fevereiro 18, 2022

POR QUE 1804? - Ir. Ailton Pinto de Trindade Branco


Ir. Ailton Pinto de Trindade Branco. Presidente da Oficina de Restauração do REAA.

O nome Rito Escocês Antigo e Aceito foi anunciado para o mundo maçônico após a criação do primeiro Supremo Conselho em Charleston, Estados Unidos, em 31 de maio de 1801.

Em 4 de dezembro de 1802, uma circular levou ao conhecimento dos maçons, principalmente europeus, a criação do Conselho-Mãe em Charleston, na Carolina do Sul, denominado Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º e último Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Antes de 1801, fora fundado pelo Conde de Grasse-Tilly, um Supremo Conselho nas Índias Ocidentais Francesas, com 33 graus. Entretanto, esse Supremo Conselho foi ignorado e abafado pelo Supremo Conselho norte-americano, que conseguiu fazer-se constar como o Supremo Conselho-Mãe do Mundo.

Nos três primeiros anos de vida do Supremo Conselho norte americano, o Rito Escocês Antigo e Aceito permaneceu sem ritual próprio. Os Altos Graus funcionaram com os Graus de Perfeição do Rito de Heredom, acrescentados dos oito novos graus que totalizavam os 33. Os novos graus não eram Iniciáticos e ganharam conteúdo mais administrativo que litúrgico. Os Graus Simbólicos, na época conhecidos como Maçonaria Azul, foram os da ritualística norte americana.

O segundo Supremo Conselho criado foi o de France, em 1804, quando também foi confeccionado o primeiro ritual dos graus simbólicos do Rito, o “Guide des Maçons Écossais”. Foi idealizado pelos maçons franceses, apelidados de “escoceses”, que fundaram nesse mesmo ano, 1804, uma nova Obediência Maçônica em Paris: a “Grande Loja Geral Escocesa”, mais uma Loja-Mãe do Rito Antigo Aceito, um modelo ritualístico recebido dos maçons integrantes da Grande Loja dos “Antigos” de Londres. A Grande Loja Geral Escocesa de Paris uniu particularidades do Rito Antigo Aceito, de origem operativa, praticado na Escócia, com a natureza hebraica do Rito de Perfeição e organizou um ritual para os graus ditos simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.

LOJAS-MÃE ESCOCESAS NA FRANÇA

Assim como no presente se associa naturalmente Supremo Conselho com Rito Escocês Antigo e Aceito, pode-se considerar a mesma associação no passado entre maçonaria azul e as Lojas-Mãe Escocesas. Na França, a primeira Loja-Mãe Escocesa foi a de Marselha, criada em 1751, coincidindo com a fundação da segunda Grande Loja em Londres, que se declarou dos “Antigos Maçons”. A segunda Loja-Mãe na França foi a de Avinhão e a terceira, a Grande Loja Geral Escocesa, já referida, criada em Paris, em 1804, para organizar o ritual que serviu para os três graus básicos dos 33 da vertente latina do Rito Escocês Antigo e Aceito.

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO NASCEU SEM GRAUS SIMBÓLICOS PRÓPRIOS

O Supremo Conselho fundado em 1801, nos Estados Unidos, veio para organizar a maçonaria praticada nos chamados Altos Graus, entre os quais estavam os do Rito de Heredom, criado a partir de 1758 e usado como referência para a criação do Rito Escocês Antigo e Aceito. O novo Rito se constituiu literalmente de 33 graus. Na prática, dos 33 graus, o Supremo Conselho de Charleston interessou-se em comandar do 4 ao 33, não se envolvendo com os três primeiros para evitar conflito com a maçonaria norte americana das Lojas Azuis. Desistiu de qualquer tipo de ingerência nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre do Rito Escocês Antigo e Aceito. E com essa mesma concepção, o Rito chegou na França, em 1804, através do Supremo Conselho fundado em Paris, dentro do Grande Oriente de France, que tinha o Rito Moderno, ou Francês, como oficial. 

Inicialmente, o Supremo Conselho de France manteve o mesmo modelo de seu precursor americano: deixou os graus simbólicos para a Grande Loja Geral Escocesa, criada também em 1804, para organizar os graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, que funcionou, ao exemplo do Supremo Conselho, dentro do Grande Oriente de France. A partir de 1816, com o desaparecimento da Grande Loja Geral Escocesa, o Grande Oriente assumiu as atribuições do simbolismo escocês antigo na França e, ao faze-lo, diminuiu a autoridade do Supremo Conselho sobre o número de graus, criando, sob sua jurisdição, as Lojas Capitulares, que trabalham dos graus 1º ao 18º do Rito Escocês Antigo e Aceito. Nessa ocasião, lançou um novo ritual para as Lojas Capitulares, em 1820, implantando diversas alterações no ritual de 1804.

O ritual de 1804, em linhas gerais, reproduz os procedimentos praticados pelos maçons da Grande Loja dos “antigos” de Londres. Algumas diferenças foram inevitáveis para conciliarem a ritualística da maçonaria azul dos “antigos” com o simbolismo fundamental dos Altos Graus. Por isso, o Primeiro Vigilante foi deslocado do centro do Ocidente, em frente ao Venerável Mestre, para junto da Coluna do Norte e o Segundo Vigilante trazido do meio da Coluna do Sul para a ponta da mesma Coluna, ambos lado a lado no Ocidente. A nova distribuição das Luzes no Templo compatibilizou-as com a encontrada nos graus acima do 3, os Graus de Perfeição recolhidos do Rito de Heredom.

AS DUAS VERTENTES DE INFLUÊNCIA NO RITO

A idéia de um rito maçônico originário do movimento de criação dos Supremos Conselhos a partir dos Estados Unidos da América, que ganhou o nome de Rito Escocês Antigo e Aceito, se apoiou na certeza de que o importante no arcabouço do Rito seriam os Altos Graus. A maçonaria azul teria o papel apenas de base do edifício, servindo de arregimentadora de pretendentes. O primeiro Supremo Conselho concebeu o Rito com 33 graus, mas deu aos três primeiros importância mínima, não lhes revestindo da roupagem própria do escocesismo. Aproveitou o que já existia no país e sobre eles montou a estrutura principal do 4º ao 33º. Presentemente, considera-se que essa foi a vertente anglo-saxã do Rito Escocês Antigo e Aceito, que permanece sem rituais próprios para Aprendiz, Companheiro e Mestre. Nos Estados Unidos o Rito existe do grau 4º para cima. Não há Loja especializada em trabalhos simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.


A existência de duas influências ritualístico-institucionais foi materializada após a chegada do Rito na França. Até 1813, as Lojas-Mãe Escocesas lideraram a maçonaria azul na França e mantiveram a ritualística sem alterações. A fusão das duas Grandes Lojas inglesas, a dos “modernos” e a dos “antigos”, na atual Grande Loja Unida da Inglaterra, enfraqueceu a posição das Obediências que preservavam a ritualística dos “antigos”, como foi o caso das Lojas-Mãe Escocesas, que desapareceram nos anos seguintes. 

Quando o Grande Oriente de France assumiu os Graus Simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito e criou as Lojas Capitulares, estabeleceu um segundo modelo de funcionamento e jurisdição para o Rito. Os Altos Graus se constituíram do 19º ao 33º sob a hegemonia do Supremo Conselho e os graus abaixo desses ficaram sob a autoridade do Grande Oriente. 

As divergências entre o Supremo Conselho de France, de um lado, e os Supremos Conselhos dos Estados Unidos e da Inglaterra, de outro, dividiram o Rito Escocês Antigo e Aceito em duas vertentes; uma ortodoxa, a anglo-saxônica, e uma heterodoxa, latina ou francesa. Foram alterados alguns procedimentos ritualísticos, símbolos e até a concepção interna do Templo. Uma das principais modificações foi a implantação de um desnível que passou a caracterizar o Oriente como uma região geográfica delimitada e não mais constituída apenas pelo Venerável Mestre.

 A cor igualmente foi trocada. O azul da maçonaria azul cedeu lugar para o vermelho do Grau Rosa-Cruz, o mais elevado da Loja Capitular, e os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre passaram a fazer parte de uma denominação nova; o simbolismo, que recebeu o vermelho. O simbolismo substituiu a maçonaria azul. Assim se formou a vertente latina do Rito Escocês Antigo e Aceito. 

