dezembro 11, 2021

SANTO AGOSTINHO - Fonte: Mundo dos Filósofos



Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Agostinho, pela profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação. 

Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Numídia, de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patrício, era pagão, recebido o batismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mônica, pelo contrário, era uma cristã fervorosa, e exercia sobre o filho uma notável influência religiosa. Indo para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente. Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é uma das maiores consequências do pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao maniqueísmo, que atribuía realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal e, por consequência, uma justificação da sua vida. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Milão. Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões de ordem espiritual. 

Entrementes - depois de maduro exame crítico - abandonara o maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatônica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Destarte chegara a uma concepção cristã da vida - no começo do ano 386. Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração do céu, sobreveio a conversão moral e absoluta, no mês de setembro do ano 386. Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do filho e dalguns discípulos, perto de Milão. Aí escreveu seus diálogos filosóficos, e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e eloquência muito contribuíram para a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade. 

Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos vândalos, a 28 de agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade. 

Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são, sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os acadêmicos, Da vida beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a música. Interessam também à filosofia os escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem. 

Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras teológicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religião, As Confissões, A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira. 

*O Pensamento: A Gnosiologia*

Agostinho considera a filosofia praticamente, platonicamente, como solucionadora do problema da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução integral. Todo o seu interesse central está portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida. 

O problema gnosiológico é profundamente sentido por Agostinho, que o resolve, superando o ceticismo acadêmico mediante o iluminismo platônico. Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as ideias platônicas. 

No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as ideias, as espécies, os princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades eternas e as ideias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus. 

*A Metafísica* 

Em relação com esta gnosiologia, e dependente dela, a existência de Deus é provada, fundamentalmente, a priori, enquanto no espírito humano haveria uma presença particular de Deus. Ao lado desta prova a priori, não nega Agostinho as provas a posteriori da existência de Deus, em especial a que se afirma sobre a mudança e a imperfeição de todas as coisas. Quanto à natureza de Deus, Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que era excluído pelo platonismo. Deus é ainda ser, saber, amor. Quanto, enfim, às relações com o mundo, Deus é concebido exatamente como livre criador. 

No pensamento clássico grego, tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento cristão - agostiniano - temos ainda um dualismo, porém moral, pelo pecado dos espíritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo o mundo a Deus. No cristianismo, o mal é, metafisicamente, negação, privação; moralmente, porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante de Deus. O problema que Agostinho tratou, em especial, é o das relações entre Deus e o tempo. Deus não é no tempo, o qual é uma criatura de Deus: o tempo começa com a criação. Antes da criação não há tempo, dependendo o tempo da existência de coisas que vem-a-ser e são, portanto, criadas. 

Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo cristão. Por certo, o corpo não é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo não formam aquela unidade metafísica, substancial, como na concepção aristotélico-tomista, em virtude da doutrina da forma e da matéria. A alma nasce com o indivíduo humano e, absolutamente, é uma específica criatura divina, como todas as demais. 

Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo, isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da alma dos pais. Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade. No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego apetite. 

Quanto à cosmologia, pouco temos a dizer. Como já mais acima se salientou, a natureza não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, preso pelos problemas éticos, religiosos, Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa doutrina dos germes específicos dos seres - rationes seminales. Deus, a princípio, criou alguns seres já completamente realizados; de outros criou as causas que, mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem às existências dos seres específicos. Esta concepção nada tem que ver com o moderno evolucionismo, como alguns erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das espécies, negada pelo moderno evolucionismo. 

*A Moral*  

Evidentemente, a moral agostiniana é teísta e cristã e, logo, transcendente e ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia do prático, da ação - própria do pensamento latino - , contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim último das criaturas, é possuído por um ato de inteligência. A virtude não é uma ordem de razão, hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor. 

Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza. 

A fórmula agostiniana em torno da liberdade em Adão - antes do pecado original - é: poder não pecar; depois do pecado original é: não poder não pecar; nos bem-aventurados será: não poder pecar. A vontade humana, portanto, já é impotente sem a graça. O problema da graça - que tanto preocupa Agostinho - tem, além de um interesse teológico, também um interesse filosófico, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem. Como é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo. 

Quanto à família, Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato superior ao matrimônio; se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Quanto à política, ele tem uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo. 

*O Mal*  

Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal - de que dá uma vasta e viva fenomenologia. Foi também longamente desviado pela solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral. A solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal.

 O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim chamado mal metafísico, que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o lhes é devido por natureza. Quanto ao mal físico, que atinge também a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos afortunada da doutrina agostiniana do mal. 

Quanto ao mal moral, finalmente existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser. Este não-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original e atual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento, físico e moral, além de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. Como se vê, o mal físico tem, deste modo, uma outra explicação mais profunda. 

Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, consequência do pecado, como meio de purificação e expiação. E a explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas consequências - estaria no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitir o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é estética para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral (e físico). 

*A História*  

Como é notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus, e resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade de Deus representa, talvez, o maior monumento da antiguidade cristã e, certamente, a obra prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma visão orgânica e inteligível da história humana. O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência, que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é, por sua vez, necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade. 

O conceito de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do basilar dualismo metafísico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da história, é mister a Redenção, graças aos quais é explicado o enigma da existência do mal no mundo e a sua função. Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus, é representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de seu advento. Contra este cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica, que será absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos. 

Agostinho distingue em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira concerne à história das duas cidades, após o pecado original, até que ficaram confundidas em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação. Na Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus, recolhida e configurada em Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que começa a história da Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. Esta história, pois, fragmentária e dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no fundo, uma unidade e um progresso. 

É o progresso para Cristo, sempre mais claramente, conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado também, a seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam diretamente o caminho. Depois de Cristo cessa a divisão política entre as duas cidades; elas se confundem como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais união caótica, mas configurada na unidade da Igreja. 

Esta não é limitada por nenhuma divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade dos homens e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível, invisivelmente, também às almas de boa vontade que, exteriormente, dela não podem participar. A Igreja transcende, ainda, os confins do mundo terreno, além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto que todos, predestinados e ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja - ainda que só na unidade dialética das duas cidades, para o triunfo da Cidade de Deus - a divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos tempos, depois da morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno. É uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas teológica: é uma teologia, não uma filosofia da história.


dezembro 10, 2021

O AVENTAL DO COMPANHEIRO - Ir.'. Rui Bandeira




Ao contrário do que sucede com o ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceite, o ritual de Companheiro não faz qualquer referência ao avental usado pelos obreiros da oficina do segundo grau.

Os Companheiros podem - como todos os maçons, quaisquer que sejam os seus graus ou qualidades - usar o avental todo branco de Aprendiz maçom. Simplesmente, enquanto os Aprendizes o usam com a aba levantada, pelas razões que aqui expliquei, os Companheiros usam-no com a aba deitada sobre o corpo retangular do artefato
. A necessidade de proteção do Companheiro é já menor, o seu progresso na Arte Real já lhe permite dispensar uma alargada área de proteção. O seu trabalho na moldagem do seu carácter, no aperfeiçoamento de suas qualidades, na luta contra seus defeitos, já lhe permitiu determinar a forma como a sua pedra se integrará no grande templo projetado pelo Grande Arquitecto do Universo, laboriosa e demoradamente edificado pela Humanidade, desde os alvores da Criação. Agora o tempo é de limar as arestas que ainda subsistem, de polir a pedra, de a aparelhar para que cumpra a sua função, não apenas bem, mas de forma bela e agradável, contribuindo não só para a edificação, mas também para a decoração do Templo Colectivo Supremo.

Tenho para mim que, originariamente, a única distinção que, a nível do avental, existia entre Aprendizes e Companheiros era a forma como era posicionada a aba. O avental, em ambos os graus, era o mesmo.

Modernamente, o avental de Companheiro, continuando a ser confeccionado em pele ou tecido de cor branca, de forma retangular e cortado em ângulos rectos nas quatro extremidades, apresenta um debruado estreito, na cor do rito, ao longo das suas extremidades (as quatro linhas delimitadoras da sua forma retangular, mais as duas linhas delimitadoras da aba, formando, em conjunto com a linha superior do avental, um triângulo.

A cor do rito é a vermelha, no Rito Escocês Antigo e Aceite e a azul clara, no rito de York e na sua variante (rito de Webb) em uso nos Estados Unidos. A Maçonaria irlandesa usa a cor verde.

A fina linha colorida delimitadora das extremidades do avental simboliza o estado dos trabalhos do maçom: a sua pedra já tem forma, já é cúbica, o seu trabalho agora é alisá-la, aperfeiçoá-la, desde logo limando as suas arestas.

Na Maçonaria Continental Europeia, o avental de Companheiro acaba por ser o menos usado, apenas durante o tempo em que o maçom permanece no segundo grau.

Um pequeno detalhe importa ter em atenção, para evitar a possibilidade de confusões. Os aventais comumente em uso nas lojas americanas pelos Mestres que não sejam Oficiais da Loja ou Grandes Oficiais é muito semelhante ao avental de Companheiro europeu. Assim, se porventura algum visitante americano comparecer numa loja europeia envergando um avental com linhas de cor estreitas, delimitando as suas extremidades, atenção que, em princípio, não é um Companheiro, é um Mestre Maçom, só que sem ser Oficial de Loja ou Grande Oficial.

Para finalizar, e a título de mera curiosidade: o M do logótipo do Gmail não tem nada a ver com o avental de Companheiro Maçom. É apenas a dita letra desenhada a vermelho num sobrescrito. Não vale a pena imaginar teorias da conspiração...

O MAÇOM CONSTRUTOR SOCIAL - Sidney Godinho


 


Diante da Decisão sobre o futuro de uma Loja, cabe aos iniciados a reflexão que tanto se prega nas sessões:

...A Razão há de sobrepujar a Emoção e os Sentidos”...

