fevereiro 10, 2022

SOBRE O ANACRONISMO - Ir:. Rodrigo Medina Zagni


Eu pouco interajo nesse grupo (estou enviando a apenas dois grupos sobre ritualística e História da Maçonaria), leio quase tudo e utilizo esses materiais na senda de um aprendizado para o qual me sinto ainda um neófito.

Mas desde o meu ofício, humildemente, penso que tenho algo a contribuir em termos de uma teoria da História e espero que acolham as minhas reflexões com carinho. 

Tenho percebido, nas muitas críticas feitas por ritualistas ou interessados em uma história litúrgica de diversos ritos maçônicos, usos equivocados do conceito de “anacronismo” a fim de sustentar que “o que não estava lá (como objeto ou como ideia/conceito), desde o princípio (num dado demarcador originário), é anacronismo por ter sido ali colocado”. A síntese, colocada em termos simplistas por mim, desvela a compreensão de uma história contínua, linear e disputada entre posturas de progressismo e conservadorismo (esta, daqueles que costumo chamar de “puristas”), sem quebras de paradigmas, rupturas e sínteses dialéticas que demarcam os fluxos e refluxos da história, ocultando também as forças conflitivas que disputam esse espectro (vejam as reflexões de Walter Benjamim sobre o “Anjo da História”, quadro de Paul Klee). 

Essa história, como “linha”, está embebida em convicções de progresso (ou necessidade de progresso), de progresso contínuo de paradigmas, na melhor das hipóteses; ou da defesa purista da manutenção de tudo como antes estava, como se o templo maçônico e suas práticas constituíssem um relicário alheio às mudanças dos tempos históricos onde não se apresentam os distintos regimes de historicidade que vão se sobrepondo no mundo real (de onde a Maçonaria vai se desprendendo). 

Essa “história em linha” onde tudo progride (visão progressista) ou deve ser mantido como antes estava, contra qualquer ousadia de progresso (visão conservadora), na ciência histórica, está enterrada junto do criticismo alemão de Leopold von Rake (a histoire événementielle contra a qual se bateu a École des Annales de Febbvre, Bloch e Braudel), junto da teleológica compreensão de que essa linha se desenvolve na consecução de fatos-causas e fatos consequências, sobressaindo-se o fato-acontecimento como águas rasas que não chegam a desvelar as instâncias profundas onde se dão os processos de mudanças sociais e, com isso, explicar o mar revolto da História. 

Eis o objeto da História, como ciência: a mudança social e não o fato-acontecimento (a história como processo e não como linha), analisada por meio da investigação crítica das fontes. Isso para dizer que já houve um encontro, do qual resulta um enlace de longa data, entre a crítica da História e a Antropologia Cultural, para a afirmação de uma História da Cultura que os ritualistas precisam considerar em suas elaborações, sobretudo a fim de compreender que o “purismo” reinante não contempla as dinâmicas de hibridismo cultural (o conceito foi esmiuçado por Peter Burke e/ou Nestor García Canclini), transculturação (Malinowski), desenraizamentos culturais e trocas simbólicas de distintos tipos que produzem formas cambiantes de cultura.

Isso para dizer que se a história não se desenvolve em linha, mas como processo histórico, o conceito de anacronismo que vez por outra acaba sendo aqui utilizado resulta equivocado. Essa é uma discussão de tal forma atual que acaba de ser objeto de um dossiê que compartilho agora com meus QQ:. AAm:. IIr:. e é em razão da notícia de sua publicação que tive a iniciativa de escrever essas linhas:

Trata-se do número 43 da ArtCultura: Revista de História, Cultura e Arte, que traz oportunamente o dossiê “História & anacronismo” para o público leitor. Do dossiê, recomendo vivamente a leitura de “Ainda somos pecadores? Sobre o tempo histórico e o anacronismo”, de Alexandre de Sá Avelar e Lucila Svampa; “¿Es posible la comprensión histórica sin anacronismo?”, de Rosa E. Belvedresi; e “El Ángel de la prehistoria: anacronismo, discontinuidad y huella en la facies inconsciente de la historia”, de Francisco Naishtat.

Acessem-na via SEER: http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/index

Espero que essas reflexões possam ser internalizadas de forma contributiva, porque foi esse o intuito!


ENTENDENDO O NOME INEFÁVEL - Kennyo Ismail


O Ir, Kennyo Ismail é professor universitário, editor, escritor, uma dos mais importantes intelectuais da maçonaria no país.

Sejamos sinceros: tem muito Mestre por aí que não tem a mínima noção do que é o Nome Inefável, sua origem e simbologia. Já outros fazem o favor de inventar lendas e teorias místicas que vão além da imaginação dos simples mortais. Entre elas, podemos citar a lenda de que, se você pronunciar o Nome corretamente, terá poderes ilimitados (Superman?). Tratemos aqui apenas do que é real: 

O que é Inefável? A palavra inefável descreve algo que não pode ser pronunciado, ou seja, impronunciável, indizível. Seria algo tão sagrado que sua pronúncia seria indevida, restrita apenas aos escolhidos, e dita apenas nos momentos apropriados. Assim, o Nome Inefável seria o nome de um Deus eterno, único, onipresente e invisível. Afinal de contas, se só há Ele, então Ele não precisa ser nomeado, e se Ele está presente em todos os lugares, então Ele não precisa ser chamado. Com essa crença, os judeus posicionaram seu Deus acima dos deuses de outros povos, pois Ele não estava vinculado a animais ou aos astros e não possuía concorrentes.

Mas para transmitir as histórias e ensinamentos de sua crença, os judeus precisavam se referir a Ele de alguma forma. Para isso, adotaram “títulos” como Elohim (a Autoridade), El Shaddai (Todo Poderoso), Adonai (Senhor), Elyon (Altíssimo), Ehyeh-AsherEhyeh (Eu sou o que sou), e outros. Esses títulos foram devidamente traduzidos nas bíblias tradicionais e são amplamente usados pelas igrejas e seus sacerdotes ao mencionarem o GADU.

Como em todos os povos das mais remotas eras tinham nos sacerdotes os guardiões de algum tipo de segredo ou mistério, com os judeus não poderia ser diferente. Assim, ficou o Sumo Sacerdote, líder religioso do povo judeu, responsável por guardar a pronúncia do verdadeiro nome do GADU e pronunciá-lo apenas quando em cerimônia específica no Templo de Jerusalém. O nome teria sido informado inicialmente a Moisés por Deus através da Sarça Ardente. Dessa forma, o nome servia como uma espécie de senha, um segredo que era transmitido pelo Sumo Sacerdote a seu sucessor e aos Reis coroados por ele, sempre de forma ritualística, dentro do Templo.

Na verdade, todo bom judeu sabia como se escrevia o nome verdadeiro de Deus, mas apenas o Sumo Sacerdote e o Rei sabiam pronunciá-lo. Você deve estar se perguntando: Como isso é possível? Explicando de uma forma bem simplista: O hebraico é uma língua que só se escreve com consoantes. Assim, o leitor judeu precisa conhecer a pronúncia da palavra para pronunciar as vogais corretas. Para quem achar isso um pouco estranho, saiba que produzimos exemplos claros disso todos os dias: vc = você; tbm = também; blz = beleza.

