janeiro 27, 2022

A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA - Sigisfredo Hoepers





Ainda acontece principalmente em cidades mais do interior, que um irmão, ou o que é pior, uma esposa de maçom, sejam discriminados dentro da igreja católica.

O objetivo desse trabalho é apresentar um histórico e tentarmos entender um pouco dessa discriminação à maçonaria e aos maçons em particular, que felizmente tem diminuído sensivelmente, praticamente não existindo mais em grandes centros.

A Maçonaria, pode-se dizer, nasceu dentro da igreja católica. Como construtores que eram, passavam longo tempo construindo catedrais e mosteiros. Houve um tempo em que a maçonaria e a igreja católica coexistiam pacificamente. O que mudou?

A História

A maçonaria como instituição associativa, deu seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros (Free masons) dirigiu-se ao prefeito de Londres e solicitou o registro de associação dos pedreiros livres.

Oficialmente registrada a associação e devidamente autorizada, passavam os seus membros ou associados a ter certos direitos e vantagens, que, acredita- se, mais tarde viriam a despertar o interesse dos especulativos. Como:

Trânsito livre – pois naquela época não se tinha a liberdade de ir e vir.

Liberdade para fazer reunião – que naquela época também era proibido, por receio de conspirações.

Isenção de impostos – que convenhamos, agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, surge uni invento revolucionário. Em 1455 inventa-se a impressora com tipos móveis. É publicada a primeira bíblia em latim. Além da cultura em geral, o evangelho também passa a chegar mais facilmente a todas as camadas sociais. Quem lê, pensa mais, sabe mais. A história começa a mudar.

Praticamente desconhecida, cuidando do que lhe era concernente, a maçonaria nem de longe poderia prever que em 1509 seu futuro já estava sendo influenciado. É que neste ano, subia ao trono da Inglaterra, Henrique VIII. Ao ver contrariadas suas pretensões de conseguir o divórcio junto ao papa, para casar-se novamente com Ana Bolena, revolta-se e desconhecendo a autoridade do papa, funda urna nova religião, a Anglicana.

Constitui-se como único protetor e supremo chefe da Igreja e do clero da Inglaterra. Acaba com o celibato, e confisca os bens do clero. Está aberta mais uma lacuna na igreja católica, abrindo-se uma ferida profunda entre os poderes. A maçonaria mais tarde, certamente sofreria as consequências de sua origem inglesa. Em pouco tempo e devido a outras grandes cisões o catolicismo perdeu terreno e influência na Inglaterra, Alemanha e Suíça, como permanece até os dias atuais. E a maçonaria? Continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada.

Em 1600, outro fato, aparentemente sem importância, iria mudar totalmente os rumos da maçonaria. É aceito o primeiro especulativo de que se tem noticia. Lord John Boswel, um fazendeiro, simples plantador de batatas. Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer a associação dos pedreiros livres. A maçonaria, que mais tarde seria só “especulativa”, como a conhecemos até hoje, começou a mudar aí.

Alguns anos mais tarde, em 1603, assume o trono da Inglaterra, Jaime I. católico, começando a dinastia dos Stuans. Levando consigo a grande esperança da igreja católica para mudar os rumos do catolicismo.

Mas interesses econômicos outros, lutas políticas na busca do poder, e o puritanismo, levaram Oliver Cronwel a frustrar as pretensões da igreja, levando os Stuarts a se exilar na França e quando voltam não tem forças para se firmar. Em 1714 termina a dinastia dos Stuarts com Ana Stuan, assumindo Jorge I, iniciando a dinastia Hannover. Mas nesse meio tempo em 1646, é aceito outro especulativo. Elias Ashmole.

A importância do fato estava em ser ele um intelectual, alquimista e Rosa Cruz. Alguns autores lhe creditam a confecção inicial dos rituais. As lojas proliferam. Eram mistas (operativos e especulativos) ou só de especulativos. Em 24 de junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres. Oficialmente. é nessa data que começa a Maçonaria especulativa.

É convidado o Ministro Protestante, reverendo James Anderson, a compilar todas as tradições, usos e costumes dos maçons, para fazer uma constituição que regesse a Maçonaria. Após estudos, com outros irmãos, foi submetida a uma assembléia que a aprovou em 1723, sendo promulgada a primeira constituição maçônica, dita de Anderson. Alguns anos mais tarde, em 1738, ela seria reformada.

Devidamente regulamentada e oficializada, a Maçonaria estava pronta a expandir-se, mas sua expansão não seria pacifica. Como num jogo de xadrez, o desenrolar da história vai determinando certos lances que vão mudar o futuro.

E, talvez o lance mais importante dessa ocasião seja a eleição. em 1730, do Papa Clemente XII, aos 79 anos de idade, que seria o precursor das condenações à maçonaria. De idade avançada, muito doente, alguns autores acreditam que sua eleição tenha sido mais como um prêmio pela sua dedicação. do que pelos seus reais méritos. Quase morre logo ao assumir. mas consegue se recuperar.

Pouco tempo passa, e logo em 1732 fica totalmente cego e a gota o ataca severamente, obrigando-o a guardar leito com constância.


Corno o nepotismo é próprio de quem tem o poder, o papa nomeia Neri, seu sobrinho, como seu assessor direto. Este, ambicioso e sem qualidades, mais tarde deixaria as finanças em precárias condições.

A Maçonaria, por sua vez, continuava sua expansão, derivada de Londres e sendo exportada para países vizinhos.

Instalou-se na Holanda em 1731;

Na França e em Florença em 1732; 

Em Milão e Genebra em 1736 e em 1737 na Alemanha. 

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz constituída de nobres, aristocratas, intelectuais. Começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversão para a derrubada do poder foi mais forte e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido de seus membros segredo absoluto, sob severas penas: que prestava obediência a um poder central em Londres.

O Santo Oficio bem que procurou descobrir alguma coisa, mas nada de concreto conseguira. Consta que muitos elementos do clero já haviam sido iniciados. Na França, em especial. o clima era puramente político, unia luta pela força e poder. A maçonaria crescia, mas era cerceada como fosse possível.

O Papa Clemente XII continuava doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações, sendo que tudo o que lhe chegava ao conhecimento dependia do interesse dos que o rodeavam. Para assinar os documentos necessários, sua mão tinha que ser direcionada. Nessas condições, sob pressão dos governantes que exigiam providências e também dos inquisidores que exerciam sua influência, é que o papa assinou, com sua mão direcionada, em 28/04/1738, a bula in eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Bula "In Eminenti" do papa Clemente XII, condenando a maçonaria.

A bula em si, tinha sido promulgada por três motivações:

A) Motivo de caráter político – que era o receio dos governantes pela segurança dos remos;

B) Motivo de caráter religioso – que era a “união de homens de diferentes religiões. Nos males que de tais uniões resultam para a saúde das almas; no parecer de pessoas honradas e prudentes”;

C) Motivo de caráter secreto ou seja “por outras justas e razoáveis causas conhecidas por nós” assim pregavam. 

O interessante disso é que essas causas ficam em segredo. Quase um segredo tão grande quanto a Maçonaria. Alguns autores relacionam este motivo a causa dos Stuarts, na defesa da causa católica pelo trono da Inglaterra. Lembram?

A pena de excomunhão quase nada mudou no comportamento dos maçons na época. Esta pena estava tão banalizada que até o cardeal Fleury, da França diria “a bula que o papa havia dado contra os maçons não bastaria talvez para abolir essa confraria, a não ser que existisse outro freio diferente da pena de excomunhão”.

Excomungava-se por qualquer coisa: por motivos tão irrisórios como pequenos furtos ou simples questões de etiqueta. Os editos da inquisição, afixados nas portas das igrejas, iam providos do correspondente aviso: “ninguém o tire sob pena de excomunhão maior”. 

Qualquer pessoa poderia obter o direito de excomungar, era só pagar uma taxa na chancelaria e mediante um documento, a pessoa poderia excomungar até uma pessoa que tirasse um livro, sem ordem do dono da biblioteca. etc.

Conta-se que um fotógrafo do Vaticano. Arturo Mari, no começo de sua carreira, ainda muito jovem e afoito, cobrindo a eleição do Papa João XXIII, empurrou todo o mundo, na ânsia de fotografá-lo primeiro. Um cardeal o excomungou. Logo, o novo papa suspenderia a punição.

Para se chegar ao alto cargo de cardeal na hierarquia do clero, parece que não era tão necessária uma exaustiva e brilhante carreira, pois Clemente XII, logo que assumiu. Nomeou dois sobrinhos seus, sendo um como assessor direto. Em 1735, nomeou o sereníssimo infante de Espanha, de apenas 8 anos de idade, como cardeal, e também Ottoboni, com 17 anos de idade, sobrinho de Alejandro VIII, também como cardeal. Os interesses espirituais escorregavam diante do poder material. Quem cuidava realmente da religião? A resposta não parece muito difícil.

Bem, com a bula sendo conhecida e publicada nos países católicos, iam se desencadeando as proibições em vários países. No entanto, na França, o parlamento não aprovou a publicação e por isso não foi promulgada. Por isso, oficialmente, na França a bula não entrou em vigor.

Criou um círculo interessante. O papa condenou a maçonaria porque os governantes pediam, e agora, os governantes a condenavam porque era o papa quem pedia. Nos estados pontifícios, cuja constituição administrativa era católica, todo delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei, e infringir a lei era o mesmo que infringir a religião. Com a morte de Clemente XII em 1740, assume Bento XIV, que não se manifesta inicialmente a respeito da proibição. De imediato, que reflexos estavam tendo na maçonaria a bula de Clemente XII?

