dezembro 09, 2021

A ARCÁDIA, O CÁRDIO E OS PRIMÓRDIOS DA INICIAÇÃO -

 


(Extraído de A IDADE DAS LUZES, de Arthur Franco)

Seria Arcádia apenas um mito? Como mito, então, qual seu significado mais original? O que contam os primitivos mitos gregos? Por que tantas referências foram feitas pelos mais variados autores antigos, de Aristóteles a Clemente de Alexandria, de Herodoto a Nicolas Poussin? Conheça o que a própria História tem a falar sobre a mais primitiva Grécia, e a importância capital que ela teve no desenvolvimento de todos os Antigos Mistérios. Penetre no Mundo dos Números Iniciáticos para descobrir o profundo significado da mais perfeita das representações Humanas: o Coração!

A ARCÁDIA HISTÓRICA 

48000 a.C. - A esta época remonta a Arcádia, segundo os estudiosos. Segundo Curtis N. Runnels (Scientific American, março/95), os arcadianos podem ter habitado aquela região, ao centro da península do Peloponeso, há cerca de cinqüenta mil anos atrás, causando, através de milênios de esgotamento dos recursos da terra, uma severa erosão que gerou a terra árida, repleta de arbustos e rochas, que conhecemos atualmente. 

Até o século IV a.C. Arcádia foi a parte mais afastada do Peloponeso, com o dialeto de características mais antigas, os cultos religiosos mais singulares e com a mais primitiva reputação. O dialeto arcaico arcadiano sobreviveu com uma notável semelhança com o dialeto levado por colonos gregos a Chipre cerca de 1200 a.C.. Este dialeto grego os cipriotas continuarão a usar até meados do período clássico (século V a.C.), mantendo a antiga escrita silábica. Os arcadianos - juntamente com os frígios e os egípcios - têm a fama de ser o povo mais antigo do mundo. 

"Os egípcios, antes do reinado do rei Psammetichus, julgavam-se o mais antigo povo da humanidade. Desde que Psammetichus, entretanto, tentou saber quem era realmente a primitiva raça, disseram-lhe que, embora eles ultrapassassem todas as outras nações, os Frígios ultrapassavam-nos em antigüidade." (Herodotus, The History, William Benton Publ., USA, 1952, Book II, 2, p.49) 

Os frígios eram os habitantes da Frígia, localizada ao sul do Mar de Mármara, que une o Mar Negro ao Mar Egeu, numa região atualmente pertencente à Turquia. Na Grécia Antiga, os poetas cantavam a enorme anterioridade dos arcadianos, descrevendo-os como mais velhos do que a Lua. Frígia e Arcádia, na verdade, em linha reta não distam mais que 330 milhas (530 quilômetros), a mesma distância que separa Hamburg de Stuttgart, e mais perto que a distância em linha reta de Paris a Toulouse ou de London a Glasgow. Se a anterioridade dos frígios era reconhecida pelos egípcios, não é de se surpreender a idade dos seus vizinhos arcadianos. 

E os Mistérios de Elêusis, que veremos, em 1800 a.C., retratarem o profundo pitagorismo arcadiano, só perderão em antiguidade para os Mistérios da Samotrácia, uma ilha do mar Egeu a cinquenta milhas de Tróia e a cem milhas da Frígia. 

Se por um lado na Grécia não é discutida a antiguidade de Arcádia, no Egito tampouco, a confiarmos no discurso de Platão, no Timeu, quando o sacerdote egípcio diz a Sólon, referindo-se a Atenas:

"De nossas duas cidades, a mais velha é a vossa, por mil anos, pois recebeu vossa semente de Gaia e Hefaístos. Esta é mais recente. Ora, depois que esta região foi civilizada, escoou-se, mostram nossos escritos sagrados, a cifra de oito mil anos." (Platão, Timeu, Ed. Hemus, São Paulo, 1981, p.72) 

O sacerdote da cidade egípcia de Saís referiu-se a Atenas, a cidade grega regida pela deusa homônima, filha de Hephaestus. Mas Atenas regia também a própria Saís, uma Atenas filha de Neilus, o Egípcio. Daí a anterioridade requerida pelo sacerdote do Nilo. O próprio Heródoto testemunha a origem egípcia das deidades gregas: 

"Quase todos os nomes dos deuses vieram à Grécia a partir do Egito. Minhas pesquisas provam que todos eles eram derivados de uma fonte estrangeira, e minha opinião é que o Egito forneceu o maior número. Pois com a exceção de Netuno e de Dioscûri, e Juno, Vesta, Themis, as Graças e as Nereidas, os outros deuses eram conhecidos desde tempos imemoriais no Egito. Isso eu afirmo na autoridade dos próprios egípcios" (Herodotus, The History, Book II, 50, p.60) 

Já na Grécia, Arcádia era lembrada com anterioridade mesmo na origem dos deuses. E isso não apenas quanto à Lua, que teria vindo após os arcadianos. O próprio Zeus, segundo os antigos gregos, de suas três origens, duas procediam de Arcádia: 

"Um em Arcádia, o filho de Aether, os outros dois [Zeus] sendo filhos de Cronos, um em Creta e outro novamente em Arcádia" (Clement of Alexandria, Exhortation to the Greeks, Harvard University Press, 1953, p.57) 

Apolo, por sua vez, para o qual Aristóteles enumera cinco origens, tem uma delas a partir de Silenius, originando o arcadiano Nomius ou pastor (Clement of Alexandria, op.cit., p.59). 

ARCÁDIA: O OLIMPO ESOTÉRICO OU O CORAÇÃO 

Como veremos mais adiante, em 1656 d.C. Arcádia representa um ideal muito mais profundo que todo panteão olímpico. Enquanto o Olimpo representa a idealização humana de, pretensamente, unir-se a Deus (Zeus) externamente na sua mais pura forma, Arcádia representa a concreção dos "deuses" terrestres, essenciais para esta nossa jornada terrena. 

Iniciaticamente, Arcádia originou o próprio Olimpo. Enquanto o Olimpo se exteriorizava e se poluía nas mãos dos sacerdotes e nas paixões humanas, Arcádia permaneceu pura, original, tal como sua língua e crenças religiosas, mas representando o centro imaculado. 

Por esta razão duas das três origens de Zeus provém de Arcádia. Se ao Olimpo cabe a intelectualidade religiosa, o cérebro, a Arcádia - o inóspito centro do Peloponeso - se deve o coração. Enquanto os gregos - e toda a humanidade - dirigiam-se em massa às figuras externas, às idealizações, ao exotérico, Arcádia lembrava o centro, a origem, o esotérico. 

Como bem abordou Campbell, observando a peregrinação em massa dos hindus para morrerem nas poluídas águas do Ganges: 

"A concepção da peregrinação como um movimento interior, para o centro de nosso próprio coração, está sendo traduzida literalmente, num ato físico. É bom fazer uma peregrinação, desde que, ao fazê-la, você medite sobre o significado deste ato, e saiba que é para dentro, para sua vida interior, que está se encaminhando." (Joseph Campbell, As Transformações do Mito Através do Tempo, Cultrix, S.Paulo, 1992, p.95) 

Todo o segredo dos Augustos Mistérios, da Luz recebida pelos iniciados e do entendimento de Deus depende, basicamente, deste centro cardíaco representado, para os gregos, por Arcádia. Ela representa a terceira etapa nos Mistérios de Elêusis, coroada pela epopteia ou pelo êxtase da compreensão (vide ano 1800 a.C.). É o centro do corpo mental, que está no centro do corpo emocional, que por sua vez está no centro do corpo físico. Todos estes centros se encontram no coração, e lá a luz é dada ao neófito: 

"Daí, parece ter sido demonstrado que os homens organizados para o desenvolvimento de forças superiores não podem dar, aos que não estão dispostos a isto, nenhuma idéia, senão muito vaga, da verdade superior. Assim todas nossas disputas e nossos escritos pouco servem. Os homens deveriam imediatamente ser organizados para a percepção da verdade. Quando nós escrevemos este in-folio, todo sob a luz, os cegos não verão mais claro. Deve-se dar-lhe logo o órgão da visão. Agora, a questão é: Em que consiste o órgão de percepção da verdade? O que é que faz o homem capaz de a receber? Eu respondo: Dentro da simplicidade do coração; pois a simplicidade encontra o coração numa situação conveniente para receber puramente o raio da razão, e aí organiza o coração para a recepção da Luz." (D'Eckhartshausen, La Nuée Sur Le Sanctuaire, Bibliothèque des Amitiés Spirituelles, Paris, 1979, pp.18-19) 

O entendimento dessa Arcádia profunda era tão árido para os gregos como a própria Arcádia. A população de Arcádia, exceto os pastores, emigrava buscando mais oportunidades, especialmente com os jovens cheios de energia.

DE ARCÁDIA A ARCTURUS 

O nome Arcádia advém de Arkades, que em grego significa povo do urso. Segundo a tradição arcadiana, seu povo descendia do deus terrestre Arkas (Urso), que era filho da ninfa Kallisto. Kallisto é conhecida pela denominação de Ursa Maior. A ligação profunda da lenda da Ursa Maior, tão antiga como o mundo, será primordial para entender muitos movimentos posteriores ligados à tradição iniciática. Sua proximidade com a história da tribo de Benjamim é muito grande, como veremos. 

A Ursa Maior teve várias denominações ao longo dos tempos e na história dos vários povos. A ligação com a lenda de Arthur, que veremos adiante, é nítida se observarmos que na língua celta original de Arthur arth significa Ursa, enquanto Arktos - palavra grega que designa Urso - era o antigo nome grego da constelação. O próprio nome original de Arthur - Arthurus - é uma contração de Arth com Ursus. A constelação também teve os nomes de Septem Triones (Sete Bois), Carro de David, Arado, Esquife, Arca de Noé, Hélice e Septarsi (7 sábios, em sânscrito). Ursa, entretanto, foi sua denominação mais comum. 

A história da Arcádia é a história de Arkas, filho de Kallisto. Kallisto era a grande companheira de Artêmis, que muito veremos nas tradições que se seguirão. Artêmis é Diana, a deusa da caça. Kallisto afastou-se do convívio mortal e passou a fazer parte do grupo de ninfas que acompanhavam Artêmis. Zeus, apaixonando-se e desejando ardentemente tê-la, transformou-se na própria Artêmis, aproximou-se e possuiu a moça. Envergonhada, Kallisto refugiou-se no fundo do bosque. Lá deu à luz a Arkas. Kallisto, tentando ocultar o ocorrido, voltou participar do grupo de ninfas que acompanhavam Artêmis. Artêmis, sendo uma deusa e tudo sabendo, percebeu o engodo e transformou a jovem numa grande ursa. Kallisto, então, ficou a vagar pelos bosques de Arcádia. 

Arkas, por seu lado, cresceu ao lado de Zeus e tornou-se um belo e forte caçador. Um dia, passeando pelos bosques de Arcádia, Arkas encontra uma grande Ursa, que o seguia, a qual não sabia ser sua mãe. Ao atirar-lhe uma flecha, Zeus imediatamente transformou Arkas num pequeno urso (a Ursa Menor), o qual, reconhecer sua mãe na Ursa Maior, correu ao seu encontro. 