Mais tarde, os Supremos Conselhos do mundo inteiro reivindicaram o retorno para o sistema inicial, ou seja, com poderes sobre o conjunto de graus a partir do 4º e se estendendo até o 33º, ocasionando o desmantelamento das Lojas Capitulares. No entanto, as cores permaneceram as duas, dependendo da vertente e a ritualística também, pois o simbolismo da vertente latina é diferente da vertente anglo-saxã.

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Bibliografia:

ABRINES, Frau e ARDERIU, Arus. Diccionário Enciclopédico dela Masonería. Kier S/A, Buenos Aires, Argentina, 1962.GOULD, Robert Freke. The History of Freemasonry. Thomas C. Jack, London, 1887.

GRANDE ORIENTE DE FRANCE. Prólogo do Ritual Rite Écossais Ancien & Accepté. Paris, 2000. HORNE, Alex. O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. Pensamento, São Paulo, 1999.

LANTOINE, Albert. Histoire de la Franc-Maçonnerie Française. Slatkine Reprints, Genéve-Paris, 1981.

NAUDON, P. Histoire, Rituels et Tuiler des Hauts Grades Maçonniques. Dervy Livres, Paris, 1984.

PALOU, Jean. A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática. Pensamento, São Paulo, 1998.

PROBER, Kurt. História do Supremo Conselho do Grau 33º do Brasil. Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981.

STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria – O Século da Escócia (1590-1710). Madras Editora, São Pau- lo, 2005.

LOJA DE MESA - Pedro Juk




Questão apresentada em 17/12/2013 pelo Respeitável Irmão Cleber Barros Cunha, Loja Acácia Acesita, 2.229, REAA, GOB-MG, Oriente de Timóteo, Estado de Minas Gerais.

Escrevo-lhe para solicitar-lhe esclarecimento sobre o Jantar Ritualístico. Pela minha caminhada maçônica, tenho participado de vários Jantares Ritualísticos e tenho percebido divergências entre estes, considerando-se inclusive que nestes normalmente participam Irmãos de outras potências. Nesta última semana, entretanto, fiquei surpreso em participar de um Jantar Ritualístico (coordenado por uma Loja do GOB) onde tínhamos cinco saudações, sendo que o que até então eu conhecia eram sete. Após o Jantar Ritualístico propriamente dito, foi realizada a Cadeia de União, com o propósito de solicitar apoio do GADU a todos irmãos. Pergunto: existe no GOB uma ritualística definida? Quantas devem ser as saudações (acredito que seria em número de sete) e para quem? Poderá ter a Cadeia de União (acredito que não)? Poderá ter Saudação à Bandeira? Complemento que também já participei de Jantar Ritualístico dos Corpos Filosóficos. Existe neste caso uma definição?

Considerações:

O ideal mesmo é que identificássemos essa tradição como Loja de Mesa. Infelizmente essa tradição maçônica além de ser tratada como “jantar” está muito longe de cumprir a verdadeira tradição. 

Com o passar dos tempos editaram-se inúmeros rituais, escreveu-se literatura que fora acrescida de invenções copiadas umas das outras e tomadas como bibliografia séria, e por aí se vai. 

O resultado desses “embrulhos” é essa festa de atentado contra a tradição que se vê por esse mundo maçônico afora – reuniões realizadas fora das datas solsticiais e equinociais, brindes e fogos sem sentido, sinais maçônicos executados por comensais sentados, desordem na mesa, enfim, verdadeiras badernas e atentado contra a ritualística. 

Geralmente chamam isso de “jantar ritualístico”. O hilário é que ainda chamam essas reuniões de ritualística. Uma dessas origens deturpadas está nos rituais rançosos e ultrapassados existentes por aí que tem servido para alguns como artigo de luxo e fidedigno da história – pobre literatura...

O que se dizer então das saúdes de obrigação se a grande maioria pensa que o ato é mesmo uma festa.

Como compreender então que existe um número certo para as saúdes e momento propício para a “demolição dos materiais”?

Quanto a Cadeia de União alguns ritos a adotam, todavia ela tem uma forma especifica para ser executada, inclusive no que tange a sua finalidade, porém não a de ficar pedindo apoio para os convivas.

Saudação ao Pavilhão na Loja de Mesa é mais uma dessas invenções!

Alguns costumes tradicionais dos canteiros maçônicos variam entre sete ou oito saúdes de obrigação. Geralmente ao Mestre, à Loja, ao País, à família, aos Irmãos, aos que partiram aos frutos produzidos na estação (ciclos da Natureza) e à proteção para conduzir os que com dificuldades encontrem um porto de salvamento.

Com o advento da Moderna Maçonaria surgiram brindes “no melhor fogo possível” à Obediência e a figura do Grão-Mestre.

Dentro dessa tradição surgem as particularidades ritualísticas conforme as datas solsticiais (junho e dezembro) e as equinociais (março e setembro). Existe a formatação dos Sinais e os objetos específicos (alfanje, picareta, telha, bandeja, canhão, barricas, alinhamento, pólvoras, areias branca e amarela, etc.). Cada saúde de obrigação é constituída pelos movimentos de sorver a pólvora, fraca ou forte, como “fogo”, “bom fogo” e “o melhor de todos os fogos” – origem do jargão popular “o fulano está de fogo”, etc., etc., etc. Infelizmente pouco disso de vê nesses “jantares” que ainda chamam de ritualísticos.

Atualmente as Obediências, como é o caso do GOB, têm editado rituais especiais que neles também tratam desses “jantares e banquetes” (sic). Esses eu prefiro não comentar.

No tocante às celebrações de Corpos Filosóficos essas são particularidades desses Corpos e não traduzem as tradições dos Canteiros Medievais e das respectivas Tabernas como espaços tradicionais hauridos da pura Maçonaria inicialmente com duas classes de trabalhadores operativos na pedra calcária.

Finalizando, estou preparando um livro para os próximos anos que tratará de modo acadêmico esse importante costume maçônico. Não é pretensão minha, todavia o meu objetivo é clarear melhor esse caminho para ilustrar a diferença entre reunião de comensais, confraternizações e outros afins de uma verdadeira Loja de Mesa. 

Nesse contexto já adaptei e formatei dois projetos de rituais para o REAA (solsticial – João Batista e o Evangelista; equinocial – de outono e de primavera) para laboratório de estudo nesse particular, cujo conteúdo tenho deixado à disposição dos Irmãos interessados no estudo maçônico, todavia não como um ritual oficial.

fevereiro 17, 2022

PAIS DESNECESSÁRIOS - Dalai Lama



Os bons pais são aqueles que vão se tornando desnecessários com o passar do tempo.

Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou

estranha.  Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.  Uma batalha hercúlea, confesso.  Quando começo a esmorecer na luta para controlar os super- pais que todos temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.

Se eu fiz o meu trabalho, tenho que me tornar desnecessário.

Antes que alguma mãe/pai apressado me acuse de desamor, explico o que significa isso.

Ser "desnecessário" é não deixar que o amor incondicional de pais, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.  A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.  A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, pais e filhos.

Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida.  Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.  O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.  Esse é o maior desafio e a Resposta a ser "desnecessários", nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

"Dê a quem você Ama : - Asas para voar...- Raízes para voltar...


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MAÇONARIA OPERATIVA - Francisco Carromeu



Francisco Carromeu, M∴M∴, R∴L∴ Madrugada, nº 508 a Or∴ de Lisboa, G∴O∴L∴ 

A Maçonaria, tal como hoje a conhecemos e com as poucas alterações que foi sofrendo ao longo do tempo, é a mesma que nasceu da constituição da Grande Loja de Londres, em 1717, pela reunião das quatro lojas que a fundaram. Desse ato fundador da Maçonaria Moderna, também designada de especulativa, relevam três características fundamentais que a definem: a variedade de profissões a que pertencem os seus membros, a tolerância religiosa e política entre si e em relação aos outros e, finalmente, a adopção de um ritual e de um conjunto de normas estatutárias, derivadas das antigas corporações de ofícios da Idade Média. 

