março 22, 2022

SER e TER - Rui Bandeira



O episódio de Diógenes e Alexandre é conhecido. Relembremo-lo.

Diógenes, filósofo grego que chegou a ser professor de Alexandre da Macedónia, questionando os costumes do seu tempo e a necessidade da posse de bens materiais, a certa altura começou a levar uma vida totalmente desprendida, ao ponto de morar dentro de um barril e ter como seu único bem pessoal uma vasilha com água. Mesmo essa, acabou por a deitar fora, depois de se aperceber que lhe bastava juntar as duas mãos e recolher a água de qualquer nascente ou curso de água, para a beber ou se lavar.

Quando Alexandre invadiu a Grécia, fez questão de visitar o seu antigo professor. Encontrou-o sentado ao sol, entregue aos seus pensamentos. Disse-lhe:

- Diógenes, como sabe conquistei a Grécia, que agora faz parte do meu Império. Como foi meu professor e sempre o admirei, quero recompensá-lo. Que deseja?

Diógenes manteve o silêncio, meditando. Alexandre e todos os que o acompanhavam aguardavam, expectantes e curiosos, a resposta que o filósofo daria, o pedido que faria.

Então Diógenes respondeu ao poderoso Alexandre:

A única coisa que neste momento me faz falta, aquilo que te peço, Alexandre, é que saias da frente do Sol, pois a tua sombra impede que os seus raios me aqueçam!

Alexandre, magnífico Imperador, grande conquistador, líder de numeroso e forte exército era, na época, o homem que praticamente tudo tinha, quase tudo podia. Era o homem mais rico, mais poderoso, mais temido, que de mais podia pôr e dispor naquele tempo e naquelas paragens. Tinha.

Diógenes nada tinha de seu, exceto o barril onde se acolhia e o que a Natureza lhe proporcionava. Mas era sabedor e respeitado e vivia sereno e feliz. Não pelo que tinha. Pelo que era.

A frugalidade de Diógenes era exagerada. Mas correspondia às suas necessidades. E ele nada mais queria do que isso. Para ele, o importante era o que ele era, não o que ele tinha. Para ele, os outros - todos, até o rico e poderoso Alexandre - valiam pelo que efetivamente eram, não pelo que tinham. No momento em que respondeu a Alexandre, para ele, Diógenes, o Imperador era apenas alguém que lhe tapava o Sol. Nada mais, pese embora toda a sua riqueza e todo o seu poder.

Nos dias de hoje, quantas vezes nós, embrenhados no afã de nossas vidas ocupadas, não discernimos, nem sequer nisso pensamos, se o que já temos não será suficiente para a nossa vida. E continuamos preocupados em TER. Ter isto, comprar aquilo, obter aquele outro bem.

E, se não tivermos cuidado, o tempo passa e, um dia, damo-nos conta de que nos esfalfámos a trabalhar, nos esgotámos de esforço, para ter uma coisa e logo outra e seguidamente uma outra, numa infindável sucessão, e, entretanto, nos esquecemos do essencial, do que realmente é importante: de viver e de sermos felizes!

E, se bem virmos, para sermos felizes, não precisamos de tanto TER. Podemos e devemos dar-nos conta que o mais importante na vida é SER. Ser, simplesmente ser, objetivo tão simples e, se calhar por isso, tão esquecido, mas que tantas vezes nem sequer é difícil de atingir, de realizar.

Deixemos de buscar TER. Preocupemo-nos em SER. Ser feliz. Ser amado. Ser... gente!

Quem o fizer, não demorará muito a perceber que, afinal, quando se É é-se muito mais feliz do que quando apenas se TEM.

E, no entanto, muitas vezes o TER, tem-se logo, enquanto porventura se leva uma vida inteira para se conseguir SER. Mas, enquanto que o que temos pode ser perdido súbita e inesperadamente - um acidente, uma catástrofe, um azar, uma má decisão, tudo isso e muito mais pode levar-nos o que temos -, o que somos nunca se acaba nem se perde!

O SER, uma vez conseguido, é perene. O TER é passageiro - e, mesmo que dure muito, não nos traz necessariamente felicidade.

Tentemos, pois, SER e preocupar-nos menos com o TER. Se calhar, assim descobrimos que o caminho para se ser feliz é muito mais curto e acessível do que julgávamos!


A FORMA DA LOJA - Kennyo Ismail



O Ir, Kennyo Ismail é professor universitário, editor, escritor, uma dos mais importantes intelectuais da maçonaria no país.

