março 10, 2022

O QUE É MAÇONARIA?




A Maçonaria é uma sociedade discreta, na qual homens livres e de bons costumes, denominando-se mutuamente de irmãos, cultuam a Liberdade, a Fraternidade e a Igualdade entre os homens. Seus princípios são a Tolerância, a Filantropia e a Justiça. Seu caráter secreto deveu-se a perseguições, à intolerância e à falta de liberdade demonstrada pelos regimes reinantes da época. Hoje, com os ventos democráticos, os Maçons preferem manter-se dentro de uma discreta situação, espalhando-se por todos os países do mundo.

Sendo uma sociedade iniciática, seus membros são aceitos por convite expresso e integrados à irmandade universal por uma cerimônia denominada "iniciação".

Essa forma de ingresso repete-se, através dos séculos, inalterada e possui um belíssimo conteúdo, que obriga o iniciando a meditar profundamente sobre os princípios filosóficos que sempre inquietaram a humanidade.

O neófito ingressa na Ordem no grau de Aprendiz. Ao receber instruções e ensinamentos, galga ao grau de Companheiro e após período de estudos, chega ao grau máximo do Simbolismo, ou seja, o Grau de Mestre Maçom.

Os Maçons reúnem-se em um local ao qual denominam de Loja, e dentro dela praticam seus rituais. Estes são dirigidos por um Mestre Maçom experimentado, conhecido por Venerável Mestre. Suas cerimônias são sempre realizadas em honra e homenagem a Deus, ao qual denominam de Grande Arquiteto do Universo, (G∴A∴D∴U∴). Seus ensinamentos são transmitidos através de símbolos dando assim um conhecimento hermenêutico profundo e adequado ao nível intelectual de cada indivíduo.

Os símbolos são retirados das primeiras organizações Maçônicas, dos antigos mestres construtores de catedrais. "Maçom" em francês significa pedreiro. Devido a esse fato encontramos réguas, compassos, esquadros, prumos, cinzéis e outros artefatos de uso da Arte Real, ou seja, instrumentos usados pelos mestres construtores de catedrais e castelos, que são utilizados para transmitir ensinamentos.

Por possuir um conhecimento eclético, a Maçonaria busca nas mais diversas vertentes suas verdades e experiências, dando um caráter universal a sua doutrina

A Maçonaria não é uma religião, pois o objetivo fundamental de toda sociedade religiosa é o culto à divindade.

Cada Loja possui independência em relação às outras Lojas da jurisdição, mas estão ligadas a uma Grande Loja ou Grande Oriente, sendo estes soberanos. Cada Grande Loja ou Grande Oriente denomina-se de "potência". Essa é uma divisão puramente administrativa, pois as regras, normas e leis máximas, denominadas "Landmarks", são comuns a todos os Maçons. Um dos Landmarks básicos da Ordem é que o homem, para ser aceito, deve acreditar em um princípio criador, independente de sua religião.

Seus integrantes professam as mais diversas religiões. Como no Brasil a grande maioria dos brasileiros são cristãos, adota-se a Bíblia como livro da lei. Em outra nação, o livro que ocupa o lugar de destaque no Templo poderá ser o Alcorão, o Torá, o livro de Maomé, os Vedas, etc., de acordo com a religião de seus membros. No preâmbulo da primeira Constituição editada pela Grande Loja, ficam registrados de forma clara os princípios em que se baseia a Ordem:

"a Maçonaria proclama, como sempre proclamou desde sua origem, a existência de um Princípio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo; a Maçonaria não impõe nenhum limite à livre investigação da Verdade, e é para garantir a todos essa liberdade que ela de todos exige tolerância; a Maçonaria é, portanto, acessível aos homens de todas as raças e de todas as crenças religiosas e políticas; a Maçonaria proíbe em suas Oficinas toda discussão sobre matéria partidária, política ou religiosa, recebe os homens quaisquer que sejam as suas opiniões políticas ou religiosas, humildes, embora, mas livres e de bons costumes; a Maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas manifestações; é uma escola mútua que impõe este programa: obedecer às leis do País, viver segundo os ditames da honra, praticar a justiça, amar o próximo, trabalhar incessantemente pela felicidade do gênero humano e para conseguir a sua emancipação progressiva e pacífica."


Fonte: GOB, em 20/09/2005.

RESTAURAÇÃO MAÇÔNICA - Kennyo Ismail


O Ir, Kennyo Ismail é professor universitário, editor, escritor, uma dos mais importantes intelectuais da maçonaria no país.

Já dizia o ditado: “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Na Maçonaria não é diferente. O que alguns maçons brasileiros gostariam de mudar na Maçonaria daqui é exatamente o que alguns maçons norte-americanos gostariam de adotar lá.

Existe uma parcela significativa de maçons brasileiros que questiona o modelo “tupiniquim” da Arte Real, indicando que é um modelo antiquado, que segue a direção contrária do caminho trilhado pela sociedade contemporânea. Esse grupo, discreto e não-organizado, porém constante e crescente, costuma apontar como pontos negativos na Maçonaria Brasileira, entre outros:

•  A formalidade e restrições do traje maçônico: quase todas as Lojas tem funcionamento na noite dos dias úteis, o que obriga o maçom a, muitas vezes, ir direto do seu trabalho para a Loja. A obrigatoriedade do terno preto com camisa branca e gravata preta ou outra cor conforme rito acaba por atrapalhar a rotina de muitos membros, principalmente aqueles que não adotam traje social em seus locais de trabalho ou utilizam uniformes em suas profissões. Muitas vezes, um maçom deixa de realizar visitas espontâneas a outras Lojas por conta da vestimenta não adequada.

• As reuniões semanais e exigência de presença: para eles, reuniões semanais são um excesso na sociedade em que vivemos, em que um maçom geralmente tem várias outras atividades e compromissos sociais, profissionais, educacionais, intelectuais, religiosos, políticos, filantrópicos e familiares a atender. Por isso, defendem uma periodicidade quinzenal ou mensal. Além disso, a obrigatoriedade de presença mínima com punição prevista por descumprimento acaba por afastar muitos maçons voluntaria ou involuntariamente. Às vezes se perde valorosos membros que, por serem muitos atuantes na sociedade, não conseguem se fazer presentes em Loja o quanto se exige.

• Os poucos membros iniciados: enquanto que muitos membros abandonam a Maçonaria por conta dos mais diversos fatores, as Lojas têm feito cada vez menos iniciações e de menos candidatos, o que tem esvaziado os templos e desmotivado ainda mais os maçons remanescentes. Vê-se então um verdadeiro “déficit maçônico”. Isso enfraquece a Maçonaria e a torna mais velha e, muitas vezes, retrógrada.