Estas três características, se por um lado, legitimam a nova maçonaria como a continuadora daquelas instituições medievais, porque encontramos nelas, formas, expressões e comportamentos que se revê nas lojas maçónicas, por outro lado, elas não podem ser entendidas como uma mera evolução da primeira. Primeiro, porque as lojas fundadoras da Grande Loja de Londres não eram antes operativas, ou qualquer outro tipo de confrarias ou corporações e os seus membros não tinham essa proveniência; segundo, porque essas corporações tinham a singularidade de congregar indivíduos da mesma profissão ou de profissões afins, enquanto as lojas maçónicas se caracterizam, precisamente, pela sua interprofissionalidade ; terceiro, porque as primitivas associações medievais adoptavam um santo protetor, ou orago, à volta do qual se desenvolvia uma liturgia própria, ao contrário das lojas maçónicas, onde essa questão é ultrapassada pela designação de Grande Arquiteto do Universo, sem definição objetiva, para que cada um reveja nele, ou a partir dele, o fundamento das suas convicções religiosas e o possa aceitar como seu. 

É claro que estas preocupações se explicam melhor, se enquadrarmos a fundação da Grande Loja de Londres, na Inglaterra de princípios do século XVIII. Alguém lhe chamou o século da tolerância porque sucedeu a um outro que foi o seu contrário - um longo período, longamente castigado pelos conflitos religiosos, com vítimas que se contavam às centenas de milhar e com os consequentes reflexos no tecido social e na estrutura do poder político, instabilizado no interior e, por isso, fragilizado para enfrentar os concorrentes europeus, também eles a passar por dificuldades semelhantes. 

Para uma Inglaterra que havia assumido uma rebelião radical contra Roma e contra a autoridade papal, era compreensível o aparecimento de certos focos do grande conflito religioso que continuava em toda a Europa, enquanto se não definisse a estrutura de uma nova religião, que fosse suficientemente autónoma e distante das questões pelas quais se rebelara. Mas a Igreja católica tinha enveredado pela via mais radical e definia as novas regras nas conclusões do Concílio de Trento. Era a separação das águas que o protestantismo agradecia como legitimação da sua dissidência. A via protestante do cristianismo europeu tinha agora um caminho mais fácil a percorrer. 

Ao longo do século XVII e com o fim do consulado de Cromwell, a Inglaterra possuía uma igreja própria, a anglicana, autónoma em relação a Roma, mas faltava-lhe uma organização de elite que tivesse uma função reguladora da sociedade, da moral e dos costumes, mas que não deixasse de promover um certo dinamismo social e económico, de que o país tanto precisava; que fosse uma espécie de superestrutura que, tanto protegesse as instituições nacionais como também lhes conferisse uma acentuada competitividade, numa Europa onde o Antigo Regime já ia dando muitos sinais de cansaço, sem deixar vislumbrar os contornos da nova ordem. Estabilizadas as instituições inglesas, havia agora que propiciar-lhes um terreno fértil para se desenvolverem, promover as melhores condições para a congregação de uma massa crítica, intelectual, científica, religiosa e política, que atravessasse horizontalmente as classes e permitisse um debate de ideias, livre e alargado. 

É este o contexto em que aparece a Maçonaria Moderna, vinda do interior de um sistema político e religioso que defenderá sempre, enquanto cria as mais diversas dinâmicas de crescimento, na sociedade, na economia e nas organizações. A Inglaterra, como toda a Europa, tinha uma longa experiência de instituições corporativas que congregavam a maioria das atividades artísticas e comerciais, tinham rituais próprios e seletivos de entrada de novos membros e uma prática operativa só conhecida dos seus iniciados. É essa prática secreta que a Maçonaria Moderna importa e a coloca ao serviço e ao alcance de indivíduos pertencentes a várias classes, fazendo dessa nova organização uma Ordem de consciência e de valores. Se a Maçonaria Moderna tivesse saído do interior dessas organizações, podíamos conhecer as fases e as formas dessa evolução, as contestações internas e as dificuldades próprias de cada processo evolutivo. Mas não, as confrarias, as irmandades, as corporações de artes e ofícios, não se deram conta do nascimento da Grande Loja de Londres e o percurso de ambas decorreu afastado e sem pontos de cruzamento. 

Não foram, portanto, essas instituições da antiga maçonaria operativa que se desenvolveram no sentido da maçonaria especulativa. Delas, a Maçonaria Moderna só aproveitou a forma simbólica e ritualista que a legitimou. Se assim não fosse, poderíamos supor que a Maçonaria especulativa bem poderia ter surgido num outro qualquer país da Europa, como em França, em Itália, em Espanha ou em Portugal. A maçonaria moderna, da forma como a conhecemos desde 1717, não podia ter resultado do desenvolvimento das confrarias ou das corporações de ofícios, como as conhecemos em Portugal. As suas histórias são importantes, sem dúvida, sábias nas formas como definiram e aperfeiçoaram determinadas atividades ou artes, ricas nos elementos ritualísticos, simbólicos e iniciáticos que desenvolveram. Neste aspecto, a maçonaria moderna pode reivindicar para si uma herança que lhe pertence por inteiro, mas se repararmos na vida destas instituições, no tempo em que elas coexistem, apresentam percursos paralelos sem nunca se terem cruzado, é descontínua. Das corporações de artes e ofícios, há uma herança imaterial que a maçonaria moderna recebe e adapta ao racionalismo do século XVIII, mas a herança material e humana, transfere-se para a diversidade das novas instituições nascidas da Revolução Industrial, as Academias e as novas Universidades, as Ordens profissionais e, mais tarde, os Sindicatos. 

A história portuguesa assinala a existência de inúmeras corporações, confrarias e irmandades, com uma extraordinária capacidade de intervenção na sociedade e na economia. Essas instituições tiveram, algumas desde os primórdios da nacionalidade, uma ação determinante na própria formação do estado e da nação portuguesas, sem que se tenham deixado contaminar com as prerrogativas do poder político ou do poder religioso e é pena que ainda escasseiem as monografias sobre elas que, cremos, bem podiam confirmar esta asserção. Casos como o da Casa dos Vinte e Quatro, o das Ordens Religiosas e Militares, o do movimento das Misericórdias e o da Irmandade de São Lucas, são alguns desses casos, mas há outros, e muitos, que continuam a aguardar quem os estude devidamente.

fevereiro 16, 2022

A MAÇONARIA NÃO É UMA SOCIEDADE SECRETA - Rui Bandeira



Em relação à Maçonaria criou-se um mito, frequentemente repetido, em tom acusatório, pelos detratores da maçonaria: a Maçonaria seria uma “sociedade secreta” e, assim sendo, boa coisa não é (pois, se o fosse, não necessitaria de ser secreta).

Não é verdade. A Maçonaria não é uma sociedade secreta, antes é uma associação que existe e funciona ao abrigo das leis civis e no integral respeito do que estas postulam. Qualquer Obediência maçónica existe enquanto pessoa jurídica coletiva, normalmente organizada sob a forma de associação, devidamente registada no Registo Nacional de Pessoas Coletivas em Portugal e nos serviços equivalentes nos outros países, constituída por escritura notarial, arquivada onde a lei do país em que se insere determina, fiscalmente manifestada e, a exemplo das demais pessoas coletivas, cumprindo as obrigações fiscais que a Lei determina, com os seus órgãos sociais designados pela forma que a Lei e os seus Estatutos determinam e publicitados pela forma que a Lei determina. Enfim, a Maçonaria Regular, que tem por princípio fundamental o respeito da legalidade vigente, existe e funciona ao abrigo e cumprindo as leis em vigor nos Estados onde funciona, como qualquer outra associação nesse Estado existente.

No entanto, e como já o Ministro da Propaganda nazi, Joseph Goebbels, descaradamente referia, uma mentira mil vezes repetida passa a ser entendida por muitos como verdade.

E a mentira de que a Maçonaria é uma sociedade secreta tem vindo a ser muitos milhares de vezes repetida, ao longo de mais de três séculos. O poder e persistência desta mentira são proporcionais às forças de quem a lançou e repetidamente a sustentou ao longo do tempo: a alta hierarquia da Igreja Católica.