Finalmente, Zeus os homenageou colocando ambos nas duas próximas constelações do norte Boreal. Esta alegoria mostra bem a grande importância de Arcádia no plano de Zeus. 

Estando representada pelas duas constelações - pela Ursa Maior ARCTOS e pela Ursa Menor ARKAS - Arcádia tem também na próxima constelação do Boiadeiro (Bootes) uma forte ligação com sua lenda. 

Arthur e seus cavaleiros serão uma continuação da sagrada tradição arcadiana. Uma das primeiras indicações deste fato está justamente na constelação de Bootes, a qual teve, na antigüidade, o nome latino de Portidor Ursae ou o Guardador da Ursa de Arcádia. Sua primeira estrela - Alfa de Bootes - chama-se justamente Arcturus! Arcturus traduz-se originalmente por "O Guardião do Urso", ou mais exatamente, "A Cauda do Urso", pois "ouros" quer dizer cauda e "aktos" Urso.

Na mitologia grega, Bootes era filho de Deméter. Seu irmão lhe roubara a herança e, para prover seu sustento, teve que pegar na foice e no arado. Para premiar a Bootes, os deuses colocaram-no, juntamente com seu arado, no céu. O antigo nome da Ursa Maior - Septem Triones ou Sete Bois - deriva daí, pois a Bootes coube Arkas ou Arcádia, a terra da Ursa. 

Esta saga se repetirá milênios depois com a tribo hebraica de Benjamim, que também perderá sua grande herança - Jerusalém - resgatando-a apenas com a conquista das Cruzadas por Godfroi de Bouillon. 

A árida Jerusalém será, então, a Arcádia da Cristandade e dos Judeus. Da mesma forma que Bootes, os arcadianos isolaram-se numa terra muito pouco cobiçada, a menos atraente da Grécia, onde somente os Pastores da Arcádia saberiam valorizá-la. 

Estes fatos serão muito importantes para compreendermos a alegoria do quadro de Poussin, "Les Bergers d'Arcadie" - Os Pastores de Arcádia, e os mistérios ligados a Rennes-le-Château no século XIX ...

COLMEIA ACADÊMICA - Jonilson Bogéa




Através de uma iniciativa corajosa

Oriunda de Irmãos inovadores

Partimos para uma ação auspiciosa

Liderada por Maçons desbravadores.



Algumas personalidades já consagradas

Mestres reconhecidos e de imenso valor

Que impulsionaram grandes jornadas

Deixando um legado de força e vigor.


Homens de fibra e muito exigentes

 Entusiastas, otimistas, exímios comandantes 

 Líderes natos, visionários, inteligentes 

 Construtores de uma nova era, verdadeiros gigantes.


 Uma sensação deveras antagônica 

Tal qual as pedras brancas e pretas

 foi a lembrança de meu nome para compor

a primeira Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras. 


Participar de uma seleção de tamanha grandeza

É motivo de honra para qualquer um

Por isso expresso aqui minha plena certeza

Que os que aqui estão, fogem do senso comum.


 Seguimos alinhados com crescimento 

 Focados na evolução com boa perspectiva 

Comprometidos e edificando conhecimento

 Com os preceitos da Maçonaria Executiva. 


Tomar posse nesta Academia 

 É motivo de imenso contentamento

 Neste ambiente virtual que exala magia

 Deixo aqui meu sincero agradecimento. 


Talentosas figuras, Maçons sensacionais 

 Selecionados por serem fonte de inspiração

 Palestrantes memoráveis, doravante Imortais

 Com um legado marcante de superação. 


Assim citamos: Tupã e Aldino, Kennyo, Izautonio

Bariani e Cassiano, Eleutério, Airton, Márcio e Galindo,

Michael, Alexander, Celso e Juliano. Bonfim, 

Vanderlei, Conte e Rafhael Patuto, Jorge,


Amílcar Ênio e Joel Evangelista, Gonzaga, 

Medeiros e Ademar Oduwaldo, Vitório, 

Almir, Guilherme e Denizart. 

Tal qual uma robusta Colmeia 


Ou mesmo uma constelação sensacional

 Todos dignos de uma excelente plateia

 Portadores de uma missão excepcional 

Assim, agradecemos a brilhante ideia.



dezembro 08, 2021

DOS VÍRUS - Heitor Rodrigues Freire



Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, past GM da GLMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande. 

Um termo que acabou se tornando familiar para a grande população mundial, devido à última pandemia, foi “vírus”. Mas o que são esses organismos tão pequenos e tão influentes, que possuem material genético? E, no caso do coronavírus, tão destrutivo, que deixou milhões de famílias sem a presença de seus entes queridos, de uma forma muito arrasadora.

Os vírus são seres muito simples e pequenos, formados basicamente por uma cápsula proteica envolvendo o material genético, que, dependendo da categoria, pode ser o DNA, RNA, ou mesmo os dois juntos. A palavra vírus vem do latim e significa fluído venenoso ou toxina, segundo a Wikipédia.

A chamada “mãe das pandemias”, a gripe espanhola foi uma pandemia provocada por uma mutação do vírus da gripe que levou à morte de mais de 50 milhões de pessoas, afetando grande parte da população do planeta entre os anos de 1918 e 1920, durante a primeira guerra mundial. Ela foi tão fatal que no Brasil daquela época vitimou até o presidente da República, Rodrigues Alves, que veio a falecer. Sabe-se que ela teve origem por uma mutação do vírus Influenza (H1N1), que se espalhou das aves para os humanos.

O coronavírus – que tem esse nome por ter o formato de uma coroa – até hoje matou cerca de 6 milhões de pessoas em todo o mundo, em uma população de 7 bilhões de habitantes.

Esses vírus tão pequenos são visíveis apenas nos microscópios dos laboratórios. Mas são organismos vivos.

Desde os primórdios da humanidade, outros vírus invisíveis, mas tão ou mais deletérios quanto os seres visíveis, permanecem causando dor, sofrimento e morte, sem cessar. Me refiro à atitude tóxica de algumas pessoas. Esses “vírus” metafísicos atuam de forma silenciosa porque emanam dos sentimentos e dos comportamentos das pessoas, como o ódio, a indiferença, a inveja, a maldade, o ciúme etc.

É contra esses vírus que devemos trabalhar para alijá-los dos cenários humanos. E isso só se consegue por meio de uma ação consciente, embasada sobretudo no amor.

De todos os atos do ser humano, há um que destila um veneno mortal: a indiferença. O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.

Uma pessoa indiferente, que cultiva esse sentimento para com os demais, geralmente é fria e desprovida de empatia. Para ela, os sentimentos, o estado e as necessidades dos outros não importam.

Quando alguém de quem uma pessoa gosta lhe é indiferente, isso pode chegar a machucar bastante. Quando isso acontece, é o mesmo que essa pessoa indiferente dizer para a outra “eu não me importo com você”.

Mas há casos em que uma pessoa é indiferente de forma inconsciente, se afastando de suas vivências, uma vez que ela não tem a capacidade de estabelecer conexões com seus semelhantes. Assim, essa pessoa perde o interesse pelos outros e pelo mundo a sua volta.

O ser humano sabe que está tentando viver o que não é real, isto é, a fantasia, a ilusão; por esse motivo desespera-se continuamente. Sabemos que as doenças psicológicas são originadas não na realidade, mas nas ilusões e fantasias que temos que inventar a cada dia para nos sentirmos “confortáveis” e “seguros” diante do mundo. O consumismo é a maior prova dessa não realidade. O grande sofrimento advém da atitude de se tentar permanecer fora da realidade; isso equivale ao esforço de querer destruir o que existe. 

O auto tormento consiste em viver a vida de acordo com a aprovação alheia. A ansiedade que caracteriza a vida moderna, em que se procura a aprovação dos outros para satisfazer um capricho pessoal, também ilusório, acaba provocando uma frustração imensa, cuja dimensão só tende a aumentar. 

A verdadeira felicidade consiste em viver a própria vida. Acredito que não temos condições evolutivas de viver integralmente a plena realidade ou a verdade; portanto, necessitamos temperar a realidade com alguma ilusão, sonho ou fantasia, tal como se tempera uma comida; pois se exagerarmos no tempero, a comida se torna indigesta. Assim, cada indivíduo deveria despertar para o conhecimento; temperar a própria vida para que ela possa ser melhor experimentada e vivida. É procurar viver a vida dentro dos preceitos do amor ao próximo, com que se constrói uma base sólida e durável.

Segundo o dicionário, viver é existir, ter vida, estar com vida, enquanto conviver é ter convivência, ter intimidade, viver com outrem. Pois bem, então convivência é a ação ou o efeito de conviver; é familiaridade, reunião de pessoas que convivem em harmonia.

Não basta a ciência. É preciso consciência. Esse é um conceito que aprendi com meu saudoso Irmão e amigo Aires Gonçalves.

Assim, amigos, vamos, de forma consciente, deletar esse vírus tão destruidor.


Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

O SIGNIFICADO ESOTÉRICO DO NATAL - Thorwald Dethlefsen


Todas as narrativas religiosas, todos os relatos sobre os filhos dos deuses que existem em várias religiões, todos estes relatos religiosos também são mitos. Na Teologia muito se  fala de mitos em relação aos testamentos ou ao cristianismo por duas razões. Primeiro, porque pretende incutir preconceitos contra os mitos como se estes fossem falsos, irreais, e sem compreender que são a verdadeira realidade, a estrutura mais profunda. Segundo, porque insiste em agarrar-se à opinião segundo a qual a importância do cristianismo reside no papel histórico que desempenhou a pessoa chamada Jesus.

Tentemos ser mais abertos para ver o cristianismo sob os parâmetros do mito, não para lhe tirar algo, mas para aproxima-lo a nós e para talvez poder sentir o que esta história pode dizer-nos se não a consideramos apenas sob o olhar do Historiador.

Todos os relatos religiosos, incluindo os do cristianismo, podem ser considerados em princípio a partir de três níveis diferentes. O primeiro é o plano histórico, o segundo o mitológico ou psíquico e o terceiro o nível cósmico. Estes três níveis correspondem à divisão original corpo-alma-espírito. O plano histórico corresponde ao corpo, o mitológico à alma e o cósmico ao espírito. Claro que estes três níveis não se encontram totalmente isolados um do outro, mas estão unidos e interligados por uma analogia ou correspondência vertical..

O nível histórico é o menos interessante se o virmos de forma claramente histórica ou sem relaciona-lo com os outros níveis. "Havia uma vez" já passou de moda, o que queremos dizer com esta frase?. Mas o nível histórico torna-se interessante quando olhamos para os outros dois níveis. É então que compreendemos o que acontece e se manifesta historicamente, que não acontece por acaso no espaço, mas que o curso da história representa uma condensação de leis  de estruturas com validade eterna, de modo que a consideração das correntes históricas recupera sua validade real sempre que as afastamos diretamente de nós.

