fevereiro 22, 2022

ESPELHO MEU, QUE TIPO DE VENERÁVEL SOU EU? - Ir. Virgílio Reis de Oliveira






Nós, veneráveis, precisamos estar cientes da forte influência que exercemos sobre um grupo de Irmãos, quando estamos à frente de uma Loja.

Se uma Loja anda desmotivada, com pouco interesse e envolvimento, possivelmente seu Venerável não vem transmitindo interesse e segurança suficiente aos Irmãos para liderá-los.

Empenho, motivação, competência, envolvimento, segurança, efetividade, todos estes sentimentos estão em voga na relação Venerável - Loja.

Gostaríamos de comentar a importância do venerável enquanto modelo para sua loja.

Certa vez ouvi um Irmão dizer que cada loja tem a "cara" de seu venerável. Por que isso?

Vamos retroceder no tempo e recordar nossa primeira relação de poder: o pai e o filho. É através dos ensinamentos e exemplos que são transmitidos pelos pais, que a caráter do filho vai se moldando. Então, o filho repete não só o que o pai diz.

Com relação a um grupo em Loja, as coisas não são muito diferentes. O grupo não só aceita as orientações do venerável como também repete e imita a sua postura, tanto em Loja, quanto na sociedade. Por isso, dizemos que uma Loja tem a “cara" de seu venerável. Esse processo acontece em dois níveis distintos: um intelectivo, outro afetivo.

No nível intelectivo, o Irmão colaborador acata ou não a orientação; discute um planejamento de tarefa, tudo isso acontecendo com o seu conhecimento e controle. Já no nível afetivo, as coisas acontecem com uma percepção menos clara. Um venerável que se mostra pouco seguro em relação às suas atribuições, transmitirá uma insegurança para o grupo de Irmãos que passará a agir de maneira dúbia. O sentimento do venerável flui para o grupo que o capta num nível inconsciente, passando a agir de acordo com ele.

Então, o venerável teria de ter um controle perfeito de todos os seus sentimentos e emoções para só transmitir coisas positivas para sua Loja? Não, não vamos chegar a tanto! Afinal, ninguém é perfeito! O que nós, veneráveis, precisamos, sim, é estarmos cientes da forte influência que exercemos sabre um grupo, quando estamos na liderança. O clima entre o grupo é um excelente espelho para se estudar a forma de gestão que esse grupo vem tendo.

Um grupo de Irmãos que forma uma Loja, que se sente respeitado, tratado com dignidade e confiança, produz com excelência. Ele responde de acordo com o que é esperado dele. Se dele é cobrado empenho e dedicação, mas o venerável não demonstra envolvimento e interesse nos resultados, cria-se um clima dissonante, um clima tenso. É como se houvesse duas forças contrárias no sentido intelectivo. Sabe-se que um empreendimento qualquer em uma Loja deve ser executado com empenho, mas em termos de afeto não se sente (ou não existe) comprometimento por parte do venerável, daquele que está à frente do grupo. Como duas forças contrárias se anulam, a Loja cai na inatividade e na desmotivação.

É necessário que a Loja como um todo perceba uma diretriz coerente par parte de sua liderança, isto é, de seu venerável: pensamento e atitude caminhando numa mesma direção, de modo a instaurar um sentimento de firmeza e equilíbrio internos na equipe.

Na apostila do "Seminário para administração de Lojas", realizada em julho de 2003 pelo GOERJ, os Irmãos encontrarão essas ideias de forma didática e explicativa. Vale a pena um reestudo. Afinal sempre estamos aprendendo quando se trata de liderança.

DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM - Adilson Zotovivi




Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico


Vinte e dois de fevereiro

Mais um dia comum, seria !

Não fosse o manifesto sobranceiro

De um chefe  da maçonaria 


Foi decisão soberana

Tomada em reunião anual 

Da cúpula Norte-Americana

Mas seu autor...de Portugal  


Aprovado por aclamação

A especial homenagem

Proposta a um insigne irmão

De inspiradora linhagem 


Invejável livre-pedreiro

Imortalizado pela  confiança

De um povo costumeiro

À democracia, à liderança 


Foi bom presidente e comandante

Bom Grão-Mestre, bom aprendiz 

Foi sua obra marcante,

Colocar ordem, em seu país 


George, era seu nome

Tão importante à sua terra natal,

Que de Washington, seu sobrenome,

Batizaram sua capital 


Uma homenagem justa

Por todos então, logo aceita 

Vez que sua data natal e augusta

Era então uma data perfeita


De lá, para o mundo inteiro

Bradado em alto e bom som ;

“ Vinte e dois de fevereiro...

É o Dia Internacional do Maçom !”


,

fevereiro 21, 2022

IDADE DA MAÇONARIA


Não existe, realmente, uma data que possa ser dada como a data de origem da Franco maçonaria. Entretanto, sem dúvidas, pode ser dito, que ela se desenvolveu, paralelamente, nos países da Europa e nas Ilhas Britânicas durante a Idade Média. A Maçonaria atual, chamada Especulativa, também, sem duvidas, se desenvolveu nas Ilhas Britânicas (Escócia, Irlanda e, principalmente, na Inglaterra) e se espalhou para a Europa e restante do Mundo.

Um dos primeiros registros escritos conhecido hoje em dia, é o “Manuscrito de Halliwell” ou “Poema Regius” escrito em torno de 1390 da nossa era. Muitos dos nossos Símbolos Maçônicos vieram da Maçonaria Operativa dos tempos Medievais.

Existe a “Carta de Bolonha”, menos conhecido, mais antigo do que o citado acima, datado de 1248. Lá é citado que haviam “Sociedades de Mestres Maçons e Carpinteiros” em anos anteriores à data mencionada. Esse documento é conservado até hoje no Arquivo do Estado de Bolonha.

A Maçonaria Moderna, dita “Especulativa”, como é hoje conhecida, data da formação da Grande Loja de Londres e Westminster, posteriormente, Grande Loja Unida da Inglaterra, a qual foi originada em Londres em 1717.

Do século precedente a essa data, existem amplas evidencias da existência de Lojas Operativas, e durante os anos que antecederam 1717, essas Lojas Operativas mudaram gradualmente suas características, com a introdução de pessoas que não eram Maçons pela profissão e eram chamados de “Não-Operativos” ou “Especulativos”. Eram os Aceitos.

O Ritual das Lojas Operativas era de característica bastante elementar, consistindo em o Candidato ser obrigado a se sujeitar “ao livro de deveres e obrigações” “The Book”, mantido pelos membros mais antigos (Elders), e concordar com as Obrigações (Charges) lidas para ele. Levou muitos anos até o Ritual ter o conteúdo e a forma que tem hoje e, de acordo com referencias e informações disponíveis, ele assumiu a presente forma em torno de 1825.

Concluindo, de acordo com escritores sérios, incluindo o pessoal da Loja Quatuor Coronati, parece não haver dúvidas que a Maçonaria se originou na Idade Média (opinião inclusive do Mestre Castellani).