Que a alta hierarquia da Igreja Católica não tenha visto com bons olhos a Maçonaria, é compreensível: tratava-se de uma agremiação nascida num país que, em termos religiosos, se rebelara contra a Igreja de Roma – a Inglaterra; e a Maçonaria consumava um princípio que então (muito antes de o ecumenismo ser um conceito aceite pela Igreja Romana) lhe era insuportável: a junção, a colaboração fraterna, entre crentes de diferentes religiões. Com efeito, a Maçonaria postula um princípio fundamental, inerente à hoje aceite e comum, na sociedade ocidental, noção da liberdade religiosa, que é o de que a crença religiosa de cada um só a ele diz respeito e que homens livres e de bons costumes podem auxiliar-se mutuamente na sua respetiva evolução ética e espiritual, independentemente das respetivas crenças religiosas. Quaisquer diferenças nestas são de somenos em face da essencial semelhança do que é ser Homem, da Ética que a todos deve unir, do comum anseio de melhoria, de aperfeiçoamento pessoal, moral e espiritual. Compreende-se que esta noção não seja bem vista para uma conceção religiosa que entende que o caminho para a Salvação é o da sua religião e não o de qualquer outra (e essa era a postura da alta hierarquia da Igreja Católica, pelo menos até ao Concílio Vaticano II).

Bastaram 21 anos, a contar da fundação de Premier Grand Lodge, em Londres, em 1717, para a alta hierarquia da Igreja Católica efetuar o primeiro ataque violento à maçonaria, utilizando o falso argumento de ser a Maçonaria uma “sociedade secreta”. A primeira bula papal de condenação da Maçonaria foi subscrita por Clemente XII em 28 de abril de 1738, ficou conhecida pela designação de Bula In Eminenti e nela pode ler-se, designadamente (destaque meu):

Agora, chegou a Nossos ouvidos, e o tema geral deixou claro, que certas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções chamadas popularmente de Liberi Muratori ou Franco-Maçons ou por outros nomes, de acordo com as várias línguas, estão se difundindo e crescendo diariamente em força; e que homens de quaisquer religiões ou seitas, satisfeitos com a aparência de probidade natural, estão reunidos, de acordo com seus estatutos e leis estabelecidas por eles, através de um rigoroso e inquebrantável vínculo que os obriga, tanto por um juramento sobre a Bíblia Sagrada quanto por uma variedade de severos castigos, a um inviolável silêncio sobre tudo o que eles fazem em segredo em conjunto.

A decisão anunciada na bula foi de proibição e condenação: decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações, ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco-Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proibidas.

Mas este foi apenas o primeiro ataque. Treze anos depois, Bento XIV emitiu, em 18 de maio de 1751, a Bula Provida Romanorum Pontificum, onde se pode ler:

Finalmente, entre as causas mais graves das supraditas proibições e condenações enunciadas na Constituição acima inserida, 

— a primeira é: que nas tais sociedades e assembleias secretas, estão filiados indistintamente homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica;

— a segunda é: a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembleias secretas, às quais com razão se pode aplicar o provérbio (do qual se serviu Caecilius Natalis, em causa de caráter diverso, contra Minúcius Félix): “As coisas honestas gozam da publicidade; as criminosas, do segredo”;

— a terceira é: o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar declarações ao legítimo poder, que investiga se em tais assembleias secretas não se maquina algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis;

Neste documento, o pretexto da “sociedade secreta” continua a ser invocado, mas desvendam-se as verdadeiras razões da decisão: o facto de, na Maçonaria estarem filiados indistintamente homens de todos os credos e tal “constituir um grande perigo para a pureza da religião católica” e o receio de que, nas reuniões maçónicas se maquine “algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis”.

O século XVIII não findou sem que, precisamente em 1800, mais um Papa, Pio VII, publicasse mais uma bula condenatória da maçonaria, a Bula Ecelesian a Jesus Christo, de que não consegui encontrar publicação do seu texto. O século XIX (em que, recorde-se, ocorreu a emergência da Maçonaria Irregular e da intervenção desta orientação na Coisa Pública, inclusivamente com ações revolucionárias) foi também fértil em documentos papais de condenação da Maçonaria, em que a classificação da mesma como sociedade secreta foi recorrente.

NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL, VOCÊ É ÚNICO - Sidnei Godinho




Costuma-se dizer que ninguém é insubstituível, que se você sair, outro ocupará seu lugar. 

Sim, é evidente que o espaço vazio pode ser ocupado por qualquer matéria. 

Mas nunca seria a mesma, até porque no universo, tudo se transforma. 

Certa vez ouvi afirmarem que Beethoven substituiu Mozart, quando na verdade possuíam características próprias, tanto que ao ouvir suas sinfonias é marcante distinguir um do outro.

Freud é o pai da psicanálise e um marco na psicologia investigativa com seu método da catarse.

Adler é outra referência, assim como Jung.

Contudo, ambos discordaram de Freud e também seguiram seus próprios caminhos, registrando seus legados na psicologia individual.

Nos exemplos acima temos pessoas que, em comum, possuíam a genialidade criativa e se sucederam em seus trabalhos, mas cada qual com seus próprios méritos.

Fomos todos criados à imagem e semelhança dAquele que nos fez e o que nos torna "Único" é a consciência própria que desenvolvemos no convívio familiar e social, fruto da interação natural dos relacionamentos.

Você pode ser substituído naquilo que faz, mas jamais no como você faz.

Não aceite então qualquer colocação que desmereça quem você se tornou.

Viva e trabalhe, não para ser notado, mas para que sua ausência seja sempre sentida e seu legado seja jamais esquecido.

Você não é substituível, você é "Único"!!!

Bom dia e boas reflexões meus irmãos.


fevereiro 15, 2022

SEMANA DE ARTE MODERNA - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil

Ainda que a Semana de Arte Moderna, que comemora 100  de seu acontecimento, tenha um caráter mais regional e diga mais de perto ao Estado de São  Paulo, fato é que sua importância no cenário cultural brasileiro é inquestionável.

Munido de um espírito vanguardista e da quebra de muitos paradigmas, especialmente no campo das Artes e da Literatura, esse movimento, rompeu com muitas barreiras culturais que ditavam os conceitos mais clássicos e conservadores do comportamento social à época.

A proposta do evento era a de apresentar uma estética artística e literária renovada para todos os segmentos culturais.

Cabe registrar que um dos principais, senão o principal, objetivo da Semana da Arte Moderna, era o rompimento com a estética da arte  acadêmica e dar um tom e uma identidade mais  brasileira às nossas manifestações artístico-literárias, atingindo o inclusive outras áreas culturais como a música, a poesia e a escultura dentre outras.

Figuras exponenciais desse movimento cultural brasileiro são:

Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Tarsila do Amaral  Victor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Heitor Villa-Lobos e Di Cavalcanti, dentre tantos outros.

Cada um, a seu modo, deixou registrada a sua marca, bem como seu inestimável valor histórico-cultural.

A memória de um povo é o que faz de um país, uma nação !


OS GAÚCHOS - ARNALDO JABOR

 



Em homenagem a Arnaldo Jabor postamos um de seus últimos artigos.

     O Rio Grande do Sul é como aquele filho que sai muito diferente do resto da família. A gente gosta, mas estranha. O Rio Grande do Sul entrou tarde no mapa do Brasil . Até o começo do século XIX, espanhóis e portugueses ainda se esfolavam para saber quem era o dono da terra gaúcha. Talvez por ter chegado depois, o Estado ficou com um jeito diferente de ser.

     Começa que diverge no clima: um Brasil onde faz frio e venta, com pinheiros em vez de coqueiros, é tão fora do padrão quanto um Canadá que fosse à praia. Depois, tem a mania de tocar sanfona, que lá no RS chamam de gaita, e de tomar mate em vez de café. Mas o mais original de tudo é a personalidade forte do gaúcho. A gente rigorosa do sul não sabe nada do riso fácil e da fala mansa dos brasileiros do litoral, como cariocas e baianos. Em lugar do calorzinho da praia, o gaúcho tem o vazio e o silêncio do pampa, que precisou ser conquistado à unha dos espanhóis.

     Há quem interprete que foi o desamparo diante desses abismos horizontais de espaço que gerou, como reação, o famoso temperamento belicoso dos sulinos.

     É uma teoria - mas conta com o precioso aval de um certo Analista de Bagé, personagem de Luís Fernando Veríssimo que recebia seus pacientes de bombacha e esporas, berrando: "Mas que frescura é essa de neurose, tchê?"