Para tal, a velha Dialética, ensinada com temperança e tolerância, é o Único meio para cada um bem decidir e continuar com sua consciência tranquila do dever cumprido.

Lembrar sempre que neste impasse, como nos outros enfrentados em Loja, não existe o vencedor ou o vencido.

Existe a Tese, a Antítese e o Resumo e cada um depreende sua decisão conforme a racionalização que fez durante as discussões.

Ninguém é senhor da verdade absoluta, pois somente é alcançada com a interação de todos. 

No dia de hoje, no impasse do amanhã, se vai ser bom ou não, congrace o irmão ou não com os seus, ao menos o faça com a certeza de seu convencimento e não seja apenas mais um manipulado social, pois você foi Iniciado e como tal tem o dever de ser um elucidado e fazer a diferença.

Concluo com um chavão há muito utilizado e que bem define os incautos que, mesmo tendo a Luz, insistem continuar insípidos quanto a sua participação social:

...”Errar é Humano; Permanecer no Erro é no mínimo comodismo ou falta de Bom Senso”...

Que possa o Grande Arquiteto Iluminar cada um e que suas decisões sejam as mais sábias para que nossa Loja cresça e seja Idônea e que nossas famílias possam bem usufruir do bem de nossas decisões. 

Bom Dia e boas reflexões meus Irmão!!!


dezembro 09, 2021

A ARCÁDIA, O CÁRDIO E OS PRIMÓRDIOS DA INICIAÇÃO -

 


(Extraído de A IDADE DAS LUZES, de Arthur Franco)

Seria Arcádia apenas um mito? Como mito, então, qual seu significado mais original? O que contam os primitivos mitos gregos? Por que tantas referências foram feitas pelos mais variados autores antigos, de Aristóteles a Clemente de Alexandria, de Herodoto a Nicolas Poussin? Conheça o que a própria História tem a falar sobre a mais primitiva Grécia, e a importância capital que ela teve no desenvolvimento de todos os Antigos Mistérios. Penetre no Mundo dos Números Iniciáticos para descobrir o profundo significado da mais perfeita das representações Humanas: o Coração!

A ARCÁDIA HISTÓRICA 

48000 a.C. - A esta época remonta a Arcádia, segundo os estudiosos. Segundo Curtis N. Runnels (Scientific American, março/95), os arcadianos podem ter habitado aquela região, ao centro da península do Peloponeso, há cerca de cinqüenta mil anos atrás, causando, através de milênios de esgotamento dos recursos da terra, uma severa erosão que gerou a terra árida, repleta de arbustos e rochas, que conhecemos atualmente. 

Até o século IV a.C. Arcádia foi a parte mais afastada do Peloponeso, com o dialeto de características mais antigas, os cultos religiosos mais singulares e com a mais primitiva reputação. O dialeto arcaico arcadiano sobreviveu com uma notável semelhança com o dialeto levado por colonos gregos a Chipre cerca de 1200 a.C.. Este dialeto grego os cipriotas continuarão a usar até meados do período clássico (século V a.C.), mantendo a antiga escrita silábica. Os arcadianos - juntamente com os frígios e os egípcios - têm a fama de ser o povo mais antigo do mundo. 

"Os egípcios, antes do reinado do rei Psammetichus, julgavam-se o mais antigo povo da humanidade. Desde que Psammetichus, entretanto, tentou saber quem era realmente a primitiva raça, disseram-lhe que, embora eles ultrapassassem todas as outras nações, os Frígios ultrapassavam-nos em antigüidade." (Herodotus, The History, William Benton Publ., USA, 1952, Book II, 2, p.49) 

Os frígios eram os habitantes da Frígia, localizada ao sul do Mar de Mármara, que une o Mar Negro ao Mar Egeu, numa região atualmente pertencente à Turquia. Na Grécia Antiga, os poetas cantavam a enorme anterioridade dos arcadianos, descrevendo-os como mais velhos do que a Lua. Frígia e Arcádia, na verdade, em linha reta não distam mais que 330 milhas (530 quilômetros), a mesma distância que separa Hamburg de Stuttgart, e mais perto que a distância em linha reta de Paris a Toulouse ou de London a Glasgow. Se a anterioridade dos frígios era reconhecida pelos egípcios, não é de se surpreender a idade dos seus vizinhos arcadianos. 

E os Mistérios de Elêusis, que veremos, em 1800 a.C., retratarem o profundo pitagorismo arcadiano, só perderão em antiguidade para os Mistérios da Samotrácia, uma ilha do mar Egeu a cinquenta milhas de Tróia e a cem milhas da Frígia. 

Se por um lado na Grécia não é discutida a antiguidade de Arcádia, no Egito tampouco, a confiarmos no discurso de Platão, no Timeu, quando o sacerdote egípcio diz a Sólon, referindo-se a Atenas:

"De nossas duas cidades, a mais velha é a vossa, por mil anos, pois recebeu vossa semente de Gaia e Hefaístos. Esta é mais recente. Ora, depois que esta região foi civilizada, escoou-se, mostram nossos escritos sagrados, a cifra de oito mil anos." (Platão, Timeu, Ed. Hemus, São Paulo, 1981, p.72) 

O sacerdote da cidade egípcia de Saís referiu-se a Atenas, a cidade grega regida pela deusa homônima, filha de Hephaestus. Mas Atenas regia também a própria Saís, uma Atenas filha de Neilus, o Egípcio. Daí a anterioridade requerida pelo sacerdote do Nilo. O próprio Heródoto testemunha a origem egípcia das deidades gregas: 

"Quase todos os nomes dos deuses vieram à Grécia a partir do Egito. Minhas pesquisas provam que todos eles eram derivados de uma fonte estrangeira, e minha opinião é que o Egito forneceu o maior número. Pois com a exceção de Netuno e de Dioscûri, e Juno, Vesta, Themis, as Graças e as Nereidas, os outros deuses eram conhecidos desde tempos imemoriais no Egito. Isso eu afirmo na autoridade dos próprios egípcios" (Herodotus, The History, Book II, 50, p.60) 

Já na Grécia, Arcádia era lembrada com anterioridade mesmo na origem dos deuses. E isso não apenas quanto à Lua, que teria vindo após os arcadianos. O próprio Zeus, segundo os antigos gregos, de suas três origens, duas procediam de Arcádia: 

"Um em Arcádia, o filho de Aether, os outros dois [Zeus] sendo filhos de Cronos, um em Creta e outro novamente em Arcádia" (Clement of Alexandria, Exhortation to the Greeks, Harvard University Press, 1953, p.57) 

Apolo, por sua vez, para o qual Aristóteles enumera cinco origens, tem uma delas a partir de Silenius, originando o arcadiano Nomius ou pastor (Clement of Alexandria, op.cit., p.59). 

ARCÁDIA: O OLIMPO ESOTÉRICO OU O CORAÇÃO 

Como veremos mais adiante, em 1656 d.C. Arcádia representa um ideal muito mais profundo que todo panteão olímpico. Enquanto o Olimpo representa a idealização humana de, pretensamente, unir-se a Deus (Zeus) externamente na sua mais pura forma, Arcádia representa a concreção dos "deuses" terrestres, essenciais para esta nossa jornada terrena. 

Iniciaticamente, Arcádia originou o próprio Olimpo. Enquanto o Olimpo se exteriorizava e se poluía nas mãos dos sacerdotes e nas paixões humanas, Arcádia permaneceu pura, original, tal como sua língua e crenças religiosas, mas representando o centro imaculado. 

Por esta razão duas das três origens de Zeus provém de Arcádia. Se ao Olimpo cabe a intelectualidade religiosa, o cérebro, a Arcádia - o inóspito centro do Peloponeso - se deve o coração. Enquanto os gregos - e toda a humanidade - dirigiam-se em massa às figuras externas, às idealizações, ao exotérico, Arcádia lembrava o centro, a origem, o esotérico. 

Como bem abordou Campbell, observando a peregrinação em massa dos hindus para morrerem nas poluídas águas do Ganges: 

"A concepção da peregrinação como um movimento interior, para o centro de nosso próprio coração, está sendo traduzida literalmente, num ato físico. É bom fazer uma peregrinação, desde que, ao fazê-la, você medite sobre o significado deste ato, e saiba que é para dentro, para sua vida interior, que está se encaminhando." (Joseph Campbell, As Transformações do Mito Através do Tempo, Cultrix, S.Paulo, 1992, p.95) 

Todo o segredo dos Augustos Mistérios, da Luz recebida pelos iniciados e do entendimento de Deus depende, basicamente, deste centro cardíaco representado, para os gregos, por Arcádia. Ela representa a terceira etapa nos Mistérios de Elêusis, coroada pela epopteia ou pelo êxtase da compreensão (vide ano 1800 a.C.). É o centro do corpo mental, que está no centro do corpo emocional, que por sua vez está no centro do corpo físico. Todos estes centros se encontram no coração, e lá a luz é dada ao neófito: 

"Daí, parece ter sido demonstrado que os homens organizados para o desenvolvimento de forças superiores não podem dar, aos que não estão dispostos a isto, nenhuma idéia, senão muito vaga, da verdade superior. Assim todas nossas disputas e nossos escritos pouco servem. Os homens deveriam imediatamente ser organizados para a percepção da verdade. Quando nós escrevemos este in-folio, todo sob a luz, os cegos não verão mais claro. Deve-se dar-lhe logo o órgão da visão. Agora, a questão é: Em que consiste o órgão de percepção da verdade? O que é que faz o homem capaz de a receber? Eu respondo: Dentro da simplicidade do coração; pois a simplicidade encontra o coração numa situação conveniente para receber puramente o raio da razão, e aí organiza o coração para a recepção da Luz." (D'Eckhartshausen, La Nuée Sur Le Sanctuaire, Bibliothèque des Amitiés Spirituelles, Paris, 1979, pp.18-19) 

O entendimento dessa Arcádia profunda era tão árido para os gregos como a própria Arcádia. A população de Arcádia, exceto os pastores, emigrava buscando mais oportunidades, especialmente com os jovens cheios de energia.

