fevereiro 02, 2022

MAÇONARIA = GEOMETRIA = ARQUITETURA - Ir. Rui Bandeira


Estou agora a ler um livro que um dos meus Irmãos me ofereceu vai já para quatro anos e que os afazeres da vida, o imenso que há para ler e prioridades de leitura de outras obras relegaram para esta ocasião. É uma obra notável de um autor notável. O autor é Albert Gallatin Mackey. O nome dirá pouco a quem não for maçom- Trata-se do autor da conhecida Enciclopédia de Maçonaria (que está a ser publicada no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues), um médico americano de Charleston, Carolina do Sul, também erudito historiador da Maçonaria. A obra é The History of Freemasonry - Its Legendary Origins (A História da Maçonaria - as suas Origens Lendárias).

A leitura desta obra permite-me relembrar algo aprendido em outras leituras, mas sobretudo permite-me aprender algumas coisas que não sabia. É assim, o Mestre maçom, se há algo que aprende, é que tem sempre mais a aprender...

A leitura desta obra oferece-me assunto para partilhar as minhas descobertas em vários textos. Começo hoje por algo que, sendo básico (depois de se saber...), permite compreender e interpretar melhor o significado real de algumas passagens dos textos primitivos da Maçonaria, anteriores à instauração da primeira Grande Loja de Londres e às Constituições de Anderson.

Existem diversos manuscritos que vêm do tempo da Maçonaria Operativa. O mais antigo de todos é o manuscrito Halliwell, que contém o chamado Poema Regius, que se crê datar de cerca de 1390. O manuscrito Cooke calcula-se que seja de um século depois. Do século XVI, segundo se crê, encontraram-se os manuscritos Downland e Landsdowne. Do século XVII, foram descobertos e estudados os manuscritos York, n.ºs 1, 2, 5 e 6, Harleian, n.ºs 1942 e 2054, Grand Lodge, Sloane, n.ºs 3323 e 3848, Aitcheson-Haven, Edinburgh-Kilwinning e Lodge of Antiquity. Já do século XVIII, mas anteriores à criação da primeira Grande Loja de Londres, descobriram-se os manuscritos, Alnwick, York, n.º 4 e Papworth.

Estes manuscritos contêm diversas informações sobre o que era a Maçonaria Operativa, entre elas a chamada Lenda do Ofício, a Lenda da criação e evolução da Maçonaria.

Uma das coisas interessantes desses manuscritos, vinda dos mais antigos e mantida nos mais recentes (que, em grande parte, eram cópias dos anteriores) é que a palavra Maçonaria era, nesses tempos, usada como sinónimo de Geometria. Assim, quando neles se escreve que Euclides é fundador da Maçonaria, o que se está realmente a dizer é que Euclides foi o criador da ciência da Geometria.

Por sua vez, a Geometria aplicada à construção, ou seja, a Arquitetura, também era designada por Maçonaria nesses manuscritos.

Ou seja, nos tempos da Maçonaria Operativa, dos construtores em pedra, a palavra maçonaria tinha três significados: a associação de construtores em pedra, que preservava e transmitia os segredos da profissão e regulava esta; a ciência da Geometria; a arte da Arquitetura.

Estes três significados, naturalmente, interligavam-se, porquanto os segredos da construção eram noções geométricas (tirar ângulos retos, a 47.ª Proposição de Euclides, mais conhecida entre nós por Teorema de Pitágoras, etc.), aplicadas à arte da Arquitetura e sua execução prática.

Não tinha ainda deparado com esta noção de que a palavra Maçonaria, nos documentos antigos, tinha também os significados de Geometria e de Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura.

E esta noção permite compreender melhor os relatos desses documentos primitivos. Lidos com esta noção, talvez alguns pontos da Lenda do Ofício não sejam tão lendários como isso e correspondam a relatos, necessariamente imprecisos, da pré-história da Maçonaria, da ciência da Geometria e da arte da Arquitetura.

Pelo menos é uma interessante tese exposta pelo insigne historiador da maçonaria que foi Albert Mackey.

Fonte: The History of Freemasonry - Its Legendary Origins, Albert Gallatin Mackey, Gramercy Books, New York.

fevereiro 01, 2022

ABRAM ALAS, FEVEREIRO CHEGOU - Newton Agrella



Newton Agrella é tradutor, escritor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no país.

Os registros históricos e a ampla literatura dão-nos conta que o nome do mês de FEVEREIRO, que abre seu capítulo no dia de hoje, tem sua origem a partir da palavra "februarius", inspirado em FÉBRUO,  deus da morte e da purificação na mitologia etrusca

Fébrua era o deus a quem os romanos ofereciam sacrifícios e oferendas para pagar pelos seus crimes e faltas.

Cabe lembrar que os Etruscos foram os primeiros povos a habitar e impor seu poder na Península Itália, a partir do século IX a.C. , antes dos Romanos.

Deixaram uma significativa influência cultural, no campo das Artes, da Arquitetura, da Escultura e até mesmo de suas Crenças aos romanos.

É fato ainda, que os romanos também herdaram uma expressiva influência da cultura grega. Isto é inequívoco.

Fevereiro, porém, constitui-se no segundo mês do ano pelo calendário gregoriano, e particularmente aqui no Brasil, a principal data comemorativa, via de regra, é o Carnaval ao qual se segue a "Quarta Feira de Cinzas" que por analogia à mitologia etrusca, para os Cristãos, este dia é um símbolo para reflexão pela mudança de vida, fazendo referência à transitoriedade, e à  fugaz fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

Como se percebe, há um entrelaçamento histórico, mitológico e social que de um modo ou de outro, explicam a origem do nome de cada mês, para a civilização ocidental.

Este Fevereiro de 2022 da Era Vulgar, não celebrará o Carnaval, por questões que sobrepujam o desejo do brasileiro.  

A pandemia da Covid 19 e sua variante Omicron, resolveram entrar na avenida e protagonizar suas presenças nesse enredo tortuoso da vida...

Desta vez, até segunda ordem, Fevereiro passa seu bastão de Momo para o subsequente mês Março.

De qualquer forma, os 28 dias que se seguem ao longo deste mês, servirão como mais um teste para que possamos superá-los e vivê-los dignamente !

A expectativa é a de que os jurados possam brindar este Fevereiro com uma nota DEZ, com ou sem Carnaval.



AS ALEGORIAS DO LIVRO DE JÓ - (Desconheço o autor)


A alegoria de Jó, se corretamente entendida, nos dá a chave para todo esse assunto do Diabo, sua natureza e seu ofício, e substancia nossas declarações. Que nenhum indivíduo piedoso se alarme com essa designação de alegoria. O mito era o método favorito e universal de ensinar nos tempos arcaicos. Paulo, escrevendo aos Coríntios, declara que toda a história de Moisés e dos israelitas era típica; e na sua Epístola dos Gálatas afirma que toda a história de Abraão, suas duas esposas e seus filhos era uma alegoria. De fato, segundo toda probabilidade, que raia à certeza, os livros históricos do Velho Testamento tinham o mesmo caráter. Não tomamos liberdade extraordinária com o Livro de Jó, quando damos a ele a mesma designação que Paulo dá às histórias de Abraão e Moisés.

Mas devemos, talvez, explicar o uso antigo da alegoria e da simbologia. A veracidade da primeira devia ser deduzida; o símbolo expressava alguma qualidade abstrata da Divindade, que os leigos podiam apreender facilmente. Seu sentido superior terminava aí e era empregado pela multidão, portanto, como uma imagem a ser utilizada em ritos idólatras. Mas a alegoria foi reservada para o santuário interior, onde só os eleitos eram admitidos. Donde a resposta de Jesus, quando os seus discípulos o interrogaram em virtude de ele ter falado à multidão por meio de parábolas. "A vós outros", disse ele, "vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado". Nos mistérios menores, lavava-se uma porca para exemplificar a purificação de neófito; a sua volta à lama indicava a natureza superficial da obra que fora realizada.

Toda a alegoria de Jó é um livro aberto para quem compreende a linguagem pictórica do Egito, tal como ela está registrada no Livro dos mortos. Na Cena do Julgamento, Osíris aparece sentado em seu trono, segurando em uma das mãos o símbolo da vida, "o garfo da atração", e, na outra, o leque báquico místico. Diante dele estão os filhos de Deus, os quarenta e dois assessores dos mortos. Um altar está imediatamente diante do trono, coberto de oferendas e rematado pela flor do lótus sagrado, sobre a qual se podem ver quatro espírito. Na porta de entrada, permanece a alma que está prestes a ser julgada, a quem Thmei, o gênio da Verdade, está recebendo a conclusão da provação. Thoth, segurando um junco, registra os procedimentos no Livro da Vida. Hórus e Anubis, diante da balança, inspecionam o peso que determina se o coração do morto equilibra ou não o símbolo da verdade. Num pedestal está um prostituta - o símbolo do Acusador.

A iniciação nos mistérios, como todas as pessoas inteligentes sabem, era uma representação dramática das cenas do mundo subterrâneo. Assim se desenvolve a alegoria de Jó.