Os rituais antigos registram que a forma da Loja é a de um “quadrado oblongo”. Talvez você esteja pensando: “Como é possível um quadrado ser oblongo? Aí não seria quadrado, e sim retângulo! Esse termo está errado!”

Se você pensou algo parecido, saiba que muitos ritualistas ao longo dos últimos séculos pensaram como você. Esses ritualistas também acharam o termo de certa forma contraditório e foram substituindo-o ao longo do tempo. Hoje, vê-se “quadrilongo” e até a aberração “retângulo alongado”! Ora, se é retângulo, então já é alongado, não é mesmo?

A verdade é que o quadrado oblongo, o quadrilongo e o retângulo são apenas nomes diferentes para a mesma figura geométrica. Nenhum deles está errado, nem mesmo o “quadrado oblongo”, o mais antigo deles. Entenda o porquê:

Procure na bíblia a palavra “retângulo”. Aliás, não procure porque você não encontrará. Isso não significa que não há objetos e construções retangulares descritos na bíblia. Simplesmente, o termo não existia.

Para que se entenda melhor a questão, deve-se compreender o verdadeiro significado da palavra “quadrado”. Quadrado vem do “quadratus”, que é o particípio passado do verbo em latim “quadrare”, que significa “esquadrar”. Assim sendo, quadrado, no sentido original, era toda forma geométrica de quatro lados formada por ângulos retos. Quando os quatro lados eram do mesmo tamanho, o quadrado era “quadrado perfeito”, e quando dois lados paralelos eram maiores que os outros dois, era “quadrado oblongo”. A palavra retângulo veio surgir muito tempo depois.

Mas quais as medidas corretas?

“Sem simetria e proporção não pode haver princípios na concepção de qualquer templo.”

Vitrúvio

O quadrado oblongo, como todo retângulo, pode ter qualquer tamanho, desde que dois lados paralelos sejam maiores do que os outros dois. Um templo maçônico, tendo a forma de um quadrado oblongo, também pode ter qualquer tamanho, conforme o espaço físico, interesse e recursos financeiros permitem. Mas a questão que interessa aos maçons é se há uma proporção correta a ser respeitada, como bem sinalizou Vitrúvio, autor das primeiras obras que detalham as Ordens de Arquitetura, tão importantes para a Maçonaria.

Nesse sentido, existem duas teorias:

A primeira é de que a proporção é de 1×2, ou seja, as paredes do Norte e do Sul devem ter o dobro do comprimento das paredes do Oriente e Ocidente. Essa teoria se sustenta na proporção conhecida como “ad quadratum”, de origem romana e que foi muito usada na construção de igrejas góticas.

A segunda teoria, e mais aceita, é da Proporção Áurea, que é de aproximadamente 1×1,618. Essa famosa proporção, também conhecida como Proporção de Ouro e Divina Proporção, foi utilizada na concepção do Parthenon e adotada por artistas como Giotto. Também está presente na natureza, como em algumas partes do corpo humano e nas colméias, além de vários outros exemplos envolvendo o crescimento biológico, o que torna tal proporção ainda mais intrigante. Pitágoras, figura extremamente importante na Maçonaria, registrou a presença da Proporção Áurea no Pentagrama, tornando esse o símbolo de sua Escola. O próprio Vitrúvio era fã devoto da proporção. O retângulo feito com base na Proporção Áurea é chamado de “Retângulo de Ouro”. Para se ter uma ideia de sua influência e aplicação até nos dias de hoje, os cartões de crédito convencionais respeitam a Proporção Áurea.

Desvendado o “mistério do quadrado oblongo”, é importante observar que a Maçonaria apenas declara que o templo tem tal formato, sem explicitar qual seria a proporção adequada. Mas se você é adepto de uma das proporções e não encontrá-la no templo de sua Loja, não se preocupe. Afinal de contas, não se fazem mais templos como antigamente

março 21, 2022

VOLTEMOS A LOJA - Adilson Zotovici


Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico


Melancólico o cenário

Nesse retorno ao canteiro

Quão diminuto o plenário

Reduto do livre pedreiro


Regresso inda que precário

Quanto ao progresso costumeiro,

Mas, virtual, é subsidiário

E presencial é pioneiro


A Oficina é um relicário

Arguta escola do roteiro

Que ensina o desbaste primário

Da pedra bruta ao luzeiro


Mui expresso o corolário

Que o processo é vanguardeiro

“Vontade” o insumo sumário

“Compromisso” o rumo certeiro


Há o ausente, que em comentário,

De desculpas é vezeiro

Temente ao feito sanitário

Mas, à festas...é o primeiro


Desde recipiendário

O empenho induz o obreiro

A fazer jus ao salário

Por desempenho verdadeiro !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif-169

