março 02, 2022

A ELEGÂNCIA DO COMPORTAMENTO - Ênio Carvalho

Ênio Carvalho, de BH,  é engenheiro, palestrante, instrutor de PNL e também notável intelectual maçônico.

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.

É uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das maldades ampliadas no boca a boca.

É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz.

Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.

É possível detectá-la em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.

É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao de outro.

É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade.

Sobrenome, joias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.

Educação enferruja por falta de uso.

Seja a diferença, sendo quem você verdadeiramente é.

∴ Tenha um ótimo dia!!!

PNL, programação neurolinguística  uma extraordinária opção, confira : 

YouTube.com/eniocarvalhoinstrutor

março 01, 2022

MAÇONS NEGROS: UMA AGENDA PERDIDA










(transcrito do Jornal O Globo de 15.06.2003, 1º caderno, pág.7) 

Um dos capítulos mais memoráveis da história brasileira é a relação da maçonaria com a comunidade negra. A instituição dos pedreiros-livres teve (e tem) grandes quadros negros. Ela organizou a luta pela libertação do país em diversos momentos históricos – desde fins do século XVII, quando chegou ao Brasil – e se fortaleceu institucionalmente ao lutar por mais de 50 anos pela libertação dos escravos. 

Este ano, a lei que libertou os escravos completa 115 anos de existência, após ser assinada pela Princesa Isabel sob a influência dos ministros maçônicos do Império já enfraquecido pelo ideário republicano. Para se ter uma ideia, o famoso trio abolicionista do século XIX – os mulatos André Rebouças, José do Patrocínio e Luiz Gama – era composto de Maçons em lojas cariocas e paulistas. Foram eles que fundamentaram a cultura da libertação dos negros através de artigos, manifestos, atos públicos, conquista de adeptos para a causa e com discursos inflamados país afora. 

Com apoio maçônico, o trio afrodescendente ligou seus nomes definitivamente à causa da libertação negra. Essa luta contou com a participação, na época, de quase todas as Lojas Maçônicas espalhadas pelo país. 

Considerando um dos pioneiros da engenharia brasileira, Rebouças foi um dos maiores panfletários da causa negra na Escola de Engenharia do Largo de São Francisco, e criador de vários jornais abolicionistas. 

No mesmo ritmo de Rebouças, o jornalista José do Patrocínio percorria o país conclamando os Irmãos Maçons a aderirem, à causa da libertação. Já o advogado Luiz Gama, escrevia poesias e discursos de forte impacto para fortalecer a causa da libertação dos escravos. 

Tido como mulato, Rui Barbosa foi acusado de ter ordenado a queima de documentos referentes às origens dos escravos no Brasil, dificultando, com isso a recuperação da identidade afro-brasileira. 

No entanto, Rui Barbosa, como Maçom da Loja América, de São Paulo, talvez tenha produzido um dos documentos mais percucientes do movimento abolicionista. Em 7 de julho de 1868 na Loja América, Rui Barbosa leu o seu Projeto de Abolição, cuja cópia foi reproduzida em suas obras completas. Esse projeto, entre outras medidas, previa que: 

1. A Maçonaria, dali por diante, deveria lutar pela emancipação do escravo e criar meios para educa-lo para novas tarefas em nova sociedade, de fundo capitalista, onde o trabalhão era assalariado e não escravo; 

2. Todas as Lojas Maçônicas atuais e futuras não receberiam tal título se não adotassem a luta pela emancipação dos escravos; 

3. Todas as Lojas Maçônicas deveriam criar um fundo especial para comprar alforrias de crianças escravas e mesmo de adultos; 

4. Todas as Lojas Maçônicas deveriam criar escolas diurnas e noturnas para a educação dos ex escravos, como forma de reparação pelo crime de escravismo; 

5. A partir daquele momento ninguém seria iniciado na Ordem se tivesse escravos ou ligação com os traficantes.

Divulgado em outras Lojas, o Projeto de Rui Barbosa acabou influenciando as demais unidades maçônicas espalhadas pelo Brasil. No Amazonas, a Maçonaria comprou um jornal, assumiu a sua direção e passou a veicular a luta abolicionista através de artigos e estudos. No Ceará, o então governador Maçom Sátiro Dias, assinou decreto extinguindo a escravidão naquele Estado, em 1884. Foi o primeiro Estado brasileiro a libertar os negros, quatro anos antes da Lei Áurea. 

Passados 115 anos da libertação, a situação da comunidade negra permanece inalterada. A agenda dos Maçons negros, subscrita por Rui Barbosa, Rebouças, Gama, José do Patrocínio, Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno Euzébio de Queiroz e outros nomes de destaque, foi perdida. Essa agenda pedia que fossem implementadas para o ex escravo a reforma agrária, educação integral, criação de centros de saúde, políticas especiais para crianças, qualificação de mão-de-obra, desenvolvimento comunitário – reivindicações tão comuns nos dias de hoje.

CONSCIÊNCIA MAÇÔNICA - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil



Ao nos referirmos à chamada Maçonaria Especulativa, cabe registrar que a mesma enquanto filosofia e instituição progressista e evolucionista  exulta prioritariamente a consciência e o trabalho interior e pessoal.

Ainda como filosofia, ela demanda discernimento e cultura.

O trabalho interior impõe um movimento subjetivo. 

O "reconhecido maçônico" não é status a ser apreciado pelo que os outros dizem ou comentam.  

A rigor esse reconhecimento é  refletir  aquilo que somos em nossa própria consciência.

Nossa lavra intelectual, espiritual e filantrópica perante o Grande Arquiteto do Universo, bem como nossa própria liberdade de pensamento é que sedimentam  essa relação que podemos denominar "Consciência Maçônica".

Os Dicionários Etimológicos apontam que a origem da palavra Consciência  advém do termo latino "conscientia" de "consciens" - presente do verbo "conscire" = estar ciente (cum = com, partícula de intensidade e scire = sei).

Encontra-se ainda uma possível raiz formada de junção de duas palavras do Latim: conscius+sciens: conscius (que sabe bem o que deve fazer) e sciens (conhecimento que se obtém através de leituras; de estudos; instrução e erudição)

Resumidamente Consciência significa: a capacidade e a disposição humana de vivenciar, experimentar ou compreender fragmentos ou a totalidade de seu mundo interior.

É o sentido ou percepção que o ser humano possui do que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais.

É sob essa égide que a "Consciência Maçônica" se estabelece, como uma legítima ferramenta de ligação e de caráter evolutivo entre o Homem e o Universo.



AS COLUNAS DO TEMPLO E A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA NA LOJA



 “O templo representa o Universo que é o Templo de Deus, cuja contrapartida é o corpo do homem. 

No interior do Sagrado Templo há uma câmara destinada à reunião geral para estudar as obras de Deus. 

E  a câmara interna é o sol do Templo, o lugar santo onde mora a Presença de Deus: a Loja. (...)

Tudo isso quer dizer que, como o Universo não tem limites e é um atributo de Deus que abarca tudo, assim também a Loja, o “Logos”, o Cristo dentro do homem, por definição não tem limites, está dentro e fora e tudo o que é feito por Ele foi feito.”... 

(Adoum, Jorge; GRAU DE APRENDIZ E SEUS MISTÉRIOS, ed. Pensamento - 1993.)

Já  esmiuçamos em trabalhos anteriores a forma da Loja, citando o Templo de Jerusalém como imagem e representação do Universo e todas as  maravilhas da criação.

A Loja representa a superfície da terra com os quatro pontos cardeais:  Oriente Ocidente (“caminho da luz”), Norte e Sul, sua largura; com terra, fogo e água sob nossos pés, e ar sobre as nossas cabeças, acima das quais representa o teto da Loja um céu estrelado, símbolo de um mundo imaterial. 

Sustentada por três CCol.’., a Loja de Aprendiz é governada pelo VM.’., fonte e fundamento da SABEDORIA em sua Loja, e pelos IIr.’. Primeiro e Segundo Vigilantes, que representam as CCol.’. da FORÇA e da BELEZA, respectivamente.

