janeiro 02, 2022

O EMPIRISMO - FRANCIS BACON - Fonte: Mundo dos Filósofos.



O iniciador do empirismo é Francis Bacon. Enalteceu ele a experiência e o método dedutivo de tal modo, que o transcendente e a razão acabam por desaparecer na sombra. Falta-lhe, no entanto, a consciência crítica do empirismo, que foram aos poucos conquistando os seus sucessores e discípulos até Hume. Ademais, Bacon continua afirmando - mais ou menos logicamente - o mundo transcendente e cristão; antes, continua a considerar a filosofia como esclarecedora da essência da realidade, das formas, sustentáculo e causa dos fenômenos sensíveis. É uma posição filosófica que apela para a metafísica tradicional, grega e escolástica, aristotélica e tomista. Entretanto, acontece em Bacon o que aconteceu a muitos pensadores da Renascença, e o que acontecerá a muitos outros pensadores do empirismo e do racionalismo: isto é, a metafísica tradicional persiste neles todos histórica e praticamente ao lado da nova filosofia, tanto mais quanto esta é menos elaborada, acabada e consciente de si mesma. 

Vida e Obras

 Francis Bacon nasceu no dia 22 de janeiro de 1561 na York House, Londres, residência de seu pai sir Nicholas Bacon, que nos primeiros vinte anos do reinado de Elizabeth tinha sido o Guardião do Sinete. "A fama do pai", diz Maucaulay, "foi ofuscada pela do filh". Mas sir Nicholas não era um homem comum." A mãe de Bacon foi lady Anne Cooke, cunhada de sir William Cecil, lorde Burghley, que foi tesoureiro-mor de Elizabeth e um dos homens mais poderosos da Inglaterra. O pai dela tinha sido o tutor-chefe do rei Eduardo VI; ela mesma era lingüista e teóloga, e não tinha dificuldade em se corresponder em grego com bispos. Tornou-se instrutora do filho e não poupou esforços para que ele tivesse instrução. Bacon freqüentou a Universidade de Cambridge, e viveu também em Paris. Começou a sua carreira de homem político e jurista, antes sob a rainha Isabel, e, depois, sob Jaime I, subindo até aos mais altos cargos: advogado geral em 1613, membro do Conselho particular em 1616, chanceler do reino em 1618. Foi agraciado por Jaime I com os títulos de Barão de Verulamo e Visconde de S. Albano. Entretanto foi acusado de concussão e condenado pelo Parlamento a uma multa avultuada. Perdoado pelo rei, retirou-se para as suas terras, dedicando-se inteiramente aos estudos. Faleceu em 1626. Teve uma inteligência muito esclarecida, convencido da sua missão de cientista, segundo o espírito positivo e prático da mentalidade anglo-saxônia. 

 A obra principal de Bacon é a Instauratio magna scientiarum, vasta síntese que deveria ter compreendido seis grandes partes. Mas terminou apenas duas, deixando sobre o resto esboços e fragmentos. As duas partes acabadas são precisamente: I - De dignitate et argumentis scientiarum; II - Novum organum scientiarum. Como se vê pelos títulos, e mais ainda pelo conteúdo, trata-se de pesquisas gnosiológicas, críticas e metodológicas, para lançar as bases lógicas da nova ciência, da nova filosofia, que deveria dar ao homem o domínio da realidade. 

Os Ensaios

 Sua ascensão parecia tornar realidade os sonhos de Platão de um rei-filósofo. Porque, passo a passo com a sua subida para o poder político, Bacon estivera escalando os píncaros da filosofia. É quase inacreditável que o imenso saber e as realizações literárias desse homem fossem apenas os incidentes e as digressões de uma turbulenta carreira política. Era seu lema que se vivia melhor na vida oculta - bene vixit qui bene latuit. Não conseguia chegar a uma conclusão sobre se gostava mais da vida contemplativa ou da ativa. Sua esperança era de ser filósofo e estadista, também, como Sêneca; embora desconfiasse de que essa dupla direção de sua vida fosse encurtar o seu alcance e reduzir suas realizações. "É difícil dizer", escreve ele, e "se a mistura de contemplações com uma vida ativa ou o retiro inteiramente dedicado a contemplações é o que mais incapacita ou prejudica a ment." Achava que os estudos não podiam ser um fim ou a sabedoria por si sós, e que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica. "Dedicar-se em demasia aos estudos é indolência; usá-los em demasia como ornamento é afetação; fazer julgamentos seguindo inteiramente suas regras é o capricho de um scholar. (...) Os homens astutos condenam os estudos, os homens simples os admiram, e os homens sábios se utilizam deles, obtida graças à observação." Eis uma nova nota que marca o fim da escolástica - isto é, o divórcio entre o conhecimento e o uso e a observação - e coloca aquela ênfase na experiência e nos resultados que distingue a filosofia inglesa, e culmina no pragmatismo. Não que Bacon tivesse, por um instante, deixado de amar os livros e a meditação; em palavras que lembram Sócrates, ele escreve: "sem filosofia, não quero viver", e descreve a si mesmo como, afinal de contas, "um homem naturalmente mais propenso à literatura do que a qualquer outra coisa, e levado por algum destino, contra a inclinação de seu gênio" (isto é caráter), "a vida ativa". Quase que a sua primeira publicação recebeu o título de O Elogio do Conhecimento (1592); o entusiasmo do trabalho pela filosofia nos obriga a uma citação. 

 "Meu elogio será dedicado à própria mente. A mente é o homem, e o conhecimento é a mente; um homem é apenas aquilo que ele sabe. (...) Não são os prazeres das afeições maiores do que os prazeres dos sentidos, e não são os prazeres do intelecto maiores do que os prazeres das afeições? Não se trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer do qual não há saciedade? Não é só esse conhecimento que livra a mente de todas as perturbações? Quantas coisas existem que imaginamos não existirem? Quantas coisas estimamos e valorizamos mais do que são? Essas vãs imaginações, essas avaliações desproporcionadas, são as nuvens do erro que se transformam nas tempestades das perturbações. Existirá, então, felicidade igual à possibilidade da mente do homem elevar-se acima da confusão das coisas de onde ele possa ter uma atenção especial para com a ordem da natureza e o erro dos homens? De contentamento e não de benefício? Será que não devemos perceber tanto a riqueza do armazém da natureza quanto a beleza de sua loja? Será estéril a verdade? Não poderemos, através dela, produzir efeitos dignos e dotar a vida do homem com uma infinidade de coisas úteis?" 

 Sua mais bela produção literária, os Ensaios (1597-1623), mostram-no ainda indeciso entre dois amores, a política e a filosofia. No Ensaio sobre a Honra e a Reputação, ele dá todos os graus de honra a realizações políticas e militares, nenhum a literárias e filosóficas. Mas no ensaio Da Verdade, ele escreve: "A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas." Nos livros, "conversamos com os sábios, como na ação conversamos com tolos". Isto é, se soubermos escolher os nossos livros. "Certos livros são para serem provados", outros para serem engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos"; todos esses grupos formam, sem dúvida, uma porção infinitesimal dos oceanos e cataratas de tinta nos quais o mundo é diariamente banhado, envenenado e afogado. 

 Não há dúvida de que os Ensaios devem ser incluídos entre os poucos livros que merecem ser mastigados e digeridos. Raramente se encontrará uma refeição tão substanciosa, tão admiravelmente preparada e temperada, em um prato tão pequeno. Bacon abomina os recheios e detesta desperdiçar uma palavra; ele nos oferece uma infinita riqueza numa pequena frase; cada um desses ensaios fornece, em uma ou duas páginas, a destilada sutileza de uma mente de mestre sobre um importante aspecto da vida. É difícil dizer o que é mais excelente, se a matéria ou o estilo; porque ali se acha uma linguagem de tão alta qualidade na prosa quanto é a de Shakespeare em verso. É um estilo como o do vigoroso Tácito, compacto mas refinado; e na verdade uma parte de sua concisão se deve a uma habilidosa adaptação do idioma e do frasear latinos. Mas a sua riqueza no que se refere a metáforas é caracteristicamente elizabetana e reflete a exuberância da Renascença; nenhum homem, na literatura inglesa, é tão fértil em comparações significativas e substanciosas. A excessiva sucessão dessas comparações constitui o único defeito do estilo de Bacon: as intermináveis metáforas, alegorias e alusões caem como chicotes sobre os nossos nervos e acabam por nos exaurir. Os Ensaios são como um alimento rico e pesado, que não pode ser digerido em grandes quantidades de uma só vez; mas tomados quatro ou cinco de cada vez, constituem o melhor alimento intelectual. 

 No ensaio "Da Juventude e da Idade" ele condensa um livro em um parágrafo. "Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, mais aptos para a execução do que para o assessoramento, e mais aptos para novos projetos do que para atividades já estabelecidas; porque a experiência da idade em coisas que estejam ao alcance dessa idade os dirige; mas em coisas novas, os maltrata. (...) Os jovens, na conduta e na administração dos atos, abraçam mais do que podem segurar, agitam mais do que podem acalmar; voam para o fim sem consideração para com os meios e os graus; perseguem absurdamente alguns princípios com que toparam por acaso; não se importam em "(isto é, em como)" inovar, o que provoca transtornos desconhecidos. (...) Os homens maduros fazem objeções demais, demoram-se demais em consultas, arriscam-se muito pouco, arrependem-se cedo demais e raramente levam o empreendimento até o fim, mas se contentam com uma mediocridade de sucesso. Não há dúvida de que é bom forçar o emprego de ambos (...), porque as virtudes de qualquer um deles poderão corrigir os defeitos dos dois." Bacon acha, apesar de tudo, que a juventude e a infância podem ter uma liberdade demasiada e, assim, crescer desordenadas e relaxadas. "Que os pais escolhem cedo as vocações e os cursos que pretendem que seus filhos sigam, pois é nessa fase que eles são mais flexíveis; e que não se concentrem demais no pensor dos filhos, pensando que estes irão dedicar-se melhor àquilo para que estejam mais inclinados. É verdade que se os pendores ou a aptidão dos filhos forem extraordinários, é bom não contrariá-los; mas em geral, é bom o preceito" dos pitagóricos: "Optimum lege, suave et facile illud faciet consuetudo" - escolha o melhor; o hábito irá torná-lo agradável e fácil. Porque "o hábito é o principal magistrado da vida do homem." 

 A política dos Ensaios prega um conservantismo natural em que aspira ao governo. Bacon quer um forte poder central. A monarquia é a melhor forma de governo; e em geral, a eficiência de um Estado varia com a concentração do poder. "Deve haver três pontos essenciais nas atividades" do governo: "a preparação; o debate, ou exame; e a conclusão" (ou execução). "Se quiserdes presteza, que só o do meio fique a cargo de muitos, com o primeiro e o último ficando a cargo de uns poucos." Ele é um militarista confesso; deplora o crescimento da indústria por considerar que isso deixa os homens despreparados para a guerra, e lamenta uma paz prolongada, por aplacar o guerreiro que existe no homem. Apesar disso, reconhece a importância das matérias-primas: "Sólon disse a Creso (quando, por ostentação, Creso lhe mostrou o seu ouro): "Senhor, se chegar qualquer outro que tenha melhor ferro do que vós, ele será dono de todo esse ouro." 

