Discordo de tudo quanto dizes, mas defendo até a morte o direito de dizê-lo.”

Ambas serão, portanto, utilizadas para Educar os que necessitam e, pelo processo dual, nos educarmos.

Ensinar aquilo que realmente sabemos e com isto nos instruir também.

Corrigir e alertar para os erros que atentem quanto à ética e compromissos inerentes à sociedade.

Cabe aqui encerrar com La Fontaine, em trecho do prefácio de “FÁBULAS DE ESOPO”:

...“Antes de sermos obrigados a corrigir nossos maus hábitos, é necessário que nos esforcemos para torná-los bons”...


A ANTIGUIDADE DOS SÍMBOLOS - Ir.’. João Nery Guimarães


A primeira constatação que empolga aquele que se aprofunda na interpretação da liturgia maçônica é a da antiguidade dos seus Símbolos, de suas alegorias.

Remontam as origens dos Símbolos Maçônicos à aurora do homem sobre a Terra. Daí terem alguns observadores apressados concluído que a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o mundo. Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a Franco-Maçonaria, com as suas características atuais, data do século XVIII, ou melhor, do ano de 1717, ponto de partida da Franco-Maçonaria moderna. Foi nesta data que se firmou a preponderância da Franco-Maçonaria especulativa sobre a operativa. Mas, anteriormente à memorável reunião das quatro Lojas franco-maçônicas de Londres, existiam várias Lojas por toda Inglaterra, Alemanha, França e Itália, formada por pedreiros de profissão, reunidos em confrarias, com regulamentos próprios, Sinais de reconhecimento, Símbolos litúrgicos, e se tratando por Irmãos. 

Guardavam ciosamente a sua arte de construir do conhecimento do vulgo ou profanos. A par desses conhecimentos, essas confrarias (Guilds, Brotherhoods, Bruderschaften, Confrèries), constituídas por verdadeiros artistas (foram os construtores das grandes catedrais européias e os criadores da arte gótica), reuniam e conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã, às vezes confundidas com as tradições mais novas do cristianismo. 

Compreende-se, assim, o respeito que os príncipes tiveram por essas corporações de artesãos, às quais dotaram de regalias e privilégios.

Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons, maurerei) foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte também as tradições ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.

Estabeleceu-se, assim, um liame entre a Franco-Maçonaria do século XVIII e a mais remota Antiguidade, que levou os escritores a que nos referimos, a declarar a Franco-Maçonaria coeva da vinda do homem sobre a face da terra. A verdade, contudo, como já dissemos, é um pouco diferente: os legítimos Símbolos Maçônicos é que se perdem na noite dos tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a conhecemos, data de pouco mais de dois séculos, ou por outra, a Instituição é nova e a sua essência antiga.

Tão antigos são os Símbolos adotados e conservados zelosamente pela Franco-Maçonaria, que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum deles é de data posterior ao ano um da era cristã. Tal afirmativa se reveste de tanta importância que o poder     mantê-la compensa todas as pesquisas, todas as vigílias gastas em escavar o dourado veio das tradições antigas.

Existem Símbolos na Franco-Maçonaria, usados desde a fase operativa, cujo significado foi inteiramente estranho aos homens da época, não Iniciados nos Mistérios Maçônicos, quando não foram completamente desconhecidos. 

Pois bem, quando teve o mundo notícia dos descobrimentos arqueológicos verificados no século XIX, constataram os Franco-Maçons que muitos de seus Símbolos figuravam nos objetos encontrados, pertencentes a civilizações já desaparecidas, com as quais os homens haviam perdido todo contato, anteriores ao advento do cristianismo.

É forçoso admitir que os Franco-Maçons não inventaram, por coincidência, tais Símbolos, pois muitos deles tinham o mesmo significado maçônico de hoje. Alguns, por exemplo, são tão evidentes, que não permitem margem a dúvidas. Existiu, portanto, um misterioso fio que preservou a tradição antiga, fio esses que não trepidamos em declarar, o segredo dos Iniciados. 

A Sabedoria Antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre determinado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, pôde, assim, chegar até nós. Só dessa forma compreende-se o mistério que a muitos pareceu indecifrável.

Ensinam a História, a Sociologia e a Literatura que as obras Homéricas foram guardadas pela tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma escrita. O mesmo processo sofreram quase todas as lendas dos primórdios da civilização. Se assim aconteceu em relação a obras literárias e narrativas históricas, porque não sucederia o mesmo com uma tradição iniciática, perpetuada através de Símbolos?

Sobre o poder conservador dos Símbolos, já disse o nosso Irm.: MICHA que "se a verdade sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão sublime que nenhuma ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o simbolismo é por sua vez como uma espécie de revestimento, de meio de conservação ideal dessa verdade e uma linguagem ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação, e que só os Iniciados podem traduzir sem deformar-lhe o sentido."  (A. Micha — "Le Temple de la Veritè ou La Franc-Maçonnerie dans sa Véritable Doctrine", Anvers, 2ª édition, pág. 63).

A longevidade das práticas maçônicas repousa tranquilamente na imutabilidade de seus Símbolos, muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas narrativas.       

E o que é a liturgia senão o conjunto desses Símbolos realizados sob determinada forma em determinadas circunstâncias?

Texto extraído do livro A MAÇONARIA E A LITURGIA — UMA POLIANTÉIA MAÇÔNICA, de João Nery Guimarães.

dezembro 04, 2021

GRANDE ORIENTE UNIDO DO BRASIL (1872/1883) - DIVERGÊNCIA EM 1863


Em maio de 1.863, culminam as divergências e surge o "Grande Oriente do Brasil, ao vale do Lavradio", assim chamado por estar instalado no Palácio Maçônico, situado na rua do Lavradio, e o "Grande Oriente do Brasil, ao vale dos Benedictinos", instalado da rua dos Benedictinos, tendo como Grão Mestre Joaquim Saldanha Marinho (usava o pseudônimo de Ganganelli ).

No dia 13/10/1.871, assume como Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil, no Palácio do Lavradio, Barão do Rio Branco ( José Maria da Silva Paranhos ).