É temeroso, por falta de provas e evidências concretas, afirmar que a Maçonaria deve origem na época do Rei Salomão, nos Antigos Egípcios, nos Essênios, etc, etc.

Uma drástica distinção deve ser feita entre a Ordem Maçônica, como uma organização, e as Lendas e Tradições, através das quais os ensinamentos da Ordem são ensinados. Para bom entendedor, meia palavra basta. Para os fanáticos, uma Enciclopédia é insuficiente.


Fonte: Pílulas Maçônicas

PARADOXAL - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico

De que vale o Avental ?...

Que livre pedreiro tutela

Qual um paramento banal

Sem engajamento ou cautela


Que não vive o ritual

Um obreiro tagarela

Só  comendas seu ideal

Com igual não se nivela


Adereços mil na lapela

Duma vaidade sem igual

Em torno de si, só procela


Querela paradoxal

Que a descrição revela

Com preceitos D’Arte Real !

,

A LOJA PERFEITA



Parece-me que o sonho de qualquer Loja Maçônica é fazer valer o que diz o Salmo 133:

... “Oh quão bom e quão suave é, que os irmãos vivam em união!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” ...

A elevação do grau de consciência da excelência do AMOR fraternal, descrito nas palavras acima, alcança a todos, não escapa ninguém dessa Lei Universal.

O que sair fora disso é desarmônico, prejudicial.  É a força cega que fere de morte a Loja, a filha de Sião.

A Loja unida é como um corpo: quando um padece, todos padecem; quando um chora, todos choram; quando um se alegra, todos se regozijam. Porque nessa Loja o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre!

O óleo precioso do AMOR fraternal lubrifica as engrenagens, que deslizam sem desgaste em seu trabalho com Força e Vigor.

Como unir homens dotados de egos, vaidades, formações, conceitos, dogmas e valores tão diferentes? É aí que começa a ficar interessante a arte de ser Maçom e viver em harmonia.

É um esforço comum a todos os membros, e que requer habilidade, comprometimento mútuo e vontade de formar um só corpo.

Antes de apreciarmos os preceitos maçônicos é importante nos conhecermos uns aos outros, trabalhar nossos pontos fortes, identificando os pontos fracos.

Como sempre digo, no mundo profano, o modelo de união se dá pela formação de grupos lapidados por terceiros, enquanto que, na Maçonaria, a lapidação é individual, contanto que cada Pedra lapidada se encaixe no corpo da Loja, antes de se encaixar no edifício social.

O maior prejuízo para uma Loja Maçônica chama-se “crítica”.

Criticar significa pegar o Malhete e sair trabalhando a Pedra do outro irmão. 

A força cega se aproveita disso e conduz a Loja à ruína.

O debate é saudável para a Loja. A crítica é destrutiva.

O behaviorista B. F. Skinner, em seu livro “Science and Human Behavior”, diz que a crítica é fútil porque coloca um homem na defensiva, deixando-o em posição desconfortável, tentando justificar-se. 

Em momentos como esse, a essência do AMOR fraternal, também chamada de egrégora, se desfaz e a força cega assume o controle.

A crítica é perigosa porque fere o que o homem tem como precioso, seu orgulho, gerando ressentimentos. É o começo do fim dos relacionamentos.

John Wanamaker, um psicólogo estudioso dos relacionamentos, também escreveu: “Eu aprendi em 30 anos que é uma loucura a crítica.

Já não são pequenos os meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”.

Os homens deveriam fazer autocrítica.  Como não o fazem, criticá-los é desafiar a harmonia em Loja.

B. F. Skinnner costumava fazer experimentos com animais, buscando compreender o comportamento destes, para depois compará-lo com o das pessoas.

Ele demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. 

Estudos recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem. O homem adora criticar.

Tem os que criticam erros de ritualística em plena sessão, atrapalhando a egrégora, criando constrangimentos, quebrando a sequência dos trabalhos, cruzando a palavra entre as CCol∴e o Or∴tudo pelo prazer de corrigir, criticar e fazer prevalecer seu potencial, seu ego e sua autoridade, quando na verdade, o que deveria prevalecer seria o AMOR.

Buscar a perfeição na ritualística é nosso dever. Mas não é prudente fazer críticas e correções em pleno serviço. É o começo do fim.             

Estudos têm mostrado que a crítica não constrói mudanças duradouras, mas promove o ressentimento.

Acaba deixando o rei no trono, mas sem súditos para os governar. É o fim do reinado.

O combustível do AMOR e da união é o elogio.

Se algum irmão fez um trabalho e o mesmo precisa ser melhorado, seu consciente o está cobrando por melhora. Ele sabe que precisa melhorar, não porque alguém o cobre melhoras, mas porque o seu interior, sua alma, pede por melhora.

Quando alguém o elogia após a leitura de um trabalho, gera uma crítica construtiva, pois elogiou quando dentro dele existe uma crítica. Esse irmão se sentirá motivado a fazer mais e mais trabalhos, e, essa persistência o levará à perfeição sem que necessitasse críticas de terceiros.

Hans Selye, outro notável psicólogo que amava estudar o comportamento humano diz: “Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação”.

Na prática, não só tememos, como também não ficamos satisfeitos com críticas feitas por pessoas semelhantes a nós, com o mesmo grau de fragilidade.

A Loja perfeita elogia, sugere, estimula, confere recompensas com palavras: O VERBO. A PALAVRA. 

O AMOR.

Não quero com isso buscar unanimidade favorável a essa tese que defendo.Mas tenho observado que em Lojas onde se pensa diferente, o AMOR esfriou, a harmonia desapareceu e as CCol∴da Loja estão em perigo.


Autoria desconhecida

fevereiro 20, 2022

A VISÃO COSMOPOLITA MAÇÔNICA - Pedro Jorge A. Albani




Pedro J. A. Albani é poeta, artista plástico e notável intelectual da maçonaria.

Rapidamente, em outra oportunidade, conversamos sobre o sentido cosmopolita da Maçonaria, ou seja, o significado simbólico de seu alcance maior que o universal.

O significado cosmopolita da Maçonaria se traduz na circunstância fática de que deve ela estar apta a formar cada um de seus obreiros a partir da situação concreta em que vivem, independente de qualquer condição, facultando-lhes uma visão universal da realidade histórica e natural daquilo que necessariamente interessa a cada um de nós.

Ninguém é Maçom de determinada Potência, Loja, cidade ou país e por isso somos universais, cosmopolitas.

Pressupõe, como visto, essa visão cosmopolita o caminho prático para a solução do conhecimento universal delineando um verdadeiro estilo de vida teórica renovada na ausência de limites para nossa individualidade, eis que não necessariamente crescemos, mas evoluímos e passamos a estar como parte do universal.

Para a Maçonaria cosmopolita os conhecimentos possíveis são deduzidos através da reflexão e da razão, mas, essa dedução não se aprende dos outros, mas, pela investigação pessoal, pela intuição porque aquilo que se aprende dos outros não nos proporciona, de fato, conhecer e, fundamentalmente, esse conhecer não pertence a ninguém, senão a uma universalidade de pessoas.