     Todo gaúcho ama sua terra acima de tudo e está sempre a postos para defendê-la. Mesmo que tenha de pagar o preço em sangue e luta.

     Gaúcho que se preze já nasce montado no bagual (cavalo bravo). E, antes de trocar os dentes de leite, já é especialista em dar tiros de laço. Ou seja, saber laçar novilhos à moda gaúcha, que é diferente da jeito americano, porque laço é de couro trançado em vez de corda, e o tamanho da laçada, ou armada, é bem maior, com oito metros de diâmetro, em vez de dois ou três.

     Mas por baixo do poncho bate um coração capaz de se emocionar até as lágrimas em uma reunião de um Centro de Tradições Gaúchas, o CTG, criados para preservar os usos e costumes locais. Neles, os durões se derretem: cantam, dançam e até declamam versinhos em honra da garrucha, da erva-mate e outros gauchismos. Um dos poemas prediletos é "Chimarrão", do tradicionalista Glauco Saraiva, que tem estrofes como: "E a cuia, seio moreno/que passa de mão em mão/traduz no meu chimarrão/a velha hospitalidade da gente do meu rincão." (bem, tirando o machismo do seio moreno, passando de mão em mão, até que é bonito).

    Esse regionalismo exacerbado costuma criar problemas de imagem para os gaúchos, sempre acusados de se sentir superiores ao resto do País.

     Não é verdade - mas poderia ser, a julgar por alguns dados e estatísticas.

     O Rio Grande do Sul é possuidor do melhor índice de desenvolvimento humano do Brasil, de acordo com a ONU, do menor índice de analfabetismo do País, segundo o IBGE e o da população mais longeva da América Latina, (tendo *Veranópolis a terceira cidade do mundo em longevidade*), segundo a Organização Mundial da Saúde. E ainda tem as mulheres mais bonitas do País, segundo a Agência Ford Models. (eu já sabia!!! rss) Além do gaúcho, chamado de machista", qual outro povo que valoriza a mulher a ponto de chamá-la de prenda (que quer dizer algo de muito valor)?

     Macanudo, tchê. Ou, como se diz em outra praças: "legal às pampas", uma expressão que, por sinal, veio de lá.

     Aos meus amigos gaúchos e não gaúchos, um forte abraço!

 


fevereiro 14, 2022

SÃO VALENTIM 14/2 - Adilson Zotovici



Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é poeta e intelectual maçônico.


Um exército poderoso 

Queria  Claudio, o imperador, 

Proibia com édito trevoso  

À união dos jovens em favor  


Sem casamento religioso 

Ditava fremente com torpor 

Bispo romano, amoroso,

Ignorava pois, o seu clamor 


Cria no enlace prestimoso  

E sua vida entregou em penhor 

Ao imperador desditoso 


Breve São Valentim em esplendor ! 

Aos namorados, milagroso, 

Que tudo fez em nome do amor !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif-169

[14/2 20:40] +55 48 8421-5625: https://www.facebook.com/luizcarlos.bordoni.7/videos/685286435962331/?sfnsn=wiwspwa&ref=share

A MAÇONARIA COMO ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL - Breno Trutwein



O protótipo da organização moderna é a orquestra sinfônica. Cada um de seus duzentos e cinquenta músicos é um especialista de alto nível. Contudo, sozinha a tuba não faz música; só a orquestra pode fazê-la. E esta toca somente porque todos os músicos tem a mesma partitura. Todos eles subordinam suas especialidades a tarefa comum. E todos tocam somente uma peça musical por vez. (Peter Drucker)

Faça-se a análise da maçonaria no momento atual. O que ela representa na sociedade? Qual o número de maçons existentes? Por que se reúnem todas as semanas? E o resultado dessas reuniões? Como ela poderia ser mais efetiva e atuante?

Todas as pessoas, bem como suas associações, têm por finalidade prestar uma tarefa a coletividade.

Dentro deste princípio dizem as constituições e regulamentos maçônicos, dentre os quais destacamos a última promulgada em dezembro do ano passado, possivelmente a mais "MODERNA", que em sua declaração princípios traz:

O Grande Oriente de Santa Catarina (GOSC) adota com fundamento na tradição maçônica universal, os seguintes princípios:

1. Jurisdição soberana sobre todas as lojas da obediência, exercendo autoridade sobre os graus simbólicos nelas existentes.

2. Ninguém será levado a iniciação, em qualquer loja jurisdicionada sem possuir as qualidades de probidade, independência e bons costumes.

3. O maçom tem assegurado plena liberdade de crença, mas deverá abster-se de manifestar preconceitos e de provocar polêmicas de natureza política partidária ou religiosa.

4. O Grande Oriente de Santa Catarina, para a consecução de seus fins, se organiza como estado simbólico, sem prejuízo de sua devoção a Pátria comum. 

Poder-se-ia deixar a critério dos irmãos as considerações sobre as incoerências destes quatro parágrafos, porém procurar-se-á destacar-se as mais contundentes como:

Exigir dos maçons "probidade, independência, e prática de bons costumes", já no próprio texto a independência e restrita a prática de bons costumes; os quais variam de cultura para cultura, de época para época; modificados pelos novos hábitos adquiridos pelas transformações do pensamento.

Exemplificando: Tem-se a revolução sexual, conseqüente do Freudismo, com suas implicações educacionais, familiares e social. 

Contrariando esta proposição repete o chavão da liberdade de crença, desde que fique de boca fechada; esquecidos do "penso logo existo" cansados de todas as polêmicas.

Manda a potência e logo desmanda sobre as lojas jurisdicionadas.

Também, se organiza como estado simbólico, sem prejuízo de sua devoção a Pátria comum, justamente, quando na atualidade a noção de estado-nação vem cedendo espaço aos estados-regiões, não só sob o aspecto econômico, mas das inter-relações culturais. Estão aí União Europeia, Mercosul, OPEP, OTAN, ONU e tantos outros exemplos malgrado ter a pretensão de ser "MODERNA", e em alguns pontos ela é, contudo mantém a figura absolutista do Grão Mestre.

Fala-se em Tradição. QUE TRADIÇÃO?

DAS CORPORAÇÕES E CONFRARIAS MADIEVAIS, DA GRANDE LOJA UNIDA DE LONDRES, OU DA LOJA DE YORK COM SUAS IMPLICAÇÕES CATÓLICAS?

É necessário rever-se os reais e antigos costumes maçônicos (Poema Régio, Manuscritos Cooke e Swain) e não a própria Constituição de Anderson e os trinta e nove princípios régios de John Payne.

Citando Peter Drucker (Sociedade pós-capitalismo) falando sobre o governo ele diz:

"Portanto o governo precisa recuperar uma pequena capacidade de desempenho. Ele precisa ser reformulado. Esse é um terreno de negócios, mas a reformulação de uma instituição quer ela seja uma empresa, um sindicato, uma Universidade, um hospital ou um governo requer os mesmos três passos": 

1. Abandono das coisas que não funcionam, das coisas que nunca funcionaram; das coisas que sobreviveram á sua utilidade e a sua capacidade de contribuição.

2. Concentração nas coisas que funcionam, que produzem resultados, nas coisas que melhoram a capacidade de desempenho da organização; e

3. Análise dos meio-sucesso, dos meio-fracassos. Uma reformulação requer abandono de tudo aquilo que não funciona e a ênfase naquilo que funciona. 

Não será possível ao nível do presente trabalho analisar com alguma profundidade os itens acima, porém deter-se-á na capacidade de desempenho da organização seja ela de qualquer tipo, entretanto torna-se necessário pensar-se na maçonaria como empresa, a qual é dirigida para PRESTAR UMA TAREFA  A COLETIVIDADE.

TER-SE UMA ORGANIZAÇÃO PARA DELEITE DE ALGUNS E PERDA DE TEMPO. Ela tem que ter uma tarefa, um objetivo, o qual irá ditar as normas administrativas gerais e específicas.

Em primeiro lugar ter-se-á a organização um grupo humano formado por especialistas, ligados a uma tarefa comum. A função dela é tornar produtivo os conhecimentos, pois eles por si mesmos, hoje, são estéreis, entretanto quando reunidos e bem gerenciados são produtivos.