Em abril de 1.872, o clero no Rio de Janeiro, ataca veementemente alguns maçons com posição de destaque na Corte Imperial. A resposta foi imediata, e diante de tal situação, os pertencentes ao "grêmio" do Lavradio, liderados por Barão do Rio Branco, (clerical) e um dos atacados; e os pertencentes ao "grêmio" dos Benedictinos, liderados por Saldanha Marinho (anticlerical). Concordaram e fundiram-se num só corpo, no dia 20/05/1.872, com respectivos Supremos Conselho, desaparecendo ambos para a formação do Grande Oriente Unido do Brasil.

Na primeira eleição para as dignidades, os partidários de cada Grande Oriente desaparecido com a fusão sustentaram o nome de seu antigo Grão Mestre. Venceram os dos Benedictinos.

Visconde do Rio Branco perdendo a primeira eleição, por um voto, e a segunda por 32 votos, declara irrita e nula a fusão com o Grande Oriente do Brasil ao Vale dos Benedictinos, tornando público em 14/09/1.872, passando a existir duas potências novamente. O Grande Oriente do Brasil, do Visconde do Rio Branco, governista e clerical. O Grande Oriente Unido do Brasil, de Saldanha Marinho, liberal e anticlerical.

Faltava ao grande estadista competência para anular uma fusão que já produzira seus efeitos. Assim o julgaram os corpos estrangeiros, consultados sobre o assunto. Com a fusão, haviam desaparecido o Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente dos Benedictinos para com os elementos destes, surgir o Grande Oriente Unido do Brasil.

Fechado o Grande Oriente do Brasil, ao Vale do Lavradio para se proceder a concertos urgentes.

Saldanha Marinho permaneceu no templo dos Benedictinos conservando como corpo legitimo o Grande Oriente Unido do Brasil. O Grande Oriente do Lavradio passou a ser considerado dissidência, até que o enfraquecimento de ambos e a consequente falta de idoneidade chamou à razão os dois corpos.

Em 18 de dezembro de 1.882 as duas potencias aprovam um acordo assinando-o dia 18/01/1883, passando a chamar-se unicamente, Grande Oriente do Brasil.

Fonte: "Livro do Centenário" - Edição 1922, pág. 214

SALA DOS PASSOS PERDIDOS - Jair Donó


Se perguntarmos a um profano o significado de tal expressão, poderemos receber a seguinte resposta: 

“E uma expressão estranha, a primeira vista sem significado, mas refletindo melhor, parece ser um local onde se caminha sem chegar a lugar algum”.

Isto nos faz crer que os fundadores do parlamento inglês, em 1296, foram felizes em escolher o nome da sala de espera, onde as pessoas aguardavam uma entrevista com os parlamentares, pois ali as mesmas circulavam sem rumo definido, sem destino exato, daí a denominação “Passos Perdidos”, ou seja, que leva a lugar nenhum.

Em 1776, a grande Loja de Londres inaugurou o primeiro templo maçônico e buscou no parlamento inglês a forma e até o nome da sala que antecede o átrio, como curiosidade também a mesa dos oficiais, a grande cadeira do V.’. M.’. e o lugar dos IIr.’. nas colunas tem a mesma origem, lembrando que o parlamento inglês é cerca de 500 anos mais antigo que o primeiro templo maçônico. Já no campo simbólico podemos concluir que, fora da disciplina maçônica, todos os passos são perdidos.

Mackey diz: 

*"O sentido desta denominação se origina no fato de que todo passo realizado antes do ingresso na maçonaria, ou que não respeite suas leis, deve ser considerado simbolicamente como perdido."*

Nas lojas Maçônicas do Brasil como as de Paris, da Hungria e da Áustria, é assim denominada a ante-sala do Templo. Na Alemanha a expressão é completamente desconhecida, para concluir, no rito Schroder, em particular e na Alemanha, usa-se a expressão, “Ante-sala do Templo”.

Enfim a “Sala dos Passos Perdidos”, é o local onde a irmandade se reúne sem maiores preocupações, destinado a receber os visitantes, onde as pessoas possam andar livremente, como se fosse uma sala de espera, onde nos cumprimentamos brincamos, tratamos de negócios, assinamos o livro de presenças o tesoureiro faz as cobranças, enfim um local de socialização, o M.’. de Cer.’. distribui os colares e começa a preparação para o ingresso no templo, forma-se o ambiente adequado e que conduza a um bem-estar, um refugio, aonde os amigos irão se abraçar e uma vez devidamente paramentados são convidados pelo M.’. de Cer.’. a ingressarem no Átrio.

*O Átrio*

Designa genericamente os três grandes recintos do templo de Salomão, o primeiro era o átrio dos gentios, onde era permitida a entrada de qualquer um que fosse orar, o segundo era o átrio de Israel, onde somente os hebreus podiam penetrar, (depois de haverem sido purificados) e o terceiro era o átrio dos sacerdotes, onde se erguia o local dos holocaustos e os sacerdotes exerciam seus mistérios.


dezembro 03, 2021

CURVATURA NA PAREDE ORIENTAL DO TEMPLO - Ir.'. Pedro Juk



Em 01/08/2018 o Respeitável Irmão Laurindo Roberto Gutierrez, Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil, GOP (COMAB), Trabalhos de Emulação, Oriente de Londrina, Estado do Paraná, solicita esclarecimento para o que segue:

CURVATURA NA PAREDE ORIENTAL DO TEMPLO

Por favor, peço que me instrua no seguinte: Alguns templos do REAA tem a parede do oriente, atrás do Venerável, levemente encurvada, como o arco na hora em que flecha será lançada. Peço que me instrua sobre isto e se existe mesmo este detalhe no Templo.

COMENTÁRIOS:

Muitos Templos antigos do REAA∴ trazem a parede Oriental curvada, isto é, em meia circunferência, cuja porção mediada dela corresponde ao raio do círculo em concordância com as paredes laterais.