O nome de Deus seria escrito com 04 letras hebraicas correspondentes às letras JHVH de nosso alfabeto (tetragramaton), mas como as pessoas nunca haviam escutado a palavra, não sabiam como pronunciá-la. Poderia ser mais de 100 combinações: Jahavah, Jahaveh, Jahavih, Jahavoh, Jahavuh, Jahevah, Jaheveh, Jahevih, Jahevoh, Jahevuh, Jahivah, Jahiveh, Jahivih, Jahivoh, Jahivuh, Jahovah, Jahoveh, Jahovih, Jahovoh, Jahovuh, Jahuvah, Jahuveh, Jahuvih, Jahuvoh, Jahuvuh, Jehavah, Jehaveh, Jehavih, Jehavoh, Jehavuh, Jehevah, Jeheveh, Jehevih, Jehevoh, Jehevuh, Jehivah, Jehiveh, Jehivih, Jehivoh, Jehivuh, Jehovah, Jehoveh, Jehovih, Jehovoh, Jehovuh, Jehuvah, Jehuveh, Jehuvih, Jehuvoh, Jehuvuh, Jihavah, Jihaveh, Jihavih, Jihavoh, Jihavuh, Jihevah, Jiheveh, Jihevih, Jihevoh, Jihevuh, Jihivah, Jihiveh, Jihivih, Jihivoh, Jihivuh, Jihovah, Jihoveh, Jihovih, Jihovoh, Jihovuh, Jihuvah, Jihuveh, Jihuvih, Jihuvoh, Jihuvuh, Johavah, Johaveh, Johavih, Johavoh, Johavuh, Johevah, Joheveh, Johevih, Johevoh, Johevuh, Johivah, Johiveh, Johivih, Johivoh, Johivuh, Johovah, Johoveh, Johovih, Johovoh, Johovuh, Johuvah, Johuveh, Johuvih, Johuvoh, Johuvuh, Juhavah, Juhaveh, Juhavih, Juhavoh, Juhavuh, Juhevah, Juheveh, Juhevih, Juhevoh, Juhevuh, juhivah, Juhiveh, Juhivoh, Juhivuh, Juhovah, Juhoveh, Juhovih, Juhovoh, Juhovuh, Juhuvah, Juhuveh, Juhuvih, Juhuvoh, Juhuvuh. Isso sem considerar a hipótese das consoantes estarem misturadas, o que aumenta as possibilidades de combinação para mais de mil.

De qualquer forma, seja pela morte daqueles que a sabiam ou pela destruição do Templo, único lugar onde o nome poderia ser pronunciado, a palavra se perdeu. Uma versão que surgiu com o tempo foi a utilização das vogais de Ehyeh-AsherEhyeh (Eu sou o que sou) com o Tetragramaton, o que gerou a versão Jihaveh (Javé, em português). Mas também convencionou-se adotar os sons de Adonai, título mais comum para denominar Deus, em combinação com o Tetragramaton, o que gera o nome Jihovah (Jeová, em português), que se consolidou como a “versão correta” do nome do GADU, apesar de não existir quaisquer outros indícios para tanto. Por esse motivo, o nome continua sendo “inefável” para os judeus ortodoxos e muitas outras vertentes religiosas e esotéricas.

Para nós, Mestres Maçons, independente de qual seja a pronúncia correta, o que realmente importa são os profundos ensinamentos que esse símbolo ilustra. E uma dessas lições é de que, apesar do GADU ser chamado de tantos diferentes nomes e visto de tantas diferentes formas, conforme a cultura, costumes e crenças de cada povo e cada ser, Ele é o mesmo, único, oculto aos nossos olhos, mas presente em nossas vidas.

fevereiro 09, 2022

A ORIGEM DA PALAVRA LOJA - José Castellani


A verdade é sempre mais simples do que parece, ou do que a imaginam as mentes fantasiosas. É voz corrente entre muitos maçons, influenciados por obras pouco fidedignas, que a palavra LOJA, para designar uma corporação maçônica, seria originária da palavra sânscrita “loka”, que significa mundo. Sânscrito foi o nome dado ao idioma falado pelos invasores indo-europeus do Punjab, por volta do Século XIV antes de Cristo; tendo afinidades com o antigo persa, o grego e o latim, jamais foi uma língua popular, sendo restrita aos sacerdotes brâmanes e aos eruditos. Foi nesse idioma que foi escrita a literatura indiana mais remota, de inspiração filosófica e religiosa, constituindo os “Vedas”, coleção de hinos sagrados.

A verdade, todavia, é bem outra, mesmo porque “loka” significa, na realidade, espaço, lugar, tempo (como o “lócus” latino); a palavra LOJA tem sua origem nas GUILDAS medievais.

Entre as corporações de artesãos medievais (hoje chamadas de Maçonaria “Operativa”), destacavam-se as GUILDAS, características dos germânicos e anglo-saxões e que começaram a florescer no Século XII.

Anteriormente a essa data, elas eram entidades simplesmente religiosas e não formavam corpos profissionais. A elas se deve o uso da palavra LOJA.

Na antiga língua germânica, a palavra LEUBJA (pronúncia: lóibja) significava LAR, CASA, ABRIGO, e acabou dando origem a palavra de sentidos diferentes, em outros idiomas: LOGE, em francês, LODGE, em inglês, LOGGIA, em italiano, etc. Em italiano, a palavra LOGGIA passou a designar a entrada de edifício, ou galeria, usada para exposições artísticas e para a venda de mercadorias artesanais.

As GUILDAS DE MERCADORIAS passaram a adotar a palavra LOJA para designar os seus locais de depósitos, ou de vendas, ou seja, onde os produtos manufaturados eram armazenados e negociados. As GUILDAS ARTESANAIS, por outro lado, passaram a chamar de LOJA os seus locais de trabalho, ou seja, as OFICINAS dos Mestres artesãos.

Assim, das guildas de mercadorias originou-se o nome das casas comerciais, que são as lojas onde são vendidos os produtos fabricados, enquanto que das guildas artesanais originou-se a palavra que designa as corporações maçônicas e seus locais de trabalho, as LOJAS MAÇÔNICAS. Ambas as palavras, embora não tenham, atualmente, nada em comum, possuem a mesma origem, sendo interessante destacar que o primeiro documento maçônico (da Maçonaria de ofício) em que aparece a palavra LOJA data do ano de 1292 e era uma guilda.

Se aceitássemos que a origem da palavra LOJA está no sânscrito “loka” e se admitíssemos que ela significa “mundo”, estão as lojas comerciais também teriam o mesmo significado, o que seria um absurdo. Acrescente-se que o que representa o mundo, é o Templo maçônico, e não a LOJA, pois o termo é mais destinado a designar uma corporação maçônica, quando os seus membros reúnem-se num templo: ao final de uma sessão maçônica, a Loja é considerada fechada, pois os seus membros se dispersarão, mas o templo continua aberto, inclusive para outras lojas.

Vale repetir: a Verdade, geralmente, é bem mais simples do que pretendem os maçons imaginosos e cheios de fantasias, que acabam influenciando os demais, divulgando e perpetuando histórias fantásticas e inverídicas.

(Cadernos de Estudos Maçônicos – Consultório Maçônico de José Castellani, Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. 2a edição)

LANDMARKS





Fonte: Pílulas Maçônicas

Isto é um assunto sobre o qual se pode escrever páginas e mais páginas. Isso só para definir o que é um “Landmark”.