Somos uma universidade sem fronteiras, sem limites mentais, sem donos.

Não nos esqueçamos que a Maçonaria hoje é especulativa obrigando-nos a constante exercício do pensar sem fim, sem restrição que não diga respeito à nossa emancipação progressiva e ao amor fraternal.

Não se faz Maçonaria construindo conceitos ou muros, mas, revendo, refletindo os conceitos já existentes, individualizando o saber humano pela livre investigação da verdade que liberta ao orbe o que conhecemos.

A fonte da Maçonaria não  é só a própria razão humana, mas, também, a dinâmica noção de realidade originada em todo cosmo por um Único Criador que faz com que sejamos instrumento parte dessa universalidade, sempre instados a rever continuamente o que se renova a cada instante.

Objetiva a Maçonaria, por isso, essa necessária visão cosmológica, nos três primeiros graus, já o dissemos reiteradamente, que aprendamos a refletir, intuir e perceber sobre o que estando a nossa frente não vemos por conta de seu imenso tamanho.

Em verdade, ninguém pode nos ensinar a refletir sobre o que o resultado da reflexão busca – isso também porque esse movimento já existe dentro de cada um de nós à espera que passemos a utilizá-lo voluntariamente e é a Maçonaria que nos impulsiona a querer revelar essas alegorias e símbolos.

Isso se deve, como colocado inicialmente, à natureza cosmopolita da Maçonaria que deve, como já dito, estar apta a formar, permitir através de seu ensinamento teórico ritualístico, que cada um de seus obreiros, atinjam o entendimento e compreensão, a partir da situação concreta em que vivem facultando-lhes uma visão universal da realidade histórica e natural daquilo que necessariamente interessa a cada um de nós e à Maçonaria : o saber ao conhecer, o ver ao olhar, o ouvir ao escutar, o perceber ao sentir sem fronteiras ou limites.

Enfim, busca a Maçonaria que estejamos prontos a conhecer a essência das coisas pelo caminho prático, pela individual investigação da verdade desde a primeira partícula da Criação.

Para a Maçonaria os conhecimentos possíveis são deduzidos através da reflexão e da razão, mas, essa dedução não se aprende dos outros, mas, pela investigação pessoal, pela intuição porque aquilo que se aprende dos outros não nos proporciona, de fato, conhecer além daqueles limites.

Reflitamos,

Albani

LSMUZI - então na Loja Romã 23 n°73 - GLMERJ -  em1985.

O IGNORANTE AFIRMA, O SÁBIO DUVIDA, O SENSATO REFLETE... - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil

A frase acima é atribuída ao notável filósofo grego Aristóteles.

Fica-nos a clara impressão de que esse pensamento, no mínimo, tem o poder de nos levar às fronteiras do raciocínio  antes de radicalmente decretarmos uma asserção absoluta sobre qualquer matéria. 

Que fique claro que nada disso repousa no mero campo da divagação.

Ao atingir a capacidade da contra argumentação, respeitando as diferenças e os pontos de vista divergentes, inicia-se o processo do direito à liberdade de exercer o pensamento.

Dar murro em ponta de faca, fere o corpo, machuca a alma e desguarnece o espírito.

Ficar afirmando "opiniões" apenas reforça a incapacidade de reconhecer que pode estar errado. 

O valor mais profundo da discussão repousa na liberdade da expressão e na ponderação do que o interlocutor propõe.

A verdade absoluta constitui-se em mera falácia, especialmente porque a vida é um incessante processo de transformação. 

Atribui-se ao franco-maçom o trabalho de uma construção.

Essa construção obedece um princípio prático, cujo caráter é Operativo.

Por outro lado essa mesma construção atende a um processo de elaboração esotérica, espiritual e intelectual cujo âmbito é Especulativo.

Inobstante sua senda estrutural  que guarda segredos operativos e especulativos, a Maçonaria propõe o aperfeiçoamento interior do Ser humano.

Na busca do conhecimento, não há como evoluir se não se conseguir extrair a essência da sabedoria.

Cabe ao Sensato portanto, a árdua missão de refletir, sem o risco de cair na tentadora e perigosa "afirmação" ou tampouco apoiar-se na intempestiva e frugal alternativa da "dúvida".

Talvez por isso, a atribuição da frase-tema ao filósofo grego Aristóteles, cuja maior preocupação residia em meditar, ponderar, e refletir na mais profunda condição intelectual, sobre as questões que ensejassem a interpretação  universal.

Dão-se nomes às coisas conforme as conveniências, tempos, usos e costumes, de tal modo que venham a atender as necessidades dos mais variados grupos sociais. 

O critério é subjetivo, pois sujeita-se à relação do que se deseja e do que se espera...

Nunca é demais registrar que Cultura é a expressão coletiva do homem no contexto social onde atua e estabelece suas relações.

Ler mais, Pensar mais e Achar menos. 

E ser educado para interagir com seus irmãos... 

Bom dia meus irmãos. 


fevereiro 19, 2022

CONTRIBUIÇÃO JUDAICA PARA A CULTURA BRASILEIRA - Michael Winetzki






A chuva caía em grossas gotas sobre os paralelepípedos encharcados formando rápidos cursos e inúmeras poças. Os cavalos apressavam-se, espargindo água para os lados, enquanto a comitiva cortava a madrugada. Dentro da carruagem com as cortinas cerradas, o padre procurava obter do prisioneiro a derradeira confissão.

Este, usando uma camisola de algodão grosseiro, mãos atadas com cordas rústicas, ia murmurando de olhos fechados as suas últimas orações. As torturas não tinham conseguindo quebrantar o seu espírito e há muito, a dor, de acérrima inimiga, havia se transformado em suave companheira.

Ainda é madrugada quando chegam ao local. A execução não havia sido anunciada e não havia público, mas, apesar do segredo, os rituais legais da morte precisavam ser seguidos. Sobre o patíbulo, o carrasco, o sacerdote e o prisioneiro que pediu para não ser vendado. Como testemunhas os soldados da guarda e o condutor da carruagem.

Eleva-se a voz do sacerdote: - pela última vez infeliz, renegas a heresia e aceitas Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador ?
Enquanto o carrasco ajeita a corda em seu pescoço, o prisioneiro murmura: - Ouve ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um!

Ouve-se um forte estalido do alçapão se abrindo e outro, mais fraco, do pescoço se quebrando. A corda balança algumas vezes e para. Os guardas retiram o corpo, enfiam-no em um grande saco de aniagem e o jogam no chão da carruagem. O padre esparge água benta em forma de cruz sobre o cadáver que seria queimado e reduzido a pó, "para que dele não restasse qualquer memória".

A chuva torrencial lava qualquer sinal do acontecido. O sol começa a nascer em úmida Lisboa em meados de fevereiro de 1744.

Quem era afinal a vítima do carrasco ?
Pedro de Rates Hanequim, cristão-novo, erudito historiador, geógrafo, astrônomo, matemático, e aventureiro, um dos maiores cérebros do império português, viveram 26 anos no Brasil e finalmente morreu em sua própria terra como apóstata.