Vários críticos têm atribuído a autoria desse livro a Moisés. Mas ele é mais antigo do que o Pentateuco. Jeová não é mencionado no poema; e, se o nome ocorre no prólogo, esse fato deve ser atribuído ou a um erro dos tradutores, ou à premeditação exigida pela necessidade posterior de transformar o politeísmo numa religião monoteísta. Adotou-se o plano muito simples de atribuir os mitos nomes de Elohim (deuses) a um único deus. Assim, em um dos mais antigos dos textos hebraicos de Jó (no cap. XII, 9), ocorre o nome de Jeová, ao passo que todos os outros manuscritos apresentam "Adonai". Mas Jeová está ausente do poema original. Em lugar desse nome encontramos Al, Aleim, Ale, Shaddai, Adonai, etc. Portanto, devemos concluir que ou o prólogo e o epílogo foram acrescentado num período posterior, o que é inadmissível por muitas razões, ou o texto foi adulterado, como o restante dos manuscritos. Assim, não encontramos nesse poema arcaico nenhuma menção à Instituição Sabática; mas um grande número de referência ao número sagrado sete e uma discussão aberta o sabaísmo, a adoração dos corpos celestes que prevalecia, naquela época, na Arábia. Satã é chamado no texto de um "Filho de Deus", membro do conselho que se apresenta diante de Deus, a quem induz a tentar a fidelidade de Jó. Nesse poema, mais claramente do que em qualquer outro lugar, vemos corroborado o significado da denominação Satã. É um termo para o ofício ou o caráter de acusador público. Satã é o Typhon dos egípcios, que grita suas acusações no Amenti; um ofício tão respeitável quanto o do promotor público em nossa época; e se, apesar da ignorância dos primeiros cristãos, ele se tornou posteriormente idêntico ao Diabo, isso não se faz com a sua conivência.

O Livro de Jó é uma representação completa da iniciação antiga e das provas que geralmente precedeu tão augusta cerimônia. O neófito se vê privado de tudo a que dava valor e afligido por uma doença abominável. Sua esposa o exorta a amaldiçoar Deus e a morrer; não há mais esperança para ele. Três amigos aparecem em cena para visitá-lo; Elifaz, o temanita culto, pleno do conhecimento "que os sábios receberam dos seus pais (...) as únicas pessoas a quem a terra foi dada"; Baldad, o conservador, que toma as coisas como elas vêem e que opina que a aflição de Jó é consequência de suas culpas; o Sofar, inteligente e habilidoso em "generalidades", mas de sabedoria superficial. Jó responde corajosamente: "Se eu errei, meu erro ficará comigo. Vós vos engrandeceis e me arguis com as minhas calamidades; mas foi Deus quem me aniquilou. (...) Por que me perseguis e não estais satisfeitos com minha carne destruída? Mas eu sei que meu Paladino vive e que num dia futuro ficará no meu lugar; e embora minha pele e tudo que a rodeia sejam destruídos, mesmo sem minha carne eu verei Deus. (...) Vós direis: `Por que o molestamos?', pois a raiz da matéria está em mim!"

Essa passagem, como todas as outras em que se poderia encontrar alusões mais tênues a um "Paladino", "Libertador" ou "Vindicador", foi interpretada como uma referência direta ao Messias; além disso, esse versículo está traduzido da seguinte maneira nos Septuaginta:

"Pois eu sei que é eterno

Aquele que há de me libertar na Terra

Para restaurar esta minha pele que sofre estes males" etc.

Na versão do rei James, como foi traduzida, ela não guarda semelhança alguma com o original. Tradutores artificiosos deram "Eu sei que meu Redentor viverá", etc. E os Septuaginta, a Vulgata e o original hebraico devem ser considerados como a inspirada Palavra de Deus. Jó refere-se a seu próprio espírito imortal que é eterno e que, quando viu a morte, o libertará desse pútrido corpo terreno e o vestirá com um novo revestimento espiritual. Nos Mistérios báquicos e eleusianos, no Livro dos mortos egípcios e em todas as outras que tratam de assuntos ligados à iniciação, esse "ser eterno" tem um nome. Para os neoplatônicos era o Nous, o Augoeides; para os budistas é Agra; e, para os persas, Feroher. Todos eles são chamados de "Libertadores", "Paladinos", "Metatrons", etc. Nas esculturas mítricas da Pérsia, o feroher é representado por uma figura alada que volteia no ar sobre seu "objeto" ou corpo. É o Eu luminoso - o Âtman dos hindus, nosso espírito imortal, o único que pode redimir nossa alma, e o fará, se o seguirmos em vez de sermos arrastados pelo nosso corpo. Portanto, nos textos caldaicos, lê-se "Meu libertador, meu restaurador", isto é, o Espírito que restaurará o corpo decaído do homem e o transformará numa vestimenta de éter. E é esse nous, augoeides, Feroher, Agra, Espírito dele mesmo, que o triunfante Jó verá sem sua carne - isto é, quando tiver escapado da sua prisão corporal -, e ao qual os tradutores chamam "Deus".

Não só existe a mínima alusão no poema de Jó a Cristo, como também se provou que todas as versões feitas por tradutores diferentes, que concordam com a do rei James, foram escritas com base em Jerônimo, que tomou estranhas liberdades em sua Vulgata. Ele foi o primeiro a enxertar no texto esse versículo de sua própria criação:

"Eu sei que meu Remidor vive,

E que no último dia eu me erguerei da terra,

E serei novamente recoberto de minha pele,

E em minha carne verei meu Deus".

Tudo o que lhe deve ter parecido uma boa razão para crer que ele o sabia, mas que outros não sabiam, e que, além disso, encontravam no texto uma ideia bastante diferente - isso só prova que Jerônimo decidira, com mais uma interpolação, reforçar o dogma de uma ressurreição "no último dia", e com a mesma pele e os mesmos ossos que possuía na terra. Trata-se na verdade de uma agradável perspectiva de "restauração". Por que não ressuscitar também com as mesmas roupas com que o corpo morre? 

E como poderia o autor do Livro de Jó saber algo do Novo Testamento quando ignorava o Velho? Há uma ausência total de alusões a qualquer um dos patriarcas; foi sem dúvida obra de um Iniciado, pois que uma das três filhas de Jó recebeu um nome mitológico decididamente "pagão". O nome Keren happuch é traduzido de varas maneiras. Na Vulgata tem "chifres de antimônio"; e em LXX tem "chifre de Amalthea", a preceptora de Júpiter e uma das constelações, emblema de "chifre da plenitude". A presença no Septuaginta dessa heroína de fábula pagã mostra a ignorância dos transcritores em relação ao seu significado, bem como da origem esotérica do Livro de Jó.

Em vez de oferecer consolo, os três amigos do sofrido Jó tentam fazê-lo acreditar que merece sua desventura como uma punição por algumas transgressões extraordinárias que praticou. Respondendo veementemente a todas essas imputações, Jó jura que, enquanto tiver alento, manterá a sua causa. 

Os três haviam tentado confundir Jó com alegações e argumentos gerais e ele lhes solicitou uma consideração dos seus atos específicos. Então surgiu o quarto: Eliú, o filho de Baraquel, o buzita, da estirpe de Ram.

Eliú é o filho do hierofante; começa com uma repreensão e os sofisma de Jó se desvanecem com a areia que o vento do oeste leva. "E Eliú filho de Baraquel, disse: `Os grandes homens nem sempre são sábios (...) há um espírito no homem; o espírito que está em mim me constrange. (...) Deus fala uma vez, uma segunda, embora o homem não perceba. Num sonho; numa visão noturna, quando o sono profundo cai sobre o homem, em cochilos na cama; então ele abre os olhos dos homens e lhes dá suas instruções. Ó Jó, ouve-me; cala-te e eu te ensinarei a SABEDORIA."

E Jó diante das falácias dogmáticas de seus três amigos, no amargor do deserto, exclama: "Não há dúvida de que vós sóis o povo e a sabedoria morrerá convosco. (...) Todos vós sóis uns consoladores miseráveis. (...) Certamente falarei ao Todo-poderoso e com Deus desejo conversar. Mas vós sois os que forjam as mentiras, vós sóis médicos de nenhum valor!"

O devorado pelas chagas, o Jó que recebera as visitas e que para o clero oficial - que não oferecia outra esperança senão a condenação eterna - havia em seu desespero vacilado em sua fé paciente, respondeu: "Isso que vós sabeis, também eu sei a mesma coisa; não sou inferior a vós. (...) O homem que como flor cai e é pisado foge como a sombra e jamais permanece num mesmo estado. (...) Quando o homem morrer, despojado que seja e consumido, onde estará ele? (...) Se um homem morrer, ele viverá novamente? (...) Quando se passarem alguns anos, então seguirei um caminho de onde não poderei retornar. (...) Oxalá se fizera o juízo entre Deus e o homem, como se faz o de um filho do homem com o seu vizinho'." Jó encontra alguém que responde ao seu grito de agonia. Ouve a SABEDORIA de Eliú, o hierofante, o mestre perfeito, o filósofo inspirado. De seus lábios rígidos brota a representação justa da impiedade de ter censurado o Ser SUPREMO pelos males da Humanidade. "Deus", diz Eliú, "é excelente em poder e em julgamento e em plenitude de justiça. ELE não condenará". 

Enquanto o neófito se satisfazia com sua própria sabedoria mundana e irreverente compreensão da Divindade e Seus desígnios e enquanto dava ouvidos às sofisticarias perniciosas dos seus conselheiros, o hierofante se mantinha calado. Mas, quando essa mente ansiosa estava pronta para os conselhos e as instruções, sua voz se fez ouvir e ele fala com a autoridade do Espírito de Deus que o "constrange": "Certamente Deus não ouvirá em vão, nem o Todo-poderoso verá as causas de cada um. (...) Ele não respeitará aqueles que se dão por sábios". 

Magnífica lição para o pregador da moda, que "multiplica palavras sem conhecimento"! Esta magnífica sátira profética deve ter sido escrita para prefigurar o espírito que prevalece em todas as denominações dos cristãos.

Jó escuta as palavras de sabedoria e então o "Senhor" responde a Jó "fora do redemoinho" da Natureza, a primeira manifestação visível de Deus: "Pára, Jó, pára! e considera as maravilhosas obras de Deus; só por meio delas podes conhecer Deus. `Com efeito, Deus é grande, e não o conhecemos', Ele que `faz pequenas as gotas d'água; mas elas vertem segundo o vapor"; não segundo o capricho divino, mas segundo leis estabelecidas e imutáveis; lei que "transferiu os montes e não é conhecida por eles; que move a terra; que ordena ao Sol e o Sol não nasce; e que selou as estrelas; (...) que faz coisas grandes e incompreensíveis, e maravilhosas, que não têm número. (...) Se ele vier a mim, eu não o verei; e se for, eu não o perceberei!"