Mais uma vez vou recorrer ao “Compendium” do ilustríssimo Ir∴ Bernard Jones.

Landmarks podem ser definidos como “aquelas coisas que, sem a aceitação pela Maçonaria, a mesma deixa de ser a Maçonaria”.

Nos antigos tempos, citados na Bíblia, terras planas sem marcações evidentes, marcas (landmarks) de contornos e limites eram de grande importância, e grandes esforços eram feitos devido a necessidade de respeitá-los. O Deuteronômio XXVII, 17 menciona:

“...maldito aquele que remover as marcas (landmarks) de seu vizinho”

Provérbios XXII, 28 temos:

“Não remover as antigas marcas (landmarks) que foram fixadas por seus pais.”

Portanto, é dessa ideia bíblica de algo que não deve ser removido, que o antigo conceito Maçônico foi erigido. Melhor do que a ideia de uma elevada quantidade de “marcas”, fixadas, das quais condutas devam ser tomadas e seguidas.

O termo “landmarks” é encontrado em todos os Graus Simbólicos, nos quais sempre é mencionado a necessidade imperativa de obedecê-los.

Mesmo a Grande Loja Unida da Inglaterra, enquanto possuir o poder de ditar certas leis e regulamentos, deve estar sempre atenta para que os Antigos Landmarks sejam preservados.

Definições específicas podem ser dadas:

Princípios que tem existido desde tempos imemoriais, em leis escritas ou não, os quais são identificados como a essência e forma da Ordem; os quais a grande maioria dos membros concorda, que não podem ser mudados e os quais cada Maçom é compelido manter intactos, sob as mais solenes e invioláveis penalidades.

Um limite fixado para checar qualquer inovação.

Uma parte fundamental da Maçonaria que não pode ser mudada sem destruir a identidade da Maçonaria.

Usos e costumes já aceitos por longo tempo, NÃO são necessariamente Landmarks. Observando isso, muitas listas feitas por diversos autores Maçônicos, como exemplo Albert Gallatin Mackey, seriam reduzidas nos seus itens.

Sobre isso deve ser lido a Obra do nosso querido Ir.'. José Castellani - “Consultório Maçônico” - onde é feito um “pente fino” sobre os 25 itens do Mackey, e de outros, e fica claro que, pelas definições obtidas, nem tudo que está lá é Landmarck.

É uma pena que pessoas capazes como nosso Ir∴ Castellani, tenha que primeiro morrer para depois ser reconhecido. A inveja e o egoísmo não tem limites (nem landmarks).

Finalizando, um escritor americano disse que “Landmarck é algo que, sem o qual, a Maçonaria não pode existir, e determina os limites até onde a Grande Loja Unida da Inglaterra pode ir. Alguma coisa na Maçonaria que a GLUI tem o direito de mudar, NÃO é um Landmark."

O teste é: poderia a Maçonaria permanecer essencialmente a mesma se algum particular princípio for removido?




fevereiro 08, 2022

IDENTIFICADO - Adilson Zotovici


Adilson Zotovici é renomado intelectual e poeta maçônico da ARLS Chequer Nassif de S. Bernardo do Campo.

Perguntou-me um recém chegado

Em tom delicado, modesto,

Como ser identificado

Como tal, um ser honesto ?


Em resposta ao iniciado

Disse em tom de manifesto;

Cumpre pois, o que jurado,

Que tudo mais será resto


Que assim, como um legado,

Serás um iluminado

Um livre pedreiro atesto


Sem luz o dissimulado !...

Por atitude notado

Por virtude em cada gesto !


A ÉTICA DA EMPATIA



(Fonte: Informativo Mensageiro Seguro, Ano XIV, de 24/04/2020. Ed. 1.049)

A ÉTICA, compreendida como um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo profissional ou de uma sociedade, sempre foi imprescindível para uma convivência pacífica e para o respeito dos direitos sociais e individuais.

Neste sentido, sempre que falamos em ética a primeira ideia que surge em nossa mente é a obediência a regras, códigos de conduta, regulamentos entre outras coisas deste tipo. 

Mas segundo a opinião do filósofo Ken Wilber, entender a Ética dessa forma convencional, isto é, como um conjunto de regras ou leis às quais devemos uma “obediência infantil”, faz parte de uma visão egocêntrica do mundo, onde impera um egoísmo pouco inteligente, cuja premissa é ser “um bom rapaz” ou “uma boa moça”, alguém politicamente correto, por assim dizer.

Ken Wilber defende a tese de que se nós pudermos elevar nossa consciência, a Ética poderia ser mais inteligente, renovadora e divertida como a vida deve ser; seria uma manifestação consciente da liberdade e de um interesse que vai mais além do interesse por si mesmo. 

A Ética pensada desse modo seria pós-convencional e basicamente se fundaria na empatia, pois sua premissa principal seria incluir o maior número de perspectivas possível na resolução de conflitos éticos e morais. 

O indivíduo ético, dessa forma, desenvolveria a capacidade de assumir perspectivas cada vez mais amplas, desde a perspectiva do “EU – Ego” (onde tudo gira em torno de si mesmo), passando a incluir a visão da segunda pessoa “Nós” (onde as coisas giram em torno da nossa família ou do nosso grupo) e por fim chegaria a englobar a visão da terceira pessoa “Todos nós”, na qual estaria incluída a perspectiva de todos os seres humanos e seres vivos do planeta.

Outro ponto interessante da tese de Ken Wilber é o fato de que ele considera a Ética como o exercício da bondade em nossa vida cotidiana que leva em conta todas as formas de sinceridade, autenticidade, respeito e caráter que compõem nossa integridade básica. 

Noutras palavras, ele propõe uma evolução da Ética para níveis mais elevados de pensamento, em que o indivíduo abandone a visão egocêntrica de mundo. 

Portanto, o indivíduo seja íntegro em razão da elevação de sua consciência e da aquisição de uma “sensibilidade ética”, ou seja, que desenvolva a habilidade de se sintonizar com as exigências do momento, tornando-se capaz de adotar a perspectiva alheia, através da empatia, o que o levaria a perceber qual deveria ser a ação correta ou incorreta na situação.

Com o desenvolvimento dessa capacidade empática de assumir a perspectiva do outro, ele inclusive sugere que nós ultrapassemos a Regra de Ouro, aquela segundo a qual devemos fazer ao outro aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós, e que passemos a adotar em nossa vida a "Regra de Platina", um conceito desenvolvido pelo filósofo Karl Popper, que consiste em “tratar os outros como eles gostariam de ser tratados”. 

Quando concebeu essa regra, Karl Popper disse que “Ainda que a regra de ouro seja um bom estandarte, pode ser melhorada se tratarmos os outros, sempre que possível, do modo como eles gostariam de ser tratados”.

Em tempos em que tanto se fala de empatia, e quando tanto se precisa da Ética, pensar numa *ÉTICA DA EMPATIA* vem a calhar, pois se já é louvável que nós sejamos éticos, ainda que em razão de uma visão egocêntrica de mundo e ainda que motivados pelo simples desejo de parecer “politicamente corretos”, seria ainda mais louvável (e desejado) que nós pudéssemos transcender os níveis do nosso próprio Ego para, num nível seguinte, adquirir a capacidade de adotar a perspectiva alheia em qualquer situação de nossa vida cotidiana. 