Permitam-me que introduza um conceito diferente que possa esclarecer. Os acontecimentos religiosos poderiam ser localizados no tema nos dramas religiosos. Tomemos como exemplo um material válido do mundo teatral, o Fausto de Goethe. É um material válido que sempre volta a ser adaptado, encenado. Desta forma, o mesmo material, com as suas próprias afirmações, será sempre encenado de novo. Assim, é adaptado à época em causa, atualmente, por meio de novas produções em que se muda a forma de expressão, o aspecto formal. Por isso, uma representação da obra há cem anos tem variações em relação a uma contemporânea. Ao modernizar a forma de expressão, a reencenação sobre a essência da obra, transmitindo o que, por si só, é secular, independente do tempo, adaptado ao momento em que é representado.

Aquela verdade é sempre válida. A realidade sempre em vigor volta de vez em quando através de um acontecimento histórico no sentido do drama religioso.

O fato de um ser humano definido e concreto percorrer e viver à vista de todos este caminho arquetípico de desenvolvimento da humanidade, permite aos homens de todas as épocas ver como uma representação de uma obra teatral o caminho de consciência que eles próprios têm. Que percorrer, as representações que são as produções dos dramas religiosos que se repetem periodicamente, renovados, enriquecidos e adaptados ao estado de consciência da humanidade da época, adicionando cada vez algo novo, de acordo com a aprendizagem realizada em cada encenação.

Visto isto, talvez valha a pena aproximar-se dos diferentes dramas religiosos. Se não nos preocuparmos sempre com a embalagem, como normalmente acontece com os fanáticos religiosos, que discutem sobre se a caixa deve ser roxa ou verde ou se todos os laços não são iguais, etc.;

Se olhar apenas pela embalagem que envolve uma religião  você vai ter um problema ao abrir o pacote e olhar para dentro das religiões, olhar para além de suas formas, que não são mais do que a expressão, talvez constataríamos com espanto que o conteúdo de todas as religiões é o mesmo. Ensina sempre a mesma sabedoria. É sempre sugerido o mesmo caminho para uma consciência mais elevada, um caminho embalado de diferentes formas de acordo com a cultura da época.

As diferentes invólucros seriam, na nossa visão, as diferentes cenários. E assim a encenação que chamamos de cristã é a mais nova para nós, a mais moderna. Isto pertence ao nível histórico no sentido de uma parábola. E deste ponto de vista vale a pena considerar também o decorrer da história.

Vamos analisar o polo oposto do plano histórico, tão concreto e terreno; o plano espiritual, o plano cósmico. Todos os anos se põe em cena na terra, em termos que o homem pode contemplar, em miniatura, o grandioso acontecer do cosmos.

Os filhos de Deus, entre eles Jesus Cristo, unem o homem a uma constelação que, em análise, representa também o símbolo do que há no meio: o sol.

Para o homem, o sol é a constelação central que dá luz e vida. Este é o significado em essência de um filho de Deus: uma maneira de expressar esse princípio, necessário para o homem, da origem do Espírito em si para manter a luz e a vida. É por isso que não nos surpreende que encontremos uma analogia entre os filhos de Deus e o sol.

Em quase todas as religiões, as comemorações mais importantes, as festas religiosas, são feitas durante as datas em que o sol está em posição determinante no ano. Se olharmos detalhadamente para o percurso do astro, encontramos uma assinatura cósmica. Esta visão pode ser difícil para alguns de vocês. No entanto, tentarei representá-la graficamente e com palavras simples, apesar do vasto conceito.

O Zodíaco é um círculo dividido em 12 segmentos de 30 graus cada, ou seja, totalizando 360 graus, e o sol percorre em um ano o zodíaco, os 360 graus, à razão de aproximadamente 1 Grau a cada dia, que somados são os 365 dias do nosso ano. Através da inclinação entre a elíptica e o Equador terrestre, são dadas as diferentes estações do ano porque se produzem aproximações e distanciamentos da terra em relação ao sol e se dão as relações dia-noite. Assim ocorre no zodíaco uma divisão de 4 pontos determinantes que vocês conhecem por estarem marcados no calendário e que indicam a passagem do sol no seu percurso: o início da primavera, do verão, do outono e do inverno.

A primavera começa em torno de 21 de março, o verão em 21 de junho, o outono em 21 de setembro e o inverno em 21 de dezembro. De acordo com a astronomia e o zodíaco, encontramos 4 PONTOS INDICADOS: o início da primavera é chamado equinócio da primavera (Equinócio quer dizer igual duração do dia e da noite). Este equinócio é apresentado quando o zodíaco se encontra a 0 graus Áries, em torno de 21 de março. Oposto a este ponto, a 180 graus de distância, encontra-se o outro equinócio, o outono. A meio destes pontos, a 90 graus, vê-se outro eixo que representa os 0 graus de Câncer, cerca de 21 de junho, que marcam o início do verão. E, finalmente, contra este ponto, a 180 graus, encontramos os 0 graus Capricórnio ou solstício de inverno. Estes são pontos astronómicos que introduzem as diferentes estações do ano e que se caracterizam pela duração mais igual do dia e da noite no ano nos dois dias que marcam o início dos dois equinócios e os dois dias e noites mais longas em Todo o ano durante os dois dias que indicam o início dos solstícios.

Se seguirmos o percurso do sol entre o ponto de início do outono e o do inverno, assistimos o encurtamento do dia e o alongamento da noite. Isto significa que as forças da luz, as forças do dia, se retiram gradualmente: o dia se e a noite se prolonga.

Se olharmos para o aspecto mitológico, vemos as relações visíveis em mudança, em que as forças da luz vão desaparecendo ajustadas pela escuridão, que começa a dominar e cobrir mais espaço. O dia vai reformar-se.

Quando celebramos o natal, o sol se encontra a 0 graus Capricórnio, no ponto do solstício de inverno, quando as noites se tornaram mais longas e os dias mais curtos. Este é o momento em que o sol se encontra mais afastado da terra em todo o seu percurso anual.

E nesta escuridão máxima, esta noite nasce a luz. Nasce, literalmente, naturalmente. Até esse ponto a noite vinha sendo perseguida, devorada. No Equinócio muda a situação: no momento em que as forças da escuridão parecem ter vencido começa o triunfo da luz. A partir deste ponto começam a aumentar de novo as forças da luz, com o que os dias se alongam e ao as forças da escuridão, diminui a noite, ficando em equilíbrio a duração do dia e da noite.

Os homens de culturas antigas mantiveram um contato mais estreito com as forças da natureza. Festejavam de forma especial as mudanças das estações. Para estas culturas, tinha especial significado o ponto em que, no meio da maior escuridão exterior, nascia a luz e começava o seu curso vitorioso sobre as forças das trevas.

Na véspera de natal, a noite de natal foi celebrada desde sempre como uma noite de consagração. Nas escolas místicas essa noite levava-se aos ainda não aceites, embora preparados. Lá ocorriam os mistérios chamados olhar o sol a meio da noite.

Esta antiga festa, realizada como a noite de consagração por todas as culturas, foi aceita muito tardiamente como a festa do nascimento de Jesus Cristo no século IV, ano 337, sob o papa Julio. Anteriormente, existiam 136 datas diferentes para essa celebração. Crisóstomo escreve 390 anos depois de Cristo o seguinte: neste dia - trata-se de 25 de dezembro - foi recentemente fixado em Roma o nascimento de Cristo para que os cristãos possam celebrar suas festas sem ser incomodados, enquanto os Pagãos estão ocupados nas suas cerimónias. As cerimónias pagãs a que se refere consistiam na celebração do nascimento do sol não vencido e recebiam o nome de bromalia.

Entre o dia de natal e o que hoje celebramos como a festa dos reis magos decorrem 13 dias de natal; é a época mais importante do ano do ponto de vista esotérico.

Algo mais devemos recolher da assinatura do Zodíaco: O Nascimento de Jesus Cristo da Virgem Maria. Este Nascimento realiza-se à meia-noite do dia mais escuro do ano e a noite mais longa. Ao colocar uma linha sobre o eixo do dia em que o sol está a 0 graus Capricórnio (Solstício de inverno à meia-noite), no leste está virgem como ascendente no zodíaco astrológico. Isto significa que, exatamente à meia-noite, se levantava no horizonte do leste a constelação de virgem. Este é o sinal cósmico do nascimento da luz através de uma virgem. O símbolo astrológico para virgem é, se virmos em mais detalhe, um M com um rabo atrás, relacionado com a assinatura de Maria. Isto esclarece a assinatura cósmica e o que significa o nascimento da luz, do portador da luz no período mais escuro do ano.

Temos aqui um símbolo muito importante: realçar a máxima escuridão como o ponto em que nasce a luz. Trata-se de uma referência à antiga polaridade da luz do sol na escuridão que figura no prólogo do Evangelho de s. João: E a luz nas trevas brilha.

A isto sempre se referem os alquimistas como essencial: a verdadeira quinta-essência só se encontra no domínio em que os homens não estão dispostos a olhar porque lhes parece demasiado sujo e escuro. Onde os homens não vão, onde não se querem aproximar nem querem encontrar, lá se encontra o essencial, o que procura a alquimia, o verdadeiro portador da luz. Este é um segredo antiquíssimo; a luz não a encontramos na claridade, mas nas trevas, no ponto mais escuro. Esta é a razão pela qual sempre se relaciona esta temporada do ano com ideias e representações mitológicas.

Talvez possamos seguir um pouco o percurso do sol. Do ponto 0 graus Capricórnio, após o natal o sol migra através de todo o zodíaco Capricórnio. Capricórnio está associado com Saturno. Saturno-Capricórnio são forças inimigas da vida, poder das trevas e da morte que ameaçam mais uma vez o caminho da luz recém-nascida e tentam aniquilá-los. Herodes é a representação bíblica deste facto, é a figura saturnina que tenta aniquilar a criança recém-nascida. São ataques à luz que, como sabemos, não conseguem vence-la.

Continuando, o sol passa 30 dias depois pelo signo de aquário, conhecido em figuras mitológicas como o homem velho ou o anjo que derrama água. No relato cristão é representado com o batismo na figura de João Batista, quem realiza a cerimônia de iniciação e purificação que corresponde a aquário.

Depois o sol entra no zodíaco de peixes, período de jejum desde a quarta-feira de cinzas - significando Carne-Val - pois o carnaval é a época em que não come carne. E quando o sol percorreu os 30 graus de peixes, chega o equinócio da primavera: 0 graus Áries, que se encontra em um ângulo de 90 graus em relação ao eixo de nascimento, o que significa que o Sol chega à encruzilhada do seu próprio nascimento. Esta é a data em que celebramos a páscoa ou a crucificação do portador da luz. Neste ponto o sol e, devidamente o DEUS-Sol, chegam à sua própria cruz e literalmente se crucificam no sentido cósmico.

As analogias continuam a ser apresentadas ao longo do zodíaco em muitos aspectos, mas a maioria só pode ser entendida pelos conhecedores da astrologia. Por exemplo, Áries está relacionado com a cabeça, com o crânio e não é por acaso que a cruz se arvorando no Gólgota, que se traduz como o local dos crânios.

Podemos chamar a atenção para o fato de, no ano cristão, os ritos que indicam o crescimento humano se realizarem em datas fixas do calendário solar. São as mesmas datas todos os anos: 24 de dezembro, o natal ou o nascimento; 1º de Janeiro a circuncisão; 6 de Janeiro os reis magos, entre outros.