Então, "Quem é este que obscurece os conselhos com palavras desprovidas de conhecimento?", diz a voz de Deus por meio de Seu porta-voz -, a Natureza. "Onde estava tu quando eu lançava os fundamentos da terra? dize-mo, se é que tens compreensão. Quem deu as medidas para ela, se é que o sabes? Quando os astros da manhã contavam todos juntos, e quando todos os filhos de Deus estavam transportados de júbilo? (...) Estavas presente quando eu disse aos mares: `Até aqui podes vir, mas além daqui; até aqui tuas orgulhosas ondas poderão rolar'? (...) Sabes quem obriga a chuva a cair sobre a terra, onde não havia homem algum; no deserto, onde não havia homem algum? (...) Acaso poderás reunir as doces influências das Plêiades ou impedir a evolução de Orion? (...) Poderás enviar os raios, que possam ir e vos dizer `Aqui estamos'?"

"Então Jó respondeu ao Senhor." Ele compreendeu quais são os seus caminhos e os seus olhos estão abertos pela primeira vez. A Sabedoria Suprema desceu sobre ele; e, se o leitor ficar confuso diante deste PETROMA final da iniciação, pelo menos Jó, ou o homem "afligido" em sua cegueira, entendeu então a impossibilidade de caçar "Leviatã cravando-lhe um arpão no nariz". O Leviatã é a CIÊNCIA OCULTA, em que se pode pôr a mão, "não mais do que isso", e cujo poder e cuja "proporção conveniente" Deus não quer esconder.

"Quem pode descobrir a superfície de sua vestimenta? e quem entrará no meio da sua boca? Quem pode abrir as portas do seu rosto? Em roda dos seus dentes está o seu orgulho, e eles estão selados. O seu espirro é resplendor do fogo e os seus olhos como as pestanas da aurora". Que "faz brilhar uma luz atrás de si", para que se aproxime dele os que não têm medo. E então eles também verão "todas as coisas altas, pois ele é rei apenas sobre todo os filhos da soberba". Jó, agora à guisa de retratação, responde:

"Eu sei que podes todas as coisas,

E que nenhum pensamento se te esconde.

Quem é este que fez uma exibição de sabedoria arcana

Sem nada saber dela?

Por isso falei sobre o que não compreendia

Coisas que estavam acima de mim, as quais não conhecia.

Ouve! suplico-te e eu falarei;

Perguntar-te-ei, e me responderás:

Eu te ouvi com meus ouvidos,

E agora te verei com meus olhos,

Por isso me repreendo a mim mesmo,

E me penitencio no pó e na cinza?"

Ele reconheceu seu "paladino" e se convenceu de que havia chegado a hora da sua vindicação. Imediatamente o Senhor ("os sacerdotes e os juizes", Deuteronômio, XIX, 17) disse aos seus amigos: "Minha ira se voltou contra ti e contra teus dois amigos, porque não me haveis falado retamente diante de mim, como meu servo Jó. Então "o Senhor voltou-se para a penitência de Jó" e "lhe deu em dobro tudo quanto ele havia tido".

Assim, no julgamento [egípcio], o morto invoca quatro espíritos que residem no Lago de Fogo e é purificado por eles. Ele então é conduzido à sua morada celestial e é recebido por Athar e por Ísis e permanece diante de Atum (Âtman a Centelha Divina que habita o Homem), o Deus essencial. Ele agora é Turu, o homem essencial, um espírito puro, e em consequência On-ait, o olho de fogo, e um companheiro dos deuses.

Esse grandioso poema de Jó era muito bem compreendido também pelos cabalistas. Enquanto muitos dos hermetistas medievais eram homens profundamente religiosos, eles eram, no fundo de seus corações - como os cabalistas de todas as épocas -, os inimigos mais mortais do clero. Como parecem verdadeiras as palavras de Paracelso quando exclamou, afligido por uma perseguição feroz e por calúnias, e incompreendido por seus amigos e por seus inimigos, maltratado pelo clero e pelos leigos: "Ó vós de Paris, Pádua, Montpellier, Salermo, Viena e Leipzig! Não sóis mestres de verdade, mas confessores de mentiras. Vossa filosofia é uma mentira. Se quereis saber o que realmente é a MAGIA, procurai-a no Apocalipse de São João. (...) Posto que não podeis aprovar que vossos ensinamentos derivam da Bíblia e do Apocalipse, acabai com vossas farsas. A Bíblia é a verdadeira chave e o verdadeiro intérprete. João, não menos do que Moisés. Elias, Enoch, Davi, Salomão, Daniel, Jeremias e os outros profetas, eram um mago, cabalista, um adivinhador. Se todos eles, ou pelo menos um dos que nomeei, vivessem agora, eu não duvidaria que faríeis deles um exemplo em vosso matadouro miserável e os aniquilaríeis e, se fosse possível, o Criador de todas as coisas também!"

Paracelso demostrou na prática que aprendeu algumas coisas misteriosas e úteis do Apocalipse e de outros livros da Bíblia, bem como da Cabala; e tanto o fez, que é chamado por muitos de o "pai da magia e fundador da física oculta da Cabala e do Magnetismo".

janeiro 31, 2022

SOBRE AS VIRTUDES MAÇÔNICAS - Ir.'. Wellington Oliveira

Ir.'. Wellington Oliveira, M.M. ARLS Igualdade, Oriente de São Paulo

A Maçonaria vem provavelmente do francês “Maçonnerie”, que significa uma construção, feita por um pedreiro, o “maçom”. A Maçonaria terá assim, como objetivo essencial, a construção. A Maçonaria promove a transformação do ser humano e das sociedades em que vive, através da fraternidade, solidariedade e da justiça.

Para ser iniciado deve ter profissão honesta que assegure meios de subsistência, ser ético, ter condições morais e intelectuais, e instrução necessária para compreender os objetivos da Ordem Maçônica. A Maçonaria honra igualmente o trabalho manual e o trabalho intelectual, e crê na existência do G.'.A.'.D.'.U.'..

O Maçom deve ser escolhido para ser Iniciado, pelas razões acima descritas, e não por motivos profissionais, familiares ou de amizade, e sim por ser o profano reconhecido Maçom em sua essência, encontrando nele virtudes maçônicas.

Mas o que o busca Maçom? Ele busca o aperfeiçoamento intelectual, o afinamento das faculdades de pensar e de enriquecimento dos conhecimentos adquiridos, para que tenham o domínio do saber necessário, para se comportarem de forma digna em todos os momentos, sejam eles profanos ou maçônicos, pois é mais fácil sucumbir ao vício, que aprimorar a virtude.

A tolerância é das virtudes maçônicas, á mais enfatizada, pois, significa a tendência de admitir modos de pensar, ser, agir e sentir que diferem as pessoas, e nos fazem indivíduos (únicos).

Muitas vezes confundimos tolerância com conivência.

A tolerância é a habilidade de conviver, com respeito e liberdade, com valores, conceitos e situações. Conivência é a convivência em que, mesmo não concordando com certos valores, conceitos e situações, deixamos de expressar nosso parecer desfavorável, não refutamos, e não reprovando, estamos tacitamente autorizando, aceitando e gerando cumplicidade. Deus é tolerante com o pecador, mas não com o pecado.

Outra virtude é a Ética, que por definição é um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas. É uma espécie de cimento na construção da sociedade. O forte sentimento de fraternidade designa o parentesco de irmão; do amor ao próximo; da harmonia; da boa amizade e da união, de tal forma a prevalecer à harmonia e reinar a paz. 

A justiça é a virtude de dar a cada um aquilo que é seu, julgar segundo o direito e a melhor consciência. Para que se possa evitar o despotismo, o arbítrio e manter a liberdade e o direito. 

A Maçonaria é uma sociedade que luta pelo Direito, pela liberdade e pela justiça, por isto todo Maçom deve ser um defensor incansável destes valores.

Estamos vivendo uma época em que há uma falta aguda, de um valor fundamental em todo o mundo: A caridade. Ela é o amor que move a vontade à busca afetiva do bem de outro. Ninguém precisa de nada a não ser seu coração para saber o que machuca os outros. Jamais subestime o sofrimento alheio. Seu julgamento poderá lhe falhar, seu conhecimento, sua experiência e sua inteligência poderão ser inúteis diante do mal, que torcerá fatos, palavras e aparências. Até o branco pode parecer preto e o preto parecer branco, decida com caridade e toda essa farsa se dissipará sob o brilho de uma alma integra.

A liderança também uma grande virtude maçônica, é a capacidade de influenciar positivamente as pessoas para que elas atinjam resultados que atendam as necessidades tanto individuais como coletivas e ainda, se responsabilizar pelo desenvolvimento de outros líderes. O líder tem que ser íntegro, confiável, ético, honesto e coerente. Ele deve evitar se acomodar, competir, comprometer e sempre colaborar. Ele é descrito como alguém que tem carisma e qualidades relacionadas para gerar aspirações e mudar pessoas, levando-os a despertarem seus potenciais e perseguir propósitos compartilhados.

A Maçonaria é uma instituição fundamentalmente ética, onde a reflexão filosófica sobre a moralidade, regras, códigos morais que orientam a conduta humana; que tem por objetivo a elaboração de um sistema de valores e o estabelecimento de princípios normativos da conduta humana, impondo ao Maçom um comportamento ético e, exigindo-lhe que mantenha sempre uma postura compatível com um homem de bem. 

Pelo acima exposto aprendemos que o Maçom quer conhecimento, evolução, fraternidade, justiça e liberdade. A elevação de Grau é uma simples conseqüência desta incessante busca pelo aperfeiçoamento da pedra bruta e não o objetivo.