E, através do exercício da autêntica empatia, pudéssemos tratar os outros como eles gostariam de ser tratados e não conforme a nossa visão pessoal egocêntrica, na qual nos determinaríamos como o outro deseja ser tratado, segundo a nossa própria perspectiva. 

É um exercício difícil, eu sei. 

Já é bem difícil tratar os outros como nós gostaríamos de ser tratados, quiçá como eles gostariam de ser tratados.







fevereiro 07, 2022

O ESPÍRITO DA MAÇONARIA - Adaptado do Livro "O Espírito da Maçonaria ", de Foster Bailey

 


Pode ser aconselhável definir as duas palavras "Loja" e "Constituição", de forma a que o seu significado verdadeiro possa estar corretamente nas nossas mentes.

Uma Loja é, em primeira instância, um lugar onde os maçons se reúnem e aí desenvolvem o trabalho do Ofício, continuam com o trabalho de construção do Templo do senhor, entram, passam e erguem-se maçons. É proeminentemente um lugar para trabalho, para a assunção de responsabilidades e para as atividades conjuntas dos maçons reunidos, a trabalhar na forma devida e sob o comando correto.

Uma Loja é também um símbolo, ou forma exterior e visível, de uma realidade interior e espiritual. Isto é frequentemente esquecido pelo maçom mediano que recusa reconhecer a sua base espiritual, estando ocupado inteiramente com as suas implicações éticas. Esta definição leva o conceito para dentro e traz-nos perante o verdadeiro trabalho da Maçonaria, apresentando-nos o seu aspecto subjetivo, ligando assim a realidade exterior e interior. Por estas palavras é definida a maior tarefa da Maçonaria, quando avança, na Nova Era que se avizinha, para ligar "aquilo que está dentro com aquilo que esta fora" e para abarcar o mundo do tangível e conhecer com isso as realidades tangíveis e intangíveis. Este é o problema com que os maçons se defrontam hoje. Devem ver se aquilo que está por baixo e visível é verdadeiro e alinhado exatamente com o projeto que está foi colocado sobre a prancha de desenho pelo Grande Arquiteto do Universo. É por essa razão que o projeto sobre a prancha de desenho é chamado uma Loja por alguns grupos de Maçons, em seu grau específico. 

A definição de uma Loja como um lugar de encontro de maçons é uma das implicações menos importantes. Predominantemente, é uma representação de uma condição, atividade ou padrão invisível; é um símbolo de algo que pode ser conhecido, mas para qual é necessário fazer alguns preparativos devidos. Os maçons não devem ser admitidos com ligeireza aos Mistérios do Ofício. É a sua representação pictórica ou materialização dos planos de Deus para a Humanidade, revelados claramente ao Homem, assim os possa interpretar, por intermédio dos símbolos tão ricamente manifestados no Templo, nos rituais e nos planos simbólicos colocados na prancha de desenho. Assim deve ser encarada como uma assembleia de irmãos que se encontram, na forma devida, para estudar as verdades interiores ou mistérios, que -- quando compreendidas – permitirão ao Homem cooperar mais vital e utilmente com o propósito divino.

A construção de uma Loja deve assim estar conforme com estes requerimentos e estar alinhada com o propósito interior. Este fato está a surgir lentamente nas mentes dos maçons de hoje que pensam e o interesse mais novo está a mudar para um mundo interno de significado e de valores. Isto é indicado pela nova literatura maçônica. Os homens não se satisfazem com reuniões numa sala adornada por símbolos, participações em rituais curiosos e invulgares e dedicações de tempo, pensamento e dinheiro a algo sem qualquer significado vital e que os conduza a nenhuma compreensão ou recompensa real, exceto o inculcar dessa moralidade, caridade, conhecimento, benevolência e relacionamento fraternal que permita a um homem passar, livre e aceite, para a Loja no Alto. Estas recompensas têm o seu valor inestimável, mas não únicas, pois são também os atributos e objetivos de todos os homens bons e o caráter fundamental de todo o ensinamento religioso no mundo.

Alguma coisa mais deve ser garantida e provada sobre a Maçonaria, se pretender manter a sua direção sobre os corações e mentes dos homens por muito mais tempo. Hoje existem cerca de cinco milhões de maçons no mundo a trabalhar sob os Ritos de Iorque ou Escocês e a sua inteligência não estará satisfeita para sempre com uma representação ritual sem significado de verdades não reconhecidas. A sua compreensão está a atrair muita da literatura especulativa dos nossos dias, estando hoje a levar os verdadeiros maçons por outras linhas de pensamento e mais profundamente dentro do mundo das idéias e significado interior do que jamais tinha acontecido antes.

A palavra "Constituição" traz consigo duas inferências vitais. Procede de duas palavras latinas: "statuere", aquilo que está e é estabelecido, fixo ou determinado e "con", significando "juntos", o que está estabelecido, fixado e em uníssono com outros. Os maçons devem ligar este pensamento com o nome de um dos Pilares encontrados no Pórtico do Templo do Rei Salomão. O seu significado é "Ele estabelecerá". A ideia surge de uma predeterminação na mente do Altíssimo do que deve ser estabelecido pela constituição de uma Loja; este propósito divino, ou plano, apela à cooperação (o estabelecimento com) entre o Grande Arquiteto do Universo e os Seus construtores, o Ofício reunido para trabalhar numa Loja. Apela à cooperação entre todos os membros de uma Loja para essa formação conjunta que é necessária de forma a estabelecer, fixar e materializar o plano.

Uma Loja é também uma Loja devidamente constituída quando é "levantada" corretamente, para usar a expressão corrente. Ligação com este trabalho de uma Loja, enquanto devidamente constituída e enquanto a trabalhar constantemente para uma certa ideia, pode ser útil dar aqui alguns pensamentos chave. Estes devem lançar luz sobre todo o assunto e trazer iluminação ao maçom que está devidamente orientado para o Oriente. As afirmações antigas seguintes, dadas por ordem do seu significado, podem revelar-se de utilidade real. Todavia, não são dadas na ordem normalmente indicada.

Que o que está em baixo seja como o que está em cima; 

Existe um padrão, traçado no Céu, com qual a Humanidade se deve conformar eventualmente; 

Três Mestres Maçons dirigem uma Loja; 

Cinco Mestres Maçons dão forma a uma Loja; 

Sete Mestres Maçons constituem uma Loja de maçons; 

Sete Mestres Maçons tornam-na perfeita; 

Entremos na luz, passemos do irreal ao real e sejamos erguidos para a vida;

Estes são os setes aforismos mais importantes da Maçonaria. Mas, por tanto tempo que a forma exterior da Maçonaria atraiu a atenção dos irmãos, que é difícil para muitos reconhecer que tudo o que possuímos hoje é uma forma simbólica que atualmente encarna verdades espirituais interiores não reconhecidas. O tempo deve chegar em que esse CENTRO de onde saiu a PALAVRA – essa PALAVRA que foi cometida aos três Grão-Mestres, o Rei Salomão, Hiram, Rei de Tiro, e Hiram Abiff – deva ser o Centro em que todos os Mestres Maçons ocupem a sua posição e trabalhem a partir daí. Só então poderá ser recuperada a Palavra Perdida e o trabalho da Trindade de MESTRES concretizado na Terra. Só então pode o Plano ser visto na sua pureza e só então pode a divina Prancha de Desenho ser compreendida com o "olho da visão". 

