janeiro 06, 2022

CARACTERÍSTICAS E AÇÕES DO MESTRE MAÇOM SERVIDOR - Ir.’. Charles Evaldo Boller



Confunde-se muitas vezes o mestre maçom servidor com uma pessoa que se anula e se torna subserviente ao grupo, é tanto que, por insegurança, alguns mestres maçons presidentes passam a adotar uma taciturna postura isolada, quando não arrogante e prepotente. Com firmeza exacerbada, aplicam a rigidez ritualística nas sessões e nunca se arriscam em soltarem a loja em edificantes debates em família, sem os degraus que separam oriente e ocidente, como preconiza o modelo de igualdade da sociedade maçônica.

Ao mestre maçom cabe desenvolver liderança, a habilidade de influenciar seus pares a trabalharem entusiasticamente em si mesmos de modo a saírem do templo renovados para suas lides no mundo onde dedicarão suas vidas ao bem comum. Esta liderança é uma habilidade adquirida pela participação e convivência nas atividades litúrgicas e sociais da loja. É nos templos que se aprendem e desenvolvem habilidades da técnica de influenciar pessoas voluntárias. Esta habilidade de liderança é resultado do desejo ardoroso de fazê-lo e desde que se coloquem em prática ações adequadas.

Para desempenhar a liderança o mestre pode usar do poder que leis e regulamentos lhe facultam, forçando e coagindo os obreiros a fazerem suas tarefas, mesmo que não se predisponham em fazê-lo. Pode também usar de habilidade e levar os voluntários a fazerem de boa vontade o que determina por conta da influência pessoal que possui. O mestre servidor é sábio, bem treinado executa a liderança com eficiência sem utilizar-se do poder de que dispõe por lei ou por influência pessoal e leva seus liderados a executarem tarefas enquanto são construídos relacionamentos; onde o liderado alcança os objetivos comuns por conta de sua própria voluntariedade, ação e responsabilidade.

Quando ouvem discursos empolgantes e motivadores, a maioria dos mestres maçons entendem e se entusiasmam com a ideia do constante desenvolvimento proposto pela Maçonaria, mas quando voltam para suas lides diárias esquecem rapidamente do que se tratou no dia anterior e não mudam. Como é possível progredirem se não mudam? Como poderão aguardar resultados diferentes sem forçar mudanças?

Para liderar é necessário servir, é desenvolver a capacidade de identificar e satisfazer necessidades legítimas dos liderados, removendo barreiras para que nasçam relacionamentos edificantes. O líder servidor não é o escravo que faz o que os outros querem, o maçom servidor faz tudo aquilo que os outros precisam para atingir suas metas e necessidades.

A disciplina desenvolvida pela ritualística estabelece limites bem definidos e rígidos que o maçom usa para sua autoeducação e assim torna-se pessoa responsável com atuação proativa. O que treina pela repetição da ritualística aplica depois automaticamente em sua vida fora do templo. O líder maçom está sempre muito mais preocupado com as necessidades que com as vontades dos irmãos.

Maslow definiu as necessidades humanas numa escala:

1 - comida, água, moradia;

2 - segurança e proteção;

3 - pertencimento e amor;

4 - autoestima; 

5 – auto realização. 

O estágio seguinte nunca será completo sem a total satisfação das necessidades que a antecedem. 

O mestre maçom servidor está no último estágio desta escala. Enquanto não tiver atendidas todas as necessidades anteriores, é muito difícil que desenvolva a capacidade de liderança natural de um mestre maçom servidor, será qualquer coisa, mas não um servidor em sua plenitude. Nos primeiros estágios é comum interpretar o servir com anulação e subserviência. 

A luta para atender as necessidades que antecedem a fase da autorealização o deixa incompleto, na defesa. É tanto que nesta fase evolutiva procura mais tirar vantagem para atender primeiro suas próprias necessidades não atendidas que as do próximo. É por isso que para se desenvolver ao ponto de atingir o último estágio desta escala é necessário aplicar tempo e energia para efetuar mudanças. Sem mudanças sem resultados diferentes!

O ponto fundamental do maçom que alcança na vida o último estágio de realização das necessidades é desenvolver o amor fraterno apoiado na vontade. É aquele amor identificado pelos grandes iniciados que já se foram. É aquele amor que tem a infalível capacidade de resolver a todos os problemas que afligem os relacionamentos humanos. É um amor traduzido pelo bom comportamento. Este amor incondicional e liderança são sinônimos. É tanto que este amor é doado para bons e maus; sem significar que o maçom servidor considera que as pessoas ruins não são ruins. Doar-se não significa subserviência e anulação, mas conduzir o grupo de tal maneira que o bem comum, as virtudes individuais fiquem a disposição do grupo.

O líder qualificado na plenitude de sua auto realização tem como características: 

- Usa de bondade, aprecia e incentiva cada obreiro em sua atividade; 

- Presta atenção ao que o liderado diz; 

- Elogiar faz parte da psique humana, daí elogia na hora certa e com isto constrói relacionamentos, mas nunca abusa deste porque em demasia o elogio se banaliza; 

- Amor é sinônimo de humildade; 

- É autêntico, sem pretensão, orgulho e ganância; 

- Não finge e também não é franco tosco a ponto de ofender; 

- Coloca o outro sempre numa posição de destaque, onde se sinta importante, trata com respeito, sem diminuir a si mesmo ou anular-se; 

- Satisfaz ou cria os mecanismos para o liderado satisfazer suas necessidades; 

- Em caso de ressentimentos, da maneira mais habilidosa e urgente, desiste de ressentimentos e perdoa quando o liderado o engana, haja vista que decepções são comuns nos relacionamentos, a maioria delas em resultado de ruídos na comunicação que de maldade; 

- Cria tal confiança de parte do liderado que este deposita confiança em sua honestidade; 

- Ao efetuar escolhas, atem-se firmemente a estas, só mudando de posição com razões claras, bem definidas e de forma transparente.

Como o homem é autodeterminante por ação de seu livre arbítrio só ele mesmo tem a capacidade de mudar-se. Na Maçonaria é a ação da autoeducação, o "conhece-te a ti mesmo", de Sócrates. Em todos os graus o maçom servidor lida com pensamentos. É pelo pensamento que a Maçonaria muda a sociedade. O pensamento transformado em ações desenvolve hábitos, que por sua vez sedimentam num caráter elevado que conduz o líder maçom servidor ao seu destino. 

Assim como fizeram os iluministas do século das luzes, ao mudarem os homens pela ação do pensamento, estes mudaram a sociedade, a um homem convencido dificilmente se domina; apenas se lidera. Liderar um homem livre pensador para objetivos que visam o bem comum é um desafio pessoal, mas é, adicionalmente, a maior expressão da palavra liberdade, e isto só é possível se o mestre maçom, sem diminuir-se, sem anular-se, serve aos demais.

Disciplinar-se para tornar-se mestre maçom servidor não é ação natural, é algo a ser treinado em todas as oportunidades. Cada mestre maçom tem o potencial de desenvolver a capacidade de tornar-se servidor sem se anular, porque esta é característica de projeto da criatura desenvolvida pelo Grande Arquiteto do Universo. Aquele que descobre o servir como alimentador da última das necessidades humanas se autrealiza em tudo o que faz e, certamente, usufrui de inúmeros momentos de felicidade como seu justo salário.

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Bibliografia:

1. FERREIRA, Antônio do Carmo, A Função do Maçom na Sociedade, ISBN 978-85-7252-272-4, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 148 páginas, Londrina, 2009.

2. GAARDER, Jostein, O Mundo de Sofia, Romance da História da Filosofia, título original: Sofies Verden, tradução: Gabriele Haefs, ISBN 85-7164-475-6, 1ª edição, Editora Schwarcz Ltda., 556 páginas, São Paulo, 1995.

3. GLEISER, Marcelo, Criação Imperfeita, ISBN 978-85-01-08977-7?, 1ª edição, Editora Record, 366 páginas, São Paulo, 2010.

4. HUNTER, James C., O Monge e o Executivo, Uma História Sobre a Essência da Liderança, título original: The Servant, tradução: Maria da Conceição Fornos de Magalhães, ISBN 85-7542-102-6, 1ª edição, Editora Sextante, 140 páginas, Rio de Janeiro, 2004.

5. MARTINS, Maria Helena Pires; ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, Temas de Filosofia, ISBN 85-16-02110-6, 1ª edição, Editora Moderna Ltda., 256 páginas, São Paulo, 1998.

6. QUADROS, Bruno Pagani, O Pensador do Primeiro Grau, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 978-85-7252-247-2, 1ª edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 184 páginas, Londrina, 2007.

7. STEVENSON, David, As Origens da Maçonaria, O Século da Escócia, 1590-1710, tradução: Marcos Malvezzi Leal, ISBN 85-370-0013-2, 1ª edição, Madras Editora Ltda., 286 páginas, São Paulo, 2005.


Biografias:

- Abraham Maslow ou Abraham H. Maslow, psicólogo de nacionalidade norte-americana. Nasceu em 1 de abril de 1908. Faleceu, em 8 de junho de 1970, com 62 anos de idade. Conhecido pela proposta hierarquia de necessidades de Maslow.

- Sócrates ou Sócrates de Atenas, filósofo de nacionalidade grega. Nasceu em Atenas em 468 a. C. Faleceu, em 399 a. C. Um dos mais importantes pensadores de todos os tempos.