 Tal como Aristóteles, Bacon dá alguns conselhos para se evitarem revoluções. "O meio mais seguro de evitar sedições (...) é afastar a causa; porque se o combustível estiver preparado, é difícil dizer de onde virá a fagulha que irá atear-lhe fogo. (...) Tampouco se segue que a supressão dos rumores" (isto é, da discussão) "com demasiada severidade deva ser o remédio para os problemas; porque muitas vezes o desprezo é a melhor forma de contê-los, e as providências para reprimi-los só fazem dar vida longa à especulação. (...) A substância da sedição é de dois tipos: muita pobreza e muito descontentamento. (...) As causas e motivos das sedições são as inovações na religião; os impostos; as modificações de leis e costumes; o cancelamento de privilégios; a opressão generalizada; o progresso de pessoas indignas, estranhas, as privações; soldados desmobilizados; facções desesperadas; e tudo aquilo que, ao ofender um povo, faz com que ele se una em uma casa comum." A sugestão de todos os líderes, claro, é dividir seus inimigos e unir os amigos. "De modo geral, é dividir e enfraquecer todas as facções (...) contrárias ao Estado, e colocá-las longe uma das outras, ou pelo menos semear a desconfiança entre elas, não é um dos piores remédios; porque é desesperador o caso em que aqueles que apóiam o governo estão cheios de discórdia e cisões, e os que estão contra ele estão inteiros e unidos." Uma receita melhor para evitar as revoluções é uma distribuição eqüitativa da riqueza: "O dinheiro é como o esterco, só é bom se for espalhado." Mas isso não significa socialismo ou, mesmo, democracia; Bacon não confia no povo, que na sua época praticamente não tinha acesso à educação; "a mais baixa das lisonjas é a lisonja do homem do povo", e "Fócion compreendeu bem quando, ao ser aplaudido pela multidão, perguntou o que tinha feito de errado." O que Bacon quer é, primeiro, uma pequena burguesia de proprietários rurais; depois, uma aristocracia para a administração; e acima de todos, um rei-filósofo. "Quando não há exemplos de que um governo não tenha prosperado com governos cultos." Ele cita Sêneca, Antonio Pio e Aurélio; tinha a esperança de que aos nomes deles a posteridade acrescentasse o seu.  

O Pensamento: A "Instauratio Magna"

 A Instauratio magna scientiarum deveria ter precisamente representado a reforma do saber, deveria ter constituído a summa philosophica dos tempos novos, e lançado o fundamento do regnum hominis, tão audazmente iniciado pela ciência e pela política da Renascença. Essa obra deveria ter abraçado a enciclopédia das ciências e compreendido também as técnicas, segundo o novo ideal humano e prático e imanentista. Começa-se, portanto, com a classificação geral das disciplinas humanas, baseada no respectivo predomínio das três faculdades que presidem à organização do saber: memória, fantasia, razão. Essa classificação é baseada não no objeto do conhecimento, e sim no sujeito que conhece. 1) História tanto civil quanto natural, que registra (memória) os dados de fato; 2) Poesia, elaboração imaginativa desses dados; 3) Ciência ou filosofia, isto é, conhecimento racional de Deus, do homem e da natureza. 

 A teologia natural de Bacon não exclui, mas prescinde da revelação cristã e da religião positiva. A ciência do homem divide-se em ciência do homem individual (philosophia humanitatis), e em ciência da sociedade humana (philosophia civilis). A primeira diz respeito ao homem todo, espírito e matéria. A segunda diz respeito à arte de governar e às relações sociais e aos negócios. A filosofia natural ou física, divide-se em especulativa e operativa. A primeira, por sua vez, se divide em física especial ("que procura a causa eficiente e material"), e em metafísica ("que procura a causa final e a forma"). Pertencem pois à física operativa as artes mecânicas. Acima das ciências filosóficas particulares, Bacon põe uma ciência filosófica comum, denominando-a philosophia prima. Esta não é a ontologia tradicional, a ciência do ser em geral, mas a ciência dos princípios comuns às várias ciências.  

O "Novum Organum"

 Entretanto, o que interessa mais a Bacon não é esta ciência dos princípios comuns, e sim a ciência da natureza, e, portanto, o Novum organum, que deveria conter precisamente as regras para a construção da ciência da natureza. Como é sabido, Bacon reivindica, contra Aristóteles e a Escolástica, o método indutivo. Aristóteles e Tomás de Aquino afirmaram claramente este método, e até o reconheceram como único procedimento inicial do conhecimento humano; entretanto a eles interessavam muito mais as causas do que a experiência, o que transcende a experiência do que a experiência; muito mais a metafísica do que a ciência. 

 Segundo Bacon, o verdadeiro método da indução científica compreende uma parte negativa ou crítica, e uma parte positiva ou construtiva. A parte negativa consiste, antes de tudo, em alertar a mente contra os erros comuns, quando procura a conquista da ciência verdadeira. Na sua linguagem imaginosa Bacon chama as causas destes erros comuns, fantasmas - idola - e os divide em quatro grupos fundamentais. 

 1) Idola tribus, a saber, os erros da raça humana "fundamentados em a natureza como tal" (não se sabe, pois, o verdadeiro porquê); 

 2) Idola specus (por alusão à caverna de Platão) determinados pelas disposições subjetivas de cada um; 

 3) Idola fori, erros da praça, provenientes do comércio social ou da linguagem imperfeita; 

 4) Idola theatri, isto é, os erros provenientes das escolas filosóficas, que substituem o mundo real por um mundo fantástico, por um jogo cênico. 

 Desembaraçado o terreno destes erros, Bacon passa a tratar da natureza positiva, construtiva, da genuína interpretação da natureza para dominá-la. Mas, para tanto, é mister conhecer as que Bacon chama de formas, isto é, os princípios imanentes, causa e lei da ação e da ordem das naturezas. As naturezas são precisamente os fenômenos experimentais, objeto da física especial (luz, calor, pêso, etc.); as formas são leis genéticas e organizadoras das naturezas, as essências ou causas formais, objeto da metafísica de Bacon. 

 Esta pesquisa, esta passagem das naturezas às formas, dos fenômenos às essências - bem conhecida pela filosofia tradicional - é determinada por Bacon, segundo um método preciso, desconhecido dos predecessores, nas famosas tabulae baconianas. Para determinar de um modo certo as causas e as leis dos fenômenos - isto é, as formas das naturezas - Bacon recolhe, antes de tudo, o maior número possível de exemplos, em que um determinado fenômeno aparece; depois enumera os casos que mais se assemelham às primeiras, em que, porém, o mesmo fenômeno não aparece. Enfim registra o aumentar ou o diminuir do fenômeno em questão, quer no mesmo objeto, quer em objetos diferentes. Têm-se, desta maneira, três espécies de registros ou tabelas: 1) tabelas de presença; 2) tabelas de ausência; 3) tabelas de gradações. É evidente que nos casos onde uma determinada natureza ou fenômeno aparecem, aí se encontrará também a sua causa e lei; nos casos em que o fenômeno não se manifesta, aí faltará também a sua causa e lei; e nos casos onde o fenômeno aumenta ou diminui, aí aumentará ou diminuirá também a sua causa e lei. A causa (forma) dos fenômenos (naturezas) será procurada, portanto, com base nos fenômenos presentes na primeira tabela; não sendo fácil, a princípio, ter-se tabelas completas e isolar as naturezas simples, e desta maneira pôr em evidência a causa, é mister estabelecê-la por hipótese, que será, em seguida, averiguada pelas experimentações.

 Essa gnosiologia, metodologia (empírica) é baseada em uma metafísica, uma física materialista e, mais precisamente, atomista, bastante semelhante à de Demócrito. O mundo material é constituído de corpúsculos, qualitativamente idênticos, diversos apenas por grandeza, forma e posição. Estes corpúsculos são animados por uma força, em virtude da qual se agrupam em determinados complexos, que constituem as formas baconianas.  

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BARUCH SPINOZA


Considerações Gerais

O pensamento de Descartes exercerá uma influência vasta no mundo cultural francês e europeu, diretamente até Kant e indiretamente até Hegel. E exerceu tal influência não tanto como sistema metafísico, quanto especialmente pelo espírito crítico, pelo método racionalista, implícito nas premissas do sistema e realizado apenas parcialmente pelo filósofo. 

O desenvolvimento lógico do cartesianismo é representado por alguns grandes pensadores originais: Spinoza, Malebranche, Leibniz. Spinoza é a mais coerente e extrema expressão do racionalismo moderno depois do fundador e antes de Kant; Malebranche e Leibniz encontram, ao contrário, nas suas preocupações práticas, religiosas e políticas, limitações ao desenvolvimento lógico e despreocupado do racionalismo. 

Ladeia estes três pensadores uma turma numerosa de cartesianos mais ou menos ortodoxos, particularmente na França na segunda metade do século XVII. Significativa é a influência que o criticismo e o racionalismo cartesianos exerceram sobre a cultura do século de Luís XIV, o século de ouro da civilização francesa; sobre a arte de Racine e de La Fontaine, sobre a poética de Boileau, a ética de La Bruyère, o pensamento de Bayle. 

Descartes teve seguidores também em determinados meios religiosos de orientação platônico-agostiniana, mais ou menos ortodoxos. Os dois centros principais desse sincretismo são representados pelo Jansenismo e pelo Oratório. Brás Pascal, porém (se bem que, em parte, jansenista), grande físico e matemático, mas de um profundo sentimento religioso e cristão, parece ter tido intuição da falha da filosofia cartesiana. À razão matemática, científica - espírito geométrico - que vale para o mundo natural mas não chega até Deus, contrapõe a razão integral - esprit de finesse - que leva até o cristianismo. 

Descartes teve numerosos adversários e críticos no campo filosófico, entre os quais Hobbes. Entretanto, as oposições maiores contra o cartesianismo surgiram evidentemente no ambiente eclesiástico e político, quer católico quer protestante. Nesses ambientes houve a intuição de um perigo revolucionário para a religião e a ordem social, por causa do criticismo, mecanismo e infinidade do universo, próprios daquela filosofia. 

E, no entanto, o cartesianismo forjou a mentalidade (racionalista-matemática) dos maiores filósofos até Kant. E também propôs os grandes problemas em torno dos quais girou a especulação desses filósofos, a saber: a relação entre substância finita de um lado, e entre espírito e matéria do outro. Daí surgiram o ontologismo e o ocasionalismo de Malebranche, a harmonia preestabelecida de Leibniz e o panteísmo psicofísico de Spinoza.  