A inquisição, encarregada de executar as ordens papais, começava sua primeira e mais conhecida vitima em Portugal; John Coustos (maçom). Denunciado em outubro de 1740, foi torturado e condenado a 6 anos nas galés. Outra vitima foi Francisco Aurion Roscai:1m, na Espanha em I 744, condenado ao isolamento e banido para sempre. Estes foram os primeiros maçons, vitimas da bula do Clemente XII.

Começam boatos que Bento XIV não confirmaria a bula anterior. De Nápoles vinham muitas pressões por um posicionamento. Somente 11 anos depois da
bula in eminenti
de Clemente XII, saiu a bula de Bento XIV, com o nome de Constituição Apostólica Providas. Nada mudava da anterior. Até então, após duas bulas, a maçonaria ainda era uma sociedade que era “inconveniente”, sem ser um perigo iminente. Na dúvida, melhor proibir. As coisas permaneceriam assim até a morte de Bento XIV em 1758. Também com Clemente XIII de 1758 a I 769, com Clemente XIV de I 769 a 1774, com Pio VI, de 1775 a 1799, com Pio VII de 1800 a 1823.

Só que neste papado de Pio VII, surge a figura de Napoleão Bonaparte, que acabaria por ter uma influência positiva na liberação das colônias portuguesas. Os ideais de liberdade ganharam força quando Napoleão afugentou a coroa portuguesa para o Brasil em 1808, avançou para a Espanha e adentrou em Roma, proclamando o fim o poder temporal do papa, e mantendo- o preso no castelo de Fontainebleau. Pio VII só recuperou parte de suas possessões com a queda de Napoleão em 1815.

Mas a história começa a mudar. Isto se reflete nas colônias que começam seus movimentos de libertação. Praticamente todas lideradas por maçons, que conseguem logo em seguida, neste penado, sua independência:

Chile – 1818, liderada por O’Higgins (maçom);

Colômbia – 1821, liderada por Bolivar (maçom):

Peru – 1821, liderada por Bolivar e San Martim (maçons);

Argentina – 1822 liderada por Bolívar e San Martim ( maçons);

Brasil – 1822, liderada por D. Pedro I e José Bonifácio de Andrada e Silva (maçons).

Já havia o exemplo vitorioso de libertação dos Estados Unidos em 1783, liderada por maçons como George Washington. Na queda da bastilha, na França, em 1789, maçons lutaram com seus aventais. A maçonaria deixara de ser simplesmente “inconveniente”, passando a ter uma atuação concreta e objetiva e a receber condenações mais veementes da igreja, embora esta não se considerasse diretamente atingida ou ofendida.

Seria óbvio que a igreja apoiasse Portugal e Espanha, seus mais fiéis aliados, condenando a Maçonaria, para tentar conter essa avassaladora onde de independências. Um péssimo negócio, diga-se de passagem, para quem recolhia pesados tributos. Mas não é tão simples como parece, à primeira vista, a condenação católica a Maçonaria.

Começou com a bula “in eminenti”, com um caráter mais preventivo que coercitivo, se tomou opressiva, a condenação, quando politicamente, a igreja tentou ajudar seus mais fiéis aliados. Portugal e Espanha como já dissemos, até aqui, pode-se dizer que a igreja católica condena a Maçonaria por motivações de terceiros. Ela, em si, nunca se sentira ameaçada para que se justificasse a manutenção da condenação.

A Unificação da Itália – O Maior dos Motivos

Os verdadeiros motivos da condenação, sem dúvida alguma. Resultaram da unificação da Itália. O trauma desse episódio não deixa certos setores da igreja esquecer até os dias de hoje. A Maçonaria foi considerada cono um inimigo mortal, por ter apoiado a unificação.

Houve a época. a fundação da Carbonária, seita de caráter político, independente da Maçonaria, tendo como finalidade principal a unificação da Itália. A carbonária tomara-se perigosa e prejudicial à Maçonaria, pois era confundida com esta e colocada erroneamente, no mesmo pé de igualdade, enquanto que, na realidade, não tinha nada em comum, nem nas origens, nem nas finalidades, nem nas formas. Os carbonários para conseguir o seu ideal, matavam-se preciso.

Os carbonários tiveram seus aprendizes, mestres, grão mestres. Mestre de cerimônias, orador, secretários, sinais, toques e palavras, juramentos, e é claro, segredos. Por isso a maçonaria era muito confundida. Essa similitude externa propiciou a Leão XII a identificar os carbonários, em sua bula “quo graviora”, como se fosse um retrato da Maçonaria, lançado em 1825.

A partir dai a situação agravou-se ainda mais. Posteriormente já com o papa Pio IX lança-se a bula em 1864, condenando as sociedades secretas, que nelas se exigisse ou não o segredo.

É proclamado rei da Itália unificaria – Vitor Manuel. A venda das terras desapropriadas da igreja em 1867 foi apenas uma, entre várias medidas anticlericais. Mas o povo italiano queria a unificação. Para se ter uma ideia do anseio popular pela unificação da Itália, o plebiscito deu como resultado: 456.000 a favor com apenas 756 contra. Os italianos não aceitavam outra capital que não fosse Roma.

A essa altura, Pio IX já tinha lançado a “multiplices inter” contra a Maçonaria e a Carbonária como: “os inimigos do nome cristão que ousaram assaltar a igreja de Deus, esforçando-se, bem que inutilmente, por arruiná-la e destruí-la”.

Logo ern seguida, em 1869, a “apostolice sedis”, contra a maçonaria e as sociedades secretas, com a excomunhão latae sententiae, contra “todos que dão seu nome á seita dos maçons ou dos carbonários, ou a outra seita do mesmo gênero, que “maquinam” aberta ou secretamente, contra a igreja e contra os legítimos poderes”.

A situação se agravara de tal maneira que ficara insustentável. Como se vê. a essa altura, a Maçonaria estava definitivamente condenada. O grande motivo? A unificação da Itália, um ideal Carbonário.

Um episódio brasileiro ocorreu em 1872 com o desencadeamento da questão religiosa. Envolveu dois bispos, um do Pará e outro de Olinda, que condenaram a Maçonaria em suas dioceses, contrariando as leis vigentes no país. Foram julgados e condenados por um supremo tribunal de justiça a quatro anos de trabalhos forçados. Por interferência do Duque de Caxias foram, a contragosto de D. Pedro I, anistiados.

Mas, voltando a Itália, ideal era dos carbonários, mas a culpa ficou para a Maçonaria.

Em 1917 – é promulgado por Bento XV, através da “providentissima mater ecclesia”, o primeiro código de direito canônico. também chamado de pio-beneditino. Este código regulamentava todas as atividades da igreja, e definia a situação da Maçonaria em vários cânons:

Cânon 2335 “os que dão seu próprio nome à seita maçônica, ou outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem ipso facto, na excomunhão si mpliciter reservada á sé apostólica”.

Com esse cânon, ficaria estigmatizada especificamente a denominação “Maçonaria”, bem como caracterizada a sua pena: a “excomunhão”.

Os sacramentos proibidos são: o batismo, a eucaristia. a crismar (ou confirmação da fé), a penitência (ou confissão dada antes da eucaristia ), o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a unção dos enfermos.

Para atender aos anseios dos irmãos católicos, a maçonaria criou certas ritualísticas especiais: ritual de adoção de lowtons, para um apadrinhamento: ritual de pompas fúnebres; ritual de confirmação de casamento.

Ainda na questão Itália, continuava pendente a questão romana, que seria finalmente decidida por Pio XI e Mussolini com a assinatura do tratado de Latão em 11/02/1929, criando o Estado do Vaticano.

Acabava oficialmente o poder temporal do papa, ficando restrito ao Vaticano e apenas 44.000 metros quadrados, e reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios.

Em 1959. o papa João XXIII, ouvindo clamores, anuncia a revisão do código pio-beneditino. Ventos de paz sopravam forte entre a igreja e a maçonaria, havia um clima de boa vontade entre as partes. No entanto, devido o absolutismo da cúria – a burocracia papal em Roma que durante séculos ditara as normas da vida católica – foi ainda restrito.

Wojtyla, mais tarde, papa João Paulo II, juntamente com alguns bispos já se pronunciavam afirmando que qualquer que seja a razão pela qual um católico se tome um maçom, ele permanece católico. Mas, nem todos os setores da igreja estavam coerentes e alguns achavam pouco prudente essa abertura aos pedreiros livres.

O maçom e carbonário Giuseppe Garibaldi, que lutou na Unificação da Itália.

Em 1983 e promulgado por João Paulo II o novo código de direito canônico. Com o cânon 1374 fica excluído o nome da maçonaria, e também a excomunhão. No entanto, um comunicado de doutrina da fé, aqueles mesmos que nunca fazem nada de produtivo para humanidade e se consideram os senhores da razão ditando as normas da vida católica, mantém a recomendação de que os “inscritos na maçonaria” incorrem em pecado grande, ficando impedidos de receber a santa comunhão. Mesmo contrariando a vontade papal.

Finalmente, agora recentemente, o papa pede perdão a tudo e a todos que porventura a igreja católica tenha atingido. Felizmente. Paciência e esperança, essas são as palavras.

A discriminação deixará de existir plenamente e a pacificação total, inclusive em cidades do interior, já bate a nossa porta.

Este trabalho foi elaborado pelo Ir.’. Sigisfredo Hoepers, A.'.R.'.L.'.S.'. União Catarinense nº 2764, Florianópolis - SC, fundamentado no livro de titulo MAÇONARIA E IGREJA – CONFLITOS. do Ir.’. Lutffala Salomão – Editora A Trolha.