Um pré–requisito importante para o bom desempenho de uma organização é que sua tarefa e sua missão sejam bem claros.

Também, existe a necessidade de avaliação e julgamento de seu desempenho em relação a objetivos e metas claros, conhecidos e impessoais, para alimentar os projetos em andamento ou futuros.

Como organização uma organização tem de ter suas equipes transdisciplinares, elas, modernamente não podem ser de "chefes" e "subordinados", mas é um time em busca da vitória. E precisa ter capacidade para criar o novo, exigindo um processo de aperfeiçoamento de tudo que se faz. Hoje na indústria e nos setores de serviço a cada dois a três anos, eles são transformados em verdadeiramente em outros artefatos melhorados. Também cada organização terá de aprender a desenvolver novas aplicações dos seus produtos.

Outro aspecto da sociedade pós-capitalista é a descentralização; e ela precisa operar numa comunidade, pois seus membros e descendentes vivem na sociedade. Porém, a organização não pode submergir na comunidade nem subordinar-se a ela. Sua cultura deve transcender a comunidade .

Enquanto isso esta acontecendo no mundo globalizado para o futuro, continuam com uma administração centralizada na figura onipotente, onisciente e monárquica absolutista do Grão- Mestre.

Não se tem uma tarefa, um objetivo, uma bandeira definida. É simplesmente, um bando desorganizado obediente ou desobediente as leis, decretos, atos, vindos de um chefe, as vezes em benefício de uma minoria que se apossou do poder, e julga-se no direito absoluto de fazerem o que dita seus cérebros vazios e muitas vezes inúteis.

Infelizmente tem-se uma DESORGANIZAÇÃO MAÇONICA ditada pela figura centralizadora do grão-mestre que no máximo tem um doutorado específico em sua área profissional, e tem a tarefa de administrar uma caricatura de empresa, bem como ditar normas ritualísticas, conceitos simbólicos, pesquisa histórica e um pensamento filosófico pinçado das dezenas de doutrinas filosóficas modernas.

Conforme já se escreveu para o grão-mestre ficaria a tarefa cultural e a iniciática da ordem (ritualismo, simbólica, história e filosofia), enquanto a parte administrativa teria uma gerencia de preferência feita por um técnico da área de administração com uma pequena secretaria, tesouraria e planejamento e avaliação. Sobrepondo-se a essa estrutura, um colegiado de sete membros, no máximo, com a função de fiscalizar, discutir diretrizes, que seria eleito democraticamente pelos maçons. Poder-se-ia criar regiões eleitorais de acordo com o número de membros do colegiado.

Numa visão global ficaria a pergunta: O que fazer com os órgãos centralizadores atuais: GOB, COMAB,CMSB ?

ELIMINÁ-LOS. 

Vê-se, facilmente a imensa tarefa dos maçons atuais e dos próximos trinta anos. Recriar uma maçonaria que seja semelhante a uma orquestra sinfônica. Será possível? Eis a questão, diante de tanta vaidade, orgulho, egoísmo, características do homem atual, "ávido em ter e não em ser".

FICA O DESAFIO:MUDAR OU PERECER.

fevereiro 12, 2022

A MAÇONARIA “RESTRITIVA E SELETIVA - Paulo M.



Li recentemente o seguinte comentário: «é por certo o grande mal da Maçonaria, ser tão restritiva e seletiva na escolha dos seus “Irmãos”».

Este comentário traduz bem a ideia muito difundida de que a Maçonaria é só para alguns muito poucos, que está cheia de “personalidades” que não se misturam com o comum dos mortais, e que os critérios de admissão passam, essencialmente, pelo posicionamento econômico, social ou político do candidato. Não é verdade; a Maçonaria não é isso.

Por outro lado, não poderia dizer que a Maçonaria não seleciona os candidatos, não exerce qualquer controle sobre as admissões, nem coloca às mesmas qualquer obstáculo. Claro que exerce controle claro que seleciona claro que coloca obstáculos. Os critérios de admissão, porém, são públicos e ao alcance de todos quantos pretendam, eventualmente, juntar-se à nossa Ordem.

O principal critério advém do cumprimento dos Landmarks da Maçonaria, que ditam muitas das restrições à admissão, como sendo a exclusividade de membros masculinos, a obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto Do Universo, ou a de dever ser o candidato uma pessoa honrada e de boa reputação. Os Landmarks são como disse, públicos, apesar de não serem universais – há Obediências que aceitam uns e rejeitam outros.

Outros critérios de seleção advêm da própria natureza e propósito da Maçonaria, que se aprende na Instrução de Aprendiz:

– O que é um Maçom?

– É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.

– Que significa nascer livre?

– O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.

– Quais são os deveres de um Maçom?

– Evitar o vício e praticar a virtude.

– Como deve um Maçom praticar a virtude?

– Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

Só alguém que se identifique com estes preceitos pode ser admitido na Maçonaria. Senão, não se iria sentir enquadrado – e não só perderia o seu tempo, como faria os demais perder o deles. Porque a adesão à Maçonaria implica um esforço e empenho não só pessoais como de toda a Loja que admite o neófito, esforço esse que se prolonga por vários anos, não é de ânimo leve que se aceita qualquer um.

Os erros de casting saem caros a todos. Por isso, a imagem que se passa para fora deve ser essa mesma: a de que ser aceito maçom não é algo que possa ou deva ser feito com leviandade.

Não creio que seja bom, contudo, cair-se no extremo oposto, propalando-se uma imagem de tamanha exigência que leve a que praticamente ninguém sinta – pelo menos até que alguém lho pergunte – que poderá, querendo, pertencer a esta grande Fraternidade. Receio que seja este o maior obstáculo a que a Maçonaria seja e se torne mais numerosa.

Deveras, quantos não sentirão que não encontram quem partilhe dos princípios por que regem a sua vida – que, por acaso, até podem ser os princípios de tolerância, diversidade, paz e fraternidade que a Maçonaria defende e acarinha? Quantos não descobriram já, até, que se identificam com os ideais da Maçonaria, mas acreditam que a Maçonaria é só para “Vips”, e que nunca lhes abriria a porta?

A esses só posso dizer que ainda hoje se aplica um princípio simples e antigo: quem quer entrar tem que começar por bater à porta. Pode ser que tenha uma surpresa e – certamente ao fim de algum tempo – em vez de um polegar para baixo, receba um caloroso abraço de boas vindas…


fevereiro 11, 2022

RITUAL: QUEM PRECISA DELE? W. Bro. Jim Tresner - Tradução: Ir. Kleber Siqueira







[Extraido de “The Oklahoma Mason”, Dezembro de 1997]:

A resposta é curta: “nós precisamos.”

Explicar porque, requer um pouquinho mais.

Em um sentido muito real, é o ritual da Maçonaria que faz o trabalho da Maçonaria.

Ritual é o canal através do qual a Maçonaria ensina.

Mas é mais que isto.

Porque o ritual é tão importante para a Maçonaria, é valioso tomar um pequeno tempo para falar acerca da natureza do ritual em si mesmo e porque é tão central para a vivência Maçônica.

Primeiro de tudo, ritual é uma virtual necessidade para todos os humanos, de fato para quase todos os animais.

Isto é tão verdadeiro que todos cérebros humanos vem “equipados com circuitos” para responder a ritual.

(Maravilhoso, ao seu próprio modo.)

Muito poucas coisas em seres humanos são instintivas – quase tudo é comportamento aprendido.

Mas a resposta para ritual foi localizada por anatomistas na parte mais antiga e primitiva do cérebro, bem acima da estrutura central do cérebro, na mesma área que controla a atenção e as emoções.

É tão “natural” para nós como o amor, ou a agressão, ou a cooperação.)

Todos estamos engajados em ritual todo o tempo – nós somente não o reconhecemos sempre.

A maioria de nós tem uma rotina matinal, por exemplo: Alguns de nós fazemos a barba antes do banho, alguns fazem a barba após o banho e alguns se barbeiam enquanto se banham, mas, qualquer que seja o modo, usualmente fazemos sempre do mesmo modo.

+ RITUAL É UMA FERRAMENTA PODEROSA DE ENSINAR

De fato, foi provavelmente a primeira ferramenta de ensinar. 