ILUMINAÇÃO E EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO - Charles Evaldo Boller



A maior dádiva que se obtém na Maçonaria é o desenvolvimento da capacidade de pensar para além dos limites que alguém impôs a si mesmo por condicionamento no cativeiro debaixo do sistema econômico mundial.

Ser capaz de pensar por si é o maior estágio de liberdade alcançável de forma consciente.

A capacidade de criar ideias novas, libertadoras, é desenvolvida em diálogos, debates e meditação. Na interação com o pensamento de outras pessoas absorvem-se novas idéias, e estas somadas com aquelas já existentes na memória, pela ação da meditação ou intuição transformam-se em pensamentos inéditos, totalmente diferentes dos pensamentos que lhe deram origem. Assim ocorre desde que o homem passou a usar do pensamento para interagir com o ambiente. Foi o que o diferenciou das outras unidades viventes deste imenso organismo vivo que é a biosfera terrestre.

É no pensamento que se materializa a liberdade absoluta, local que a nenhum déspota jamais foi dado saber o que o outro pensa.

Todo aquele que se submete ao pensamento de outros, por preguiça de pensar, é escravo; um homem domina o outro através da força do pensamento, da capacidade de realização do pensamento.

Todo desenvolvimento humano surgiu primeiro na mente.

Pensamento é energia.

Pensamento revela riquezas que estão disponíveis ao redor. É só aprender a colher. É a razão do maçom diligente e perseverante melhorar suas condições sociais e financeiras.

Ninguém escraviza a quem se tornou livre pensador, pois é pela "aufklärung", uma conceituação de Kant que significa iluminação, que ele se conscientiza que sem liberdade deixam de existir fraternidade e igualdade. Um ser iluminado goza de liberdade do pensamento e não carece da tutela de ninguém, é a liberdade absoluta, não carece mais ser guiado por outro, tem coragem de usar do próprio discernimento de seu intelecto para desbravar seus próprios caminhos.

Liberdade começa no pensamento; o resto é mera consequência.

Confúcio disse: "Estudo sem pensamento é trabalho perdido; pensamento sem estudo é perigoso".

Na era paleolítica o homem era uma espécie de gari da natureza, sobrevivendo graças ao que encontravam por acaso. Progrediu até que, pela caça em grupo, obteve sucesso em capturar animais de maior porte e a utilizar-se da colheita selecionada de frutas.

No neolítico passou a desenvolver a agricultura, pastoreio de animais e usar o ferro.

Durante cerca de duzentos anos passou a desenvolver-se cientificamente e a utilizar-se de máquinas automáticas.

Nos últimos anos passou a usar intensamente do saber e da informação.

Existe um abismo entre a primeira e a última fase do desenvolvimento da criatividade humana, tudo resultado da capacidade de pensar com lógica.

A velocidade com que se sucederam as diversas etapas manifestou-se em progressão geométrica.

E como tudo na natureza é uma questão de domínio do mais apto, a maioria das pessoas sempre é dominada pelos melhor preparados; por aqueles que treinaram e são livres para pensar às suas próprias custas, estes foram e são os mais ricos e se forem sábios, serão mais felizes. Também são os mais ricos que mais espoliaram os menos aptos, os pobres e incapacitados de pensar às suas próprias expensas.

Benevolência, magnanimidade, é dada a poucos; sempre houve a exploração do homem pelo próprio homem.

O único caminho para progredir debaixo deste sistema de coisas é educar-se, estudar das coisas da ciência para subsistir com qualidade e educar-se para obter maiores possibilidade de obter sucesso e ser feliz.