Em vez disso, os ritos da morte de Cristo, que completam a polaridade da ressurreição e da ascensão  de acordo com o calendário lunar. Assim celebramos a quarta-feira de cinzas, a Páscoa, a Páscoa, o domingo de ressurreição e Pentecostes. Estas comemorações não têm datas fixas porque são realizadas segundo o calendário lunar.

Estas referências são suficientes para o nível cósmico dos relatos cristãos ou religiosos em geral. Através delas compreendemos melhor que se faz sentido celebrar estas festas conscientemente, porque assim nos colocamos em ressonância com os eternos ritmos cósmicos.

As festas são os pontos que ligam o homem com o que cosmicamente passa no céu. E mais, volta o homem a adaptar-se a estes ritmos do calendário, presenciand-os conscientemente se for incorporada aos grandes ritmos cósmicos.

Agora vamos rever em terceiro lugar o nível mitológico, que se tenha no meio dos dois níveis extremos que temos estudado: por um lado o nível histórico, que compacta a realidade e a torna mais distante e incompreensível, e por outro o nível de os grandes ritmos cósmicos, aos quais nos podemos aproximar facilmente por serem tão gigantescos. Este nível mitológico ou psicológico é para nós o mais importante, o mais próximo. Este nível transfere todos os acontecimentos para a nossa psique, refere-se ao aqui e agora e renuncia à distância histórica e à distância espacial do cosmos.

Sob este ponto de vista, o natal torna-se um rito: o renascer no espírito do nascimento da luz e de Deus em nós. Essencialmente, só aqui pode consequências o natal. Mas o nascimento da luz no homem só pode ser feito quando lá fora há escuridão, ou seja, quando o homem se afasta do mundo exterior. Ocorre um processo anterior que precede a possibilidade de um nascimento da luz (antes que renasça o espírito numa vida humana) em que o mundo exterior se torna insípido e perde os encantos que sempre tem para nós. Queremos alcançar as coisas que nos atraem, e uma vez que as obtemos, tentamos apropriarmos-nas, porque nos parecem atraentes, estimulantes, tornam-nos homens de ação. Depois chega a altura em que estes encantos se desvanecem, quando o exterior perde o seu poder de sedução as coisas tornam-se transparentes, perdem o seu atrativo, não mostram interesse. Este processo chamado também devastatio é sempre um sinal de que o indivíduo se aproxima de uma crise transcendental.

Visto psiquicamente, podemos dizer que só quando o homem está disposto a descer à profundidade da sua alma, quando está disposto a suportar o horror da sua própria sombra, quando se decide a olhar para ela, cipriani, olhar para a sua própria escuridão, as suas trevas, Só então poderá experimentar o nascimento da luz:

E a luz nas trevas brilha.

O Natal acontece em Belém. Em hebraico, bethlehem significa a casa do pão que é o símbolo para o nosso corpo dentro do qual deve acontecer o natal. O nosso corpo é o local exterior para o nascimento, tal como bethlehem representa o lugar exterior do nascimento de Cristo.

Vamos tentar levar isto para a nossa realidade psíquica. Encontrámos a Maria, a mãe virgem que está grávida. A maioria dos filhos de Deus nasceram de uma mãe-Virgem e seus nomes são parentes linguisticamente: a mãe de cidade se chamava myrra; a mãe de Hermes, myrra ou maya; a mãe de Buda, maya e a mãe de Cristo, Maria.

Maria, maya e myrra, têm a mesma raiz linguística: Mare, o mar; Mater, a mãe; matéria, a matéria. Esta base comum quanto à linguística que representam essencialmente as mães dos filhos de Deus. Por um lado está a ligação de Maria com a matéria. A matéria é o exterior visível, onde a luz se encontra. Esta luz é invisível à primeira vista, tal como Maria está presa, escondida em suas entranhas à luz de Cristo, a luz de Deus. Maria é visível mas a luz não. Ou seja, a matéria, o exterior, as formas de expressão são visíveis, enquanto a luz propriamente dita, a que se encontra presa dentro da matéria, não é vista se antes não é libertada.

Podemos levar estas analogias ao mundo físico, quando pensamos nos combustíveis como portadores de energia. Pensemos no elemento carbono: o carvão é exteriormente negro, mas pode ser transmutados em luz ou mesmo em diamante.

Por outro lado, existe uma ligação etimológica entre as palavras água e mar: o mar é água. Na mitologia cristã Maria foi chamada Stella Maris, a estrela do mar. Também encontramos uma ligação entre o manto azul de Maria e as estrelas, relacionado com o azul celeste e o azul do mar. E a cor azul pertence, como símbolo, a uma cor passiva e receptivo.

Todos estes são simbolismos para o início do receptivo, do passivo. É assim que a água, que não tem nada de expansiva, se caracteriza por causar impressão, por ser receptiva. E assim a lua sempre foi a expressão do feminino, do psíquico e receptivo. Se pensarmos nas deusas da lua a que pertence Maria, vemos que nas imagens cristãs maria quase sempre aparece colocada em uma meia lua. Assim chegamos a uma cadeia simbólica significativa: Água - psique - Lua - feminilidade - mãe.

Encontramos no Apocalipse (revelação de são João) que se diz de Maria:

.. E um grande sinal apareceu no céu: uma mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés e sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas. (Apocalipse 12). Esta referência à lua significa, mais uma vez, que a lua é receptiva como corpo astral, não emana energia como o sol mas que a recebe, depende do sol. Desde a antiguidade, é o símbolo do receptivo e, portanto, da psique, da alma. No Homem, a alma, a psique é o elemento impressionável, receptivo, o princípio passivo, feminino, em contraste com o princípio viril, o espírito, que é ativo, doador, emanador.

Então a Maria é a nossa alma. Além disso, insiste que é virgem. Este princípio não é fácil de entender. A Virgindade, o ser imaculado, é um símbolo do eterno, é um símbolo do presente. Vamos ver este conceito através de uma imagem: o voo de uma ave no céu não deixa marcas. Mesmo que voem muitas aves pelo mesmo espaço celestial nunca se mancha, sempre permanece limpo, sempre imaculado. Assim vemos que as pegadas seriam as marcas do passado, que é sempre uma simples impressão. O voo da Ave não deixa nenhuma marca e, portanto, o céu não permite que o passado apareça.

Assim, o céu é sempre o presente, sempre se mantém fresco e novo; não pode ser manchado, é sempre virgem. Isso mesmo acontece na vida real. A vida real e o mundo real são constante presença, nunca passado ou futuro. Tudo o que aconteceu é irreal, como as pegadas das estrelas. Acontece que o céu, onde não há nenhuma marca ou mancha, é o colo virgem de Maria. A Virgindade é a expressão da presença absoluta e, como tal, é um desafio para que libertar o nosso interior das pegadas, para que soltemos o eu (ego), que representa a pegada do passado, com o qual sempre nos identificamos. Todo o tempo durante o qual nos identificamos com o eu, nos impede de nos abrir para receber e ser iluminados pela luz divina.

Nós deixamos a pegada, estamos manchados (com mácula) pelo passado, pela memória; não somos imaculados, virgens, não estamos no aqui e agora.

O desafio para nós é conseguir libertar-nos da ilusão do tempo, libertar-nos das memórias, para se tornar totalmente presente, imaculados, virgens.

Outro requisito fundamental para alcançarmos este objectivo é o nosso foro interno. Deve ser a nossa disposição e disponibilidade para nos abrir ao céu para tornar possível a encarnação de Deus. Ao estar de acordo e de acordo, se a resposta de Maria ao anjo quando este lhe anunciou que receberia um filho, e que foi dito por ela nestas mesmas palavras: Eis a serva do Senhor; faça-se a mim de acordo com a sua palavra.

Esta é uma simples expressão de conformidade, de concordar, de abrir a alma, que é tão difícil de alcançar. Quando o homem aprende a estar conforme, a concordar, a compreender o mantra de que tudo o que é bom, quando aprende a abandonar as suas resistências e a estar conforme, então o homem está preparado e permite que desça esta luz divina e É depositado no seu ser; então estão dadas as condições para o seu renascimento.

Maria é a ilustração da alma, do ser humano, do ser receptivo, como o colo, e do princípio do ser psíquico (a alma)

Há dois encontros do Mestre Místico cristão Eckehart que nos mostram que não temos ao equiparar a Maria com o espírito ou a alma humana. Ele diz: O Pai diz a palavra no ser e, ao nascer o filho, toda alma torna-Se Maria.

Em outra citação expressa: Maria é abençoada não por ter levado Cristo em seu corpo, mas por ter dado à luz no espírito. E nisto cada um pode ser igual a ela.

Ao lado de Maria encontra-Se José de pé, que traduzido literalmente significa: aquele que deve acrescentar. E o José é, significativamente, um carpinteiro, um construtor das formas. Isto faz-nos lembrar o grande construtor dos mundos, sinónimo frequentemente utilizado para denominar o DEUS-Pai. Esse termo é porque Deus-Pai é a expressão do princípio do Espírito, capaz de criar e executar formas. Assim, José o carpinteiro é o representante terrestre e concreto do princípio do Espírito que chamamos de Deus. José é a força criativa do Deus-Criador. Com isto é a expressão do presente, do acontecer terreno.

Também, como é carpinteiro, se relaciona com a madeira, que vem da árvore, tema central da mitologia cristã. A árvore começa a sua história no paraíso como a árvore do conhecimento. E da mesma árvore do conhecimento, se a cruz no Gólgota, obedecendo à mitologia. E José o carpinteiro está ligado a esta árvore, que representa para o cristianismo, um sinal bem determinante.

No meio das figuras de Maria e José está deitado o menino Cristo, aquele menino Deus em torno de quem gira toda esta história. Ele é o princípio divino, o verdadeiro e verdadeiro dentro de nós, a centelha divina, o eu, a luz divina, a logos. Todos estes nomes são diferentes denominações que se dão ao núcleo, à essência que se obtém somente no homem, na sua consciência. Enquanto o homem procurar a sua essência lá fora, no exterior, nunca a encontrará.

Como mencionei antes, Cristo não é um homem, é a expressão de um estado de consciência. Eis o ponto central que nos ocupa: O Nascimento do Cristo perene, da luz perene dentro de nós, do menino-Deus, do nascimento da criança em nós. O menino Cristo quer nascer todos os anos de novo na alma humana, como em Maria, quer renascer como o germe de Deus.

O Nascimento de Jesus aconteceu num estábulo, que provavelmente era uma caverna. Naquela época, a maioria dos estábulos estava em cavernas. Visto esotéricamente é um lugar de iniciação e todas as iniciações da época eram feitas em cavernas. Aqui se esconde outro simbolismo: o evento tem lugar no dia mais escuro do ano e na hora mais escura do dia, à meia-noite e mais ainda, debaixo da terra. Encontramo-nos novamente com a indicação de que a luz verdadeira, o espiritual, o que não é terrestre, só se encontra na profundidade, não acima da superfície. Por isso, muitos filhos de Deus nasceram em cavernas, entre eles, Mitra.

Na Caverna de Belém voltamos a encontrar os quatro reinos da natureza: O Reino mineral, representado pelas rochas, o reino vegetal, pela folhagem e o feno; o reino animal, pela mula e o boi; e o reino humano , por Maria e José.