• A cultura de Lojas pequenas: quando uma Loja no Brasil consegue romper a barreira da inércia e crescer, muitos Irmãos começam a defender a criação de uma Loja nova com parte de seus membros, até com a desculpa de evitar disputas eleitorais e de fazer a Maçonaria crescer (pelo menos em número de Lojas). Já os críticos acreditam que quanto maior uma Loja for, melhor. Uma Loja com muitos membros tem mais condições financeiras para filantropia, pode exercer maior “barganha social” junto às autoridades locais e enfrenta menos dificuldades de funcionamento.

Com tais argumentos, esses maçons defendem uma mudança na Maçonaria Brasileira de forma a torná-la mais flexível com os critérios de vestimenta, periodicidade, presença e seleção de membros. Uma Maçonaria maior e menos rigorosa, mais “adequada” aos dias atuais.

Em contrapartida, um grupo de maçons norte-americanos pensa exatamente o contrário. Vivendo uma Maçonaria nos moldes da desejada pelos seus antagônicos brasileiros, sem rigidez na vestimenta e com reuniões quinzenais ou mensais em Lojas que possuem centenas de membros, mas que contam com presença de apenas uma dúzia por sessão, eles desejam mudanças.

Em 2001 eles criaram nos EUA a “Fundação da Restauração Maçônica”, com o objetivo de promover o que eles chamam de “Observância Tradicional”, que é exatamente a implementação em Lojas Regulares de características encontradas na Maçonaria Latino-Americana, como: vestimenta social uniforme; Câmara das Reflexões; mais reuniões; exigência de presença; iniciação de um candidato por vez; Lojas pequenas e com foco na instrução de seus membros. As Lojas continuam filiadas à Grande Loja Estadual e trabalhando no Rito de York (Monitor de Webb), apenas adotando algumas dessas mudanças em seu “modus operandi”.

Apesar de 10 anos de existência, o movimento americano tem apresentado pouco desenvolvimento: até agora, apenas umas 30 Lojas em todo os EUA adotaram o modelo sugerido.  Para se ter uma ideia, o Real Arco, um ilustre representante do modelo maçônico norte-americano em terras brasileiras, cresceu no Brasil quase 3 vezes mais nesse mesmo período, e nossa Maçonaria corresponde a apenas 1/7 do tamanho da Maçonaria dos EUA.

De qualquer forma, é importante destacar que os pontos em questão são em geral de cunho administrativo, e independente se rígidos ou flexíveis, nada impactam no Rito praticado, na qualidade ritualística, no respeito aos Landmarks, ou mesmo na filiação à Obediência. Como prova disso, pode-se observar que nos EUA, onde há uma maior flexibilidade administrativa e menor quantidade de reuniões, os Oficiais das Lojas exercem suas funções ritualísticas de memória e as regras de conduta são muito mais rígidas. Enfim, não há modelo melhor ou pior. A questão é na verdade sociocultural, e sendo sociocultural, é sim mutável.

Nesse contexto, cada Loja deveria ter a liberdade e soberania para funcionar como acreditar ser melhor, e mudar quando achar conveniente. Porque, na verdade, não importa se é uma Loja de 10 ou de 100 membros, se tem reuniões toda semana ou uma vez por mês, se inicia 1 ou 100 candidatos por ano, se os membros usam jeans ou smoking. O que importa é se é uma Loja Justa e Perfeita, onde se ensina o homem livre e de bons costumes a ser um maçom, um construtor de uma sociedade melhor e mais feliz. 

O conhecimento, a excelência ritualística e a preservação das tradições maçônicas não dependem da roupa que se veste, da quantidade de irmãos e de reuniões ou do tamanho da Loja. Depende, apenas, do trabalho sobre a pedra bruta que somos.

De tudo isso, tira-se uma importante lição para a Maçonaria Brasileira: as Obediências deveriam se preocupar menos com a regulamentação do funcionamento das Lojas e mais com a produção de material de estudo de qualidade para as mesmas, enquanto que os maçons deveriam se preocupar menos com a cor da camisa do outro e mais com o conteúdo das reuniões.

Antes de procurar mudar “como” a Maçonaria funciona, deve-se procurar compreender “o que é” a Maçonaria e “porque” ela existe. Então talvez optemos pela “restauração”, mas não da forma, e sim dos valores.

março 09, 2022

VAIDOSO ARROGANTE


Nenhum ditador provocou ou vêm provocando tanto dano à Maçonaria quanto o Maçom vaidoso, este Cavalo de Tróia que a destrói por dentro, sem o emprego de armas, grilhões, ferros, calabouços e leis de exceção. Ele é indiscutivelmente o maior inimigo da Maçonaria, o mais nefasto dos impostores, o principal destruidor de lojas. Ele é pior do que todos os falsos Maçons reunidos porque se iguala a eles em tudo o que não presta e raramente em alguma virtude.

Uma característica marcante que se nota neste tipo de Maçom, logo ao primeiro contato, é a sua pose e a insistência com que apregoa virtudes e qualidades morais que não possui. Isso salta logo à vista de qualquer um que comece a comparar seus atos com as palavras que saem da sua boca.

O que se vê amiúde é ele demonstrar na prática a negação completa daquilo que fala, sobretudo daquilo que difunde como qualidades exemplares do Maçom aos Aprendizes e Companheiros, os quais não demora muito a decepcionar.

Vaidoso ao extremo, para ele a Maçonaria não passa de uma vitrine que usa para se exibir, de um carro de luxo. E, quando tem de fato este afã em mente, não se furta em utilizar os meios mais insidiosos para tentar alcançá-lo, a exemplo do que fazem nossos políticos corruptos. 

Pobre do irmão mais jovem (na Ordem), mas, mais capacitado que cruzar o seu caminho, que ousar apontar-lhe uma falta, que se atrever a lançar-lhe no rosto uma imperfeição sua ou criticar o seu habitual pedantismo! O seu rancor se acenderá automaticamente e o que estiver ao seu alcance para reprimi-lo, intimidá-lo e o atacar, ele o fará. Desse modo ele acaba externando outra vil qualidade, que caracteriza a personalidade de todo homem arrogante: a covardia. 