EU DEVO SER CHAMADO DE MAÇOM? - Walter Celso de Lima


O Ir. Walter Celso Lima da Loja Alvorada da Sabedoria de Florianópolis-SC é professor universitário com doutorado
, escritor, tradutor, um dos mais cultos e notáveis intelectuais maçônicos do Brasil.

Hoje de manhã ao preparar-me para sair de casa, lembrei-me que deveria vestir camisa branca e calça preta. Também não poderia esquecer-me da pasta onde guardo os rituais, o avental e o balandrau.

Afinal, hoje é segunda-feira, dia de sessão da nossa loja. Enquanto tomava as providências de saída, fiquei refletindo sobre as razões de cumprir tal agenda, especialmente num evento que invariavelmente participo bastante cansado, depois de um dia intenso de trabalho.

Mas, respondi para mim mesmo: devo ir, pois sou maçom e tenho que cumprir com as minhas obrigações assumidas perante os irmãos e minha consciência.

Também, devo dizer: adoto a disciplina de procurar sempre cumprir com os compromissos assumidos. Afinal, sou ou não um maçom? Perguntei para mim mesmo.

Ao pensar sobre o questionamento lembrei-me do texto contido no nosso ritual de aprendiz que diz: "um maçom para ser completo, deve ser educado, ativo, estudioso, verdadeiro e firme e possuir espírito público".

Refleti sobre aqueles valores e comportamentos e conclui de relance que eu estou longe de ser um maçom. Afinal de contas, para que seja um maçom preciso ser um cidadão completo em termos de valores filosóficos e materiais.

Mas vamos por parte na análise de tal conceito: para ser maçom devo ser educado. Bem, constantemente, isto não é fácil de ser. O conceito de educado tomado no sentido do bom comportamento e de cortesia nem sempre pratico.

Não raras vezes sou explosivo com os outros, muito especialmente, quando sou contrariado. Para preencher este requisito penso que teria que ser mais tolerante, bom ouvinte e humilde.

Conclusão: não sou educado. Pelo menos como deveria ser.

Ativo: bom, ativo para algumas coisas eu sou. Mas, na idade que estou, sou mais seletivo nas escolhas. Não raramente sou ativo com aquilo que dá mais prazer.

Conclusão: não devo ser chamado de inativo completo. Porém, não sou bom exemplo neste quesito. 

Com a palavra a tela da televisão, que me tem por horas a contemplá-la.

Apesar de não assistir qualquer coisa, é bom que se diga. Para melhorar neste item, deveria assistir menos esta tela invasora de nossos lares.

Estudioso: bom, agora mesmo que a autocrítica fica mais pesada.

Quanto livros tem lido ultimamente? Nenhum começo e nenhum termino. A idade me fez diminuir a paciência com textos longos. Mas, também tenho qualidades neste tópico. Leio jornais e revistas. Isto também é uma forma de estudo. Mas é pouco, devo reconhecer.

Verdadeiro e firme: estes valores difíceis de serem praticados. Verdadeiro significa ser sincero, agir com ética, compromissado com a verdade. Do mesmo modo, firme não é fácil de ser, ao menos constantemente.

Não raras vezes prefiro vergar a coluna a afrontar opiniões ou comportamentos contrários, mesmo sabendo serem eles errados, com a explicação de "pagar para não se incomodar".

Possuir espírito público: neste quarto quesito a minha consciência diz que sempre mereci mais consideração do que tive do ponto de vista do reconhecimento de terceiros. Aqui o espelho da consciência me diz que, se não andei sempre nos trilhos, o trem da corrupção e das facilidades não me atropelou.

Feitas estas considerações, vem o questionamento das razões de eu estar aqui. Me autoqualificar de maçom.

Mudar a assinatura para incorporar os três pontinhos. Chamar os iguais de irmãos. Praticar rituais com os quais não estava acostumado. Usar trajes que no início me pareceram estranhos. Usar terminologias e gestos estranhos ao meu vocabulário habitual e outras ritualísticas.

O espelho mirado nesta manhã, simbolizado pela minha consciência, me disse algumas coisas interessantes, que gostaria de enumerá-las.

1 - Estou longe de ser um maçom. Sou apenas um aprendiz e talvez algum dia um candidato a ser.

2 - Se algum dia alcançar a condição de maçom tem de ser muito melhor do que sou hoje e se quiser alcançar o objetivo, não será possível sem esforço pessoal e isto ninguém fará por mim.

3  Preciso ser mais educado no trato com os irmãos (de todas as lojas e orientes), mais ativo, mais estudioso, mais verdadeiro e firme, pensar mais no interesse público e ser menos egoísta.

Refletindo sobre tudo isso e observando o comportamento alheio, diga-se de passagem, fazer isso parece que dá mais prazer. Mesmo porque fica mais fácil para justificar as nossas carências e falhas.

Com um fio de prazer concluo que não sou tão desigual. Na minha ótica, não estou sozinho neste mar de imperfeições. Volto a pensar melhor e concluo que isso não justifica, afinal, carências alheias não suprem as minhas.

Assim, não tem jeito. Tenho que cuidar mais de mim. Assumir compromissos de melhora e fazer a própria reforma íntima. Caso contrário, é bem provável que até a condição de aprediz um dia venha perder, pois a caravana anda e tenho de estar sempre nela, polindo a pedra.

E você, meu irmão, já olhou no espelho hoje para ver e ouvir a voz da sua consciência.?

janeiro 05, 2022

A LOJA PERFEITA - Manoel Miguel M:.M:.


Parece-me que o sonho de qualquer Loja Maçônica é fazer valer o que diz o Salmo 133:

... “Oh quão bom e quão suave é, que os irmãos vivam em união!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” ...

A elevação do grau de consciência da excelência do AMOR fraternal, descrito nas palavras acima, alcança a todos, não escapa ninguém dessa Lei Universal.

O que sair fora disso é desarmônico, prejudicial. É a força cega que fere de morte a Loja, a filha de Sião.

A Loja unida é como um corpo: quando um padece, todos padecem; quando um chora, todos choram; quando um se alegra, todos se regozijam.

Porque nessa Loja o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre!

O óleo precioso do AMOR fraternal lubrifica as engrenagens, que deslizam sem desgaste em seu trabalho com Força e Vigor.

Como unir homens dotados de egos, vaidades, formações, conceitos, dogmas e valores tão diferentes?

É aí que começa a ficar interessante a arte de ser Maçom e viver em harmonia.

É um esforço comum a todos os membros, e que requer habilidade, comprometimento mútuo e vontade de formar um só corpo.

Antes de apreciarmos os preceitos maçônicos é importante nos conhecermos uns aos outros, trabalhar nossos pontos fortes, identificando os pontos fracos.

Como sempre digo, no mundo profano, o modelo de união se dá pela formação de grupos lapidados por terceiros, enquanto que, na Maçonaria, a lapidação é individual, contanto que cada Pedra lapidada se encaixe no corpo da Loja, antes de se encaixar no edifício social.

O maior prejuízo para uma Loja Maçônica chama-se “crítica”.

Criticar significa pegar o Malhete e sair trabalhando a Pedra do outro irmão. 

A força cega se aproveita disso e conduz a Loja à ruína.

O debate é saudável para a Loja. A crítica é destrutiva.

O behaviorista B. F. Skinner, em seu livro “Science and Human Behavior”, diz que a crítica é fútil porque coloca um homem na defensiva, deixando-o em posição desconfortável, tentando justificar-se. 

Em momentos como esse, a essência do AMOR fraternal, também chamada de egrégora, se desfaz e a força cega assume o controle.

A crítica é perigosa porque fere o que o homem tem como precioso, seu orgulho, gerando ressentimentos.

É o começo do fim dos relacionamentos.

John Wanamaker, um psicólogo estudioso dos relacionamentos, também escreveu: “Eu aprendi em 30 anos que é uma loucura a crítica.

Já não são pequenos os meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”.

Os homens deveriam fazer autocrítica. 

Como não o fazem, criticá-los é desafiar a harmonia em Loja.

B. F. Skinnner costumava fazer experimentos com animais, buscando compreender o comportamento destes, para depois compará-lo com o das pessoas.

Ele demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. 

Estudos recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem.

O homem adora criticar.

Tem os que criticam erros de ritualística em plena sessão, atrapalhando a egrégora, criando constrangimentos, quebrando a sequência dos trabalhos, cruzando a palavra entre as CCol∴e o Or∴tudo pelo prazer de corrigir, criticar e fazer prevalecer seu potencial, seu ego e sua autoridade, quando na verdade, o que deveria prevalecer seria o AMOR.

Buscar a perfeição na ritualística é nosso dever.

Mas não é prudente fazer críticas e correções em pleno serviço.

É o começo do fim.             

Estudos têm mostrado que a crítica não constrói mudanças duradouras, mas promove o ressentimento.

Acaba deixando o rei no trono, mas sem súditos para os governar.

É o fim do reinado.

O combustível do AMOR e da união é o elogio.

Se algum irmão fez um trabalho e o mesmo precisa ser melhorado, seu consciente o está cobrando por melhora.

Ele sabe que precisa melhorar, não porque alguém o cobre melhoras, mas porque o seu interior, sua alma, pede por melhora.

Quando alguém o elogia após a leitura de um trabalho, gera uma crítica construtiva, pois elogiou quando dentro dele existe uma crítica.

Esse irmão se sentirá motivado a fazer mais e mais trabalhos, e, essa persistência o levará à perfeição sem que necessitasse críticas de terceiros.

Hans Selye, outro notável psicólogo que amava estudar o comportamento humano diz: “Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação”.