Baruch Spinoza

O racionalismo cartesiano é levado a uma rápida, lógica, extrema conclusão por Spinoza. O problema das relações entre Deus e o mundo é por ele resolvido em sentido monista: de um lado, desenvolvendo o conceito de substância cartesiana, pelo que há uma só verdadeira e própria substância, a divina; de outro lado introduzindo na corrente racionalista-cartesiana uma preformada concepção neoplatônica de Deus, a saber, uma concepção panteísta-emanatista. O problema, pois, das relações entre o espírito e a matéria é resolvido por Spinoza, fazendo da matéria e do espírito dois atributos da única substância divina. Une os dois na mesma substância segundo um paralelismo psicofísico, uma animação universal, uma forma de pampsiquismo. Em geral, pode-se dizer que Descartes fornece a Spinoza o elemento arquitetônico, lógico-geométrico, para a construção do seu sistema, cujo conteúdo monista, em parte deriva da tradição neoplatônica, em parte do próprio Descartes. 

Os demais racionalistas de maior envergadura da corrente cartesiana se seguem, cronologicamente, depois de Spinoza; entretanto, logicamente, estão antes dele, pois não têm a ousadia - em especial Malebranche - de chegar até às extremas conseqüências e conclusões racionalista-monista, exigidas pelas premissas cartesianas, detidos por motivos práticos-religiosos e morais, que não se encontram em Spinoza. Com isto não se excluem, por parte deles, desenvolvimentos em outro sentido. Por exemplo, não se excluem os desenvolvimentos idealistas do fenomenismo racionalista por parte de Leibniz.  

Vida e Obras

Baruch Spinoza nasceu em Amsterdam em 1632, filho de hebreus portugueses, de modesta condição social, emigrados para a Holanda. Recebeu uma educação hebraica na academia israelita de Amsterdam, com base especialmente nas Sagradas Escrituras. Demonstrando muita inteligência, foi iniciado na filosofia hebraica (medieval-neoplatônico-panteísta) e destinado a ser rabino. 

Mas, depois de se manifestar o seu racionalismo e tendo ele recusado qualquer retratação, foi excomungado pela Sinagoga em 1656. Também as autoridades protestantes o desterraram como blasfemador contra a Sagrada Escritura. Spinoza reitrou-se, primeiro, para os arredores de Amsterdam, em seguida para perto de Leida e enfim refugiou-se em Haia. Aos vinte e cinco anos de idade esse filósofo, sem pátria, sem família, sem saúde, sem riqueza, se acha também isolado religiosamente. 

Os outros acontecimentos mais notáveis na formação espiritual especulativa de Spinoza são: o contato com Francisco van den Ende, médico e livre pensador; as relações travadas com alguns meios cristão-protestantes. Van den Ende iniciou-o no pensamento cartesiano, nas línguas clássicas, na cultura da Renascença; e nos meios religiosos holandeses aprendeu um cristianismo sem dogmas, de conteúdo essencialmente moralista. 

Além destes fatos exteriores, nada encontramos de notável exteriormente na breve vida de Spinoza, inteiramente dedicada à meditação filosófica e à redação de suas obras. Provia pois às suas limitadas necessidades materiais, preparando lentes ópticas para microscópios e telescópios, arte que aprendera durante a sua formação rabínica; e também aceitando alguma ajuda do pequeno grupo de amigos e discípulos. Para não comprometer a sua independência especulativa e a sua paz, recusou uma pensão oferecida pelo "grande Condé" e uma cátedra universitária em Heidelberg, que lhe propusera Carlos Ludovico, eleitor palatino. 

Uma tuberculose enfraquecera seu corpo. Após alguns meses de cama, Spinoza faleceu aos quarenta e quatro anos de idade, em 1677, em Haia. Deixou uma notável biblioteca filosófica; mas a sua herança mal chegou para pagar as despesas do funeral e as poucas dívidas contraídas durante a enfermidade. 

Um traço característico e fundamental do caráter de Spinoza é a sua concepção prática, moral, de filosofia, como solucionadora última do problema da vida. E, ao mesmo tempo, a sua firme convicção de que a solução desse problema não é possível senão teoricamente, intelectualmente, através do conhecimento e da contemplação filosófica da realidade. 

As obras filosóficas principais de Spinoza são: a Ethica (publicada postumamente em Amsterdam em 1677), que constitui precisamente o seu sistema filosófico; o Tractatus theologivo-politicus (publicado anônimo em Hamburgo em 1670), que contém a sua filosofia religiosa e política. 

A princípio desconhecido e atacado, o pensamento de Spinoza acabou por interessar e influenciar particularmente a cultura moderna depois de Kant (Lessing, Goethe, Schelling, Hegel, Schleiermacher, etc.), proporcionando ao idealismo o elemento metafísico monista, naturalmente filtrado através da crítica kantiana.  

O Pensamento: Deus

A teologia de Spinoza é contida, substancialmente, no primeiro livro da Ethica (De Deo). Spinoza quereria deduzir de Deus racionalmente, logicamente, geometricamente toda a realidade, como aparece pela própria estrutura exterior da Ethica ordine geometrico demonstrata. Não nos esqueçamos de que o Deus spinoziano é a substância única e a causa única; isto é, estamos em cheio no panteísmo. A substância divina é eterna e infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de perfeições ou atributos infinitos. 

Desses atributos, entretanto, o intelecto humano conhece dois apenas: o espírito e a matéria, a cogitatio e a extensio. Descartes diminuiu estas substâncias, e no monismo spinoziano descem à condição de simples atributos da substância única. Pensamento e extensão são expressões diversas e irredutíveis da substância absoluta, mas nela unificadas e correspondentes, graças à doutrina spinoziana do paralelismo psicofísico. 

A substância e os atributos constituem a natura naturans. Da natura naturans (Deus) procede o mundo das coisas, isto é, os modos. Eles são modificações dos atributos, e Spinoza chama-os natura naturata (o mundo). Os modos distinguem-se em primitivos e derivados. Os modos primitivos representam as determinações mais imediatas e universais dos atributos e são eternos e infinitos: por exemplo, o intellectus infinitus é um modo primitivo do atributo do pensamento, e o motus infinitus é um modo primitivo do atributo extensão. 

As leis do paralelismo psicofísico, que governam o mundo dos atributos, regem naturalmente todo o mundo dos modos, quer primitivos quer derivados. Cada corpo tem uma alma, como cada alma tem um corpo; este corpo constituiria o conteúdo fundamental do conhecimento da alma, a saber: a cada modo de ser e de operar na extensão corresponde um modo de ser e de operar do pensamento. Nenhuma ação é possível entre a alma e o corpo - como dizia também Descartes - e como Spinoza sustenta até o fundo. 

A lei suprema da realidade única e universal de Spinoza é a necessidade. Como tudo é necessário na natura naturans, assim tudo também é necessário na natura naturata. E igualmente necessário é o liame que une entre si natura naturans e natura naturata. Deus não somente é racionalmente necessitado na sua vida interior, mas se manifesta necessariamente no mundo, em que, por sua vez, tudo é necessitado, a matéria e o espírito, o intelecto e a vontade.  

O Homem

Do primeiro livro da Ethica - cujo objeto é Deus - Spinoza passa a considerar, no segundo livro (De mente), o espírito humano, ou, melhor, o homem integral, corpo e alma. A cada estado ou mudança da alma, corresponde um estado ou mudança do corpo, mesmo que a alma e o corpo não possam agir mutuamente uma sobre o outro, como já se viu. 

Não é preciso repetir que, para Spinoza, o homem não é uma substância. A assim chamada alma nada mais é que um conjunto de modos derivados, elementares, do atributo pensamento da substância única. E, igualmente o corpo nada mais é que um complexo de modos derivados, elementares, do atributo extensão da mesma substância. O homem, alma e corpo, é resolvido num complexo de fenômenos psicofísicos. 

Mesmo negando a alma e as suas faculdades, Spinoza reconhece várias atividades psíquicas: atividade teorética e atividade prática, cada uma tendo um grau sensível e um grau racional. 

A respeito do conhecimento sensível (imaginatio), sustenta Spinoza que é ele inteiramente subjetivo: no sentido de que o conhecimento sensível não representa a natureza da coisa conhecida, mas oferece uma representação em que são fundidas as qualidades do objeto conhecido e do sujeito que conhece e dispõe tais representações numa ordem fragmentária, irracional e incompleta. 

Spinoza distingue, pois, o conhecimento racional em dois graus: conhecimento racional universal e conhecimento racional particular. A ordem oferecida pelo conhecimento racional particular nada mais é que a substância divina; abrange ela, na sua unidade racional, os atributos infinitos e os infinitos modos que a determinam. E desse conhecimento racional intuitivo, místico, derivam necessariamente a felicidade e virtude supremas. Das limitações do conhecimento sensível decorrem o sofrimento e a paixão, dada a universal correspondência spinoziana entre teorético e prático. 

Visto o paralelismo psicofísico de Spinoza, é claro que o conhecimento, no sistema spinoziano, não é constituído pela relação de adequação entre a mente e a coisa, mas pela relação de adequação da mens do sujeito que conhece a mens do objeto conhecido.  

A Moral

Como é sabido, Spinoza dedica ao problema moral e à sua solução os livros III, IV e V da Ethica. No livro III faz ele uma história natural das paixões, isto é, considera as paixões teoricamente, cientificamente, e não moralmente. O filósofo deve humanas actiones non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere; assim se exprime Spinoza energicamente no proêmio ao II livro da Ethica. Tal atitude rigidamente científica, em Spinoza, é favorecida pela concepção universalmente determinista da realidade, em virtude da qual o mecanismo das paixões humanas é necessário como o mecanismo físico-matemático, e as paixões podem ser tratadas com a mesma serena indiferença que as linhas, as superfícies, as figuras geométricas. 

Depois de nos ter oferecido um sistema do mecanismo das paixões no IV livro da Ethica, Spinoza esclarece precisamente e particularmente a escravidão do homem sujeito às paixões. Essa escravidão depende do erro do conhecimento sensível, pelo que o homem considera as coisas finitas como absolutas e, logo, em choque entre si e com ele. Então a libertação das paixões dependerá do conhecimento racional, verdadeiro; este conhecimento racional não depende, entretanto, do nosso livre-arbítrio, e sim da natureza particular de que somos dotados. 

No V e último livro da Ethica, Spinoza esclarece, em especial, a condição do sábio, libertado da escravidão das paixões e da ignorância. O sábio realiza a felicidade e a virtude simultânea e juntamente com o conhecimento racional. Visto que a felicidade depende da ciência, do conhecimento racional intuitivo - que é, em definitivo, o conhecimento das coisas em Deus - o sábio, aí chegado, amará necessariamente a Deus, causa da sua felicidade e poder. Tal amor intelectual de Deus é precisamente o júbilo unido com a causa racional que o produz, Deus. Este amor do homem para com Deus, é retribuído por Deus ao homem; entretanto, não é um amor como o que existe entre duas pessoas, pois a personalidade é excluída da metafísica spinoziana, mas no sentido de que o homem é idêntico panteisticamente a Deus. E, por conseguinte, o amor dos homens para com Deus é idêntico ao amor de Deus para com os homens, que é, pois, o amor de Deus para consigo mesmo (por causa precisamente do panteísmo). 