DE ARCÁDIA A ARCTURUS 

O nome Arcádia advém de Arkades, que em grego significa povo do urso. Segundo a tradição arcadiana, seu povo descendia do deus terrestre Arkas (Urso), que era filho da ninfa Kallisto. Kallisto é conhecida pela denominação de Ursa Maior. A ligação profunda da lenda da Ursa Maior, tão antiga como o mundo, será primordial para entender muitos movimentos posteriores ligados à tradição iniciática. Sua proximidade com a história da tribo de Benjamim é muito grande, como veremos. 

A Ursa Maior teve várias denominações ao longo dos tempos e na história dos vários povos. A ligação com a lenda de Arthur, que veremos adiante, é nítida se observarmos que na língua celta original de Arthur arth significa Ursa, enquanto Arktos - palavra grega que designa Urso - era o antigo nome grego da constelação. O próprio nome original de Arthur - Arthurus - é uma contração de Arth com Ursus. A constelação também teve os nomes de Septem Triones (Sete Bois), Carro de David, Arado, Esquife, Arca de Noé, Hélice e Septarsi (7 sábios, em sânscrito). Ursa, entretanto, foi sua denominação mais comum. 

A história da Arcádia é a história de Arkas, filho de Kallisto. Kallisto era a grande companheira de Artêmis, que muito veremos nas tradições que se seguirão. Artêmis é Diana, a deusa da caça. Kallisto afastou-se do convívio mortal e passou a fazer parte do grupo de ninfas que acompanhavam Artêmis. Zeus, apaixonando-se e desejando ardentemente tê-la, transformou-se na própria Artêmis, aproximou-se e possuiu a moça. Envergonhada, Kallisto refugiou-se no fundo do bosque. Lá deu à luz a Arkas. Kallisto, tentando ocultar o ocorrido, voltou participar do grupo de ninfas que acompanhavam Artêmis. Artêmis, sendo uma deusa e tudo sabendo, percebeu o engodo e transformou a jovem numa grande ursa. Kallisto, então, ficou a vagar pelos bosques de Arcádia. 

Arkas, por seu lado, cresceu ao lado de Zeus e tornou-se um belo e forte caçador. Um dia, passeando pelos bosques de Arcádia, Arkas encontra uma grande Ursa, que o seguia, a qual não sabia ser sua mãe. Ao atirar-lhe uma flecha, Zeus imediatamente transformou Arkas num pequeno urso (a Ursa Menor), o qual, reconhecer sua mãe na Ursa Maior, correu ao seu encontro. 

Finalmente, Zeus os homenageou colocando ambos nas duas próximas constelações do norte Boreal. Esta alegoria mostra bem a grande importância de Arcádia no plano de Zeus. 

Estando representada pelas duas constelações - pela Ursa Maior ARCTOS e pela Ursa Menor ARKAS - Arcádia tem também na próxima constelação do Boiadeiro (Bootes) uma forte ligação com sua lenda. 

Arthur e seus cavaleiros serão uma continuação da sagrada tradição arcadiana. Uma das primeiras indicações deste fato está justamente na constelação de Bootes, a qual teve, na antigüidade, o nome latino de Portidor Ursae ou o Guardador da Ursa de Arcádia. Sua primeira estrela - Alfa de Bootes - chama-se justamente Arcturus! Arcturus traduz-se originalmente por "O Guardião do Urso", ou mais exatamente, "A Cauda do Urso", pois "ouros" quer dizer cauda e "aktos" Urso.

Na mitologia grega, Bootes era filho de Deméter. Seu irmão lhe roubara a herança e, para prover seu sustento, teve que pegar na foice e no arado. Para premiar a Bootes, os deuses colocaram-no, juntamente com seu arado, no céu. O antigo nome da Ursa Maior - Septem Triones ou Sete Bois - deriva daí, pois a Bootes coube Arkas ou Arcádia, a terra da Ursa. 

Esta saga se repetirá milênios depois com a tribo hebraica de Benjamim, que também perderá sua grande herança - Jerusalém - resgatando-a apenas com a conquista das Cruzadas por Godfroi de Bouillon. 

A árida Jerusalém será, então, a Arcádia da Cristandade e dos Judeus. Da mesma forma que Bootes, os arcadianos isolaram-se numa terra muito pouco cobiçada, a menos atraente da Grécia, onde somente os Pastores da Arcádia saberiam valorizá-la. 

Estes fatos serão muito importantes para compreendermos a alegoria do quadro de Poussin, "Les Bergers d'Arcadie" - Os Pastores de Arcádia, e os mistérios ligados a Rennes-le-Château no século XIX ...

COLMEIA ACADÊMICA - Jonilson Bogéa




Através de uma iniciativa corajosa

Oriunda de Irmãos inovadores

Partimos para uma ação auspiciosa

Liderada por Maçons desbravadores.



Algumas personalidades já consagradas

Mestres reconhecidos e de imenso valor

Que impulsionaram grandes jornadas

Deixando um legado de força e vigor.


Homens de fibra e muito exigentes

 Entusiastas, otimistas, exímios comandantes 

 Líderes natos, visionários, inteligentes 

 Construtores de uma nova era, verdadeiros gigantes.


 Uma sensação deveras antagônica 

Tal qual as pedras brancas e pretas

 foi a lembrança de meu nome para compor

a primeira Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras. 


Participar de uma seleção de tamanha grandeza

É motivo de honra para qualquer um

Por isso expresso aqui minha plena certeza

Que os que aqui estão, fogem do senso comum.


 Seguimos alinhados com crescimento 

 Focados na evolução com boa perspectiva 

Comprometidos e edificando conhecimento

 Com os preceitos da Maçonaria Executiva. 


Tomar posse nesta Academia 

 É motivo de imenso contentamento

 Neste ambiente virtual que exala magia

 Deixo aqui meu sincero agradecimento. 


Talentosas figuras, Maçons sensacionais 

 Selecionados por serem fonte de inspiração

 Palestrantes memoráveis, doravante Imortais

 Com um legado marcante de superação. 


Assim citamos: Tupã e Aldino, Kennyo, Izautonio

Bariani e Cassiano, Eleutério, Airton, Márcio e Galindo,

Michael, Alexander, Celso e Juliano. Bonfim, 

Vanderlei, Conte e Rafhael Patuto, Jorge,


Amílcar Ênio e Joel Evangelista, Gonzaga, 

Medeiros e Ademar Oduwaldo, Vitório, 

Almir, Guilherme e Denizart. 

Tal qual uma robusta Colmeia 


Ou mesmo uma constelação sensacional

 Todos dignos de uma excelente plateia

 Portadores de uma missão excepcional 

Assim, agradecemos a brilhante ideia.



dezembro 08, 2021

DOS VÍRUS - Heitor Rodrigues Freire



Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, past GM da GLMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande. 

Um termo que acabou se tornando familiar para a grande população mundial, devido à última pandemia, foi “vírus”. Mas o que são esses organismos tão pequenos e tão influentes, que possuem material genético? E, no caso do coronavírus, tão destrutivo, que deixou milhões de famílias sem a presença de seus entes queridos, de uma forma muito arrasadora.

Os vírus são seres muito simples e pequenos, formados basicamente por uma cápsula proteica envolvendo o material genético, que, dependendo da categoria, pode ser o DNA, RNA, ou mesmo os dois juntos. A palavra vírus vem do latim e significa fluído venenoso ou toxina, segundo a Wikipédia.

A chamada “mãe das pandemias”, a gripe espanhola foi uma pandemia provocada por uma mutação do vírus da gripe que levou à morte de mais de 50 milhões de pessoas, afetando grande parte da população do planeta entre os anos de 1918 e 1920, durante a primeira guerra mundial. Ela foi tão fatal que no Brasil daquela época vitimou até o presidente da República, Rodrigues Alves, que veio a falecer. Sabe-se que ela teve origem por uma mutação do vírus Influenza (H1N1), que se espalhou das aves para os humanos.

O coronavírus – que tem esse nome por ter o formato de uma coroa – até hoje matou cerca de 6 milhões de pessoas em todo o mundo, em uma população de 7 bilhões de habitantes.

Esses vírus tão pequenos são visíveis apenas nos microscópios dos laboratórios. Mas são organismos vivos.

Desde os primórdios da humanidade, outros vírus invisíveis, mas tão ou mais deletérios quanto os seres visíveis, permanecem causando dor, sofrimento e morte, sem cessar. Me refiro à atitude tóxica de algumas pessoas. Esses “vírus” metafísicos atuam de forma silenciosa porque emanam dos sentimentos e dos comportamentos das pessoas, como o ódio, a indiferença, a inveja, a maldade, o ciúme etc.

É contra esses vírus que devemos trabalhar para alijá-los dos cenários humanos. E isso só se consegue por meio de uma ação consciente, embasada sobretudo no amor.

De todos os atos do ser humano, há um que destila um veneno mortal: a indiferença. O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.

Uma pessoa indiferente, que cultiva esse sentimento para com os demais, geralmente é fria e desprovida de empatia. Para ela, os sentimentos, o estado e as necessidades dos outros não importam.

Quando alguém de quem uma pessoa gosta lhe é indiferente, isso pode chegar a machucar bastante. Quando isso acontece, é o mesmo que essa pessoa indiferente dizer para a outra “eu não me importo com você”.

Mas há casos em que uma pessoa é indiferente de forma inconsciente, se afastando de suas vivências, uma vez que ela não tem a capacidade de estabelecer conexões com seus semelhantes. Assim, essa pessoa perde o interesse pelos outros e pelo mundo a sua volta.