Estas são apenas algumas virtudes maçônicas a serem lapidadas. 

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, assim como a fraternidade é a fonte de todas as virtudes, destruir um e desenvolver o outro, esse deve ser o objetivo de todos os Maçons.

Sem ação nada pode ser feito.

“Quem é bom, é livre, ainda que seja escravo. Quem é mau, é escravo, ainda que livre”

Santo Agostinho

A INCIDÊNCIA FILOSÓFICA NOS GRAUS SIMBÓLICOS: MESTRE - Ir.’. Raimundo Rodrigues de Albuquerque

 

Arcângelo Buzzi, no seu excelente "Introdução ao Pensar", à página 170, afirma que "O estudo da filosofia desenvolve o espírito de fineza. Exercita o pensamento a conhecer a realidade por si próprio, tornando-se ele mesmo esclarecido, portador de luz força de discernimento". 

O Mestre Maçom é um filósofo, daí a razão por que o Terceiro Grau é o Grau Superior, o Grau Excelso. Entretanto, em chegando ao Terceiro Grau, o maçom é muito mais Aprendiz do que quando trazia a abeta levantada e muito mais Companheiro do que quando se sentava no topo da Coluna do Sul. Por quê? Porque agora ele é "Mestre"; sua missão é ensinar. Quando se ensina, aprende-se muito mais do que quando se estuda. Heidegger, em seu livro "Qu'appelle-t-en pensar", edição de 1973, à página 89 diz: "É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender. Mas raramente se pensa nisso. Por que ensinar é mais difícil que aprender? Não porque o mestre deva possuir um maior acervo de conhecimentos e tê-los à disposição.

Ensinar é mais difícil do que aprender porque ensinar quer dizer deixar aprender. Aquele que verdadeiramente ensina, não faz aprender nenhuma outra coisa que não seja o aprender. É por isso que o seu fazer causa, muitas vezes, a impressão que junto dele nada se aprende. Isso acontece porque inconsideradamente entendemos por aprender a só aquisição de conhecimentos utilizáveis. O mestre, que ensina, ultrapassa os alunos que aprendem somente nisto: que ele deve aprender ainda muito mais do que eles, porque deve aprender a deixar aprender". É preciso estudar, é preciso pesquisar. Quem não pesquisa, quem não estuda, muitas vezes inventa. Nossa Sublime Instituição não admite invencionices.

A falta de pesquisa mais aprofundada faz que, por vezes, fiquemos presos a alguns poucos filósofos, ignorando a existência e os ensinamentos de outros. Só para exemplificar, reportemo-nos ao estudo dos números.

Quando se fala em números, logo nos vem à memória a figura de Pitágoras de Samos. Ninguém nega, e seria um despautério se o fizesse, a influência categórica dos pitagóricos nos estudos numerológicos da Maçonaria. No entanto, só para ilustrar, vamos tentar expor os ensinamentos de outros filósofos, quase nunca citados, sobre o número UM, que fogem aos ensinamentos da Escola Itálica, mas que, em nosso entender, casam-se perfeitamente com a filosofia numerológica de nossos rituais. 

O filósofo Plotino nasceu em Licópolis, no Egito, no ano 205 a.C.. Quando estava com 4O anos, mudou-se para Roma, onde viveu até o fim de seus dias. Plotino é o fundador e o maior expoente do neoplatonismo. Deixou nove livros, reunidos por seu discípulo Porfírio, sob o título "Enéadas". Vejamos o que ele diz sobre o UM: "Unidíssimo consigo mesmo, o UM não precisa de autoconsciência, uma vez que não se pode atribuir-lhe a unidade consigo mesmo como princípio de sua conservação. Devemos, por isso, negar-lhe o pensar, a consciência e o conhecimento de si e dos outros, porque devemos considerá-lo não segundo a forma do sujeito pensante, mas segundo o hábito do pensamento. Com efeito, o pensamento não pensa, mas é causa do pensamento para os outros; ora, a causa não é a mesma coisa que o causado, e a causa de todos não é a totalidade. Não se pode, pois, chamá-lo o BEM pelo fato de ele produzir o bem; mas em outro sentido, ele é o BEM que está acima de todos os outros". 

Mais adiante, Plotino afirma: "O UM é a potência de todas as coisas; se ele não existisse, nada existiria: nem a vida primeira, nem a vida universal. O que é acima da vida é causa da vida; a atividade da vida não é anterior a ela, mas brota dela como de uma fonte"

Por aí se vê que não podemos e não devemos deixar de pesquisar. O importante em filosofia é a ideia. Em assim sendo, o maçom tem que lançar mão do estado e da meditação, aliados à sensibilidade. O maçom há que se despejar de sistemas e de doutrinas. A nosso sentir, o que não se deve e não se pode é confundir postulados maçônicos com os dogmas das seitas religiosas que são inteiramente desprovidos de significação filosófica.

Para terminar, vamos deixar falar Sócrates, o maior de todos os gregos: "Empenho muito mais belo é quando alguém, servindo-se da dialética, tomando uma alma apropriada, pela planta e nela semeia, com ciência, discursos que são capazes de ajudar aos próprios e a quem os plantou, e que não são infrutíferos, mas têm em si germes donde brotarão outros discursos plantados, em outras pessoas, discursos capazes de produzir esses efeitos, sem nunca falhar e de tornar feliz quem possui tal dom, tanto quando ao homem isso é possível.

janeiro 30, 2022

OS SISTEMAS GRANDE ORIENTE E GRANDE LOJA - Aildo Virginio Carolino


AILDO VIRGINIO CAROLINO - Atualmente, Grão-Mestre do GOB-RJ

Mesmo após algum tempo de Maçonaria, muitos não têm conhecimento mínimo e necessário para distinguir os sistemas Grande Oriente e Grande Loja. Dessa forma, como sempre primamos pelo nivelamento do conhecimento maçônico, acreditamos ser de suma importância explicitar essa distinção, sendo este o objetivo deste trabalho.

É interessante lembramos de que a expressão “GRANDE ORIENTE” era o nome dado ao lugar em que se realizava as convenções das Grandes Lojas de um país. Para alguns, GRANDE ORIENTE é também sinônimo de Grande Loja, pois, ambos os sistemas são um corpo maçônico superior, ou seja, uma Potência Independente na qual congrega todas as Lojas da Obediência a que se encontram filiadas.

Embora no Brasil o Grande Oriente tenha sido a única organização maçônica superior durante mais de 100 anos, hoje também convivemos com as Grandes Lojas, criadas desde 1927. Dessa forma, vale dizer que, no Brasil o Grande Oriente é a denominação maçônica primogênita, datada de 1822.

Por tanto, no âmbito internacional, a Grande Loja Unida da Inglaterra é quem detém a primazia de ser a Organização Maçônica mais antiga, fundada em 1717, a qual comemorou 300 anos em junho de 2017. Todavia, vale dizer que, a expressão Grande Oriente surgiu por acaso, na França, por volta de 1773, uma vez que no dia marcado para a Instalação da Grande Loja Nacional de França, os participantes resolveram que aquela instituição se chamaria Grande Oriente de França, do qual o nosso Grande Oriente pegou emprestado esse nome.

Desta forma, podemos dizer que, também foi por acaso que o Grande Oriente se transformou em uma espécie de Governo Maçônico Superior, cuja abrangência alcança todo território de um país, bem como poderá possuir um ou mais Ritos.

Quando falamos de Grande Oriente, se faz necessário citar, mesmo que “em-passant”, o Grande Oriente do Brasil, a maior Potência Maçônica da América Latina, fundada em 17 de Junho de 1822. 

Nesse sentido, vale lembrar que, o seu primeiro Grão-Mestre foi José Bonifácio de Andrade e Silva, substituído por D. Pedro I, em 04 de Outubro do mesmo ano. 

Contudo, 21 dias após sua assunção, ou seja, no dia 25 do mesmo mês, o Imperador suspendeu os trabalhos do Grande Oriente do Brasil, o qual só retornou, com toda força e vigor, em novembro de 1831, após sua abdicação, em favor de D. Pedro II. 

O Grande Oriente do Brasil além de abranger todo território brasileiro, possui em atividade cerca de sete Ritos, como já dissemos, sendo que o REAA possui o maior número de Lojas Simbólicas e o maior número de Obreiros.

Portanto, quantitativamente, o Rito Escocês Antigo e Aceito é o mais importante Rito praticado em nosso território. Destacamos ainda que, o Grande Oriente do Brasil é uma Federação formada pelos Grandes Orientes dos Estados, do Distrito Federal e das Lojas Maçônicas Simbólicas, bem como dos Triângulos. Em resumo, um Grande Oriente é uma Organização Maçônica Superior denominada de Potência Maçônica Simbólica, dotada de Soberania no território ou país em que está inserido, ao qual as Instituições Maçônicas acima mencionadas estão subordinadas.

Por sua vez, a denominação Grande Loja nos remete à Idade Média, precisamente para a Alemanha, ainda no período da Maçonaria Operativa, onde através das Lojas dos Talhadores de Pedra teve início a sua criação, e foram se formando por vários pontos daquele território.

Como as Lojas de então eram muito dispersas, constatou-se a necessidade de aproximá-las e organizá-las, criando assim, um Poder Central ou Loja Principal, evoluindo daí para Grande Loja. Esta tinha, entre outras atribuições, o dever de julgar as divergências entre os Talhadores de Pedra. Lembramos que, até esse momento, a Maçonaria era considerada operativa.

Há de se destacar que, diferentemente dos dias de hoje, as Grandes Lojas abrangiam um ou mais territórios ou países, pois, ainda não tinha sido sistematizadas, o que só ocorreria em 1717, com a fundação das Grandes Lojas Unidas da Inglaterra.