Fonte: Palavra de Passe – Informativo mensal da A:.R:.L:.S:. – Perfeição de Biguaçu IV° 3156 – ENCARTE ESPECIAL.

janeiro 26, 2022

A CAPELA DE ROSSLYN - Francisco Feitosa



Em 1314, muitos Cavaleiros Templários ajudaram Robert de Bruce a tornar a Escócia livre da Inglaterra, na famosa Batalha de Bannockburn, no dia 24 Junho (dia de São João – solstício). Um dos Cavaleiros Templários a lutar ao lado de Robert, the Bruce foi Sir William St. Clair, terceiro e último Príncipe de Orkney. Uma sociedade secreta contemporânea chamada Scottish Knights Templar (Cavaleiros Templários da Escócia), ainda hoje, comemoram a batalha de Bannockburn, na Capela Rosslyn, o dia em que “O véu foi levantado dos Cavaleiros Templários”.

Com a queda dos Templários, muitos refugiaram-se na Escócia pois este país estava excomungado, e os templários fugitivos tiveram a proteção de Robert de Bruce e, também, das corporações de pedreiros-livres escocesas. Com o retorno da Igreja na Escócia, as propriedades templárias, foram divididas, partes para os Hospitalários e parte para os donos originais, dentre eles, a família St. Clair, que além de ter vários membros da sua família iniciados templários, eram os Grão-Mestres hereditários das corporações de ofícios de Rosslyn.

A ligação entre os St. Clair (posteriormente, o nome vira¬ria Sinclair) e os Templários já remonta a própria fundação da Ordem. O fundador e Grão-Mestre da Ordem Templária, Hughes de Payens, foi casado com Catherine St. Clair. Hughes e Catherine visitaram as terras dos St. Clair de Rosslyn, e lá estabeleceram a primeira comendadoria dos Templários na Escócia, no qual se tornaria o quartel-general naquele país. Além do casamento entre Hugues e Catherine, muitos outros St. Clairs foram iniciados na Ordem do Templo, assim como grandes doações a Ordem era proveniente dessa família.


Pelo que se sabe, William St Clair temia que os “segredos templários” caíssem em mãos erradas ou se perdessem. Temia escrevê-los num livro, pois poderia ser queimado ou destruído, e temia a tradição oral, pois algo poderia ser perder, ou uma geração poderia não passar adiante por moti¬vos de morte prematura. Preferiu construir uma capela, que seria um “Livro de Pedra”, mas, somente, conhecendo a “chave” certa se poderia ler tais segredos nos seus símbolos. Por mais de 40 anos e pelo custo de uma fortuna, William St. Clair de Rosslyn, o terceiro e último “Jarl” (conde) de Orkney, desenhou e construiu a Capela. Sendo uma Capela, não haveria desconfiança por parte da Igreja de Roma.


A palavra “Rosslyn” tem origem hebraica, significando algo como “O lugar onde se oculta o segredo“. Por fora, é uma rústica catedral gótica. Mas por dentro, é uma sinfonia em pedras esculpidas, onde cada centímetro do interior da capela é coberto com símbolos. Fora construída de acordo com a “sagrada geometria”.


A Capela de Rosslyn, na verdade, foi a terceira capela edificada na propriedade da família Sinclair. Está localizada a dez quilómetros, ao Sul de Edimburgo, em Lothian, Escócia. Nela, pairam segredos e mistérios que envolvem os Templários e que culminam em lendas sobre esta construção ser o “paradeiro” do Santo Cálice, ou de grandes conhecimentos secretos ali escondidos pelos Cavaleiros da Ordem do Templo, sendo construída quase 150 anos após a supressão da Ordem Templária. Os próprios domínios de Rosslyn ficavam a poucos quilómetros do antigo quartel-general escocês dos Templários.

A pedra de fundação foi colocada em 21 de Setembro de 1446 (dia de São Mateus, equinócio), por isso recebeu o nome de Collegiate Chapel of St. Matthew. A sua orientação é de Leste para Oeste. Tal posição foi marcada a partir do nascer do sol dessa data, como era de costume dos pedreiros da época (através do gnomon do arquiteto, com base no côvado do local).

A Ordem do Templo está muito bem representada nas paredes da Capela de Rosslyn. A planta da capela é baseada na cruz templária, e uma figura em alto relevo mostra dois cavaleiros num cavalo, numa alusão ao Selo da Ordem. Além disso, está representada nas suas paredes: José de Arimatéia transportando o Santo Graal; Uma imagem semelhante a do Santo Sudário; 200 imagens do deus nórdico Mimir, também, chamado de Homem Verde (às vezes relacionado com o deus babilónico Tammuz); Figuras de reis, pontífices, cavaleiros… Todos sendo seguidos por uma figura parecendo um esqueleto, talvez representando a morte; o deus grego Hermes, em alusão ao hermetismo; Três colunas, ligadas a cada Grau Simbólico Maçónico, desta¬cando-se, pela sua beleza, a “Coluna do Aprendiz”, que mostra a “Árvore da Vida” da Cabala.

Existe uma lenda em torno da “Coluna do Aprendiz”, de que um mestre pedreiro (The Master Mason) recebeu a tarefa de esculpir uma pilastra, única e maravilhosa, mas as suas habilidades não eram suficientes para tal empreitada. Por isso, foi a Roma para aprender a técnica correcta para concluir o seu trabalho. Ao voltar, viu que o seu aprendiz tinha esculpido a pilastra com maestria. O mestre pedreiro, com inveja e ódio, matou o aprendiz com um golpe na cabeça com o seu malhete. O mestre pedreiro teve que pagar pelo seu crime. O aprendiz ficou imortalizado com a sua cabeça esculpida no interior da capela. Ao seu lado esquerdo está a escultura da cabeça da sua mãe. Em nenhum ponto se encontra a figura do pai do aprendiz. Alguns acreditam que o aprendiz era filho de uma viúva. Esta lenda é muito semelhante à lenda do mestre Hiram Abiff, mestre construtor do Templo do Rei Salomão.

Em várias culturas se encontram elos que ligam o sacrifício à renovação. Com a capela de Rosslyn, as influências nórdica e celta são bem claras. A Coluna do Aprendiz é, obviamente, uma representação da Árvore da Sabedoria, chamada de “Yggdrasil”, na qual Odin, divindade máxima do panteão nórdico, fez p seu sacrifício para obter o segredo da sabedoria da cabeça decepada do deus Mimir. O seu sacrifício foi recompensado com as Runas.

A Coluna do Aprendiz possui esculturas dos dragões de Neilfelheim deitados, alimentando-se das raízes de Yggdrasil. Os Cavaleiros Templários, durante a sua actuação em toda Europa e Ásia menor, construíram diversas Igrejas, frequentemente, em forma circular, similar à do Santo Sepulcro de Jerusalém.

A capela escondeu durante 600 anos um código musical secreto nas suas paredes, segundo estudiosos. O Especialista Stuart Mitchell, decifrador de códigos da britânica Royal Air Force, e o seu filho Stuart, pianista e compositor, analisaram as inscrições dos arcos da capela e afirmaram ter descoberto uma partitura encriptada nos símbolos das suas paredes, definindo o achado como “música congelada”. “A música foi congelada no tempo pelo simbolismo”, explicando que o projecto para decifrar o código de Rosslyn levou 27 anos. As pesquisas começaram quando perceberam que os 13 anjos músicos esculpidos, detalhadamente, nos arcos da capela, e os 213 cubos que os acompanhavam, descreviam pautas geométricas. Chamaram à peça “Motete de Rosslyn” e acrescentaram-lhe a letra de um hino contemporâneo.

No entanto, talvez a mais intrigante escultura seja a de um candidato sendo iniciado. Há uma corda em torno do pescoço do candidato e uma venda que lhe oculta os olhos. Quem o segura, logo atrás, aparece com uma cruz templária no peito. A cena ritualística leva-nos a reflectir sobre a origem e influência da ritualística maçónica.

As organizações maçónicas que aparecem, formalmente, no século XVIII encontram-se entre o conjunto de instituições que herdaram o conhecimento, as práticas, os rituais e símbolos templários, no que se refere à sua ala oculta. Igual sorte e benefício tiveram muitas outras organizações, ora centradas na investigação científica e alquímica, ora no aprofundar do espiritualismo, do hermetismo ou dos rituais antigos.

Em 1560, a Reforma da Igreja Escocesa, obrigou à destruição dos altares e das figuras de santos católicos na Capela de Rosslyn, e, obviamente, ao encerramento dos cultos públicos. Desde aí, a Capela escapou mais ou menos intacta aos ventos da história, sendo inclusive renovada (altar novo, vitrais, substituição de pedras quebradas). Apesar de uma possível restauração ter sido cogitada em 1736, as obras, somente, foram iniciadas no início do século XIX, sendo reaberta, em 1861, pela Igreja Escocesa Episcopal, que nela continua, hoje, a celebrar culto, apesar da crescente pressão turística.

Em 1982, um trio de “especialistas” britânicos (Baigent, Leigh e Lincoln) publicou “O Sangue de Cristo e o Santo Graal”, estabelecendo uma conexão, até então insuspeita, entre a Capela de Rosslyn e o Castelo francês Rennes. A ligação reconduzia a Pierre Plantard, autointitulado Saint- Clair e líder do chamado Priorado do Sião. Uma vez que o apelido da família era o mesmo, Rosslyn teria, também, sido habitada por descendentes de Cristo e poderia muito bem guardar o Santo Graal ou outras preciosidades do género.

Muitos mitos e lendas estão associados à Capela Rosslyn, como uma suposta ligação a “Linha Rosa” original, sendo atravessada pelo Meridiano de Paris. Tal suposição foi popularizada no romance “O Código Da Vinci”, pelo autor americano Dan Brown. Ele identificou o Meridiano de Paris, com a suposta linhagem de Jesus Cristo e Maria Madalena, bem como a Capela de Rosslyn, na parte central do seu romance. Apesar de ser uma obra de ficção, o autor utilizou-se de evidências históricas para confeccioná-la o que, apenas, aumentou, ainda mais, as especulações sobre esta misteriosa capela.