Esse costume arquitetônico surgiu, não por trazer algum conceito litúrgico, porém para que a parede meio-circular coincidisse com a abóbada no teto que também era geralmente construída em carco romano (meio-círculo). Assim, o acabamento da abóbada na parte oriental do espaço passava esteticamente a concordar com as respectivas paredes – o teto oriental se comparava a meia cúpula.

Essa disposição arquitetônica era comum em alguns Templos apenas no limite oriental, nunca o ocidental, onde nele o semicírculo descrito pela abóbada terminava abruptamente numa parede vertical.

Na verdade, essa expressão arquitetônica visava apenas à estética semicircular da parede oriental, portanto não é de constituição obrigatória.

Alguns rituais mais antigos no Brasil até preconizavam essa disposição construtiva, o que pode ser conferido, dentre outros, na planta do templo inserida no ritual do REAA das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras do ano de 1928, assim como no Ritual de Aprendiz do GOB, datado de 1898. Além desses, muitos outros rituais acabariam seguindo esse modelo, cujo arquétipo, provavelmente surgiu na França do século XIX que fora copiado de estilos arquitetônicos comuns em muitas igrejas, catedrais e abadias da época.

É bem verdade que muitas edificações de templos maçônicos seguiram - e ainda seguem - esse modelo. Entretanto nada impede que a parede oriental seja edificada dispensando-se esse parâmetro construtivo circular – o que tem sido mais comum na atualidade.

Sob o ponto de vista da liturgia do REAA, a planta de um templo para abrigar os seus trabalhos deveria obedecer simbolicamente os seguintes parâmetros: um quadrilongo constituído pela união de três quadrados, sendo um quadrado para o Oriente, um e meio para o Ocidente e meio quadrado para o Átrio. Esse acoplamento de quadrados resulta numa área cujo espaço é simplesmente retangular – note que a parede oriental circular é perfeitamente dispensável nesse caso.

Obviamente que essas dimensões são apenas simbólicas, já que a racionalidade e o aproveitamento de espaço ditado pela arquitetura moderna tem feito com que algumas Lojas se adaptem às salas retangulares adequadas às suas necessidades.

HISTÓRIA DA MAÇONARIA UNIVERSAL



A Maçonaria é uma Ordem Iniciática mundial. É apresentada como uma comunidade fraternal hierarquizada, constituída de homens que se consideram e se tratam como irmãos, livremente aceitos pelo voto e unidos em pequenos grupos, denominados Lojas ou Oficinas, para cumprirem missão a serviço de um ideal. Não é religião com teologia, mas adota templos onde desenvolve conjunto variável de cerimônias, que se assemelha a um culto, dando feições a diferentes ritos. 

Esses visam despertar no Maçom o desejo de penetrar no significado profundo dos símbolos e das alegorias, de modo que os pensamentos velados neles contidos, sejam decifrados e elaborados. Fomenta sentimentos de tolerância, de caridade e de amor fraterno. Como associação privada e discreta ensina a busca da Verdade e da Justiça.

PROVÁVEL ORIGEM

A provável origem da maçonaria tem provocado variadas versões entre os inúmeros historiadores. As opiniões prevalecem em torno da hipótese sobre a constituição das Corporações de Construtores na Idade Média. Essas agremiações reuniram a maioria dos profissionais voltados para a elaboração de projetos e para a construção de templos e palácios. Paralelamente na bibliografia sobre economia social, os pesquisadores destacam dois períodos da Idade Média como fundamentais na organização das relações comerciais e profissionais da época. Um, a Baixa Idade Média que mostrou uma atividade econômica pujante apoiada na agricultura sustentada no regime feudal. O comércio com papel secundário. 

O outro período, a Alta Idade Média, marcada pelo surgimento das corporações de Ofício, com o objetivo de regular preços, salários, quantidades produzidas e a especificação de produção.

A maior parte dessas corporações foram influenciadas pelas alterações das condições do mercado da mão de obra e, gradativamente, alteraram suas atividades e finalidades. Se distanciaram do papel de representatividade das classes que congregavam e se encaminharam para modelos de entidades com fins assistenciais. 

Mais tarde, rumaram na direção das iniciativas com conteúdos culturais, políticos e religiosos. 

A maçonaria que delas se originou, optou por diferentes procedimentos litúrgicos, conforme substratos conceituais das comunidades praticantes. 

Nas regiões lideradas pela Grã-Bretanha predominou o simbolismo religioso associado ao cientificismo empírico, na França e na Alemanha, teve preferência o simbolismo esotérico e o racionalismo judaico-cristão.

SISTEMAS RITUALÍSTICOS

Os ritos maçônicos são conjuntos de regras e procedimentos empregados nos cerimoniais litúrgicos das Lojas, que empregam símbolos e lendas para representarem princípios de moral e ideias conceituais. Embora os Maçons afirmem se tratar de propósito primordial da corporação o respeito às preferências político partidárias e religiosas dos seus Obreiros, desestimulando discussões sobre os temas, não desconhecem, no entanto, que os ritos são espelhos de movimentos coletivos empreendidos por setores da sociedade, vinculados a uma religião e ou a escolas filosóficas e culturais, em evidência nos séculos XVII e XVIII. São muitos os fatores de época e de conhecimentos que contribuíram para a configuração dos principais rituais maçônicos. 

Em meados do século XVIII foram criados sistemas que organizaram ritualmente a Maçonaria. Na França, por exemplo, surgiram mais de 75 desses sistemas. A partir de 1760 começou o período de implantação da metodologia interna da Maçonaria. Foram elaborados ritos por justaposição ou por fusão de sistemas. Somente após essa fase é que apareceram rituais manuscritos para a formalização dos procedimentos como um culto. 

No final do século XVII a maçonaria tinha dois graus: Aprendiz e Companheiro, dirigidos por um Companheiro mais experiente e capacitado, eleito o Mestre da Loja. O primeiro documento relativo a um terceiro grau data de 1711, seis anos antes da fundação da Grande Loja de Londres, a primeira federação de Lojas que surgiu no mundo, formada por quatro Lojas, que, até então, reuniam-se de modo autônomo e livre de hierarquia institucional. Em 1740 algumas Lojas admitiram e outorgaram mais de três graus. Seguiu-se um período de intensificação dessa prática, que teve um incremento inicial na França e na Alemanha e, a seguir, na Inglaterra.