No significado histórico e filosófico das três CCol.’., a sabedoria jônica venceu a força espartana (dórica) e, quando ato e potência se equilibraram, surgiu a beleza, que se completou mais tarde, já na época helenística, ensejando a perfeição da coluna coríntia e completando o ternário, o qual, por sua vez, viria a repercutir em toda a história da humanidade.

É regra colocar as CCol.’. sobre o Altar das três luzes (VM.’. e VVig.’.), cada qual com sua coluna correspondente,  figuradas nos Altares por Pilares.

O Pilar da SABEDORIA no Oriente; no Setentrião, o Pilar da FORÇA e no Sul, o da BELEZA.

Representam o complemento de tudo, uma vez que SABEDORIA, FORÇA e BELEZA retratam os três aspectos da Criação:

_O Idealizador, o G.’. A.’., Aquele que imagina a perfeição e assim torna perfeita essa imagem;

_a Potência, que constrói a perfeição de Si, ou a que nos sustém em nossas dificuldades;

_e a Qualidade de quem Se reconhece na própria obra e ali contempla a própria perfeição.

Que possamos então bem compreender que a Sabedoria cria, mas quem sustém é a Força e que ambas valor não teriam se não houvesse a Beleza para adornar e ser atraente.

O conjunto da obra é mais importante que as partes por si só.

Assim como nós em nossas Lojas...

Bom dia meus irmãos e um bom feriado de Carnaval para todos.

(autor desconhecido)

O SUMO SACERDOTE NA TRADIÇÃO JUDAICA - Leibel Gniwisch

 


O Cohen Gadol, Sumo Sacerdote, mantinha a posição mais sagrada no Judaísmo. Seu cargo estendeu-se no decorrer da história, desde Aharon nos tempos antigos até a destruição do Segundo Templo. Seu trabalho era fiscalizar o serviço no Templo e agir como líder espiritual para o povo judeu. Sua responsabilidade mais proeminente era entrar no Santo dos Santos em Yom Kipur – quando o tempo, pessoa e local mais sagrados convergiam.

Os Antigos Sumo Sacerdotes

Quando o Tabernáculo foi construído no deserto, tornou-se necessário nomear um Sumo Sacerdote para fiscalizar seu serviço. Originalmente Moshê seria designado a assumir o cargo, mas segundo algumas tradições,1 ele perdeu aquele direito quando inicialmente se recusou a ser o mensageiro de D'us para libertar os judeus do Egito.

Embora suas intenções fossem puras – ele queria evitar ofender seu irmão mais velho aceitando o cargo mais prestigioso – sua hesitação demonstrou que a honra de Aharon era mais importante para ele que a ordem de D'us. Isso o tornou impróprio para o Sumo Sacerdócio, um cargo que necessitava de total subserviência ao Todo Poderoso,2 e Aharon se tornou o primeiro Sumo Sacerdote em seu lugar.

O Sumo Sacerdócio era para ser transmitido de pai para filho a menos que o filho fosse incapaz de servir.3 Com o falecimento de Aharon, o cargo foi assumido por seu filho Eleazar.4 Então, Pinchas, filho de Eleazar, tomou o manto e atuou durante a conquista de Israel da Terra Prometida.5

A família de Pinchas estava destinada a manter o Sumo Sacerdócio como uma recompensa pelo seu justo zelo.6 Aquele privilégio foi revogado, porém, e dado aos descendentes de Ithamar, o filho mais novo de Aharon, como resultado de dois erros graves que Pjnchas cometeu durante o reinado de Jephtha (988-982 AEC).7 O primeiro Cohen Gadol conhecido da família de Ithamar foi Eli, que atuou no Tabernáculo ao final de seu tempo em Shilo.8

Após sua destruição em Shilo, o Tabernáculo foi reconstruído em Nob {durante 13 anos9) e Guibeon {durante 44 anos10), e por fim substituído pelo templo do Rei Shlomo em 832 AEC.11 O primeiro Cohen Gadol a servir no Templo foi Zadok,12, um descendente de Pinchas.13 O Sumo Sacerdócio permaneceu em sua família até a construção do Segundo Templo.

Sumos Sacerdotes durante o Segundo Templo: Uma Rosa Entre os Espinhos

Embora o Primeiro Templo tenha contado com apenas 18 Sumo Sacerdotes durante seus 400 anos,14 mais de 300 atuaram durante os 420 anos do Segundo Templo!15 Vários foram justos, e seus serviços combinados por 141 anos. Proeminentes entre eles:

Yehoshua o filho de Jehozadak, o primeiro Cohen Gadol do Segundo Templo.

Shimon, o Justo, marcado como o último dos Homens da Grande Assembleia.16 Quando Shimon encontrou Alexandre, o Grande, em seu caminho para atacar o Templo, Alexandre se prostrou e prometeu tratar os judeus benignamente, explicando que antes de toda batalha ele tinha uma visão de Shimon liderando suas tropas para a vitória.17

Yishmael Ben Pabi, cuja morte foi dita ter terminado com o esplendor do Sumo Sacerdócio.18

Yohanan que liderou o povo judeu fielmente durante 80 anos e subsequentemente se tornou um Saduceu. A história de Yohanan inspirou o adágio:19 “Não tenha certeza de si mesmo até o dia em que você morrer.”20

A ascensão de Antiochus IV Epiphanes ao trono Selêucida em 175 AEC marcou o início do fim do verdadeiro Sumo Sacerdócio. Onias III, descendente de Zadok, atuava como Cohen Gadol na época. Uma vítima de falsas acusações, Onias foi deposto e substituído pelo seu irmão helenizado, Jason, que prometeu a Antiochus pagamentos de impostos mais altos dos judeus e uma secularização do serviço judaico mais sagrado. Poucos anos depois, Menaulus, um não-Cohen da tribo de Benjamin, prometeu a Antiochus uma grande soma de dinheiro pela posição de Cohen Gadol. Seu desejo foi concedido com a ajuda do exército Selêucida.21

Assim começou a prática de comprar o Sumo Sacerdócio do governo que continuou {com algumas exceções) durante a época Hasmoneana e a soberania romana. Isso explica o número extremamente alto de Cohen Gadols durante esse periodo(cerca de 285 em 279 anos), pois a maioria morreu quando entrava no Santo dos Santos em Yom Kipur.22 Muitos daqueles Sumo Sacerdotes ignoravam as exigências de seus cargos, e alguns eram saduceus que zombavam da prática religiosa aceita.

A Mishná 23 exigia que os sábios perguntassem ao Cohen Gadol se ele já havia aprendido como realizar o serviço de Yom Kipur; outra Mishná tem o voto do Cohen Gadol de que ele realizaria adequadamente a cerimônia do incenso. Os saduceus eram da opinião de que o ritual tinha sido mal interpretado pelos rabinos e havia certo risco de que o Cohen Gadol fosse seguir o método dos saduceus.24

O último Cohen Gadol do Segundo Templo foi Pinchas Ben Shmuel de Havta {68-70 EC) que foi colocado no cargo pelos zelotes durante o cerco romano a Jerusalém. Em vez de olhar para as prestigiosas famílias sacerdotais por um sucessor valioso. Os zelotes escolheram Pinchas por sorteio de dados. Este desrespeito pelo sagrado oficio foi deliberado; os zelotes pretendiam enfraquecer a autoridade do Cohen Gadol para que eles pudessem manter o poder.25 Alguns dizem que Pinchas era um pobre cortador de pedras que precisava de ajuda financeira de seus colegas sacerdotes, enquanto outros declaram que ele era independente e rico.26

A destruição do Segundo Templo trouxe um final abrupto para o cargo de Sumo Sacerdote

O Papel do Sumo Sacerdote: A Ocupação Mais Sagrada

No Tanach, o Cohen Gadol é chamado “o sacerdote chefe”27 e “supervisor da Casa de D'us.”28 Ele estava no topo de uma vasta cadeia de comando, encarregado de dirigir as operações no Templo. Por exemplo, quando artefatos sagrados precisavam ser selados para protegê-los de profanação, o selo do Cohen Gadol era a marca final da aprovação.29 Seu dia começava com a oferenda diária de farinha: uma isaron30 de farinha, fervida e assada em 12 pães. Seis eram queimados sobre o altar na manhã e os outros seis eram queimados à tarde.31

O Talmud Yerushalmi registra que muitos Sumos Sacerdotes participavam ativamente na totalidade do serviço diário do Templo, enquanto outros eram escolhidos para aceitar uma carga de trabalho menor.32

Os Urim e Thumim

Quando uma decisão de importância nacional era necessária, o Sumo Sacerdote era consultado. Dentro da dobra do peitoral do Sumo Sacerdote estavam os Urim e Thumim (luzes e perfeições), que serviam como um oráculo, uma resposta divina se o povo judeu deveria ou não assumir um certo rumo de ação.