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PRUDÊNCIA E HISTÓRIA - José Stamato M.'.M.'.



“A totalidade das causas que determinam a totalidade dos efeitos ultrapassa o entendimento humano.” (Raymond Aron)

Todos nós consideramos que a Ordem Maçônica é um meio, uma antecâmara onde trabalhamos com conceitos morais, jogados entre as forças cegas do mundo material (aparentemente sem finalidade) e as forças espirituais que servem para nos mostrar caminhos. 

Todo “despertar da consciência” ou “resposta a um chamado” (pessoal ou para a coletividade) é sempre colorido pela personalidade e marcado pelo orgulho e a ambição. 

O propósito e o desejo de servir impulsionam os seres, mas, as diversidades de temperamento dos homens dificultam o trabalho a ser feito. 

A ambição, o orgulho, a adulação, a crítica, criam um véu, nublando e impedindo a visão do bem comum e da verdade para o grupo.

A obstinação em realizar e favorecer a própria vontade contamina os indecisos, os incapazes e os mentalmente simples. 

Como submeter à vontade e controlar as paixões se não se compreendeu que somos um grupo em evolução que tem se destacado dos demais por ter uma consciência mais ampla?

Nossos ideais supremos são a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade demonstrada e operacionalizada através da simbologia exposta nos nossos diversos graus e Ritos que exprimem e procuram sedimentar conceitos morais universais que atravessam as épocas, pois, são próprios do ser humano em evolução.

Hoje, nossa época expansionista e democrática, altamente técnica e com a ciência aplicada ao bem-estar do ser humano, esclarece e leva o conhecimento à totalidade da população mundial. 

Tudo está à disposição através das mais variadas técnicas de difusão, principalmente pela Internet que ultrapassou fronteiras, sistemas e governos políticos. 

Todos têm a possibilidade de participar; estamos tendo a oportunidade de expressar nossos pensamentos e sentimentos de uma maneira nunca antes feita, já somos uma sociedade globalizada. 

Nada mais se esconde ou suprime, as verdades vêm à tona, as mentes são sacudidas e obrigadas a refletir. 

Não há nada que não possa ser revelado!

Na Maçonaria, o conhecimento através da simbologia ainda se mostra eficaz, pois, redireciona as mentes para as virtudes morais que tanto queremos atingir. 

Mas, é preciso avançar e expandir as consciências tirando-as do caminho linear; como analogia, um veículo de transporte nos leva a um lugar determinado, apesar de não podermos apreciar e conhecer de modo mais abrangente e adequado os variados locais, paisagens e seus habitantes. 

Os que ingressam na Instituição em sua maioria, são homens com formação acadêmica e estabilizados socialmente, almejando com seu ingresso conhecimento que possibilitará uma vida mais equilibrada e voltada para o espírito fraternal. 

Já trazem um conhecimento moral-filosófico proporcionados pelo ambiente de nossa época, e em Loja esse conhecimento é enfatizado e relembrado; é sedimentado e polido, mas, acaba solto na dinâmica estruturada da luta pela sobrevivência.

Nossa época está gerando uma dinâmica tecnocrata onde as especialidades através de seus mecanismos sugerem as soluções para as dificuldades inerentes ao crescimento expansionista do homem. 

A convivência e felicidade do ser humano não é apenas uma questão técnica, a liberdade é imanente no ser humano, o “fenômeno humano” não é preso a determinismos fixos, evolui com as próprias experiências e da coletividade.

Apesar de toda essa dinâmica que o assalta, sente um impulso –não revelado- de algo que o leva a considerar que há um fator, oposto e contrário para alguns ou complementar e inerente para outros, uma espiritualidade, um humanismo que o confronta com a matéria, o mundo objetivo no qual nos expressamos e damos como único e real. 

No nosso cotidiano o fator que nos assedia é a objetividade, estamos presos no círculo da matéria e poucas oportunidades nos oferecemos em analisar a experiência humana que estamos vivendo. 

É uma questão de escolha! 

*A verdade é sempre relativa no ambiente em que a consciência se encontra.*

Nossos ideais e princípios maçônicos não são frutos da formação como instituição organizada em 1717, mas que remontam a um tempo ainda indeterminado, unicamente foram colhidos e reorganizados de uma forma institucional nessa época. 

Entretanto, move-nos a prudência em nossas pesquisas pessoais, e sendo ela aliada do homem devendo acompanhá-lo em suas buscas, não pode limitá-lo de procurar compreender o motivo que leva os seres humanos a entender o conjunto de circunstâncias que levam a determinados movimentos que impulsionam o ser humano por uma humanidade melhor e mais esclarecida. 

Mas aonde devemos procurar nossos elos? 

Essas ligações fazem parte de uma longa cadeia que vem se formando através dos diversos períodos de tempos.

Desde o remoto passado há indícios que nos revelam através de informações colhidas pelos estudiosos de nosso legado (maçônico), que nos remetem à Ordem Templária. 

Sem aprofundar em sua história, pois, muitos estudos estão à disposição dos interessados, foi uma organização adiantada para sua época, uma ordem militar e monástica, guardiões de uma tradição ancestral (uma Tradição Primordial), conheciam os segredos e as falhas da Igreja de Roma, depositários da Arca da Aliança, dos segredos dos construtores das catedrais, possuíam uma frota, construíam estradas e as controlavam, organizaram um sistema de crédito e financiamentos (primórdio das instituições bancárias), e assim nos parece estavam adiantados para sua época. 

Sua grande meta era os estados unidos da Europa e restabelecer o elo de uma tradição originalmente comum entre o Oriente e o Ocidente, tinham, portanto, uma visão política que lhes ocasionaram o crepitar da fogueira e suas atividades interrompidas.

É suposto que surgiu com o objetivo de proteger os peregrinos da Terra Santa a caminho do Santo Sepulcro (em Jerusalém) e ficavam reunidos próximo ao antigo Templo de Salomão, de onde se originou a outra designação de “Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão”. 

Naquela época, Jerusalém figurava como o “centro do mundo”, era uma cidade sagrada que abrigava três religiões, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, um centro onde se podia estabelecer um vínculo entre Deus e os homens. 

Do aparecimento (formal) da Ordem em 1118 até a supressão de suas atividades em 1312 (3.abril) ficou evidenciado um componente esotérico com origens nos movimentos espirituais de conteúdo religioso libertário que contrariava o poder temporal da Igreja de Roma. 

O padroeiro e protetor dos Templários era o abade cisterciense São Bernardo de Clairvaux (1091-1153) (7).

Suas regras, sua disciplina, seu modo de agir se diferenciava do comum da época; eram motivados pela formação de um mundo melhor e mais esclarecido. 

Temos que compreender que todos os conceitos e teorias a respeito dessa Ordem são limitados, apenas tentamos nos aproximar da verdadeira natureza de suas aspirações, e o que hoje pensamos são uma aproximação de sua realidade. 

Podemos dizer que sofreram influência dos grupos esotéricos de sua época como os gnósticos e do próprio oriente muçulmano (sufis). 

Pela literatura e estudos existentes, somos herdeiros desse grupo que floresceu, criou e desenvolveu ações e princípios que vieram nortear e fundamentar nossas bases como hoje conhecemos e nos vangloriamos em pertencer a uma Ordem que é respeitada, discreta e portadora de princípios humanitários que propiciam a evolução da humanidade e dos que nela participam.

Pedi, recebereis.

Procurai, achareis.

Batei e dar-se-vos-á entrada.

(Mateus:7, 7-8; Lucas:11, 9-10)


Em que ponto nos encontramos? 

O que vindes aqui fazer?


“Há um plano maior onde a intuição está instalada. 

Todos a possuem e consciente ou inconscientemente fazem uso dela. 


Vivemos num círculo limitado de imagens, idéias, lembranças, raciocínios, associações mentais, projetos, ideais, aspirações que nos impulsionam às realizações e atitudes. Julgamos e planejamos ações e nos comprometemos objetivamente a executá-las.”


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janeiro 25, 2022

CÂMARA DO MEIO - Pedro Juk


Em 05.08.2014 o Respeitável Irmão Jason Paixão Miranda, Loja Luz e Saber nº 2.380, Rito Adonhiramita, GOB, Oriente de Goiânia, Estado de Goiás, formula pedido para o seguinte esclarecimento: 

Solicito a gentileza do Irmão estimado irmão, em podendo, me enviar sua abalizada consideração a respeito do assunto “CÂMARA DO MEIO”, inclusive no aspecto metafísico. As considerações usuais são de que é o local onde se reúnem os Mestres, isto é: uma Loja de Mestre. De acordo com os meus parcos conhecimentos, entendo ser isto muito pouco. Considero que o assunto representa um pouco mais. Gostaria de saber mais a respeito.

Considerações:

Câmara do Meio é o título dado à Loja de Mestre na Moderna Maçonaria. Essa concepção começou a fazer parte do especulativo maçônico após o aparecimento do Terceiro Grau (1.724) e sacramentado por ocasião da segunda Constituição de 1.738 relacionada à Primeira Grande Loja em Londres.

Como uma Loja, exceto quando é o título dado à corporação, só existe em trabalhos abertos, uma sessão aberta no Terceiro Grau, por extensão intitula-se Câmara do Meio.