Este é o "simples olho" a que se referiu o grande Carpinteiro de Nazaré, o qual, quando ativo, habilitará o seu possuidor a reconhecer que "todo o corpo está cheio de luz". O significado, considerado maçonicamente, destas palavras de Cristo é frequentemente esquecido. Podemos aqui lançar alguma luz sobre o símbolo do "OLHO" tão bem conhecido no Ofício. 

Desde tempos imemoriais e em ligação com os Mistérios antigos, as palavras, "assim em cima como em baixo" foram proclamadas e indicaram o propósito de todo o trabalho maçônico. No céu, existe um Templo "eterno, não feito com mãos". A este Templo preside a Deidade Triuna. Constitui o modelo do que aparece na Terra, ou "em baixo". Sob o domínio desta Trindade de Pessoas, existem os Construtores do templo celeste e são – simbolicamente falando – sete em número. Os "Sete, dirigidos pelo UM e os Três". É por essa razão que "três dirigem uma Loja e sete constituem uma Loja e tornam-na perfeita". Isto foi-nos narrado com beleza nas estrofes seguintes, tiradas de um escrito muito antigo, que precede em muito a Bíblia Cristã. Foi redigido na forma modernizada seguinte.

"Que o Templo do Senhor seja construído", gritou o sétimo grande anjo. Então, para os Seus lugares no Norte, no Sul, no Ocidente e no Oriente, sete grandes Filhos de Deus moveram-se com passo medido e ocuparam os Seus assentos. O trabalho de construção era começado.

As portas foram fechadas e vigiadas. As luzes brilhavam esbatidas. As paredes do Templo não podiam ser vistas. Os Sete estavam silenciosos e as Suas formas estavam veladas. O tempo não tinha chegado para a irrupção da LUZ. A PALAVRA não podia ser pronunciada. Só um silêncio reinava. Entre as sete Formas, o trabalho prosseguia. Uma chamada silenciosa partiu de cada um para o outro. Todavia, a porta do Templo permanecia fechada... À medida que o tempo passava, fora das portas do Templo, os sons da vida eram ouvidos. A porta era aberta e a porta era fechada. Cada vez que abria, um Filho de Deus menor era admitido e o poder no interior do Templo crescia. Cada vez, a luz crescia com mais força. Assim, um por um, os filhos dos homens entravam no Templo. Passavam de Norte para Sul, de Ocidente para Oriente e, no centro, no coração, encontraram luz, encontraram compreensão e o poder para trabalhar. Entraram pela porta. Passaram perante os Sete. Ergueram o véu do Templo e entraram na luz.

O Templo crescia em beleza. As suas linhas, as suas paredes, decorações e a sua largura, profundidade e altura emergiram lentamente à luz do dia.

Vinda do Oriente, uma palavra partiu: "Abri a porta a todos os filhos dos homens, que vêm de todos os vales obscurecidos da terra e deixai-os procurar o Templo do Senhor. Dai-lhes a luz. Desvelai o santuário interior e, pelo trabalho de todos os Obreiros do Senhor, estendei o Templo do Senhor, e assim irradiai os mundos. Fazei soar a Palavra criativa e levantai os mortos para a vida".

Assim será o Templo da Luz levado do céu para a terra. Assim serão as suas paredes erguidas sobre as planícies da Terra. Assim a luz revelará e alimentará todos os sonhos dos homens.

Então o mestre do oriente despertará todos que estão adormecidos .Então o Vigilante do Ocidente experimentará e provará todos os verdadeiros buscadores da Luz. Então , o Vigilante do Sul instruirá e auxiliará os cegos. Então, o Portão para o Norte ficará completamente aberto , pois ai

O Mestre invisível com a mão acolhedora e coração compreensivo para conduzir o candidato para o Oriente, onde a Verdadeira Luz continua a Brilhar . . . 

"Mas porque esta abertura das portas do Templo? "interrogam os maiores dos sete, os Três sentados. "Porque chegou a hora; os Obreiros estão preparados Deus criou na Luz . Os seus Filhos podem agora criar. Não existe mais nada por fazer ". 

"Faça-se assim", veio a resposta dos maiores do sete, os Três sentados.

"O Trabalho pode agora começar . Que todos os Filhos da Terra comecem a Trabalhar " . . .

AS SETE ARTES LIBERAIS - Ir.’. Valfredo Melo e Souza



No entendimento maçônico, como se sobe a escada do aprimoramento? Por três, cinco e sete ou mais degraus. Por que tão místicos números? Três foram os Mestres na construção do Templo de Salomão. Cinco são os sentidos que possuem os homens para ouvir, ver, degustar, cheirar, tocar e reconhecer os irmãos tanto nas trevas como na luz. Sete porque são as ciências ou as artes liberais. Mas que artes liberais? 

Cinco séculos antes de Cristo, Platão estabelecera uma distinção entre as artes liberais; chamou-as de encruzilhadas de três e quatro caminhos e que viriam a ser conhecidos na Idade Média, pelos nomes de “trivium” e “quadrivium” ou o “septivium”. O trivium incluía a gramática (estudo da língua), a retórica (arte de falar) e a lógica (arte do raciocínio) que conduziam à eloquência. 

O quadrivium compreendia a aritmética (arte de contar), a geometria (arte de medir), a música (a arte da harmonia, a virtude dos sons) e a astronomia (a arte de conhecer os corpos celestes), que levavam o homem ao “Templo do Saber”, isto, na aurora da Idade Média, no século seis, com Boécio, Justiniano, no Império Bizantino e nos mosteiros beneditinos.

No século oito, com o filósofo Alcuíno, organizador do ensino no reino franco, onde tais matérias ou artes liberais, reuniam todo o “saber da antiguidade” e eram os únicos conhecimentos desse período medieval disseminados pelo continente. 

O trivium era transmitido em dois tipos de escolas: uma dedicada aos futuros monges e era chamada de “oblatas”; outra dedicada à plebe em geral, onde ler e escrever não eram prioridade; sua finalidade era familiarizar as massas campesinas com as doutrinas cristãs para mantê-las dóceis e comportadas. 

Tal como viria a ocorrer na Ordem dos Templários: de um lado os “frères du convent” e de outro os “frères du métier”. Nobres os primeiros, de classe inferior os últimos. 

O conjunto dessas disciplinas que compunham o septivium era o currículo mínimo das universidades e denominava-se “clarezia” ou as “sete artes liberais”. A partir do século onze, surgem as escolas catedralícias, germe da universidade, da arquitetura românica, da arquitetura gótica. 

O termo universidade – universitas – designava, originalmente, qualquer assembléia, fosse ela de sapateiros, ou de carpinteiros, ou de padeiros; eram as corporações de ofício ou guildas, hierarquicamente constituídas de aprendizes, jornaleiros e mestres.

Reuniões livres de homens que se propunham ao cultivo das ciências e das artes liberais, por isto, “arte dos homens livres” distintas das artes do homem servil, do escravo, que eram conhecidas como “artes mecânicas ou manuais”. 