Chegado ao conhecimento e à vida racionais, o sábio vive já na eternidade, no sentido de que tem conhecimento eterno do eterno. A respeito da imortalidade da alma, devemos dizer que é excluída naturalmente por Spinoza como sobrevivência pessoal porquanto pessoa e memória pertencem à imaginação. A imortalidade, então, não poderá ser entendida senão como a eternidade das idéias verdadeiras, que pertencem à substância divina. De sorte que imortais, ou eternas, ou pela máxima parte imortais, serão as almas ou os pensamentos dos sábios, ao passo que às almas e aos pensamentos dos homens vulgares, como que limitados ao conhecimento e à vida sensíveis, é destinado o quase total aniquilamento no sistema racional da substância divina.  

A Política e a Religião

Spinoza tratou particularmente do problema político e religioso no Tractatus theologico-politicus. Considera ele o estado e a igreja como meios irracionais para o advento da racionalidade. As ações feitas - ou não feitas - em vista das penas ou dos prêmios temporais e eternos, ameaçados ou prometidos pelo estado e pela igreja, dependem do temor e da esperança, que, segundo Spinoza, são paixões irracionais. Elas, entretanto, servem para a tranquilidade do sábio e para o treinamento do homem vulgar. 

No estado de natureza, isto é, antes da organização política, os homens se encontravam em uma guerra perpétua, em uma luta de todos contra todos. É o próprio egoísmo que impede os homens a se unirem, a se acordarem entre si numa espécie de pacto social, pelo qual prometem renunciar a toda violência, auxiliando-se mutuamente. No entanto, não basta o pacto apenas: precisa o homem do arrimo da força para sustentar-se. De fato, mesmo depois do pacto social, os homens não cessam de ser, mais ou menos, irracionais e, portanto, quando lhes fosse cômodo e tivessem a força, violariam, sem mais, o pacto. Nem há quem possa opor-se a eles, a não ser uma força superior, porquanto o direito sem a força não tem eficácia. Então os componentes devem confiar a um poder central a força de que dispõem, dando-lhe a incumbência e o modo de proteger os direitos de cada um. Só então o estado e verdadeiramente constituído. Entretanto, o estado, o governo, o soberano podem fazer tudo o que querem: para isso têm o poder e, portanto, o direito, e se acham eles ainda no estado de pura natureza, do qual os súditos saíram. 

O estado, porém, não é dominador supremo, porquanto não é o fim supremo do homem. Seu fim supremo é conhecer a Deus por meio da razão e agir de conformidade, de sorte que será a razão a norma suprema da vida humana. O papel do estado é auxiliar na consecução racional de Deus. Portanto, se o estado se mantivesse na violência e irracionalidade primitivas, pondo obstáculos ao desenvolvimento racional da sociedade, os súditos - quando mais racionais e, logo, mais poderosos do que ele - rebelar-se-ão necessariamente contra ele, e o estado cairá fatalmente. Faltando-lhe a força, faltar-lhe-á também o direito. E de suas ruínas deverá surgir um estado mais conforme à razão. E, assim, Spinoza deduz do estado naturalista o estado racional. 

O outro grande instituto irracional a serviço da racionalidade é, segundo Spinoza, a religião, que representaria um sucedâneo da filosofia para o vulgo. O conteúdo da religião positiva, revelada, é racional; mas é a forma que seria absolutamente irracional, pois o conhecimento filosófico de Deus decairia em uma revelação mítica; a ação racional, que deveria derivar do conhecimento racional com a mesma necessidade pela qual a luz emana do sol, decairia no mandamento divino heterônomo, a saber, a religião positiva, revelada, representaria sensivelmente, simbolicamente, de um modo apto para a mentalidade popular, as verdades racionais, filosóficas acerca de Deus e do homem; tais verdades podem aproveitar ao bem desse último, quando encarnadas nos dogmas. Por conseguinte, o que vale nos dogmas não seria a sua formulação exterior, e sim o conteúdo moral; nem se deveria procurar neles sentidos metafísicos arcanos, porque o escopo dos dogmas é essencialmente prático a saber: induzir à submissão a Deus e ao amor ao próximo, na unificação final de tudo e de todos em Deus.

janeiro 01, 2022

DESEJOS (PARA 2022) - Carlos Drummond de Andrade

 


Desejo a vocês...

Fruto do mato

Cheiro de jardim

Namoro no portão

Domingo sem chuva

Segunda sem mau humor

Sábado com seu amor

Filme do Carlitos

Chope com amigos

Crônica de Rubem Braga

Viver sem inimigos

Filme antigo na TV

Ter uma pessoa especial

E que ela goste de você

Música de Tom com letra de Chico

Frango caipira em pensão do interior

Ouvir uma palavra amável

Ter uma surpresa agradável

Ver a Banda passar

Noite de lua cheia

Rever uma velha amizade

Ter fé em Deus

Não ter que ouvir a palavra não

Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança

Ouvir canto de passarinho.

Sarar de resfriado

Escrever um poema de Amor

Que nunca será rasgado

Formar um par ideal

Tomar banho de cachoeira

Pegar um bronzeado legal

Aprender um nova canção

Esperar alguém na estação

Queijo com goiabada

Pôr-do-Sol na roça

Uma festa

Um violão

Uma seresta

Recordar um amor antigo

Ter um ombro sempre amigo

Bater palmas de alegria

Uma tarde amena

Calçar um velho chinelo

Sentar numa velha poltrona

Tocar violão para alguém

Ouvir a chuva no telhado

Vinho branco

Bolero de Ravel

E muito carinho meu.



VINTE E DOIS DA VITÓRIA - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici é intelectual e poeta da ARLS Chequer Nassif de S. Bernardo do Campo e membro da Confraria Maçons em Reflexão


Irmãos, cunhadas, senhores ! 

Finda aqui com toda glória 

Nesta vida de primores

Capítulo da nossa história 


Houve pois, risos e dores

Alguma aflição notória 

Cada qual com seus valores 

À partir de então, memória 


Deixemos quaisquer rancores 

Ou tristeza transitória 

Vivamos seus esplendores 


Brindemos à Paz meritória 

Somos da obra os atores 

No “ Vinte e dois” da  vitória !


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dezembro 31, 2021

REIS MAGOS, OURO, INCENSO e MIRRA - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante, um dos mais renomados intelectuais da maçonaria.

Baseado em referências bíblicas, evangélicas e históricas e acima de tudo em inúmeras "tradições orais" podemos fazer uma breve consideração de ordem cultural a respeito  dos chamados  "Reis Magos".

Uma comunhão de Lenda, História, Religiosidade e Misticismo compõe um arcabouço dialético que especialmente nos países de tradição cristã, celebram com singeleza e respeito a data de 6 de Janeiro em diversos pontos do planeta.

Reza essa tradição cristã, que Três personagens teriam visitado  Jesus  após seu nascimento, 

Apenas no "Evangelho  segundo Mateus " referência é feita dando conta que os Três teriam vindo "do Oriente" para reverenciar o Cristo, "nascido Rei dos Judeus". 

Portavam consigo três presentes (ouro, incenso e mirra).

São figuras constantes em relatos da natividade e nas comemorações do Natal.

Interpretações históricas advindas de estudiosos da Bíblia reportam  que

*Belchior (ou Melchior), Baltazar* e *Gaspar* não seriam propriamente "reis"  mas sim, sacertodes da religião zoroástrica da Pérsia ou conselheiros. 

Talvez fossem astrólogos ou astrônomos, pois, segundo consta e de acordo com a própria Lenda que se conflui com a História, eles  teriam visto  uma  *"estrela"* e decidiram seguí-la, até a região onde Jesus, teria nascido. 

Porém, os registros bíblicos  dão conta que a  estrela  *não* os teriam levado diretamente ao local de nascimento  do menino Jesus e sim ao palácio do cruel rei Herodes em Jerusalém na Judeia que circunstancialmente desejava a morte de Jesus.

Os Reis Magos perguntaram ao Rei Herodes  sobre a criança. Ao que ele disse nada saber.

Muitos dias se passaram até que os magos chegassem ao local onde estava o menino e  por causa da distância percorrida, a tradição atribuiu a visitação dos Magos o dia 6 de Janeiro.

Os Magos ofereceram três presentes ao menino Jesus cujos simbolismos são os seguintes:  

O *ouro*  que representa a realeza (além da providência divina)  

O *incenso*  que pode representar a fé, pois o incenso é usado nos templos para simbolizar a conexão com o o Princípio Criador do Universo. 

E  a *mirra*  que consiste numa resina antisséptica usada em embalsamamentos desde o Egito antigo simboliza a imortalidade.

Esse breve texto encerra em seu mérito uma tênue referência à tradição oral e à contemporaneidade de celebrações de festas, num período em que se busca como verdadeiro propósito o entendimento e a conciliação entre os povos em favor da "PAZ",  *sem qualquer proselitismo religioso*, mas comemorando de forma ecumênica, através de Símbolos, a edificação da Virtude para semear o bem na Terra.


2021, 22...- Adilson Zotovici

 



Adilson Zotovici é notável intelectual e poeta maçônico da ARLS Chequer Nachif de S. Bernardo do Campo 


Vinte e um já é passado

Um ano intenso, obscuro

Que pareceu até nublado

Sob imenso manto escuro


Para alguns, tempo marcado

Pela tristeza mensuro

Por falta dum ser amado

Que atravessou o alto muro


Porém, nosso Pai Sagrado

De poder inefável e puro

O bem nos tem reservado

Com Fé e Esperança asseguro


Com bom plano arquitetado

Novos dias, ao futuro,

Grande Arquiteto ao seu lado

Vinte e dois seleto auguro !


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dezembro 30, 2021

A HISTÓRIA DO COMPANHEIRO MAÇOM




Referência: Cartilha do Grau de Companheiro. - Autoria desconhecida)

Doutrinariamente, o grau de Companheiro é o mais legítimo grau maçônico, por mostrar o obreiro já totalmente formado e aperfeiçoado, profissionalmente.

Historicamente, é o grau mais importante da Franco-Maçonaria, pois sempre representou o ápice da escalada profissional, nas confrarias de artesãos ligados à arte de construir, as quais floresceram na Idade Média e viriam a ser conhecidas, nos tempos mais recentes, sob o rótulo de “Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício”.

Na realidade, antes do século XVIII havia apenas dois graus reconhecidos na Franco-Maçonaria: Aprendiz e Companheiro. Na época anterior ao desenvolvimento da Maçonaria dos Aceitos ou Especulativa, o Companheiro era um Aprendiz, que havia servido o tempo necessário como tal e havia sido reconhecido como um oficial, um trabalhador qualificado, autorizado a praticar seu ofício.