Se limitamos o significado da caverna e a representamos com formas mais usuais, chama-nos a atenção que hoje em dia todos os nascimentos se fazem representar a manjedoura com estábulos velhos, forma. Se estudamos a casa intacta, não baixo, que é o pólo oposto, podemos entender isto melhor. A habitação do homem que não está deteriorada está relacionada com a realidade psíquica e representa a área do retraimento do homem, o lugar de isolamento onde se retira, se protege, se esconde e esconde seu eu (ego).

Mas um ser que ainda se esconde entre os quatro muros do eu, que fecha bem todos os pontos de entrada para que nada o penetre, onde tudo está bem selado, não pode abrir um lugar para o nascimento de uma divindade. Para que isso aconteça, é preciso que se desmoronar a casa, que se demolido as barreiras, que se desintegrem as formas, que a casa se torne penetrável e receptiva. Este é o verdadeiro significado do estábulo colapso: antes de surgir algo novo, devem beijos as velhas formas, os velhos moldes.

O verdadeiro, o criativo, requer sempre o sacrifício das formas pré-existentes. Se os padrões velhos não forem apagados, não pode surgir nada de novo. Visto da psique humana, primeiro o homem tem que passar pelo caos para depois alcançar novas estruturas. Neste contexto, o estábulo opõe-se ao abrigo, que é uma casa intacta, onde não há lugar para nascer Deus. O Albergue está cheio de desejos, desejos egoístas e impulsos do homem que não deixam espaço para um acontecer divino.

Assim, o estábulo alberga animais inconscientes daqueles que não podem surgir resistências, pois não existe a limitação do raciocínio, da mente. Os três patrões, que representam as funções o pensamento, o sentimento e o querer no seu nível não redimido, não superado, indicam a sua atitude de flanquear a entrada.

Analisemos agora os outros dois grupos de pessoas que se colocam no manjedoura: os três reis magos e os pastores. Ambos vão a caminho da adoração e adoração da criança.

Os três reis magos são sábios, sacerdotes, mágicos, e astrólogos que representam a sabedoria e a dignidade, mas são pagãos, não judeus. Pastores, representantes do campesinato simples, se são judeus. Em conjunto, simbolizam em se a veneração de toda a humanidade, judeus e não judeus, de dignitários e intelectuais e das pessoas mais simples e humildes. Representam, simultaneamente, dois grupos humanos firmados ou, visto de outra forma, as duas forças no ser humano: por um lado, os homens intelectuais e, por outro, os homens de coração.

O nível simbólico clarifica a polaridade. Os três reis magos são três líderes, três homens que são guias, que carregam coroa, a coroa é a expressão dos seus caminhos de iniciação: têm escolas esotéricas, ensinamentos espirituais e esotéricas e, portanto, ganharam e merecido suas coroas São autênticas. A coroa é o símbolo antigo para o reino que adquire o homem através do seu trabalho consciente, é a expressão de que se liga ao reino de cima, que os reis magos ganharam com o seu esforço consciente.

Este Reino é chamado Kether, a coroa, pelos cabalistas e na yoga recebe o nome do Reino das sete folhas ou o lótus das mil pétalas, como chamam ao sétimo chakra ou chakra coroa.

Ao CRIAR a união com as energias superiores, o homem adquire o direito de colocar a coroa, que é uma coroa verdadeira aberta pela parte superior para que as forças superiores entrem. A coroa é a expressão da consciência superior que foi adquirida, como fizeram os três reis magos, e, portanto, não a têm de tirar à frente da criança, em contraste com os pastores, que tiram o que obviamente lhes cobre a Cabeça, bonés e chapéus, que não são coroas.

Os três reis magos dão as costas ao mundo terreno, vivem longe do mundo e aproximam-se das estrelas, que constituem o seu elemento. Estudam as estrelas, o seu percurso, os símbolos que lhes são familiares porque os têm em uma aprendizagem consciente. Estão instruídos na magia. Assim, eles dão a criança frutos do conhecimento, objetos simbólicos como o incenso, ouro e mirra, que são a expressão dos três reinos espirituais (pensar, sentir e querer), expressão também da tríade: corpo, alma e Espírito.

Os pastores são totalmente diferentes. São pessoas simples, que guarda e não são líderes. Eles cuidam de animais inconscientes, por isso guardam o reino inconsciente, da vida simples, ligada à natureza. Os pastores não leram nada sobre as estrelas. Vivem perto da terra. Por vos aprendizagem, não suportam um confronto direto com o espiritual. É por isso que quando aparece o anjo declarando a criança, devem fechar os olhos pelo brilho da sua luz. Nestas condições, quando vão adorar a criança, não lhe oferecem os alimentos do Espírito, mas os da vida: Leite, fruta, lã e um cordeirinho.

Pastores e reis são guiados por sinais muito diferentes: os reis magos por uma estrela, um símbolo abstrato expressão do conhecimento cósmico, que só significa algo para os instruídos na matéria. A estrela só pode conduzir os espiritualmente acordados, só pode revelar um sinal aos homens conscientes. Os pastores aparecem um anjo que fala de símbolos concretos ao dizer-lhes:

E isto tem como sinal: encontrarão uma criança embrulhada em fraldas, deitado numa manjedoura.

Diz-se dos Reis: vieram a venerar e a sacrificar

Diz-se dos pastores: vieram ver o que tinha acontecido lá

O caminho dos três reis magos leva noites desde a véspera de natal até o dia dos Reis. Este é o mesmo caminho dos pastores aos reis: do nível inconsciente ao consciente; do caminho de Jesus-Homem ao de Cristo-Deus.

Voltemos ao significado cósmico: a estrela é uma conjunção de júpiter com Saturno, os dois grandes planetas do nosso sistema solar, que se repete a cada dia de Janeiro. Repete-se um momento importante, um sinal no céu, todos os anos, para que aqueles que estão conscientes possam interpretar este sinal.

Às vezes a estrela desaparece e os reis têm medo de perdê-la. O medo de perdê-la, para depois voltar a encontrá-la, simboliza a luta, a busca do homem pela compreensão. No entanto, pouco antes de atingir o objetivo, eles perdem e têm de reiniciar a sua pesquisa. É aí que vêm os pastores perguntar-lhes: Procuramos a criança, o que pode ser interpretado como: Procuramos o eu superior. E chegam; os homens do coração que guiam o último caminho até ao manjedoura. Este é um belo símbolo que não devemos esquecer: o caminho da mente leva muito longe. Leva à criação da coroa, leva perto da estrela, leva quase até a borda da meta, nunca realmente até a manjedoura, porque para isso, têm que associar todas as forças: as do coração, as inconscientes, as próximas a A natureza, o instinto e as intelectuais.

Encontrar essa luz, encontrar essa luz é a meta e tarefa de cada ser humano. E essa luz só a pode encontrar quando ele próprio se encaminha e quando está disposto a trabalhar para que a sua consciência se torne receptiva e compreenda o acontecer do Natal.

Visto no seu conjunto, percebemos e sentimos que atualmente há muita escuridão no nosso mundo, vemos que há perigo de as forças da luz serem devoradas.

E assim, encontramo-nos também um pouco à frente do Natal, no nosso mundo de hoje, e vemos que, para poder dar uma expressão a esta luz, é preciso que haja sempre mais seres humanos empenhados em realizar o natal no seu foro interno.

dezembro 07, 2021

TRANSMISSÃO DA PALAVRA - ORIGEM - Ir.'. Pedro Juk



O Respeitável Irmão Gercilene Rolim Formiga, Loja José Rodovalho de Alencar, 2.912, REAA, GOB-PB, Oriente de Cajazeiras, Estado da Paraíba, apresenta a questão que segue:

Uma dúvida foi suscitada por um Aprendiz da minha Loja e me comprometi a buscar a resposta. Quando da abertura e fechamento da Loja, por que a Palavra Sagrada é passada apenas entre o Venerável e os Vigilantes?

CONSIDERAÇÕES:

Essa é uma particularidade muito antiga que o Rito Escocês Antigo e Aceito revive no seu simbolismo. A antiguidade não está especificamente na transmissão de uma palavra, senão o ato que o especulativo revive.

No período operativo da Franco-Maçonaria nos canteiros medievais quando do início de uma construção, ou mesmo de uma fase desta, antes dos trabalhos (construção literal) serem iniciados o Mestre da Obra solicitava aos seus ajudantes imediatos, ou wardens (zeladores), atuais Vigilantes, que a obra fosse marcada, nivelada e aprumada nos seus cantos.

Assim os ajudantes imediatos cumpriam a missão marcando os cantos, aprumando-os e nivelando a base. Essas ordens chegavam aos antigos Vigilantes através dos oficiais de chão (hoje os Diáconos). Aprumada e nivelada à obra que seria iniciada, os Vigilantes informavam o Mestre da Obra (atual Venerável) que os serviços estavam justos e perfeitos. O Mestre ao receber essa comunicação dava ordem para que os trabalhos fossem então iniciados.

Obviamente os trabalhos eram executados em um imenso canteiro de obras, por exemplo, a construção de uma catedral, e nesse sentido havia a necessidade de mensageiros para transmitir ordens que eram executadas pelos antigos oficiais de chão.

Ao término de uma etapa da obra, geralmente coincidentes com as datas solsticiais e às vezes equinociais, o Mestre da Obra solicitava através do mensageiro que os Vigilantes (wardens) conferissem o trabalho para o pagamento dos obreiros antes de despedi-los contentes e satisfeitos.

Assim, os Vigilantes mediam e conferiam o prumo e o nível correspondente à etapa concluída e, se tudo estivesse nos conformes, ou justos e perfeitos, o Mestre mandava o Primeiro Vigilante fechar o canteiro, pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos recomendando que os trabalhos recomeçassem após o inverno.

De modo especulativo a Moderna Maçonaria através do Rito Escocês revive simbolicamente essa tradição. Obviamente não existe na atualidade o procedimento operativo já que a matéria prima (pedra calcária) é representada pelo próprio Homem passível de aperfeiçoamento e a construção é simbólica de um Templo à Virtude.

Assim o ato revivido ficou constituído no canteiro simbólico (Loja) por uma palavra que se transmitida de modo correto dá a conotação do “justo e perfeito”, tanto para iniciar os trabalhos como para encerra-los.

Nesse particular o Venerável (antigo Mestre da Obra), os Vigilantes (antigos wardens – zeladores) e os Diáconos (antigos oficiais de chão) protagonizam o ato através da transmissão da Palavra.

Há que se notar que as joias dos Vigilantes continuam sendo representadas pelo Nível e pelo Prumo, assim como é o Primeiro Vigilante que fecha a Loja – ver esses procedimentos no Ritual.

Cabe aqui ainda um particular. Os demais membros do canteiro (Loja) são reconhecidos no Ocidente pelo Sinal que fazem, já que dentre outros esses Sinais também representam o Nível o Prumo e o Esquadro – objetos imprescindíveis para construção de uma obra perfeita e durável.

Finalizando. A questão da Palavra Sagrada está na sua dignidade representativa de lições de ética e moral se transmitida corretamente. Não existe nesse sentido qualquer conotação religiosa para o ato. Afinal os Trabalhos da Loja no Rito em questão somente serão abertos e encerrados se houver a declaração por parte dos Vigilantes que tudo está Justo e Perfeito.