O ser humano sabe que está tentando viver o que não é real, isto é, a fantasia, a ilusão; por esse motivo desespera-se continuamente. Sabemos que as doenças psicológicas são originadas não na realidade, mas nas ilusões e fantasias que temos que inventar a cada dia para nos sentirmos “confortáveis” e “seguros” diante do mundo. O consumismo é a maior prova dessa não realidade. O grande sofrimento advém da atitude de se tentar permanecer fora da realidade; isso equivale ao esforço de querer destruir o que existe. 

O auto tormento consiste em viver a vida de acordo com a aprovação alheia. A ansiedade que caracteriza a vida moderna, em que se procura a aprovação dos outros para satisfazer um capricho pessoal, também ilusório, acaba provocando uma frustração imensa, cuja dimensão só tende a aumentar. 

A verdadeira felicidade consiste em viver a própria vida. Acredito que não temos condições evolutivas de viver integralmente a plena realidade ou a verdade; portanto, necessitamos temperar a realidade com alguma ilusão, sonho ou fantasia, tal como se tempera uma comida; pois se exagerarmos no tempero, a comida se torna indigesta. Assim, cada indivíduo deveria despertar para o conhecimento; temperar a própria vida para que ela possa ser melhor experimentada e vivida. É procurar viver a vida dentro dos preceitos do amor ao próximo, com que se constrói uma base sólida e durável.

Segundo o dicionário, viver é existir, ter vida, estar com vida, enquanto conviver é ter convivência, ter intimidade, viver com outrem. Pois bem, então convivência é a ação ou o efeito de conviver; é familiaridade, reunião de pessoas que convivem em harmonia.

Não basta a ciência. É preciso consciência. Esse é um conceito que aprendi com meu saudoso Irmão e amigo Aires Gonçalves.

Assim, amigos, vamos, de forma consciente, deletar esse vírus tão destruidor.


Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

O SIGNIFICADO ESOTÉRICO DO NATAL - Thorwald Dethlefsen


Todas as narrativas religiosas, todos os relatos sobre os filhos dos deuses que existem em várias religiões, todos estes relatos religiosos também são mitos. Na Teologia muito se  fala de mitos em relação aos testamentos ou ao cristianismo por duas razões. Primeiro, porque pretende incutir preconceitos contra os mitos como se estes fossem falsos, irreais, e sem compreender que são a verdadeira realidade, a estrutura mais profunda. Segundo, porque insiste em agarrar-se à opinião segundo a qual a importância do cristianismo reside no papel histórico que desempenhou a pessoa chamada Jesus.

Tentemos ser mais abertos para ver o cristianismo sob os parâmetros do mito, não para lhe tirar algo, mas para aproxima-lo a nós e para talvez poder sentir o que esta história pode dizer-nos se não a consideramos apenas sob o olhar do Historiador.

Todos os relatos religiosos, incluindo os do cristianismo, podem ser considerados em princípio a partir de três níveis diferentes. O primeiro é o plano histórico, o segundo o mitológico ou psíquico e o terceiro o nível cósmico. Estes três níveis correspondem à divisão original corpo-alma-espírito. O plano histórico corresponde ao corpo, o mitológico à alma e o cósmico ao espírito. Claro que estes três níveis não se encontram totalmente isolados um do outro, mas estão unidos e interligados por uma analogia ou correspondência vertical..

O nível histórico é o menos interessante se o virmos de forma claramente histórica ou sem relaciona-lo com os outros níveis. "Havia uma vez" já passou de moda, o que queremos dizer com esta frase?. Mas o nível histórico torna-se interessante quando olhamos para os outros dois níveis. É então que compreendemos o que acontece e se manifesta historicamente, que não acontece por acaso no espaço, mas que o curso da história representa uma condensação de leis  de estruturas com validade eterna, de modo que a consideração das correntes históricas recupera sua validade real sempre que as afastamos diretamente de nós.

Permitam-me que introduza um conceito diferente que possa esclarecer. Os acontecimentos religiosos poderiam ser localizados no tema nos dramas religiosos. Tomemos como exemplo um material válido do mundo teatral, o Fausto de Goethe. É um material válido que sempre volta a ser adaptado, encenado. Desta forma, o mesmo material, com as suas próprias afirmações, será sempre encenado de novo. Assim, é adaptado à época em causa, atualmente, por meio de novas produções em que se muda a forma de expressão, o aspecto formal. Por isso, uma representação da obra há cem anos tem variações em relação a uma contemporânea. Ao modernizar a forma de expressão, a reencenação sobre a essência da obra, transmitindo o que, por si só, é secular, independente do tempo, adaptado ao momento em que é representado.

Aquela verdade é sempre válida. A realidade sempre em vigor volta de vez em quando através de um acontecimento histórico no sentido do drama religioso.

O fato de um ser humano definido e concreto percorrer e viver à vista de todos este caminho arquetípico de desenvolvimento da humanidade, permite aos homens de todas as épocas ver como uma representação de uma obra teatral o caminho de consciência que eles próprios têm. Que percorrer, as representações que são as produções dos dramas religiosos que se repetem periodicamente, renovados, enriquecidos e adaptados ao estado de consciência da humanidade da época, adicionando cada vez algo novo, de acordo com a aprendizagem realizada em cada encenação.

Visto isto, talvez valha a pena aproximar-se dos diferentes dramas religiosos. Se não nos preocuparmos sempre com a embalagem, como normalmente acontece com os fanáticos religiosos, que discutem sobre se a caixa deve ser roxa ou verde ou se todos os laços não são iguais, etc.;

Se olhar apenas pela embalagem que envolve uma religião  você vai ter um problema ao abrir o pacote e olhar para dentro das religiões, olhar para além de suas formas, que não são mais do que a expressão, talvez constataríamos com espanto que o conteúdo de todas as religiões é o mesmo. Ensina sempre a mesma sabedoria. É sempre sugerido o mesmo caminho para uma consciência mais elevada, um caminho embalado de diferentes formas de acordo com a cultura da época.

As diferentes invólucros seriam, na nossa visão, as diferentes cenários. E assim a encenação que chamamos de cristã é a mais nova para nós, a mais moderna. Isto pertence ao nível histórico no sentido de uma parábola. E deste ponto de vista vale a pena considerar também o decorrer da história.

Vamos analisar o polo oposto do plano histórico, tão concreto e terreno; o plano espiritual, o plano cósmico. Todos os anos se põe em cena na terra, em termos que o homem pode contemplar, em miniatura, o grandioso acontecer do cosmos.

Os filhos de Deus, entre eles Jesus Cristo, unem o homem a uma constelação que, em análise, representa também o símbolo do que há no meio: o sol.

Para o homem, o sol é a constelação central que dá luz e vida. Este é o significado em essência de um filho de Deus: uma maneira de expressar esse princípio, necessário para o homem, da origem do Espírito em si para manter a luz e a vida. É por isso que não nos surpreende que encontremos uma analogia entre os filhos de Deus e o sol.

Em quase todas as religiões, as comemorações mais importantes, as festas religiosas, são feitas durante as datas em que o sol está em posição determinante no ano. Se olharmos detalhadamente para o percurso do astro, encontramos uma assinatura cósmica. Esta visão pode ser difícil para alguns de vocês. No entanto, tentarei representá-la graficamente e com palavras simples, apesar do vasto conceito.

O Zodíaco é um círculo dividido em 12 segmentos de 30 graus cada, ou seja, totalizando 360 graus, e o sol percorre em um ano o zodíaco, os 360 graus, à razão de aproximadamente 1 Grau a cada dia, que somados são os 365 dias do nosso ano. Através da inclinação entre a elíptica e o Equador terrestre, são dadas as diferentes estações do ano porque se produzem aproximações e distanciamentos da terra em relação ao sol e se dão as relações dia-noite. Assim ocorre no zodíaco uma divisão de 4 pontos determinantes que vocês conhecem por estarem marcados no calendário e que indicam a passagem do sol no seu percurso: o início da primavera, do verão, do outono e do inverno.

A primavera começa em torno de 21 de março, o verão em 21 de junho, o outono em 21 de setembro e o inverno em 21 de dezembro. De acordo com a astronomia e o zodíaco, encontramos 4 PONTOS INDICADOS: o início da primavera é chamado equinócio da primavera (Equinócio quer dizer igual duração do dia e da noite). Este equinócio é apresentado quando o zodíaco se encontra a 0 graus Áries, em torno de 21 de março. Oposto a este ponto, a 180 graus de distância, encontra-se o outro equinócio, o outono. A meio destes pontos, a 90 graus, vê-se outro eixo que representa os 0 graus de Câncer, cerca de 21 de junho, que marcam o início do verão. E, finalmente, contra este ponto, a 180 graus, encontramos os 0 graus Capricórnio ou solstício de inverno. Estes são pontos astronómicos que introduzem as diferentes estações do ano e que se caracterizam pela duração mais igual do dia e da noite no ano nos dois dias que marcam o início dos dois equinócios e os dois dias e noites mais longas em Todo o ano durante os dois dias que indicam o início dos solstícios.

Se seguirmos o percurso do sol entre o ponto de início do outono e o do inverno, assistimos o encurtamento do dia e o alongamento da noite. Isto significa que as forças da luz, as forças do dia, se retiram gradualmente: o dia se e a noite se prolonga.

Se olharmos para o aspecto mitológico, vemos as relações visíveis em mudança, em que as forças da luz vão desaparecendo ajustadas pela escuridão, que começa a dominar e cobrir mais espaço. O dia vai reformar-se.

Quando celebramos o natal, o sol se encontra a 0 graus Capricórnio, no ponto do solstício de inverno, quando as noites se tornaram mais longas e os dias mais curtos. Este é o momento em que o sol se encontra mais afastado da terra em todo o seu percurso anual.