Em Prece

O Cohen Gadol também atuava como líder espiritual do povo judeu e era seu principal advogado em suas preces. Durante a era do Templo, pessoas que cometiam assassinato sem intenção eram exiladas nas cidades de refúgio até que o Sumo Sacerdote morresse, e então poderiam retornar a seus lares.

O Talmud relata que a mãe do Cohen Gadol fornecia alimento e roupas àqueles ali abrigados, para que eles não rezavam pela morte de seu filho e dessa forma apressar seu retorno para casa.34 Seus temores não eram infundados. As preces do Sumo Sacerdote em prol do povo judeu deveriam ter impedido os assassinatos involuntários, mas o fato de terem ocorrido é considerado sua falha.35 Por causa da sua posição de liderança e possível arrogância, os sábios obrigavam o Sumo Sacerdote a curvar-se no início e no final de cada bênção na Amida.36

O Serviço de Yom Kipur

O serviço de Yom Kipur espelhava o serviço típico das festas com os dois sacrifícios diários, incenso duas vezes ao dia, oferendas especiais das festividades, e o acendimento da menorá. Além disso, oferendas de expiação eram levadas para o Sumo Sacerdote, sua família, os sacerdotes, e a nação como um todo. Em Yom Kipur, no entanto, o Sumo Sacerdote era requisitado a cumprir sozinho todos os serviços.37 Uma oferenda adicional de incenso também era trazida; esse era o único serviço realizado no Kodesh HaKodashim, Santo dos Santos.

A princípio, quando o Sumo Sacerdote confessava na frente das pessoas, ele pronunciava o nome de D'us em sua forma original. Por fim, nas gerações posteriores eles foram forçados a ocultar seu pronunciamento nos cantos harmoniosos para que as pessoas não fizessem mal uso do Nome divino.38 Existia um grupo privilegiado de sábios que sabiam o nome; eles informavam somente os sacerdotes a quem consideravam merecedores.39

Quando Shimon, o Justo, morreu, os sacerdotes não usaram mais o nome pleno de D'us para abençoar o povo.40

Somente um Cohen Gadol casado tinha permissão de trabalhar no Templo em Yom Kipur. O Zohar41 explica que um homem solteiro é considerado manchado num nível de alma [pois ele contém somente metade da alma, a outra metade reside em sua alma gêmea) e assim, não pode servir neste dia sagrado.

As Vestes do Sumo Sacerdote: Vestido para a Glória

O Sumo Sacerdote usava oito vestes: quatro vestidas pelos outros sacerdotes, e quatro únicas a ele.42 A tradição judaica ensina que cada veste servia para expiar um pecado diferente43 e eram para honrar e glorificar aqueles que as vestiam.44

Todos os sacerdotes usavam:

Turbante (mitznefet ou migba’at). Um pano branco, com 16 cúbitos, de linho ao redor da cabeça.

Cinto (avnet). Com trinta e dois cúbitos de comprimento, feito de uma combinação de linho branco e azul, vermelho, e lã roxa.

Túnica (ketonet). Feita de linho branco, era medida pela altura do indivíduo e comprimento do braço de cada sacerdote, para garantir que suas mangas chegassem até o pulso e a barra escondesse o tornozelo.

Calças (michnatsayim). Feita de linho branco; medida acima do umbigo até o joelho de cada sacerdote.

Somente o Sumo Sacerdote vestia:

Avental (efod). Feito de lã azul, vermelha e lilás, linho branco, e filamentos de ouro, o avental ao redor das costas do corpo do Sumo Sacerdote, era amarrado na frente, e chegava aos tornozelos. Duas tiras saíam de trás, passavam sobre os ombros do Sumo Sacerdote, onde uma correia de ouro as conectava com o cinturão. Ao final das tiras havia duas pedras (avnei shoham) sobre as quais os nomes das doze tribos eram inscritos.

Peitoral (choshen). Um quadrado de meio cúbito, feito de lã azul, vermelha e roxa, tiras de ouro, e linho branco. Tiras de ouro eram costuradas no material que segurava quatro pedaços de pedras preciosas; eram doze no total, e sobre cada uma estava inscrita o nome de uma tribo.45 Os Urim e Tumim eram colocados dentro da sua dobra. Como era necessário que todas as letras do alfabeto hebraico fossem disponíveis para responder a uma pergunta feita aos Urim e Tumim, as palavras “AAvraham, Yitschac e Yaacov” e “shivtei y-h (tribos de D'us) também estavam gravadas sobre as pedras.46

Robe (me’il). Sem mangas, feito de lã azul, e vestido sobre a túnica e o cinto. Pequenos sinos e romãs pendiam do cinto.

Placa na testa (tzitz). Feitas de puro ouro, a placa tinha dois dedos de largura e ia de orelha a orelha. Era perfurada a cada lado,47 permitindo que uma tira de lã azul passasse por ali e fosse amarrada atrás da cabeça, colocando-a no lugar. Estava inscrita com as palavras “Sagrado para D'us.”48

Em Yom KIpur, o Sumo Sacerdote alternava entre usar as oito vestimentas inteiras e as quatro básicas. Além do cinto, que era feito de linho branco, as quatro vestes imitavam os sacerdotes comuns.49 As roupas brancas eram usadas durante os serviços que eram únicos ao Dia do Perdão (significando o passado limpo que Yom KIpur traz 50 .) As oito vestes (chamadas as “roupas douradas” na literatura judaica) eram colocadas quando realizavam os serviços comuns a todas as festas.51

A Nomeação do Sumo Sacerdote: Roupas, Óleo, e Pão Cozido

A Torá faz uma narrativa longa e detalhada da inauguração do primeiro Sumo Sacerdote. Os israelitas se reuniam no Tabernáculo, e Moshê – agindo como o Cohen Gadol Interino – levava uma série de sacrifícios, vestia Aharon e seus filhos com as vestes sacerdotais, ungia-os com óleo, e passava em suas orelhas, dedos das mãos e dedos dos pés.52 Aharon e seus filhos também levavam uma farinha inaugural que era para ser fervida, assada e frita antes de ser queimada sobre o altar.53

As únicas partes da cerimônia que estavam incluídas nas inaugurações subsequentes do Sumo Sacerdote eram a unção com óleo especial (shemen hamishchá), sendo vestidos com as oito vestes únicas ao Sumo Sacerdote, e a oferenda de farinha inaugural (minchat chinuch). Quando um Cohen Gadol se aposentava, se tornava ofendido ou morria, o Sanhedrin (a alta corte judaica) determinava se ele tinha um filho que fosse igual a ele em sabedoria e temor ao Céu. Se o temor ao Céu do filho era equivalente ao seu, ele seria apontado mesmo se fosse pequeno em sabedoria.54

Se o seu filho não era igual ou tinha outras ambições, o Sanhedrin procurava um candidato entre o restante dos sacerdotes. O termo Cohen Gadol se traduz literalmente como “o grande sacerdote”. O Talmud diz que ele deveria ser o maior sacerdote em piedade, força, beleza, sabedoria e riqueza. Se a corte encontrasse alguém que se encaixasse mas não tivesse dinheiro, os outros sacerdotes o tornariam afluente por eles mesmos.55

Durante sete dias, aquele nomeado para Sumo Sacerdote iria vestir as oito vestes, ser ungido com óleo, e servir no Templo Sagrado.56 Segundo outra tradição, ele não iria trabalhar no Templo até o sétimo dia.57 No sétimo dia, o nomeado queimava a oferenda de farinha inaugural – que era paralela à oferenda diária do Sumo Sacerdote (minchat chavitin) – e se tornava um pleno Cohen Gadol.