Esse notável estudioso, que sabia ler os livros sagrados no original em hebraico e aramaico e as versões em latim e grego, após décadas de estudo identificou o lugar onde teria sido o paraíso terrestre, o Éden.

Dizia que do local do paraíso seria possível ver uma constelação em cruz, o trono de Deus, o Cruzeiro do Sul; que a arvore do conhecimento era não a macieira e sim a bananeira, que ele chamava de árvore da vida e os nove rios que demarcavam o paraíso seriam os rios que formam a bacia amazônica : Amazonas, Juruá, Tefé, Guará, Purus, Madeira, Tapajós. Xingu e Tocantins.
O paraíso terrestre teria sido onde hoje se situa o Estado do Pará, que aliás, em hebraico, significa "vaca".

Entre os anos de 1492 e 1540, a o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição obrigou a conversão ao catolicismo de cerca de 190.000 judeus em Portugal e Espanha. Outras centenas de milhares de homens, mulheres e crianças que se negaram à conversão foram torturados e dizimados da forma mais cruel. Observe-se que nesta época cerca de metade de população de Portugal, em torno de um milhão de habitantes, era composta de judeus.

Basta dizer que o primeiro livro impresso em Portugal, em 1487, foi a Torah (Pentateuco) em caracteres hebraicos.

Em 1500 o Brasil é descoberto pela esquadra de Pedro Álvares Cabral, abrindo-se, assim, um "Mar Vermelho" para a fuga dos judeus portugueses que corriam risco de vida. Um dos importantes oficiais da esquadra de Cabral era o interprete judeu Gaspar da Gama, bem como eram confeccionados por cartógrafos e instrumentadores como o judeu Jehuda Cresques da Escola Naval de Sagres, os mapas que conduziram Cabral e outros navegadores, durante as suas expedições.

Em 1503 o judeu Fernão de Loronha, que passou para a história com o nome de Fernando de Noronha lidera um grupo de judeus portugueses e apresenta a D. Manuel a primeira proposta de colonização do novo território. Por este documento o grupo de judeus cristãos-novos liderados por Noronha arrendava todo o Brasil e obtinha o monopólio de tudo que o país produzia, principalmente pau-brasil e comércio de escravos, em troca de mandar anualmente seis barcos carregados de mercadoria para a metrópole, descobrirem 300 léguas de novas terras e construírem e manterem algumas fortificações.

Em 1516, D. Manuel distribui ferramentas aos que quisessem se mudar para o Brasil. Ele queria implantar engenhos de cana nesta terra "recém descoberta". Milhares de judeus aproveitam esta oportunidade.

Em 1531, Martin Afonso de Souza, discípulo do judeu português Pedro Nunes foi mandado pelo Rei D. João III para a primeira expedição sistemática colonizadora tendo implantado o primeiro engenho de açúcar do país em S. Vicente. As primeiras usinas de açúcar do Brasil foram criadas por judeus egressos da Ilha da Madeira, onde esta cultura era tradicional.
Em 1550 havia 5 engenhos no país. Em 1600 havia 120. Segundo os historiadores Oliveira Lima e Gilberto Freyre, "a indústria do açúcar foi importada pelo Brasil pela maior parte por judeus, que constituíam o melhor elemento econômico de sua época, e lucravam com fugir à fúria religiosa que grassava na Península Ibérica". Um dos maiores usineiros de açúcar de Pernambuco era Diogo Fernandes, marido da judia Branca Dias, uma das poucas brasileiras executadas pela Inquisição e que dá nome nos dias de hoje a um belíssimo palacete tombado, sede de uma Loja Maçônica em João Pessoa.

Em 1577 com o término do domínio espanhol sobre Portugal, muitos judeus vieram para o Brasil direto da Península Ibérica. Alguns destes foram para a América do Norte, Holanda e América Espanhola. Entre os anos de 1591 e 1618 os judeus se espalharam pelo Brasil, principalmente para o Sul.

1601 - Licença para a saída do Reino e promessa de nunca mais se renovar a proibição. Serviço de 170 mil cruzados. A licença para a saída era expedida em forma de um salvo-conduto, com direito apenas a uma ida (e nunca à volta) e exigia que o nome do solicitante fosse aportuguesado.

1605 - (16 de janeiro). Perdão geral em troca do donativo de 1.700.000 cruzados. Em 1610 retira-se a concessão de saída de 1601.
De 1637 a 1644 ? São tempos áureos para os judeus no governo holandês de Maurício de Nassau. Neste período, funda-se a 1ª Sinagoga "Zur Israel", em Pernambuco, quando vem da Holanda o 1º rabino de descendência Portuguesa Isaac Aboab da Fonseca.

Com a derrota dos holandeses para os portugueses em 1654, um grupo de prósperas famílias judias estabelecidas havia décadas no Recife, temendo a volta da Inquisição toma uma navio e ruma para uma outra colônia holandesa mais ao norte, Nova Amsterdã. Esse grupo faria parte dos fundadores da cidade de Nova York. A família proprietária do maior jornal do mundo, o New York Times, descende em linha direta desses judeus de Pernambuco.

1770-1824 - Período de liberalização progressiva, forte imigração de judeus marroquinos e alsacianos para a Amazônia,que acabaram por monopolizar a produção e exportação de borracha durante o seu período de maior apogeu e gradual assimilação dos judeus.
Os imigrantes judeus vinham para Belém do Pará e se estabeleceram em Belém, Manaus, Cametá, Gurupá, Breves, Baião, Macapá, Santarém, Itaituba, Óbidos, Parintins, Maués, Itacoatiara, Manacapuru, Coari, Tefé, Humaitá, Porto Velho, e outras cidades.

Outro ramo foi para o Nordeste e se estabeleceu no Ceará, criando uma grande e próspera colônia em Sobral, especialmente por causa do porto de Camocim, que nesta época não era alfandegado, e da excelente estrada de ferro, construída por D. Pedro II, que ligava o porto a Sobral. Outra grande colônia se estabeleceu em Recife, e menores na Paraíba, Bahia e Rio Grande do Norte.
Os judeus foram os primeiros regatões da Amazônia e a bordo de seus barcos e batelões levavam mercadorias para vender no mais remotos rincões em troca de castanha, borracha, bálsamo de copaíba, peles e couros e outros produtos que depois eram exportados.

Entre 1824-1855 ocorreu a fase da assimilação profunda, subseqüente à cessação da imigração judaica homogênea e a equalização total entre judeus e cristãos perante a lei.
O período entre 1855 e 1900 marcou o início do momento imigratório moderno, caracterizado pelas primeiras levas de imigrantes judeus, oriundos, sucessivamente, da África do Norte, da Europa Ocidental, do Oriente Próximo e mesmo da Europa Oriental, precursores das correntes caudalosas que, nas Primeiras décadas do século XX, viriam gerara e moldar a atual coletividade israelita do país.