Atualmente, restringindo-se apenas no que tange ao Brasil, a abrangência das Grandes Lojas, quanto ao território, está circunscrito em um estado. Como exemplo, podemos citar que o Brasil possui uma Grande Loja Maçônica em cada Estado da Federação com autonomia absoluta e que, uma vez reunidas, são denominadas de Confederação Maçônica Simbólica Brasileira (CMSB).

Ressaltamos ainda que, as Grandes Lojas foram, lá na sua origem, os principais centros de maçons livres, os quais exaltavam as obras de arquiteturas daquela época. Além disso, organizavam e coordenavam suas várias relações institucionais.

Apesar da longa caminhada e intensa atividade, somente a partir de 1717, com a criação da Grande Loja Unida da Inglaterra é que ela se transformou, efetivamente, em um Corpo Superior, independente e soberano em relação às Lojas Simbólicas. 

Concluindo, ressaltamos que, não importa a qual dos dois sistemas façamos parte, pois, o que de fato faz a diferença é a nossa dedicação.

Assim, em tudo o que façamos que possamos empenhar-nos em fazer o melhor, dedicando com amor nossos esforços em prol do que acreditamos.


QUAL É A MÚSICA, MESTRE DA HARMONIA? - Guilherme Santos











No compasso

Compus a mais linda sinfonia

Andante allegro, eu diria

Sem bemóis ou sustenidos

Vou cifrando a alegria

Que não se faz diminuta

Mas uma oitava acima

Para exaltar harmonia

Na partitura da minha vida.

(Burgos, Névio, Cacos de Mim, 2011)


Quantas discussões existem ao redor da cantata executada em loja e, que muita vez desarmonizam, desestimulam e desestruturam a tão citada “Egrégora “, cujo significado, muitos de nós só sabe repetir pela beleza do “palavrão”.

Egrégora, ou egrégoro (do grego egrêgorein, «velar, vigiar»), é como se denomina a força espiritual criada a partir da soma de energias coletivas (mentais, emocionais) fruto da congregação de duas ou mais pessoas.

E, sem sombra de dúvida, o Mestre de Harmonia é responsável por grande parte desse cúmulo de vibrações.

Em filosofia, a música tem as suas teorias girando em torno da sua expressividade, ainda que nada a defina, a enclausure.

Algumas questões são levantadas como, se há uma transposição consciente e deliberada para o papel, pelos compositores, das notas dos seus sentimentos? Ou tudo isto acontece ao acaso? É intuitivo? Se sim, de onde vem? É codificada? A sua compreensão sinergética depende da natureza do ouvido e de quem ouve? Será que a música é reflexo de quem a reproduz? Convoca-nos, reúne, encoraja ou faz-nos compadecer ao sentimento?

Este significado expressivo e harmónico da música, tem relação com o tempo vivido, com o dialogo espiritual, e com a relação, inclusive, com a constituição do próprio Universo, na teoria da Música das Esferas, também conhecida como harmonia das esferas ou música universal, sendo este, um antigo conceito definido pelos gregos que postulavam a existência de uma harmonia divina e matemática entre o macrocosmo e o microcosmo.

Pitágoras, foi talvez o primeiro a estabelecer um elo entre a regularidade dos eventos celestes e as proporções matemáticas que regulavam as consonâncias e dissonâncias musicais, assim, tentando explicar o funcionamento do mundo, concebeu a ideia de que o cosmos era um imenso mecanismo de origem divina e estrutura unificada.

Pela importância da Música, e as suas teorias temos por, Robert Fluud, em 1619:

“A mente divina desce através de hierarquias e carrega a natureza dos seus componentes até o corpo humano. Assim, o microcosmo é criado em correspondência do macrocosmo. A oitava é o elo pelo qual Deus liga a música humana à música das esferas. Os decrescentes graus de espiritualidade são ordenados em três diapasões, que reflectem a tríplice divisão da alma humana: a esfera espiritual corresponde às nove hierarquias angélicas; a esfera intermediária, ou racional, corresponde aos quatro elementos. A descida de Deus até o corpo humano passa por seis estágios: a) mente pura, b) intelecto, c) espírito racional, d) alma intermédia, e) forças vitais, f) o corpo, como receptáculo de todas as coisas”

Esta relação com o sensorial, da música, é evidente, proporcionando momentos de iluminação ou afloração de sentimentos.

“ E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão.”  (Gen 4;21)

Em Loja, a harmonia serve para colocar ordem no Caos em que nos encontramos, esbaforidos dos compromissos da profanidade, elevando a nossa consciência e o nosso espirito e cuja aplicabilidade, com música adequadas, servem para manter essa energia, esses tónus cósmico, vivo e circulante.

Então, ser Mestre de Harmonia, é mais do que um apertar no ”Play”, não é ser “DJ” e sim um Maestro, ajudando a conduzir a Irmandade ao auto descobrir-se, em ressonância com o cosmos, que é a expressão do Grande Arquiteto, refletido em tudo, inclusive nas harmónicas dos movimentos dos Astros.

“E sempre que o espírito mau, permitido por Deus acometia o rei Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava”.

(I Sam 16,23)

Bibliografia

Aristóteles. Politics. In The Complete Works of Aristotle: The Revised Oxford Translation, org. Jonathan Barnes. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1984. Livro 8, Capítulo 5.

Bíblia Sagrada

Jules. A Simbólica Maçónica: Segundo as Regras da Simbólica Tradicional. 11.ª Edição – São Paulo: Editora Pensamento. 2006.

Burgos, Névio. Cacos de Mim, 2011, Ed. Penalux

janeiro 29, 2022

QUAL A MELHOR RELIGIÃO? - Heitor Rodrigues Freire






Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, Past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande, MS

Desde que o ser humano ficou em pé e começou a prestar atenção ao seu meio ambiente, despertou para uma curiosidade muito grande a respeito de tudo que o cercava. E começaram os questionamentos. Os porquês e os para quês. Com a descoberta do fogo, seu espírito foi sensibilizado para algo que a chama acordou em seu interior. Ficava contemplando a chama com seu colorido variado e rico que o deixava absorto, recordando algo que não sabia identificar.

Com o passar dos tempos e a encarnação de seres superiores, começou a receber uma orientação espiritual que pretendia dirigir seu espírito para uma manifestação mais elevada.

Assim, aos poucos, foram surgindo civilizações e religiões que passaram a proporcionar-lhe oportunidades de evolução. Cada religião se apresentava como a única detentora da verdade, e assim subjugava seus seguidores tratando-os coletivamente. Ao mesmo tempo, a humanidade passava por grandes transformações.

Os adeptos das religiões deturparam, em proveito próprio, o ensinamento que lhes fora proporcionado. Continuam fazendo isso até hoje e, certamente, continuarão fazendo, com a incessante proliferação de igrejas em todo lugar.

De que forma Jesus e Maomé analisariam hoje aqueles que, em seus nomes, mataram indiscriminadamente seus adversários, sem poupar mulheres, crianças e idosos, contrariando o ensinamento deixado, que tinha como base fundamental o amor?

Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 13, mostrou muito bem o caminho que ultrapassa todos os dons e ao qual todos os membros da comunidade devem aspirar: o amor.

O amor é a fonte de qualquer comportamento genuinamente humano, pois leva a discernir as situações e a criar gestos capazes de responder adequadamente aos problemas. Os outros dons dependem do amor. Tudo deriva do amor. A caridade é um subproduto do amor. 

O amor é a força de Deus no ser humano, pois “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. E Paulo conclui: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.

Desta forma, deve, necessariamente, haver sintonia, harmonia, e coerência entre o que se fala e o que se faz – o que deveria ser, naturalmente, a base de qualquer religião, sob pena de se resvalar para a mediocridade, ficando apenas no faz de conta.

Portanto, a melhor religião é aquela que prega o amor na busca da verdade, e estimula seus adeptos a agir dessa forma. E o que é a verdade? Eu aprendi que é tudo aquilo que se confirma. 

E para alcançar a verdade, aprendi que os quatro passos do conhecimento são: entender, confirmar, aceitar e praticar. Em primeiro lugar, precisamos entender. Depois confirmar, a seguir aceitar e por último praticar, como corolário do conhecimento. Sem a prática, tudo fica no plano abstrato e sem sentido. E assim, usando o nosso discernimento, devemos eleger o caminho que queremos trilhar.

Segundo Krishnamurti, no livro Aos Pés do Mestre, a evolução compreende quatro etapas: discernimento, desapego, boa conduta e por último coroando tudo, o amor. 

Enfim, sem amor, nada feito! Não adianta a melhor retórica.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

SABEDORIA - Rui Bandeira



Não é Conhecimento. Há, por esse mundo fora, muito analfabeto mais sabedor que muito doutor.

Não é também Cultura. Há por aí muito intelectual superculto que, apesar da pose, destila muita erudição, mas demonstra muito pouca sabedoria.

Não é ainda Inteligência. Há à nossa volta muito bem dotado de células cinzentas que esbanja as suas capacidades com uma ingenuidade arrepiante.

Sabedoria é um pouco de tudo isso, com um nada de aquilo e um pó de aqueloutro, para ser muito mais do que tudo isso.

Sabedoria é a capacidade de fazer o que se deve, quando se deve. A virtude de tomar a decisão certa, na hora adequada, para a situação asada.

Sabedoria é intuir quando é hora de aguardar e quando é o momento de agir.

Sabedoria é sentir quando se deve elogiar e quando se impõe criticar.

Sabedoria é concordar com naturalidade e discordar com elegância.

Sabedoria é prudência corajosa temperada com arrojo medido, misturada com acerto racional envolvido em intuição educada.

O objetivo do maçom é pautar todos os seus atos, dotar todas as suas obras, da virtude da Sabedoria. É um equilíbrio difícil de atingir, para o timorato e para o arrojado, para o novo e para o velho, para o intelectual e para o prático.