Na Idade Média, quando as construções em pedra eram comissionadas pela Igreja, ou pelos grandes reis, duques ou lords, a Maçonaria operativa era um lucrativo negócio ; ser reconhecido, portanto, como um Companheiro pelos operários era um passaporte seguro para uma participação no negócio e para uma renda praticamente garantida. Graças a isso, os mestres da obra eram escolhidos entre os Companheiros mais experientes e com maior capacidade de liderança ; e só exerciam as funções de dirigentes dos trabalhos, daí surgindo o Master da Loja, o qual, pelas suas funções e pelo respeito que merecia de seus obreiros, viria a ser o Worshipful Master - Venerável Mestre - o máximo dirigente dos trabalhos.

O grau de Mestre Maçom só surgiria em 1723 depois da criação, em 1717, da Primeira Grande Loja, em Londres e só seria implantado a partir de 1738. Por isso, o grau de Companheiro foi sempre o sustentáculo profissional e doutrinário dos círculos maçônicos, não se justificando a pouca relevância que alguns maçons dão a ele, considerando-o um simples grau intermediário.

Autores existem, inclusive, que afirmam que na fase de transição da Maçonaria, ele era o único grau, do qual se destacaram, para baixo, o grau de Aprendiz, e, para cima, o de Mestre. Na realidade, não pode ser considerado um maçom completo aquele que não conhecer, profundamente, o grau de Companheiro.

A palavra Companheiro é de origem latina.                                                                      

O seu significado tem provocado controvérsias quanto à sua etimologia, pois alguns autores sustentam que ela seria derivada da preposição cum = com e do verbo ativo e neutro pango (is, panxi, actum, angere) = pregar, cravar, plantar, traçar sobre a cera e no sentido figurado escrever, compor, celebrar, cantar, prometer, contratar, confirmar.

Neste caso, especificamente, pango teria o sentido de contrato, promessa, confirmação, fazendo com que a expressão cumpango que teria dado origem à palavra Companheiro signifique com contrato, com promessa, envolvendo um solene compromisso, que teria orientado as atividades das companhias religiosas e profissionais da Idade Média e do período renascentista.

A origem mais aceita, todavia, é outra: o termo Companheiro é derivado da expressão cum panis, onde cum é a preposição com e panis é o substantivo masculino pão, o que lhe dá o significado de participantes do mesmo pão. Isso dá a idéia de uma convivência tão íntima e profunda entre duas ou mais pessoas, aponto destas participarem do mesmo pão, para o seu nutrimento.

Essa origem, evidentemente, deve ser considerada nos idiomas derivados do latim: compañero (castelhano), compagno (italiano), compagnon (francês), companheiro (português). A Enciclopédia Larousse, editada em Paris, por exemplo, registra o seguinte, em relação aos vocábulos compagnon e compagnonnage: Compagnon - n.m. (du lat. cum = avec, et panis = pain) - Celui que participe à la vie, aux occupations d’un autre: compagnon d’études. Membre d’une association de compagnonnage. Ouvrier. Ouvrier qui travaille pour un entrepreneur (par opos a patron). Compagnonnage - n.m. - Association entre ouvriers d’une même profession à des fins d’instruction professionelle et d’assistence mutuelle. Temps pendant lequel  l’ouvrier sorti d’apprentissage travaillait comme compagnon chez son patron.Qualité de compagnon. 

Ou seja: Companheiro - substantivo masculino (do latim cum = com, e panis = pão) - Aquele que participa, constantemente, das ocupações do outro: condiscípulo, companheiro de estudos. Membro de uma associação de companheirismo. Operário que trabalha para um empreiteiro.

Companheirismo - substantivo masculino - Associação de trabalhadores de uma mesma profissão, para fins de aperfeiçoamento profissional e de assistência mútua. Tempo durante o qual o operário saído do aprendizado trabalhava como companheiro, em casa de seu patrão. Qualidade de companheiro.                                                                        

Nos idiomas não latinos, os termos usados têm o mesmo sentido. Em inglês, por exemplo, o Companheiro, como já foi visto, é o Fellow, que significa camarada, par, equivalente, correligionário, membro de uma sociedade, conselho, companhia, etc.

Daí, temos as palavras derivadas, como: fellow laborer = companheiro de trabalho; fellow member = colega; fellow partner = sócio; fellow student = condiscípulo; fellow traveler = companheiro de viagem; e fellowship = companheirismo.


Não se deve, todavia, confundir o grau de Companheiro Maçom, ou o Companheirismo maçônico com o Compagnonnage - associações de companheiros - surgido na Idade Média, em função direta das atividades da Ordem dos Templários, e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria.

O Compagnonnage foi criado porque os templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos ; assim organizaram-nos de acordo com a sua própria doutrina, dando-lhes um regulamento, chamado Dever.

E esses trabalhadores construíram formidáveis  cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho herdados da Antigüidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto têm maravilhado, esteticamente, a Humanidade.

O Compagnonnage, execrado pela Igreja, porque tinha sua origem na Ordem dos Templários, esmagada no início do século XIII, por Filipe, o Belo, com a conivência do papa Clemente V, acabaria sendo condenado pela Sorbonne. Esta, originalmente, era uma Faculdade de Teologia, já que fora fundada em 1257, por Robert de Sorbon, capelão de S. Luís, para tornar acessível o estudo da teologia aos estudantes pobres.

E a condenação, datada de 14 de março de 1655, contendo um alerta aos Companheiros das organizações de ofício (os maçons operativos), tinha, em relação às práticas do Compagnonnage, o seguinte texto: 

“Nós, abaixo assinados, Doutores da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris, estimamos:

1. Que, em tais práticas, existe pecado de sacrilégio, de impureza e de blasfêmia contra os mistérios de nossa religião;

2. Que o juramento feito, de não revelar essas práticas, mesmo na confissão, não é justo nem legítimo e não os obriga de maneira alguma ; ao contrário, que eles se obrigam a acusar a si mesmos desses pecados e deste juramento na confissão;

3. Que, no caso do mal estar continuar e não possam eles remediá-lo de outra forma, são obrigados, em consciência, a declarar essas práticas aos juízes eclesiásticos; e da mesma forma, se for necessário, aos juízes seculares, que tenham meios de dar remédio;

4. Que os Companheiros que se fazem receber em tal forma assim descrita não podem, sem incorrer em pecado mortal, se servir da palavra de passe que possuem, para se fazer reconhecer Companheiros e praticar os maus costumes desse “Companheirismo” ;

5. Que aqueles que estão nesse Companheirismo não estão em segurança de consciência, enquanto estiverem propensos a continuar essas más práticas, às quais deverão renunciar;

6. Que os jovens que não estão nesse “Companheirismo”, não podem neles ingressar sem incorrer em pecado mortal.

Paris, no 14° dia de março de 1655”. 

Nada a estranhar! Era a época dos tribunais do Santo Ofício, da “Santa” Inquisição.

Para finalizar, é importante salientar que muitos dos símbolos do grau de Companheiro Maçom os quais tanto excitam a mente de ocultistas - foram a ele acrescentados já na fase da Maçonaria dos Aceitos, pelos adeptos da alquimia oculta, da magia, da cabala, da astrologia e do rosacrucianismo , já que os obreiros medievais, os verdadeiros operários da construção, nunca adotaram tais símbolos, limitando-se às lendas e aos mitos profissionais.

Eram, inclusive, adversários das organizações ocultistas, combatidas pela Igreja, à qual eles eram profundamente ligados, pois dela haviam haurido a arte de construir e mereciam toda a proteção que só o clero católico poderia dar, numa época em que o poder maior era o eclesiástico. 

Com o incremento do processo de aceitação, a partir dos primeiros anos do século XVII, as portas das Lojas dos franco-maçons foram sendo abertas não só aos intelectuais e espíritos lúcidos, que foram responsáveis pelo renascimento europeu, mas, também, a todos os agrupamentos místicos e às seitas existentes na época. 

Isso iria provocar uma verdadeira revolução nas corporações de ofício e iria começar a delinear a ritualística especulativa do grau, baseada em símbolos místicos e nas doutrinas ocultistas, principalmente na Cabala e na Alquimia Oculta.

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Referência: Cartilha do Grau de Companheiro.

(Autoria desconhecida)

O ESQUADRO E O COMPASSO - L. Redaelli

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Para meu segundo aprendizado, foi importante para mim lidar com o compasso e o esquadro no sentido de que esses dois símbolos são onipresentes na Maçonaria e minha curiosidade não podia esperar mais. Eu interviria em três partes; o primeiro no quadrado, o segundo no compasso e finalmente no simbolismo binário do compasso e do esquadro.

O esquadro:

O esquadro é um instrumento cuja propriedade é tornar os corpos quadrados. O quadrado é chamado de "norma" em latim clássico, que em francês significa norma, normal, e quando um pedreiro coloca seus pés e sua mão direita em forma de quadrado, ele se refere a uma norma. O termo quadratura vem do próprio latim baixo exquadra resultante de exquadrare (fazer quadratura). É uma peça originalmente apenas em madeira que é usada para desenhar ângulos retos ou elevar perpendiculares. A praça se tornou a ferramenta de qualquer comércio de construção. O quadrado é simples ou duplo, em forma de T ou L, se for feito de metal não designa mais necessariamente a ferramenta, mas a peça usada para consolidar as montagens da moldura. Por sua forma e função, o quadrado está associado ao cubo, em particular com seus quatro ângulos, ângulos que também evocam os quatro pontos cardeais. Os dois ramos deste quadrado são desiguais, eles estão em uma proporção de três para quatro, os dois lados do triângulo retângulo pitagórico, o lado tendo uma proporção de 5 sendo a hipotenusa. Esta forma de formar o triângulo retângulo é considerada um segredo da maçonaria operativa. Na verdade Pitágoras inventou a forma de traçar um ângulo reto sem precisar do quadrado usado pelos operários, e dele temos o método que pudemos fazer com exatidão e exatidão este quadrado que os operários tiveram tanto trabalho para ser fabricado corretamente. É importante enfatizar este símbolo e ferramenta porque na época não havia nenhum de nossos dispositivos modernos.

O símbolo da praça é atestado desde 1725 na Maçonaria especulativa. No entanto, é interessante saber que em 1830 perto de Limerick, na Irlanda, foi encontrado um esquadro de cobre amarelo com a seguinte inscrição em ambos os lados: "Tentarei viver com amor e cuidado no nível por meio do esquadro" . Este esquadro foi datada de 1517. Além disso, vestígios desta ferramenta e seu valor simbólico podem ser encontrados na mais alta antiguidade:

Em monumentos caldeus (4.500 a.C.)

Nos livros sagrados mais antigos da China

Nas portas de templos na Índia central

O esquadro é uma das ferramentas simbólicas adotadas pela ordem da Maçonaria. Usado em particular pelo venerável Mestre, guardião da tradição, simboliza:

O certo

A retidão da razão

O esquadro é uma das ferramentas básicas da maçonaria porque permite que o trabalho seja verificado para o ajuste exato enquanto a régua é usada para medir e o martelo para destacar o supérfluo da pedra. É um instrumento de referência para o aprendiz. Este aprende que a maçonaria é uma obra de esquadrejamento, que também lhe é ensinada pelo seu sinal, pelos seus passos e pelas suas andanças.