Esses judeus se estabeleceram no sul e sudeste do país e se dedicaram principalmente ao comércio, a indústria, a construção civil e a área de comunicação. Por exemplo: o primeiro prédio feito em concreto armado em todo o Brasil, foi uma sinagoga em S. Paulo.

A Rede Brasil Sul de Comunicação com sede no Rio Grande do Sul, a Editora Abril; a Editora Nova América (dos gibis), a TVS; a rádio e TV Vanguarda de Sorocaba e outras tantas pertencem a famílias de origem judia.

Segundo alguns estudiosos, cerca de 10% da população brasileira, algo em torno de 15 a 17 milhões de pessoas, é descendente direta dos judeus fugidos da Inquisição. Isso quer dizer que a população de cristãos novos, descendentes de judeus no Brasil, é praticamente igual a população total de judeus em todo o mundo.

Três curiosas contribuições do judaísmo para a cultura brasileira são a carne de sol, a tapioca e talvez o chapéu de couro dos vaqueiros no Nordeste.
A dieta judaica chamada "kasher" obriga a comer a carne sem sangue, por isso, os cortes eram pendurados em varais para dessangrar. Ao se repetir o procedimento no Brasil, o sol, a umidade e temperatura cozinhavam a carne. Pronto: estava criada uma das mais tradicionais iguarias da região.

A tapioca é a tentativa de reproduzir o "matzá", o pão ázimo de Moisés, com farinha de tapioca, porque não existia farinha de trigo no Brasil. Nascia mais uma delícia da cozinha regional brasileira.

A forma tradicional do chapéu de couro nordestino aproxima-se da forma da "kipá", o solidéu, que era provavelmente usado pelos primeiros fazendeiros judeus da região. Observa-se enorme diferença entre os chapéus de palha do México, da Colômbia, do Panamá e dos Pampas, embora a mesma matéria prima estivesse disponível em todas as regiões.


Para encerrar, o nome Brasil tem como origem o pau-brasil, madeira de cor avermelhada que foi o primeiro produto de exportação do país, e que também é conhecido como pau-tinta ou pau-ferro. Curioso é notar que em hebraico, ainda hoje, a palavra que denomina ferro é barzel. Brasil poderia ser assim uma derivação dessa exp
ressão

SOBRENOMES DE ORIGEM JUDAICA - Michael Winetzki

Há milhares de sobrenomes judeus utilizando a combinação das cores, dos elementos da natureza, dos ofícios, cidades e características físicas, tendo como raiz, por exemplo as seguintes palavras:

Cores: Roit ou Roth (vermelho); Grun ou Grinn (verde); Wais ou, Weis ou Weiss (branco); Schwartz ou Swarty (escuro, negro); Gelb ou Gel (amarelo); Blau (azul)
Panoramas: Berg (montanha); Tal ou Thal (vale); Wasser (água); Feld (campo); Stein (pedra); Stern (estrela); Hamburguer (morador da vila).

Metais, pedras preciosas e mercadorias: Gold (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant ou Diamante (diamante), Rubin (rubi), Perl (pérola), Glass, (vidro), Wein (vinho).

Vegetação ou natureza: Baum ou Boim (árvore); Blat (folha); Blum ou Blume (flor); Rose (rosa); Holz, (Madeira).

Características físicas: Shein ou Shen (bonito); Hoch (alto); Lang (comprido); Gross ou Grois (grande), Klein (pequeno), Kurtz (curto); Adam (homem).

Ofícios: Beker (padeiro); Schneider (alfaiate); Schreiber (escriturário); Singer; (cantor); Holtzkocker (cortador de madeira), Geltschimidt (ourives), Kreigsman, Krigsman, Krieger, Kriger (guerreiro, soldado), Eisener (ferreiro), Fischer (peixeiro ou pescador), Glass ou Gleizer (vidreiro).

Utilizaram-se as palavras de forma simples, combinadas e com a agregação de sílabas como son, filho; man, homem ou er, que designa lugar.
Na versão para o português ou espanhol, procurou-se aproximar o máximo possível os mesmos critérios. Considere-se também a mudança do idioma português através dos séculos.

Alguns dos sobrenomes de judeus aportuguesados são: Alves; Andrade; Alencar, Amaral; Alfaia; Aguiar; Arruda; Benjamim; Bento; Bentes; Bezerra; Brito; Botelho; Cáceres; Cabral; Carvalho; Cardoso; Cerqueira; Costa; Cintra, Contente; Daniel; David; Duarte; D?Avila; Dias; Elias; Franco; Ferreira; Fundão; Feijão; Fonseca; Gabai; Gabilho; Gomes; Henriques; Laredo; Ladeira; Lisboa; Linhares; Levi; Leite; Madeira; Machado; Marques; Matos; Matatias, Moreno; Mendes; Mello; Medina; Muniz; Navarro; Neto; Nunes; Noronha; Osório; Oliveira; Obadia; Passarinho; Pina; Pinto; Pereira; Prado: Porto; Rocha; Ribeiro; Regatão; Rego; Rodrigues; Salomão; Santos; Saraiva; Salvador; Serra; Silva; Silveira; Simão; Soares; Vasconcelos; Viana, Vieira e muitos outros.


Recentemente fotografei na parede da primeira sinagoga das Américas, a Zur Israel, em Recife, um quadro com centenas de sobrenomes aportuguesados dos judeus que vieram da Península Ibérica nos anos da Inquisição.

fevereiro 18, 2022

POR QUE 1804? - Ir. Ailton Pinto de Trindade Branco


Ir. Ailton Pinto de Trindade Branco. Presidente da Oficina de Restauração do REAA.

O nome Rito Escocês Antigo e Aceito foi anunciado para o mundo maçônico após a criação do primeiro Supremo Conselho em Charleston, Estados Unidos, em 31 de maio de 1801.

Em 4 de dezembro de 1802, uma circular levou ao conhecimento dos maçons, principalmente europeus, a criação do Conselho-Mãe em Charleston, na Carolina do Sul, denominado Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º e último Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Antes de 1801, fora fundado pelo Conde de Grasse-Tilly, um Supremo Conselho nas Índias Ocidentais Francesas, com 33 graus. Entretanto, esse Supremo Conselho foi ignorado e abafado pelo Supremo Conselho norte-americano, que conseguiu fazer-se constar como o Supremo Conselho-Mãe do Mundo.

Nos três primeiros anos de vida do Supremo Conselho norte americano, o Rito Escocês Antigo e Aceito permaneceu sem ritual próprio. Os Altos Graus funcionaram com os Graus de Perfeição do Rito de Heredom, acrescentados dos oito novos graus que totalizavam os 33. Os novos graus não eram Iniciáticos e ganharam conteúdo mais administrativo que litúrgico. Os Graus Simbólicos, na época conhecidos como Maçonaria Azul, foram os da ritualística norte americana.