Incapaz de polir a Pedra Bruta que carrega chumbada no pescoço desde o dia em que nasceu, de aprimorar-se moralmente, de lutar para subtrair-se das trevas da ignorância e dos vícios que corrompem o caráter; de assimilar conhecimentos Maçônicos úteis, sadios e enobrecedores, para na qualidade de Mestre poder transmiti-los aos Aprendizes e Companheiros, o que faz o nosso personagem? Simplesmente coloca barreiras em seus caminhos, para tentar os "anular" e retardar-lhes o progresso!

Ao invés de defender e ressaltar a importância da liberdade de expressão e da diversidade de opiniões para a evolução da humanidade, da Maçonaria, como ele age? Censura arbitrariamente aqueles cujas ideias não estejam em "harmonia", ou seja, contrárias às suas! Ao invés de fomentar debates sobre temas de importância singular para o bem da loja em particular e da Maçonaria em geral, como age ele? Tenta impedir a sua realização por carecer de atributos intelectuais que o capacitem a participar deles! E, nos que raramente promove, como se comporta? Considera somente as opiniões daqueles que dizem "sim" e "sim senhor" aos seus raramente edificantes "projetos".

Dos atos indecentes mais comumente praticados por este falsário, o que mais repugna é vê-lo pregando "humildade" aos irmãos em loja, em particular aos Aprendizes e Companheiros, coberto da cabeça aos pés de fitões, joias e penduricalhos inúteis, qual uma árvore de natal.

Outro é vê-lo arrotando, pregando em alto e bom som, a "harmonia" em Loja (de mão única), mas, na verdade, exibindo aí toda sua hipocrisia e mediocridade.

Cego, ignorante e vaidoso, nosso personagem não percebe o asco que provoca nas pessoas decentes que o rodeiam. 

A Maçonaria serve apenas de vitrine para ele. Como não é possível permanecer sozinho dentro dela sem a incômoda presença de outros impostores – os quais não têm poder suficiente para enxotar–, ele luta ferozmente para afastar todo e qualquer "novo intruso", imitando alguns animais inferiores aos humanos na escala zoológica, que fixam os limites de seus territórios com os odores de suas secreções e não toleram a presença de estranhos. Qualquer irmão que comece a se desenvolver ao lado desta criatura rasteira é considerado por ela, inimigo.

A luz e o progresso do seu semelhante o incomoda, fere o seu ego vaidoso. Por este motivo tenta obstaculizar o trabalho dos que querem atuar para o bem da loja; sua mente estragada o interpreta como potencial "concorrente", que nutre interesses recônditos semelhantes aos seus. 

O Maçom arrogante mal conhece o significado de nossas belas e simples alegorias. Sua mente acha-se preocupada unicamente com o sucesso de suas empreitadas, em encontrar maneiras de estar permanentemente ao lado das pessoas cujos postos ambiciona e que coadunam com seus "planos".

Ele é diametralmente oposto ao que deve ser o maçom exemplar, em todos os pormenores. É a antítese de tudo o que a Maçonaria apregoa e deseja de seus membros : uma criatura vil e rasteira que semeia a discórdia, afugenta bons irmãos, e termina por destruir ou fragmentar a loja (ou lojas), resultado às vezes de anos de trabalho árduo, caso ela teime em não se colocar sob a sua batuta ou se mostre contrária às suas aspirações egoístas. 

O Maçom arrogante sabe muito bem que é um desqualificado moral, que carece das virtudes necessárias para dirigir homens de caráter, mas mesmo assim quer assumir o cargo de Venerável. Julga-se com aptidão para empunhar o Malhete, não reconhecendo, até por incompetência própria, a capacidade dos demais irmãos.

Sempre que pode procura "manobrar", pessoas, as eleições para que os cargos em loja sejam preenchidos por integrantes de sua medíocre camarilha, que, uma vez empossada, vai aprovar seus atos malsãos e alimentar a sua vaidade. Dessa maneira ele trava as rodas da loja, impedindo-a de progredir, de desfraldar as suas velas. 

É claro que ele não age só, ele conta com o respaldo de pequenos grupelhos de gente sórdida e submissa, que aprova suas ações e deixa-se corromper.

Caso sofra uma contrariedade qualquer, ou veja descartada uma irracional conjectura sua, ele passa a fomentar intrigas e provocar cismas na loja. Aquele que for investigar as causas que levaram uma determinada oficina a abater colunas notará em seus escombros a marca indelével de sua mão, que muitas vezes deixa impressa com orgulho.

Elemento altamente desestabilizador e perigoso, o Maçom vaidoso é o principal responsável pelo enfraquecimento das colunas de uma loja, pela fuga em massa de bons irmãos, e pela decadência da Maçonaria de uma forma geral.

Quanto maior for o seu número agindo no corpo da Maçonaria, mais fraca, enferma e suscetível à contração de outros males ela se torna, mais exposta a escândalos e prejuízos ela fica. Sua "neutralização" é, portanto, condição sine qua nom para a conservação da saúde de nossa Sublime Instituição.

MAIS LUZ - Samuel H. Jones

(Decifrado em Loja,  em 11 de abril de 1991 pelo autor, o saudoso Ir. Samuel Herbert Jones, MI)

O primeiro propósito de um maçom é estudar e compreender o que lhe foi ensinado. Um maçom não pode ser um ignorante pois Maçonaria e ignorância não são e nunca foram compatíveis em nenhuma época da história. A apatia maçônica que hoje sentimos, está diretamente ligada a ignorância dos assuntos maçônicos.

A nossa meta é sempre "mais Luz", o que aliás é uma obrigação de todo maçom, se é que ele realmente se esforça para recebê-la. Mas de que adianta suplicar por "mais Luz" se não conseguimos enxergar com a pequena e belíssima "aurora" que nos envolve. Se isso nos fosse facilitado, de acordo com nossos desejos, não suportaríamos tamanha claridade por faltar a "base" apropriada para "enxergar melhor", do mesmo modo que necessitamos de óculos escuros "como base" para "enxergar melhor" quando a claridade está muito intensa.

Muitos dos que clamaram por "mais Luz", desistiram, e por quê? Porque procuraram avançar demais. Se habituaram a procura de assuntos mais avançados, desprezando os de menor importância, porém muito mais significativos quanto ao simbolismo que representam.

Símbolos usualmente tem mais força para aqueles que podem interpretar o seu significado para si mesmo e compreendê-los do que, para aqueles que devem depender dos significados dos outros. Portanto, ao estudar um símbolo, concentre-se nele com intensidade, verificando a sua utilidade no mundo profano como um instrumento. Indague tudo sobre sua forma e porquê e, depois de bem compreendê-lo, procure se transformar espiritualmente no próprio símbolo para sentir a mensagem que ele transmite para o nosso aperfeiçoamento ou elevação.