Durante o período do Primeiro Templo, após ler a profecia “O Eterno levará você e seu rei a quem você estabeleceu acima, a uma nação desconhecida a você,”58 o Rei Josiah via isso como um sinal ofensivo e queimou o óleo de unção, com medo que seria perdido.59 A partir de então, todos os Sumos Sacerdotes eram nomeados usando somente as oito vestes e a oferenda de farinha.60

A Conduta Pessoal do Sumo Sacerdote: Santidade e Pureza

Ser o indivíduo mais sagrado no Judaísmo vinha com algumas restrições. Como era necessário para as pessoas manterem a maior reverência por ele, o Cohen Gadol não podia ser visto tomando banho ou cortando o cabelo.61 Ele também era proibido de se tornar impuro fazendo contato com os mortos, mesmo quando fossem parentes que sacerdotes regulares podiam tocar.62

O Cohen Gadol era permitido de enterrar um meit mitsvá, um corpo morto que ele encontrasse na estrada enquanto caminhava sozinho. Se alguém mais estivesse com o sumo Sacerdote na hora, o outro indivíduo deveria fazer o enterro.63

Como o estado sagrado do Sumo Sacerdote superava aquele do sacerdote comum, suas restrições conjugais se estendiam além das deles também. Enquanto um sacerdote comum pode desposar uma viúva, o Sumo Sacerdote não podia desposar uma mulher que já tivesse sido casada ou tivesse tido relações conjugais.64

Além do rei, o Cohen Gadol era honrado além de qualquer pessoa no Judaísmo.65 Por exemplo, se alguém tivesse a possibilidade de salvar somente uma pessoa do cativeiro, o Cohen Gadol devia ser resgatado antes de qualquer outra. Interessante, isso se aplica somente se o Sumo Sacerdote for um erudito de Torá. A Mishná explica: “Um erudito de Torá de nascimento ilegítimo precede um Sumo Sacerdote ignorante.”66


E, igualada a honra concedida a um rei, a pessoa estava obrigada a ficar de pé quando via o Sumo Sacerdote até que ele deixasse seu campo de visão.67


Aharon na Cabala: O Atendente da Noiva


No casamento cósmico entre D'us (o Noivo) e o povo judeu (a noiva), Moshe e Aharon têm papéis opostos. Moshê, que representava a verdade suprema, devia ajudar o povo a ver a realidade Divina.


D'us não é afetado pelo tempo e espaço. Embora Ele tenha criado o mundo, sua produção não O mudou de maneira alguma. “Tu fostes [o mesmo] antes de o mundo ser criado; Tu és [o mesmo] desde que o mundo foi criado.68 Sob essa perspectiva transcendente, o mundo não é o que parece. Quando olhamos para fora da janela, não estamos vendo árvores e pássaros; estamos vendo D'us na forma de árvores e pássaros. Essa visão do mundo é toda abrangente. Se tudo é meramente uma extensão da unicidade de D'us, não há lugar para auto-centrismo ou até auto-percepção. Nossos conflitos e historias individuais se tornam de segundo plano numa realidade mais elevada que unifica todas as experiências numa única existência homogênea. Essa perspectiva é chamada “unidade mais alta”, e seu primeiro proponente foi Moshê, shushvina d’Malka, “o atendente do Noivo (D'us).”

Aharon, o primeiro Sumo Sacerdote, tinha uma abordagem diferente. O Zohar 69 refere-se a ele como shushvina dematrunita, “o atendente da noiva (o povo judeu).”

As circunstâncias particulares de cada pessoa eram importantes para ele. Ele queria que os judeus buscassem a D'us de dentro das suas experiências. Ele promoveu a “unidade mais baixa”, na qual a ocultação de D'us nos faz ver a criação como é. Apesar disso, nos esforçamos para elevar a nós mesmos lentamente, através de anos de trabalho, para dedicar nossas vidas mundanas ao serviço Divino.70

NOTAS

1. Zevachim 102a; Rashi, Shemot 4:14.

2. Tzeidá Laderech, Rashi, Shemot 4:14.

3. Rashi, Vayicrá 16:32; Mishnê Torá, Klei Hamicdash 4:20.

4. Bamidbar 20:28.

5. I Crônicas 9:20, Talmud Yerushalmi, Yoma 5:1. Veja também Shofetim 20:28.

6. Bamidbar 25:8; Zevachim 101b e Rashi lá. Rav Ashi diz que foi uma recompensa por manter a paz entre os israelitas que se estabeleceram na Terra e as tribos de Reuven e Gad, que ficaram do outro lado do Jordão. Veja Yehoshua 22:30.

7. Sua recusa em anular o voto de Jefté a respeito de sua filha (Shofetim 11:35) e sua incapacidade de evitar a guerra civil com os efraimitas (Shofetims 12).

8. Tanna Devei Eliyahu Rabá 11. O Tabernáculo estava em Shiló entre 1258–889 AEC. Se o reinado de Jefté terminou em 982, e Finéias era o Sumo Sacerdote na época, Eli teria ocupado essa posição no século final de Shiló.

9. Talmud Yerushalmi, Meguilá 1:12.

10. Zevachim 118b.

11. Melachim 6-7; data is do Seder Olam Rabá 15.

12. 29:22; Rashi e Radak, ibid. 5:36.

13.  5:30-34. O sumo sacerdócio foi devolvido à sua família por causa dos erros dos filhos de Eli em I Samuel 2: 22-24. Veja ibid. 35 e Tanna Devei Eliyahu Raba 11.

14. Yoma 9a. Veja Tosafot lá e Rashi, Radak para Crônicas I, 5:36 para números alternativos. Veja o apêndice do Talmud Yoma de Schottenstein vol. 1 para uma discussão abrangente sobre as opiniões divergentes.

15. Yoma loc. cit.

16. Avot 1:2.

17. Yoma 69a.

18. Sotá 49a.

19. Avot 2:4.

20. Berachot 29a.

21. II Macabeus 4-5.

22. Yoma 9a.

23. Yoma 1:3.

24. Ibid. 1:5. Os rabinos (fariseus) eram da opinião que o incenso deveria ser colocado nas brasas dentro do Santo dos Santos. Os saduceus argumentavam que ele deveria ser queimado na antecâmara (Heichal) e carregado para o Santo dos Santos enquanto ainda emitia fumaça. Talmud, Yoma 19b.

25. Josephus (Guerra dos Judeus, Livro IV §151-158).

26. Tosefta Yoma 1:6.

27. II Melachim 25:18.

28. I Chronicles 9:11; II Chronicles 31:13.

29. Talmud Yerushalmi, Shekalim 5:2. Uma passagem sobre isso: O Talmud relata que após a história de Chanucá, os macabeus não conseguiram encontrar uma jarra de óleo com o selo do Sumo Sacerdote intacto. Shabat 21b.

30. Medida igual a 10,5 xícaras ou 3 libras de farinha.

31. Mishnê Torá, Maassê HaCorbanot 13:2.

32. Yoma 1:2.

33. Bamidbar 27:21; veja tambémI Shmuel 5:23, 10:22 e 14:4.

34. Bamidbar 35:25; Mishnê Torá, Rotzeiach 7:8. Algumas razões são fornecidas para esta referência. O Talmud Yerushalmi (Yoma 7: 3) diz que a morte de um justo é expiada. Maimônides escreve em seu Guia para os Perplexos (3:40) que, após a morte do Sumo Sacerdote, o parente do morto não carregará mais má vontade para com o assassino, pois “É um fenômeno natural que encontramos consolo em nosso infortúnio quando o mesmo infortúnio ou um maior ocorre a outra pessoa. Entre nós, nenhuma morte causa mais dor do que a do Sumo Sacerdote.” Rashi (Bamidbar 35:25) diz que o Sumo Sacerdote deveria ter rezado para que tais mortes não ocorressem.

35. Makot 11a.

36. Berachot 34a.

37. Bamidbar 16; Mishnê Torá, Yom Hakipurim 1:1–2.

38. Talmud Yerushalmi, Yoma 3:7; Mishnê Torá, Yom Hakipurim 2:6. O Talmud não fornece um exemplo desse uso indevido. Há um antigo documento judaico chamado Toledot Yeshu que atribui os milagres de JC à sua apropriação do nome divino. Muitos estudiosos judeus proeminentes (Tosefot é um exemplo), no entanto, consideram esta fonte não histórica.