O traçado esquadro dos ângulos e perpendiculares, portanto, torna possível reproduzir os grandes eixos do mundo. É a partir desses eixos que todos podem orientar sua consciência e sua ação. O quadrado simboliza a matéria e, ao mesmo tempo, permite ordenar e retificar essa matéria.

O esquadro é considerado o emblema da perfeição do trabalho de uma loja da qual o Venerável Mestre deve dirigir todas as direções. O quadrado indica ao pedreiro que, se cumprir todas as suas obrigações com exatidão, pode ter esperança de alcançar a verdadeira luz.

Ao nível dos gestos, o sinal de pôr à ordem lembra ao irmão a obrigação de respeitar o seu juramento durante a sua iniciação, convida à justiça. Por outro lado, colocando os pés em ângulos retos, o irmão deve sempre ter em vista a equidade, a justiça, a fidelidade e a irrepreensibilidade de sua moral. Colocar-se em ordem é a própria personificação do quadrado. Na verdade, o pedreiro é ereto, ele é quadrado em relação ao solo, seus pés são quadrados, seu braço é quadrado e seu polegar forma um quadrado em relação aos outros dedos da mão.

Foi assim que pude encontrar três razões principais para o Venerável Mestre usar o esquadro:

É uma marca da sua dignidade, porque tudo deve ser regulado pela praça, da mesma forma que os irmãos devem se ajustar ao mestre e prestar-lhe obediência.

Como qualquer pedra bruta que se forma, os irmãos devem construir sobre os exemplos do Venerável Mestre.

É para nos movermos em direção ao conhecimento que devemos relacionar nossas ações com a quadratura, a quadratura da verdade.

O esquadro definido, destinado a traçar ângulos retos, representa a união de uma linha horizontal com uma linha vertical, a união de opostos. Imediatamente surge a ideia de justiça, equilíbrio e justiça. O esquadro posicionado é o emblema da retidão que deve inspirar retidão em pensamentos e ações. Representa a ação do homem sobre a matéria, bem como sobre um segundo significado, a ação do homem sobre si mesmo.

O esquadro permite dar forma ao que não tem, são reconhecidos como um símbolo da boa moral. Sua forma não existe na natureza, portanto, não é de forma alguma natural. Pede ao pedreiro que faça um esforço, que se encarregue de andar pés quadrados ou que se ponha em ordem, essencial para estar em conformidade com o padrão do ângulo reto.

Uma das primeiras percepções do esquadro é o prumo: tudo o que é mantido na natureza é mais ou menos prumo, mesmo que nada pareça estar perfeitamente quadrado. Assim que os homens começaram a construir, eles entenderam que serenidade era essencial. Portanto, não há construção sólida sem a queda de um objeto em um plano horizontal que formará um ângulo de 90 °. Assim, a vida se manifesta pelo cruzamento de uma linha vertical e horizontal graças à gravidade. Não podemos então nos perguntar se a quadratura é a primeira manifestação da vida.

Qualquer construção passa pela busca de um equilíbrio. É a reunião de vontades e deveres. Podemos dizer "Eu quero, logo construo", que pode ser representado por uma elevação vertical em direção ao céu, enquanto "Eu devo" pode ser representado por uma horizontal que repousa sobre a terra e liga cada pedreiro em uma interdependência fraterna. A vertical junta-se à horizontal, formando um esquadro e dando assim a lei da construção. "Eu quero" é a orientação da vontade de criar e surgir, enquanto "devo" é aceitar a condição humana dentro de seus limites.

O uso do esquadro permite aprofundar os conceitos de retidão, equidade, equilíbrio que correspondem à sabedoria. O uso do quadrado permite dar às palavras os significados próprios, de modo que expressam ideias precisas a partir de um raciocínio direto. Graças à praça, o trabalho dos pedreiros poderá dar às pedras uma justaposição perfeita, sem a qual a construção do templo seria impossível. Em suma, o quadrado simboliza o que deve ser a vida de um maçom e o representa.

No peito do venerável Mestre, o galho mais longo está do lado direito; isso marca a preponderância dos ativos (lado direito) sobre os passivos (lado esquerdo). É porque o seu papel é o de formar pedreiros perfeitos que o Venerável Mestre usa a esquadria, sinal de retidão e instrumento indispensável para transformar a pedra bruta em pedra cúbica.

O esquadro que reconcilia o simbolismo do “nível” do primeiro capataz (horizontal = igualdade) e da “perpendicular” do segundo capataz (vertical = hierarquia, retidão) é, portanto, na alvenaria o instrumento primordial porque dirige a rugosidade de pedra bruta. Em outras palavras, direciona a formação do indivíduo com vistas ao cumprimento exato de sua função humanitária e social. Este treino lhe permitirá dar às palavras o seu devido sentido para que expressem apenas ideias precisas e que o raciocínio que se constrói sobre elas seja tão sólido, tão rigorosamente correto nas suas formas como as pedras do templo, o que é uma garantia de equilíbrio na construção.

Você deve saber que por muito tempo os pedreiros caminharam metros quadrados sobre o andaime, o que lhes permitiu estabilidade no movimento.

Para terminar na quadra, não precisa ser necessariamente um gol. Podemos considerar o esquadro como o próprio caminho que todo pedreiro deve percorrer. Nesse caso, é o nosso grau de integração do símbolo do quadrado que nos daria nossa capacidade de percorrer o caminho da virtude e da verdade. É por isso que a praça ensina a "fazer" para construir retidão a nossa vida e o mundo que nos rodeia. Talvez seja para tender a esta precisão, a este rigor, que os pedreiros, na loja, quando se põem em ordem, se cobrem com o esquadro, símbolo da retidão.

O compasso:

Compass vem de compasser (medir com precisão) do latim passus (o degrau) e compassare (medir com o degrau), designa um instrumento de rastreamento ou medição que, composto por dois ramos articulados em uma extremidade e cujas formas são adequadas para medição, usado para medir ângulos, comprimentos de transporte ou desenhar circunferências. É um símbolo da ciência exata. Existem vários tipos de compassos utilizadas por pedreiros, carpinteiros, pedreiros, arquitectos e marinheiros. Talaos, sobrinho de Dédalo, é responsável pela invenção do compasso. É uma das ferramentas e instrumentos de desenho mais antigos que o homem inventou. E ao mesmo tempo incrivelmente simples em design.

O ramo móvel da bússola permite, de acordo com seu espaçamento, desenhar círculos, determinar razões de proporções, avaliar e relatar medidas. o compasso, portanto, torna possível, simbolicamente, avaliar o alcance e as consequências das ações de cada pessoa em nossa vida diária.

o compasso  simboliza:

A sabedoria do espirito

Medida na busca da verdade

Se o círculo é, desde a mais alta antiguidade associada à criação e / ou a um deus criador, o compasso do Ocidente e da Idade Média substitui o círculo: é a ferramenta por excelência do criador. O uso da compasso implica uma rotação, portanto um movimento, razão pela qual é percebida como a atividade dinâmica do pensamento e do espírito. Também simboliza aquelas virtudes baseadas na medida de prudência, justiça, temperança e sabedoria. É assim que Dante no "paraíso" (século XIII) designa o deus criador como: "aquele que com e seu compasso marcou os limites do mundo e governou em tudo o que se vê e tudo o que se esconde". o compasso é, portanto, um símbolo da criação do mundo e da liberdade.

No entanto, nosso compasso é usada para desenhar um círculo a partir de um centro preciso. Este círculo pode, portanto, representar o campo do conhecimento humano virtualmente ilimitado, exceto por nossas próprias limitações individuais. Assim, o compasso também dá a medida do relativo, porque se separarmos seus dois ramos tanto quanto possível (cada um com sua própria bússola), veremos que nosso conhecimento nunca será capaz de exceder esse diâmetro máximo.

Desejando continuar um pouco mais, descobri que o círculo traçado e as ramificações do compasso também evocam o mostrador de um relógio. É interessante ver que quando o ramo móvel faz sua revolução, ele volta ao ponto de partida. Portanto, temos um gráfico que limita a extensão de um círculo e uma volta completa do ramo de nosso compasso. O que nos leva a fazer uma ligação entre espaço e tempo. Alguns deduzirão que o ser, ou seja, nós mesmos, está no centro e que a circunferência representa o universo que nos rodeia. Ou talvez o inverso se tomarmos a corrente de pensamento de Jean Delaporte em sua obra “o grande arquiteto do universo”: “o círculo revelado pelo grande arquiteto do universo é uma forma que contém todas as formas e todos os possíveis. É uma matriz onde se concebem os nascimentos múltiplos, do espírito à matéria. O grande arquiteto do universo, ao nos revelar o círculo da criação, nos convida a entrar no da iniciação. Cada ponto da periferia é equidistante do centro e é o mesmo para cada irmão em relação ao conhecimento. Mas esta verdadeira igualdade não é uniformidade, porque este círculo contém ao mesmo tempo a unidade do ponto e a multiplicidade dos raios ”. Em outras palavras, na minha opinião, cada irmão percorre caminhos diferentes, mas todos têm o mesmo destino, o do conhecimento, da verdade e da virtude. Cada ponto da periferia é equidistante do centro e é o mesmo para cada irmão em relação ao conhecimento. Mas esta verdadeira igualdade não é uniformidade, porque este círculo contém ao mesmo tempo a unidade do ponto e a multiplicidade dos raios ”. Em outras palavras, na minha opinião, cada irmão percorre caminhos diferentes, mas todos têm o mesmo destino, o do conhecimento, da verdade e da virtude. Cada ponto da periferia é equidistante do centro e é o mesmo para cada irmão em relação ao conhecimento. Mas esta verdadeira igualdade não é uniformidade, porque este círculo contém ao mesmo tempo a unidade do ponto e a multiplicidade dos raios ”. Em outras palavras, na minha opinião, cada irmão percorre caminhos diferentes, mas todos têm o mesmo destino, o do conhecimento, da verdade e da virtude.

Na Confissão de um Maçom (1727), o compasso está ligada ao juramento do iniciado, que então a mantém presa em seu peito aberto a 90 °, que é a medida do quadrado. No regime retificado, o Venerável Mestre dizendo ao iniciado: "pegue esta bússola aberta em ângulos retos e coloque o ponto com a mão esquerda sobre o seu coração descoberto ... o esquadro indica a você que, se você preencher tudo com precisão e regularidade todos esses deveres, você deve esperar chegar à luz do verdadeiro Oriente. A interpelação que te foi feita ensina que se o homem perdeu a luz pelo abuso da sua liberdade, pode recuperá-la por uma vontade firme e inabalável na prática do bem. o compasso  sobre o seu coração é o emblema da vigilância com a qual você deve suprimir suas paixões e regular seus desejos ”.

O compasso é por excelência um símbolo de abertura. O aprendiz com a bússola contra a carne entra, na verdade, num espaço-tempo, de que falamos anteriormente, que permite escapar ao ruído do mundo profano. Além disso, o ponto do compasso voltado para cima pode ser interpretado como o desejo de ir às estrelas e acessar o conhecimento.