A alegoria da Câmara do Meio já está presente na Tábua de Delinear inglesa (teísta) desde o Grau de Companheiro e se relaciona diretamente com o Livro das Sagradas Escrituras: “A porta do lado do meio estava na parte direita da casa; e subiam por um caracol ao andar do meio e deste para o terceiro” (todos os grifos são meus) – Reis I, 6, 8. Ainda em outra versão bíblica: “A porta que levava à câmara do meio estava no lado sul da casa e por um caracol se subia ao segundo andar e deste para o terceiro” (os grifos são meus). O lado direito da casa, sob o ponto de vista do Átrio, corresponde ao Sul, ou Meio-Dia.

Em relação ao termo “caracol” inserido nos textos bíblicos, evidentemente se refere à Escada em Caracol, cujo emblema possui alto valor simbólico já que essa “escada” de acesso para “câmara” representa a dificuldade e a sinuosidade que o Obreiro tem que passar para atingir a Câmara do Meio (aperfeiçoamento), que nesse caso sugere o Santo dos Santos do Templo de Jerusalém. 

À bem da verdade a alegoria alude ao elo que existe entre o “meio-dia” (juventude) e o final da jornada à “meia-noite” (maturidade e morte - o Mestre que ingressa no Oriente).

É dessa a relação maçônica existente entre a lenda da construção do Templo de Jerusalém e a Loja, mais especificamente ao Oriente da Oficina, que explica o porquê de só se permitir o ingresso no Oriente em Loja aberta àquele que já tenha atingido a plenitude maçônica – o Mestre.

Graças também a essa alegoria maçônica é que os Companheiros no Templo (Loja) ocupam sempre a Coluna do Sul, já que pelo texto bíblico que dá origem ao apólogo, a porta que leva à Câmara do Meio (Loja de Mestre) simbolicamente está situada no Sul.

Diga-se ainda de passagem que na alegoria do Templo o mesmo era um conjunto constituído por três partes – a primeira se denominava Ulam (átrio) onde se formava a assembleia; a segunda chamada Hikal onde os sacerdotes desempenhavam as suas funções e por fim a terceira nomeada Debir (santuário) onde era depositada a Arca de Aliança.

Com o advento da criação do grau de Mestre e por extensão da Lenda do Terceiro Grau cujo palco seria o Templo de Jerusalém se desenvolveria o arcabouço doutrinário e filosófico do simbolismo da Moderna Maçonaria que passaria definitivamente a associar especulativamente o aprimoramento do Homem com a construção do Templo. Daí a relação incondicional e sucessiva entre os três Graus cuja jornada vai do Ocidente em direção à Luz do Oriente.

Nesse sentido não se poderia mencionar a Câmara do Meio sem considerar a sua relação com o grau de Companheiro como penúltimo estágio do aprimoramento – Do pórtico ao Sul em direção à Câmara do Meio onde se situa a Árvore da Vida, local onde o Mestre pode então assim afirmar: “A A∴M∴É C∴”.

Vale ainda mencionar que essa alegoria constituída pela tríade Escada em Caracol, Templo de Jerusalém e Câmara do Meio é valida apenas para o simbolismo da Moderna Maçonaria, já que esse conjunto emblemático, bem como a Lenda de Hiran, não corresponde ipsis litteris à completa realidade descrita no texto bíblico.

Assim, o termo “Câmara do Meio” é em Maçonaria uma espécie de Nec Plus Ultra, cuja característica filosófica envolveu conhecimentos racionais que determinaram regras e fundamentos do pensamento enquanto era urdida a chave destinada para se encontrar a Palavra Perdida (conhecimento real, não o aparente).

É a razão que pode, na ordem natural dos fatos, explicar o termo “Câmara do Meio” em Maçonaria. Daí pela “ordem natural” que envolve a construção do Templo e a Lenda do Terceiro Grau, os Aprendizes ocupam o Norte, Companheiros o Sul e os Mestres o Oriente donde dali simbolicamente parte para qualquer das latitudes e longitudes terrenas (o Ocidente da Loja).

Se bem compreendida a Arte, a Câmara do Meio desfaz todas as ilações temerárias daqueles que de quando em quando lançam sementes ao vento tentando inverter a circulação e a localização dos Aprendizes e Companheiros na Loja. Para esses incautos poder-se-ia perguntar: e o pórtico da Câmara do Meio? Invertendo os escritos bíblicos, ele passaria do Sul para o Norte? Como então ficaria a referência feita à construção do Templo mencionada nas Escrituras? Essa menção seria subvertida? Contar-se-ia então uma nova Lenda com Hiram tentando fugir do primeiro algoz pelo Norte?

Nada fora arquitetado por acaso.

O ''R'' CAIPIRA - Renato Mendonça


 O R caipira do interior de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina deve-se ao fato de que os indígenas que aqui moravam não conseguiam falar o R dos portugueses, não havia o som da letra R em muitos dos mais de 1200 idiomas que falavam aqui.

Então na tentativa de se pronunciar o R, acabou-se criando essa jabuticaba brasileira, que não existe em Portugal.

A isso também se deve o fato de muitas pessoas até hoje em dia trocarem L por R, como em farta (falta), frecha (flecha) e firme (filme).

Com a chegada de mais de 1,5 milhão de italianos à capital de São Paulo o sotaque do paulistano incorporou o R vibrante atrás dos dentes, porta como "porita", e em alguns casos até incorporando mais Rs do que existem: carro como "caRRRo", se quem fala for de Mooca, Brás e Bexiga, bairros paulistanos com bastante influência italiana.

O R falado no Rio de Janeiro deve-se ao fato de que quando a corte portuguesa pisou aqui, a moda era falar o R como dos franceses, saindo do fundo da garganta, como em roquêfoRRRRt, paRRRRRi.

A elite carioca tratou de copiar a nobreza, e assim, na contramão do R caipira e 100% brasileiro, o Rio importou seu som de R dos franceses.

Do mesmo modo a corte portuguesa trouxe o S chiado dos cariocas, sendo hoje o Rio o lugar que mais se chia no Brasil, 97% dos cariocas chiam no meio das palavras e 94% chiam no final. 

Belém do Pará ocupa o segundo lugar e Florianópolis em terceiro.

As regiões Norte e Sul receberam a partir do século 17 imigrantes dos Açores e ilha da Madeira, lugares onde o S também vira SH. Viviam mais de 15 mil portugueses no Pará, quarta maior população portuguesa no Brasil à época, o que fez os paraenses também incorporarem o S chiado.

Já Porto Alegre misturava indígenas, portugueses, espanhóis e depois alemães e italianos, toda essa mistura resultou num sotaque sem chiamento.

Curitiba recebeu muitos ucranianos e poloneses, a falta de vogais nos idiomas desses povos acabou estimulando uma pronúncia mais pausada de vogais como o E, para que se fizessem entender, dando origem ao folclórico "leitE quentE".

Em Cuiabá e outras cidades do interior do Mato Grosso preservou-se o sotaque de Cabral, não sendo incomum os moradores falando de um "djeito diferentE". Os portugueses que se instalaram ali vieram do norte de Portugal e inseriam T antes de CH e D antes de J. E até "hodje os cuiabanos tchamam feijão de fedjão".

Junto com os 800 mil escravos também foram trazidos seus falares, e sua influência que perdura até hoje em se comer o R no final das palavras: Salvadô, amô, calô e a destruição de vogal em ditongos: lavôra, chêro, bêjo, pôco, que aparece em muitos dialetos africanos.

A falta de plurais, o uso do gerúndio sem falar o D (andano, fazeno), a ligação de fonemas em som de z (ozóio, foi simbora) e a simplificação da terceira pessoa do plural (disséro, cantaro) também são heranças africanas.

Do livro "Mapa Linguístico do Brasil" de Renato Mendonça

janeiro 24, 2022

A IMPORTÂNCIA DO RITUAL - Rui Bandeira



Meus Irmãos saúdo-vos fraternalmente, em todos os vossos graus e qualidades.

A suspensão dos trabalhos presenciais por virtude da pandemia em curso revelou-nos a falta que o Ritual, a execução do Ritual, nos faz. É essa a natureza humana: muitas vezes só nos damos conta do que é importante quando o não temos. Mas não é sob esta perspectiva que escolhi expor a Importância do Ritual. Vou procurar incidir a nossa atenção sobre a razão por que o Ritual é importante, porque só tendo-se essa noção é que nos apercebemos completamente da importância do mesmo.

Começo por fazer uma afirmação que aparentemente não tem nada a ver com o tema e que é – como todas! – discutível, mas cujo mérito vos peço que julgueis apenas no final desta nossa conversa: a Maçonaria não se ensina, aprende-se!

Não quero com esta afirmação dizer que os mais experientes não devem partilhar com os mais novos o que aprenderam o que sabem. Com esta frase, enfatizo que, em Maçonaria, o que é importante, não é o que se transmite, mas antes o que se apreende. Porque a experiência, a vivência, a personalidade, do que transmite são diferentes das do que recebe.

Assim, o que verdadeiramente interessa não é o que se ensina, se partilha se transmite. O que importa é o que se aprende e, mais do que isso, o que se apreende, o que se interioriza. E aquelas e estas não são necessariamente – atrevo-me mesmo a dizer que raramente são – a mesma coisa. E, bem vistas às coisas, é inevitável que assim seja, pois, como já há pouco referi o que transmite e o que recebe têm personalidades, vivências, capacidades, características diferentes.

Assim, o que transmite tem necessariamente uma noção diversa do que aquele que recebe. Este daquilo que é transmitido receberá o que, na ocasião, estiver apto e pronto a receber, será tocado pelo que, no momento, o sensibilize. Em suma, o que ficará é o que ele aprende e apreende, não o que o que transmitiu julga que ensinou…

Não tenho, portanto, a pretensão de ensinar nada! Tenho apenas a esperança de que, da maçada a que agora vos submeto, cada um de vós retenha algo de útil.