Sabemos de rituais de caça entre algumas tribos, cujo propósito era ensinar os jovens como caçar efetivamente.

Mnemônicos (frases ou logos que nos ajudam a lembrar coisas  através de associações) são rituais, como é aprender o alfabeto por cantar a canção do alfabeto.

Os militares desenvolvem muitos rituais (padrões de comportamento repetidos) para ensinar os recrutas como manter armas.)

+ RITUAL AJUDA A NOS DAR UM SENSO DE IDENTIDADE

Pode parecer estranho, mas pessoas frequentemente definem a si mesmo pelas suas ações (sou um vendedor, um mecânico, um professor, projetista de moinhos, etc.). 

Isto não é limitado ao que fazemos para viver.

Nossos rituais, nossas ações, dão um senso destacado de realidade para nossas vidas.

Nos sentimos “certos” ou “completos” quando seguimos certos rituais.

+ RITUAL AJUDA O NOSSO PREPARO – NOS AJUDA A  “ENTRAR NO CLIMA” DO QUE VEM A SEGUIR

Se o evento é uma missa na igreja ou se é um jogo de futebol, a maioria dos eventos repetitivos tem um ritual de algum tipo que ajuda a dar o tom emocional.

E nos podemos ter um forte sendo de “erro” se estes foram violados – se uma missa na igreja iniciou com uma banda de musica e dançarinas ou se um jogo de futebol começou com uma procissão litúrgica, por exemplo.

+ RITUAL NOS DEIXA CONDENSAR MUITO EM POUCO TEMPO

Ritual enriquece uma vivência por concentrá-la.

Ao invés de envolver a exposição completa, como uma palestra, ritual faz referencias a coisas e nos deixa pensar acerca dela e preencher os detalhes por nós mesmos.

Para ilustrar com uma porção do ritual da igreja, considere  última linha da  Doxologia – “Louvar o Pai, o Filho e o Espírito Santo.”

O conceito de Trindade é um conceito muito difícil para a “fazer a cabeça”.

Ao invés de dar muitas horas de discussão que seria necessário para explorar este tópico, o ritual simplesmente o menciona, e o deixa para nós elaborarmos o pensamento se estivermos assim inclinados.

O RITUAL DA MAÇONARIA ENVOLVE TUDO ISTO E MAIS…

• O ritual da Maçonaria – a abertura e o fechamento, os Gráus, até o ritual de votar – organiza os eventos e assegura que tudo aconteça como deveria.

• Nos ajuda a definir nós mesmos como Maçons e estreita os laços fraternais que nos unem como Irmãos.

E este efeito é internacional e transcultural
.

Sabemos que temos vivencias compartilhadas com Maçons de todo o mundo.

• É uma ferramenta de ensinar – as lições e os valores da Maçonaria são ensinados através do ritual e de símbolos.

• Ajuda a montar o tom e o clima da reunião – nos ajuda a remover da mente as preocupações do mundo exterior e colocar foco nas grandes verdades de natureza humana e espiritual.

• Ritual Maçônico obviamente condensa vivência. Contém elementos que levantam questões importantes mas que deliberadamente são deixados inexplorados porque quer que o Maçom pense sobre eles através de si mesmo.

• Ritual Maçônico proporciona uma total extensão para os Maçons explorarem os seus próprios interesses. 

Muitos dos meus melhores amigos amam aprender e apresentar o ritual.

Eu mesmo me interesso em lidar com a interpretação do ritual e dos símbolos que usa – e especialmente com os efeitos que o ritual é projetado para produzir nas mentes dos iniciados e os modos nos quais estes efeitos são produzidos.

Outros são especialmente interessados na história do ritual e os modos que ele mudou e se desenvolveu através dos anos.

Um Maçom que conheço é interessado no ritual do ponto de vista de um antropólogo cultural e tem prazer em traçar os modos que o ritual se relaciona com as grandes tradições iniciáticas da história.

E o ritual é grande o bastante e complexo o bastante para acomodar todos estes interesses e muito mais.

Então, novamente, a resposta para a questão “De qualquer modo, quem precisa de ritual?” é “Todos nós precisamos”.

O ritual da Maçonaria atende muitas necessidades e muitos interesses.

Não é a mesma coisa que Maçonaria.

– não mais quanto um sermão é a mesma coisa que uma igreja – mas é um modo primário que nós ensinamos e aprendemos.

É a cola (cimento) que nos mantém juntos. 

É importante. Nos faz sermos nós.









MAÇONARIA MISTA - Pedro Juk


Em 01.07.2015 o Respeitável Irmão Thiers Antônio Penalva Ribeiro, Loja Antonio Lafetá Rebelo, REAA, COMAB, Oriente de Montes Claros, Estado de Minas Gerais, formula o que segue: 

Acredito eu que na França exista mais de uma Obediência Maçônica. Qual delas considera a Maçonaria Mista (O Direito Humano) como Lojas Regulares? Essa Obediência francesa é REGULAR? São aceitas em reuniões de Lojas masculinas as mulheres iniciadas nessas Lojas Mistas? Os Homens de Lojas masculinas também frequentam as Lojas Mistas? Sei que as Lojas mistas são antigas, pois, já li sobre a iniciação de Voltaire que foi realizada se não me engano na Loja Nove Irmãs, que é uma Loja Mista. Esperando como sempre uma resposta do Ilustre Irmão, agradeço antecipadamente.

Considerações:

A questão de regularidade e reconhecimento é subjetiva e deve ser considerada de acordo com os costumes do País. Em termos de reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra ela, dentre outros, somente considera a Maçonaria efetivamente masculina.

Assim, em se levando em consideração a GLUI.´., qualquer obediência que admita a iniciação de mulheres não é considerada regular.

Dentre a maçonaria que adota essa prática, existem as Lojas Mistas onde são admitidos “pedreiros e pedreiras”, assim como aquelas exclusivamente femininas.

Considerada como regular na França pela Grande Loja Unida da Inglaterra era, pelo menos até há pouco tempo atrás, a Grande Loja Nacional Francesa. Sugiro ao Irmão que faça uma pesquisa atualizada na Internet sobre o assunto reconhecimento.

Algum tempo atrás eu me lembro de ter lhe enviado uma resposta que abordava a Maçonaria e a presença do sexo feminino. Vou reproduzi-la na sequência:“Direitos Humanos” - Embora citado por René Joseph Charlier in Mosaico Maçônico como um discurso bastante sugestivo produzido por Maria Deraismes, historicamente não pode ser considerado como afirmativa comprovada, posto que a sua iniciação na Loja Livre Pensadores é ainda questionada pela história acadêmica. Se existe algum elo, este discurso se rotula como uma espécie de manobra que, sob seu cometimento é fundada em 1.893 a “Ordem Mista Internacional - O Direito Humano”, cuja sede está situada em Paris à Rua Jules Breton, com o escopo de admitir homem e mulher em irrestrita igualdade. Embora belo, o discurso acabaria por assumir uma faceta bastante tendenciosa e contrária aos “Landmarks”, fato que objetivava a época a contração do reconhecimento pela Maçonaria Regular à Ordem Mista Internacional. Nesse aspecto a alocução (tendenciosa) afirmava a iniciação de mulheres no tempo da Franco-Maçonaria (período operativo – canteiros medievais) e até mesmo especulativa anterior aos primórdios do Século XVIII, sendo que estas inferências possuíam mesmo o cunho para vincular uma antiguidade para algo sem qualquer base comprobatória alicerçada por fatores históricos e sociais.

Embora, bastante debatido, a supressão de mulheres na Maçonaria conta ao seu favor os usos, os costumes e a sua tradição, disposta, por exemplo, como princípio fundamental exarado pela Constituição de Anderson – instrumento jurídico básico da Maçonaria Regular. O artigo 4 dos princípios de base para reconhecimento de uma Grande Loja, datado de 4 de setembro de 1.929 pela Grande Loja Unida da Inglaterra, a prevê de forma mandatória. Mesmo as Obediências não reconhecidas pela G∴L∴U∴D∴I∴, como é o caso da Grande Loja da França e do Grande Oriente da França procedem da mesma forma.