Assim, por ser uma representação da mente, a bússola tem essa faculdade, ao se distanciar de um quadrado, de ser ela mesma e do esquadro como se, a sabedoria adquirida, a luz revelada e alcançada, o maçom tivesse o poder submeter seu corpo e seus desejos materiais ao controle de sua mente e assim ter acesso à liberdade de uma dignidade humana justa e perfeita. Além disso, no manuscrito de Wilkinson, é dito que um pedreiro nunca pode se perder, pois é certo que sempre o encontrará no quadrado e dentro do compasso.

O compasso é, portanto, a expressão do rigor geométrico nas atividades criativas, no tempo, nos ciclos espaço-temporais, no conhecimento, no espírito, na verdade, na sabedoria, pois é o instrumento de medida por excelência e, portanto, permite o acesso à medida em todas as coisas.

O compasso é considerado a imagem do pensamento nos diferentes círculos que percorre; os espaçamentos de seus ramos e suas aproximações representam os vários modos de raciocínio que, de acordo com as circunstâncias, devem ser abundantes e amplos ou precisos e estreitos, mas sempre claros e persuasivos. O compasso também dará ao raciocínio seus limites porque, apesar da riqueza do trabalho maçônico, deduções, induções e comparações não podem ser complicadas ad infinitum.

Como muitas outras ferramentas, o compasso é um emblema de precisão e exatidão. Um pedreiro não deve empreender nada se não tiver considerado cuidadosamente seu projeto, examinando a superfície do círculo que deseja desenhar para chegar ao objetivo desejado. A estrutura móvel do compasso convida-nos a abrir os ramos das nossas concepções, a alargar o círculo da nossa compreensão, da nossa avaliação e isso sem preconceitos. O compasso permite encontrar a medida na busca do meio-termo. Tenha um senso de proporção. Controle suas paixões dentro de limites justos.

Claro, não esqueçamos que o compasso tem um ponto fixo essencial para um desenho estável, o que torna necessário que cada um encontre o seu próprio ponto de ancoragem que permitirá traçar um círculo justo e perfeito, e apesar de tudo o que resta aberto e móvel na outra ponta. Para concluir esta 2ª parte, gostaria de dizer a todos a seu compasso.

O esquadro e o compasso:

Mas por que a união do quadrado e do compasso se tornou o símbolo tão característico da Maçonaria?

As três grandes luzes da alvenaria são uma das primeiras coisas que o iniciado percebe; a bíblia para direcionar nossa fé, o quadrado para ajustar nossas ações, a bússola para nos fazer ficar na medida certa em relação a todos os homens. O objetivo do esquadro e da bússola é treinar o coração, regular a mente e não fazer nada fora da ordem. O esquadro e o compasso representam sabedoria e justiça, um bom pedreiro nunca deve se desviar deles. É por isso que o quadrado e o compasso são dois símbolos básicos usados ​​com mais frequência para reconhecer uma entidade maçônica. No simbolismo maçônico, como em todos os outros simbolismos, os símbolos são frequentemente associados: eles se complementam, temperam, se contradizem. E assim é com o quadrado e a bússola.

O esquadro é um instrumento fixo que permanece passivo e que simboliza a matéria.

O compasso é móvel, portanto ativa e simboliza o espírito.

Na loja, a bússola e o quadrado são colocados no altar de três maneiras diferentes: no 1º grau o quadrado é colocado no compasso para que o material domine a mente e só se possa pedir ao aprendiz sinceridade e confiança.

No 2º grau, o quadrado é cruzado com a bússola. A matéria e o espírito se equilibram e o companheiro mostra sinceridade e discernimento.

No 3º último grau, a bússola é colocada no suporte. O espírito sobrevoa a matéria e o lema torna-se discernimento e justiça.

Não nos esqueçamos de que durante a cerimônia de iniciação, quando o destinatário faz o juramento maçônico, ele apoia um dos pontos cardeais que segura com a mão esquerda contra o peito. Esta é provavelmente a primeira manifestação da aliança da matéria e do espírito.

Em quase todos os sistemas filosóficos até o Oriente (hindus, budistas, xintoístas), o quadrado é a base, a referência imutável. Sua energia é passiva. Mostra o que é certo e o que não é. Ele endireita o que não é mais ou o que ainda não é. Ela é imparcial. Ele verifica se a direção ou a decisão tomada está certa. A bússola, por sua vez, é viva e você tem que saber usá-la sem se machucar. Se a sabedoria não estiver presente, pode ser perigoso porque sua energia está ativa. Graças ao seu ramo móvel, permite rastrear, avaliar, medir e comparar. Se você escuta os dois, é essencial estar correto, trabalhar a retidão em seu comportamento para tomar decisões justas e perfeitas na vida. Se o quadrado é uma ferramenta para verificar e controlar a exatidão de uma decisão, de uma direção tomada, a bússola é a ferramenta do designer, que nos lembra que todo trabalho deve ser pensado com inteligência e pensado com espírito antes de ser realizado. Esta é a razão pela qual não podemos desenhar círculos com uma bússola cujos ramos estão espaçados de até 180 °. Ao mesmo tempo, quanto mais aberta a bússola, mais a mente se abre e cresce. É por isso que no comércio de construtores consideramos que a imagem da medida perfeita é quando o compasso está a 90 °, ou seja, também é quadrado. Esta é a razão pela qual não podemos desenhar círculos com uma bússola cujos ramos estão espaçados de até 180 °. Ao mesmo tempo, quanto mais aberta a bússola, mais a mente se abre e cresce. É por isso que no comércio de construtores consideramos que a imagem da medida perfeita é quando o compasso está a 90 °, ou seja, também é quadrado. Esta é a razão pela qual não podemos desenhar círculos com uma bússola cujos ramos estão espaçados de até 180 °. Ao mesmo tempo, quanto mais aberta a bússola, mais a mente se abre e cresce. É por isso que no comércio de construtores consideramos que a imagem da medida perfeita é quando o compasso está a 90 °, ou seja, também é quadrado.

Assim, o movimento do quadrado ao compasso é a tradução da passagem simbólica da terra ao céu, da matéria ao espírito, do inconsciente ao consciente. Vimos que sua posição em relação ao outro evolui à medida que se avança na construção de si mesmo. Esta jornada, portanto, vai de uma mente dominada pela matéria para uma mente que domina a matéria e a carne, e que através de um estágio de conciliação, veja reconciliação. Os humanos seriam, portanto, duas realidades, duas facetas em um ser vivo. Visto por este ângulo, temos que lutar contra nós mesmos para que uma das duas realidades domine a outra. Este pode ser o objetivo essencial da iniciação maçônica; essa consciência se mover em direção à luz. A Maçonaria seria então um ascetismo moral ao qual todos os maçons se entregariam.

O círculo desenhado pela bússola é o desenvolvimento do centro em seu aspecto dinâmico, enquanto o quadrado é uma representação geométrica em seu aspecto estático. Vamos explicar essa peculiaridade com mais precisão. O esquadro, que serve para verificar os ângulos retos e por extensão para desenhar um quadrado, limita a matéria no espaço, portanto é estático, enquanto o compasso que desenha os círculos é criativo e, portanto, tem um aspecto dinâmico. O quadrado e o compasso entrelaçados ou sobrepostos um ao outro representam a perfeição complementar do quadrado e do círculo, bem como a harmonia do material e do espiritual. Eles representam a retidão na ação e a precisão em todas as realizações.

Por outro lado, considerando que o quadrado e o compasso são respectivamente a imagem da terra e do céu, o volume da lei sagrada corresponde à descida da verdade, do verbo criativo. A interseção das duas ferramentas nos faz pensar em um casamento entre o céu e a terra, é claro que o quadrado tem suas pontas para baixo, enquanto a bússola os tem para cima. O iniciado após seu juramento torna-se em algum lugar, simbolicamente um filho do céu e da terra.

Além do simbolismo individual e de casal do quadrado e do compasso, é interessante sublinhar que esses dois símbolos também se referem a duas noções essenciais que se encontram em todas as ciências: verticalidade e horizontalidade. Com efeito, ainda que o pedreiro deva tender para o meio-termo e o equilíbrio em tudo, em particular entre o quadrado e o compasso, a alvenaria que quer ser progressiva deve ajudar os irmãos a subir, o que é representado pela passagem da horizontalidade à verticalidade. Assim, o pedreiro que trabalha em sua construção fica de pé verticalmente, vai gradualmente do estado deitado para o estado de pé e, portanto, cria o ângulo do compasso até que esteja completamente vertical em 90 °, portanto quadrado. É por isso que se diz que um companheiro escreve por meio de um esquadro enquanto o professor escreve por meio de uma bússola.

Para finalizar este trabalho de abordagem sobre o esquadro e o compasso, fico satisfeito em conhecer melhor estes dois símbolos maçônicos que são os mais conhecidos do mundo profano. O elemento fundamental do qual tentarei torná-lo meu é a noção de simbolismo em ação. Na verdade, este trabalho só me levantará verticalmente se, e somente se, eu integrar inconscientemente em minha vida de pedreiro e profano todos os deveres inerentes ao quadrado e ao compasso. Naquela época, esses dois símbolos servirão de filtros para minhas decisões diárias. Esta é para mim a diferença entre estudar um símbolo e viver o símbolo.

Enfim, não sei se foi a retidão que me permitiu fazer este trabalho ou se foi esse trabalho que me permitiu encontrar a retidão, uma qualidade relativamente constrangedora mas tão inebriante quando nos permite construir melhor e mais alto.

Tenho dito venerável Mestre.


F \ P \ Redaelli

dezembro 29, 2021

O MESTRE MAÇOM PERANTE O APRENDIZ E O COMPANHEIRO - Rui Bandeira


Qual a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro?

Em minha opinião, não é "Mestre", nem "formador", nem "ensino". É certo que os Aprendizes e Companheiros estão em período de formação, de aprendizagem e prática sobre símbolos e simbologia, valores, propósitos e objetivos. É também certo que a formação de Aprendizes e Companheiros é enquadrada e proporcionada pelos Mestres da Loja. Aliás, no Rito Escocês Antigo e Aceito - e não só - existe um Mestre da Loja com a específica responsabilidade de coordenar a formação dos Companheiros - o Primeiro Vigilante - e outro com idêntica responsabilidade em relação aos Aprendizes - o Segundo Vigilante. Também é comum, e certo, o entendimento de que o Padrinho (isto é, o proponente da admissão do então ainda profano na Loja) tem o especial dever de acompanhar e auxiliar o Aprendiz ou o Companheiro cuja entrada na Loja patrocinou, quer na sua integração no coletivo que é a Loja, quer na sua formação.

Mas, sendo tudo isto certo, sempre entendi e defendi que, em bom rigor, a Maçonaria não se ensina, aprende-se, isto é, os Mestres proporcionam os meios, propõem os conceitos, guiam os Aprendizes e Companheiros no seu trabalho, mas o essencial está no trabalho do próprio Aprendiz ou Companheiro, no seu esforço, no seu compromisso, perante si próprio, de ser e fazer melhor, sempre melhor.