39. Kidushin 71a.

40. Yoma 39b.

41. Parte 3, 7b. Veja Likutei Sichot 17, pág. 176. Este é um contraste interessante com o mandato cristão de que os padres sejam celibatários. No judaísmo, o casamento é considerado sagrado e desejável.

42. Shemot 28:6–43; Mishná Yoma 7:5.

43. Zevachim 88b.

44. Shemot 28:2,40.

45. Rambam em Mishnê Torá, Klei Hamicdash 9:7 e Rashi em Shemot 28:21 opinam que a ordem das tribos nas pedras do peitoral é paralela à sua ordem de nascimento: Reuven, Shimon, Levi, Yehuda, Dan, Naftali, Gad, Asher, Izachar, Zevulum, Yossef e Beniamim. Outra tradição, trazida em Bamidbar Rabá 2:7, tem os filhos de Léa listados primeiro, seguidos pelo restante das tribos em ordem de nascimento: Reuven, Shimon,Levi, Yehuda, Izachar, , Zevulum, Dan, Naftali, Gad, Asher, Yossef e Beniamin.

46. Mishnê Torá loc cit. escreve que “shivtei y-h” foi escrito, mas o Talmud em Yoma 73b tem “shivtei yeshurun (Tribos de Yaacov).”Ver Kesef Mishnê ibid. para uma possível reconciliação. Mishnê Torá postula que os antepassados foram escritos na pedra de Reuven e "shivtei y-h" na de Beniamin. Outros (Chizkuni em Shemot 28:21 e Bachya em 28:15) dizem que as letras foram divididas entre todas as doze pedras.

Consulte Living Torá em Shemot 28:21do Rabino Aryeh Kaplan para uma discussão sobre quais pedras preciosas foram usadas.

47. De acordo com Rashi em Shemot 28:37, havia três perfurações: uma de cada lado e uma terceira na parte superior central. Este buraco também tinha uma tira azul inserida; era para se inclinar sobre o turbante do Sumo Sacerdote e se juntar ao outro atrás de sua cabeça.

48. O acima é baseado em Mishnê Torá, Klei Hamicdash 8–9.

49. De acordo com o Rabino Eleazar em Yoma 12b, o cinto do sacerdote comum também era de linho. Entretanto, a Lei Judaica apóia Rebi, que afirma que o cinto do sacerdote comum era feito de lã e linho coloridos. Mishnê Torá, Klei Hamicdash 8:1–2.

50. Yeshayahu 1:18, “Sejam seus pecados como o carmesim, eles podem tornar-se brancos como a neve; se forem vermelhos como lã tingida, podem se tornar como lã”.

51. Mishnê Torá, Yom Hakipurim 2:1.

52. Vayicrá 8.

52b - Horayot 12a.

53. Ibid. 6:13-14.

54. Mishnê Torá, Klei Hamicdash 4:20.

55. Yoma 19a; Mishnê Torá, Klei Hamicdash 5:1.

56. Raavad em Mishnê Torá, Klei Hamicdá 4:13.

57.- Mishnê Torá, Klei Hamicdá 4:13.

58.- Devarim 28:36.

59.- Governante do reino de Yehuda entre 649–609.

60.- Klei Hamicdash 5:3.

61.- Mishnê Torá, 

62.- Leviticus 21:11; Mishnê Torá, Avel 3:6. Um Cohen poderia tornar-se impuro por seus sete parentes mais próximos: pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã solteira ou esposa. Vayicrá 21:2–3; MishnêTorá, Avel 2:7.

63.- Nazir 47b; Mishnê Torá, Avel 3:8.

64.- Vayicrá 21:13–15; Mishnê Torá, Issurei Biá 17:11 e Ishut 1:8.

65.- Vayicrá 21:10; Tosefta Sanhedrin 4:1.

66.- Horayot 13a.

67.- Jtalmud Yerushalmi, Bicurim 3:3.

68.- Rezas matinais.

69.- Parte 3, 20a.

70.- Baseado noTanya, capítulo 20; Likutei Sichot Vol. 7, pág. 298.

El rabino Leibel Gniwisch reside actualmente, junto con su esposa, en Brooklyn, Nueva York, donde recibió su ordenación rabínica. Ha enseñado derecho judío en varias escuelas de los Estados Unidos. Le apasionan los estudios y la escritura judía y espera publicar un libro algún día.

FONTE: Chabad.org

fevereiro 28, 2022

MAÇONS ALERTA, TENDE FIRMEZA...." - Roberto Ribeiro Reis




Roberto Ribeiro Reis  da ARLS Esperança e União 2358 de Rio Casca-MG é intelectual e poeta maçônico.


Em tempos de guerra, 

A nossa amada Terra 

Padece em aflição;

O ser corrompe a história, 

Nessa sedenta luta inglória, 

Permeada de ambição. 


Imbuído dum pseudo poder, 

O homem parece não temer 

O Malhete da luz Infinita;

Subjuga toda Soberania, 

Vis-à-vis a beligerante ousadia 

Que ao Anjo Caído imita. 


Passos tortos, sem esquadria, 

Afastam-no de sua harmonia, 

E o que se vê é a decadência;

O homem sem o compasso

Só vê a matéria, um reles devasso, 

Perdido em sua indecência.


Sinto um sentimento nefasto, 

O da pedra que já não desbasto, 

A prova cabal da incerteza;

Mister invocar a Sabedoria, 

A força e a União que, um dia, 

Substituirão o caos pela Beleza. 


Pra ser valorizar essa vida

Nossa postura aguerrida

Valer-se-á de mil sacrifícios;

Saber que todo atual sofrimento

Ensejará nosso Renascimento, 

Sem a nódoa de todos os vícios!


Vven⛬ Obreiros da Arte Real, 

Artífices do Bem (e nunca do mal) 

Unamo-nos em nome de um Amor Completo! 

Se hoje infeliz nos é a história, 

Saibamos vencer a triste memória, 

À Glória do Grande e Universal Arquiteto!



fevereiro 27, 2022

MAÇONARIA NA UCRÂNIA - Traduzido de Masonic Network


Junto com o mundo, estamos assistindo com choque e terror às notícias que saem da Ucrânia. Nossos pensamentos e orações estão com todos os ucranianos que estão enfrentando dificuldades inimagináveis devido a nenhuma culpa própria.   É realmente de partir o coração saber que as pessoas que mais sofrerão serão os homens e mulheres inocentes que só desejam viver suas vidas em paz e liberdade.  

"A guerra nunca é gentil com inocentes".

Que o GADU tenha misericórdia de todos nós.

Diante da situação atual, vale a pena relembrar a história e o presente da maçonaria na Ucrânia.

Em um registro, a primeira loja chamava-se “dos Três Irmãos” foi criada na vila de Vyshnivka, em Volínia, em 1742, por nobres poloneses. Em Lviv, a primeira Loja foi a “Três Deusas” que surgiu  em 1758 (parte do Império Austro-húngaro).

A primeira loja em Malorossiya (Império Russo) foi estabelecida em Kiev em 1784 por oficiais russos. Um dos membros daquela loja que se chamava Bessmertie foi Hryhoriy Skovoroda. A loja foi criada em algum momento após a primeira Partição da Polônia. No ano seguinte, três Lojas apareceram em Kremenchuk: Marte, Dobry Pastyr e Minerva. A última, Minerva, foi transferida para as margens do Dnieper na cidade de Podolie Nemyriv. Sabe-se que a maçonaria existia em Kharkiv, Vinnytsia, Yekaterinoslav, Berdichev, outros. Mais tarde (1780-90) as Lojas de adoção existiram em cada uma das seguintes cidades Dubno, Kremenchuk, Zhytomyr e Kiev (Bessmertie e Tri kolonny). (Tri kolonny foi recriado em 1993.) No século XIX, a popularidade deles só aumentou em toda a Ucrânia.

Na Sloboda a Ucrânia existia uma Loja chamada "Palitsynska Akademia". A "Irmandade Secreta Malorusiana" que foi criada por V.Lukashevych e buscou a independência da Ucrânia, também estava ligada à maçonaria, que continuou a se espalhar rapidamente. Em Kharkiv, a mais famosa foi a Loja "Umirayushchiy Sfinks" (Esfinge Moribunda) que foi criada algum tempo depois de 1764, quando Kharkiv foi visitado por um professor da Universidade de Moscou Viganda.