A justificativa dessa exclusão é explicada primeiramente por razões históricas sob a alegação de que na época da Maçonaria Operativa era impossível a existência de “pedreiras”. Nesse sentido, quando da fundação das primeiras Lojas inteiramente especulativas no Século XVIII, estas obtiveram o seu arquétipo embasado no período operativo, peculiar de uma instituição tipicamente britânica ou, efetivamente masculina.

Em segunda instância (justificativas para reconhecimento não desse autor que aqui escreve) aparece o agente psicológico e moral que aborda a soi-disant inaptidão das mulheres para guardarem segredo, o que é verdadeiramente uma incoerência e assume as raias do absurdo. Há também a alegação da dificuldade feminina de admitir a igualdade social entre elas e a sua sensibilidade mais ativa do que a dos homens. Em um sistema fechado como é o da Maçonaria onde a sensibilidade se torna mais arrebatada, a vivacidade de certas reações femininas poderia prejudicar o espírito fraternal.

Outro aspecto enfatizado no reconhecimento é o da própria antipatia mais fácil que as mulheres sustentam umas pelas outras, sobretudo se são de idades diferentes, assim como o perigo que o espírito fraternal correria de eventuais adultérios e também das brigas entre homens.

À bem da verdade o Direito Humano (1.893) estimulado por Maria Deraismes tenta resolver as questões colocando o homem e a mulher em pé de igualdade absoluta. Isso está explícito no aforismo que indica bem as suas ideias: “Na humanidade, a mulher tem os mesmos direitos que o homem. Ela deve ter os mesmos direitos na família e na sociedade”.

Conforme citam respeitados autores, o “Direito Humano” foi mesmo produto das reivindicações feministas do final do século XIX e de uma campanha ideológica que tendia a igualdade civil e política. Sob esse prisma, não sem lógica, seria exortado o direito a iniciação maçônica feminina contra a recusa ao mesmo tempo em que elas fossem juridicamente capazes, eleitoras e elegíveis. Os partidos políticos de esquerda de então eram tão antifeministas quanto os partidos de direita e, além disso, estavam hipnotizados pelo temor, postos em voga por Michelet que apregoava a versão de que caso se reconhecesse à mulher francesa direitos eleitorais, a ditadura “clerical” sobreviveria por seu próprio intermédio - (Michelet in Le Prêtre, la Femme et la Famille (O padre, a mulher e a família).

Embora os esforços de uma minoria favorável às reivindicações feministas, as Obediências Maçônicas não às acolheram mais do que os sucessivos Parlamentos em que, após um simulacro na Câmara dos Deputados em final de sessão, o “Voto das Mulheres” foi sistematicamente rejeitado pelo Senado, reprimido pelo grupo de esquerda democrática, cujos membros eram pertencentes ao Grande Oriente da França.

Considerações à parte, nos dias atuais a mulher na França adquiriu a igualdade civil e política, mas não a igualdade maçônica, e o “Direito Humano”, cujas ideias “profanas” triunfaram, continua isolado e sendo considerada como irregular até mesmo pelas próprias Obediências ditas irregulares.

Com o passar dos tempos, alguns pregam uma solução separatória que consiste em uma espécie de “apartheid” dos sexos. Cada qual possuindo a sua própria maçonaria. É o exemplo da Co-Masonry inglesa (existente no Brasil), na qual as mulheres se chamam de Brother. Na França as coisas se complicam quando a Grande Loja Feminina Francesa (exclusivamente formada por damas) é considerada como irregular pelo Direito Humano de Deraismes (note a questão entre as próprias mulheres). As “Irmãs” da Grande Loja Feminina Francesa - constituída em 1.959, recusaram a fórmula “mista”, estimando serem as qualidades femininas específicas, e, por isso, deverem as questões maçônicas ser examinadas por elas no plano feminino, “fora das lojas masculinas”. A Grande Loja Feminina Francesa, originária da Grande Loja da França (Irregular), utilizaria, renunciando aos rituais das Lojas de Adoção, os rituais masculinos do Rito Escocês Antigo e Aceito com respectivas modificações. Note o estado confuso que se aporta.

Outra tentativa conciliatória consiste em dar às mulheres um ritual próprio, mas sem estabelecer para isso uma divisão estagnada entre as Maçonarias feminina e masculina, o que é um contra senso, pois regularmente não existe maçonaria masculina ou feminina – o que existe mesmo é Maçonaria, pura e simplesmente. Essa foi uma fórmula apregoada no Século XVIII haurida das chamadas “Lojas de Adoção” embasadas nas Lojas masculinas (sic). As damas não mantinham sozinhas as Lojas, mas eram assistidas por Irmãos. Em linhas gerais essa era uma solução do antigo regime francês e convinha, sobretudo, à sociedade aristocrática, pois, aparentemente, a intelectualidade feminina não participava dela. Essa espécie de Maçonaria, com os seus símbolos próprios e os seus sinais próprios, persistiu sobre o Império (a Imperatriz Joséphine foi iniciada na Loja Imperial dos Francos Cavaleiros – Loja de Adoção), no século XIX e acabou por fenecer no século XX.

Ainda em outra adaptação consistia na criação de Ordens paralelas e semelhantes à Maçonaria, cuja existência de um ritual regeria os seus “segredos”, todavia não tivessem o nome de Franco-Maçonaria. Desse modelo se apresenta a Ordem da Eastern Star, nos Estados Unidos, a Maria Order, na Noruega, e a Ordem das Fiandeiras, nos Países Baixos.

Em termos conclusivos há que se admitir que se em pleno Século XXI a igualdade dos sexos é admitida em todos os países civilizados, a Franco-maçonaria continua, a despeito dos paliativos, sendo uma organização puramente masculina, isso porque essa é simplesmente a sua natureza. Transpondo a arte de construir para o plano moral, a Maçonaria permanece viril, exatamente como nos tempos operativos. Essa natureza particular pela qual ela se distingue das sociedades civis é, sem dúvida, muitas vezes considerada arcaica, porém está longe de ser verdade se definir o antiquado como um mal e que toda novidade seja um progresso.

Sem qualquer desrespeito à mulher, essa característica é, não obstante, irreformável, como todo “Landmark” cuja característica principal é a de ser imemorial. Lembram as Antigas Constituições: “Nenhum homem, nem nenhum grupo de outros homens tem o poder de modificar um Landmark” e, se, por um acaso pouco provável, o futuro distante reservasse tal modificação, a sociedade assim modificada não seria, simplesmente, mais a Franco-maçonaria.

Embora essas tentativas, vez por outra são aventadas, a tradição o uso e o costume da Maçonaria como sustentáculo da Ordem não pode ser modificado pura e simplesmente por uma razão evolutiva da sociedade ou por certas “vontades” de Irmãos.

Finalizando, o ímpeto de certos irmãos em iniciar mulheres, se confunde pelo próprio desconhecimento de causa. Ora, elas têm a sua própria maçonaria, seja ela mista, ou mesmo feminina. Não querendo abusar da lei do menor esforço, talvez fosse mais fácil aos descontentes solicitar a sua filiação em alguma Loja mista do que perturbar e semear discórdia nos trabalhos de uma Loja Maçônica. Ao Orador da Loja cabe coibir ideias que vão contra o que exara a Constituição da Obediência.

OBSERVAÇÃO – TEXTO BASEADO EM ESCRITOS DEIXADOS PELO SAUDOSO IRMÃO JOSÉ CASTELLANI.

Para consulta bibliográfica.

MELLOR, Allec – La Franc-Maçonnerie à L’heure du Choix (A Francomaçonaria na hora da decisão), Paris, Edit. Mame 1.963.

BOYOU, Rémy – Histórie de la Féderation Francaise de l’Ordre Maçonnique Mixte International “Le Droit Humain” – Bordeaux, Imp. A Jarlet 1.962

MELLOR, Allec – Dictionnaire des Franc-Maçons et La Franc-Maçonnerie, Belfond, Paris, 1971-1979.

Annales Originis Historie de la Fondation du Grand Orient de France – Cronologia histórica da Francomaçonaria Francesa, 1813 e 1.815.

FAY, Bernard – La Franc-Maçonnerie et la Révolution Intellectuelle du XVIII siècle, Paris, ed. De Cluny, 1.935.

Site da Grande Loja Unida da Inglaterra – Pontos de Reconhecimento.

Constituições atualizadas das Obediências Brasileiras.