A PRIMEIRA GRANDE LOJA

A primeira federação que reuniu as Lojas maçônicas sob uma obediência coletiva institucional, foi a Grande Loja de Londres, fundada em 24 de junho de 1717, através da associação participativa de quatro Lojas que, até essa data, se reuniam de modo independente. Não havia rito com graus seqüenciais como temos no presente. Duas cerimônias apenas, faziam parte da caminhada evolutiva do maçom no seu processo Iniciático: a Recepção a um Candidato e a Passagem do Aprendiz para o Grau de Companheiro.

Além dessas, um evento especial, que era realizado uma vez ao ano após a eleição de um Companheiro para a presidência da Loja, marcava a exaltação do mesmo à condição de Mestre Instalado no cargo. O grau de Mestre Maçom ainda não havia sido criado. 

Para os líderes da fundação da Grande Loja, a maçonaria era um culto secreto destinado a conservar e difundir a crença na existência de Deus, ajudar os maçons a ordenarem sua vida e orientarem o seu procedimento, segundo os princípios de sua religião. 

Posteriormente, a idéia sobre fé religiosa tornou-se menos rígida entre os maçons anglo-saxões, que, não obstante, continuaram admitindo apenas os crentes monoteístas. Valorizavam, essencialmente, a presença do Livro das Sagradas Escrituras durante os trabalhos, como símbolo da vontade revelada de Deus. O pensamento nuclear do maçom inglês hoje é a prática de uma moral capaz de unir todos os homens, sejam quais forem suas crenças.

A MAÇONARIA E O ANGLICANISMO

Em 1485, ascendeu ao trono da Inglaterra, Henrique VII, iniciador da dinastia Tudor. A nova dinastia, cujos principais representantes foram Henrique VIII (1509 a 1547) e Elizabeth I (1558 a 1603), estabeleceu um regime monárquico absolutista.

A afirmação do absolutismo foi facilitada com a reforma religiosa. O rompimento com Roma se deu por ocasião da questão surgida em torno do divórcio entre Henrique VIII e Catarina de Aragão. O soberano inglês, desejando casar-se com Ana Bolena, solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do seu casamento com aquela que só lhe dera filhas. A recusa do Papa levou o monarca a proclamar o Ato de Supremacia, em 1534, homologado pelo Parlamento, que colocou a religião da Inglaterra sob a autoridade monárquica. Henrique VIII passou a se interessar pelo movimento reformista religioso que se difundia na Europa, por ele nutrindo simpatia crescente.

Elizabeth I intensificou o apoio de seu antecessor ao protestantismo e com ela no trono a Igreja Anglicana implantou-se definitivamente com suas características; um misto de crenças calvinistas, apoiadas sobre a organização de parte do catolicismo, conforme foi estabelecido no Ato dos 39 Artigos em 1563. Impulsionada por esse sentimento religioso expansionista, a monarquia tentou intervir na Igreja Presbiteriana da Escócia, para enfraquecer a seita. 

A iniciativa fez eclodir uma guerra civil, forçando o Rei da Inglaterra a reunir o Parlamento para pedir recursos. A oposição no Parlamento resistiu ao pedido, derrotando a concessão. O Rei mandou prender líderes oposicionistas e esses desencadearam um movimento revolucionário, conhecido como Revolução Puritana. A maioria no Parlamento, liderada por Oliver Cromwell, pertencente ao puritanismo, venceu e mandou aprisionar e decapitar o Rei, proclamou a República e designou Cromwell para governar, como Lorde Protetor.

Com a morte de Cromwell em 1658, abriu-se um período de crise institucional, que conduziu à restauração da dinastia dos Stuart; Carlos II, em 1660, e Jaime II, em 1685. Jaime II pretendeu restabelecer a primazia da religião católica, desprezando a preferência da maioria protestante. Foi facilmente vencido pela burguesia capitalista e pelos mercadores da cidade de Londres, na chamada Revolução Gloriosa de 1688. O Parlamento saiu fortalecido. Todavia, o povo não sentiu-se vitorioso, pois considerou a Revolução Gloriosa um movimento aristocrático. 

Foi a época em que evoluíram liberalidades, em resposta à rigidez do puritanismo, e eclodiram as polêmicas religiosas. Emergiu o caos dos costumes. Os dogmas foram atacados e ridicularizados. A religião sofre na Inglaterra o seu maior período de retrocesso. Uma reação foi necessária para neutralizar o avanço da corrupção e da libertinagem. Surgiram a partir de 1700, numerosas “sociedades para a reforma da conduta”, como foram intituladas na época. Com atuação firme e eficiente elas mobilizaram os setores mais conservadores do povo inglês e empenharam-se em reconduzi-lo ao sentimento de respeito pelos seus antigos princípios éticos e morais.

A maçonaria profissional, denominada entre os maçons, operativa, se integrou no movimento. Depois de um período de progresso proporcionado pelas frentes de trabalho criadas pelo incêndio em Londres, em 1666, voltara a entrar em decadência também. Perdera grande parte do seu caráter original e se transformara em mera fraternidade de socorros mútuos, adotando postura voltada para o culto a Deus e a preservação de uma mensagem de moral natural, de tolerância e de fraternidade. 

As Lojas das Corporações de Ofício procuraram meios para sobreviverem à crescente precariedade de sua situação funcional e financeira e abriram suas portas para profissionais de áreas estranhas à construção, os aceitos. Essas entidades se transformaram em cultos de incentivo à religiosidade e ao aprimoramento dos valores relativos à cidade.

As atividades das sociedades para a reforma da conduta, constituídas predominantemente pela burguesia, visaram principalmente as massas, pois não se sentiam encorajadas a criticar os costumes da nobreza inglesa.

A maçonaria continuou sendo procurada por interessados provenientes de variados setores da sociedade britânica. O processo transformou a maçonaria operativa em especulativa, quando a maioria em cada Loja foi formada por nobres, intelectuais e representantes de outras atividades profissionais. Essa nova maçonaria foi incumbida de atuar junto às classes superiores, visando melhores resultados na campanha de melhoria da conduta social. Foi o período que antecedeu a fundação da Grande Loja, em Londres, com base nos preceitos do anglicanismo e do simbolismo influenciado pelo iluminismo cientificista.