Na prática, não só tememos, como também não ficamos satisfeitos com críticas feitas por pessoas semelhantes a nós, com o mesmo grau de fragilidade.

A Loja perfeita elogia, sugere, estimula, confere recompensas com palavras: O VERBO. A PALAVRA. 

O AMOR.

Não quero com isso buscar unanimidade favorável a essa tese que defendo.

Mas tenho observado que em Lojas onde se pensa diferente, o AMOR esfriou, a harmonia desapareceu e as CCol∴da Loja estão em perigo.

Bom dia meus Amorosos irmãos. 



MICHAEL - O VERDADEIRO AMOR


 

CAPTAÇÃO MAÇÔNICA - Sérgio Quirino



Sérgio Quirino é um intelectual maçônico e é o atual GM da GLMMG

Além de questões da ritualística e até mesmo questionamentos menores sobre normas e procedimentos, um tema, em especial, vem provocando a atenção, estudos e debates institucionais dentro da Maçonaria.

Há, na maioria dos países, um visível decréscimo do número de Maçons.

Esta é uma realidade incontestável. Alguns indicadores causam preocupação. 

Na década de 1960, por exemplo, estima-se que a Maçonaria nos Estados Unidos contava com cerca de quatro milhões de obreiros.

Hoje, as estatísticas nos informam que são apenas um milhão e meio.

Mas, esse “apenas” significa que são 1.500.000 homens Justos e de Bons Costumes. 

A diminuição do número de membros não é exclusividade da Maçonaria.

Passadas seis décadas, muitas organizações mundiais também sofreram processo de evasão, como instituições religiosas, clubes de serviço e entidades filantrópicas.

Algumas, quase extinguiram. 

Diante desta realidade, não nos cabe, como OBREIROS, a simples e passiva observação da situação. Lembremos que ela não ocorre nas Potências ou Obediência.

A evasão se concentra nas Lojas vinculadas a estas formas administrativas e representativas.

Se há culpados por esta realidade, somos nós mesmos, os Mestres Maçons!

Quantos de nós MESTRES apresentamos trabalhos?

Quantos de nós MESTRES ensinamos os Aprendizes e Companheiros pelo exemplo da presença constante e devidamente trajado?

Quantos de nós MESTRES submetemos nossa vontade e paixão, não fazendo das reuniões campos de batalha ou auditórios para intermináveis discursos de ego?

Enfim, somos, realmente, a Pedra Bruta que faz trincar a obra. 

E o fazemos em duas situações: Primeiro não sabendo conservar os elementos que temos e, segundo, errando na captação de novos elementos.

A principio, os Irmãos devem compreender a captação maçônica como obtenção e conquista de novos membros, mas não é só isto. 

Na ação de ampliar o número de membros das Oficinas, cometemos alguns equívocos: De inicio, convidamos o profano para ser iniciado em “nossa Loja”. 

Mas, as ARLS apenas promovem o cerimonial.

O candidato deve ser iniciado é na Maçonaria. Adotamos uma abordagem equivocada junto ao profano.

Ele adentra ao Templo não só inteiramente ignorante quanto à ritualística, como também, ele desconhece completamente o que seja a Maçonaria como um todo.

Passamos a ele a ideia de que somos um grupo de leais amigos. Será?

Que nos reunimos apenas uma vez por semana. Será? 

Que nosso conhecimento é supremo e único no mundo. Será?

E até mesmo, que as despesas financeiras não são apenas as taxas e per captas. 

Com tanta propaganda equivocada, para não dizer enganosa, o novo membro não se torna um Irmão, não participa e acaba saindo por desilusão.

Para fazer frente à evasão maçônica no presente, a solução correta é melhorar a qualidade das sessões maçônicas, uma obrigação dos Aprendizes, Companheiros e Mestres, indiferente de graus e cargos.

Maior dedicação durante a captação maçônica é a ação preventiva mais eficaz contra a evasão no futuro. 

O roteiro básico passa pela instrução do Padrinho.

Antes de fazer o convite ao candidato, ele deve, primeiramente, contar a ele a história da Maçonaria, os valores que nos são preciosos, nossas grandes obrigações morais e éticas e, principalmente, informá-lo que a Irmandade na Maçonaria não é dada, é conquistada.

Ele deverá ter consciência de que estará vinculado a uma Loja, mas, será membro de uma grande Instituição, que tem outras organizações em seu entorno, chamadas Paramaçônicas e que ele precisará conhecer.

A convivência semanal apenas com os mesmos Irmãos não é salutar. 

O neófito deve ser conscientizado de que, frequentemente, deverá comparecer a outras Oficinas para aprender e ensinar.

A mãozinha esquerda no Tronco de Solidariedade é mais um ato ritualístico do que o cumprimento real do dever de socorrer os menos afortunados, seja por metais, seja pelo afeto demonstrado nas ações filantrópicas da Loja.

Esta abordagem é essencial para o Candidato ter acesso ao entendimento e à compreensão do que seja nele assumir um compromisso com a Maçonaria.

Ao mesmo tempo, o Mestre Maçom proponente, pela observação atenta, deverá ter a oportunidade de captar se este candidato terá, realmente, algo a agregar a nossa Sublime Ordem e, principalmente, se há sintonia entre o que o profano aspira e o que a Loja pode lhe oferecer.

O FUTURO É UMA CONSTRUÇÃO DIÁRIA. 

É PRECISO SABER QUEM CAPTAR!

Bom dia meus irmãos.


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janeiro 04, 2022

QUE COICE DE VACA! - J.R. Guzzo

 



J.R.Guzzo é um dos mais importantes articulistas do país. Este artigo foi publicado na Gazeta do Povo. 

O Bradesco levou ao ar recentemente, através das redes sociais, uma campanha de publicidade com a pretensão de promover a ideia do “carbono neutro”. A campanha é mais uma repetição daquilo que fazem hoje, com o dinheiro das grandes empresas que pagam a conta, os departamentos de marketing, agências de propaganda e produtoras de comerciais para salvar o mundo do capitalismo destruidor da natureza – e dos delitos ambientais cometidos pelos próprios clientes dessas mesmas empresas, em suas vidas nocivas ao “planeta” e carentes de consciência ecológica.

O conteúdo é aquilo que se pode imaginar: um amontoado de aulas de conduta com teor de inteligência nas vizinhanças do zero, pregando essas superstições disfarçadas de verdade científica tão na moda nos dias de hoje. Até aí, é oportunismo direto na veia. De um lado, executivos da área de criatividade, de imagem e de “responsabilidade social” ganhando dinheiro com as causas em circulação na praça. De outro, um banco que quer, ao mesmo tempo, tirar vantagem da ideologia ambientalista barata que cresce pelo mundo afora e fingir que está prestando um serviço de interesse público.

Só que, desta vez, deu errado. A campanha do “carbono neutro”, num dos seus vídeos, mostra três comunicadoras, ou algo assim, dizendo que a pecuária é uma inimiga da natureza e que as pessoas deveriam comer menos carne para reduzir o carbono que está destruindo o mundo. Seria apenas mais uma estupidez. Mas é uma estupidez paga e promovida pelo Bradesco, e aí a coisa muda de figura.

Os pecuaristas, sobretudo os que são clientes do Bradesco, ficaram indignados: quer dizer que o seu banco, no qual depositam seu dinheiro e sua confiança, está dizendo que eles são delinquentes ambientais? Com a falta de coragem típica da falta de convicção que marca essas campanhas, o Bradesco tirou imediatamente o tal comercial do ar. Em nota oficial, lamentou profundamente o que estava dizendo, pediu desculpas aos pecuaristas e prometeu providências “internas” para que o desastre não se repita.

É este, precisamente, o grau de honestidade que marca a maior parte da comunicação pretensamente “social” das grandes empresas no Brasil de hoje. Por causa da covardia, preguiça e insuficiência mental dos seus presidentes e principais imediatos, a coleção de princípios e valores das maiores corporações brasileiras foi abandonada em favor do primeiro zé-mané executivo que ganha a vida sendo, ou fingindo ser, politicamente correto.

Os acionistas não mandam mais nada nessa área. É a turma do “carbono neutro” e a favor do extermínio da pecuária que decide o que a empresa tem de dizer para o público. É ela que proíbe a divulgação de publicidade nos veículos de imprensa carimbados como “de direita”. É ela que corta patrocínios e manda demitir atletas deste ou daquele clube. É ela que define a virtude e o pecado.

A PALAVRA DE PASSE DO MESTRE MAÇOM - Ir. Dario Angelo Baggieri


É pertinente o relacionamento  das palavras de passe ou sagrada , terem embasamento bíblico na Maçonaria, tanto no Simbolismo quanto nos graus filosóficos.

No Grau de Mestre a Palavra de passe ,  terá à baila um dos maiores artífices que trabalhava com metais, notadamente o cobre e o ferro, pois na ocasião , pouquíssimas pessoas tinham essa habilidade e conhecimento.  

Tubalcaim é um personagem bíblico do Antigo Testamento, mencionado no livro de Gênesis como um dos filhos do perverso Lameque e de Zilá, fazendo parte da descendência de Caim. Foi irmão de Naamá e meio-irmão de Jubal e Jabal.

Segundo a Bíblia, Tubalcaim teria sido o primeiro homem a fazer uso do cobre e do ferro nas construções da humanidade:

E Zilá também teve a Tubalcaim, mestre de toda obra de cobre e de ferro; (Gênesis 4:22)

TUBALCAIM , exegética e esotericamente, sintetiza o Mestre, juntando, através da síntese, tudo o que está disperso, para a conclusão final da obra, representa o caminho derradeiro da mente, na busca da perfeição.