Para conseguirmos dotar as nossas decisões de Sabedoria, temos de estar constantemente alerta e no uso de todas as nossas capacidades. Em cada momento é mister temperarmos o nosso impulso com a razão, mas não abafando a nossa intuição, antes completando-a com o resultado de nossa análise.

Agir com Sabedoria não é ganhar sempre; é, por vezes, saber perder, porque a nossa derrota é menos prejudicial do que a vitória sobre outrem; é entender que é preciso conceder a vitória a outrem hoje para vencer amanhã.

Atuar de modo sabedor é lograr atingir, em cada situação, o maior Bem possível, causando o menor Mal que se puder.

Procurar praticar a Sabedoria é uma tarefa de hoje, sempre e durante toda a vida.

Não se é sabedor. Procura-se conseguir agir sabiamente em cada instante.

É uma tarefa de vida. Mas quando se consegue executá-la com êxito, vislumbra-se uma poalha do brilho da Divina Perfeição.

Só procurando utilizar todas as nossas capacidades e todo o nosso esforço no sentido de agir com Sabedoria somos dignos da nossa Humanidade.

Eis porque a Sabedoria é uma das colunas de suporte do nosso Templo Interior!



janeiro 28, 2022

A FRAGILIDADE DO “EU” E O PODER DO “NÓS” - Alan Soares M.'.M.'.



No  atual  cargo  em  exercício, optei  por  escutar  todos  os  irmãos, entender  anseios, críticas, sugestões dentre  todas  as  contribuições  que  cada  obreiro, a sua forma, ofertou a nossa  Loja. 

Sendo assim, já focando no título deste  trabalho, venho apresentar não  as  minhas  conclusões, mas uma síntese de ideias e reflexões de nosso grupo. 

Para iniciar o trabalho, e o ponto a  seguir foi levantado por muitos  irmãos,  vamos refletir sobre este: "Evasão  Maçônica" , a qual é um problema não só de uma Loja ou Potência, mas já foi inclusive objeto de estudo da CMI e  tema de um livro  “Evasão  Maçônica, Causas  e  Consequências”, de autoria do Past-Grão Mestre da GLMDF, Irmão  Cassiano Teixeira de Morais. 

Apesar de não ser o foco do trabalho a  Evasão Maçônica, dentre os vários  motivos, um deles foi comprovado estatisticamente com pesquisas feitas em todas as Grande Lojas, que a  Maior parte dos Irmãos  busca o  “NÓS”  dentro da Maçonaria e existe uma  grande frustração quando se inicia, se Eleva e se torna Mestre e o irmão as  vezes só encontra o  “EU”, entre  os  próprios Irmãos. 

A  vaidade  maior  de  todos  os  vícios  do  ser  humano  está  rompendo  as  portas  dos  Templos  e  o “EU”  se  tornando  o  grande  vilão  da  Maçonaria.  

Hoje  o  mundo  é  tomado  pelo  egocentrismo,  o “EU”  está em primeiro  lugar  em  tudo.

E  infelizmente  o  que mais  escutamos  de alguns  irmãos  é :  - “Na  Minha  época  a  Maçonaria  era  melhor  que  hoje”,  quando  “EU”  fui,  “EU”  fazia,  “EU” propunha,  “EU”  decidia,  "EU" era o Venerável Mestre, “EU”  construía...,  ai  assim  vai. 

Será  que  tanto  “EU”  realmente  foi  tão importante? 

Se  o  “EU”  fizesse  a  diferença,  hoje  esse  modelo  não  teria  prevalecido  e  as  Lojas estariam  mais  fortes? 

Ou  esse  modelo  fez  com  que  se  criasse  um  padrão  que  não  se  aplica mais e que  está fadado  ao  fracasso  e,  ao  contrário,  devemos  combater  enquanto  ainda há  tempo? 

Irmãos  entendam  que  o  trabalho  é  uma  leitura  de  dados  e  análise  feita  pela  Confederação Maçônica  Interamericana,  uma  séria  pesquisa  que  ouviu  milhares  de  irmãos  e  fez  a  tabulação de  dados.  

No  entanto,  mais  importante  e  interessante  do  que  os  estudos  de  dados,  é  que  a seriedade  da  pesquisa traduz  de forma concreta os  pensamentos  e  anseios  de nossa Potência  e de nossa Loja. 

Acreditamos  que  o  homem  Maçom  deve  se comportar como tal e tem  o  dever de preparar-- se  como  um  espelho  da  sociedade.  

Para se  preparar para  tais  desafios, ele  precisa  conhecer  para poder  compartilhar  conhecimentos  Maçônicos,  dimensionando  sua  doutrina,  tanto  no  aspecto teórico  como  prático. 

Na cerimônia de Iniciação, a mais  importante  da  Maçonaria, muitas  vezes o que acontece não é a Iniciação,  mas,  ao  contrário,  vem se tornando  mera  “pró-forma”  e,  via  de  regra,  tendo  como consequência,  uma  grande  decepção  do  iniciando,  isto  é,  enorme  frustração  em  relação  à Ordem Maçônica que nada  tem a ver  com  os  anseios   que  recebeu quando  convidado. 

Ao  invés  de  focarmos  no  Irmão  que  entrará  para  Loja,  alguns  irmãos,  por  incrível  que  pareça, querem  seu  “EU”  como  centro  das  atenções,  da  própria  iniciação  e  assim  mais  uma  vez  o  “EU” enfraquecendo  a  Loja  já  no  primeiro  dia  do  Irmão  iniciado.  

Existe  uma  expressão  que  traz  uma grande  verdade:  “A  primeira  impressão  é  a  que  fica”.  Desta  forma,  carregamos  essa  grande responsabilidade  para com  cada irmão  que  se  inicia. 

Assim  sendo,  é  a  hora  de  todos  “NÓS”  juntos  buscarmos  mais  União  e  Comprometimento  para que  possamos  ser  cada  vez  mais  coletivamente  reconhecidos  como  bom  exemplo,  como paradigmas  dos  irmãos  que  chegam  e  da sociedade. 

O “NÓS”  sempre  foi, é e  será mais  importante  e  mais  forte  do  que  o  “EU”. 

O mérito  do  trabalho e  contribuição  de cada  irmão  para  nossa  Loja,  sempre  será  reconhecido,  mas  não  pode  ser exaltado  acima  da  própria  Loja,  pois  o  “EU”  passará  e  o  “NÓS”  sempre  estará  presente  e  vivo nas  figuras  dos  irmãos  ativos  e  dos  que  virão. 

O  “NÓS”  é  o  que  faz  e  dá  sentido  a  pertencer a  uma  Ordem  Maçônica.  

Nada  agrega em encontrar  irmãos  para  simplesmente  ficar  falando  mal  de  outro  irmão,  seja  por  questões  de vaidade  ou  sentimentos  frustrados  do  seu  “EU”.  

A  verdade  é  que  não  existe  mais  espaço  para essa  postura  antimaçônica,  pois as pessoas  querem  irmãos  positivos,  participativos,  de  alto astral,  sejam  nas  reuniões  ritualísticas,  sejam  nos  encontros  sociais  familiares. 

Se  não  for  para agregar  e  fortalecer, a Maçonaria  agradece  e  dispensa os  negativos  e  pessimistas, pois  desses o mundo profano  já está cheio. 

A  luta é pelo  resgaste  da  essência  do  que  se  busca na  Maçonaria e  assim  aniquilar  a  vaidade  e  a  quantidade  de  “EUs”  e  eliminar  o  espaço  daqueles  que  querem denegrir  a  imagem da  Instituição  que  tanto  temos  orgulho  de pertencer. 

O  Poder  do “NÓS” é  tão  forte  que  o  orgulho  de  podermos  desenvolver    qualquer  projeto  juntos dá  muito  mais  prazer  e  satisfação  quando  é  realizado  em  grupo,  seja  dos  atos  mais  simples, como organizar um evento social para a Família, a  projetos mais arrojados como os apresentados pela Grande Loja. 

Ser  Venerável Mestre,  nada  mais  é  do  que  tocar  o  leme  de um  barco  formado  por  um  conjunto de  vontades  de  todos  “NÓS”  que  formam  nossa  oficina. 

Sem  o  “NÓS”  não  somos  e  não  seremos nada  do  que  a Maçonaria  necessita. 

Tudo que  a  Maçonaria  conquistou  desde  sua  fundação  em 1717, foi porque  grupos  de muitos  “NÓS”  que  se  uniram  em  um  grande propósito. 

Ao  contrário de  outras  instituições,  nações  e  grandes  nomes  da  humanidade,  não  existe  nenhum  grande nome  ligado  à  Ordem,  por  trabalho  em  prol  da  Ordem.

Não  acharemos  Grãos  Mestres  do passado, que  deixaram  seu nome  marcado  por  grandes  feitos  em  nome  da  Maçonaria, e  sabem porquê? 

O “EU”  não  faz  parte  da  filosofia  Maçônica, falamos  muito  da Primeira Grande Loja da Inglaterra,  mas  não  do  Primeiro  Grão  Mestre,  pois  o  que  importava  na  fundação  sempre  foi  o “NÓS”, o  grupo, a união  de irmãos  em  prol de  uma nova  instituição  que  se  erguia. 

Concluindo,  de  forma  bem  serena,  que  todo  relato  acima  é  um  anseio,  um  desejo  e  esperança de vários  irmãos, claro  que  nem  todos  pensam  iguais  e  nem deveria, mas  como  uma instituição democrática  que  somos,  temos  que  direcionar  os  objetivos  para  o  lado  que  a  grande  maioria escolheu, ou seja, o  “NÓS”  e  o  mais  importante  é  saber  que o  “NÓS”  é  o  caminho  certo. 

Desta  forma,  acredito  que  podemos  alcançar  o  ideal  de  comprometimento  maçônico  e  até mesmo buscar  a correção  de  rumos. 

“NÓS”  devemos, por  iniciativa própria, espontaneamente, entrar  em  consonância  com  as  ideias  apresentadas.