Em meu entender, para uma correta abordagem da importância do ritual impõe-se que previamente distingamos entre Conhecimento e Sabedoria.

O Conhecimento é tudo aquilo que aprendemos e estamos aptos a utilizar, quando necessitemos. A Sabedoria é algo mais profundo. Baseia-se, é um fato, nos conhecimentos que adquirimos. Mas reside na intuição, na capacidade adquirida de, relacionando tudo o que conhecemos daí selecionar o que efetivamente importa o que é adequado para um momento específico, uma situação concreta.

Nem sempre aquele que tem mais conhecimentos é o que tem a sabedoria necessária para escolher a via justa, a palavra indicada, o gesto preciso, a atitude certa perante uma dada situação concreta. Numa muito grosseira aproximação, poderíamos dizer que a sabedoria resulta do conhecimento sublimado pela experiência.

É através dos êxitos e fracassos na nossa escolha na utilização dos nossos conhecimentos que sublimamos o nosso Conhecimento em Sabedoria, que passamos do Conhecer ao Saber.

Memoriza-se e utiliza-se o que se conhece; desenvolve-se e internaliza-se o que se sabe.

O meio privilegiado para rápida aquisição de Conhecimento é o Estudo. Para se chegar à Sabedoria é preciso tempo e vivência. Mas há um meio para acelerar esse percurso, para induzir a Sabedoria: a utilização, execução e prática do Ritual. Se o Estudo é um meio de aquisição de Conhecimento, o Ritual é indutor de Sabedoria.

Com efeito, o Estudo estimula, faz funcionar, desenvolve a Inteligência Racional. Mas o Ritual, a sua prática, esse, estimula e desenvolve a Inteligência Emocional. E esta é bem mais profunda do que aquela, pois combina o conhecimento, o raciocínio, com a Intuição.

O que estudamos pode não nos tocar e dar-nos apenas, pela memorização, a ferramenta necessária para agir. Mas só o que nos toca, nos emociona, efetivamente guardamos para saber como utilizar a ferramenta. A ferramenta é útil, mas saber utilizá-la pela melhor forma é indispensável…

Para entendermos porque e como o Ritual e o seu exercício estimulam a nossa Inteligência Emocional e, logo, induzem a obtenção de Sabedoria, devemos ter presente que, nos primórdios da Humanidade, quando ainda não tinha sido inventada a escrita – e muitas e muitas gerações de humanos viveram sem que houvesse escrita… -, a aquisição de conhecimentos e o acesso à Sabedoria processavam-se através da Tradição Oral. Era exclusivamente por essa via que os mais velhos e os mais experientes transmitiam o que sabiam aos mais novos e sem experiência.

Não havia então propriamente aulas, nem escolas. Os mais velhos e experientes diziam o que tinham aprendido, executavam perante os mais novos os gestos que era necessário fazer, repetiam, uma e outra vez, e faziam repetir muitas e muitas vezes, as palavras, os gestos, os atos de que dependiam, tantas vezes, a alimentação, a segurança e a sobrevivência, não só individuais como do grupo.

Ora, repetir uma e outra vez as mesmas palavras, para transmitir as mesmas noções, executar muitas e muitas vezes os gestos e as ações adequados para a obtenção dos resultados pretendidos mais não é do que… executar um ritual! Um Ritual é um conjunto de palavras, gestos e atos proferidas e executados sempre da forma similar.

Então, nos primórdios da Humanidade, aprendia-se e vinha-se, a saber, através da repetida execução de rituais. Era pelo que se via pelo que se ouvia pelo que se executava pelo que exaustivamente se repetia que se entranhava em cada o que fazer e como fazer para obter alimento, para garantir segurança, para melhorar e curar maleitas, para adquirir o conforto possível.

Os rituais aprendidos e executados propiciavam, assim, a sabedoria necessária para sobreviver e viver o melhor possível.

O cérebro humano foi, portanto, desde muito cedo, formatado em primeiro lugar para reagir aos estímulos visuais e auditivos.

Só mais tarde, muito mais tarde, o cérebro humano adquiriu a capacidade e habilidade de decifrar o código da escrita. A criação da escrita foi um avanço civilizacional imenso. Permitiu registrar o que se tinha por importante, aquilo que anteriormente tinha de ser adquirido e mantido à custa de repetições.

A escrita e a habilidade de utilizá-la permitiram à Humanidade um meio mais fácil de registrar e dar acesso ao Conhecimento. O cérebro humano naturalmente adquiriu, assim, também a capacidade de adquirir Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo.

Mas tenhamos presente que a camada mais profunda do nosso cérebro é desde sempre estimulada auditiva e visualmente e por execuções ritualizadas do que se pretende transmitir. A aquisição de Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo é uma habilidade mais recentemente adquirida, logo, mais superficial no nosso cérebro.

Não nos enganemos: o estudo, a aquisição de Conhecimento pelo estudo, dá trabalho. Esse trabalho é recompensado pelo desenvolvimento da nossa Inteligência Racional, pela habilidade de memorizar, de relacionar, de aplicar. Mas é apenas a Razão que é aplicada e fortalecida.

Para se desenvolver, para se utilizar a Inteligência Emocional, a que nos permite quantas vezes sem sabermos como, intuitivamente dizer a palavra certa, executar o gesto adequado, efetuar a ação necessária sem termos de longamente pesar os prós e os contras, sem necessitarmos de fazer exaustivas análises e cálculos, para isso temos de recorrer às camadas mais profundas do nosso cérebro – e essas desde o início dos tempos foram estimuladas pelo que se via e ouvia pelo que se repetia uma e outra e muitas vezes, pelo que se ritualizava.

Por isso afirmo que o Ritual é o indutor de mais rápida passagem do Conhecimento à Sabedoria, acelerando o que só a Experiência, a Vida vivida, os erros cometidos e as vitórias alcançadas nos permitiria atingir, não fora ele.

Meus Irmãos: até agora tenho sempre falado de Ritual, sem adjetivar e, sobretudo, sem utilizar o adjetivo maçônico.

Porque o ritual, penso tê-lo demonstrado, existe desde sempre e desde sempre aumenta a capacidade humana de discernir, em suma, de saber. E não há “o” ritual, há muitos rituais, respeitando a muitos momentos, ocasiões e atividades. Existem, bem o sabemos, rituais religiosos. Mas também de outra natureza, uns mais solenes e utilizados em ambiente de Poder ou de significado social, outros mais simples, íntimos até.

Atrevo-me a dizer, por exemplo, que todos os casais com algum tempo de ligação criam os seus rituais próprios, indutores de segurança, conforto e manutenção da relação afetiva.

Uma categoria de rituais que merece referência é o ritual que podemos denominar de grupal, o que marca, define e corporiza a integração de alguém num determinado grupo. Aí não está em causa à aquisição ou consolidação de conhecimentos ou o acesso a sabedoria, mas simplesmente o estabelecimento de uma união grupal, a que o neófito passa a aceder.

Todo o ritual é importante, precisamente porque correspondendo a mais antiga e natural forma de a Humanidade processar a aquisição de conhecimentos, ganhar e manter confiança, obter conforto e segurança. Não é assim porque queremos que seja assim é porque a nossa evolução como espécie o determinou. Talvez algo grandiloquentemente, pode-se afirmar que a Civilização se alicerça em rituais.

Mas os Rituais Maçónicos, esses, partilhando com os demais a mesma natureza de meios indutores de aquisição de Sabedoria, têm ainda uma valência própria, quiçá não exclusiva, mas seguramente que identificaria.

Os rituais maçónicos têm uma tríade de características, duas delas já referidas e uma terceira que podemos considerar própria. Os rituais maçónicos assumem a natureza de indutores de Sabedoria, são também, particularmente nos rituais de Iniciação e de Aumento de Salário rituais grupais, mas também assumem a natureza de explanação e aprofundamento de Princípios e Valores.

Esta uma especificidade não negligenciável. Os vários rituais dos diferentes ritos maçónicos apresentam-nos e definem-nos Valores e Princípios a que os maçons devem corresponder. Não estão aqui em causa conhecimentos a interiorizar. Estão, diretamente, aspectos e referências morais a seguir, a cumprir, a divulgar.

Os rituais maçónicos ao promoverem Princípios e Valores apelam diretamente às características básicas do cérebro humano. Os princípios e Valores expostos, facultados, não se destinam a ser meramente apreendidos pela Inteligência Racional, através do estudo e da aquisição de conhecimentos. Procura-se atingir a Inteligência emocional, o âmago da personalidade de cada um e aí efetuar as modificações inerentes a esses Princípios e Valores.

Busca-se a aceleração do processo. Em vez da mera aquisição pela Inteligência Racional e posterior enraizamento através da experiência, busca-se a inserção direta e eficaz na mente do maçom, atingindo o que o Ritual, desde os primórdios da Humanidade toca: a Inteligência Emocional, logo as profundezas do ser que cada um de nós é. Não se semeia, para que porventura nasça e cresça. Planta-se para que, no mais curto espaço de tempo, haja frutos.

Os rituais maçónicos destinam-se assim, para além da integração de indivíduos em grupos, a propiciar a modificação de cada um, através da interiorização de Princípios e Valores morais, que devem nortear a conduta de cada um,

Expostos de forma ritualizada, muitas vezes repetida, encenada e praticada, tais Princípios e Valores entranham-se diretamente no âmago essencial de cada um, assim propiciando o seu aperfeiçoamento.

Este processo de aperfeiçoamento não é imediato. É demorado, é evolutivo, depende de patamares.

É por isso que é um erro pensar-se que, sabido o ritual, aprendido a executar o mesmo com perfeição, o nosso trabalho está terminado.