O segundo Supremo Conselho criado foi o de France, em 1804, quando também foi confeccionado o primeiro ritual dos graus simbólicos do Rito, o “Guide des Maçons Écossais”. Foi idealizado pelos maçons franceses, apelidados de “escoceses”, que fundaram nesse mesmo ano, 1804, uma nova Obediência Maçônica em Paris: a “Grande Loja Geral Escocesa”, mais uma Loja-Mãe do Rito Antigo Aceito, um modelo ritualístico recebido dos maçons integrantes da Grande Loja dos “Antigos” de Londres. A Grande Loja Geral Escocesa de Paris uniu particularidades do Rito Antigo Aceito, de origem operativa, praticado na Escócia, com a natureza hebraica do Rito de Perfeição e organizou um ritual para os graus ditos simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.

LOJAS-MÃE ESCOCESAS NA FRANÇA

Assim como no presente se associa naturalmente Supremo Conselho com Rito Escocês Antigo e Aceito, pode-se considerar a mesma associação no passado entre maçonaria azul e as Lojas-Mãe Escocesas. Na França, a primeira Loja-Mãe Escocesa foi a de Marselha, criada em 1751, coincidindo com a fundação da segunda Grande Loja em Londres, que se declarou dos “Antigos Maçons”. A segunda Loja-Mãe na França foi a de Avinhão e a terceira, a Grande Loja Geral Escocesa, já referida, criada em Paris, em 1804, para organizar o ritual que serviu para os três graus básicos dos 33 da vertente latina do Rito Escocês Antigo e Aceito.

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO NASCEU SEM GRAUS SIMBÓLICOS PRÓPRIOS

O Supremo Conselho fundado em 1801, nos Estados Unidos, veio para organizar a maçonaria praticada nos chamados Altos Graus, entre os quais estavam os do Rito de Heredom, criado a partir de 1758 e usado como referência para a criação do Rito Escocês Antigo e Aceito. O novo Rito se constituiu literalmente de 33 graus. Na prática, dos 33 graus, o Supremo Conselho de Charleston interessou-se em comandar do 4 ao 33, não se envolvendo com os três primeiros para evitar conflito com a maçonaria norte americana das Lojas Azuis. Desistiu de qualquer tipo de ingerência nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre do Rito Escocês Antigo e Aceito. E com essa mesma concepção, o Rito chegou na França, em 1804, através do Supremo Conselho fundado em Paris, dentro do Grande Oriente de France, que tinha o Rito Moderno, ou Francês, como oficial. 

Inicialmente, o Supremo Conselho de France manteve o mesmo modelo de seu precursor americano: deixou os graus simbólicos para a Grande Loja Geral Escocesa, criada também em 1804, para organizar os graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, que funcionou, ao exemplo do Supremo Conselho, dentro do Grande Oriente de France. A partir de 1816, com o desaparecimento da Grande Loja Geral Escocesa, o Grande Oriente assumiu as atribuições do simbolismo escocês antigo na França e, ao faze-lo, diminuiu a autoridade do Supremo Conselho sobre o número de graus, criando, sob sua jurisdição, as Lojas Capitulares, que trabalham dos graus 1º ao 18º do Rito Escocês Antigo e Aceito. Nessa ocasião, lançou um novo ritual para as Lojas Capitulares, em 1820, implantando diversas alterações no ritual de 1804.

O ritual de 1804, em linhas gerais, reproduz os procedimentos praticados pelos maçons da Grande Loja dos “antigos” de Londres. Algumas diferenças foram inevitáveis para conciliarem a ritualística da maçonaria azul dos “antigos” com o simbolismo fundamental dos Altos Graus. Por isso, o Primeiro Vigilante foi deslocado do centro do Ocidente, em frente ao Venerável Mestre, para junto da Coluna do Norte e o Segundo Vigilante trazido do meio da Coluna do Sul para a ponta da mesma Coluna, ambos lado a lado no Ocidente. A nova distribuição das Luzes no Templo compatibilizou-as com a encontrada nos graus acima do 3, os Graus de Perfeição recolhidos do Rito de Heredom.

AS DUAS VERTENTES DE INFLUÊNCIA NO RITO

A idéia de um rito maçônico originário do movimento de criação dos Supremos Conselhos a partir dos Estados Unidos da América, que ganhou o nome de Rito Escocês Antigo e Aceito, se apoiou na certeza de que o importante no arcabouço do Rito seriam os Altos Graus. A maçonaria azul teria o papel apenas de base do edifício, servindo de arregimentadora de pretendentes. O primeiro Supremo Conselho concebeu o Rito com 33 graus, mas deu aos três primeiros importância mínima, não lhes revestindo da roupagem própria do escocesismo. Aproveitou o que já existia no país e sobre eles montou a estrutura principal do 4º ao 33º. Presentemente, considera-se que essa foi a vertente anglo-saxã do Rito Escocês Antigo e Aceito, que permanece sem rituais próprios para Aprendiz, Companheiro e Mestre. Nos Estados Unidos o Rito existe do grau 4º para cima. Não há Loja especializada em trabalhos simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.


A existência de duas influências ritualístico-institucionais foi materializada após a chegada do Rito na França. Até 1813, as Lojas-Mãe Escocesas lideraram a maçonaria azul na França e mantiveram a ritualística sem alterações. A fusão das duas Grandes Lojas inglesas, a dos “modernos” e a dos “antigos”, na atual Grande Loja Unida da Inglaterra, enfraqueceu a posição das Obediências que preservavam a ritualística dos “antigos”, como foi o caso das Lojas-Mãe Escocesas, que desapareceram nos anos seguintes. 

Quando o Grande Oriente de France assumiu os Graus Simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito e criou as Lojas Capitulares, estabeleceu um segundo modelo de funcionamento e jurisdição para o Rito. Os Altos Graus se constituíram do 19º ao 33º sob a hegemonia do Supremo Conselho e os graus abaixo desses ficaram sob a autoridade do Grande Oriente. 

As divergências entre o Supremo Conselho de France, de um lado, e os Supremos Conselhos dos Estados Unidos e da Inglaterra, de outro, dividiram o Rito Escocês Antigo e Aceito em duas vertentes; uma ortodoxa, a anglo-saxônica, e uma heterodoxa, latina ou francesa. Foram alterados alguns procedimentos ritualísticos, símbolos e até a concepção interna do Templo. Uma das principais modificações foi a implantação de um desnível que passou a caracterizar o Oriente como uma região geográfica delimitada e não mais constituída apenas pelo Venerável Mestre.

 A cor igualmente foi trocada. O azul da maçonaria azul cedeu lugar para o vermelho do Grau Rosa-Cruz, o mais elevado da Loja Capitular, e os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre passaram a fazer parte de uma denominação nova; o simbolismo, que recebeu o vermelho. O simbolismo substituiu a maçonaria azul. Assim se formou a vertente latina do Rito Escocês Antigo e Aceito. 

Mais tarde, os Supremos Conselhos do mundo inteiro reivindicaram o retorno para o sistema inicial, ou seja, com poderes sobre o conjunto de graus a partir do 4º e se estendendo até o 33º, ocasionando o desmantelamento das Lojas Capitulares. No entanto, as cores permaneceram as duas, dependendo da vertente e a ritualística também, pois o simbolismo da vertente latina é diferente da vertente anglo-saxã.