Além  de  pensarmos  que  não  concordamos, pensemos  também, por  que  não  concordamos  e assim, poderemos  medir  o  nosso  próprio  ego. 

Vencidas  nossas  paixões,  que  “NÓS”  possamos  promover  a  harmonia  e  crescimento  desta maravilhosa instituição  denominada Maçonaria. 




A ESSÊNCIA DA SABEDORIA DA KABBALAH - Ir.’. Claudio



A Kabbalah ensina a correlação entre causa e efeito de nossas fontes espirituais. Estas fontes se interligam de acordo com regras perenes e absolutas objetivando gols maiores - o entendimento do Criador por todas suas criações que existem neste mundo.

De acordo com a Kabbalah, ambos, a humanidade como um todo e cada uma das pessoas que a compõem devem alcançar o seu ponto mais alto na compreensão do objetivo e do programa da criação em toda a sua plenitude. Em cada geração houveram pessoas que por constante auto determinação e treinamento alcançaram determinados níveis espirituais. Em outras palavras, enquanto ainda subiam a escada, conseguiram chegar ao topo.

Esteja em quaisquer dos mundos, do micro ao macro, qualquer objeto material e suas correspondentes ações são controladas pelas forças espirituais que permeiam todo nosso universo. Pode-se representar figurativamente como se o universo se apoiasse sobre uma rede tecida por essas forças.

Para exemplificar, tomemos o menor dos organismos vivos, cujo único objetivo é manter a sua existência por um tempo suficientemente longo para procriar a próxima geração. Quantas forças e complexos sistemas agem neste organismo! E quantos destes sistemas o olho do homem e sua limitada experiência deixou detomar conhecimento. Multiplicando estas forças pelo número enorme de criaturas vivas que existiram em nosso mundo - significando o universo e os mundos espirituais - obteremos apenas uma vaga e remota ideia sobre as forças e vínculos espirituais que nos controlam.

 A grande variedade de forças espirituais pode ser imaginada como dois sistemas iguais e interligados. A única diferença entre eles é que o primeiro sistema vem do Criador e desce através de todos os mundos até chegar ao nosso. O segundo sai do nosso mundo e sobe todo o caminho de acordo com as regras já estabelecidas e que agiram sobre o primeiro sistema.

O primeiro sistema é chamado pela Kabbalah de "A Ordem da Criação dos Mundos e do Espírito". O segundo é chamado "A Compreensão ou os Passos da Profecia e Espirito". O segundo sistema supõe que aqueles que querem alcançar o pináculo deverão agir de acordo com as leis do primeiro sistema, e é exatamente o que é estudado na Kabbalah. 

Porém, no mundo espiritual o principal fator do descobrimento e entendimento não é o tempo, mas sim a pureza do espírito, do pensamento e do desejo.

No mundo material há muitas forças e fenômenos que não sentimos diretamente. Por exemplo, eletricidade, ondas magnéticas, etc. O efeito de suas ações, seus nomes, são corriqueiros até para as crianças. Apesar de nosso conhecimento sobre a eletricidade ser limitado, nós apreendemos a valer-nos deste fenômeno para suprir algumas de nossas necessidades. Nós o chamamos pelo nome com a mesma familiaridade como chamamos o pão de pão e o açúcar de açúcar.

Analogamente, todos os nomes na Kabbalah parecem dar-nos uma noção real (material) para um objeto espiritual. Mas se pensarmos a respeito, não é somente a respeito do objeto espiritual que não temos nem mesmo a mais vaga ideia; não temos a menor noção sobre o Criador em Si, assim como não temos noção sobre qualquer objeto, mesmo aqueles que sentimos com nossas próprias mãos.

O fato é que não sentimos o objeto em si, mas sim as nossas reações a sua ação e influência. Estas reações nos dão o que parece ser conhecimento, apesar de que o objeto em si, sua essência permanece oculta. E ainda mais, não conseguimos compreender a nós mesmos!! Tudo o que sabemos sobre nós mesmos restringe-se apenas as nossas ações e as nossas reações.

Ciência, como instrumento de pesquisa sobre nosso mundo é dividida em duas partes: o estudo das propriedades da matéria e o estudo de sua forma. Em outras palavras, não há nada em nosso universo que não consista de matéria e forma. Por exemplo, se tomarmos uma mesa, como combinação de matéria e forma, então a matéria é a madeira e o portador da forma é o formato de uma mesa. Um outro exemplo: a palavra mentiroso, onde a matéria é o homem que transporta a forma, a mentira.

A parte da ciência que se dedica ao estudo da matéria é baseada em experiência. Alicerçada nas experiências científicas, chega-se a conclusões. Porém a parte da ciência que estuda a forma, sem a ligação com a matéria, em especial com as formas que nunca tiveram ligações com a matéria (por exemplo, comunismo como um ideal) não pode ser baseada em experiências.

Isto porque, em nosso mundo, não há tal coisa como forma sem matéria. A separação entre forma e matéria somente é possível em nossa imaginação. Portanto, neste caso, todas as nossas conclusões são baseadas apenas em premissas teóricas. Toda a alta filosofia pertence a esta categoria de ciência e a humanidade tem frequentemente sofrido por causa das conclusões sem fundamento. 

A maioria dos cientistas contemporâneos desistiram de usar esta metodologia de estudo pois não há certeza quanto a veracidade de suas conclusões.

Explorando o mundo espiritual o homem por si descobre que estes mesmos sentimentos são somente desejos divinos para que ele se sinta desta forma. Ele se sente como um objeto de existência isolada e não como uma parte integrada ao Criador, e que tudo no mundo que o circunda não passa de uma ilusão da ação das forças espirituais sobre nós.

Esclarecerei este ponto através de um exemplo: Era uma vez um homem pobre que vivia num pequeno vilarejo. Ele tinha uma carroça com uma parelha de cavalos, uma casa e uma família. De repente um infortúnio se abateu sobre ele. Os cavalos caíram, a mulher e os filhos morreram e a casa desabou e, por causa de seus pesares e tristeza, ele morreu logo após. E aí a decisão a ser tomada na corte suprema; o que dar para esta alma sofrida e atormentada para assegurar a sua felicidade.

Decidem então dar-lhe a impressão que está vivo, que tem sua família junto a si, sua casa e seus cavalos. Fazem com que ele se sinta feliz com seu trabalho e com sua vida. Estes sentimentos são sentidos da mesma forma como sentimos um sonho; tudo o que vivenciamos num sonho, durante o mesmo, aparenta ser verdadeiro. É somente nossos sentimentos que criam a imagem daquilo que nos circunda. Então como é que podemos distinguir ilusão da realidade.... 

Kabbalah como ciência mundana também é dividida entre estudo da matéria e da forma. Possui, porém, uma qualidade notável que demonstra a sua superioridade sobre as demais metodologias científicas. Aquela parte que trata do estudo da forma sem matéria é totalmente fundamentada em controle experimental, de sorte que pode ser testada e verificada.

O Kabbalista, tendo ascendido ao nível espiritual do objeto estudado, se atina à todas as qualidades do objeto em questão. Donde, dentro dele, ele sente uma plena compreensão e pode tratar praticamente com os diferentes tipos de forma antes que de sua corporificação material. É como se ele estivesse observando todas as nossas ilusões como um observador externo.

A Kabbalah, assim como qualquer outra ciência, vale-se de certos símbolos e terminologia para descrever objetos e ações. A força espiritual, o mundo, a sfira são chamadas pelo mesmo nome que é usado para o mesmo objeto controlado por esta força em nosso mundo. Já que toda força ou objeto material tem uma correspondente força ou objeto espiritual que controla suas ações, há um ajuste perfeito entre o nome utilizado no mundo material e sua raiz espiritual - a fonte. Donde dar um nome à objeto espiritual é somente possível à um Kabbalista que tenha alcançado um alto nível de percepção.

Alcançando o mesmo nível do objeto espiritual ele pode ver as influências e a maneira que este influi em nosso mundo. Os Kabbalistas escrevem seus livros e transmitem o seu conhecimento usando esta linguagem. Essa linguagem é extremamente precisa. É baseada na fonte espiritual do objeto material e não pode ser alterada. 

A ligação entre o objeto e sua fonte espiritual e imutável. Esta forma é bem diferente do nosso uso quotidiano da linguagem. Nossa língua mundana, de uso quotidiano, está gradualmente perdendo sua precisão, pois é ligada somente à forma externa. A simples compreensão primária da linguagem não é o bastante. 

Mesmo se soubermos o nome de um objeto material de nível mais baixo, ainda assim não conseguiríamos entender sua forma espiritual mais elevada. Somente se soubermos a sua forma espiritual podemos compreender e ver a sua implementação material; a sua ramificação.

Isto nos traz a conclusão. Primeiramente é essencial compreender a fonte espiritual do objeto material. Temos que estar ciente de sua natureza e propriedades. Somente então podemos passar às ramificações em nosso mundo e estudar a sua interação. Esta é a única forma de verdadeiramente compreender a linguagem da Kabbalah.

Porém aí então levanta-se uma pergunta natural. Como pode um principiante dominar esta ciência quando não consegue nem mesmo compreender seu professor. A resposta é muito simples. Somente é possível quando nos alçamos espiritualmente acima deste mundo. E isto é somente possível se nos livrarmos de todos os traços de egoísmo material e aceitarmos os valores espirituais como os únicos. Somente o desejo e paixão pelo espiritual em nosso mundo; esta é a chave para o mundo mais elevado.

janeiro 27, 2022

A LEI DO SILÊNCIO (ENSAIO) - Ir.'. Valdemar Sansão, MM



“A tarefa mais difícil para um homem comum é guardar um segredo e permanecer em silêncio” (Aristóteles - 384-322 a.c)

A própria palavra “mistério” (segredo) significa em linguagem religiosa, alguma coisa de separado, de secreto, de oculto e de que não é lícito falar.