Em 1822 Aleksander I emitiu uma ordem proibindo a Maçonaria e apesar de parecer efetivo, na verdade a maçonaria, desde então, simplesmente se tornou clandestina.

Em 24 de setembro de 2005, em Paris, no Grande Templo, a Grand National Lodge of France (GNLF) juntamente com a Grand Lodge of Austria consagrou a Grande Loja da Ucrânia (GLU). (a fonte: a página oficial da Grand Lodge da Ucrânia)

Atualmente, 14 Lojas estão (ou estavam) operando sob a jurisdição da Grand Lodge of Ukraine. Na Ucrânia, existem lojas nas seguintes cidades: Kiev, Lviv, Odessa, Ivano-Frankivsk, Drohobych, Zaporizhia, Kharkiv e Chernivtsi.

A Grande Loja da Ucrânia é reconhecida como uma Grande Loja regular por 133 jurisdições maçônicas regulares do mundo.

A última Assembleia Geral da GLU 2021 ocorreu em 11 de setembro, em Kiev. Lá aconteceu a instalação do Grão-Mestre da Ucrânia eleito Anatoliy Dymchuk. Estiveram presentes as seguintes delegações oficiais: Escócia, Bulgária, Azerbaijão, Geórgia, Polônia, Bielorrússia, Romênia, Moldávia e Tennessee (EUA). Durante uma cerimônia, uma nova Loja, a  "Porta Pyretos" foi instalada no leste de Chernivtsi.

 

LEGADO - Sidnei Godinho




Uma história se constrói com o registro das lembranças que se formam hoje.

O destino é o resultado de suas ações na interação com a realidade à volta.

Sonhar não faz acontecer, apenas fornece a direção.

É preciso agir e acreditar!

Sempre quis ser Pai e poder formar uma família para ensinar tudo que sei.

Sou Pai e formei uma família para aprender que nada sabia sobre relações interpessoais e que tinha muito a aprender. 

Sempre quis ser avô e ter uma segunda chance para corrigir os erros na  educação dada aos filhos.

Sou avô da Sofia e da Clara (que chegará em maio) e descobri que a segunda chance não é para corrigir erros, mas para se libertar de conceitos e poder pular, dançar, fazer bola de sabão, correr na chuva, fazer careta e dar a língua sem se preocupar com nada nem ninguém, apenas Ser Feliz...

A escola, a profissão, o trabalho, a casa, o carro, o dinheiro são apenas os meios para construir o cenário de sua história.

A Família e os Amigos, esses sim são os personagens que dão vida e fazem tudo valer a pena. 

Não importa o onde ou o como, importa o com Quem... 

Comece então seus registros;

Faça hoje suas lembranças;

E seja FELIZ!!! 

Boas reflexões meus irmãos. 


fevereiro 26, 2022

GUERRA - Newton Agrella

 

Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil

A verborragia parece que tem sido a única arma de que tem se valido até esse momento, tanto os EUA quanto os membros da OTAN.

As tais sanções econômicas tão propaladas pelo Presidente norte-americano  - *nesse exato momento*- tem um efeito de um simples analgésico bem como a efetividade de um medicamento homeopático.

O que se esperava era uma ação muito mais prática e contundente, para combater e intimidar a ofensiva russa.

Putin está nadando de braçadas, tomando conta da Ucrânia, e já se apoderou da região de Chernobyl e da capital Kiev.

Fica nítido que as ações insanas de Putin revelam sua psicopatia e megalomania, para deixar seu nome registrado na História, numa tentativa inequívoca de reconstruir uma Nova União Soviética.

Enquanto isso, atores que deveriam comprovar seus protagonismos, como os líderes políticos dos EUA, França, Reino Unido, Alemanha e até mesmo do próprio Japão, continuam insistindo na ginástica diplomática, como se isso fosse conter a insanidade de Putin.

A China, por sua vez, caminha a próprios passos, dançado e se adaptando, àquilo que melhor possa se adequar às suas próprias necessidades e atender seus interesses. 

Os chineses, são algo como se fossem alienígenas, que ocupam um território na Terra, e fazem disso uma espécie de colônia de férias independente.

Aqui, pelas bandas tupiniquins não se espera nada. 

As declarações sobre a posição brasileira quanto à invasão russa, até agora não foram ouvidas. 

Ninguém rigorosamente se posicionou com clareza e transparência.

Itamaraty e Presidência da República preferem se esconder atrás de sua tradicionalmente conhecida "política da neutralidade".  

O medo de tomar uma posição, continua a fazer do nosso país, algo realmente surrealista.

Para a nossa tristeza e frustração, essa postura medíocre e insossa do nosso governo é algo histórico, que independe de qualquer ideologia que esteja no Poder.

Enquanto isso, o mundo assiste  placidamente ao show de horrores promovido pelo Czar do Século XXI  !!!



PÉSSIMO CATÓLICO, MAU ESPÍRITA...QUE CRISTÃO SOU EU??? - Edson Contar



Edson Contar é desembargador e atual presidente do Tribunal de Justiça do DF.


Nunca parei pra pensar se tenho créditos ou uma conta das vermelhíssimas com o Grande Arquiteto do Universo , Ala, Oxalá ou , simplesmente, DEUS , como aprendi a chamá-lo em minhas orações, meus sufocos e depressões.

Interessante que, só com o passar da idade e uma meia dúzia de sustos daqueles que você ajoelha, implora, pede, promete e não cumpre –principalmente se tudo correr bem- chega um dia você começa a levar a sério o balanço com Pai. Basta que o médico torça o nariz ao ler um exame para que o machão fale fina e delicadamente: E aí doutor????

Aí, o valente afina, o prepotente gagueja, o indiferente disfarça, mas sente o suor nas mãos denunciando que, quando se trata de encarar a morte, todo mundo  é defecante padrão.

Eu já levei tanto porrete que acabei aceitando dialogar com o anjo gerente e acabei reconhecendo que não paguei nem metade das besteiras, maldades e injustiças que cometi, mesmo julgando-me um bom menino, fraterno e amigo ,  bom filho, bom pai, avô, marido (aí pegou, seu Zé!), patrão, empregado e gente, como deveria ter sido.

Aproveitando que, ultimamente, ando vendo luz no fim do túnel, e não é uma locomotiva, resolvi dar uma olhada no meu “extrato pecatório” começando pelos meus tempos “dontonte” quando aluno salesiano, catecista (existe?), batizado, crismado e xinchado pelas leis da Santa Madre Igreja....Notem que escrevo tudo com maiúsculas por respeito e  medo mesmo de ofender o Chefão, viram?

A começar pelos famosos mandamentos, não sei como não fui expulso, por antecipação, do paraíso... Vamos lá, mandamento por mandamento, do jeito que aprendi...Andaram enfeitando demais , no correr dos tempos mas eu lembro assim:

Primeiro: Amar à Deus sobre todas as coisas – esse eu sempre cumpri e estou tranquilo. 

Segundo: Não tomar seu santo nome em vão. – Sei ´la quantas mil vezes a gente não escorrega nesse...Desde aqueles “dá que eu caso..juro por Deus!”, “ Juro que volto logo, pode crer!” ...Nossa! Quanta heresia e safadeza esses moços  fazem, né?

Terceiro: Guardar os domingos e dias de festas: Guardar o domingo?   Logo esse povo que reza pra chegar a sexta feira pra cair na gandaia e emendar até a segunda raiar? Eu fazia pelo menos a minha parte na missa...depois, nem conto!  

Quarto: Honrar pai e mãe: Bom, esse aqui a gente capricha...tenta  não sujar  o currículo que é pra gozar das benesses de ser filho do fulano e da senhora...Tem gente que não liga, não...Tá nem aí que  o chamem filha da  p...ops! Aqui não, violão, o assunto é mandamentos...respeite!

Quinto: Não matar.-  Esse aí, ninguém me ensinou se entra passarinho, quati , cobra , lagartixa, gato “tropelado”..Se entra, debita mais dez mil.