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Bibliografia:

ABRINES, Frau e ARDERIU, Arus. Diccionário Enciclopédico dela Masonería. Kier S/A, Buenos Aires, Argentina, 1962.GOULD, Robert Freke. The History of Freemasonry. Thomas C. Jack, London, 1887.

GRANDE ORIENTE DE FRANCE. Prólogo do Ritual Rite Écossais Ancien & Accepté. Paris, 2000. HORNE, Alex. O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. Pensamento, São Paulo, 1999.

LANTOINE, Albert. Histoire de la Franc-Maçonnerie Française. Slatkine Reprints, Genéve-Paris, 1981.

NAUDON, P. Histoire, Rituels et Tuiler des Hauts Grades Maçonniques. Dervy Livres, Paris, 1984.

PALOU, Jean. A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática. Pensamento, São Paulo, 1998.

PROBER, Kurt. História do Supremo Conselho do Grau 33º do Brasil. Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981.

STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria – O Século da Escócia (1590-1710). Madras Editora, São Pau- lo, 2005.

LOJA DE MESA - Pedro Juk




Questão apresentada em 17/12/2013 pelo Respeitável Irmão Cleber Barros Cunha, Loja Acácia Acesita, 2.229, REAA, GOB-MG, Oriente de Timóteo, Estado de Minas Gerais.

Escrevo-lhe para solicitar-lhe esclarecimento sobre o Jantar Ritualístico. Pela minha caminhada maçônica, tenho participado de vários Jantares Ritualísticos e tenho percebido divergências entre estes, considerando-se inclusive que nestes normalmente participam Irmãos de outras potências. Nesta última semana, entretanto, fiquei surpreso em participar de um Jantar Ritualístico (coordenado por uma Loja do GOB) onde tínhamos cinco saudações, sendo que o que até então eu conhecia eram sete. Após o Jantar Ritualístico propriamente dito, foi realizada a Cadeia de União, com o propósito de solicitar apoio do GADU a todos irmãos. Pergunto: existe no GOB uma ritualística definida? Quantas devem ser as saudações (acredito que seria em número de sete) e para quem? Poderá ter a Cadeia de União (acredito que não)? Poderá ter Saudação à Bandeira? Complemento que também já participei de Jantar Ritualístico dos Corpos Filosóficos. Existe neste caso uma definição?

Considerações:

O ideal mesmo é que identificássemos essa tradição como Loja de Mesa. Infelizmente essa tradição maçônica além de ser tratada como “jantar” está muito longe de cumprir a verdadeira tradição. 

Com o passar dos tempos editaram-se inúmeros rituais, escreveu-se literatura que fora acrescida de invenções copiadas umas das outras e tomadas como bibliografia séria, e por aí se vai. 

O resultado desses “embrulhos” é essa festa de atentado contra a tradição que se vê por esse mundo maçônico afora – reuniões realizadas fora das datas solsticiais e equinociais, brindes e fogos sem sentido, sinais maçônicos executados por comensais sentados, desordem na mesa, enfim, verdadeiras badernas e atentado contra a ritualística. 

Geralmente chamam isso de “jantar ritualístico”. O hilário é que ainda chamam essas reuniões de ritualística. Uma dessas origens deturpadas está nos rituais rançosos e ultrapassados existentes por aí que tem servido para alguns como artigo de luxo e fidedigno da história – pobre literatura...

O que se dizer então das saúdes de obrigação se a grande maioria pensa que o ato é mesmo uma festa.

Como compreender então que existe um número certo para as saúdes e momento propício para a “demolição dos materiais”?

Quanto a Cadeia de União alguns ritos a adotam, todavia ela tem uma forma especifica para ser executada, inclusive no que tange a sua finalidade, porém não a de ficar pedindo apoio para os convivas.

Saudação ao Pavilhão na Loja de Mesa é mais uma dessas invenções!

Alguns costumes tradicionais dos canteiros maçônicos variam entre sete ou oito saúdes de obrigação. Geralmente ao Mestre, à Loja, ao País, à família, aos Irmãos, aos que partiram aos frutos produzidos na estação (ciclos da Natureza) e à proteção para conduzir os que com dificuldades encontrem um porto de salvamento.

Com o advento da Moderna Maçonaria surgiram brindes “no melhor fogo possível” à Obediência e a figura do Grão-Mestre.

Dentro dessa tradição surgem as particularidades ritualísticas conforme as datas solsticiais (junho e dezembro) e as equinociais (março e setembro). Existe a formatação dos Sinais e os objetos específicos (alfanje, picareta, telha, bandeja, canhão, barricas, alinhamento, pólvoras, areias branca e amarela, etc.). Cada saúde de obrigação é constituída pelos movimentos de sorver a pólvora, fraca ou forte, como “fogo”, “bom fogo” e “o melhor de todos os fogos” – origem do jargão popular “o fulano está de fogo”, etc., etc., etc. Infelizmente pouco disso de vê nesses “jantares” que ainda chamam de ritualísticos.

Atualmente as Obediências, como é o caso do GOB, têm editado rituais especiais que neles também tratam desses “jantares e banquetes” (sic). Esses eu prefiro não comentar.

No tocante às celebrações de Corpos Filosóficos essas são particularidades desses Corpos e não traduzem as tradições dos Canteiros Medievais e das respectivas Tabernas como espaços tradicionais hauridos da pura Maçonaria inicialmente com duas classes de trabalhadores operativos na pedra calcária.

Finalizando, estou preparando um livro para os próximos anos que tratará de modo acadêmico esse importante costume maçônico. Não é pretensão minha, todavia o meu objetivo é clarear melhor esse caminho para ilustrar a diferença entre reunião de comensais, confraternizações e outros afins de uma verdadeira Loja de Mesa. 

Nesse contexto já adaptei e formatei dois projetos de rituais para o REAA (solsticial – João Batista e o Evangelista; equinocial – de outono e de primavera) para laboratório de estudo nesse particular, cujo conteúdo tenho deixado à disposição dos Irmãos interessados no estudo maçônico, todavia não como um ritual oficial.

fevereiro 17, 2022

PAIS DESNECESSÁRIOS - Dalai Lama



Os bons pais são aqueles que vão se tornando desnecessários com o passar do tempo.

Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou

estranha.  Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.  Uma batalha hercúlea, confesso.  Quando começo a esmorecer na luta para controlar os super- pais que todos temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.

Se eu fiz o meu trabalho, tenho que me tornar desnecessário.

Antes que alguma mãe/pai apressado me acuse de desamor, explico o que significa isso.

Ser "desnecessário" é não deixar que o amor incondicional de pais, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.  A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.  A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, pais e filhos.

Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida.  Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.  O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.  Esse é o maior desafio e a Resposta a ser "desnecessários", nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

"Dê a quem você Ama : - Asas para voar...- Raízes para voltar...