E nesta escuridão máxima, esta noite nasce a luz. Nasce, literalmente, naturalmente. Até esse ponto a noite vinha sendo perseguida, devorada. No Equinócio muda a situação: no momento em que as forças da escuridão parecem ter vencido começa o triunfo da luz. A partir deste ponto começam a aumentar de novo as forças da luz, com o que os dias se alongam e ao as forças da escuridão, diminui a noite, ficando em equilíbrio a duração do dia e da noite.

Os homens de culturas antigas mantiveram um contato mais estreito com as forças da natureza. Festejavam de forma especial as mudanças das estações. Para estas culturas, tinha especial significado o ponto em que, no meio da maior escuridão exterior, nascia a luz e começava o seu curso vitorioso sobre as forças das trevas.

Na véspera de natal, a noite de natal foi celebrada desde sempre como uma noite de consagração. Nas escolas místicas essa noite levava-se aos ainda não aceites, embora preparados. Lá ocorriam os mistérios chamados olhar o sol a meio da noite.

Esta antiga festa, realizada como a noite de consagração por todas as culturas, foi aceita muito tardiamente como a festa do nascimento de Jesus Cristo no século IV, ano 337, sob o papa Julio. Anteriormente, existiam 136 datas diferentes para essa celebração. Crisóstomo escreve 390 anos depois de Cristo o seguinte: neste dia - trata-se de 25 de dezembro - foi recentemente fixado em Roma o nascimento de Cristo para que os cristãos possam celebrar suas festas sem ser incomodados, enquanto os Pagãos estão ocupados nas suas cerimónias. As cerimónias pagãs a que se refere consistiam na celebração do nascimento do sol não vencido e recebiam o nome de bromalia.

Entre o dia de natal e o que hoje celebramos como a festa dos reis magos decorrem 13 dias de natal; é a época mais importante do ano do ponto de vista esotérico.

Algo mais devemos recolher da assinatura do Zodíaco: O Nascimento de Jesus Cristo da Virgem Maria. Este Nascimento realiza-se à meia-noite do dia mais escuro do ano e a noite mais longa. Ao colocar uma linha sobre o eixo do dia em que o sol está a 0 graus Capricórnio (Solstício de inverno à meia-noite), no leste está virgem como ascendente no zodíaco astrológico. Isto significa que, exatamente à meia-noite, se levantava no horizonte do leste a constelação de virgem. Este é o sinal cósmico do nascimento da luz através de uma virgem. O símbolo astrológico para virgem é, se virmos em mais detalhe, um M com um rabo atrás, relacionado com a assinatura de Maria. Isto esclarece a assinatura cósmica e o que significa o nascimento da luz, do portador da luz no período mais escuro do ano.

Temos aqui um símbolo muito importante: realçar a máxima escuridão como o ponto em que nasce a luz. Trata-se de uma referência à antiga polaridade da luz do sol na escuridão que figura no prólogo do Evangelho de s. João: E a luz nas trevas brilha.

A isto sempre se referem os alquimistas como essencial: a verdadeira quinta-essência só se encontra no domínio em que os homens não estão dispostos a olhar porque lhes parece demasiado sujo e escuro. Onde os homens não vão, onde não se querem aproximar nem querem encontrar, lá se encontra o essencial, o que procura a alquimia, o verdadeiro portador da luz. Este é um segredo antiquíssimo; a luz não a encontramos na claridade, mas nas trevas, no ponto mais escuro. Esta é a razão pela qual sempre se relaciona esta temporada do ano com ideias e representações mitológicas.

Talvez possamos seguir um pouco o percurso do sol. Do ponto 0 graus Capricórnio, após o natal o sol migra através de todo o zodíaco Capricórnio. Capricórnio está associado com Saturno. Saturno-Capricórnio são forças inimigas da vida, poder das trevas e da morte que ameaçam mais uma vez o caminho da luz recém-nascida e tentam aniquilá-los. Herodes é a representação bíblica deste facto, é a figura saturnina que tenta aniquilar a criança recém-nascida. São ataques à luz que, como sabemos, não conseguem vence-la.

Continuando, o sol passa 30 dias depois pelo signo de aquário, conhecido em figuras mitológicas como o homem velho ou o anjo que derrama água. No relato cristão é representado com o batismo na figura de João Batista, quem realiza a cerimônia de iniciação e purificação que corresponde a aquário.

Depois o sol entra no zodíaco de peixes, período de jejum desde a quarta-feira de cinzas - significando Carne-Val - pois o carnaval é a época em que não come carne. E quando o sol percorreu os 30 graus de peixes, chega o equinócio da primavera: 0 graus Áries, que se encontra em um ângulo de 90 graus em relação ao eixo de nascimento, o que significa que o Sol chega à encruzilhada do seu próprio nascimento. Esta é a data em que celebramos a páscoa ou a crucificação do portador da luz. Neste ponto o sol e, devidamente o DEUS-Sol, chegam à sua própria cruz e literalmente se crucificam no sentido cósmico.

As analogias continuam a ser apresentadas ao longo do zodíaco em muitos aspectos, mas a maioria só pode ser entendida pelos conhecedores da astrologia. Por exemplo, Áries está relacionado com a cabeça, com o crânio e não é por acaso que a cruz se arvorando no Gólgota, que se traduz como o local dos crânios.

Podemos chamar a atenção para o fato de, no ano cristão, os ritos que indicam o crescimento humano se realizarem em datas fixas do calendário solar. São as mesmas datas todos os anos: 24 de dezembro, o natal ou o nascimento; 1º de Janeiro a circuncisão; 6 de Janeiro os reis magos, entre outros.

Em vez disso, os ritos da morte de Cristo, que completam a polaridade da ressurreição e da ascensão  de acordo com o calendário lunar. Assim celebramos a quarta-feira de cinzas, a Páscoa, a Páscoa, o domingo de ressurreição e Pentecostes. Estas comemorações não têm datas fixas porque são realizadas segundo o calendário lunar.

Estas referências são suficientes para o nível cósmico dos relatos cristãos ou religiosos em geral. Através delas compreendemos melhor que se faz sentido celebrar estas festas conscientemente, porque assim nos colocamos em ressonância com os eternos ritmos cósmicos.

As festas são os pontos que ligam o homem com o que cosmicamente passa no céu. E mais, volta o homem a adaptar-se a estes ritmos do calendário, presenciand-os conscientemente se for incorporada aos grandes ritmos cósmicos.

Agora vamos rever em terceiro lugar o nível mitológico, que se tenha no meio dos dois níveis extremos que temos estudado: por um lado o nível histórico, que compacta a realidade e a torna mais distante e incompreensível, e por outro o nível de os grandes ritmos cósmicos, aos quais nos podemos aproximar facilmente por serem tão gigantescos. Este nível mitológico ou psicológico é para nós o mais importante, o mais próximo. Este nível transfere todos os acontecimentos para a nossa psique, refere-se ao aqui e agora e renuncia à distância histórica e à distância espacial do cosmos.

Sob este ponto de vista, o natal torna-se um rito: o renascer no espírito do nascimento da luz e de Deus em nós. Essencialmente, só aqui pode consequências o natal. Mas o nascimento da luz no homem só pode ser feito quando lá fora há escuridão, ou seja, quando o homem se afasta do mundo exterior. Ocorre um processo anterior que precede a possibilidade de um nascimento da luz (antes que renasça o espírito numa vida humana) em que o mundo exterior se torna insípido e perde os encantos que sempre tem para nós. Queremos alcançar as coisas que nos atraem, e uma vez que as obtemos, tentamos apropriarmos-nas, porque nos parecem atraentes, estimulantes, tornam-nos homens de ação. Depois chega a altura em que estes encantos se desvanecem, quando o exterior perde o seu poder de sedução as coisas tornam-se transparentes, perdem o seu atrativo, não mostram interesse. Este processo chamado também devastatio é sempre um sinal de que o indivíduo se aproxima de uma crise transcendental.

Visto psiquicamente, podemos dizer que só quando o homem está disposto a descer à profundidade da sua alma, quando está disposto a suportar o horror da sua própria sombra, quando se decide a olhar para ela, cipriani, olhar para a sua própria escuridão, as suas trevas, Só então poderá experimentar o nascimento da luz:

E a luz nas trevas brilha.

O Natal acontece em Belém. Em hebraico, bethlehem significa a casa do pão que é o símbolo para o nosso corpo dentro do qual deve acontecer o natal. O nosso corpo é o local exterior para o nascimento, tal como bethlehem representa o lugar exterior do nascimento de Cristo.

Vamos tentar levar isto para a nossa realidade psíquica. Encontrámos a Maria, a mãe virgem que está grávida. A maioria dos filhos de Deus nasceram de uma mãe-Virgem e seus nomes são parentes linguisticamente: a mãe de cidade se chamava myrra; a mãe de Hermes, myrra ou maya; a mãe de Buda, maya e a mãe de Cristo, Maria.

Maria, maya e myrra, têm a mesma raiz linguística: Mare, o mar; Mater, a mãe; matéria, a matéria. Esta base comum quanto à linguística que representam essencialmente as mães dos filhos de Deus. Por um lado está a ligação de Maria com a matéria. A matéria é o exterior visível, onde a luz se encontra. Esta luz é invisível à primeira vista, tal como Maria está presa, escondida em suas entranhas à luz de Cristo, a luz de Deus. Maria é visível mas a luz não. Ou seja, a matéria, o exterior, as formas de expressão são visíveis, enquanto a luz propriamente dita, a que se encontra presa dentro da matéria, não é vista se antes não é libertada.

Podemos levar estas analogias ao mundo físico, quando pensamos nos combustíveis como portadores de energia. Pensemos no elemento carbono: o carvão é exteriormente negro, mas pode ser transmutados em luz ou mesmo em diamante.

Por outro lado, existe uma ligação etimológica entre as palavras água e mar: o mar é água. Na mitologia cristã Maria foi chamada Stella Maris, a estrela do mar. Também encontramos uma ligação entre o manto azul de Maria e as estrelas, relacionado com o azul celeste e o azul do mar. E a cor azul pertence, como símbolo, a uma cor passiva e receptivo.