Posso garantir-vos, com base na minha experiência de mais de 30 anos de maçom, que não é assim que funciona.

Decorar o ritual executá-lo na perfeição, são ainda tarefas do Intelecto, da Inteligência Racional. O que importa é senti-lo, vivenciá-lo, apreender aqui e ali algo de novo, algo que nos chama agora a atenção e em que não reparáramos antes. Porque esse é o processo de entranhamento das noções transmitidas pelo ritual, esse é o processo de passagem do Conhecimento à Sabedoria.

Se há algo que verdadeiramente aprendi com os nossos rituais é que se está sempre a aprender algo de novo com os mesmos. Em mais de trinta anos de Maçonaria, já repeti, já executei, já vi serem repetidos, já vi serem executados, os nossos rituais centenas de vezes. Nunca me incomodei com a repetição. Nunca deixei de me concentrar na sua execução. E, trinta anos passado, ainda me sucede que subitamente encontro algo de novo, apesar de ser o mesmo ritual que pratico e a que assisto ao longo deste tempo.

Tal sucede por uma simples razão: encontro numa ocasião aquilo que então estou preparado para encontrar. As palavras, os gestos, os atos, são os mesmos desde o princípio. Mas antes eu não compreendera aquele particular significado, porque ainda não estava preparado para tal. Porque tive de seguir uma evolução, compreendendo aqui algo que mais tarde me permitiu perceber aquilo, que me modificou e levou a entrever aquel outro pormenor, num processo evolutivo permanente.

É para isso que serve o nosso ritual. Porque o ritual maçônico não é um simples ritual igual a todos os outros que a Humanidade segue. O ritual maçônico é um meio de Construção e Aperfeiçoamento de Nós.

É esta a sua importância!


Comunicação por meios virtuais no âmbito da Academia Maçônica em 18/2/2021 = Fonte - Blog a Partir Pedra

OS MAÇONS E SEUS DEVERES - Benjamin Sodré



O escritor, poeta e futebolista Benjamin de Almeida Sodré foi Grão Mestre Geral do GOB (1954).

O Maçom, desde a sua iniciação, está obrigado a imprimir à sua existência um ritmo inflexível que o leve a cultuar a virtude. Na sua ascensão contínua em busca da Verdade e do aperfeiçoamento de suas qualidades morais, tem ele quatro espécies de deveres a cumprir: Os da Moral Individual, os da Moral Doméstica; os de caráter Cívico e os de Ordem Social.

DEVERES DE MORAL INDIVIDUAL

Os maçons devem ter sempre presentes em seu espírito o Ritual de Iniciação e seus preciosos ensinamentos. Entre estes, lutar infatigavelmente para conhecer a si próprio. É fácil inteirarmo-nos de nossas virtudes e até mesmo atribuirmo-nos, de boa fé, qualidades que não possuímos. Em compensação é muito difícil admitirmos nossas deficiências e nossos defeitos. A consciência de cada Irmão deve ser um Tribunal em que, através da meditação e do exame sereno e imparcial de nossos gestos e atitudes, formulemos um julgamento que nos oriente com segurança em nossa vida futura. A nossa divisa deverá ser: “OURO SOBRE AÇO”. Os bons livros, de bons autores, poderão constituir uma excelente ajuda nesta tarefa. Enfim, o Maçom, em face dos juramentos proferidos, está obrigado, para consigo mesmo a: Ser leal e verdadeiro. Combater as injustiças. Ter uma vida sã. Ser livre não ter apego a posições. Viver com simplicidade. Dar sempre o bom e sadio exemplo.

DEVERES DE MORAL DOMÉSTICA

A família é a base da sociedade e o Maçom, mais que qualquer outro, está obrigado a defendê-la e a prestigiá-la. É no lar que se forjam as virtudes morais de um povo. O Maçom tem três deveres fundamentais para com o seu lar: a) Subordinar seus interesses pessoais aos de sua família; b) conceder à família ampla liberdade religiosa; e, c) Guardar fidelidade conjugal.

DEVERES DE ORDEM SOCIAL

O Maçom tem de ser, necessariamente, um padrão de dignidade no meio em que vive. Deve ser um exemplo de boa moral e nunca perder a oportunidade de despertar, nos que o cercam, aspirações para uma vida superior. Cumprir com zelo os deveres de sua religião, respeitando, porém, as demais crenças, que todas elas pregam o Bem e exaltam a Virtude. Deve dar seu decidido amparo a todas as obras úteis à coletividade, pois é essa uma das melhores maneiras de amar ao próximo. Formular juízos próprios, mas respeitar as opiniões alheias. Praticar a caridade; fazer o bem, protegendo, especialmente, os seus Irmãos.

Este nosso trabalho é uma síntese de uma palestra feita em Loja e muito estimaríamos se visse ele de tema nas próximas reuniões da Oficinas da obediência.

Se todos os prezados Irmãos se esforçarem no cumprimento de seus deveres a Ordem será, em breve, a maior força espiritual e moral a serviço da Pátria e da Humanidade.

DEVERES DE CARÁTER CÍVICO

A Maçonaria, como escola de aperfeiçoamento moral, como Religião da Virtude, impõe aos seus adeptos deveres especiais para com a Pátria onde vive. O Maçom deve obediência à Lei, sem a qual não pode haver ordem nem progresso. Estar obrigado a cumprir o melhor possível, os seus deveres profissionais e cívicos. Deve subordinar os interesses de sua família aos da sua Pátria. Não se submeter, sem protesto, aos atos arbitrários ou ordens injustas das autoridades, por mais influentes que elas sejam. Ouvir sempre, sem irritação, as ponderações de seus subordinados, e, sem diminuição, ter a coragem de revogar uma ordem, ante a evidência de que ela é falha, prejudicial, injusta ou ilegal. Nunca criticar nem reclamar à surdina contra uma ordem de que não teve a coragem de discordar quando a recebeu.

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janeiro 23, 2022

DEUS E A CIÊNCIA




Um senhor de 70 anos viajava de trem, tendo ao seu lado um jovem universitário, que lia o seu livro de ciências . 

O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta.  Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia e estava aberta no livro de Marcos . 

Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou: - O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?_ 

- Sim, mas não é um livro de crendices.  É a Palavra de Deus.  Estou errado?_ 

Respondeu o jovem: - Mas é claro que está!  Creio que o senhor deveria estudar a História Universal.  Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião.  Somente pessoas sem cultura ainda creem que Deus tenha criado o mundo em seis dias.  O senhor deveria  conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso._ 

- É mesmo?_ Disse o senhor. E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia? 

- Bem, - respondeu o universitário, - como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.

O velho então cuidadosamente abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário. 

Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo sentindo-se a pior pessoa do mundo.  

No cartão estava escrito: *Professor Doutor Louis Pasteur, Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França*.  E um pouco mais abaixo a frase estava escrito em letras góticas e em negrito:

*"Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muita, nos aproxima".*

(Fato verídico ocorrido em 1892, integrante da biografia de Louis Pasteur...)

SINCERICÍDIO - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante, um dos mais renomados intelectuais da maçonaria.

Há alguns poucos anos  durante uma Sessão  Maçônica no grau 1, no Tempo de Estudos, foi solicitado ao Aprendiz, que tinha sido iniciado há pouco menos de 1 mês, que o mesmo apresentasse um breve Trabalho, a respeito de suas impressões e sensações pessoais, com relação à sua "Iniciação".

Durante a leitura que fez do Trabalho, o Aprendiz, abusando de algumas hipérboles (figura de linguagem que denota a ideia de grandeza, intensidade, exagero) mencionou, sem qualquer hesitação, que a Maçonaria o havia "transformado numa nova pessoa",  que se sentia  enfim "diferente", e que sua esposa, filhos e amigos haviam notado claramente esta sua mudança.

O Aprendiz afirmou que se sentia uma pessoa mais tolerante para com a esposa e filhos, sentia-se mais sereno e compreensivo, dentre algumas outras tantas considerações, todas elas de cunho altamente positivas e emocionalmente motivadoras.

Desnecessário dizer, que aquilo, de algum modo, suscitou uma atmosfera de certa inquietude e instigação entre alguns Irmãos. 

Afinal de contas, como é possível, alguém que mal havia sido iniciado, incipiente na Ordem, cujo conhecimento sobre a Maçonaria era ínfimo, poderia fazer alegações tão eloquentes e categóricas.

O pequeno episódio serve apenas como tênue ilustração no que diz respeito à questão da avessa ideia do "poder transformador" da Sublime Ordem.

Muito longe do que qualquer fundamento a respeito dessa propriedade, a Maçonaria não possui e tampouco detém qualquer poder transformador, revelador ou divinal.

Trata-se pois, de uma instituição  "filosófica", cujo preceito básico é a busca da própria superação, do aperfeiçoamento do templo interior humano e sobretudo do aprimoramento da própria Consciência.

Voltando ao Aprendiz, talvez munido de alguma influência externa, ou até mesmo pelo "auto sugestionamento", isto é, por influência de uma ideia persistente sobre o próprio comportamento - é que o mesmo tenha desejado transmitir uma impressão que não reflete uma realidade.

O que se pode inferir desse processo de relação com a Maçonaria, é que o maçom, pode isto sim, assumir um papel de "agente transformador social",  desempenhando uma função baseada na noção de que as ações, comportamentos, atitudes e desejos são conformados por um conjunto de funções específicas, socialmente determinadas, e que no caso do Maçom , busque promover a harmonia, o bem estar, a igualdade a fraternidade e o combate aos vícios, preconceitos, fanatismo e ignorância em prol da evolução da humanidade.

A Maçonaria fornece as ferramentas por meio de uma profunda e ampla filosofia, fundamentada por Símbolos e Alegorias. 