O maçom, ao atingir o grau de Mestre, deverá possuir, já, a plenitude do conhecimento iniciático moral, social e metafísico, necessário e pertinente aos objetivos da Ordem maçônica, restando-lhe, então, o trabalho, sempre constante, na busca da perfeição, nunca atingida, mas sempre buscada, pois ela é o estímulo onipresente, na vida do ser humano.

Terá, então, o Mestre, a humildade de prostrar-se perante os grandes mistérios da vida e os insondáveis escaninhos da Natureza, despojando-se de todas as vaidades, incluindo-se, entre elas, a busca da ascensão, a qualquer custo, numa escala, que, quase nunca reflete um conhecimento apreciável e um desejável mérito pessoal.

Deverá, o Mestre, lembrar-se, sempre, que a verdadeira beleza é a interior, mesmo que o exterior não seja coruscante e não brilhe em faíscas de ouro e prata, pois o maçom, o verdadeiro maçom, o maçom integral, é um Mestre pelas suas qualidades mentais e espirituais e não por sua posição na escala, ou por seus brilhantes paramentos e condecorações.

O hábito não faz o monge, diz a velha sabedoria popular. E se pode, até, acrescentar que um muar ajaezado de ouro e prata nunca poderá ser confundido com um cavalo de alta linhagem.

Nas Lojas simbólicas, verdadeira e única essência da Maçonaria universal, o iniciado percorre um longo caminho desde as trevas do Ocidente até à Luz do Oriente, tendo o seu lugar de acordo com as suas aptidões e a sua ascensão de acordo com os seus méritos, concretizando as sábias lições da lenda do terceiro grau.

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Fonte de pesquisa: Caderno de estudos José Castellani.

janeiro 03, 2022

INTERPRETANDO O SALMO 88 - Reinaldo de Freitas Lopes



Para hoje dia 03 de janeiro de 2022 (EV)

Muitas vezes em nossas vidas , nos sentimos só e desamparados , buscamos respostas , que já estão desveladas e para dentro de nós , o que se espera do aflito , não precisa nada menos que , buscar esta resposta dentro de nós mesmos.

“O Salmo 88 mostra os questionamentos a respeito da presença e a crença em teu poder. Orações sem resposta e sofrimentos por não compreender o tempo de Deus para as bênçãos”.

Considerado por teólogos e pesquisadores do livro Biblia , o salmo 88 é considerado o mais triste e o mais depressivo do livro dos salmos do Profeta Davi . pois foi composto em um período de grande sofrimento físico e mental , NELE NÃO HÁ UM RAIO DE ESPERANÇA , com exceção da frase :

“Ó SENHOR, Deus da minha salvação.”

E concluindo com a palavra *trevas*

Eu lembro-me de ter lido em uma frase composta na tradução da Biblia do Rei Jaime uma frase de impacto afável , Não importa quão abatido possamos nos sentir, sempre poderemos apresentar nossos problemas a Deus e expressar nossa angústia a Ele.

A situação imediata nos mostra um atribulado buscando a face de Deus.

É o único salmo atribuído ao ezraíta Hemã (descendente de Corá), a quem Davi colocou na liderança da música na casa do Senhor (1Cr 6:31).

Da minha salvação. Este parece ser o único raio de luz em todo o salmo. … Um filho de Deus nunca deveria chegar ao ponto de desistir, mesmo em desespero.

Este salmo não seria o mais adequado , suponho para os de interstícios pelas crises existenciais , pois a mercê da pura e pratica condenação , pois se não o for desvelado de forma escatológica e até hermenêutica , o leigos se atira deste abismo , levantando em consideração o seu estado decrépto da alma e espírito e corações feridos .

Apresento aqui as promessas que encontrei no livro de Filipenses:

- Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.

Filipenses 4:4

- Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.

Filipenses 4:6

- Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.

Filipenses 4:8

Termino e aprendo com todos vós ...

REINALDO DE FREITAS LOPES 

M.M 

Obreiro da maçonaria universal e especulativa , zelador de meus direitos e senhor de minhas idéias e se reconhecido ou não por algum irmão , ainda assim não sou ele , sou eu e a ele estou sempre :

Em Pé e a Ordem .

Recebam todos o meu Tríplice e Fraterno Abraço!

“Heilel bem Shahar , plasmando e illuminando sempre”.

DEUS MEUMQUE JUS

QUANTO CUSTA TER SEMPRE RAZÃO? - (Revisão Sidnei Godinho)




Meus irmãos,

Ao começar mais um ano, sob a graça do Grande Geômetra, achei propício a Reflexão sobre condutas que precisam ser revistas para o aperfeiçoamento Moral, Social e Maçônico. 

Muitos dos irmãos já assistiram em loja, irmãos impondo suas opiniões, suas formas de condução dos trabalhos, seu jeito pouco democrático de conduzir uma sessão ou mesmo suas artimanhas para, até mesmo, manipular uma eleição ou uma administração da Loja...

Alguns já viram aquela expressão : Aquele irmão é o dono da loja... ou, hoje tem sessão na loja do fulano....

Alguns irmãos se acham os donos da razão, causando assim transtornos muitas vezes irreversíveis à loja, com prejuízos tanto materiais quanto de socialização. 

Aí eu pergunto : Qual é o preço de sempre se achar o dono da razão???

Qual o preço que se paga Em pensar ou agir assim??? 

Em algum momento, alguém já parou para analisar esta questão?

Já pensaram quais são as consequências de sempre querer provar que se está certo?

É claro que defender um ponto de vista é corriqueiro.

Colocar nosso posicionamento ou nossas ideias perante um fato, de maneira sensata, é mesmo saudável.

Trocar ideias a respeito de um tema, argumentar a favor de um conceito no qual se acredita, são posturas naturais e comuns nas relações cotidianas.

Porém, quando essa atitude supera todas as barreiras, está sempre como ponto de honra de nossa palavra, quando se torna fundamental ter a razão, qual o preço a ser pago?

Quantas vezes se aborrece com alguém pelo simples fato de querer convencê-lo de que ele está errado em sua forma de pensar?

Quem de nós não se pegou transformando uma discussão tranquila em um afrontamento pessoal?

Ou ainda, quantas vezes não se eleva o tom da conversa, tornando-se ríspido no enfrentamento de ideias?

Defendemos nosso ponto de vista como acreditamos ser o mais adequado.

E, naturalmente, temos nossa maneira de ver a realidade, conforme nossos valores, conceitos e capacidades.

Quatro pessoas, cegas de nascença, ao serem colocadas junto a um elefante vão conseguir relatar o que puderem tocar do animal.

Se não lhes derem a oportunidade de perceber as diferenças entre orelha, cauda, tromba, corpo, terão apenas uma ideia parcial.

Não estarão erradas, apenas cada uma terá somente parte da razão.

Muitas vezes isso acontece nos relacionamentos.

Temos a nossa percepção, a nossa capacidade de análise.

Não quer dizer que estejamos errados ou que não tenhamos razão em nossos argumentos.

Porém não podemos esquecer de que o outro tem sua própria forma de ver, seus valores, suas ideias.

Enfrentar-se, nessas situações, será o duelo de ideias, a briga de argumentos, em que, quase sempre, o que existe, de verdade, é o desejo de impor nosso raciocínio, nossa argumentação.

Inúmeras vezes, em nome de desejarmos provar que a razão nos pertence, usamos nossa palavra como quem está numa batalha, não desejando nunca perder.

Ter sempre razão às vezes custa o preço de uma amizade ou pior, custa o preço de toda uma existência, de toda a imagem que se criou e se esvai pela prepotência de se achar "Estar Certo"... 

Buscar impor aos outros nossos argumentos, repetidamente, pode ocasionar o desgaste da relação.

Querer estar sempre certo, no campo das ideias e reflexões, pode causar fissuras nas relações Familiares e Sociais. 

Assim, antes de se buscar ter razão, melhor buscar a preservação da harmonia.

Antes de querer ser vencedor em uma argumentação, melhor que se tenha paz de espírito.

A verdade, mais dia, menos dia, se fará presente, duradoura, perene, independente de quem estiver, naquele momento certo ou errado. 

A verdade sempre prevalecerá, independente de quem se julgar detentor da mesma. 

Os fato sempre hão de aparecer e, mais dia menos dia, o que está oculto se revelará. 

Assim, mesmo quando toda a razão nos pertença, vale refletir se devemos continuar nossos duelos de ideias.

Talvez, o melhor, em determinadas situações, seja utilizar a capacidade pensante, o senso de validação para buscar compreender o próximo.

Ao assim proceder, poderemos entender o porquê dos argumentos alheios, de sua forma de agir, facilitando e aprofundando nossas relações.

Dessa maneira, evitar-se-á o granjear de atritos e dissabores, pesos desnecessários ao nosso coração.

Pensemos nisso!!! 

Bom domingo e um excelente ano novo de Reflexões meus irmãos.



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janeiro 02, 2022

O EMPIRISMO - FRANCIS BACON - Fonte: Mundo dos Filósofos.