A imposição do silêncio não é somente uma disciplina que fortalece o caráter, é também, e principalmente, o meio pelo qual o iniciado pode entregar-se à meditação sobre os augustos mistérios que encerram as perguntas que todo o espiritualista se faz: donde vim? Quem sou? Para onde vou? Perguntas essas que o iniciado maçom defronta desde o momento em que transpõe a porta da câmara de reflexão. É também o meio de melhor observar os ensinamentos maravilhosos contidos no ritual.

Mesmo antes da própria admissão na ordem, já se começa a exercitar o princípio do silêncio. Nos momentos que precedem as iniciações, quando o candidato permanece na câmara de reflexão, o silêncio é fundamental.

Isso tem por finalidade o desenvolvimento da vontade e permite atingir um maior domínio sobre si mesmo. Não esqueçamos que somente um homem capaz de guardar o silêncio, quando necessário, pode ser seu próprio senhor.

Em maçonaria define-se o silêncio como virtude maçônica, mediante a qual se desenvolve a discrição, corrige-se os defeitos próprios e usa-se prudência e tolerância em relação à faltas e defeitos de outros. Na maçonaria se costuma simbolizá-lo pela trolha, com a qual se deve estender uma camada de silêncio sobre os defeitos alheios, tal qual faz o pedreiro vulgar com o cimento para descobrir as arestas do edifício em construção.

O silêncio deve ser rigorosamente mantido, não por força de disposições regulamentares ou pelos ditames da boa educação e das conveniências sociais, mas para que possa ser formado o ambiente de espiritualidade, próprio de um templo. Ao ajudar a formação desse ambiente, tão propício à meditação, o maçom beneficia-se a si mesmo e beneficia aos demais. A fecundação das idéias se faz no silêncio.

Devemos guardar e observar completo silêncio no decorrer dos trabalhos. Não é de boa esquadria pelas normas maçônicas, tolerarem-se conversas paralelas, rumores, murmúrios de vozes, sussurros, chamadas de telefones celulares (que deveriam estar desligados), enquanto se desenvolve os trabalhos, observem que quando o “irmão falador” desrespeita essas regras, a oficina “trava” e quebra de imediato a egrégora formada pelo “som”, pelo “perfume” do incenso e pelas vibrações dos presentes.

O aprendiz deve por sua tenra idade simbólica não tomar parte ativa nas discussões entre seus maiores, a não ser quando interrogado ou solicitado.

O aprendiz não pode tomar a palavra senão a convite do venerável. Esta lei do silêncio deve ser por ele observada  também fora do templo, no que respeita à ordem maçônica.

O princípio do silêncio exigido dos aprendizes e companheiros tem por base filosófica: só deve falar quem sabe e, quem o sabe deve se omitir, pois, flui a sabedoria e os grandes ensinamentos, fonte dos nossos conhecimentos e alimentos para os nossos espíritos.

O aprendizado é o período de meditação e de silêncio. Saber falar com ética é sabedoria, mas saber ouvir é muito mais, pois o homem que sabe falar com respeito, com educação, com amor, naturalmente saberá também ouvir. A visão e a audição devem ser educadas, tanto quanto as palavras e as maneiras.

Em maçonaria, ao prestar o seu compromisso iniciático, o candidato promete guardar silêncio sobre tudo o que se passa no interior do templo maçônico. A fórmula é sempre a mesma, mas já propiciou ataques à instituição maçônica, como se ela se entregasse a práticas escusas, sobre as quais os seus filiados devessem se calar. Mas ela visa, apenas, resguardar toques, sinais e palavras, para que eles não cheguem ao conhecimento de não maçons (profanos), os quais, com esse conhecimento, poderiam ingressar, indevidamente, num templo maçônico.

O aprendiz maçom cultiva a virtude do silêncio, porque não tem ainda a capacidade do comentário; deve apenas ouvir, meditar e tirar as próprias conclusões, até poder "digerir" o alimento que lhe é dado.

O maçom pensa duas vezes antes de emitir opinião, porque tem obrigação de emiti-la de forma correta e que jamais possa ofender a quem a ouve. Recorda que às vezes, o silêncio é a melhor resposta.

Segundo José Castellani (consultório maçônico x): “o silêncio do aprendiz é apenas simbólico, em atenção ao fato de que ele, simbolicamente, só sabe soletrar e não sabe falar. Todas as nossas práticas são simbólicas e não reais, como mostram, inclusive as provas iniciáticas”.

Esse silêncio significa que o conhecimento que o mestre lhe transmite é absorvido sem qualquer dúvida ou reação, até o momento  em que se  torna  capaz  de emitir,  por sua vez,  conceitos superiores e que podem até conduzir ao sadio debate.

Há algumas coisas que são lindas demais para serem descritas por palavras. É necessário admirá-las em silêncio e contemplação para apreciá-las em toda a sua plenitude.

São necessárias tão poucas palavras para exprimir a sua essência. Na realidade, as palavras devem ser as embalagens dos pensamentos. Não adianta fazer discursos muito longos para expressar os sentimentos de seu coração. Um olhar diz muito mais que um jorro de palavras.  As grandes falas servem frequentemente só para confundir. O silêncio é frequentemente mais esclarecedor que um fluxo de palavras.

Olhe para uma mãe diante do seu filho no berço. Ele consegue muito bem tudo o que quer sem dizer nenhuma palavra. São necessários dois anos para que o ser humano aprenda a falar e toda uma vida para que aprenda a ficar em silêncio.

Ouvimos que, em sua grande sabedoria, a natureza nos deu apenas uma língua e dois ouvidos para que escutemos mais e façamos menos discursos longos.

Se um texto não é mais bonito do que o silêncio, então é preferível não dizer nada. Esta é uma grande verdade sobre a qual os grandes dirigentes deste mundo deveriam meditar. Quanto mais o coração é grande e generoso menos palavras se tornam úteis...

O silêncio é a única linguagem do homem realizado. Pratiquemos moderação no falar. Isso é fecundo de várias maneiras. Desenvolverá amor, pois do falar descuidado resultam incompreensões e facções. Quando é o pé que resvala, a ferida pode ser curada, mas quando é a língua, a ferida é no coração e perdura por toda a vida. Às vezes para manter a paz é preciso usar um poderoso aliado chamado silêncio.

Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se.

É necessário lembrar-se do provérbio dos filósofos: "as verdadeiras palavras não são sempre bonitas, mas as palavras bonitas nem sempre são verdades..."

Xenócrates (394 – 314) filósofo grego afirmava: “arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio”.

Pitágoras (571 a 496 a.c) exigia o mais absoluto sigilo dos aprendizes, pelo período mínimo de três anos. Estabeleceu vários conceitos que estão presentes em nossos manuais, como os quatro elementos fundamentais (terra, fogo, ar e água). A definição do pentagrama, configurando a estrela de cinco pontas que representa o homem, de braços e pernas abertas.  Quando de suas hastes se desprendem “chamas”, o pentagrama denomina-se “estrela flamígera”. Essa estrela simboliza um guia para o caminho que conduz ao templo. O maçom vê no pentagrama a si mesmo dominando os impulsos da carne. Foram os filósofos Pitágoras e Platão que nos legaram o valor dos números, cujos cálculos, desde uma simples soma ou subtração aos mais complicados, hoje formulados eletronicamente, tendem a esclarecer os mistérios do universo.

Pitágoras afirmava que “quem fala semeia e quem escuta recolhe” – e esta era a obrigação dos novatos.


Se poucas palavras são necessárias dizer "eu gosto de você", todas as outras   que poderiam ser ditas são supérfluas...

Sim e não são as palavras mais curtas e fáceis de serem ditas, mas são aquelas que trazem as mais pesadas consequências. Afirmar o bem, negar o mal; afirmar a verdade, negar o erro; afirmar a realidade, negar a ilusão; eis aqui, o uso construtivo da palavra.

Lembremo-nos de usar o silêncio quando ouvirmos palavras infelizes; quando alguém está irritado; quando a maledicência nos procura; quando a ofensa nos golpeia; quando alguém se encoleriza; quando a crítica nos fere; quando escutamos uma calúnia; quando a ignorância nos acusa; quando o orgulho nos humilha; quando a vaidade nos procura.

O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tempo, por isso é uma poderosa ferramenta para construir e manter a paz.

Lojas há que incentivam aprendizes e companheiros a se exibirem em discursos repletos de lugares-comuns, ou tratando de assuntos profanos, fazendo assim perder o precioso tempo dos ouvintes. E chegam até considerar a recomendação do silêncio como se fora um atentado contra pretensos direitos maçônicos do aprendiz.

Inútil será dizer que não tendo recebido nenhuma espécie de instrução maçônica, nada podem transmitir aos neófitos. Assim, transformam as sessões das lojas em palavreado inútil que nada constroem, mas acumulam perigosos elementos para o incenso de orgulhos e vaidades e futuros desentendimentos.

O juramento de silêncio é um procedimento ritualístico e ao prestá-lo devemos todos (inclusive as luzes – pousando o malhete sobre o altar e o guarda do templo - embainhando ou colocando a espada sobre sua cadeira), estender o braço direito para  frente, formando um ângulo de 90° em relação ao corpo, com os dedos unidos, e a palma da mão voltada para baixo e os dedos unidos, o braço esquerdo caído verticalmente junto à perna esquerda dizendo “eu o juro”, em atendimento a solicitação do venerável.

Encerrados os trabalhos, o venerável mestre ainda uma vez chama a si os obreiros, confirmativamente. Pelo que está feito estes se manifestam em uníssono pelo sinal, pela bateria do grau e pela aclamação. É, mais uma vez, a confirmação de cada um de seu juramento de iniciação.

Fica em cada um a memória e a gratificação de mais um dia trabalhando em união fraterna na construção do templo da humanidade. O resto é silêncio.