QUESTÃO DA GRAVATA OU A QUESTÃO DE SER OU PARECER - J.M.D.




Antes de tentar desvendar, do ponto de vista simbólico, a questão do uso de gravata, me parece necessário um pouco de história para vê-la um pouco mais claramente e não me confundir em um saco de nós.

A palavra cravate aparece pela primeira vez na França em 1651: designa então uma faixa de pano, que os cavaleiros croatas usavam ao pescoço, e ao mesmo tempo, o cavalo desses cavaleiros que Luís XIII havia chamado para servir em seus exércitos.

Forma francesa do croata, por muito tempo designou na verdade um tipo de cavalo e, por extensão e referência aos cavaleiros croatas, cavaleiro militar ligeiro, usado como mensageiro ou para liderar ataques relâmpago.

Luís XIV instituiu um regimento de "gravatas reais" em que o soldado comum usava um nó simples de linho, enquanto o suboficial tinha direito ao algodão, o oficial à seda e o general a uma fita de renda.

No processo, a gravata passou a designar também o lenço bordado, geralmente de seda, com o qual as bandeiras eram adornadas e, na linguagem dos marinheiros, a corda que envolve um mastro ou uma âncora. Depois, de cânhamo, tornou-se a corda com que penduramos os condenados à morte. Ela também será um instrumento de tortura para a Inquisição.

Ainda por extensão, a partir do século XVIII, a gravata passou a ser emblema de altas patentes de certas ordens, sendo o exemplo mais famoso o Gravata do Comandante da Legião de Honra.

Só no século XVII é que, na França, a gravata passou a designar uma peça de roupa masculina, no caso, uma tira de material flexível, estreita e longa, usada na parte de cima da camisa e amarrada no pescoço enquanto , para as mulheres, a mesma tira de tecido era chamada de lavaliere em homenagem à favorita do rei.

Foi nessa época que se forjaram expressões coloquiais como "atira um último na gravata" "fica por trás da gravata", sem dúvida porque os aristocratas enxugavam a boca com ela, razão pela qual trocaram esse pedaço de lenço várias vezes a dia.

Mais tarde, o empate passa a ser um termo desportivo, nomeadamente o golpe com que, no boxe ou no boxe francês, se dá um pontapé no queixo do adversário.

Claro e você pode imaginar, a gravata se não apareceu na França até o século 17, seu porto é muito mais antigo, encontramos na China usada por soldados chineses no século 3 aC, também a encontramos no Egito em Roma etc ...

Na Europa, a partir do século XVI, para alguns, em reação ao puritanismo luterano, os homens e mais particularmente os da corte, começaram a enriquecer seus trajes a ponto de torná-los extravagantes: bordados, rendas, golas adornadas com pedras preciosas.

Em seguida, usamos jabots de renda da Flandres ou de Veneza que, ao se dissociarem gradualmente da gola, tornam-se um acessório de vestuário completo: nasceu a gravata moderna.

A gravata se tornou uma marca registrada do status social e da riqueza de quem a usava.

Agora nos aproximamos do nosso tempo, no início do século 19, os britânicos inventaram os chamados trajes elegantes que, em última análise, nada mais é do que o traje correto que conhecemos hoje.

 É composto por uma calça, um colete, uma jaqueta e uma camisa cujo colarinho é adornado com uma gravata.

O cânone dessa roupa foi definido por George Bryan BRUMMEL, apelidado de "o namorado" ou o rei da moda.

Por sua simplicidade e conforto, esse traje foi rapidamente adaptado por todas as classes da sociedade inglesa, as pessoas, é verdade, contentaram-se em torná-lo um traje excepcional para ser usado aos domingos ou durante importantes cerimônias de “casamento ou funeral”.

Obviamente, os franceses foram facilmente convencidos por esse estilo de roupa que foi rapidamente adotado pela burguesia.

Foi logo após a Primeira Guerra Mundial que a gravata que conhecemos hoje realmente se concretizou e foi na década de 1920 que ela foi definitivamente decidida.

Depois dessa pequena história que tentei resumir, irei examinar e dar a vocês meu ponto de vista sobre o uso da gravata.

A gravata, do padrão “traje social” definido pela BRUMMELL, não é mais uma peça   decorativa, ornamental ou de realce , passando a fazer parte integrante desta norma.

Assim, mesmo que o terno não inclua mais necessariamente calças, colete e jaqueta combinando e, portanto, do mesmo tecido e da mesma cor, a gravata continua sendo a marca de "terno formal" sem a qual o traje, mesmo relativamente correto , então se torna uma roupa casual esportiva ou de lazer.

No entanto, o terno, tal como definido por esta norma, não é apenas uma roupa dita indumentária correta, ele permaneceu e marca um significante social.

Em alguns casos, além disso, tornou-se um equipamento de pertencimento e representação (uma profissão, uma função, um escritório, uma corporação, uma instituição, um grupo social, um clube, uma ordem)

Notarei, no entanto, que a priori, a gravata é inseparável dos outros elementos "do traje social"; no entanto, pode ser diferente de outras peças para, por exemplo, permanecer dentro da estrutura de um vestido correto, para marcar uma oposição (por exemplo, uma gravata de couro, uma exigência de gravata rosa para homossexuais, uma convicção política (um vermelho   ou gravata verde), também marca a adesão a um clube, torna-se então um sinal de reconhecimento.

Porém, de minha parte, acho que a gravata continua e continua sendo um significante social muito forte, quase aristocrático. Na França, o empate foi um grande burguês para se tornar um burguês e agora um “pequeno burguês”.

Além disso, basta andar todos os dias na cidade para ver que a gravata não é usada por setores inteiros da população, apenas quem quer marcar sua correspondência com uma determinada classe social ou com um determinado ambiente.

É por isso que a gravata, assim como o terno, remete a um status ou reconhecimento.

Um exemplo entre muitos outros. Hoje todos os dias na televisão ou nos mercados das cidades, vemos os candidatos às eleições municipais ou cantonais, exibindo-se com lindos ternos e lindas gravatas de boas marcas mas discretos porque não precisa de nada. Pois bem, vejam, observem, os candidatos que dizem ser de verdadeira esquerda ou os candidatos antiglobalização não usam terno nem gravata, ao não colocarem esses acessórios ditos vestidos, colocam-se diretamente em fase e em relação a eles. de baixo., eles querem marcar sua diferença daqueles acima que detêm e querem manter o poder.

É por isso que, de minha parte, penso que o uso de terno e gravata pode até   constituir um obstáculo, cultural ou psicológico na relação com o outro. Bernard WEBER, observa "não ouvimos mais o que as pessoas dizem, apenas observamos como falam, como ficam ao dizê-lo e se a gravata combina com o lenço do bolso"

Paul COELHO, por sua vez, afirma que "hoje em dia, a gravata tornou-se um símbolo de alienação de poder ou sinal de uma atitude discriminatória".

Porque na verdade a gravata, apresentada como um acessório de moda, não tem uso prático, ao contrário, por exemplo, do cinto, do lenço ou dos suspensórios.

O mesmo vale para o traje elegante. As roupas que vestimos devem nos proteger do frio e do mau tempo, mas também protegem a nossa privacidade. Quando vestimos calça, uma camisa, com um suéter e uma jaqueta, estamos vestidos corretamente e podemos passear tranquilamente pela cidade ou no escritório sem sermos notados. Então, por que um terno e uma gravata?

Eles   são, portanto,   apenas   acessórios que pertencem à forma e não à substância, portanto, repito, o terno e a gravata, que é o seu corolário, existem apenas para marcar uma diferença social ou um status.

Não vou discutir o sistema de consumo em que estamos, e que enfatiza o uso de marcas conhecidas e reconhecidas. Porque hoje não só é preciso vestir um terno elegante com gravata, mas também escolher a marca com cuidado, aquela que vai destacar o seu poder aquisitivo "você tem que estar na moda".

Se a gravata não tem utilidade e é apenas o sinal de pertença, e tudo o que se pretende pertencer, não há contradição entre a tolerância e o universalismo reivindicado pela Maçonaria, e uma prática que, do triplo ponto de vista sociológico, psicológico e cultural, é vivido por muitos como segregação?  

Seria o empate a barreira entre quem detém o poder e quem não detém, pode-se pensar de fato, o interior e o exterior. No entanto, o ritual recomenda que deixemos os metais na porta do templo, lembremo-nos do significado deste pedido.

Os maçons defendem a igualdade dentro e fora dos templos.

Meus irmãos sou diferente com gravata ou sem gravata, pensarei menos ou pensarei melhor? Em um piscar de olhos, se eu usar uma gravata muito apertada, terei menos oxigênio que irrigará meu cérebro e me tornarei menos eficiente em meu pensamento.

Paul COELHO ainda o considera que a única utilidade da gravata é tirá-la assim que chegar em casa para se dar a impressão de que foi libertado de alguma coisa, mas não sabe de quê.

Além disso, observemos que os irmãos imediatamente após o traje tiram a gravata antes de irem à mesa durante as festas.

Eu disse que a gravata era originalmente aristocrática, era um sinal de pertencimento à nobreza. Não podemos presumir então que, se usarmos a gravata, é apenas para nos convencer de que fazemos parte de uma nova elite.

Ouso esperar que quando formos fardados sejamos maçons, se vestirmos terno e gravata não seja para nos comportarmos como o domingo quando vamos à missa, porque se queremos homenagear alguém ou algo em uma igreja, em um templo maçônico não há nada a honrar e principalmente pelo Grande Arquiteto do universo, se ele existe.

Da minha parte, o importante não é usar ou não usar gravata, o importante é dar sentido ao que se faz, o importante é não se esconder atrás do costume, para mim a substância prevalece sobre a forma.

O importante é a assiduidade, o trabalho realizado dentro e fora da pousada e o envolvimento na tentativa de se tornar melhor.

Então, por que usar gravata, ou por que não usar, cabe a todos pensar a respeito e, principalmente, quando encontrar o significado, respeitar a escolha do outro.

Talvez uma pista a seguir, vamos meus irmãos ao final do raciocínio, se eu usar gravata, que isso é apenas um acessório e não um sinal de poder ou reconhecimento social, vamos dar um sentido a isso. Que fazemos, nos tornamos estetas, nos atemos ao gosto e à beleza, usamos a gravata, mas usamos, de cores vivas, de cores extravagantes com originalidade, talvez também com humor, que esta gravata nos torne mais bonitos e mais elegantes, principalmente no grau de aprendiz, nós somos em plena luz,   vivemos um novo nascimento, é uma alegria, e não estamos tristes nem de luto.

Por fim, permita-me este último questionamento: o bom senso popular diz que o vestido não faz o monge, seria o vestido e, portanto, a gravata que faria o pedreiro? Um maçom que não usa gravata no mundo secular, mas apenas de uniforme, seria pedreiro em meio período, do meio-dia à meia-noite, então meus irmãos se perguntam: queremos nos   aproximar do ser ou permanecer no a aparência.