ILUMINISMO INGLÊS E MAÇONARIA

A pesquisa sobre a participação de profissionais não artesãos nos agrupamentos dos maçons, a partir do século XVII, revela que os aceitos constituíram núcleos diversificados de obreiros nas Lojas operativas. Algumas dessas deixaram de ser convencionais para se tornarem formadoras de opiniões. As Lojas freqüentadas por intelectuais ganharam prestígio e marcaram a figura do livre pensador, um erudito que tinha salvo-conduto da realeza para divulgar suas ideias e melhorar os conhecimentos da elite. 

As reuniões maçônicas, a partir dessa época, proporcionaram nova visão do homem e do mundo e elevaram a complexidade dos conhecimentos à disposição da comunidade. Os interesses das monarquias, das religiões dominantes e das ciências criaram episódios relevantes, que colaboraram para a evolução organizacional e funcional da maçonaria. Foi o caso que se verificou na difusão do movimento filosófico e cientificista inglês, o iluminismo, a partir da Royal Society, que desempenhou papel fundamental na criação e na consolidação da primeira Grande Loja maçônica, em Londres. Despontou a liderança de John Theophilus Desaguliers, um francês que mudou-se pequeno com seus pais para a Inglaterra, onde anos mais tarde freqüentou a Universidade de Oxford e se doutorou em Lei Canônica.

A ciência foi importante na vida de Desaguliers, principalmente a teoria das leis mecânicas de Newton, com quem estreitou laços de amizade. Foi eleito para a Royal Society em Londres e fez conferências em tavernas para divulgar a ciência newtoniana. Dedicou-se a interpretar princípios do Deísmo pois, para a sociedade de intelectuais londrinos, Deus era a Causa Primeira e Final do mundo, responsável pela Segunda razão da existência do Universo, a força de gravidade que ordena a relação dinâmica de todos os corpos celestes, interpretada e descrita por Isaac Newton.

Desaguliers estudou os conceitos filosóficos voltados para a importância do estudo da matéria e seus movimentos como elementos constitutivos do Universo. Acreditou que o Sábio e Todo-Poderoso Autor da Natureza iniciara Sua Obra divina pelo átomo e que dotara a matéria de movimento e de propriedades de atração e repulsão.

Como se constata, o sentimento materialista religioso esteve sempre muito presente na base das especulações científicas do iluminismo inglês, levado também para os alicerces conceituais que sustentaram a criação da Grande Loja de Londres e o novo modelo de Loja maçônica, apoiado na estrutura física do Parlamento e na pedagogia da Sociedade Real. Os princípios da arquitetura clássica igualmente tiveram forte receptividade entre os aristocratas britânicos no início do século dezoito. As características mais valorizadas foram a simetria, os arcos, as colunas dórica e jônica e os templos com domos.

Desaguliers integrou o partido político Whig, que surgiu depois da revolução de 1688, que pretendeu subordinar o poder da Coroa ao do Parlamento. As doutrinas que compuseram a ideologia da oligarquia Whig endossavam a idéia de soberania parlamentar com liberdades naturais, constituindo uma proposta de revolução política, que fez surgir no século seguinte o Partido Liberal inglês.

Desaguliers tornou-se Grão-Mestre eleito, dois anos depois da instalação da Grande Loja em 24 de junho de 1717, em Londres. Recrutou cientistas e outros pensadores para posições de liderança no projeto maçônico organizado, visando fazê-lo florescer em harmonia, reputação e número. Criou a figura do Deputado do Grão-Mestre, nomeado para representar o Grão-Mestre em situações de impedimento ou de coincidência temporal de eventos. Trabalhou estreitamente com o ministro presbiteriano James Anderson, membro da Royal Society, na redação de uma Constituição para a novel Grande Loja. Juntos, fizeram as primeiras analogias entre a antiga arquitetura e o moderno mundo da maçonaria intelectualista, sustentando que os princípios da antiga maçonaria possibilitaram a construção das pirâmides egípcias e o templo do Rei Salomão.

Desaguliers e Anderson lançaram a idéia central que serviu de referência para a confecção da Tábua de Delinear do primeiro grau da maçonaria inglesa, onde estão desenhadas as colunas dos princípios dórico, jônico e coríntio, presentes nos desenhos simétricos dos antigos edifícios e que refletem a harmonia com a natureza. Nas Constituições da Grande Loja há especial menção aos direitos do Grão-Mestre, investido nas funções de Poder Executivo, concebido como um Primeiro Ministro da maçonaria.

O sistema de graus foi idealizado pelos líderes da Grande Loja para servir ao propósito de explicar as idéias da intelectualidade inglesa, a respeito do processo de aperfeiçoamento moral, cultural e filosófico do ser humano, em que a escada simboliza a ascensão individual e estimula a busca do conhecimento que qualifica a caminhada existencial.

A Grande Loja ajudou as Lojas locais a funcionarem como assembléias, elegendo os dirigentes da sua entidade maior e mantendo encontros permanentes para discutirem assuntos importantes para a comunidade, além de servirem como centros ritualísticos, conferindo os graus aos candidatos admitidos. 

As Lojas promoviam ações filantrópicas, contribuíam para o Fundo de Caridade da Grande Loja e prestavam assistência financeira aos maçons necessitados. 

Nessas condições, em que observa-se a presença da Grande Loja como uma coordenação centralizadora das principais iniciativas, houve a intensa promoção, entre 1719 e 1736, de atividades sociais e culturais nas Lojas e em toda a Londres, Lojas que funcionavam em cafés, tavernas e hospedarias, promovendo a sociabilidade, a expansão da cultura e a vida clubística.

Inegável é que o sistema ritualístico, com sua pedagogia maçônica diferenciada, provou ser um veículo efetivo para a explicação das idéias do século dezoito, dos conceitos newtonianos aos princípios éticos do Deísmo. 