Sexto: Não pecar contra a castidade: Andei vendo que mudaram um pouco a redação, como se mandamento fosse coisa de deputado mas, era assim mesmo que estava escrito no meu catecismo... Pula, pula, pula, se não, eu já estou excomungado “honoris causa”...

Sétimo; Não Furtar: Será que Deus já tinha programado os políticos, juízes de futebol e alguns togados, e outras peças do ramo??? ... Calma, calma...Todo mundo sabe que sou exceção...De minha parte, só roubei namorada dos outros, uma ou outra vez no xadrez, porrinha, dama e na contagem dos pastéis que comia na barraca da dona Marra, na feira antiga...Mesmo assim, eu comia quatro, dizia que foram três e ela cobrava cinco...portanto, estamos perdoados!

Oitavo: Não levantar falso testemunho: Desde que não inclua aqueles velhos macetes pra não assumir sozinho...”vai firme que eu garanto... não é virgem!”...

Nono: Não desejar a mulher do próximo:  Trabalhei quase dez anos em cartório, quando menino, e nunca vi ninguém com esse nome. E foi no registro civil...Que eu saiba, nenhuma era mulher desse cara, não. “Tonces”, não pequei, né?...o “próximo” , por favor.

Décimo: Não cobiçar as coisas alheias: - Xí!... pegou geral!!! Nem sou louco de dizer  “atire a primeira pedra”, que eu não quero morrer soterrado sob um novo Everest...

Já começa no berçário, quando você tenta tomar a chupeta do alheio, e vai pela vida afora você cobiçando o carro, o emprego, a mulher, a casa, roupa e tudo de bom que o alheio tem...Né mesmo???...Diz que não, safado!!

Bom, até aqui, devo estar com uns cem mil, devedor!

Nem vou entrar na parte das obrigações Kardecistas que ai eu acabo rebaixado mais três casas e tenho que voltar mais vezes... 

Melhor considerar o apurado até aqui e oferecer ao Pedro,  gerente do Paraiso o seguinte:-

Estica aí uns quinze anos de vida pra “minzinho”, com tudo em riba e saudável, para que eu vá pagando devagarinho minha dívida e possa sair dessa pra melhor, conforme prometem as escrituras...Falar nisso, tem aí um Pastor na minha esquina que me ofereceu perdão total a troco de um lote que tenho no Jardim Brasil...Não custa eu tentar também, mesmo que o imóvel já esteja gravado em três outras promessas de pagamento...Quem sabe cola, né???

De qualquer maneira, o que eu e todos queremos é viver, mesmo pagando  pecados em suaves prestações...Será que é por isso que se peca tanto?

Dado, confessado e passado aos onze dias do mês de setembro do ano de 2010, no sacro aconchego de meu lar em Campo Grande, cidade dos meus pecados, Amém!!!

Edson Alkontar (eu, pecador me confesso)

fevereiro 25, 2022

PAZ, LIBERDADE -Adilson Zotovici





Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico


Não bastasse a pandemia 

Essa insânia ora na terra 

Que acabasse com a alegria 

Na Ucrânia agora a guerra !


Por tão rude vilania

Que  evolução emperra 

Vez que sem soberania 

Sua população desterra 


Horror essa insanidade 

Paz ao louco é utopia !

Compraz ao terror em verdade


A esse povo, essa etnia 

Rogo a paz, a liberdade 

Ao Grande Arquiteto e Guia 



A HISTÓRIA DO COMPANHEIRO MAÇOM



Doutrinariamente, o grau de Companheiro é o mais legítimo grau maçônico, por mostrar o obreiro já totalmente formado e aperfeiçoado, profissionalmente.

Historicamente, é o grau mais importante da Franco-Maçonaria, pois sempre representou o ápice da escalada profissional, nas confrarias de artesãos ligados à arte de construir, as quais floresceram na Idade Média e viriam a ser conhecidas, nos tempos mais recentes, sob o rótulo de “Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício”.

Na realidade, antes do século XVIII havia apenas dois graus reconhecidos na Franco-Maçonaria: Aprendiz e Companheiro. Na época anterior ao desenvolvimento da Maçonaria dos Aceitos ou Especulativa, o Companheiro era um Aprendiz, que havia servido o tempo necessário como tal e havia sido reconhecido como um oficial, um trabalhador qualificado, autorizado a praticar seu ofício.

Na Idade Média, quando as construções em pedra eram comissionadas pela Igreja, ou pelos grandes reis, duques ou lords, a Maçonaria operativa era um lucrativo negócio ; ser reconhecido, portanto, como um Companheiro pelos operários era um passaporte seguro para uma participação no negócio e para uma renda praticamente garantida. Graças a isso, os mestres da obra eram escolhidos entre os Companheiros mais experientes e com maior capacidade de liderança ; e só exerciam as funções de dirigentes dos trabalhos, daí surgindo o Master da Loja, o qual, pelas suas funções e pelo respeito que merecia de seus obreiros, viria a ser o Worshipful Master - Venerável Mestre - o máximo dirigente dos trabalhos.

O grau de Mestre Maçom só surgiria em 1723 depois da criação, em 1717, da Primeira Grande Loja, em Londres e só seria implantado a partir de 1738. Por isso, o grau de Companheiro foi sempre o sustentáculo profissional e doutrinário dos círculos maçônicos, não se justificando a pouca relevância que alguns maçons dão a ele, considerando-o um simples grau intermediário.

Autores existem, Inclusive, que afirmam que na fase de transição da Maçonaria, ele era o único grau, do qual se destacaram, para baixo, o grau de Aprendiz, e, para cima, o de Mestre. Na realidade, não pode ser considerado um maçom completo aquele que não conhecer, profundamente, o grau de Companheiro.

A palavra Companheiro é de origem latina.                                                                      

O seu significado tem provocado controvérsias quanto à sua etimologia, pois alguns autores sustentam que ela seria derivada da preposição cum = com e do verbo ativo e neutro pango (is, panxi, actum, angere) = pregar, cravar, plantar, traçar sobre a cera e no sentido figurado escrever, compor, celebrar, cantar, prometer, contratar, confirmar.

Neste caso, especificamente, pango teria o sentido de contrato, promessa, confirmação, fazendo com que a expressão cumpango que teria dado origem à palavra Companheiro signifique com contrato, com promessa, envolvendo um solene compromisso, que teria orientado as atividades das companhias religiosas e profissionais da Idade Média e do período renascentista.

A origem mais aceita, todavia, é outra: o termo Companheiro é derivado da expressão cum panis, onde cum é a preposição com e panis é o substantivo masculino pão, o que lhe dá o significado de participantes do mesmo pão. Isso dá a idéia de uma convivência tão íntima e profunda entre duas ou mais pessoas, aponto destas participarem do mesmo pão, para o seu nutrimento.

Essa origem, evidentemente, deve ser considerada nos idiomas derivados do latim: compañero (castelhano), compagno (italiano), compagnon (francês), companheiro (português). A Enciclopédia Larousse, editada em Paris, por exemplo, registra o seguinte, em relação aos vocábulos compagnon e compagnonnage: Compagnon - n.m. (du lat. cum = avec, et panis = pain) - Celui que participe à la vie, aux occupations d’un autre: compagnon d’études. Membre d’une association de compagnonnage. Ouvrier. Ouvrier qui travaille pour un entrepreneur (par opos a patron). Compagnonnage - n.m. - Association entre ouvriers d’une même profession à des fins d’instruction professionelle et d’assistence mutuelle. Temps pendant lequel  l’ouvrier sorti d’apprentissage travaillait comme compagnon chez son patron. Qualité de compagnon. 

Ou seja:

Companheiro - substantivo masculino (do latim cum = com, e panis = pão) - Aquele que participa, constantemente, das ocupações do outro: condiscípulo, companheiro de estudos. Membro de uma associação de companheirismo. Operário que trabalha para um empreiteiro.

Companheirismo - substantivo masculino - Associação de trabalhadores de uma mesma profissão, para fins de aperfeiçoamento profissional e de assistência mútua. Tempo durante o qual o operário saído do aprendizado trabalhava como companheiro, em casa de seu patrão. Qualidade de companheiro.                                                                  

Nos idiomas não latinos, os termos usados têm o mesmo sentido. Em inglês, por exemplo, o Companheiro, como já foi visto, é o Fellow, que significa camarada, par, equivalente, correligionário, membro de uma sociedade, conselho, companhia, etc.