O iniciador do empirismo é Francis Bacon. Enalteceu ele a experiência e o método dedutivo de tal modo, que o transcendente e a razão acabam por desaparecer na sombra. Falta-lhe, no entanto, a consciência crítica do empirismo, que foram aos poucos conquistando os seus sucessores e discípulos até Hume. Ademais, Bacon continua afirmando - mais ou menos logicamente - o mundo transcendente e cristão; antes, continua a considerar a filosofia como esclarecedora da essência da realidade, das formas, sustentáculo e causa dos fenômenos sensíveis. É uma posição filosófica que apela para a metafísica tradicional, grega e escolástica, aristotélica e tomista. Entretanto, acontece em Bacon o que aconteceu a muitos pensadores da Renascença, e o que acontecerá a muitos outros pensadores do empirismo e do racionalismo: isto é, a metafísica tradicional persiste neles todos histórica e praticamente ao lado da nova filosofia, tanto mais quanto esta é menos elaborada, acabada e consciente de si mesma. 

Vida e Obras

 Francis Bacon nasceu no dia 22 de janeiro de 1561 na York House, Londres, residência de seu pai sir Nicholas Bacon, que nos primeiros vinte anos do reinado de Elizabeth tinha sido o Guardião do Sinete. "A fama do pai", diz Maucaulay, "foi ofuscada pela do filh". Mas sir Nicholas não era um homem comum." A mãe de Bacon foi lady Anne Cooke, cunhada de sir William Cecil, lorde Burghley, que foi tesoureiro-mor de Elizabeth e um dos homens mais poderosos da Inglaterra. O pai dela tinha sido o tutor-chefe do rei Eduardo VI; ela mesma era lingüista e teóloga, e não tinha dificuldade em se corresponder em grego com bispos. Tornou-se instrutora do filho e não poupou esforços para que ele tivesse instrução. Bacon freqüentou a Universidade de Cambridge, e viveu também em Paris. Começou a sua carreira de homem político e jurista, antes sob a rainha Isabel, e, depois, sob Jaime I, subindo até aos mais altos cargos: advogado geral em 1613, membro do Conselho particular em 1616, chanceler do reino em 1618. Foi agraciado por Jaime I com os títulos de Barão de Verulamo e Visconde de S. Albano. Entretanto foi acusado de concussão e condenado pelo Parlamento a uma multa avultuada. Perdoado pelo rei, retirou-se para as suas terras, dedicando-se inteiramente aos estudos. Faleceu em 1626. Teve uma inteligência muito esclarecida, convencido da sua missão de cientista, segundo o espírito positivo e prático da mentalidade anglo-saxônia. 

 A obra principal de Bacon é a Instauratio magna scientiarum, vasta síntese que deveria ter compreendido seis grandes partes. Mas terminou apenas duas, deixando sobre o resto esboços e fragmentos. As duas partes acabadas são precisamente: I - De dignitate et argumentis scientiarum; II - Novum organum scientiarum. Como se vê pelos títulos, e mais ainda pelo conteúdo, trata-se de pesquisas gnosiológicas, críticas e metodológicas, para lançar as bases lógicas da nova ciência, da nova filosofia, que deveria dar ao homem o domínio da realidade. 

Os Ensaios

 Sua ascensão parecia tornar realidade os sonhos de Platão de um rei-filósofo. Porque, passo a passo com a sua subida para o poder político, Bacon estivera escalando os píncaros da filosofia. É quase inacreditável que o imenso saber e as realizações literárias desse homem fossem apenas os incidentes e as digressões de uma turbulenta carreira política. Era seu lema que se vivia melhor na vida oculta - bene vixit qui bene latuit. Não conseguia chegar a uma conclusão sobre se gostava mais da vida contemplativa ou da ativa. Sua esperança era de ser filósofo e estadista, também, como Sêneca; embora desconfiasse de que essa dupla direção de sua vida fosse encurtar o seu alcance e reduzir suas realizações. "É difícil dizer", escreve ele, e "se a mistura de contemplações com uma vida ativa ou o retiro inteiramente dedicado a contemplações é o que mais incapacita ou prejudica a ment." Achava que os estudos não podiam ser um fim ou a sabedoria por si sós, e que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica. "Dedicar-se em demasia aos estudos é indolência; usá-los em demasia como ornamento é afetação; fazer julgamentos seguindo inteiramente suas regras é o capricho de um scholar. (...) Os homens astutos condenam os estudos, os homens simples os admiram, e os homens sábios se utilizam deles, obtida graças à observação." Eis uma nova nota que marca o fim da escolástica - isto é, o divórcio entre o conhecimento e o uso e a observação - e coloca aquela ênfase na experiência e nos resultados que distingue a filosofia inglesa, e culmina no pragmatismo. Não que Bacon tivesse, por um instante, deixado de amar os livros e a meditação; em palavras que lembram Sócrates, ele escreve: "sem filosofia, não quero viver", e descreve a si mesmo como, afinal de contas, "um homem naturalmente mais propenso à literatura do que a qualquer outra coisa, e levado por algum destino, contra a inclinação de seu gênio" (isto é caráter), "a vida ativa". Quase que a sua primeira publicação recebeu o título de O Elogio do Conhecimento (1592); o entusiasmo do trabalho pela filosofia nos obriga a uma citação. 

 "Meu elogio será dedicado à própria mente. A mente é o homem, e o conhecimento é a mente; um homem é apenas aquilo que ele sabe. (...) Não são os prazeres das afeições maiores do que os prazeres dos sentidos, e não são os prazeres do intelecto maiores do que os prazeres das afeições? Não se trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer do qual não há saciedade? Não é só esse conhecimento que livra a mente de todas as perturbações? Quantas coisas existem que imaginamos não existirem? Quantas coisas estimamos e valorizamos mais do que são? Essas vãs imaginações, essas avaliações desproporcionadas, são as nuvens do erro que se transformam nas tempestades das perturbações. Existirá, então, felicidade igual à possibilidade da mente do homem elevar-se acima da confusão das coisas de onde ele possa ter uma atenção especial para com a ordem da natureza e o erro dos homens? De contentamento e não de benefício? Será que não devemos perceber tanto a riqueza do armazém da natureza quanto a beleza de sua loja? Será estéril a verdade? Não poderemos, através dela, produzir efeitos dignos e dotar a vida do homem com uma infinidade de coisas úteis?" 

 Sua mais bela produção literária, os Ensaios (1597-1623), mostram-no ainda indeciso entre dois amores, a política e a filosofia. No Ensaio sobre a Honra e a Reputação, ele dá todos os graus de honra a realizações políticas e militares, nenhum a literárias e filosóficas. Mas no ensaio Da Verdade, ele escreve: "A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas." Nos livros, "conversamos com os sábios, como na ação conversamos com tolos". Isto é, se soubermos escolher os nossos livros. "Certos livros são para serem provados", outros para serem engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos"; todos esses grupos formam, sem dúvida, uma porção infinitesimal dos oceanos e cataratas de tinta nos quais o mundo é diariamente banhado, envenenado e afogado. 

 Não há dúvida de que os Ensaios devem ser incluídos entre os poucos livros que merecem ser mastigados e digeridos. Raramente se encontrará uma refeição tão substanciosa, tão admiravelmente preparada e temperada, em um prato tão pequeno. Bacon abomina os recheios e detesta desperdiçar uma palavra; ele nos oferece uma infinita riqueza numa pequena frase; cada um desses ensaios fornece, em uma ou duas páginas, a destilada sutileza de uma mente de mestre sobre um importante aspecto da vida. É difícil dizer o que é mais excelente, se a matéria ou o estilo; porque ali se acha uma linguagem de tão alta qualidade na prosa quanto é a de Shakespeare em verso. É um estilo como o do vigoroso Tácito, compacto mas refinado; e na verdade uma parte de sua concisão se deve a uma habilidosa adaptação do idioma e do frasear latinos. Mas a sua riqueza no que se refere a metáforas é caracteristicamente elizabetana e reflete a exuberância da Renascença; nenhum homem, na literatura inglesa, é tão fértil em comparações significativas e substanciosas. A excessiva sucessão dessas comparações constitui o único defeito do estilo de Bacon: as intermináveis metáforas, alegorias e alusões caem como chicotes sobre os nossos nervos e acabam por nos exaurir. Os Ensaios são como um alimento rico e pesado, que não pode ser digerido em grandes quantidades de uma só vez; mas tomados quatro ou cinco de cada vez, constituem o melhor alimento intelectual. 

 No ensaio "Da Juventude e da Idade" ele condensa um livro em um parágrafo. "Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, mais aptos para a execução do que para o assessoramento, e mais aptos para novos projetos do que para atividades já estabelecidas; porque a experiência da idade em coisas que estejam ao alcance dessa idade os dirige; mas em coisas novas, os maltrata. (...) Os jovens, na conduta e na administração dos atos, abraçam mais do que podem segurar, agitam mais do que podem acalmar; voam para o fim sem consideração para com os meios e os graus; perseguem absurdamente alguns princípios com que toparam por acaso; não se importam em "(isto é, em como)" inovar, o que provoca transtornos desconhecidos. (...) Os homens maduros fazem objeções demais, demoram-se demais em consultas, arriscam-se muito pouco, arrependem-se cedo demais e raramente levam o empreendimento até o fim, mas se contentam com uma mediocridade de sucesso. Não há dúvida de que é bom forçar o emprego de ambos (...), porque as virtudes de qualquer um deles poderão corrigir os defeitos dos dois." Bacon acha, apesar de tudo, que a juventude e a infância podem ter uma liberdade demasiada e, assim, crescer desordenadas e relaxadas. "Que os pais escolhem cedo as vocações e os cursos que pretendem que seus filhos sigam, pois é nessa fase que eles são mais flexíveis; e que não se concentrem demais no pensor dos filhos, pensando que estes irão dedicar-se melhor àquilo para que estejam mais inclinados. É verdade que se os pendores ou a aptidão dos filhos forem extraordinários, é bom não contrariá-los; mas em geral, é bom o preceito" dos pitagóricos: "Optimum lege, suave et facile illud faciet consuetudo" - escolha o melhor; o hábito irá torná-lo agradável e fácil. Porque "o hábito é o principal magistrado da vida do homem." 