Finalmente, para relaxar essa tábua de nós, uma resposta rápida às perguntas que os homens muitas vezes se perguntam sobre a gravata e, em particular, a de um notário, se, se quando falamos sobre uma gravata todos os homens pensam e imaginam isso, então por que gravata notário , Darei a minha interpretação: os notários muitas vezes têm grandes problemas de reflexão porque é sempre necessário resolver o cerne do problema e, como muitas vezes, não sabemos a que área recorrer, devemos,   portanto, estar sempre entre os dois.


dezembro 06, 2021

AMOR FRATERNAL - Sérgio Quirino



Sérgio Quirino - é o Grão-Mestre - GLMMG 2021/2024

A expressão Amor Fraternal aparece com frequência em diferentes Ritos e Graus. Por isso acabamos por compreender o proposito e a justificativa de determinadas ações e inclinações.

Amor é sentimento de carinho e de afeto entre seres que possuem a capacidade de os demonstrar, de se afetarem entre si.

Não se trata de exclusividade do Ser Humano. Todos nós, de alguma forma, em algum momento compartilhamos carinho e afeto, por exemplo, com um cãozinho.

Entre nós humanos é comum confundir o sentimento do amar imediato por um lado, com o amor fraternal profundo, por outro. A paixão é em si um perigo, por nós claramente combatida em nossos rituais. Ainda que seja aquele fulguroso e romanceado amor súbito e inesperado, mesmo assim, precisamos submetê-lo à razão.

Em determinados momentos “amamos” algo ou alguém de forma obstinada, quase que sacralizada. Embora verdadeiro, este sentimento não é amor, é desejo. Ele se firma na posse e no domínio. No anverso da posse há a necessidade de amar algo ou alguém, que também não é o amor; e sim a carência.

Há ainda outros belos sentimentos que confundimos com amor, como a admiração e a amizade, oriundas do compartilhamento de gostos, afinidades e propósitos. Isto também não é amor.

SERIA O AMOR FRATERNAL EGOCENTRICO E AUTOFÁGICO?

A frase causa impacto pela herança cultural que as palavras carregam consigo. Devemos compreender e agir de forma a que os elogios, lisonjas, essas inclinações contrárias aos princípios da moralidade, não nos afetem. As ações de amor fraternal são espontâneas e sem ganhos pessoais. Seu ganho é a felicidade interna e a saciedade emocional que nos afasta das paixões.

AMOR FRATERNAL É A DEDICAÇÃO AO OUTRO A PONTO DE FAZERMOS SACRIFÍCIOS,

QUE SÓ SERÍAMOS CAPAZES DE FAZÊ-LOS POR NÓS MESMOS.

Do adjetivo fraternal ao substantivo amor, não é para aprender que devemos amar o irmão; e sim para entender que devemos descobrir no Irmão o amor que nos fortalece. Assim se desencadeia um processo de confiança mútua, da procura pelo crescimento em conjunto, da resposta imediata e espontânea do ato-reflexo, do sorrir e ser feliz com a felicidade do Irmão.

A Maçonaria apregoa e defende a necessidade da prática do Amor Fraternal como instrumento de fortalecimento de nossos Laços: “Oh! Quão bom e suave é que os Irmãos vivam unidos”

A cada pedra colocada na construção do Templo material usa-se uma argamassa para uni-las. Na construção do Templo Místico usamos a argamassa do Amor Fraternal, cimento místico que une espíritos a fortalecer sua base horizontal e permitir seu crescimento vertical.

O Amor Fraterno é o principal sentimento que devemos, diária e conscientemente, cultivar entre nós.

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, um legítimo Construtor Social.

Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo. Vamos em Frente!

Fraternalmente


A ASTRONOMIA, UMA DAS 7 CIÊNCIAS LIBERAIS - Marcelo Gavlik Batista da Silva




Ir.'. Marcelo Gavlik Batista da Silva, MM, filiado à ARLS Vale do Jamari n° 38 – GLOMARON.

Introdução

A Astronomia foi um tema muito importante para os nossos antepassados. O seu estudo possibilitou a previsão de eventos que aumentaram consideravelmente as possibilidades de sobrevivência na terra. Com os avanços da tecnologia, nos últimos 300 anos muito se descobriu, mas isto é só a ponta do iceberg, provavelmente, a ponta da ponta.

Este trabalho visa sintetizar alguns conhecimentos modernos da Astronomia e fazer uma referência, como forma de homenagem, ao Astrofísico Stephen Hawking, falecido em 2018.

Astronomia

Os nossos antepassados não sabiam onde estavam, que dia era, quando o frio viria, ou quando as diversas espécies de animais iriam migrar de uma região a outra. De acordo com a Teoria da Evolução das Espécies, quando o hominídeo primitivo desceu das árvores e passou a andar sobre duas pernas, a observação do horizonte e do céu passaram a ser mais frequentes, fator decisivo na identificação de padrões nos astros que “giravam em torno” da Terra.

O sol que sempre “nascia” no Leste e “repousava” no Oeste, a lua, que também percorria os céus com trajetórias diferentes a cada dia, as estrelas que com o passar dos dias ia mudando de lugar, tudo isso passou a ser observado. Na busca por uma explicação, estes fenômenos acabaram dando origem às mais diversas teorias, a maioria delas envolvendo criaturas míticas e deuses.

Todas as civilizações que nos precederam fizeram referências aos astros, tendo o sol maioritariamente o papel principal no regimento da vida, sendo representado pelo Deus principal nas religiões politeístas. Com a evolução da ciência e das tecnologias usadas para o seu estudo, grande parte da mitologia foi explicada por cálculos matemáticos, modelos científicos e teorias muito bem fundamentadas.

Com o conhecimento que temos hoje, muitas teorias podem parecer cômicas, mas dada as condições do tempo na qual foram inventadas, elas são muito bem elaboradas, com ligações entre os astros e eventos que por consequência da ação dos mesmos afeta a nossa vida na Terra. Muitas destas teorias foram consideradas como verdades absolutas e inquestionáveis, inclusive com punições rigorosas contra aqueles que ousassem levantar hipóteses contrárias.

Provavelmente ainda iremos vivenciar descobertas que desconstroem convicções sólidas sobre diversos temas, por isso, reforço a máxima “vamos questionar tudo”, ou “questione a autoridade”. Um exemplo desta situação é a teoria de Aristóteles de que dois objetos A e B, sendo B com massa duas vezes maior que o objeto A, cairia numa velocidade duas vezes maior que este. Hoje sabemos que a ação da gravidade é a mesma nos dois, fazendo ambos caírem com velocidade igual; o que diferencia a velocidade é a resistência do ar. Esta teoria foi dada como verdade por mais de mil anos, sendo que duas pessoas sem graduação científica alguma poderiam simplesmente lançar dois objetos de massas nessa relação e contar o tempo de queda, quebrando a teoria de um dos mais famosos sábios da antiguidade.

Hoje sabemos que moramos na superfície de uma rocha gigante para nós, minúscula para o resto do universo, com a cor azul quando vista de longe (não tão longe assim), que gira em torno de uma bola de fogo gigante (mais uma vez para nós), suspensas no vácuo, presas por uma teia invisível chamada força gravitacional. A nossa rocha possui massa suficiente para que a própria gravidade resulte no movimento de rotação (torque gravitacional), o que dá origem ao dia e à noite, enquanto o movimento de translação dá origem às estações do ano.

A bola de fogo que nos aquece também não está parada, está presa pela força gravitacional do centro da nossa galáxia, que chamamos de Via Láctea, que “amarra” centenas de bilhões de outras bolas de fogo, que olhando ao céu chamamos de estrelas. O nosso sol está a 26 mil anos luz do centro da nossa galáxia, que possui cerca de 100 mil anos luz de diâmetro.

Além da Via Láctea, existem outras centenas de bilhões espalhadas pelo cosmos, cada uma com centenas de bilhões de estrelas, sendo que cerca de 25% delas possuem planetas nas suas órbitas, muitos deles provavelmente contendo água na forma líquida, condição básica para a vida como conhecemos. A busca por vida nesses planetas está apenas engatinhando, mas já foram identificados centenas destes apenas na nossa galáxia, o que torna a existência de alguma forma de vida fora da Terra, ainda que primitiva, altamente possível. Sabemos que já foram identificados microrganismos capazes de resistir à radiação e ao vácuo existente fora da nossa atmosfera, retomando os seus processos biológicos com a adição de água.

Um dos grandes nomes da Astrofísica é Carl Sagan, que dedicou a sua vida ao estudo e à melhoria da didática com que esse conhecimento era repassado à população em geral. Entre as suas contribuições para a humanidade está a série televisiva Cosmos, sendo a sua versão revisada e atualizada apresentada pelo também astrofísico Neil DeGrasse Tyson, e que serviu de base para a elaboração deste trabalho.

Um dos grandes projetos de Carl Sagan foi a sonda Voyager 1, lançada no universo para fora da órbita do Sol contendo um disco rígido com informações sobre a Terra, incluindo sons como o barulho de uma cachoeira, o choro de um bebé, um trecho de uma música de Blues e um mapa cósmico da nossa posição no universo, sendo perfeitamente possível que uma inteligência extraterrestre possa ler esse mapa e nos encontrar. Este mapa inclusive foi visto como perigoso por cientistas renomados como Stephen Hawking, para quem haveria o risco de a Terra ser colonizada por seres hostis aos humanos.

Um dos maiores gênios da era contemporânea foi Stephen Hawking, um cientista britânico amplamente conhecido fora do círculo dos cientistas, talvez por passar anos numa cadeira de roda, respirando por aparelhos e comunicando-se com auxílio de máquinas.

A mente brilhante de Stephen Hawking contribuiu muito para a ciência, apresentando leis mecânicas para os buracos negros, teoremas da singularidade, e aproximadamente duas semanas antes da sua morte, concluiu um trabalho a ser apresentado à comunidade científica que apresenta cálculos matemáticos embasando a sua teoria do multiverso. Uma das suas obras literárias, “Uma nova história do tempo” (2005) deveria ser leitura obrigatória para todos.

Conclusão

A Astronomia, ciência tão importante para a espécie humana desde a antiguidade, encontra nos tempos atuais significativos avanços. A cada dia novas descobertas demonstram que há muito mais para se descobrir além do que se sabe, e graças ao trabalho de astrofísicos modernos como Stephen Hawkings, Carl Sagan e Neil DeGrasse Tyson, um pouco deste conhecimento tornou-se acessível a todos.

A ciência foi e sempre será de extrema importância nas nossas vidas. Quanto mais estudamos, mais vemos quão pequenos e insignificantes somos diante da grandeza do universo. Diante desta grande verdade, que possamos assumir o controle dos nossos egos como seres humanos, e como maçons, possamos refletir sobre aquela premissa básica da nossa Ordem, segundo a qual devemos estar sempre abertos à constante investigação da verdade.

Referências

COSMOS, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO-TEMPO. Ann Druyan e Steven Soter, Cosmos Studios e Fuzzy Door Productions, 2014.

dezembro 05, 2021

A SOLIDARIEDADE MAÇÔNICA - Hugo Schirmer



A Solidariedade Maçônica não consiste, como creem o vulgo e o profano, no amparo incondicional de um Ir∴ ao outro.