Todos estes são simbolismos para o início do receptivo, do passivo. É assim que a água, que não tem nada de expansiva, se caracteriza por causar impressão, por ser receptiva. E assim a lua sempre foi a expressão do feminino, do psíquico e receptivo. Se pensarmos nas deusas da lua a que pertence Maria, vemos que nas imagens cristãs maria quase sempre aparece colocada em uma meia lua. Assim chegamos a uma cadeia simbólica significativa: Água - psique - Lua - feminilidade - mãe.

Encontramos no Apocalipse (revelação de são João) que se diz de Maria:

.. E um grande sinal apareceu no céu: uma mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés e sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas. (Apocalipse 12). Esta referência à lua significa, mais uma vez, que a lua é receptiva como corpo astral, não emana energia como o sol mas que a recebe, depende do sol. Desde a antiguidade, é o símbolo do receptivo e, portanto, da psique, da alma. No Homem, a alma, a psique é o elemento impressionável, receptivo, o princípio passivo, feminino, em contraste com o princípio viril, o espírito, que é ativo, doador, emanador.

Então a Maria é a nossa alma. Além disso, insiste que é virgem. Este princípio não é fácil de entender. A Virgindade, o ser imaculado, é um símbolo do eterno, é um símbolo do presente. Vamos ver este conceito através de uma imagem: o voo de uma ave no céu não deixa marcas. Mesmo que voem muitas aves pelo mesmo espaço celestial nunca se mancha, sempre permanece limpo, sempre imaculado. Assim vemos que as pegadas seriam as marcas do passado, que é sempre uma simples impressão. O voo da Ave não deixa nenhuma marca e, portanto, o céu não permite que o passado apareça.

Assim, o céu é sempre o presente, sempre se mantém fresco e novo; não pode ser manchado, é sempre virgem. Isso mesmo acontece na vida real. A vida real e o mundo real são constante presença, nunca passado ou futuro. Tudo o que aconteceu é irreal, como as pegadas das estrelas. Acontece que o céu, onde não há nenhuma marca ou mancha, é o colo virgem de Maria. A Virgindade é a expressão da presença absoluta e, como tal, é um desafio para que libertar o nosso interior das pegadas, para que soltemos o eu (ego), que representa a pegada do passado, com o qual sempre nos identificamos. Todo o tempo durante o qual nos identificamos com o eu, nos impede de nos abrir para receber e ser iluminados pela luz divina.

Nós deixamos a pegada, estamos manchados (com mácula) pelo passado, pela memória; não somos imaculados, virgens, não estamos no aqui e agora.

O desafio para nós é conseguir libertar-nos da ilusão do tempo, libertar-nos das memórias, para se tornar totalmente presente, imaculados, virgens.

Outro requisito fundamental para alcançarmos este objectivo é o nosso foro interno. Deve ser a nossa disposição e disponibilidade para nos abrir ao céu para tornar possível a encarnação de Deus. Ao estar de acordo e de acordo, se a resposta de Maria ao anjo quando este lhe anunciou que receberia um filho, e que foi dito por ela nestas mesmas palavras: Eis a serva do Senhor; faça-se a mim de acordo com a sua palavra.

Esta é uma simples expressão de conformidade, de concordar, de abrir a alma, que é tão difícil de alcançar. Quando o homem aprende a estar conforme, a concordar, a compreender o mantra de que tudo o que é bom, quando aprende a abandonar as suas resistências e a estar conforme, então o homem está preparado e permite que desça esta luz divina e É depositado no seu ser; então estão dadas as condições para o seu renascimento.

Maria é a ilustração da alma, do ser humano, do ser receptivo, como o colo, e do princípio do ser psíquico (a alma)

Há dois encontros do Mestre Místico cristão Eckehart que nos mostram que não temos ao equiparar a Maria com o espírito ou a alma humana. Ele diz: O Pai diz a palavra no ser e, ao nascer o filho, toda alma torna-Se Maria.

Em outra citação expressa: Maria é abençoada não por ter levado Cristo em seu corpo, mas por ter dado à luz no espírito. E nisto cada um pode ser igual a ela.

Ao lado de Maria encontra-Se José de pé, que traduzido literalmente significa: aquele que deve acrescentar. E o José é, significativamente, um carpinteiro, um construtor das formas. Isto faz-nos lembrar o grande construtor dos mundos, sinónimo frequentemente utilizado para denominar o DEUS-Pai. Esse termo é porque Deus-Pai é a expressão do princípio do Espírito, capaz de criar e executar formas. Assim, José o carpinteiro é o representante terrestre e concreto do princípio do Espírito que chamamos de Deus. José é a força criativa do Deus-Criador. Com isto é a expressão do presente, do acontecer terreno.

Também, como é carpinteiro, se relaciona com a madeira, que vem da árvore, tema central da mitologia cristã. A árvore começa a sua história no paraíso como a árvore do conhecimento. E da mesma árvore do conhecimento, se a cruz no Gólgota, obedecendo à mitologia. E José o carpinteiro está ligado a esta árvore, que representa para o cristianismo, um sinal bem determinante.

No meio das figuras de Maria e José está deitado o menino Cristo, aquele menino Deus em torno de quem gira toda esta história. Ele é o princípio divino, o verdadeiro e verdadeiro dentro de nós, a centelha divina, o eu, a luz divina, a logos. Todos estes nomes são diferentes denominações que se dão ao núcleo, à essência que se obtém somente no homem, na sua consciência. Enquanto o homem procurar a sua essência lá fora, no exterior, nunca a encontrará.

Como mencionei antes, Cristo não é um homem, é a expressão de um estado de consciência. Eis o ponto central que nos ocupa: O Nascimento do Cristo perene, da luz perene dentro de nós, do menino-Deus, do nascimento da criança em nós. O menino Cristo quer nascer todos os anos de novo na alma humana, como em Maria, quer renascer como o germe de Deus.

O Nascimento de Jesus aconteceu num estábulo, que provavelmente era uma caverna. Naquela época, a maioria dos estábulos estava em cavernas. Visto esotéricamente é um lugar de iniciação e todas as iniciações da época eram feitas em cavernas. Aqui se esconde outro simbolismo: o evento tem lugar no dia mais escuro do ano e na hora mais escura do dia, à meia-noite e mais ainda, debaixo da terra. Encontramo-nos novamente com a indicação de que a luz verdadeira, o espiritual, o que não é terrestre, só se encontra na profundidade, não acima da superfície. Por isso, muitos filhos de Deus nasceram em cavernas, entre eles, Mitra.

Na Caverna de Belém voltamos a encontrar os quatro reinos da natureza: O Reino mineral, representado pelas rochas, o reino vegetal, pela folhagem e o feno; o reino animal, pela mula e o boi; e o reino humano , por Maria e José.

Se limitamos o significado da caverna e a representamos com formas mais usuais, chama-nos a atenção que hoje em dia todos os nascimentos se fazem representar a manjedoura com estábulos velhos, forma. Se estudamos a casa intacta, não baixo, que é o pólo oposto, podemos entender isto melhor. A habitação do homem que não está deteriorada está relacionada com a realidade psíquica e representa a área do retraimento do homem, o lugar de isolamento onde se retira, se protege, se esconde e esconde seu eu (ego).

Mas um ser que ainda se esconde entre os quatro muros do eu, que fecha bem todos os pontos de entrada para que nada o penetre, onde tudo está bem selado, não pode abrir um lugar para o nascimento de uma divindade. Para que isso aconteça, é preciso que se desmoronar a casa, que se demolido as barreiras, que se desintegrem as formas, que a casa se torne penetrável e receptiva. Este é o verdadeiro significado do estábulo colapso: antes de surgir algo novo, devem beijos as velhas formas, os velhos moldes.

O verdadeiro, o criativo, requer sempre o sacrifício das formas pré-existentes. Se os padrões velhos não forem apagados, não pode surgir nada de novo. Visto da psique humana, primeiro o homem tem que passar pelo caos para depois alcançar novas estruturas. Neste contexto, o estábulo opõe-se ao abrigo, que é uma casa intacta, onde não há lugar para nascer Deus. O Albergue está cheio de desejos, desejos egoístas e impulsos do homem que não deixam espaço para um acontecer divino.

Assim, o estábulo alberga animais inconscientes daqueles que não podem surgir resistências, pois não existe a limitação do raciocínio, da mente. Os três patrões, que representam as funções o pensamento, o sentimento e o querer no seu nível não redimido, não superado, indicam a sua atitude de flanquear a entrada.

Analisemos agora os outros dois grupos de pessoas que se colocam no manjedoura: os três reis magos e os pastores. Ambos vão a caminho da adoração e adoração da criança.

Os três reis magos são sábios, sacerdotes, mágicos, e astrólogos que representam a sabedoria e a dignidade, mas são pagãos, não judeus. Pastores, representantes do campesinato simples, se são judeus. Em conjunto, simbolizam em se a veneração de toda a humanidade, judeus e não judeus, de dignitários e intelectuais e das pessoas mais simples e humildes. Representam, simultaneamente, dois grupos humanos firmados ou, visto de outra forma, as duas forças no ser humano: por um lado, os homens intelectuais e, por outro, os homens de coração.

O nível simbólico clarifica a polaridade. Os três reis magos são três líderes, três homens que são guias, que carregam coroa, a coroa é a expressão dos seus caminhos de iniciação: têm escolas esotéricas, ensinamentos espirituais e esotéricas e, portanto, ganharam e merecido suas coroas São autênticas. A coroa é o símbolo antigo para o reino que adquire o homem através do seu trabalho consciente, é a expressão de que se liga ao reino de cima, que os reis magos ganharam com o seu esforço consciente.

Este Reino é chamado Kether, a coroa, pelos cabalistas e na yoga recebe o nome do Reino das sete folhas ou o lótus das mil pétalas, como chamam ao sétimo chakra ou chakra coroa.