 A política dos Ensaios prega um conservantismo natural em que aspira ao governo. Bacon quer um forte poder central. A monarquia é a melhor forma de governo; e em geral, a eficiência de um Estado varia com a concentração do poder. "Deve haver três pontos essenciais nas atividades" do governo: "a preparação; o debate, ou exame; e a conclusão" (ou execução). "Se quiserdes presteza, que só o do meio fique a cargo de muitos, com o primeiro e o último ficando a cargo de uns poucos." Ele é um militarista confesso; deplora o crescimento da indústria por considerar que isso deixa os homens despreparados para a guerra, e lamenta uma paz prolongada, por aplacar o guerreiro que existe no homem. Apesar disso, reconhece a importância das matérias-primas: "Sólon disse a Creso (quando, por ostentação, Creso lhe mostrou o seu ouro): "Senhor, se chegar qualquer outro que tenha melhor ferro do que vós, ele será dono de todo esse ouro." 

 Tal como Aristóteles, Bacon dá alguns conselhos para se evitarem revoluções. "O meio mais seguro de evitar sedições (...) é afastar a causa; porque se o combustível estiver preparado, é difícil dizer de onde virá a fagulha que irá atear-lhe fogo. (...) Tampouco se segue que a supressão dos rumores" (isto é, da discussão) "com demasiada severidade deva ser o remédio para os problemas; porque muitas vezes o desprezo é a melhor forma de contê-los, e as providências para reprimi-los só fazem dar vida longa à especulação. (...) A substância da sedição é de dois tipos: muita pobreza e muito descontentamento. (...) As causas e motivos das sedições são as inovações na religião; os impostos; as modificações de leis e costumes; o cancelamento de privilégios; a opressão generalizada; o progresso de pessoas indignas, estranhas, as privações; soldados desmobilizados; facções desesperadas; e tudo aquilo que, ao ofender um povo, faz com que ele se una em uma casa comum." A sugestão de todos os líderes, claro, é dividir seus inimigos e unir os amigos. "De modo geral, é dividir e enfraquecer todas as facções (...) contrárias ao Estado, e colocá-las longe uma das outras, ou pelo menos semear a desconfiança entre elas, não é um dos piores remédios; porque é desesperador o caso em que aqueles que apóiam o governo estão cheios de discórdia e cisões, e os que estão contra ele estão inteiros e unidos." Uma receita melhor para evitar as revoluções é uma distribuição eqüitativa da riqueza: "O dinheiro é como o esterco, só é bom se for espalhado." Mas isso não significa socialismo ou, mesmo, democracia; Bacon não confia no povo, que na sua época praticamente não tinha acesso à educação; "a mais baixa das lisonjas é a lisonja do homem do povo", e "Fócion compreendeu bem quando, ao ser aplaudido pela multidão, perguntou o que tinha feito de errado." O que Bacon quer é, primeiro, uma pequena burguesia de proprietários rurais; depois, uma aristocracia para a administração; e acima de todos, um rei-filósofo. "Quando não há exemplos de que um governo não tenha prosperado com governos cultos." Ele cita Sêneca, Antonio Pio e Aurélio; tinha a esperança de que aos nomes deles a posteridade acrescentasse o seu.  

O Pensamento: A "Instauratio Magna"

 A Instauratio magna scientiarum deveria ter precisamente representado a reforma do saber, deveria ter constituído a summa philosophica dos tempos novos, e lançado o fundamento do regnum hominis, tão audazmente iniciado pela ciência e pela política da Renascença. Essa obra deveria ter abraçado a enciclopédia das ciências e compreendido também as técnicas, segundo o novo ideal humano e prático e imanentista. Começa-se, portanto, com a classificação geral das disciplinas humanas, baseada no respectivo predomínio das três faculdades que presidem à organização do saber: memória, fantasia, razão. Essa classificação é baseada não no objeto do conhecimento, e sim no sujeito que conhece. 1) História tanto civil quanto natural, que registra (memória) os dados de fato; 2) Poesia, elaboração imaginativa desses dados; 3) Ciência ou filosofia, isto é, conhecimento racional de Deus, do homem e da natureza. 

 A teologia natural de Bacon não exclui, mas prescinde da revelação cristã e da religião positiva. A ciência do homem divide-se em ciência do homem individual (philosophia humanitatis), e em ciência da sociedade humana (philosophia civilis). A primeira diz respeito ao homem todo, espírito e matéria. A segunda diz respeito à arte de governar e às relações sociais e aos negócios. A filosofia natural ou física, divide-se em especulativa e operativa. A primeira, por sua vez, se divide em física especial ("que procura a causa eficiente e material"), e em metafísica ("que procura a causa final e a forma"). Pertencem pois à física operativa as artes mecânicas. Acima das ciências filosóficas particulares, Bacon põe uma ciência filosófica comum, denominando-a philosophia prima. Esta não é a ontologia tradicional, a ciência do ser em geral, mas a ciência dos princípios comuns às várias ciências.  

O "Novum Organum"

 Entretanto, o que interessa mais a Bacon não é esta ciência dos princípios comuns, e sim a ciência da natureza, e, portanto, o Novum organum, que deveria conter precisamente as regras para a construção da ciência da natureza. Como é sabido, Bacon reivindica, contra Aristóteles e a Escolástica, o método indutivo. Aristóteles e Tomás de Aquino afirmaram claramente este método, e até o reconheceram como único procedimento inicial do conhecimento humano; entretanto a eles interessavam muito mais as causas do que a experiência, o que transcende a experiência do que a experiência; muito mais a metafísica do que a ciência. 

 Segundo Bacon, o verdadeiro método da indução científica compreende uma parte negativa ou crítica, e uma parte positiva ou construtiva. A parte negativa consiste, antes de tudo, em alertar a mente contra os erros comuns, quando procura a conquista da ciência verdadeira. Na sua linguagem imaginosa Bacon chama as causas destes erros comuns, fantasmas - idola - e os divide em quatro grupos fundamentais. 

 1) Idola tribus, a saber, os erros da raça humana "fundamentados em a natureza como tal" (não se sabe, pois, o verdadeiro porquê); 

 2) Idola specus (por alusão à caverna de Platão) determinados pelas disposições subjetivas de cada um; 

 3) Idola fori, erros da praça, provenientes do comércio social ou da linguagem imperfeita; 

 4) Idola theatri, isto é, os erros provenientes das escolas filosóficas, que substituem o mundo real por um mundo fantástico, por um jogo cênico. 

 Desembaraçado o terreno destes erros, Bacon passa a tratar da natureza positiva, construtiva, da genuína interpretação da natureza para dominá-la. Mas, para tanto, é mister conhecer as que Bacon chama de formas, isto é, os princípios imanentes, causa e lei da ação e da ordem das naturezas. As naturezas são precisamente os fenômenos experimentais, objeto da física especial (luz, calor, pêso, etc.); as formas são leis genéticas e organizadoras das naturezas, as essências ou causas formais, objeto da metafísica de Bacon. 

 Esta pesquisa, esta passagem das naturezas às formas, dos fenômenos às essências - bem conhecida pela filosofia tradicional - é determinada por Bacon, segundo um método preciso, desconhecido dos predecessores, nas famosas tabulae baconianas. Para determinar de um modo certo as causas e as leis dos fenômenos - isto é, as formas das naturezas - Bacon recolhe, antes de tudo, o maior número possível de exemplos, em que um determinado fenômeno aparece; depois enumera os casos que mais se assemelham às primeiras, em que, porém, o mesmo fenômeno não aparece. Enfim registra o aumentar ou o diminuir do fenômeno em questão, quer no mesmo objeto, quer em objetos diferentes. Têm-se, desta maneira, três espécies de registros ou tabelas: 1) tabelas de presença; 2) tabelas de ausência; 3) tabelas de gradações. É evidente que nos casos onde uma determinada natureza ou fenômeno aparecem, aí se encontrará também a sua causa e lei; nos casos em que o fenômeno não se manifesta, aí faltará também a sua causa e lei; e nos casos onde o fenômeno aumenta ou diminui, aí aumentará ou diminuirá também a sua causa e lei. A causa (forma) dos fenômenos (naturezas) será procurada, portanto, com base nos fenômenos presentes na primeira tabela; não sendo fácil, a princípio, ter-se tabelas completas e isolar as naturezas simples, e desta maneira pôr em evidência a causa, é mister estabelecê-la por hipótese, que será, em seguida, averiguada pelas experimentações.

 Essa gnosiologia, metodologia (empírica) é baseada em uma metafísica, uma física materialista e, mais precisamente, atomista, bastante semelhante à de Demócrito. O mundo material é constituído de corpúsculos, qualitativamente idênticos, diversos apenas por grandeza, forma e posição. Estes corpúsculos são animados por uma força, em virtude da qual se agrupam em determinados complexos, que constituem as formas baconianas.  

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BARUCH SPINOZA


Considerações Gerais

O pensamento de Descartes exercerá uma influência vasta no mundo cultural francês e europeu, diretamente até Kant e indiretamente até Hegel. E exerceu tal influência não tanto como sistema metafísico, quanto especialmente pelo espírito crítico, pelo método racionalista, implícito nas premissas do sistema e realizado apenas parcialmente pelo filósofo. 