Cabe sim ao Maçom, empreender e ajudar nesse processo de construção social, dedicando-se ao exercício especulativo, ao estudo, à pesquisa, e ao trabalho incansável da Consciência Critica, estimulado pela leitura e pela construção de um pensamento livre de estigmas e de dogmas aprisionadores.

*PS.:*

O referido Aprendiz, após poucos meses de Loja, começou a rarear sua presença às Sessões, e pouco tempo depois acabou desvinculando-se, alegando questões profissionais...

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janeiro 22, 2022

O EXERCÍCIO DO VENERALATO - Ir.'. João José Viana, MI



A Loja Maçônica é a célula básica da instituição, denominada "Loja Simbólica". É onde a Maçonaria atua a nível local, sob a jurisdição do Grande Oriente Estadual. É onde o Maçom recebe instruções, onde são recebidos os pedidos de admissão e onde são conferidos os graus maçônicos. Em suma, é o local em que se congregam os Maçons para um trabalho específico.

Liderança envolve árduo-trabalho. Muitos dos líderes não conseguem desempenha-lo. Outros têm os atributos adequados, mas não conseguem fazer qualquer coisa a respeito, o que nos leva a definir e esclarecer princípios de liderança. 

O estudioso Philip Crosby afirma: a liderança é, deliberadamente, fazer com que as ações conduzidas por pessoas sejam planejadas, para permitir a realização de um programa de trabalho".

Adaptando esta definição para a linguagem maçônica, poderíamos ter algo assim: “liderança, deliberadamente, fazer com que as ações executadas pelo Venerável Mestre sejam planejadas para permitir a realização de um plano de trabalho".

Desdobrando alguns elementos da definição, poderemos torná-la mais compreensível. 

"Deliberadamente" significa que a Loja deve eleger um determinado caminho e um propósito, estabelecendo objetivos e metas claras para todos os Irmãos. 

"Ações executadas pelos Irmãos" significa que os objetivos e metas devem ser alcançados por meio de ações empreendidas por todos os Irmãos e não ações executadas por "um pequeno grupo".

"Planejadas" significa programar uma sequência de eventos que permita que os Irmãos saibam, exatamente, aquilo que vai acontecer e o que se espera que cada um faça".

"Plano de trabalho" refere-se às realizações específicas que, realmente, se deseja-alcançar.

Portanto, ao demonstrar que sem planejamento a missão do Venerável Mestre fica intrincada, evidencia-se plenamente a necessidade de que cada Loja tenha perfeitamente delineado seus objetivos.

Para o exercício pleno da liderança é necessário, dentre outros, o estabelecimento dos seguintes pontos fundamentais:

a) Programa de trabalho claro e definido;

b) Filosofia individual; e

c) Relações duradouras.

Meditemos sobre tais pontos.

Há necessidade de compreender, assimilar e implantar tais itens no exercício do Veneralato, tendo sempre em mente a trilogia da Ordem Maçônica, Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Para suportar o peso do primeiro Malhete é necessário, antes de tudo, despojamento da dependência e das limitações da mente, o que requer de seu ocupante preparação, discernimento e sapiência. Ao ser escolhido para o cargo de Venerável de uma Loja Maçônica, por mais tranqüilo e experiente que, seja, o Irmão acaba se deparando com uma sensação que não imaginara.

O frio percorre a espinha dorsal ao estalar a escada que conduz ao Trono de Salomão, o assento ao trono, a abertura dos trabalhos e a impaciência dos Irmãos, querendo ajudar, são fatores que acabam influindo na condução dos trabalhos. 

O cargo de Venerável é temporário, e o exercício dignifica seu ocupante, por ter sido escolhido entre seus pares para a distinção de representá-los e conduzi-las à continuidade da Loja.

Na essência, o Venerável Mestre é um coordenador, instrumento gerador de frequência, de vibração, modelo, organizador, mediador, aglutinador, preceptor, mesmo porque lhe cabe manter a união do grupo, a harmonia do todo, o exemplo da conduta maçônica. 

Por outras palavras, deve ter o perfil de líder agregador que entusiasme os Irmãos pela dedicação e abnegação à Maçonaria.

Em conclusão, com a adoção dos pontos enunciados, podemos sintetizar: que o Venerável Mestre, decidindo com coragem, risco e juízo, promovendo a paz, a harmonia e concórdia, e colocando liberdade com ordem, Igualdade com respeito e Fraternidade com justiça, terá amplo sucesso em sua Missão.

O CAMINHO - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici é intelectual e poeta maçônico da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo




Ao chegares à Instalação,

Se mereceres um dia,

Vê do profeta a opção

Que jovem, fez com mestria


Destinado à construção

Disse a DEUS que preferia

Ao invés de ostentação

Ter muita sabedoria


Sem vanglória ou invenção

Notória filosofia

O caminho à perfeição


No Trono, toda energia

Na virtude de Salomão

Venerável Mestre...é guia !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif-169

janeiro 21, 2022

PORQUE MEU IRMÃO E NÃO MEU AMIGO?- Paulo M.



Os maçons tratam-se, entre si, por “irmão”, tratamento que é explicitamente indicado a cada novo maçom após a sua iniciação. Imediatamente após terminada a sessão de Iniciação é normal que todos os presentes cumprimentem o novo Aprendiz com efusivos abraços, rasgados sorrisos e, entre repetidos “meu irmão”, “meu querido irmão” e “bem vindo, meu irmão”, recebe-se, frequentemente, mais afeto do que aquele que se recebeu na semana anterior.

O que seria um primeiro momento de descontração torna-se, frequentemente, num verdadeiro “tratamento de choque”, num momento de alguma estranheza e, quiçá, algum desconforto para o novo Aprendiz. Afinal, não é comum receber-se uns calorosos e sinceros abraços de uns quantos desconhecidos, para mais quando estes nos tratam – e esperam que os tratemos – por irmão… e por tu! Sim, que outro tratamento não há entre maçons, pelo menos em privado – que as conveniências sociais podem ditar, em público, distinto tratamento.

O primeiro momento de estranheza depressa se esvai – e os encontros seguintes encarregam-se de tornar naturalíssimo tal tratamento, a ponto de se estranhar qualquer “escorregadela” que possa suceder, como tratar-se um Irmão na terceira pessoa… Aí, logo o Aprendiz é pronta e fraternalmente corrigido, e logo passa a achar naturalíssimo tratar por tu um médico octogenário, um político no ativo, ou um professor universitário. E de fato assim é: entre irmãos não há distinção de trato.

Não se pense, todavia, que todos se relacionam do mesmo modo. Afinal, não somos abelhas obreiras, e mesmo entre essas há as que alimentam a rainha ou as larvas, as que limpam a colmeia, e as que recolhem o néctar. Do mesmo modo, todos os maçons são diferentes, têm distintos interesses, e não há dois que vivam a maçonaria de forma igual. É natural que um se aproxime mais de outro, mas tenha com um terceiro um relacionamento menos intenso. Não é senão normal que, para determinados assuntos, recorra mais a um irmão, e para outros a outro – e podemos estar a falar de algo tão simples quanto pedir um esclarecimento sobre um ponto mais obscuro da simbologia, ou querer companhia ao almoço num dia em que se precise, apenas, de quem se sente ali à nossa frente, sem que se fale sequer da dor que nos moi a alma.

Mas não serão isto “amigos”? Porquê “irmãos”? Durante bastante tempo essa questão colocou sê-me sem que a soubesse responder. Sim, havia as razões históricas, das irmandades do passado, mas mesmo nessas teria que haver uma razão para tal tratamento. O que leva um punhado de homens a tratarem-se por “irmão” em vez de se assumirem como amigos? Como em tanta outra coisa, só o tempo me permitiu encontrar uma resposta que me satisfizesse. Não é, certamente, a única possível – mas é a que consegui encontrar. 

Quando nascemos, fazemo-lo no seio de uma família que não temos a prerrogativa de escolher. Ninguém escolhe os seus pais ou irmãos de sangue; ficamos com aqueles que nos calham. O mais natural é que, em cada núcleo familiar, haja regras conducentes à sua própria preservação e à de todos os seus elementos, regras que passam, forçosamente, pela cooperação entre estes. É, igualmente, natural que esse fim utilitário, de pura sobrevivência, seja reforçado por laços afetivos que o suplantam a ponto de que o propósito inicial seja relegado para um plano inferior. É, assim, frequente que, especialmente depois de atingida a idade adulta, criemos laços de verdadeira e genuína amizade com os nossos irmãos de sangue, que complementa e de certo modo ultrapassa, em certa medida, os meros laços de parentesco.

Do mesmo modo, quando se é iniciado numa Loja – e a Iniciação é um “renascimento” simbólico – ganha-se de imediato uma série de Irmãos, como se se tivesse nascido numa família numerosa. Neste registo, os maçons têm, uns para com os outros, deveres de respeito, solidariedade e lealdade, que podem ser equiparados aos deveres que unem os membros de uma célula familiar. Porém, do mesmo modo que nem todos os irmãos de sangue são os melhores amigos, também na Maçonaria o mesmo sucede. Não é nenhum drama; o contrário é que seria de estranhar. Diria, mesmo, que é desejável e sadio que assim suceda, pois a amizade quer-se espontânea, livre e recíproca. E, tal como sucede entre alguns irmãos de sangue, respeitam-se e cumprem com os deveres que decorrem dos laços que os unem, mas não estabelecem outros laços para além destes. Pode acontecer – e acontece. Mas a verdade é que o mais frequente é que, especialmente dentro de cada Loja, cada maçom encontre, de entre os seus irmãos, grandes amigos – e como são sólidos os laços de amizade que se estabelecem entre irmãos maçons!


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