Ao CRIAR a união com as energias superiores, o homem adquire o direito de colocar a coroa, que é uma coroa verdadeira aberta pela parte superior para que as forças superiores entrem. A coroa é a expressão da consciência superior que foi adquirida, como fizeram os três reis magos, e, portanto, não a têm de tirar à frente da criança, em contraste com os pastores, que tiram o que obviamente lhes cobre a Cabeça, bonés e chapéus, que não são coroas.

Os três reis magos dão as costas ao mundo terreno, vivem longe do mundo e aproximam-se das estrelas, que constituem o seu elemento. Estudam as estrelas, o seu percurso, os símbolos que lhes são familiares porque os têm em uma aprendizagem consciente. Estão instruídos na magia. Assim, eles dão a criança frutos do conhecimento, objetos simbólicos como o incenso, ouro e mirra, que são a expressão dos três reinos espirituais (pensar, sentir e querer), expressão também da tríade: corpo, alma e Espírito.

Os pastores são totalmente diferentes. São pessoas simples, que guarda e não são líderes. Eles cuidam de animais inconscientes, por isso guardam o reino inconsciente, da vida simples, ligada à natureza. Os pastores não leram nada sobre as estrelas. Vivem perto da terra. Por vos aprendizagem, não suportam um confronto direto com o espiritual. É por isso que quando aparece o anjo declarando a criança, devem fechar os olhos pelo brilho da sua luz. Nestas condições, quando vão adorar a criança, não lhe oferecem os alimentos do Espírito, mas os da vida: Leite, fruta, lã e um cordeirinho.

Pastores e reis são guiados por sinais muito diferentes: os reis magos por uma estrela, um símbolo abstrato expressão do conhecimento cósmico, que só significa algo para os instruídos na matéria. A estrela só pode conduzir os espiritualmente acordados, só pode revelar um sinal aos homens conscientes. Os pastores aparecem um anjo que fala de símbolos concretos ao dizer-lhes:

E isto tem como sinal: encontrarão uma criança embrulhada em fraldas, deitado numa manjedoura.

Diz-se dos Reis: vieram a venerar e a sacrificar

Diz-se dos pastores: vieram ver o que tinha acontecido lá

O caminho dos três reis magos leva noites desde a véspera de natal até o dia dos Reis. Este é o mesmo caminho dos pastores aos reis: do nível inconsciente ao consciente; do caminho de Jesus-Homem ao de Cristo-Deus.

Voltemos ao significado cósmico: a estrela é uma conjunção de júpiter com Saturno, os dois grandes planetas do nosso sistema solar, que se repete a cada dia de Janeiro. Repete-se um momento importante, um sinal no céu, todos os anos, para que aqueles que estão conscientes possam interpretar este sinal.

Às vezes a estrela desaparece e os reis têm medo de perdê-la. O medo de perdê-la, para depois voltar a encontrá-la, simboliza a luta, a busca do homem pela compreensão. No entanto, pouco antes de atingir o objetivo, eles perdem e têm de reiniciar a sua pesquisa. É aí que vêm os pastores perguntar-lhes: Procuramos a criança, o que pode ser interpretado como: Procuramos o eu superior. E chegam; os homens do coração que guiam o último caminho até ao manjedoura. Este é um belo símbolo que não devemos esquecer: o caminho da mente leva muito longe. Leva à criação da coroa, leva perto da estrela, leva quase até a borda da meta, nunca realmente até a manjedoura, porque para isso, têm que associar todas as forças: as do coração, as inconscientes, as próximas a A natureza, o instinto e as intelectuais.

Encontrar essa luz, encontrar essa luz é a meta e tarefa de cada ser humano. E essa luz só a pode encontrar quando ele próprio se encaminha e quando está disposto a trabalhar para que a sua consciência se torne receptiva e compreenda o acontecer do Natal.

Visto no seu conjunto, percebemos e sentimos que atualmente há muita escuridão no nosso mundo, vemos que há perigo de as forças da luz serem devoradas.

E assim, encontramo-nos também um pouco à frente do Natal, no nosso mundo de hoje, e vemos que, para poder dar uma expressão a esta luz, é preciso que haja sempre mais seres humanos empenhados em realizar o natal no seu foro interno.

dezembro 07, 2021

TRANSMISSÃO DA PALAVRA - ORIGEM - Ir.'. Pedro Juk



O Respeitável Irmão Gercilene Rolim Formiga, Loja José Rodovalho de Alencar, 2.912, REAA, GOB-PB, Oriente de Cajazeiras, Estado da Paraíba, apresenta a questão que segue:

Uma dúvida foi suscitada por um Aprendiz da minha Loja e me comprometi a buscar a resposta. Quando da abertura e fechamento da Loja, por que a Palavra Sagrada é passada apenas entre o Venerável e os Vigilantes?

CONSIDERAÇÕES:

Essa é uma particularidade muito antiga que o Rito Escocês Antigo e Aceito revive no seu simbolismo. A antiguidade não está especificamente na transmissão de uma palavra, senão o ato que o especulativo revive.

No período operativo da Franco-Maçonaria nos canteiros medievais quando do início de uma construção, ou mesmo de uma fase desta, antes dos trabalhos (construção literal) serem iniciados o Mestre da Obra solicitava aos seus ajudantes imediatos, ou wardens (zeladores), atuais Vigilantes, que a obra fosse marcada, nivelada e aprumada nos seus cantos.

Assim os ajudantes imediatos cumpriam a missão marcando os cantos, aprumando-os e nivelando a base. Essas ordens chegavam aos antigos Vigilantes através dos oficiais de chão (hoje os Diáconos). Aprumada e nivelada à obra que seria iniciada, os Vigilantes informavam o Mestre da Obra (atual Venerável) que os serviços estavam justos e perfeitos. O Mestre ao receber essa comunicação dava ordem para que os trabalhos fossem então iniciados.

Obviamente os trabalhos eram executados em um imenso canteiro de obras, por exemplo, a construção de uma catedral, e nesse sentido havia a necessidade de mensageiros para transmitir ordens que eram executadas pelos antigos oficiais de chão.

Ao término de uma etapa da obra, geralmente coincidentes com as datas solsticiais e às vezes equinociais, o Mestre da Obra solicitava através do mensageiro que os Vigilantes (wardens) conferissem o trabalho para o pagamento dos obreiros antes de despedi-los contentes e satisfeitos.

Assim, os Vigilantes mediam e conferiam o prumo e o nível correspondente à etapa concluída e, se tudo estivesse nos conformes, ou justos e perfeitos, o Mestre mandava o Primeiro Vigilante fechar o canteiro, pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos recomendando que os trabalhos recomeçassem após o inverno.

De modo especulativo a Moderna Maçonaria através do Rito Escocês revive simbolicamente essa tradição. Obviamente não existe na atualidade o procedimento operativo já que a matéria prima (pedra calcária) é representada pelo próprio Homem passível de aperfeiçoamento e a construção é simbólica de um Templo à Virtude.

Assim o ato revivido ficou constituído no canteiro simbólico (Loja) por uma palavra que se transmitida de modo correto dá a conotação do “justo e perfeito”, tanto para iniciar os trabalhos como para encerra-los.

Nesse particular o Venerável (antigo Mestre da Obra), os Vigilantes (antigos wardens – zeladores) e os Diáconos (antigos oficiais de chão) protagonizam o ato através da transmissão da Palavra.

Há que se notar que as joias dos Vigilantes continuam sendo representadas pelo Nível e pelo Prumo, assim como é o Primeiro Vigilante que fecha a Loja – ver esses procedimentos no Ritual.

Cabe aqui ainda um particular. Os demais membros do canteiro (Loja) são reconhecidos no Ocidente pelo Sinal que fazem, já que dentre outros esses Sinais também representam o Nível o Prumo e o Esquadro – objetos imprescindíveis para construção de uma obra perfeita e durável.

Finalizando. A questão da Palavra Sagrada está na sua dignidade representativa de lições de ética e moral se transmitida corretamente. Não existe nesse sentido qualquer conotação religiosa para o ato. Afinal os Trabalhos da Loja no Rito em questão somente serão abertos e encerrados se houver a declaração por parte dos Vigilantes que tudo está Justo e Perfeito.

QUESTÃO DA GRAVATA OU A QUESTÃO DE SER OU PARECER - J.M.D.




Antes de tentar desvendar, do ponto de vista simbólico, a questão do uso de gravata, me parece necessário um pouco de história para vê-la um pouco mais claramente e não me confundir em um saco de nós.

A palavra cravate aparece pela primeira vez na França em 1651: designa então uma faixa de pano, que os cavaleiros croatas usavam ao pescoço, e ao mesmo tempo, o cavalo desses cavaleiros que Luís XIII havia chamado para servir em seus exércitos.

Forma francesa do croata, por muito tempo designou na verdade um tipo de cavalo e, por extensão e referência aos cavaleiros croatas, cavaleiro militar ligeiro, usado como mensageiro ou para liderar ataques relâmpago.

Luís XIV instituiu um regimento de "gravatas reais" em que o soldado comum usava um nó simples de linho, enquanto o suboficial tinha direito ao algodão, o oficial à seda e o general a uma fita de renda.

No processo, a gravata passou a designar também o lenço bordado, geralmente de seda, com o qual as bandeiras eram adornadas e, na linguagem dos marinheiros, a corda que envolve um mastro ou uma âncora. Depois, de cânhamo, tornou-se a corda com que penduramos os condenados à morte. Ela também será um instrumento de tortura para a Inquisição.

Ainda por extensão, a partir do século XVIII, a gravata passou a ser emblema de altas patentes de certas ordens, sendo o exemplo mais famoso o Gravata do Comandante da Legião de Honra.