Assim sendo, durante anos, bem poucos conseguem "enxergar mais". A grande maioria, permanece quase que estática na penumbra da "aurora" que nos rodeia, na esperança que, de repente, algo aconteça e sinta o brilho dessa Luz tão desejada.

Mas, para que possamos receber a "Luz", necessitamos procurar, bater e pedir. Principalmente procurar e como muitos não se esforçam para este fim, depois de algum tempo, sentem-se enfastiados argumentando que tudo é bobagem, perdem o interesse pela Luz. Dizem que estamos perdendo tempo, que poderíamos aproveitá-lo para outros fins sociais, etc.

E o que acontece ? As Lojas ficam desfalcadas da presença dos Irmãos, pois gradativamente vão se afastando e procuram outra diversão ou ocupação, justamente na noite que prometeram não faltar. Está certo! Não precisa falar ou desculpar, somos livres e de bons costumes. Não somos escravos da Maçonaria mas, somos escravos de nós mesmos no mundo profano, o que é muito pior. Pelo menos aqui existe algo que nos aproxima uns dos outros, embora bem poucos, procurando cada um cumprir com seu dever. É aquela presença Fraterna e acalentadora que nos une como Irmãos. Pois bem, o que está faltando? Na minha opinião falta muita instrução, esclarecimento, boa vontade, disciplina, ordem e postura. E por que tudo isto?

Saibam meus Irmãos que a Maçonaria não foi feita para as massas e, sim, para o indivíduo, para sua elevação ou iluminação.

A filosofia da Maçonaria e sua doutrina esotérica é, na sua totalidade, uma pesquisa não apenas confinada a uma alegoria ou procura de uma Palavra Perdida ou algo semelhante. Mas é, no sentido mais amplo, a procura de Conhecimento Universal.

março 08, 2022

MULHERES PODEROSAS DA HISTÓRIA - Heitor Rodrigues Freire


Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, Past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande.


A propósito do Dia Internacional da Mulher, é sempre oportuno fazer um retrospecto histórico para nos lembrar do valor de todas as mulheres em nossas vidas.

Desde que o mundo é mundo, as mulheres prevalecem e mandam. Elas têm em sua essência um componente genético de fascínio, e isso é parte da natureza delas. São tão inteligentes que nos fazem pensar que somos mais inteligentes do que elas. E nós acreditamos.

Fazendo uma viagem na história, vemos que tem sido assim desde o princípio. Começou com Eva. Adão, ao se ver flagrado por Deus, foi logo se desculpando: “A criatura que me deste por companheira me deu a fruta e eu comi”. Nessa fala de Adão está implícita uma cobrança a Deus, como se o erro pudesse também ser imputado a Ele, não querendo Adão admitir que foi seduzido. A partir de Eva, todas as mulheres recebem em sua concepção um dom, que só elas identificam, e que sabem utilizar com toda maestria.

No Antigo Testamento temos vários episódios que registram o poder e o magnetismo feminino. Por exemplo, Rebeca, mulher de Isaac, consegue burlar a tradição ao obter a bênção de Isaac para o caçula Jacó, quando quem deveria receber a bênção era o primogênito, Esaú (embora fossem gêmeos, Esaú nasceu primeiro). Esse fato desencadeou todo um drama familiar dos mais conhecidos na Bíblia, na literatura e nas artes em geral. Já Dalila usou de todos os seus encantos para seduzir o poderoso e  forte  Sansão, que acabou contando que o segredo de sua força residia em seus cabelos (cortaram-lhe as madeixas, cegaram-lhe os olhos e uma tragédia se deu). Ruth, uma viúva moabita, instruída por sua sogra Noemi, conseguiu conquistar Booz. Abigail, quando o exército de Davi (futuro rei de Israel) vagava precisando de mantimentos que foram negados por Nabal (marido de Abigail), espertamente mandou um servo levar comida para os soldados famintos e conseguiu evitar que Davi atacasse sua propriedade. Pouco tempo depois, ao saber do acontecido, Nabal teve uma síncope e morreu. Davi então se casou com a bela e sábia Abigail, sua primeira mulher, e que muito o ajudou com sua sabedoria.

A bela Betsabá soube mostrar-se tomando banho para Davi, já rei de Israel, deixando-o apaixonado e levando-o a fazer de tudo para conquistá-la, a ponto de enviar o marido de Betsabá, o comandante Urias, para a frente de batalha para que logo morresse e Davi pudesse ficar com a viúva. Betsabá foi a mãe de Salomão, o rei que segundo conta a Bíblia teve mais de 700 mulheres e 300 concubinas, mas não resistiu aos encantos da rainha de Sabá, uma bela etíope negra chamada Belkiss.

E houve Judite, uma bela viúva judia que com sua beleza seduziu Holofernes, o comandante do exército de Nabucodonosor, rei da Babilônia. Ela cortou a cabeça de Holofernes para libertar o povo de um cerco que estava minando toda sua resistência. Nascida de uma família judaica, Ester, esposa do rei persa Assuero, adentrou a sala do trono real sem permissão e, com coragem indômita, provou ao rei o equívoco de um decreto real, conseguindo a sua revogação (algo quase impossível de conseguir, pois a palavra de um rei não volta atrás) e livrou o povo judeu do extermínio que já estava decretado e com dia marcado.

Todas essas mulheres fazem parte da história bíblica. Fora da Bíblia, temos também a clássica história de Cleópatra, rainha do Egito, que antevendo a derrota do seu exército para o de César, se apresentou a ele envolta num tapete que, ao ser desenrolado, mostrava toda sua exuberância, e César, impressionado com sua coragem e maravilhado com a beleza de Cleópatra, se rendeu aos encantos dela. Quando César retornou a Roma, ela fez o mesmo com Marco Antônio.

Por essas e outras incontáveis histórias, que não param de acontecer a todo instante, somos sempre testemunhas da capacidade milenar da mulher de encantar a todos, com seu poder magnético que nos alegra e nos conquista.


PLENITUDE FEMININA - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil


Ela é a dona do mundo.

Carrega, concebe, alimenta e educa.

Seja do campo, de casa, ou da empresa.

Ela é plena e eclética em toda a sua compleição.

Sabe e intui com a razão e o coração.

Traz na alma o discernimento do caminho a ser percorrido.

É muito mais sensível do que se possa imaginar.