O desenvolvimento lógico do cartesianismo é representado por alguns grandes pensadores originais: Spinoza, Malebranche, Leibniz. Spinoza é a mais coerente e extrema expressão do racionalismo moderno depois do fundador e antes de Kant; Malebranche e Leibniz encontram, ao contrário, nas suas preocupações práticas, religiosas e políticas, limitações ao desenvolvimento lógico e despreocupado do racionalismo. 

Ladeia estes três pensadores uma turma numerosa de cartesianos mais ou menos ortodoxos, particularmente na França na segunda metade do século XVII. Significativa é a influência que o criticismo e o racionalismo cartesianos exerceram sobre a cultura do século de Luís XIV, o século de ouro da civilização francesa; sobre a arte de Racine e de La Fontaine, sobre a poética de Boileau, a ética de La Bruyère, o pensamento de Bayle. 

Descartes teve seguidores também em determinados meios religiosos de orientação platônico-agostiniana, mais ou menos ortodoxos. Os dois centros principais desse sincretismo são representados pelo Jansenismo e pelo Oratório. Brás Pascal, porém (se bem que, em parte, jansenista), grande físico e matemático, mas de um profundo sentimento religioso e cristão, parece ter tido intuição da falha da filosofia cartesiana. À razão matemática, científica - espírito geométrico - que vale para o mundo natural mas não chega até Deus, contrapõe a razão integral - esprit de finesse - que leva até o cristianismo. 

Descartes teve numerosos adversários e críticos no campo filosófico, entre os quais Hobbes. Entretanto, as oposições maiores contra o cartesianismo surgiram evidentemente no ambiente eclesiástico e político, quer católico quer protestante. Nesses ambientes houve a intuição de um perigo revolucionário para a religião e a ordem social, por causa do criticismo, mecanismo e infinidade do universo, próprios daquela filosofia. 

E, no entanto, o cartesianismo forjou a mentalidade (racionalista-matemática) dos maiores filósofos até Kant. E também propôs os grandes problemas em torno dos quais girou a especulação desses filósofos, a saber: a relação entre substância finita de um lado, e entre espírito e matéria do outro. Daí surgiram o ontologismo e o ocasionalismo de Malebranche, a harmonia preestabelecida de Leibniz e o panteísmo psicofísico de Spinoza.  

Baruch Spinoza

O racionalismo cartesiano é levado a uma rápida, lógica, extrema conclusão por Spinoza. O problema das relações entre Deus e o mundo é por ele resolvido em sentido monista: de um lado, desenvolvendo o conceito de substância cartesiana, pelo que há uma só verdadeira e própria substância, a divina; de outro lado introduzindo na corrente racionalista-cartesiana uma preformada concepção neoplatônica de Deus, a saber, uma concepção panteísta-emanatista. O problema, pois, das relações entre o espírito e a matéria é resolvido por Spinoza, fazendo da matéria e do espírito dois atributos da única substância divina. Une os dois na mesma substância segundo um paralelismo psicofísico, uma animação universal, uma forma de pampsiquismo. Em geral, pode-se dizer que Descartes fornece a Spinoza o elemento arquitetônico, lógico-geométrico, para a construção do seu sistema, cujo conteúdo monista, em parte deriva da tradição neoplatônica, em parte do próprio Descartes. 

Os demais racionalistas de maior envergadura da corrente cartesiana se seguem, cronologicamente, depois de Spinoza; entretanto, logicamente, estão antes dele, pois não têm a ousadia - em especial Malebranche - de chegar até às extremas conseqüências e conclusões racionalista-monista, exigidas pelas premissas cartesianas, detidos por motivos práticos-religiosos e morais, que não se encontram em Spinoza. Com isto não se excluem, por parte deles, desenvolvimentos em outro sentido. Por exemplo, não se excluem os desenvolvimentos idealistas do fenomenismo racionalista por parte de Leibniz.  

Vida e Obras

Baruch Spinoza nasceu em Amsterdam em 1632, filho de hebreus portugueses, de modesta condição social, emigrados para a Holanda. Recebeu uma educação hebraica na academia israelita de Amsterdam, com base especialmente nas Sagradas Escrituras. Demonstrando muita inteligência, foi iniciado na filosofia hebraica (medieval-neoplatônico-panteísta) e destinado a ser rabino. 

Mas, depois de se manifestar o seu racionalismo e tendo ele recusado qualquer retratação, foi excomungado pela Sinagoga em 1656. Também as autoridades protestantes o desterraram como blasfemador contra a Sagrada Escritura. Spinoza reitrou-se, primeiro, para os arredores de Amsterdam, em seguida para perto de Leida e enfim refugiou-se em Haia. Aos vinte e cinco anos de idade esse filósofo, sem pátria, sem família, sem saúde, sem riqueza, se acha também isolado religiosamente. 

Os outros acontecimentos mais notáveis na formação espiritual especulativa de Spinoza são: o contato com Francisco van den Ende, médico e livre pensador; as relações travadas com alguns meios cristão-protestantes. Van den Ende iniciou-o no pensamento cartesiano, nas línguas clássicas, na cultura da Renascença; e nos meios religiosos holandeses aprendeu um cristianismo sem dogmas, de conteúdo essencialmente moralista. 

Além destes fatos exteriores, nada encontramos de notável exteriormente na breve vida de Spinoza, inteiramente dedicada à meditação filosófica e à redação de suas obras. Provia pois às suas limitadas necessidades materiais, preparando lentes ópticas para microscópios e telescópios, arte que aprendera durante a sua formação rabínica; e também aceitando alguma ajuda do pequeno grupo de amigos e discípulos. Para não comprometer a sua independência especulativa e a sua paz, recusou uma pensão oferecida pelo "grande Condé" e uma cátedra universitária em Heidelberg, que lhe propusera Carlos Ludovico, eleitor palatino. 

Uma tuberculose enfraquecera seu corpo. Após alguns meses de cama, Spinoza faleceu aos quarenta e quatro anos de idade, em 1677, em Haia. Deixou uma notável biblioteca filosófica; mas a sua herança mal chegou para pagar as despesas do funeral e as poucas dívidas contraídas durante a enfermidade. 

Um traço característico e fundamental do caráter de Spinoza é a sua concepção prática, moral, de filosofia, como solucionadora última do problema da vida. E, ao mesmo tempo, a sua firme convicção de que a solução desse problema não é possível senão teoricamente, intelectualmente, através do conhecimento e da contemplação filosófica da realidade. 

As obras filosóficas principais de Spinoza são: a Ethica (publicada postumamente em Amsterdam em 1677), que constitui precisamente o seu sistema filosófico; o Tractatus theologivo-politicus (publicado anônimo em Hamburgo em 1670), que contém a sua filosofia religiosa e política. 

A princípio desconhecido e atacado, o pensamento de Spinoza acabou por interessar e influenciar particularmente a cultura moderna depois de Kant (Lessing, Goethe, Schelling, Hegel, Schleiermacher, etc.), proporcionando ao idealismo o elemento metafísico monista, naturalmente filtrado através da crítica kantiana.  

O Pensamento: Deus

A teologia de Spinoza é contida, substancialmente, no primeiro livro da Ethica (De Deo). Spinoza quereria deduzir de Deus racionalmente, logicamente, geometricamente toda a realidade, como aparece pela própria estrutura exterior da Ethica ordine geometrico demonstrata. Não nos esqueçamos de que o Deus spinoziano é a substância única e a causa única; isto é, estamos em cheio no panteísmo. A substância divina é eterna e infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de perfeições ou atributos infinitos. 

Desses atributos, entretanto, o intelecto humano conhece dois apenas: o espírito e a matéria, a cogitatio e a extensio. Descartes diminuiu estas substâncias, e no monismo spinoziano descem à condição de simples atributos da substância única. Pensamento e extensão são expressões diversas e irredutíveis da substância absoluta, mas nela unificadas e correspondentes, graças à doutrina spinoziana do paralelismo psicofísico. 

A substância e os atributos constituem a natura naturans. Da natura naturans (Deus) procede o mundo das coisas, isto é, os modos. Eles são modificações dos atributos, e Spinoza chama-os natura naturata (o mundo). Os modos distinguem-se em primitivos e derivados. Os modos primitivos representam as determinações mais imediatas e universais dos atributos e são eternos e infinitos: por exemplo, o intellectus infinitus é um modo primitivo do atributo do pensamento, e o motus infinitus é um modo primitivo do atributo extensão. 

As leis do paralelismo psicofísico, que governam o mundo dos atributos, regem naturalmente todo o mundo dos modos, quer primitivos quer derivados. Cada corpo tem uma alma, como cada alma tem um corpo; este corpo constituiria o conteúdo fundamental do conhecimento da alma, a saber: a cada modo de ser e de operar na extensão corresponde um modo de ser e de operar do pensamento. Nenhuma ação é possível entre a alma e o corpo - como dizia também Descartes - e como Spinoza sustenta até o fundo. 

A lei suprema da realidade única e universal de Spinoza é a necessidade. Como tudo é necessário na natura naturans, assim tudo também é necessário na natura naturata. E igualmente necessário é o liame que une entre si natura naturans e natura naturata. Deus não somente é racionalmente necessitado na sua vida interior, mas se manifesta necessariamente no mundo, em que, por sua vez, tudo é necessitado, a matéria e o espírito, o intelecto e a vontade.  

O Homem

Do primeiro livro da Ethica - cujo objeto é Deus - Spinoza passa a considerar, no segundo livro (De mente), o espírito humano, ou, melhor, o homem integral, corpo e alma. A cada estado ou mudança da alma, corresponde um estado ou mudança do corpo, mesmo que a alma e o corpo não possam agir mutuamente uma sobre o outro, como já se viu. 