O sistema ritualístico funcionou também como uma religião civil e foi reconhecido como uma importante fonte do anglofilismo. Os maçons ingleses entenderam que as leis da mecânica newtoniana revelavam muito sobre o ordenamento da natureza e que as doutrinas deitas, da mesma maneira, ajudavam a definir princípios apropriados para a conduta moral da sociedade. 

AS TAVERNAS

Por volta de 1356, grupos de trabalhadores especializados na arte de construir, primeiro em madeira e depois em pedra, sentiram a necessidade de criar uma organização que os congregasse e cuidasse dos seus direitos. Essa etapa durou mais de duzentos anos e as reuniões foram realizadas em construções pequenas situadas ao lado da obra principal.

No século XVII, entraram nas primitivas Sociedades dos Pedreiros de Ofício, os primeiros praticantes de outras profissões, admitidos em nome da contribuição cultural que podiam proporcionar. Os novos grupos se expandiram. Os espaços acanhados das reuniões realizadas nos anexos das obras foram abandonados e trocados por outros mais confortáveis, encontrados principalmente nas salas das tavernas, das cervejarias e das estalagens. Os recantos isolados desses estabelecimentos públicos ganharam a preferência e os encontros contaram, a partir daí, com um outro ingrediente; a possibilidade de comer, beber e conversar após a reunião.

A confirmação do hábito desenvolveu o comércio específico das empresas e várias dessas tavernas e cervejarias se tornaram famosas pela sua colaboração na estruturação da maçonaria enriquecida pelos “aceitos especulativos”, ou seja, aqueles que não trabalhavam com a pedra, e sim, com as idéias.

Quatro tavernas se destacaram em prestígio no meio maçônico, porque serviram de alicerce para a fundação da Grande Loja de Londres. Foram a Ganso e Grelha, a Macieira, a Coroa e a Copázio e as Uvas.

A MAÇONARIA INTITULADA ESCOCESA

Documentos de 1735 fazem referência à expressão “Mestre Escocês”, que parece significar um artesão ou arquiteto especialmente qualificado. É provável que seja em analogia aos artesãos que viajaram da Inglaterra para a Escócia, no século VIII, com a finalidade de conhecerem a emergente e promissora arquitetura dos belos castelos do norte da Escócia. Esses maçons mantiveram o hábito de realizarem suas assembléias gerais, desenvolvendo um nível elevado de conhecimentos. Os encontros constituíram em 1150 a Corporação de Kilwinning, que passou a ter sede na abadia de Kilwinning, em construção desde 1040. 

A classificação “Mestres Escoceses” se generalizou, seus encontros formais e a qualificação profissional constituíram o que mais tarde se converteu em um dos ritos maçônicos especulativos mais conhecidos e praticados no mundo, o Rito Escocês Antigo e Aceito. Em 1758 foram acrescidos graus cavalheirescos aos três primeiros, sendo criado um sistema de Altos Graus, com limite em 25. Mais tarde, provavelmente em 1801, passou a contar 33 graus.

(A autoria deste texto é desconhecida. Se você souber quem é o autor, por favor, nos comunique para que seja dado o devido crédito)

dezembro 02, 2021

OH, MINAS GERAIS - Guilherme Ribeiro da Silva



Não há de ver que hoje, dia dois de dezembro, é aniversário de Minas Gerais! 301 anos deste estado, que pode não ser pra vocês, mas para mim é meu país.

O estado das minas, dos ouros, das pedras preciosas e dos morros. Do queijo, do pão de queijo, do doce de leite, da terra íngreme onde mora o sertanejo. Já viu nossa bandeira que coisa mais linda, parece mesmo um pedaço de queijo com goiabada por cima. 

Aqui o bom dia é diferente, além do aceno com a cabeça, o "bão?", é etiqueta da gente. Pra nóis tudo é trem, o que anda, o que voa e a prova de que foi um legítimo mineiro que inventou o avião é o freio chamar trem de pouso.

Dizem que o "uai" não é nosso, que é de Goiás, já viu que coisa mais sem graça, que marmota. Mas o que significa esse trem? Uai é uai, se você não entende é problema seu, uai. 

O mineiro é desconfiado, também não nascemos ontem. Mas pensa num povo bom, caridoso e hospitaleiro. Nosso jeito de amar é mais concreto, quando a visita é boa um simples almoço vira festa sem decreto.

Por aqui o tempo passa na mesma velocidade que nos outros lugares, a diferença é que nós não nos preocupamos com isso, porque o hoje é mais importante. Que adianta se preocupar com tudo, resolver tudo? Se tem uma coisa que não somos é ignorante.

O mineiro tem algo de peculiar na sua relação com Deus. Talves a geografia da nossa região corrobore a isso. As serras, os montes, nos fazem mais perto de Deus.

Tudo isso não faz da gente um ser melhor, apenas diferente. Nós temos nosso jeito, simples, ajeitando tudo, até mesmo o que não tinha jeito.

Mas uma coisa é bem verdade, os que aqui nasceram e hoje estão longe morrem de saudade. Os que por aqui passam prometem sempre voltar, pois quem em Minas passa não esquece jamais. 

Oh Minas Gerais!

___________

Guilherme Ribeiro da Silva 

Poços de Caldas, 02 de dezembro de 2021

301 anos do Estado de Minas Gerais

199 ANOS DO GOB



Em 17 de junho  de 1822,  a  Loja  Maçônica,  “Comércio  e  Artes”,  em  sessão memorável,  resolve  criar  mais  duas  Lojas  pelo  desdobramento  de  seu  quadro  de Obreiros,  através  de  sorteio,  surgindo  assim  as  Lojas  “Esperança  de  Niterói”  e “União  e  Tranquilidade”,   constituindo-se nas  três  Lojas  Metropolitanas  e possibilitando  a  criação  do  “Grande  Oriente  Brasílico  ou  Brasiliano”,  que  depois viria  a  ser  denominado  de  “Grande  Oriente  do  Brasil”.

José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva  (O  Patriarca  da Independência)  é  eleito  primeiro  Grão-Mestre,  tendo  Joaquim  Gonçalves  Ledo como  1º  Vigilante  e  o  Padre  Januário  da  Cunha  Barbosa  como  Grande  Orador.  