Sua inteligência é incomparável

Seu olhar é profundo, tal qual as águas do oceano.

E sua percepção supera qualquer ensaio da filosofia.

Leva consigo o respeito e a dignidade como disposições humanas inalienáveis.

Erra como contingências que a vida impõe.

Mas corrige e acerta com uma propriedade única e natural de sua própria essência..

Todos os dias são dela.

Todos os filhos são dela, naturais, adotados, ou acolhidos pelo coração.

As decisões mais impactantes saem de seu cérebro e são o resultado de sua consciência.

Seu valor intraduzível não se pauta pela sua cor, sua etnia, ou  por qualquer de suas características físicas.

Ela é simplesmente Mulher !

Inteiramente compatível com  cada palavra do mesmo gênero  que com que ela se identifica:

Concepção, Luz e Vida.



MULHER... SEM IGUAL ! - Adilson Zotovici

 

Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico

Nada concreto, eficaz,

Comparado ao Ser especial 

Do Grande Arquiteto, que apraz,

A” Mulher “, obra sem igual 


Mostrou ao mundo quão capaz 

Num enfrentamento frontal 

Por labor fecundo, vivaz   

Face o tratamento desigual 


Desde a aurora, arguta, audaz

Contra fome, guerra mundial

Como outrora a luta...“ Pão e Paz “   


Notável obra Divinal 

Tão nobre e quão perspicaz

Inefável qual  Arte Real !



março 07, 2022

RESUMO DAS ESCOLAS DE PENSAMENTO MAÇÔNICO


Escola Autêntica ou Histórica 

 Por este pensamento, as antigas tradições da Ordem foram minuciosamente examinadas à luz de registros autênticos ao alcance do historiador, principalmente sobre atas de Lojas e documentos legais e todos os registros acessíveis.

Como os registros escritos sobre Maçonaria especulativa, antecedem pouco ao seu renascimento em 1717, ao passo que as atas mais primitivas subsistentes de qualquer Loja operativa, pertencem ao ano de 1598, os defensores desta Escola, apontam como origem da Maçonaria as Lojas e Corporações da Idade Média, e supor que os elementos especulativos (símbolos, alegorias, etc.) foram enxertados posteriormente ao tronco operativo.

A escola admite que se aceitarmos o fato de que o simbolismo e cerimonial da Maçonaria é anterior a 1717, não há, praticamente , nenhum limite quanto a idade a que se lhe atribuir.

Por isso esta Escola não busca a origem dos Mistérios além dos construtores medievais;

Escola Antropológica ou Primitiva 

Esta Escola de pensamento está aplicando as descobertas antropológicas num estudo da história da Maçonaria e com notáveis resultados.

Os antropologistas reuniram uma vasta soma de informações sobre costumes religiosos e iniciáticos de muitos povos, antigos e modernos, e os estudiosos maçônicos tem encontrado neste campo uma série de sinais e símbolos, tanto dos graus especulativos como dos operativos, em pinturas murais, esculturas, gravuras e edifícios das principais raças do mundo.

Inclusive semelhanças de culturas e cultos em civilizações que não haveriam de ter tido contato físico.

Neste sentido, esta escola de pensamento, confere à Maçonaria muito maior antiguidade do que a atribuída aos históricos, bem como fazem analogias com os antigos Mistérios de muitas nações com cerimônias análogas às empregadas nas atuais Lojas Maçônicas.

Das investigações antropológicas resulta bem claro que, quaisquer que sejam os elos na cadeia de descendentes, nós, maçons somos os herdeiros de uma antiquíssima tradição que, por incontáveis tradições, tem estado associada com os mais sagrados mistérios do culto religioso.

Escola Mística ou Teológica 

Esta terceira Escola do pensamento maçônico, perquire os mistérios da Ordem de um ponto de vista do plano para o despertar espiritual e o desenvolvimento interior do homem.

Os pensadores desta filosofia, analisando suas próprias experiências espirituais, declaram que os graus da Ordem são símbolos de certos estados de consciência, que tem que ser despertados ao iniciado de forma individual se ele espera atingir e conquistar os tesouros do espírito.

Eles dão testemunho de outra natureza muito mais elevada acerca da validade de nossos ritos maçônicos, testemunho que pertence antes à religião do que à ciência.

O objetivo do misticismo é a união consciente com Deus e a Oficina visa retratar a senda para esse objetivo, oferecendo o roteiro que oriente a marcha do buscado do Supremo.

Tais seguidores estão mais interessados na interpretação do que na pesquisa histórica.

O objetivo é viver a vida indicada pelos Símbolos da Ordem para poderem atingir a realidade espiritual de que esses símbolos são sombras.

O método místico busca a união estática com o Supremo, através da oração e da prece.

Escola Oculta ou Esotérica

 O principal e distintivo postulado é a eficácia sacramental do cerimonial maçônico, quando devida e regularmente executado.

Assim talvez possamos chamá-la de escola sacramental ou oculta.

Pode ser definido como o estudo e conhecimento do lado oculto da natureza, por meio dos poderes existentes em todos os homens, mas ainda adormecidos na maioria da humanidade.

Esses poderes podem ser acordados e treinados no estudante oculto por longa e cuidadosa disciplina e meditação.

O escopo do ocultista é alcançar a união com Deus por meio do conhecimento e da vontade, treinar toda a natureza, física, emocional e mental, até que se torne uma perfeita expressão do divino espírito interno, e possa ser empregado como um instrumento eficiente no grande Plano que Deus criou para a evolução da espécie humana, que está representado pela Maçonaria pela construção do Santo Templo.

Para o ocultista é de grande importância a exata observância de uma forma, e pela utilização da magia cerimonial ele cria um veículo através do qual possa a luz divina baixar e difundir-se em auxílio do mundo, invocando, para isso, a ajuda dos Anjos, espíritos da natureza e outros habitantes dos mundos invisíveis.

Uma mesma Maçonaria pode ter a representação necessária à cada irmão que a compõe de modo a permitir seu bem estar e sua integração. 

Bom dia meus irmãos.

(Blog da Loja “Resplandecer da Fênix” no 255 - ano 2009)

O SEGREDO MAÇÔNICO E AS GUILDAS



Os maçons operativos guardavam segredos em torno de suas reuniões em Loja porque era nelas que, ao se oficializar a elevação de um aprendiz a companheiro, eram comunicados a “palavra do maçom”, os sinais secretos de reconhecimento e os segredos profissionais; sobre isso era exigido juramento de absoluto sigilo, pois dele dependia o sucesso profissional do grupo.