Só no século XVII é que, na França, a gravata passou a designar uma peça de roupa masculina, no caso, uma tira de material flexível, estreita e longa, usada na parte de cima da camisa e amarrada no pescoço enquanto , para as mulheres, a mesma tira de tecido era chamada de lavaliere em homenagem à favorita do rei.

Foi nessa época que se forjaram expressões coloquiais como "atira um último na gravata" "fica por trás da gravata", sem dúvida porque os aristocratas enxugavam a boca com ela, razão pela qual trocaram esse pedaço de lenço várias vezes a dia.

Mais tarde, o empate passa a ser um termo desportivo, nomeadamente o golpe com que, no boxe ou no boxe francês, se dá um pontapé no queixo do adversário.

Claro e você pode imaginar, a gravata se não apareceu na França até o século 17, seu porto é muito mais antigo, encontramos na China usada por soldados chineses no século 3 aC, também a encontramos no Egito em Roma etc ...

Na Europa, a partir do século XVI, para alguns, em reação ao puritanismo luterano, os homens e mais particularmente os da corte, começaram a enriquecer seus trajes a ponto de torná-los extravagantes: bordados, rendas, golas adornadas com pedras preciosas.

Em seguida, usamos jabots de renda da Flandres ou de Veneza que, ao se dissociarem gradualmente da gola, tornam-se um acessório de vestuário completo: nasceu a gravata moderna.

A gravata se tornou uma marca registrada do status social e da riqueza de quem a usava.

Agora nos aproximamos do nosso tempo, no início do século 19, os britânicos inventaram os chamados trajes elegantes que, em última análise, nada mais é do que o traje correto que conhecemos hoje.

 É composto por uma calça, um colete, uma jaqueta e uma camisa cujo colarinho é adornado com uma gravata.

O cânone dessa roupa foi definido por George Bryan BRUMMEL, apelidado de "o namorado" ou o rei da moda.

Por sua simplicidade e conforto, esse traje foi rapidamente adaptado por todas as classes da sociedade inglesa, as pessoas, é verdade, contentaram-se em torná-lo um traje excepcional para ser usado aos domingos ou durante importantes cerimônias de “casamento ou funeral”.

Obviamente, os franceses foram facilmente convencidos por esse estilo de roupa que foi rapidamente adotado pela burguesia.

Foi logo após a Primeira Guerra Mundial que a gravata que conhecemos hoje realmente se concretizou e foi na década de 1920 que ela foi definitivamente decidida.

Depois dessa pequena história que tentei resumir, irei examinar e dar a vocês meu ponto de vista sobre o uso da gravata.

A gravata, do padrão “traje social” definido pela BRUMMELL, não é mais uma peça   decorativa, ornamental ou de realce , passando a fazer parte integrante desta norma.

Assim, mesmo que o terno não inclua mais necessariamente calças, colete e jaqueta combinando e, portanto, do mesmo tecido e da mesma cor, a gravata continua sendo a marca de "terno formal" sem a qual o traje, mesmo relativamente correto , então se torna uma roupa casual esportiva ou de lazer.

No entanto, o terno, tal como definido por esta norma, não é apenas uma roupa dita indumentária correta, ele permaneceu e marca um significante social.

Em alguns casos, além disso, tornou-se um equipamento de pertencimento e representação (uma profissão, uma função, um escritório, uma corporação, uma instituição, um grupo social, um clube, uma ordem)

Notarei, no entanto, que a priori, a gravata é inseparável dos outros elementos "do traje social"; no entanto, pode ser diferente de outras peças para, por exemplo, permanecer dentro da estrutura de um vestido correto, para marcar uma oposição (por exemplo, uma gravata de couro, uma exigência de gravata rosa para homossexuais, uma convicção política (um vermelho   ou gravata verde), também marca a adesão a um clube, torna-se então um sinal de reconhecimento.

Porém, de minha parte, acho que a gravata continua e continua sendo um significante social muito forte, quase aristocrático. Na França, o empate foi um grande burguês para se tornar um burguês e agora um “pequeno burguês”.

Além disso, basta andar todos os dias na cidade para ver que a gravata não é usada por setores inteiros da população, apenas quem quer marcar sua correspondência com uma determinada classe social ou com um determinado ambiente.

É por isso que a gravata, assim como o terno, remete a um status ou reconhecimento.

Um exemplo entre muitos outros. Hoje todos os dias na televisão ou nos mercados das cidades, vemos os candidatos às eleições municipais ou cantonais, exibindo-se com lindos ternos e lindas gravatas de boas marcas mas discretos porque não precisa de nada. Pois bem, vejam, observem, os candidatos que dizem ser de verdadeira esquerda ou os candidatos antiglobalização não usam terno nem gravata, ao não colocarem esses acessórios ditos vestidos, colocam-se diretamente em fase e em relação a eles. de baixo., eles querem marcar sua diferença daqueles acima que detêm e querem manter o poder.

É por isso que, de minha parte, penso que o uso de terno e gravata pode até   constituir um obstáculo, cultural ou psicológico na relação com o outro. Bernard WEBER, observa "não ouvimos mais o que as pessoas dizem, apenas observamos como falam, como ficam ao dizê-lo e se a gravata combina com o lenço do bolso"

Paul COELHO, por sua vez, afirma que "hoje em dia, a gravata tornou-se um símbolo de alienação de poder ou sinal de uma atitude discriminatória".

Porque na verdade a gravata, apresentada como um acessório de moda, não tem uso prático, ao contrário, por exemplo, do cinto, do lenço ou dos suspensórios.

O mesmo vale para o traje elegante. As roupas que vestimos devem nos proteger do frio e do mau tempo, mas também protegem a nossa privacidade. Quando vestimos calça, uma camisa, com um suéter e uma jaqueta, estamos vestidos corretamente e podemos passear tranquilamente pela cidade ou no escritório sem sermos notados. Então, por que um terno e uma gravata?

Eles   são, portanto,   apenas   acessórios que pertencem à forma e não à substância, portanto, repito, o terno e a gravata, que é o seu corolário, existem apenas para marcar uma diferença social ou um status.

Não vou discutir o sistema de consumo em que estamos, e que enfatiza o uso de marcas conhecidas e reconhecidas. Porque hoje não só é preciso vestir um terno elegante com gravata, mas também escolher a marca com cuidado, aquela que vai destacar o seu poder aquisitivo "você tem que estar na moda".

Se a gravata não tem utilidade e é apenas o sinal de pertença, e tudo o que se pretende pertencer, não há contradição entre a tolerância e o universalismo reivindicado pela Maçonaria, e uma prática que, do triplo ponto de vista sociológico, psicológico e cultural, é vivido por muitos como segregação?  

Seria o empate a barreira entre quem detém o poder e quem não detém, pode-se pensar de fato, o interior e o exterior. No entanto, o ritual recomenda que deixemos os metais na porta do templo, lembremo-nos do significado deste pedido.

Os maçons defendem a igualdade dentro e fora dos templos.

Meus irmãos sou diferente com gravata ou sem gravata, pensarei menos ou pensarei melhor? Em um piscar de olhos, se eu usar uma gravata muito apertada, terei menos oxigênio que irrigará meu cérebro e me tornarei menos eficiente em meu pensamento.

Paul COELHO ainda o considera que a única utilidade da gravata é tirá-la assim que chegar em casa para se dar a impressão de que foi libertado de alguma coisa, mas não sabe de quê.

Além disso, observemos que os irmãos imediatamente após o traje tiram a gravata antes de irem à mesa durante as festas.

Eu disse que a gravata era originalmente aristocrática, era um sinal de pertencimento à nobreza. Não podemos presumir então que, se usarmos a gravata, é apenas para nos convencer de que fazemos parte de uma nova elite.

Ouso esperar que quando formos fardados sejamos maçons, se vestirmos terno e gravata não seja para nos comportarmos como o domingo quando vamos à missa, porque se queremos homenagear alguém ou algo em uma igreja, em um templo maçônico não há nada a honrar e principalmente pelo Grande Arquiteto do universo, se ele existe.

Da minha parte, o importante não é usar ou não usar gravata, o importante é dar sentido ao que se faz, o importante é não se esconder atrás do costume, para mim a substância prevalece sobre a forma.

O importante é a assiduidade, o trabalho realizado dentro e fora da pousada e o envolvimento na tentativa de se tornar melhor.

Então, por que usar gravata, ou por que não usar, cabe a todos pensar a respeito e, principalmente, quando encontrar o significado, respeitar a escolha do outro.

Talvez uma pista a seguir, vamos meus irmãos ao final do raciocínio, se eu usar gravata, que isso é apenas um acessório e não um sinal de poder ou reconhecimento social, vamos dar um sentido a isso. Que fazemos, nos tornamos estetas, nos atemos ao gosto e à beleza, usamos a gravata, mas usamos, de cores vivas, de cores extravagantes com originalidade, talvez também com humor, que esta gravata nos torne mais bonitos e mais elegantes, principalmente no grau de aprendiz, nós somos em plena luz,   vivemos um novo nascimento, é uma alegria, e não estamos tristes nem de luto.

Por fim, permita-me este último questionamento: o bom senso popular diz que o vestido não faz o monge, seria o vestido e, portanto, a gravata que faria o pedreiro? Um maçom que não usa gravata no mundo secular, mas apenas de uniforme, seria pedreiro em meio período, do meio-dia à meia-noite, então meus irmãos se perguntam: queremos nos   aproximar do ser ou permanecer no a aparência.

Finalmente, para relaxar essa tábua de nós, uma resposta rápida às perguntas que os homens muitas vezes se perguntam sobre a gravata e, em particular, a de um notário, se, se quando falamos sobre uma gravata todos os homens pensam e imaginam isso, então por que gravata notário , Darei a minha interpretação: os notários muitas vezes têm grandes problemas de reflexão porque é sempre necessário resolver o cerne do problema e, como muitas vezes, não sabemos a que área recorrer, devemos,   portanto, estar sempre entre os dois.