O  objetivo  principal  da  criação  do  GOB  foi  de  engajar  a Maçonaria  como  Instituição,  na  luta  pela  independência  política  do  Brasil, conforme  consta  de  forma  explícita  das  primeiras  atas  das  primeiras  reuniões, onde  só  se  admitia  para  iniciação  e  filiação  em  suas  Lojas,  pessoas  que  se comprometessem  com  o  ideal  da  independência  do  Brasil.

A 4 de outubro do mesmo ano, já após a declaração de independência de 7 de setembro, José Bonifácio foi substituído pelo então príncipe regente e, logo depois, Imperador D. Pedro I (Irmão Guatimozim). 

Este, diante da instabilidade dos primeiros dias de nação independente e considerando a rivalidade política entre os grupos de José Bonifácio e de Gonçalves Ledo – que se destacava, ao lado de José Clemente Pereira e o cônego Januário da Cunha Barbosa, como o principal líder dos maçons – mandou suspender os trabalhos do Grande Oriente, a 25 de outubro de 1822.

Somente em novembro de 1831, após a abdicação de D. Pedro I – ocorrida a 7 de abril daquele ano – é que os trabalhos maçônicos retomaram força e vigor, com a reinstalação da Obediência, sob o título de Grande Oriente do Brasil, que nunca mais suspendeu as suas atividades.

Fundado com a finalidade de trabalhar pela Indepenência do Brasil da Coroa Portuguêsa, o Grande Oriente Brasílico (seu nome na época) adotou as cores Azul, Vermelho e Branco. 

No dia da sua fundação, reunidas as três Lojas em assembléia, para que se pudesse identificar a qual Loja pertencia cada um dos presentes durante as votações, foi adotada a forma de  identificação por fitas coloridas que iam amarradas no braço direito de cada participante. 

Assim, a Loja Comércio e Artes ficaria identificada pela cor vermelha, a Esperança de Niterói pela azul e a União e Tranquilidade pela branca. 

É devido a isso que as cores vermelho, azul e branco são  adotadas como matiz oficial da heráldica do Grande Oriente do Brasil.

Liderado por José Bonifácio de Andrada e Silva, o seu primeiro Grão-Mestre, já no mes de agosto seguinte o Grande Oriente receberia, em Iniciação na Ordem, sua Alteza, o Principe Regente D. Pedro I que adotaria o nome simbólico de Guatimozim em homenagem ao Rei Asteca que fora seviciado por Cortez durante as invasões espanholas. 

O desmembramento da Loja Comércio e Artes em mais duas outras - a União e Tranquilidade e a Esperança de Niterói se deu por regra de regularidade, já que para a fundação  de um Grande Oriente seria necessário o mínimo três Lojas (como hoje ainda é). 

Como os Irmãos brasileiros não queriam se submeter à nenhuma Obediência de nação estrangeira, pois a finalidade mór era a de conseguir a  Independência do Brasil, houve entrão a necessidade de desmembramento para que dele resultasse a fundação do Grande Oriente exclusivamente brasileiro e fosse possível prometer ao Príncipe Regente sua Assunção ao Grão Mestrado. 

Provavelmente a promessa de ser Grão Mestre de uma Ordem universal foi o argumento que convenceu um jovem de 22 anos a enfrentar o próprio pai e declarar ser Imperador de uma terra da qual já era herdeiro. 

Parabéns aos Irmãos Gobianos pelos 199 anos de existência do nosso Grande Oriente do Brasil.

Bom dia meus irmãos.

(o texto é um resumo bibliográfico de outros trabalhos publicados na net)

dezembro 01, 2021

GNOSE - Excerto do livro Gnose, de Philip Gardiner



A verdadeira definição do termo "gnose" é a experiência mística do Divino diretamente em si mesmo. É a realização da nossa verdadeira natureza que não pode ser discernida por intermédio de dogmas ou doutrinas intelectuais, mas somente pela experiência.

As crenças e os segredos supremos dos cristãos gnósticos constituem um mistério para a maioria das pessoas. Eles praticam uma espiritualidade que é, sem dúvida, mais oriental do que a versão do cristianismo tradicional ocidental. Como diz Mateus, no livro de Tomé: "Porque aquele que não se conhece nada conhece, mas aquele que se conhece já adquiriu o conhecimento sobre as profundezas do Universo." Tais são as palavras de Cristo, segundo Tomé, e essas poucas palavras revelam a profundeza do sistema da crença gnóstica. Essa passagem parece dizer que o lugar mais importante para procurar a verdade, o Divino, e o conhecimento supremo do Universo é dentro de nós mesmos.

Os Upanishads (parte das escrituras Shruti hindus, que discutem principalmente meditação e filosofia, e que são consideradas pela maioria das escolas do hinduísmo como instruções religiosas) dizem que: "Não é pela argumentação que se conhece o 'eu'. Faça a distinção entre o 'eu' e o corpo e a mente. O 'eu', o atman (palavra em Sânscrito que significa alma ou sopro vital. Na filosofia esotérica é considerado uma ligação do ser humano com a hierarquia cósmica), o refúgio mais elevado de todos, impregna o Universo e habita o coração das pessoas.

 Aquelas que aprendem sobre o 'eu' e praticam constantemente a meditação atingem esse atman imutável e com brilho próprio. Façam o mesmo..." O atman é a verdadeira realidade interior, o espírito, ou o elemento do Filho de Deus dentro de cada um de nós. Os alquimistas dizem que o atman jamais morre. Seus dias não têm fim e ele é absolutamente perfeito.

 O objetivo da gnose é descobrir essa verdadeira realidade interior, que nos proporciona uma profunda percepção do próprio Universo.

Fonte: Excerto do livro Gnose, de Philip Gardiner.

RITO DA PALAVRA DE MAÇOM (MASON’S WORD) - publicado por Hector Guerrero

 







De acordo com vários maçonólogos, o Rito da Palavra de Maçom (Mason’s Word), criado por volta de 1637 na Escócia seria o rito mais antigo da Maçonaria chamada “especulativa”.