Com o correr do tempo, certamente como forma de melhor proteger aqueles segredos necessários, tornou-se secreto tudo o que ocorria no interior das Lojas operativas, inclusive seus mistérios, seus rituais e seu simbolismo.

Essa discrição sempre fez parte das tradições maçônicas das guildas medievais dos construtores das grandes catedrais góticas ou românicas, das suas pomposas sedes nas cidades de maior porte e dos muitos castelos, fortificações e residências.

Esses conhecimentos, que se guardavam a sete chaves e se transmitiam sob segredo, também conferiam importância social aos que os detinham e, obvio, ajudavam a concentrar o monopólio da arte de construir nas mãos dos mestres das guildas dos maçons.

Diz também a tradição que, entre outros itens, era mantido absoluto segredo sobre certas proporções dos projetos das catedrais, sobre o sistema de fechamento dos arcos e sobre a proporção do afinamento das pilastras e das colunas em direção ao topo. Havia assim uma espécie de segredo industrial como o que se pratica habitualmente nos dias atuais. Esses segredos visavam principalmente proteger a categoria profissional de possíveis construtores concorrentes e manter uma condição monopolista sobre os preços das construções.

As primeiras noções dessa ciência eram transmitidas aos aprendizes aos poucos, durante um longo aprendizado de sete anos, mas a parte mais importante só lhes era comunicada ao alcançarem o estagio dos companheiros.

Essa forma de segredo dos maçons medievais dificilmente poderia ocultar algo desaprovado pela Igreja porque as guildas medievais, como toda e qualquer associação de então, mantinham um vinculo muito estreito com o clero local que, como autoridade religiosa, sempre tinha livre todos os atos sociais que aconteciam em suas respectivas jurisdições. Funcionou também em todo aquele período medieval das guildas das artes e ofícios e o poderoso olho da Inquisição, ao qual nada podia fugir.

Na transição da Maçonaria medieval para a Maçonaria Moderna foi incorporada essa tradição de sigilo com todo o seu rigor medieval, e isso transparece claramente no Livro das Constituições, da Grande Loja de Londres, ao dedicar um capitulo especial a instrução dos irmãos quanto ao seu procedimento na presença de estranhos, no ambiente familiar, na companhia dos vizinhos, etc, recomendando especiais cuidados para não revelar nada que acontecesse em suas reuniões e atividades como maçons.

Vemos que o “segredo maçônico” em época alguma teve a intenção de encobrir tramas cavilosas ou atividades ilegais. O segredo e mantido na Maçonaria Moderna como elemento de união entre os irmãos, pois se sabe quando pessoas compartilham um segredo, qualquer que seja a sua natureza, cria-se entre elas um forte vinculo.

Atualmente o “segredo maçônico” se limita aos rituais internos das Lojas, a interpretação de seus símbolos e, principalmente, aos sinais de reconhecimento, pois sinal de reconhecimento não secreto não seria sinal de reconhecimento.

A opção pelo sigilo, desde que não se preste a ocultação de ilegalidades, e um direito de cada instituição.

(Texto extraído do site da Gr.’.Loj.’. Maç.’. do Estado de Mato Grosso)

março 06, 2022

O SOTAQUE NOSSO DE CADA DIA - Newton Agrella




Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil


Se há um substantivo na Língua Portuguesa intrigante quanto a sua etimologia, e que está intimamente vinculado a questões linguísticas é justamente "sotaque".

Pois é, este mero vocábulo, na grande maioria das referências bibliográficas e nas análises vernaculares, via de regra, traz como "origem obscura ou desconhecida".

Porém, apesar disso, há uma clara e pedagógica explanação quanto ao seu significado.

O sotaque, sob o conceito de quando se refere a um mesmo idioma, representa a forma peculiar que as pessoas tem de pronunciar ou de articular e emitir determinados sons, também conhecidos gramaticalmente como "fonemas".

Esta peculiaridade se estende também para a maneira como se pronunciam determinados grupos de palavras.

Esse fenômeno linguístico é notadamente observado como característica própria de uma região, classe ou grupo social, etnia, sexo e até mesmo de fator etário.

Um dos aspectos mais interessantes quanto ao sotaque "dentro de um mesmo idioma", diz também respeito em especial, ao ritmo, à cadência, à entonação, à ênfase ou até mesmo quanto à distinção fonêmica.

A clareza e a maneira circunstancial com que determinados grupos linguísticos expressam e articulam as palavras, são amostras evidentes destas distinções fonêmicas.

É importante contudo registrar que o sotaque não significa falar corretamente ou não.  

Pelo contrário, trata-se de um fenômeno linguístico, cuja forma de pronunciar as palavras, frases e empreender seu próprio ritmo e entonação são fatores herdados da geografia, de condições climáticas, de influências trazidas de outros povos, de processos de colonização e até  mesmo de povos primitivos que já habitavam determinadas regiões.

No caso da língua portuguesa falada no Brasil, os sotaques são muitos, variando de região para região, até em razão das dimensões continentais do país e de seus diversos processos de influências externas. 

Sejam estes processos gerados por colonização, por invasões estrangeiras, por ondas de imigração dentre tantos outros.

Que dirá então, quando a comparação de sotaques se faz entre falantes de um mesmo idioma (no caso o Português) de diferentes países lusófonos, como Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Goa, Timor Leste e Macao.  

Aí então tudo fica mais complicado, pois além do sotaque, as diferenças linguísticas tornam-se ainda mais gritantes, chegando à beira de se tornarem quase que dialetos, se comparados entre si.

Ainda assim, e com uma dose de boa vontade, essas dissonâncias conseguem ser interinteligíveis.

Reitere-se que esta abordagem está sendo feita dentro do contexto de uma mesma ĺíngua, no parâmetro de um mesmo Idioma. 

E ainda assim, é algo passivo de profunda análise e considerações.

Vai por fim, uma consideração particular, isto é; não existe o melhor, o mais bonito, ou o mais erudito sotaque de um idioma. Isso é pura invencionice e subjetivismo sem qualquer base intelectual.

O que existe sim, é uma espécie de "tentativa de padronização de um sotaque", basicamente em função de aspectos midiáticos, que via de regra, obedecem a interesses econômicos, políticos, sociais e culturais.

O seu sotaque, o meu e o deles ou delas é simplesmente uma questão contingencial, que revela quão ampla e diversa é a condição humana de se fazer entender e de ser compreendida.