Os laços da Fraternidade, quanto ao amparo moral ou material (individual ou coletivo), são oferecidos àqueles que, apesar de praticarem o Bem, sofrem os revezes das vida.

Para os que, trabalhando lícita e honradamente, correm o risco de soçobrar; ou mesmo para os que, tendo fortunas, sentem infelicidade em seu interior e amargas suas almas.

Para estes IIr.’. a Solidariedade Maçônica deverá  e será colocada em prática, pois aí haverá uma causa justa e nobre.

Em nossa iniciação, juramos amar o Próximo como a nós mesmos, cuja máxima representava o compasso sobre o nosso peito, na justa medida para a construção do mundo de Fraternidade Universal.

Juramos ainda defender e socorrer nossos IIr∴; todavia, quando um Ir∴ se desvia da Moral que nos fortifica, ele simplesmente rompe a Solidariedade que nos une.

Estará então em condições notórias de deixar de ser um Ir∴, perdendo todos os direitos ao nosso auxílio material e, principalmente, ao nosso amparo moral.

Há quem defenda que Irmão será sempre Irmão, contudo a própria legislação que rege a Ordem declara sua suspensão desse Direito, sob determinadas circunstâncias. 

Logo, essa Solidariedade não dá guarida à ignorância e ao preconceito.

Em igualdade de circunstâncias, devemos preferir um Ir∴ a um profano; mas nunca devemos fazê-lo se assim cometermos uma injustiça - a cada um, o que é de seu mérito.

Ela não existe para ferir nossa consciência.

Seus ensinamentos nos conduzem a proteger um Ir∴ no que for justo e honesto, mas sem boas e justas razões não devemos favorecê-lo pelo simples fato de ser Ir∴.

Ademais, tal Princípio nos ensina tanto a dar quanto a não pedir sem a justa necessidade.

A Ordem, idealmente, só admite entre os seus membros aqueles que são probos, de caráter ilibado, que tenham a faculdade chamada inteligência e que sejam livres e de bons costumes.

Assim é natural que MM∴ cheguem a posições sociais elevadas, visto se destacarem por suas qualidades pessoais.

Se alguém pretende obter o mesmo, utilizando-se unicamente de um sistema de favorecimento, proteção e acobertamento fazem mal em entrar para o seu seio.

Sua admissão padece de vício insanável, de erro essencial quanto à pessoa.

Para estes casos, nossa Ação Moral, nossos Princípios e Leis hão de serem instrumentos seguros para separarmos o joio do trigo - e ficarmos com o trigo.

A Solidariedade, aliás, não está adstrita aos Ir∴, estende-se a todos os Homens e se materializa não apenas no amparo imediato, mas na educação.

O exercício da Solidariedade, assim, deve pautar-se em duas palavras - tolerância e humildade.

A predominância da Humildade se faz necessária em todas as ações que empreendermos e desenvolvermos, para que o auxílio não se transforme em esmola e enodoe a alma do necessitado.

A Tolerância para com os nossos semelhantes, quer em suas opiniões, quer em suas crenças, impõe-se para garantir a Liberdade e a Justiça.

É pensamento muito bem traduzido por Voltaire: “Discordo de tudo quanto dizes, mas defendo até a morte o direito de dizê-lo.”

Ambas serão, portanto, utilizadas para Educar os que necessitam e, pelo processo dual, nos educarmos.

Ensinar aquilo que realmente sabemos e com isto nos instruir também.

Corrigir e alertar para os erros que atentem quanto à ética e compromissos inerentes à sociedade.

Cabe aqui encerrar com La Fontaine, em trecho do prefácio de “FÁBULAS DE ESOPO”:

...“Antes de sermos obrigados a corrigir nossos maus hábitos, é necessário que nos esforcemos para torná-los bons”...


A ANTIGUIDADE DOS SÍMBOLOS - Ir.’. João Nery Guimarães


A primeira constatação que empolga aquele que se aprofunda na interpretação da liturgia maçônica é a da antiguidade dos seus Símbolos, de suas alegorias.

Remontam as origens dos Símbolos Maçônicos à aurora do homem sobre a Terra. Daí terem alguns observadores apressados concluído que a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o mundo. Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a Franco-Maçonaria, com as suas características atuais, data do século XVIII, ou melhor, do ano de 1717, ponto de partida da Franco-Maçonaria moderna. Foi nesta data que se firmou a preponderância da Franco-Maçonaria especulativa sobre a operativa. Mas, anteriormente à memorável reunião das quatro Lojas franco-maçônicas de Londres, existiam várias Lojas por toda Inglaterra, Alemanha, França e Itália, formada por pedreiros de profissão, reunidos em confrarias, com regulamentos próprios, Sinais de reconhecimento, Símbolos litúrgicos, e se tratando por Irmãos. 

Guardavam ciosamente a sua arte de construir do conhecimento do vulgo ou profanos. A par desses conhecimentos, essas confrarias (Guilds, Brotherhoods, Bruderschaften, Confrèries), constituídas por verdadeiros artistas (foram os construtores das grandes catedrais européias e os criadores da arte gótica), reuniam e conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã, às vezes confundidas com as tradições mais novas do cristianismo. 

Compreende-se, assim, o respeito que os príncipes tiveram por essas corporações de artesãos, às quais dotaram de regalias e privilégios.

Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons, maurerei) foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte também as tradições ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.

Estabeleceu-se, assim, um liame entre a Franco-Maçonaria do século XVIII e a mais remota Antiguidade, que levou os escritores a que nos referimos, a declarar a Franco-Maçonaria coeva da vinda do homem sobre a face da terra. A verdade, contudo, como já dissemos, é um pouco diferente: os legítimos Símbolos Maçônicos é que se perdem na noite dos tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a conhecemos, data de pouco mais de dois séculos, ou por outra, a Instituição é nova e a sua essência antiga.

Tão antigos são os Símbolos adotados e conservados zelosamente pela Franco-Maçonaria, que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum deles é de data posterior ao ano um da era cristã. Tal afirmativa se reveste de tanta importância que o poder     mantê-la compensa todas as pesquisas, todas as vigílias gastas em escavar o dourado veio das tradições antigas.

Existem Símbolos na Franco-Maçonaria, usados desde a fase operativa, cujo significado foi inteiramente estranho aos homens da época, não Iniciados nos Mistérios Maçônicos, quando não foram completamente desconhecidos. 

Pois bem, quando teve o mundo notícia dos descobrimentos arqueológicos verificados no século XIX, constataram os Franco-Maçons que muitos de seus Símbolos figuravam nos objetos encontrados, pertencentes a civilizações já desaparecidas, com as quais os homens haviam perdido todo contato, anteriores ao advento do cristianismo.

É forçoso admitir que os Franco-Maçons não inventaram, por coincidência, tais Símbolos, pois muitos deles tinham o mesmo significado maçônico de hoje. Alguns, por exemplo, são tão evidentes, que não permitem margem a dúvidas. Existiu, portanto, um misterioso fio que preservou a tradição antiga, fio esses que não trepidamos em declarar, o segredo dos Iniciados. 

A Sabedoria Antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre determinado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, pôde, assim, chegar até nós. Só dessa forma compreende-se o mistério que a muitos pareceu indecifrável.

Ensinam a História, a Sociologia e a Literatura que as obras Homéricas foram guardadas pela tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma escrita. O mesmo processo sofreram quase todas as lendas dos primórdios da civilização. Se assim aconteceu em relação a obras literárias e narrativas históricas, porque não sucederia o mesmo com uma tradição iniciática, perpetuada através de Símbolos?

Sobre o poder conservador dos Símbolos, já disse o nosso Irm.: MICHA que "se a verdade sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão sublime que nenhuma ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o simbolismo é por sua vez como uma espécie de revestimento, de meio de conservação ideal dessa verdade e uma linguagem ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação, e que só os Iniciados podem traduzir sem deformar-lhe o sentido."  (A. Micha — "Le Temple de la Veritè ou La Franc-Maçonnerie dans sa Véritable Doctrine", Anvers, 2ª édition, pág. 63).

A longevidade das práticas maçônicas repousa tranquilamente na imutabilidade de seus Símbolos, muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas narrativas.       

E o que é a liturgia senão o conjunto desses Símbolos realizados sob determinada forma em determinadas circunstâncias?

Texto extraído do livro A MAÇONARIA E A LITURGIA — UMA POLIANTÉIA MAÇÔNICA, de João Nery Guimarães.

dezembro 04, 2021

GRANDE ORIENTE UNIDO DO BRASIL (1872/1883) - DIVERGÊNCIA EM 1863


Em maio de 1.863, culminam as divergências e surge o "Grande Oriente do Brasil, ao vale do Lavradio", assim chamado por estar instalado no Palácio Maçônico, situado na rua do Lavradio, e o "Grande Oriente do Brasil, ao vale dos Benedictinos", instalado da rua dos Benedictinos, tendo como Grão Mestre Joaquim Saldanha Marinho (usava o pseudônimo de Ganganelli ).

No dia 13/10/1.871, assume como Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil, no Palácio do Lavradio, Barão do Rio Branco ( José Maria da Silva Paranhos ).

Em abril de 1.872, o clero no Rio de Janeiro, ataca veementemente alguns maçons com posição de destaque na Corte Imperial. A resposta foi imediata, e diante de tal situação, os pertencentes ao "grêmio" do Lavradio, liderados por Barão do Rio Branco, (clerical) e um dos atacados; e os pertencentes ao "grêmio" dos Benedictinos, liderados por Saldanha Marinho (anticlerical). Concordaram e fundiram-se num só corpo, no dia 20/05/1.872, com respectivos Supremos Conselho, desaparecendo ambos para a formação do Grande Oriente Unido do Brasil.

Na primeira eleição para as dignidades, os partidários de cada Grande Oriente desaparecido com a fusão sustentaram o nome de seu antigo Grão Mestre. Venceram os dos Benedictinos.

Visconde do Rio Branco perdendo a primeira eleição, por um voto, e a segunda por 32 votos, declara irrita e nula a fusão com o Grande Oriente do Brasil ao Vale dos Benedictinos, tornando público em 14/09/1.872, passando a existir duas potências novamente. O Grande Oriente do Brasil, do Visconde do Rio Branco, governista e clerical. O Grande Oriente Unido do Brasil, de Saldanha Marinho, liberal e anticlerical.

Faltava ao grande estadista competência para anular uma fusão que já produzira seus efeitos. Assim o julgaram os corpos estrangeiros, consultados sobre o assunto. Com a fusão, haviam desaparecido o Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente dos Benedictinos para com os elementos destes, surgir o Grande Oriente Unido do Brasil.

Fechado o Grande Oriente do Brasil, ao Vale do Lavradio para se proceder a concertos urgentes.

Saldanha Marinho permaneceu no templo dos Benedictinos conservando como corpo legitimo o Grande Oriente Unido do Brasil. O Grande Oriente do Lavradio passou a ser considerado dissidência, até que o enfraquecimento de ambos e a consequente falta de idoneidade chamou à razão os dois corpos.

Em 18 de dezembro de 1.882 as duas potencias aprovam um acordo assinando-o dia 18/01/1883, passando a chamar-se unicamente, Grande Oriente do Brasil.

Fonte: "Livro do Centenário" - Edição 1922, pág. 214