Na fachada da catedral de Paris aparecem figuras simbólicas que nos remetem às sete ciências liberais como traços marcantes da “história da educação”: a dialética e a serpente da sabedoria; a gramática e o látego dos castigos; a aritmética contando nos dedos; a geometria e os seus compassos; a astronomia e o seu astrolábio; a música e os seus sinos. 

Partindo da grande reforma do ensino proporcionada por Alcuíno, as artes liberais aparecem como um instrumento pelo qual o espírito se manifesta na filosofia e é capaz de expressá-la, como revelação da Arte Real. 

Verifica-se na universidade já amadurecida do século doze, também, um ciclo hierárquico: o bacharel, o licenciado, o doutor, o que dava status de nobreza à burguesia emergente, portadora da borla, do capelo, do anel e do livro.

fevereiro 06, 2022

EGRÉGORA MAÇÔNICA - Ir. Ubyrajara de Souza Filho

 



Pertenço ao grupo de irmãos que citou várias vezes “egrégora” em suas “Peças de Arquitetura”, inclusive em livro editado: em um tópico sobre a “Cadeia de União”. Os depoimentos de vários irmãos e as leituras de diversos textos destacando os benefícios daquela forma de energia e de seus efeitos sobrenaturais marcaram um significativo período de minha vida maçônica.

Entretanto, com o passar dos anos, persistindo em minha caminhada pela “busca da verdade‟, depararei com diversos textos, estudos e opiniões de outros pesquisadores maçônicos contestando o disseminado conceito de “egrégora‟. Diante de minha inquietude, resolvi arregaçar as mangas e realizar uma pesquisa pessoal sobre o tema. Debrucei-me sobre vários textos: artigos, livros, citações etc. (maçônicas e não maçônicas), e procurei o “confronto‟ entre os pensadores. Em nome da verdade, devo admitir que não encontrei absolutamente nada que comprove, justifique ou explique de forma coerente e racional a existência das “egrégoras”.

Inicialmente, vale o registro de que não encontrei o termo “egrégora” em nenhuma passagem nas versões na língua portuguesa de alguns principais Livros Sagrados que pesquisei: a Bíblia (católica e protestante), o Torá, o Bhagavad-Gita e o Alcorão; e nem em livros referentes ao kardecismo (“O Evangelho segundo Kardec”) e budismo (“A Bíblia do Budismo”). Nenhuma dessas obras relacionadas fazem qualquer citação ao termo “egrégora”. Da mesma forma, afirmo que nenhum dos rituais maçônicos que tive acesso, nos três graus simbólicos: Schröder, REAA, YORK, Brasileiro e Moderno, assim como os rituais dos Altos Graus do REAA e do Brasileiro, em nenhum deles, aparece a citação do termo “egrégora‟, muito menos de suas benesses.

Após complementar a pesquisa com diversas consultas à internet, conclui que existe um consenso entre os irmãos que questionam o uso do termo “egrégoras” na Maçonaria, de que o seu aparecimento no meio esotérico remonta a 1824 com o ocultista Eliphas Levi que a definiu como “capitães das almas”, e que, posteriormente, teve o seu sentido “adaptado‟ às diversas interpretações esotéricas-místicas-ocultistas que foram agregadas à Maçonaria ao longo dos anos por autores maçônicos franceses que, ao final do século XIX, insistiram em transformar a Maçonaria em um braço esotérico do espiritismo, tal como os seus antecessores ingleses insistiram em cristianizá-la.

As doutrinas que aceitam a existência das “egrégoras”, de diferentes formas, afirmam que elas estão presentes em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações, ou mesmo nas assembleias religiosas,  “plasmada pelo  somatório de energias físicas, emocionais e mentais dos membros do grupo, na forma de uma poderosa entidade autônoma que adquire individualidade e interfere nas vidas e nos destinos das pessoas, sendo capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora”.

Após ler e refletir bastante sobre o tema fiz algumas observações e alguns questionamentos que divido com os irmãos. Não considero nenhum absurdo aceitar que a reunião de várias pessoas, mentalizando e direcionando os seus pensamentos para o alcance de um objetivo comum possa gerar uma energia “positiva‟ que proporcionará “aos membros desse grupo‟ uma sensação de bem estar, de alívio de tensão ou algo similar; também aceito que o contato físico – como na Cadeia de União – amplie essas sensações, pois serve para renovar e fortalecer o companheirismo que deve existir entre os irmãos, relembrando-lhes sempre que o objetivo primário da Maçonaria é nos unir de modo que formemos um só corpo, uma só vontade e um só espírito. Mas, como aceitar, ou crer, que a “energia‟ emanada de nossas mentes possa plasmar uma “entidade‟ movida por vontade própria que irá interferir – para o bem ou para o mal – nas vidas e nos destinos das pessoas? Ou que seja capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora. Como isso poderia acontecer sem considerarmos o fator “sobrenatural‟?

Aceitar tal fato, sem questionamento, é fugir do racional. É mais lógico fundamentar essa crença à interferências de conceitos superficiais ou subjetivos ligados a superstição, que não necessitam ser demonstrados, mas nos proporcionam uma falsa sensação de segurança. A maçonaria nos orienta a não nos entregarmos às superstições; logo, não podemos desprezar a lógica e a razão aceitando passivamente ilusórias promessas de felicidade e proteção advindas de “entidades‟ sobrenaturais plasmadas  em nossas sessões.

Concluindo, entendo que as chamadas “egrégoras” são quimeras sustentadas por forças motivadoras da superstição, e como tal se deve evitar a utilização dessa expressão na maçonaria, de modo a não contribuirmos à perpetuação e validação de uma falsa “entidade psíquica‟ gerada pela equivocada crença no desconhecido, que, na verdade, camufla a necessidade de mantermos um controle racional sobre os nossos temores. Mas essa decisão é pessoal e passa pela conscientização de cada um.

O maçom deve ser livre para investigar a verdade, crer naquilo que melhor lhe confortar, e deve utilizar as suas  “descobertas‟  para o seu próprio crescimento pessoal. As palavras, e até mesmo os equivocados conceitos por trás delas, se esvaecem ante o objetivo maior da maçonaria de formar livres pensadores.

APRENDENDO COM OS IRMÃOS - Alvaro Perez M:.M:.


Durante toda a vida estamos aprendendo, seja de forma deliberada, quando nos inscrevemos em curso, ou quando entramos em contato com pessoas que mesmo sem ter essa intenção nos ensinam as mais diversas coisas, às vezes muito mais valiosas do que as aprendias nos bancos escolares.

A criança, campo fértil para o ensino e aprendizagem, vai dia a dia conhecendo o mundo que a cerca e aprende a interagir com ele, por mais inóspito que seja. Com o decorrer da idade nosso aprendizado vai mudando, algumas vezes aprendemos na escola, outras vezes com os mais velhos, amigos e até com estranhos.

Entretanto algumas vezes deliberadamente nos colocamos no caminho do aprendizado, um momento especial é quando aceitamos ingressar na Maçonaria. 

Uma pergunta que ouvi mais de uma vez foi "O que você ganha fazendo parte da maçonaria?", de fato ganhar no sentido material da expressão nós não ganhamos nada, talvez até percamos uma vez que a ordem nos impõe algumas obrigações de ordem pecuniária, no entanto o "ganho" em fazer parte da Ordem Maçônica é justamente o ensinamento que recebemos diariamente, quando nos confrontamos com a moral maçônica. 