Um brinde à nossa Língua Portuguesa !!!


março 05, 2022

HAI KAI - INVENTANDO MODA - Heitor Rodrigues Freire

 


Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, Past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande.

O hai kai, que é um tipo de poema curto de origem japonesa, é bastante diferente de outros tipos de poemas porque sua forma e disposição na página diferem do modelo literário tradicional. 

Hai kai é um vocábulo composto por duas palavras da língua japonesa: hai,  brincadeira, gracejo; e kai, harmonia, realização. O poema se constitui de dois elementos: concisão e objetividade.

O modelo tradicional japonês possui uma estrutura específica composta por três versos, formados por 17 sílabas poéticas na forma 5-7-5. Embora seja essa sua estrutura original, o hai kai foi se modificando com o tempo. Alguns poetas não seguem esse padrão. No Brasil, destacaram-se como representantes do hai kai o grande escritor e cartunista Millôr Fernandes, os poetas Paulo Leminski e Guilherme de Almeida, entre outros. O que se observa é que o padrão original foi sendo abandonado e a criatividade de cada artista criou um hai kai brasileiro, se assim podemos definir.

Na busca da minha identidade interior, já encontrei em mim rastros de quatro etnias, paraguaia, judaica, árabe e japonesa. Provavelmente vem daí o fato de eu ter sentido uma afinidade imediata com o hai kai – o que me despertou a vontade de também cometer os meus próprios hai kais.

Aqui vai a minha primeira produção:

Começando a inventar moda

Aprendendo com hai kais  

Pra variar o assunto.


O sabiá já está cantando

É sinal que está namorando

Cantemos o amor.


A primavera chegou

Com ela as flores e o amor

Amemos todos.


Hoje choveu muito

Foi aguaceiro pra todo lado,

Molhou tudo.


A felicidade é um tema

Que galvaniza os pensamentos

E sentimentos do ser humano.


Todos buscam uma definição

Para a felicidade, no tempo

E no espaço.


Felicidade busca incessante,

É mutável, varia muito

Depende de cada um.


Felicidade, como tudo

Depende da evolução e entendimento

De cada um.


Felicidade na minha caminhada,

Aspiração da minha existência,

Ao longo da minha estrada.


Beleza é fundamental,

Não é somente uma cara bonita,

Que se manifesta num sorriso.


Felicidade é acima de tudo,

A alegria de viver, sorrindo sempre

Um tom de voz e um abraço.


Na vida não há 

Recompensa nem há punição,

Apenas consequências

A vida é constituída pelo tempo,

O tempo passa sem que muitas vezes percebamos.

Quando se vê, já passou.


As pessoas são como são,

Como se fizeram, ao longo de suas existências

Enriquecendo o seu ser.


O que é necessário a cada um

É não se deixar levar por ilusões nem falsas orientações,

Pois cada um já traz a melhor direção para si.

 

A grande finalidade da vida

É exatamente descobrir-se a si mesmo

Como ser infinito, que cada um é.

 

Brabeza não ganha jogo,

É falta de segurança, que busca na agressão

A firmeza que não tem.


Brabeza não ganha jogo,

Nem garante resultado, não ganha respeito

Nem conquista posições.


Brabeza não põe mesa,

Não faz amigos, não fica bem.

Por isso, vivamos em paz.

Quando se faz algo com consciência,

Amor, entendimento, alegria e aceitação,

Tudo fica bem.


Estar de bem com a vida

Ante o céu azul iluminado pelo sol brilhante,

É agradecer ao Supremo Criador.


Despertar para o novo dia,

É agradecer pelas bênçãos que recebemos,

E pelas dádivas de que desfrutamos.


Estar com a família reunida no lar

Sacrossanto da espiritualidade, desperta 

O espírito da gratidão.


Vida, manifestação maior do amor de Deus,

Momento sublime ao nascer, luz, alegria,

Momento supremo ao morrer.


Movimento, crescimento, evolução, êxtase,

Conhecimento, experiência, sabedoria, evolução espiritual,

Mudança para um novo grau.


Momento divino, a união com outro ser

Que é a manifestação do amor e da continuidade.

Sentimento de parceria com Deus.


Inteligência e vontade, momento de inspiração,

Serenidade, concentração, oração verdadeira,

União com o Pai Altíssimo.


Hoje, eu fico por aqui.


SINDICÂNCIA: INSTRUÇÃO E APTIDÃO - Ir.´. José Maurício Guimarães


Nos meu momentos de folga, estive pesquisando sobre os requisitos obrigatórios para alguém pretender ser iniciado na Maçonaria. No Regulamento Geral da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, entre outros dispositivos da Constituição, deve ter o candidato "instrução suficiente para a compreensão e a prática dos ensinamentos maçônicos". 

Nas demais Potências e Obediências regulares são igualmente requisitos: "estar o candidato apto a apreender conhecimentos litúrgicos e filosóficos" ou "ter inteligência e capacidade de discernimento suficientes para o entendimento e aplicação dos princípios maçônicos". 

Comecei a pensar se não é nesse ponto que se demonstram ineficientes grande parte das sindicâncias. 

Um candidato pode ter meios de subsistência para cumprir os encargos financeiros da Ordem; pode ter profissão e meio de vida lícitos e reputação ilibada e, apesar disso, não estar apto para a compreensão dos ensinamentos maçônicos, nem ter capacidade de discernimento para a prática deles. 

Mesmo nos requisitos de foro íntimo, um candidato pode declarar que "crê num Ser Superior e na imortalidade da alma", enquanto essas declarações escritas não encontram ressonância em seu interior.

É impossível para o sindicante certificar-se disso. Seguramente não são os fatos de um maçom perder os meios de subsistência ou deixar de crer na imortalidade da alma que trazem as piores consequências para a Maçonaria. 

A vida tem seus percalços e ninguém está livre de viver uma crise financeira. Do mesmo modo, questionar e duvidar é próprio da natureza do homem, variando a crença, a fé e a ciência na medida em que a busca e a transformação de si mesmo prossegue (princípio da complementaridade no papel do observador na mecânica quântica).

O que traz as piores consequências para as Lojas, e consequentemente para a Maçonaria, é descobrir-se, após a iniciação, que aquele homem não tem a inteligência nem a capacidade suficientes para a compreensão a prática e dos ensinamentos maçônicos. Quando digo inteligência, refiro-me ao conjunto de funções psíquicas (e psico-fisiológicas) que contribuem para o conhecimento e apreensão da natureza das coisas e captação do significado dos fatos. 