Não é preciso repetir que, para Spinoza, o homem não é uma substância. A assim chamada alma nada mais é que um conjunto de modos derivados, elementares, do atributo pensamento da substância única. E, igualmente o corpo nada mais é que um complexo de modos derivados, elementares, do atributo extensão da mesma substância. O homem, alma e corpo, é resolvido num complexo de fenômenos psicofísicos. 

Mesmo negando a alma e as suas faculdades, Spinoza reconhece várias atividades psíquicas: atividade teorética e atividade prática, cada uma tendo um grau sensível e um grau racional. 

A respeito do conhecimento sensível (imaginatio), sustenta Spinoza que é ele inteiramente subjetivo: no sentido de que o conhecimento sensível não representa a natureza da coisa conhecida, mas oferece uma representação em que são fundidas as qualidades do objeto conhecido e do sujeito que conhece e dispõe tais representações numa ordem fragmentária, irracional e incompleta. 

Spinoza distingue, pois, o conhecimento racional em dois graus: conhecimento racional universal e conhecimento racional particular. A ordem oferecida pelo conhecimento racional particular nada mais é que a substância divina; abrange ela, na sua unidade racional, os atributos infinitos e os infinitos modos que a determinam. E desse conhecimento racional intuitivo, místico, derivam necessariamente a felicidade e virtude supremas. Das limitações do conhecimento sensível decorrem o sofrimento e a paixão, dada a universal correspondência spinoziana entre teorético e prático. 

Visto o paralelismo psicofísico de Spinoza, é claro que o conhecimento, no sistema spinoziano, não é constituído pela relação de adequação entre a mente e a coisa, mas pela relação de adequação da mens do sujeito que conhece a mens do objeto conhecido.  

A Moral

Como é sabido, Spinoza dedica ao problema moral e à sua solução os livros III, IV e V da Ethica. No livro III faz ele uma história natural das paixões, isto é, considera as paixões teoricamente, cientificamente, e não moralmente. O filósofo deve humanas actiones non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere; assim se exprime Spinoza energicamente no proêmio ao II livro da Ethica. Tal atitude rigidamente científica, em Spinoza, é favorecida pela concepção universalmente determinista da realidade, em virtude da qual o mecanismo das paixões humanas é necessário como o mecanismo físico-matemático, e as paixões podem ser tratadas com a mesma serena indiferença que as linhas, as superfícies, as figuras geométricas. 

Depois de nos ter oferecido um sistema do mecanismo das paixões no IV livro da Ethica, Spinoza esclarece precisamente e particularmente a escravidão do homem sujeito às paixões. Essa escravidão depende do erro do conhecimento sensível, pelo que o homem considera as coisas finitas como absolutas e, logo, em choque entre si e com ele. Então a libertação das paixões dependerá do conhecimento racional, verdadeiro; este conhecimento racional não depende, entretanto, do nosso livre-arbítrio, e sim da natureza particular de que somos dotados. 

No V e último livro da Ethica, Spinoza esclarece, em especial, a condição do sábio, libertado da escravidão das paixões e da ignorância. O sábio realiza a felicidade e a virtude simultânea e juntamente com o conhecimento racional. Visto que a felicidade depende da ciência, do conhecimento racional intuitivo - que é, em definitivo, o conhecimento das coisas em Deus - o sábio, aí chegado, amará necessariamente a Deus, causa da sua felicidade e poder. Tal amor intelectual de Deus é precisamente o júbilo unido com a causa racional que o produz, Deus. Este amor do homem para com Deus, é retribuído por Deus ao homem; entretanto, não é um amor como o que existe entre duas pessoas, pois a personalidade é excluída da metafísica spinoziana, mas no sentido de que o homem é idêntico panteisticamente a Deus. E, por conseguinte, o amor dos homens para com Deus é idêntico ao amor de Deus para com os homens, que é, pois, o amor de Deus para consigo mesmo (por causa precisamente do panteísmo). 

Chegado ao conhecimento e à vida racionais, o sábio vive já na eternidade, no sentido de que tem conhecimento eterno do eterno. A respeito da imortalidade da alma, devemos dizer que é excluída naturalmente por Spinoza como sobrevivência pessoal porquanto pessoa e memória pertencem à imaginação. A imortalidade, então, não poderá ser entendida senão como a eternidade das idéias verdadeiras, que pertencem à substância divina. De sorte que imortais, ou eternas, ou pela máxima parte imortais, serão as almas ou os pensamentos dos sábios, ao passo que às almas e aos pensamentos dos homens vulgares, como que limitados ao conhecimento e à vida sensíveis, é destinado o quase total aniquilamento no sistema racional da substância divina.  

A Política e a Religião

Spinoza tratou particularmente do problema político e religioso no Tractatus theologico-politicus. Considera ele o estado e a igreja como meios irracionais para o advento da racionalidade. As ações feitas - ou não feitas - em vista das penas ou dos prêmios temporais e eternos, ameaçados ou prometidos pelo estado e pela igreja, dependem do temor e da esperança, que, segundo Spinoza, são paixões irracionais. Elas, entretanto, servem para a tranquilidade do sábio e para o treinamento do homem vulgar. 

No estado de natureza, isto é, antes da organização política, os homens se encontravam em uma guerra perpétua, em uma luta de todos contra todos. É o próprio egoísmo que impede os homens a se unirem, a se acordarem entre si numa espécie de pacto social, pelo qual prometem renunciar a toda violência, auxiliando-se mutuamente. No entanto, não basta o pacto apenas: precisa o homem do arrimo da força para sustentar-se. De fato, mesmo depois do pacto social, os homens não cessam de ser, mais ou menos, irracionais e, portanto, quando lhes fosse cômodo e tivessem a força, violariam, sem mais, o pacto. Nem há quem possa opor-se a eles, a não ser uma força superior, porquanto o direito sem a força não tem eficácia. Então os componentes devem confiar a um poder central a força de que dispõem, dando-lhe a incumbência e o modo de proteger os direitos de cada um. Só então o estado e verdadeiramente constituído. Entretanto, o estado, o governo, o soberano podem fazer tudo o que querem: para isso têm o poder e, portanto, o direito, e se acham eles ainda no estado de pura natureza, do qual os súditos saíram. 

O estado, porém, não é dominador supremo, porquanto não é o fim supremo do homem. Seu fim supremo é conhecer a Deus por meio da razão e agir de conformidade, de sorte que será a razão a norma suprema da vida humana. O papel do estado é auxiliar na consecução racional de Deus. Portanto, se o estado se mantivesse na violência e irracionalidade primitivas, pondo obstáculos ao desenvolvimento racional da sociedade, os súditos - quando mais racionais e, logo, mais poderosos do que ele - rebelar-se-ão necessariamente contra ele, e o estado cairá fatalmente. Faltando-lhe a força, faltar-lhe-á também o direito. E de suas ruínas deverá surgir um estado mais conforme à razão. E, assim, Spinoza deduz do estado naturalista o estado racional. 

O outro grande instituto irracional a serviço da racionalidade é, segundo Spinoza, a religião, que representaria um sucedâneo da filosofia para o vulgo. O conteúdo da religião positiva, revelada, é racional; mas é a forma que seria absolutamente irracional, pois o conhecimento filosófico de Deus decairia em uma revelação mítica; a ação racional, que deveria derivar do conhecimento racional com a mesma necessidade pela qual a luz emana do sol, decairia no mandamento divino heterônomo, a saber, a religião positiva, revelada, representaria sensivelmente, simbolicamente, de um modo apto para a mentalidade popular, as verdades racionais, filosóficas acerca de Deus e do homem; tais verdades podem aproveitar ao bem desse último, quando encarnadas nos dogmas. Por conseguinte, o que vale nos dogmas não seria a sua formulação exterior, e sim o conteúdo moral; nem se deveria procurar neles sentidos metafísicos arcanos, porque o escopo dos dogmas é essencialmente prático a saber: induzir à submissão a Deus e ao amor ao próximo, na unificação final de tudo e de todos em Deus.

janeiro 01, 2022

DESEJOS (PARA 2022) - Carlos Drummond de Andrade

 


Desejo a vocês...

Fruto do mato

Cheiro de jardim

Namoro no portão

Domingo sem chuva

Segunda sem mau humor

Sábado com seu amor

Filme do Carlitos

Chope com amigos

Crônica de Rubem Braga

Viver sem inimigos

Filme antigo na TV

Ter uma pessoa especial

E que ela goste de você

Música de Tom com letra de Chico

Frango caipira em pensão do interior

Ouvir uma palavra amável

Ter uma surpresa agradável

Ver a Banda passar

Noite de lua cheia

Rever uma velha amizade

Ter fé em Deus

Não ter que ouvir a palavra não

Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança

Ouvir canto de passarinho.

Sarar de resfriado

Escrever um poema de Amor

Que nunca será rasgado

Formar um par ideal

Tomar banho de cachoeira

Pegar um bronzeado legal

Aprender um nova canção

Esperar alguém na estação

Queijo com goiabada

Pôr-do-Sol na roça

Uma festa

Um violão

Uma seresta

Recordar um amor antigo

Ter um ombro sempre amigo

Bater palmas de alegria

Uma tarde amena

Calçar um velho chinelo

Sentar numa velha poltrona

Tocar violão para alguém

Ouvir a chuva no telhado

Vinho branco

Bolero de Ravel

E muito carinho meu.