Os valores morais da ordem são sólidos a ponto de modificar nossa visão do mundo.

Ao ingressar em uma sociedade que tem por fim aprimorar o homem, não é possível ficar indiferente, e a primeira coisa que nos vem à mente é fazer uma autocrítica para saber por onde começar essa mudança. 

Quem de nós não reconhece seus próprios defeitos, mesmo que não tenha a coragem de admiti-los publicamente.

Recentemente tive a oportunidade de reunir-me com alguns irmãos para tratar de assuntos de nossa Loja e em determinado momento um irmão me perguntou seu o ingresso na Ordem me havia modificado de alguma maneira, confesso que embora no momento não tive dificuldade em admitir que eu havia mudado nesse período, somente depois, pensando melhor é que pude avaliar o quanto foi grande essa mudança. 

Apesar de ter ingressado a alguns poucos anos na instituição meus valores hoje são outros, quando olho para outra pessoa consigo ver além da imagem material que essa pessoa possui. Isso não se obtém facilmente, mas com muito estudo e perseverança, hoje tomo decisões com mais tranqüilidade e com melhor avaliação de todos os aspectos envolvidos, o conhecimento nos traz a serenidade para tomar decisões, isso evidentemente não impede que erremos, mas certamente erramos menos.

A Maçonaria, dado a seu aspecto universal e ecumênico, onde convivem pessoas de todos os povos, raças e religiões, é possivelmente a única entidade com condições de realmente levar a fraternidade a todos os recantos da terra, seus ensinamentos permeiam a sociedade em diversos níveis, visto que temos em nossas fileiras Irmãos de todas as classes sociais. 

Se isso, no entanto é um privilégio, por outro lado nos impõe uma obrigação, pois de nada serviria uma organização com essas características se ela não tiver o poder de transformar o mundo. 

Hoje vemos diariamente nos meios de comunicação atrocidades sendo cometidas em várias partes do planeta, e parece que isso não consegue mais nos indignar. 

Em que momento deixamos que isso ocorresse conosco? 

Como pode um pai de família ouvir com indiferença que uma criança foi molestada sexualmente dentro de sua própria casa pela pessoa que devia protege-la, em que momento perdemos nossa capacidade de revolta e indignação?

Onde estão os milhões de maçons espalhados pela terra, quando essas ações se perpetuam? 

A pouco tempo ouvi de um eminente maçom uma frase que no primeiro momento me chocou, mas depois percebi que ele tinha a mais completa razão; dizia ele que a Maçonaria é respeitada por todos os setores da sociedade, menos pelos próprios maçons. 

Ele dizia isso no sentido de que o maçom não percebe a força que tem e não age por que não acredita em seus próprios méritos.

Nossos irmãos em outros tempos modificaram a face deste mundo, derrubaram monarquias absolutistas, interviram decisivamente na independência de vários países, inclusive o nosso, libertaram escravos e tornaram o mundo mais humano. 

E nós no conforto de nossos lares não temos a coragem de organizar uma ação que modifique esse estado de coisas em que vivemos.

A criança que hoje nasce espera receber de nós o exemplo e a sinalização do caminho a ser seguido, se o que ensinarmos for indiferença e inércia, não podemos esperar que eles aprendam coisa diversa.

A oportunidade que temos de reunirmos, semanalmente em um ambiente reservado, onde podemos tratar livremente de qualquer assunto, é um privilégio que não podemos desperdiçar, lembrem-se que os nossos irmãos de outrora chegaram a ser mortos simplesmente por serem maçons.

De que vale o conhecimento e o aprimoramento pessoal que adquirimos se isso não for o motor de algo maior que nós mesmos? 

Acredito que a solução de graves problemas estão mais próximos da solução do que nós imaginamos, basta vencermos alguns vícios, como orgulho e vaidade e unirmos em torno de um objetivo comum. 

Já dizia o filósofo "Você pode escolher o que plantar, mas será obrigado a colher o fruto de seu trabalho"

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fevereiro 05, 2022

AS QUATRO VIRTUDES CARDEAIS NA VISÃO MAÇÔNICA - Ir. José de Sá, MM



A origem histórica das Virtudes Cardeais surgiu com Platão (427 a.C.–347 a.C.) no seu Livro “República”, ao reportar sobre as qualidades da cidade, descreveu as quatro virtudes que uma cidade devia possuir.

Para ele, as virtudes fundamentais eram:

- Sabedoria ou Prudência;

- Fortaleza ou Coragem;

- Temperança e

- Justiça.

Posteriormente, convencionou-se chamar estas virtudes de Cardeais, ou fundamentais, aquelas pelas quais tudo o mais devia girar.

Podemos observar que Platão desenvolveu, primeiramente, as virtudes da cidade, somente depois é que as vinculou à conduta humana, tendo em vista que achava que a conduta citadina, ou pessoal, não tinha diferença alguma.

Sabemos que VIRTUDES são todos os hábitos constantes que levam o homem para o bem. 

As Virtudes Cardeais são frequentemente representadas por diversas figuras, geralmente do sexo feminino. 

São denominadas Essenciais, através das quais todas as outras decorrem e funcionam como dobradiça, pois estas virtudes devem girar ao seu redor, isto decorre da palavra Cardeal, que é oriunda de cardo = gonzo = dobradiça.

Assim, historicamente podemos observar que a Maçonaria não é a fonte original dessas virtudes, as quais remontam à época dos filósofos gregos, no tempo de Sócrates, Platão, Aristóteles. 

Até pelos menos o ano de 1750, nenhum dos manuscritos maçônicos ou exposições ritualísticas continham qualquer referência às “Quatro Virtudes Cardeais”, as quais possuem um valor intrínseco para os maçons, sendo por isso mesmo valores empregados na prática da vida. 

Estas Virtudes podem estar dentro dos rituais maçônicos sem qualquer conexão direta com a experiência iniciática ou ao simbolismo maçônico.

Elas podem ser assim enunciadas:

1ª.- SABEDORIA OU PRUDÊNCIA: 

Tem sede na parte racional da alma.

É o conhecimento justo da razão.

Aquela que nos guia, ensinando-nos a regular nossas vidas e ações, consoantes os ditames da razão, possibilitando-nos a oportunidade de julgarmos, sabiamente, todas as coisas referentes aos nossos atos praticados no presente, para que venhamos preparar a nossa felicidade futura.

Esta Virtude deve ser a característica peculiar de todo maçom, não somente para o seu comportamento enquanto na Loja, mas também, em suas atividades no mundo profano. 

Em seu sentido mais abrangente, a Sabedoria ou Prudência, não proclama somente cautela, mas também a capacidade de julgar antecipadamente as prováveis consequências de nossas ações, na conduta de suas atividades, tanto da mente como da alma, de onde se originam o pensamento, o estudo e o discernimento. 

Em consequência, podemos concluir que a sabedoria ou prudência, é, sem dúvida alguma, a Virtude que nos guia..

2ª)- FORTALEZA OU CORAGEM: 

Para o maçom é ela que nos sustenta no nobre e constante propósito da mente, segundo o qual somos capacitados a não sofrer mais nenhuma dor, perigo ou risco. 