O trabalho do maçom é sempre e inapelavelmente individual, embora executado no seio e com o auxílio do grupo que é a Loja. Mas o determinante é o desbaste que o cinzel, sob a pancada do malho, ambos empunhados pelo maçom, efetua na pedra que está a ser desbastada, o próprio que maneja as ferramentas de desbaste. Esse é o trabalho essencial, o que tem vero significado, o que importa. Esse é o trabalho que mais ninguém executa, nem pode executar, senão o próprio em si mesmo.

Todo o resto é acessório. E, porque assim é não é o que se ensina ou quem ensina, ou como ensina que releva. O que releva é tão só o que se aprende.

No meu entendimento, a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro é "exemplo".

Precisamente porque aquele que está a aprender a aprender é influenciado, formado, preparado, mais do que pelas palavras, mais do que por lições, mais do que por explicações ou exposições, pelos atos de quem vê como mais antigo, mais experiente, mais "sabedor", mais "qualificado". Em Maçonaria não vigora, não deve vigorar, seria inaceitável que vigorasse o dito popular "Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz". A melhor pedagogia, a mais eficaz, a que realmente vale a pena, é a do exemplo.

Não nos esqueçamos de que os Aprendizes e Companheiros, sendo jovens membros da Loja, não são, porém, imaturos infantes na vida... Pelo contrário, são pessoas desenvolvidas, com as suas competências sociais inteiramente adquiridas, com vida própria, princípios e valores de base adquiridos, com família, muitas vezes (seguramente na maioria dos casos) eles próprios educando os seus filhos.

Não são bonitas palavras, elegantes conceitos, que marcam, convencem, ajudam a melhorar, adultos com vida e personalidade próprias e marcadas e, evidentemente, com o espírito crítico que desenvolveram ao longo da sua vida.

Os Aprendizes e Companheiros são jovens na Loja, ainda apenas sabem soletrar a simbologia que lhes é presente, mas sabem muito bem, como adultos capazes e experientes que são distinguir entre a parra e a uva e, sobretudo, discernir quando porventura alguém que lhes pretenda dar lições, afinal tenha muita parra e pouca uva e devesse no fim de contas dedicar-se a realmente aprender e executar as lições que debita...

Só é verdadeiramente Mestre Maçom aquele que propicia a aprendizagem, a melhoria, o crescimento, dos Aprendizes e Companheiros, pelo seu EXEMPLO.

De muito pouco valem bonitas exortações, exuberantes conceitos, profundas lições, se tudo isso não passar de meras palavras facilmente levadas pelo vento dos fatos, regularmente desmentidas pelos atos praticados. Se o Mestre Maçom, apesar de pregar o trabalho, o esforço, a qualidade, se mostra desinteressado, desleixado, despreparado, dificilmente inculcará no Aprendiz ou no Companheiro as virtudes que proclama da boca para fora e trai nos seus atos.

Por isso, a postura do Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro deve atender sempre a que tem de agir como o exemplo daquilo que proclama, sem contradição, sem facilitação. Ou muito mau Mestre será...

Afinal de contas, se acho que a Maçonaria não se ensina, aprende-se, também acho que uma das melhores formas de aprender é diligenciar ensinar. E, tendo-se sempre presente que, em Maçonaria, a melhor forma de ensino é o exemplo, facilmente se adquire a noção de que, para se puder dar o exemplo, tem-se de, constantemente, dar o melhor de si mesmo, fazer melhor, trabalhar mais esforçadamente, procurar sempre ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje.

Basta, simplesmente, fazer aquilo que se proclama. Chega, afinal, ser efetivamente maçom em todos os atos e momentos. E assim poder ser reconhecido pelos demais de que é realmente Mestre Maçom, capaz de dar o exemplo aos mais jovens de como se faz - sempre e até ao fim da vida!

OS TRÊS PONTINHOS - Ir.'. Espedicto Figueiredo


Muitos não iniciados (que se convencionou chamar de profanos) ficam intrigados com as abreviaturas encontradas nos escritos da Maçonaria, as quais consistem em substituir parte das palavras nos textos por três pontos. Ao contrário do que muitos imaginam, os Três Pontos dispostos em triângulo, usados pelos Maçons em seus documentos e impressos, não são um símbolo. São um sinal gráfico adotado em abreviaturas e no final do “ne varietur”; no primeiro caso identificam as abreviaturas de termos Maçônicos, e, no segundo, servem como forma de identificação do Maçom. Não somente para os não Maçons, mas, também, para muitos dos iniciados na Sublime Ordem, os Três pontos indicam a idéia subjetiva de segredo, expressa através do número três, algarismo muitíssimo ligado à simbologia e hermenêutica Maçônicas. Sua origem, na verdade, está nas abreviaturas, tradição antiquíssima que a Arte Real trouxe para o seu seio e que se mantém até os dias de hoje.

Não obstante, os Três Pontos foram relacionados com os inúmeros símbolos Maçônicos e que acabaram tendo interpretações esotéricas e simbólicas, culminando com o uso nas assinaturas dos Maçons. Entretanto, essa prática de apor os três pontos na assinatura não é de uso universal, como por exemplo, a Maçonaria Inglesa, que não adotou. Seu uso, porém, estendeu-se gradativamente, nos Estados Unidos, à medida que entrava em uso geral nas Potências Latinas. Como todas as coisas ligadas à Maçonaria, não faltaram aos Três Pontos exegetas e hermeneutas para dar os mais variados significados. A exemplo do triângulo, uma das mais simples figuras geométricas que tornou a sua representação gráfica uma ideia ternária à qual foi ligada, os Três Pontos, igualmente, tem a sua figura assimilada à vários significados: Liberdade, Igualdade e Fraternidade; Vontade, Amor e Sabedoria; Fé, Esperança e Caridade; Espírito, Alma e Corpo; Passado, Presente e Futuro e outros.

Em nossas atividades normais, isto é, fora da Maçonaria, o uso de abreviaturas está bem codificado e não prejudica em nada o seu emprego. Ao contrário: Há certas palavras e expressões, convencionalmente representadas pelas respectivas letras iniciais, ou por essas iniciais seguidas de outras letras, cujo conhecimento oferece enorme utilidade.

Abreviaturas não são novidades. Desde a Antigüidade, gregos e romanos já delas se utilizavam. Elas chegaram a ser proibidas, como em Roma, no tempo de Justiniano I (483-565), por gerarem confusão. O mesmo ocorreu na França da Idade Média, e, em 1304, o Rei Felipe, o Belo, interditou o seu uso nas atas jurídicas. É visto, por exemplo, nos objetos celtas do Século XI antes de Cristo e muito antes nas cerâmicas egípcias, cretas e gregas. Os Três Pontos têm, pois, origem bem antiga. Costuma-se relacionar os Três Pontos, dispostos em triângulo, como uma das expressões comuns da luz interior e do espírito que presidiu à criação do mundo.

Afirma-se que a abreviatura com Três Pontos foi utilizada na Maçonaria, pela primeira vez, em 12 de Agosto de 1774, quando o Grande Oriente da França comunicou o novo endereço à todas as suas Lojas jurisdicionadas. Há, contudo, outras versões, como a de que o início da utilização do Triponto deu-se em 1764, na Loja de Besançon, também na França, e a de que teria surgido com o companheirismo, por representar o triângulo. E há até quem declare, categoricamente, que o seu uso vem da arte hieroglífica dos egípcios. Naturalmente, para cada versão existem os seus contestadores. Alguns autores apontam que os Templários faziam uso dos Três Pontos, e, que no calabouço, onde Jacques de Molay esteve preso durante oito anos, nas paredes haviam grafitos e um deles era o Triponto.

As abreviaturas, usualmente, empregadas na Maçonaria são do tipo “por suspensão” ou “apócope” que consiste em suprimir letras ou silabas no final da palavra que se quer abreviar. Por regra, essas abreviaturas só deveriam ser usadas nas palavras de vocabulário Maçônico e jamais para as palavras profanas. A má aplicação das abreviaturas chega a provocar textos incompreensíveis até em rituais, o que prejudica, sobremaneira a sua leitura e entendimento.

Não há uma regra quanto à disposição dos Três Pontos, um em relação aos outros. As disposições encontradas são das mais variadas, tanto no formato do triângulo delta (equilátero), como nos formatos isósceles e retângulo em diversas posições, aparecendo, até, como sinal de reticências... Quanto ao uso em si, é costume empregar abreviaturas nas palavras suprimindo lhes alguma ou algumas das letras finais e conservando as que forem necessárias para a leitura fácil e de boa compreensão do sentido da frase. Deve haver, sempre, a preocupação de se evitar ambiguidade, para que não gere confusão quando da leitura do texto. Recomenda-se, também, para que a suspensão se faça sempre no meio de uma sílaba e que a primeira letra suprimida seja uma vogal e a última deixada seja uma consoante. Há algumas exceções, evidentemente. Para as palavras no plural utiliza-se do expediente de dobrar a primeira letra.

Independente de qualquer que seja o verdadeiro significado que possa conter os Três Pontinhos, nada é mais expressivo, honroso e orgulhoso ao Maçom, quando ainda neófito, receber a orientação de poder usá-los junto à sua assinatura. Contudo, haverá situação em que, por motivos profissionais, políticos, sociais, familiares, etc., o Maçom necessite não se revelar; e, não há obrigatoriedade para colocação dos Três Pontos na assinatura. Por outro lado, devemos atentar que nem todos que usam os Três Pontinhos, em sua assinatura, são Maçons. O Triponto aparece, também, junto aos adeptos da Ordem Rosacruz e, igualmente, aliado aos seus significados simbólicos.

Na sétima instrução de Aprendiz é ministrado que “três é o número da Luz (Fogo, Chama e Calor); três são os pontos que o Maçom deve orgulhar-se de apor à sua assinatura, pois esses três pontos, como Delta Luminoso e Sagrado, são emblemas dos mais respeitáveis e representam todos os ternários conhecidos e, especialmente, as três qualidades indispensáveis ao Maçom: Vontade, Amor ou Sabedoria e Inteligência”. Essas qualidades são, absolutamente, inseparáveis uma das outras, pois devem agir em perfeito equilíbrio no Maçom, para que ele sempre seja justo e perfeito.

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Bibliografia:

- Aslan, N. - Estudos Maçônicos Sobre Simbolismo

- Boucher, J. - Simbólica Maçônica

- Camino, R. da - Dicionário Filosófico de Maçonaria

- Charlier, R. J. - Pequeno Ensaio Simbólica Maçônica nos Ritos Escoceses

- Christian J. - A Franco-Maçonaria

- Figueiredo, J. G. - Dicionário de Maçonaria

- Moreira, A. P. - Chave dos Mestres

- Ritual do Aprendiz - GLESP

- Pusch, J. - ABC do Aprendiz

- Santos, S. D. - Dicionário Ilustrado de Maçonaria

- Tourret, F.- Chaves da Franco-Maçonaria.