O rito foi fundado por maçons escoceses calvinistas e presbiterianos de Kilwinning para substituir o ritual Inglês e Anglicano dito das Antigas Obrigações operativas da  Idade Média e do Renascimento [1].

A partir de 1696, os maçons desejaram criar uma arte da memória conforme os princípios do Calvinismo, isto é, não baseado em imagens visuais, mas exclusivamente em imagens verbais como as metáforas e alegorias.

Posteriormente, depois de ter passado por várias influências, anglicanismo e catolicismo, a Grande Loja de Londres transforma-o em 1717, em rito filosófico universal que se tornou a matriz do ritual de três graus praticado pela Maçonaria contemporânea.

CONTEXTO DO APARECIMENTO

A expressão Palavra de Maçom que está na origem do rito é sem dúvida modelada na expressão Palavra de Deus ou “Palavra do Senhor”. É por esta expressão que os calvinistas da Escócia designavam a Bíblia, referência entre todos, o Sola scriptura [2] de Lutero. Ao usar esta expressão da “Palavra de Deus”, os calvinistas pretendiam retornar a um cristianismo autêntico, antes das práticas da Igreja dos Católicos romanos, estes últimos sendo considerados por eles como “idólatras” e “góticos”, aludindo à construção de catedrais na França e no resto do Continente europeu.

Para compreender a história do Rito Palavra de Maçom, devemos primeiro lembrar o contexto, ou seja, em primeiro lugar, que a chegada do reformador calvinista John Knox (1514-1572) na Escócia (1555 e depois em 1559 para ali fundar a Reforma) estava na origem de profundas convulsões no plano da organização das irmandades até então católicas.

Como resultado das suas novas conversões, aquelas de maçons que se tornaram presbiterianos por sua vez, desejavam reformar a prática das antigas regras e retornar a uma leitura escriturística das Obrigações (Charges). A reorganização das Obrigações levou a muitas mudanças nas lojas operativas que se tornaram mais abertas à livre interpretação das Escrituras de acordo com o princípio da liberdade de julgamento dos reformadores. Além disto, a abolição do culto aos santos, a rejeição da estética católica e a controvérsia da época sobre a arte da memória levou os maçons das lojas presbiterianas a desenvolver um método de simbolização baseado mais em diálogos e metáforas literárias do que nos símbolos gráficos das Antigas Obrigações [3].

FONTES E EVOLUÇÕES DO RITO PALAVRA DE MAÇOM

Os testemunhos incluindo a expressão “Mason Word” são numerosos e foram a seu tempo examinados pelo maçonólogo David Stevenson. Isto representa um total de cerca de vinte textos escoceses escritos no século XVII e uma dúzia de textos britânicos do século XVIII.

O Rito Palavra de Maçom teria sido elaborado dentro da loja calvinista [3] Kilwinning n° 0, entre 1628 e 1637. Os documentos mais antigos sobre ele mencionam um ritual que consistia em receber em loja um novo membro, dando-lhe um aperto de mão (origem da “garra”) enquanto os nomes das duas colunas do Templo de Salomão eram comunicados, com referência à passagem bíblica da Epístola de Paulo aos Gálatas (Gl 2,9), lembrando a troca dos apertos da mão direita (mão da verdade) entre Tiago, Pedro e João, de um lado, e Paulo de Tarso, de outro.

Documentos posteriores pertencentes aos textos fundadores da Maçonaria em particular, o “Manuscrito dos Arquivos de Edimburgo” (“Edinburgh register house” que data de 1696 e que era o ritual da loja Canongate Kilwinning, ” [4] , mostram evoluções significativas desde aquela época. Eles mencionam em particular um “catecismo” por perguntas e respostas, a prática dos cinco pontos do companheirismo [5], bem como a transmissão de uma palavra adicional em “M. B.” ao segundo grau [6].

Autor desconhecido

Notas

[1] No sentido da palavra inglesa da época. Diríamos hoje “filosófico”.

[2] Cerimônia de admissão a uma corporação de maçons antes do século XVII.

[3] Os historiadores podem determinar se uma loja era calvinista, católica ou anglicana examinando alguns detalhes nos seus rituais ou outros documentos de arquivo, tais como a presença ou ausência do qualificativo holly (santo) ao lado do nome de uma capela, ou mesmo em alguns manuscritos referências mais explícitas, por exemplo ” Santa Igreja Católica no manuscrito Dumfries no 4 de 1710 (ver, por exemplo, Négrier 2005 pp. 106 e 109).

[4] Trata-se da loja de Canongate, pequena aldeia a leste de Edimburgo. Esta loja, cujos arquivos datam de 1630foi anexada à Loja Presbiteriana de Kilwinning em 1677. (Stevenson 2000, p. 64)

[5] Que alguns autores associam aos cinco pontos calvinistas da TULIP (Negrier 2005, passim).

[6] Os rituais maçônicos do século XVII só conhecem dois graus: aprendiz e companheiro-mestre

Bibliografia

Roger Dachez, “ Nouveau regard sur les anciens devoirs “, Franc-maçonnerie magazine, noHS N°3, novembre 2016, p. 18-23

Patrick Négrier, La Tulip : Histoire du rite du Mot de maçon de 1637 à 1730, Saint-Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire-Clair, coll. “ Les Architectes de la Connaissance “, avril 2005 (ISBN978-2-913882-30-0, présentation en ligne)

Patrick Négrier, Le Rite des Anciens Devoirs : Old Charges (1390-1729), Saint- Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire-Clair, coll. “ Lumière sur… “, Dezembro 2006 (ISBN978-2-913882-39-3)

David Stevenson (trad. Patrick Sautrot), Les premiers francs-maçons : Les Loges Écossaises originelles et leurs membres [“The Origins of Freemasonry: Scotland’s Century, 1590-1710, Cambridge Univer-sity Press, 1988, paperback ed. septembre 1990”], Saint-Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire- Clair, coll. “ Les Architectes de la Connaissance”, mai 2000, 256 p. (ISBN 978-2-913882-02-7, apresentação online)