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MAÇONARIA OPERATIVA - Francisco Carromeu



Francisco Carromeu, M∴M∴, R∴L∴ Madrugada, nº 508 a Or∴ de Lisboa, G∴O∴L∴ 

A Maçonaria, tal como hoje a conhecemos e com as poucas alterações que foi sofrendo ao longo do tempo, é a mesma que nasceu da constituição da Grande Loja de Londres, em 1717, pela reunião das quatro lojas que a fundaram. Desse ato fundador da Maçonaria Moderna, também designada de especulativa, relevam três características fundamentais que a definem: a variedade de profissões a que pertencem os seus membros, a tolerância religiosa e política entre si e em relação aos outros e, finalmente, a adopção de um ritual e de um conjunto de normas estatutárias, derivadas das antigas corporações de ofícios da Idade Média. 

Estas três características, se por um lado, legitimam a nova maçonaria como a continuadora daquelas instituições medievais, porque encontramos nelas, formas, expressões e comportamentos que se revê nas lojas maçónicas, por outro lado, elas não podem ser entendidas como uma mera evolução da primeira. Primeiro, porque as lojas fundadoras da Grande Loja de Londres não eram antes operativas, ou qualquer outro tipo de confrarias ou corporações e os seus membros não tinham essa proveniência; segundo, porque essas corporações tinham a singularidade de congregar indivíduos da mesma profissão ou de profissões afins, enquanto as lojas maçónicas se caracterizam, precisamente, pela sua interprofissionalidade ; terceiro, porque as primitivas associações medievais adoptavam um santo protetor, ou orago, à volta do qual se desenvolvia uma liturgia própria, ao contrário das lojas maçónicas, onde essa questão é ultrapassada pela designação de Grande Arquiteto do Universo, sem definição objetiva, para que cada um reveja nele, ou a partir dele, o fundamento das suas convicções religiosas e o possa aceitar como seu. 

É claro que estas preocupações se explicam melhor, se enquadrarmos a fundação da Grande Loja de Londres, na Inglaterra de princípios do século XVIII. Alguém lhe chamou o século da tolerância porque sucedeu a um outro que foi o seu contrário - um longo período, longamente castigado pelos conflitos religiosos, com vítimas que se contavam às centenas de milhar e com os consequentes reflexos no tecido social e na estrutura do poder político, instabilizado no interior e, por isso, fragilizado para enfrentar os concorrentes europeus, também eles a passar por dificuldades semelhantes. 

Para uma Inglaterra que havia assumido uma rebelião radical contra Roma e contra a autoridade papal, era compreensível o aparecimento de certos focos do grande conflito religioso que continuava em toda a Europa, enquanto se não definisse a estrutura de uma nova religião, que fosse suficientemente autónoma e distante das questões pelas quais se rebelara. Mas a Igreja católica tinha enveredado pela via mais radical e definia as novas regras nas conclusões do Concílio de Trento. Era a separação das águas que o protestantismo agradecia como legitimação da sua dissidência. A via protestante do cristianismo europeu tinha agora um caminho mais fácil a percorrer. 

Ao longo do século XVII e com o fim do consulado de Cromwell, a Inglaterra possuía uma igreja própria, a anglicana, autónoma em relação a Roma, mas faltava-lhe uma organização de elite que tivesse uma função reguladora da sociedade, da moral e dos costumes, mas que não deixasse de promover um certo dinamismo social e económico, de que o país tanto precisava; que fosse uma espécie de superestrutura que, tanto protegesse as instituições nacionais como também lhes conferisse uma acentuada competitividade, numa Europa onde o Antigo Regime já ia dando muitos sinais de cansaço, sem deixar vislumbrar os contornos da nova ordem. Estabilizadas as instituições inglesas, havia agora que propiciar-lhes um terreno fértil para se desenvolverem, promover as melhores condições para a congregação de uma massa crítica, intelectual, científica, religiosa e política, que atravessasse horizontalmente as classes e permitisse um debate de ideias, livre e alargado. 

É este o contexto em que aparece a Maçonaria Moderna, vinda do interior de um sistema político e religioso que defenderá sempre, enquanto cria as mais diversas dinâmicas de crescimento, na sociedade, na economia e nas organizações. A Inglaterra, como toda a Europa, tinha uma longa experiência de instituições corporativas que congregavam a maioria das atividades artísticas e comerciais, tinham rituais próprios e seletivos de entrada de novos membros e uma prática operativa só conhecida dos seus iniciados. É essa prática secreta que a Maçonaria Moderna importa e a coloca ao serviço e ao alcance de indivíduos pertencentes a várias classes, fazendo dessa nova organização uma Ordem de consciência e de valores. Se a Maçonaria Moderna tivesse saído do interior dessas organizações, podíamos conhecer as fases e as formas dessa evolução, as contestações internas e as dificuldades próprias de cada processo evolutivo. Mas não, as confrarias, as irmandades, as corporações de artes e ofícios, não se deram conta do nascimento da Grande Loja de Londres e o percurso de ambas decorreu afastado e sem pontos de cruzamento. 

Não foram, portanto, essas instituições da antiga maçonaria operativa que se desenvolveram no sentido da maçonaria especulativa. Delas, a Maçonaria Moderna só aproveitou a forma simbólica e ritualista que a legitimou. Se assim não fosse, poderíamos supor que a Maçonaria especulativa bem poderia ter surgido num outro qualquer país da Europa, como em França, em Itália, em Espanha ou em Portugal. A maçonaria moderna, da forma como a conhecemos desde 1717, não podia ter resultado do desenvolvimento das confrarias ou das corporações de ofícios, como as conhecemos em Portugal. As suas histórias são importantes, sem dúvida, sábias nas formas como definiram e aperfeiçoaram determinadas atividades ou artes, ricas nos elementos ritualísticos, simbólicos e iniciáticos que desenvolveram. Neste aspecto, a maçonaria moderna pode reivindicar para si uma herança que lhe pertence por inteiro, mas se repararmos na vida destas instituições, no tempo em que elas coexistem, apresentam percursos paralelos sem nunca se terem cruzado, é descontínua. Das corporações de artes e ofícios, há uma herança imaterial que a maçonaria moderna recebe e adapta ao racionalismo do século XVIII, mas a herança material e humana, transfere-se para a diversidade das novas instituições nascidas da Revolução Industrial, as Academias e as novas Universidades, as Ordens profissionais e, mais tarde, os Sindicatos. 

A história portuguesa assinala a existência de inúmeras corporações, confrarias e irmandades, com uma extraordinária capacidade de intervenção na sociedade e na economia. Essas instituições tiveram, algumas desde os primórdios da nacionalidade, uma ação determinante na própria formação do estado e da nação portuguesas, sem que se tenham deixado contaminar com as prerrogativas do poder político ou do poder religioso e é pena que ainda escasseiem as monografias sobre elas que, cremos, bem podiam confirmar esta asserção. Casos como o da Casa dos Vinte e Quatro, o das Ordens Religiosas e Militares, o do movimento das Misericórdias e o da Irmandade de São Lucas, são alguns desses casos, mas há outros, e muitos, que continuam a aguardar quem os estude devidamente.