Ela não apenas simboliza a coragem física como a moral.

Devemos ter a capacidade de tomar uma decisão baseada em nossas próprias convicções de moralidade e cumpri-la, independentemente das consequências, e sempre apresentar, constantemente, os mais elevados dogmas de decência e ética em nossas vidas, principalmente se a sociedade se mostrar desfavorável a estes preceitos de moral e ética.

3ª)- TEMPERANÇA:

Esta virtude é a que nos purifica isto por que ela é a moderação sobre os nossos desejos e paixões, que tornam o corpo domesticado e governável, libertando a mente das tentações do vício. 

A Temperança deve ser a prática de todos os maçons uma vez que devemos aprender a evitar os excessos ou qualquer hábito tendencioso. 

Ela traduz a qualidade de todos aqueles que possuem moderação sendo por isso, parcimoniosos.

4ª)- JUSTIÇA: 

É o padrão ou o limite daquilo que seja correto.

Ela é, por assim dizer, o guia de todas as nossas ações que nos permite dar a cada um o seu justo e devido valor, sem qualquer tipo de distinção. 

Esta virtude não é apenas consistente com as leis divinas e humanas, mas é também, o alicerce de apoio da sociedade civil com a justiça e constitui o homem verdadeiro, e deve ser a prática invariável de cada ser humano. 

Ela também simboliza a igualdade para os maçons, pela qual deve reger suas próprias ações e conduta, 

empreendendo-as, porque é seu desejo e não por ser forçado a fazê-lo.

Em corolário, podemos observar que todas as Virtudes têm seu grande mérito, isto porque elas são indícios de progresso no caminho do bem.

Há virtude sempre que existe resistência voluntária ao arrastamento das tendências.

Todavia, a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem qualquer segunda intenção.

Por mais que lutemos contra os vícios, não chegaremos a extirpá-los enquanto não os atacarmos pela raiz, enquanto não destruirmos a sua causa. 

Que todos os nossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da Humanidade.

Que o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, nos ilumine cada vez mais para que possamos praticar, corretamente, o que nos preceitua o nosso Ritual, que assim estabelece: 

*“DEVEMOS EDIFICAR TEMPLOS AS VIRTUDES E CAVAR MASMORRAS AOS VÍCIOS”*, isto porque:ESTA É A NOSSA GRANDE MISSÃO.

COMPANHEIRO E COMPANONNAGE NA MAÇONARIA


É sabido que, até o ano de 1738, quando houve a revisão da Constituição de Anderson feita em 1723, havia somente dois graus na Maçonaria: o Entered Apprentice (vide Pílula Maçônica nº 8) que é o nosso APRENDIZ e o Fellow Craft que é o nosso COMPANHEIRO.

O grau de Master, que é o nosso MESTRE, apareceu somente após 1738, como mencionado, inclusive com o aparecimento da Simbologia, Alegorias, Lendas, etc, que na fase Operativa da Maçonaria não existiam, mesmo porque nessa fase, a Maçonaria era muito ligada à Igreja Católica e isso não era permitido.

Por sua vez, o COMPANONNAGE, era uma Associação de Trabalhadores de uma mesma profissão que tinha, também, uma assistência mútua e era requisitada pelos Cavaleiros Templários, para construção e/ou reconstrução de suas fortalezas ( quem tiver oportunidade visite a fortaleza de Tomar em Portugal) e seus membros também eram chamados de “companheiros”.

E como escreveu nosso pranteado Mestre Ir∴ Castellani, no livro “Cartilha do Companheiro”:

“...não se deve, todavia, confundir o Grau de Companheiro Maçom, com o Companonnage – associação de companheiros – surgido na Idade Média, em função direta das atividades da Ordem dos Templários... e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria. O Companonnage foi criado porque os Templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos; assim organizaram-nos de acordo com sua própria doutrina, dando-lhes um regulamento chamado Dever. E esses trabalhadores construíram formidáveis cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho herdados da Antiquidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto tem maravilhado, esteticamente, a Humanidade”.

Fonte: Pílulas Maçônicas

fevereiro 04, 2022

O QUE É FILOSOFISMO? - Kennyo Ismail


Kennyo Ismail é professor universitário, escritor, editor, um dos mais importantes intelectuais maçônicos
 do Brasil.

Constantemente escutamos os Irmãos se referindo aos Graus Superiores dos Ritos como “filosofismo”. Muitos autores maçônicos brasileiros costumam fazer a divisão dos graus maçônicos entre “Simbolismo” e “Filosofismo”, entre eles, Rizzardo da Camino e uma infinidade de Grandes Inspetores Gerais da Ordem. Outros poucos maçons estudiosos dizem que essa palavra, filosofismo, simplesmente não existe. Que teria sido inventada no seio da Maçonaria.

Ambos estão errados.

A palavra existe e, em poucas palavras, significa “falsa filosofia”. Gabriel Perissé (2008), Doutor em Educação pela USP, escreveu que “filosofismo é a filosofia que virou jogada, pretexto, mania, suborno, insulto. O filosofista finge que pensa…”. Já no Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, organizado por Francisco Borba (2004), filosofismo é “ostentação exagerada de princípios e conceitos filosóficos; uso de considerações filosóficas onde elas não têm cabimento; filosofia sem fundamento.”

Fica claro que a maçonaria brasileira, de forma geral, tem usado o termo de modo totalmente equivocado. Estamos com isso nos autointitulado de “falsos pensadores”, enquanto que nossos Ritos são sistemas completos de ensinamentos morais e espirituais, todos comprometidos com a busca da Verdade.

O termo filosofismo surgiu em nossa Sublime Ordem da generalização de que os Graus Superiores do REAA, do 04º ao 33º, são “Graus Filosóficos”. Com base nisso, chamam os Graus Simbólicos de “simbolismo maçônico” e os conhecidos como Graus Filosóficos acabaram sendo chamados de “filosofismo maçônico”. Mas esse é outro grande equívoco cometido pelos Irmãos, por influência dos pseudo-sábios de nossa instituição. Na verdade, apenas os graus 19º a 30º do Rito Escocês são considerados filosóficos. A divisão correta dos graus do REAA se dá da seguinte forma:

01º a 03º – Graus Simbólicos

04º a 14º – Graus Inefáveis

15º ao 18º – Graus Capitulares

19º a 30º – Graus Filosóficos

31º a 33º – Graus Administrativos

Na próxima vez que você se referir de forma abrangente aos graus que não compõem a Maçonaria Simbólica, ou seja, os graus posteriores ao grau de Mestre Maçom, use o termo “Graus Superiores”. Independente se são filosóficos, capitulares, crípticos, administrativos ou de cavalaria, essa é a melhor expressão para tratar desses graus em praticamente todos os Ritos Maçônicos. A única exceção é observada no sistema maçônico da Inglaterra, em que os graus posteriores ao de Mestre Maçom são considerados “paralelos”, e não superiores, visto ser um sistema não-sequencial.

Portanto, mesmo que esteja se referindo apenas aos Graus Filosóficos do REAA (19º ao 30º), não utilize o termo “filosofismo”. Abolindo o uso do termo “filosofismo” na Maçonaria, você estará ajudando a evitar a difamação da nossa Sublime Ordem, mesmo quando praticada por ignorância de seus próprios membros.