Daí, temos as palavras derivadas, como: fellow laborer = companheiro de trabalho; fellow member = colega; fellow partner = sócio; fellow student = condiscípulo; fellow traveler = companheiro de viagem; e fellowship = companheirismo.

Não se deve, todavia, confundir o grau de Companheiro Maçom, ou o Companheirismo maçônico com o Compagnonnage - associações de companheiros - surgido na Idade Média, em função direta das atividades da Ordem dos Templários, e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria.

O Compagnonnage foi criado porque os templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos ; assim organizaram-nos de acordo com a sua própria doutrina, dando-lhes um regulamento, chamado Dever.

E esses trabalhadores construíram formidáveis  cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho herdados da Antiguidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto têm maravilhado, esteticamente, a Humanidade.

O Compagnonnage, execrado pela Igreja, porque tinha sua origem na Ordem dos Templários, esmagada no início do século XIII, por Filipe, o Belo, com a conivência do papa Clemente V, acabaria sendo condenado pela Sorbonne. Esta, originalmente, era uma Faculdade de Teologia, já que fora fundada em 1257, por Robert de Sorbon, capelão de S. Luís, para tornar acessível o estudo da teologia aos estudantes pobres.

E a condenação, datada de 14 de março de 1655, contendo um alerta aos Companheiros das organizações de ofício (os maçons operativos), tinha, em relação às práticas do Compagnonnage, o seguinte texto: 

“Nós, abaixo assinados, Doutores da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris, estimamos:

1. Que, em tais práticas, existe pecado de sacrilégio, de impureza e de blasfêmia contra os mistérios de nossa religião;

2. Que o juramento feito, de não revelar essas práticas, mesmo na confissão, não é justo nem legítimo e não os obriga de maneira alguma ; ao contrário, que eles se obrigam a acusar a si mesmos desses pecados e deste juramento na confissão;

3. Que, no caso do mal estar continuar e não possam eles remediá-lo de outra forma, são obrigados, em consciência, a declarar essas práticas aos juízes eclesiásticos; e da mesma forma, se for necessário, aos juízes seculares, que tenham meios de dar remédio;

4. Que os Companheiros que se fazem receber em tal forma assim descrita não podem, sem incorrer em pecado mortal, se servir da palavra de passe que possuem, para se fazer reconhecer Companheiros e praticar os maus costumes desse “Companheirismo” ;

5. Que aqueles que estão nesse Companheirismo não estão em segurança de consciência, enquanto estiverem propensos a continuar essas más práticas, às quais deverão renunciar;

 6. Que os jovens que não estão nesse “Companheirismo”, não podem neles ingressar sem incorrer em pecado mortal.

 Paris, no 14° dia de março de 1655”. 

Nada a estranhar! Era a época dos tribunais do Santo Ofício, da “Santa” Inquisição.

Para finalizar, é importante salientar que muitos dos símbolos do grau de Companheiro Maçom os quais tanto excitam a mente de ocultistas - foram a ele acrescentados já na fase da Maçonaria dos Aceitos, pelos adeptos da alquimia oculta, da magia, da cabala, da astrologia e do rosacrucianismo , já que os obreiros medievais, os verdadeiros operários da construção, nunca adotaram tais símbolos, limitando-se às lendas e aos mitos profissionais.

Eram, inclusive, adversários das organizações ocultistas, combatidas pela Igreja, à qual eles eram profundamente ligados, pois dela haviam haurido a arte de construir e mereciam toda a proteção que só o clero católico poderia dar, numa época em que o poder maior era o eclesiástico. 

Com o incremento do processo de aceitação, a partir dos primeiros anos do século XVII, as portas das Lojas dos franco-maçons foram sendo abertas não só aos intelectuais e espíritos lúcidos, que foram responsáveis pelo renascimento europeu, mas, também, a todos os agrupamentos místicos e às seitas existentes na época. 

Isso iria provocar uma verdadeira revolução nas corporações de ofício e iria começar a delinear a ritualística especulativa do grau, baseada em símbolos místicos e nas doutrinas ocultistas, principalmente na Cabala e na Alquimia Oculta.


BIBLIOGRAFIA

Do nosso Valoroso Mestre que nos enriquece com suas obras José Castellani

Do livro: “Cartilha do Grau de Companheiro”

A/D

fevereiro 24, 2022

O PENSAMENTO MAÇONICO DE FERNANDO PESSOA

 


Fonte:  “O Pensamento Maçônico de Fernando Pessoa”, de autoria de Jorge de Matos.

Este ano se comemorará o 135º Aniversário do nascimento de Fernando António Nogueira Pessoa (13/06/1888 a 30/11/1935), o mais universal poeta  português. 

Sua ligação com a Maçonaria era íntima, a ponto de defendê-la, até mesmo publicamente, ante as autoridades portuguesas de sua época.  Era também um crítico de nossa Ordem, à qual ele dizia, já à sua época, ter se institucionalizada em uma Ordem mais burocrática do que iniciática. 

Também criticou a permanência em nossa Ordem daquilo que ele chamava de “iniciados por fora”, em uma crítica àqueles profanos que apenas se vestem como Maçons, mas que em sua essência “jamais serão”. 

Pelos comentários e críticas à nossa Ordem, já em sua época, nos seria apropriado conhecer um pouco mais do seu pensamento acerca da nossa amada Ordem e verificarmos, segundo nossos filtros do Século XXI, o que mudou de lá para cá, se é que realmente alguma coisa mudou, ou apenas, mudou para pior.

Para Fernando Pessoa havia duas classes de Maçons: os que viam a Maçonaria como um clube de cavalheiros, uma entidade sócio empresarial elitista e pseudo-filantrópica, mais interessa na vida política e comunal  (nos ágapes pós Sessão), do que propriamente na doutrina maçônica, a estes ele denominava pejorativamente de “exotéricos”.  Havia ainda outra classe de Maçons, aos quais ele denominava de “esotéricos” que, em sua opinião, eram os verdadeiros Maçons. Os “esotéricos” eram espiritualistas, que tinham a Maçonaria como uma sociedade voltada para o pensamento, para o desenvolvimento intelectual e moral.

Ainda consoante Fernando Pessoa, a maioria dos Maçons são “exotéricos”, do tipo administrativo, que galgam até os últimos Graus da Ordem sem entender absolutamente nada do que viram ou ouviram. Para ele existia na Maçonaria um grande número de profanos de avental, que por falta de sensibilidade e conhecimento para com a verdadeira natureza do que a Ordem propiciou adquirir, ou até mesmo por preguiça intelectual ou falta de interesse, jamais serão verdadeiros iniciados. São iniciados por fora, apenas formalmente se vestem como Maçons, mas como tal não se portam,  jamais serão Maçons, continuarão, para sempre, profanos por dentro.

A principal crítica de Fernando Pessoa em sua época era de que as Lojas Maçônicas tinham se transformado em instituições burocráticas e administrativas, tinham perdido a sua essência. Ainda segundo o poeta, a maioria das Lojas praticavam seus rituais de forma vazia, formal, mecânica, sem se ater ao seu conteúdo filosófico, sem permitir ao seu adepto (já que iniciados são raros e poucos), possam realmente entender a riqueza espiritual contida em seus ensinamentos, em suas lendas. Por isso dizia Fernando Pessoa que “cada grau deveria corresponder a um estado de vida, tendente a levar o iniciado a um novo patamar de consciência.” Acreditava  Fernando Pessoa que a Maçonaria perdeu a sua essência quando institucionalizou seus ritos e se transformou numa organização meramente administrativa e corporativa.

Dizia o poeta luso: “...a Maçonaria é uma ‘Ordem de Vale’, isto é, uma Ordem que precisa da qualidade iniciática para se tornar uma ‘Ordem de Montanha’.” Simbolicamente isso significa dizer que a função da Maçonaria seria permitir ao seu iniciado a elevação intelectual , mas há que se deixar de lado a preguiça  intelectual inerente à maioria dos seus membros.