Não estou falando de cultura. Se pudéssemos abrir a cabeça de uma pessoa, olharmos lá dentro e mensurar o quantum de aptidão e entendimento existe, seria tudo mais fácil. Até o coeficiente de moralidade seria detectado numa radioscopia computadorizada. Não precisaríamos de sindicantes. 

Todavia, mesmo as sindicâncias são incapazes de prever qual entendimento aquele homem terá sobre Maçonaria, o que ele realmente espera de uma Loja e quais serão seus atos no futuro. Estamos sempre jogando no escuro, esta é a verdade. 

No passado houve homens inteligentes com ideias "a seu modo", que quase precipitaram Lojas e Potências no abismo. Só não o fizeram porque o povo maçônico pensa com acerto quando pensa em conjunto. 

É comum encontrarmos maçons de longa data praticando uma "maçonaria à moda da casa" deles - do jeitão deles, com interpretações bizarras do simbolismo e da ritualística. São, na maioria dos casos, boas pessoas e cidadãos exemplares. Mas torcem a Maçonaria para que ela atenda ao seu próprio "modo de ver a vida", sendo que o maçom é que tem de contorcer-se para se adaptar aos critério da vida iniciática. 

As crises internas da Maçonaria, as cisões, a divisão nas Lojas e a constante demanda aos órgãos judicantes nascem exclusivamente da falta de instrução e da incompreensão dos ensinamentos maçônicos, assim como das reiteradas falhas na prática dos mesmos. 

Em primeiro lugar, o Venerável Mestre de uma Loja é o primeiríssimo responsável por sindicâncias bem feitas, pois escolhendo os sindicantes mais perspicazes, a Loja será capaz de melhor diagnosticar o candidato que se lhe apresentam. 

Em segundo lugar, o Venerável Mestre de uma Loja é o primeiríssimo responsável por instruções bem ministradas e pela supervisão dos trabalhos apresentados para aumento de salário. 

Chega, já apontei os problemas. Passo agora às possíveis soluções: 

1) Um candidato poderia receber um livro ou artigo sobre Maçonaria (de caráter público, evidentemente) e, a posteriori, ser interrogado, numa das sindicâncias, a respeito de suas impressões sobre o texto. São falaciosas as sindicâncias que representam meras visitas, com cafezinho (um bebida talvez...) - doces e guloseimas, como olhares furtivos para a qualidade dos móveis da sala-de-estar ou uma espichada de pescoço ("pescoçada") até à garagem para ver o modelo e o ano do automóvel do candidato. 

2) Depois de iniciado, os temas para trabalhos de aumento de salário deveriam priorizar o questionamento da repercussão da instrução na vida do Aprendiz ou do Companheiro. Por exemplo: "o compasso - como seu simbolismo tem afetado ou modificado sua vida pessoal e/ou profissional?" Desta forma estaríamos aquilatando o nível de instrução e compreensão dos ensinamentos maçônicos. 

A maioria dos trabalhos que tenho ouvido em Loja são meras cópias dos rituais e das instruções; o neófito apenas assina a cópia no final da página sem compreender a função transformadora do simbolismo. Isto é, no mínimo, um abuso contra os direitos autorais dos detentores do Rito! 

Trabalhos para aumento de salário têm por objetivo averiguar a aptidão de apreender Maçonaria e não a esperteza de copiar [copy] e colar [past]. 

O que temos presenciado é a bateria de alegria após esses plágios. Se quem pede aumento de salário não escreve de moto próprio, que permaneça recebendo o mesmo salário até estar apto a a apreender conhecimentos litúrgicos e filosóficos e passar para outra coluna. 

Afinal de contas, quem pretende ser elevado ou exaltado é também candidato. Em Maçonaria não pode existir mais-ou-menos. Do contrário estaremos condenados a ser mais-ou-menos justos e mais-ou-menos perfeitos. Como se diz por aí, "era o que continha"... ou melhor: é o é o que contém.

março 04, 2022

O PROTAGONISMO DO EMBURRECIMENTO - Newton Agrella

 


Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil


Algo que assusta e que causa uma apreensão desmedida é o contínuo processo de emburrecimento que as pessoas estão sofrendo em todo o mundo.

A despeito do emprego da chamada alta tecnologia, assistências online, dispositivos e aplicativos, bem como a instauração de uma linguagem virtual e propositadamente impessoal, somado ao prolífero uso de expressões da língua inglesa - como se isso simbolizasse algum status -  o que se percebe sistematicamente é o  descompromisso incessante com o exercício intelectual. 

As imposições de ideias e o dogmatismo contido nas pressupostas linhas de raciocínio "express" , na realidade têm se constituído em agentes depauperados da capacidade de pensamento humano.

Deparamo-nos a cada pouco com imagens, vídeos e áudios em que a pseudo tentativa de nos levar a uma elevação cultural, ou prestar-nos algum tipo de contribuição filosófica, quanto a maneira de interpretar a nossa existência e os valores que nos cercam, simplesmente caem num vazio e numa inconsistência estéril sem igual.

O processo de emburrecimento, por exemplo, se torna algo evidente quando o próprio sistema educacional desestimula a leitura e principalmente o abandono da forma maior e consagrada da escrita; ou seja, a "escrita cursiva", na qual a experiência de escrever de próprio punho, sentir o lápis e a caneta, estabelecer uma real conexão com o cérebro, estimular a elaboração de uma frase e a sensação única da criação, ficam relegadas a um segundo plano.

Não se propõe aqui, retroceder no tempo. Em absoluto.

O que se evidencia sim, é o indisfarçável proselitismo da digitação em teclados de notebooks e smartphones. 

O que de algum modo, tem auxiliado no elevado índice de analfabetos funcionais, que mal conseguem ler e escrever, mas que pior que tudo isso, acham-se destituídos de toda e qualquer capacidade de "interpretar um texto", bem como alijados de qualquer poder de argumentação, quando se vêem diante de um livro ou de qualquer peça literária.

Seja em qualquer âmbito cultural, e inclua-se aí a própria Maçonaria, o que se observa é a escassez de textos e de propostas que legitimem a Arte de Pensar, Refletir, Ponderar e Elaborar o Espírito Crítico, com bases consistentes e intransferíveis, em favor da evolução humana.

É óbvio que a tecnologia é uma aliada do progresso da humanidade, porém a cultura e a intensidade do pensamento intelectual é o alimento que nutre a Alma e o Espírito em consonância com o aprimoramento da própria Consciência.

Evoluir demanda entrega, esforço e determinação, enquanto emburrecer é meramente uma questão de acomodação.