Ao maçom é propiciada esta oportunidade de auto educar-se, de progredir como pessoa, como homem. A educação aqui preconizada é a educação natural, criada por Rousseau e complementada por Kant. Todo aquele que percebe esta intenção e tira da Ordem Maçônica tudo o que é importante para educar-se na linha natural vai obter sucesso na vida e será mais uma pedra polida na sociedade humana, para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia:

1. ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia, Dizionario di Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN 978-85-336-2356-9, quinta edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1210 páginas, São Paulo, 2007;

2. BOURRICAUD, François; BOUDON, Raymond, Dicionário Crítico de Sociologia, tradução: Durval Ártico, Maria Letícia Guedes Alcoforado, ISBN 978-85-0804-317-0, segunda edição, Editora Ática, 654 páginas, São Paulo, 2007;

3. GEORGE, Susan, O Relatório Lugano, Sobre a Manutenção do Capitalismo no Século XXI, título original: The Lugano Report, tradução: Afonso Teixeira Filho, ISBN 85-85934-89-1, primeira edição, Boitempo Editorial, 224 páginas, São Paulo, 1999;

4. MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;

5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas, São Paulo, 2007.

REFLEXÕES SOBRE A MORTE - Ir. Valdemar Valsechi




Ademar Valsechi, médico, notável intelectual, MI da Loja “Templários da Nova Era” nr. 21 e Grande Mestre de Harmonia da GLSC. O presente artigo foi destaque em 2007 no Concurso“Pitágoras de Peças de Arquitetura” na categoria de Mestre-Maçom.

“Como a morte é o verdadeiro objetivo da existência, travei durante estes poucos últimos anos, relações tão íntimas com esta melhor e mais fiel das amigas da humanidade, que sua imagem não me parece terrível, mas sim, suave e consoladora." (Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791 - Carta ao seu pai Leopold, no seu leito de morte em 1787.

Diz-se que um ser é racional, quando a sua inteligência é desenvolvida a tal ponto, que permite conceber a idéia de existência, com um início e fim, isto é, raciocinar que existe morte. Todos os seres vivos convivem naturalmente com o seu ciclo vital: Nascimento, Reprodução e Morte, mas apenas os seres humanos, pelo enorme número de neurônios que possuem (aproximadamente 10 bilhões), apresentam a capacidade cognitiva de finitude, que um dia vai morrer. E com isso convive com o medo da morte.

O medo sempre foi o grande companheiro do instinto de sobrevivência. Inibidor da audácia, nos salvando de muitas ciladas, nos mantendo nos limites seguros. Todos nós temos medo, variando desde leve stress ao terror paralisante. A única arma eficaz contra o medo chama-se coragem. Para grandes medos, grandes coragens.

Como disse o professor J.M. Queiroz de Abreu, no seu discurso aos formandos de medicina em agosto de 2005, Campinas – S.P. :

“A morte e o medo são duas faces de uma moeda. A morte é a culminação do medo, sua máxima representação, é a progressão geométrica do medo quando ela encontra o infinito... A epítome do medo é a morte. Enfrentar o medo é enfrentar a face escura de nossa personalidade, a face oculta do destino".

Devemos aceitar nossos temores para conhecê-los melhor, para não perdermos as rédeas, sem deixar que eles nos controlem. O tempero entre medo e coragem deve ser equilibrado. Muita coragem com pouco medo será um ousado inconsequente de vida curta, um kamicase, um homem-bomba. Pouca coragem e muito medo teremos um indivíduo enclausurado, covarde, que até poderá ter vida longa, mas sem deleite. Um medo moderado, ao nível da prudência, é saudável, é esperto. Um medo muito intenso ao nível do pânico e da covardia é burrice.

Todos nós vivemos com nossos medos. Só os perdemos quando morremos. A pessoa que tem um câncer passa pela angústia de saber se vai ou não sobreviver. Os doentes pulmonares conhecem bem o que é falta de ar e convivem com o temor de uma morte asfixiante. Os cardíacos temem uma morte súbita e quem sabe, dolorosa. Tememos os acidentes de trânsito, os assaltos e toda ordem de violência.

Apesar de fazer parte de um processo natural, a morte é odiada. Excluída de nossos bons sentimentos, estamos sempre tentando enganá-la, desviando-nos dela, nos disfarçando para que ela não nos reconheça, pois o nosso medo não nos permite encará-la.

O melhor método para vencer nossos medos é tomar alguma dose de coragem. Quanto maior o medo, maior deverá ser a dosagem. Como não existe um “medômetro”, não temos como quantificá-lo. É algo individual, privativo de cada pessoa. Devemos aceitar e enfrentar os nossos temores e principalmente, não acreditar neles, pois quanto mais nos deixamos envolver, mais reais eles se tornam, a ponto de nos escravizar.

Com o medo controlado, a morte não mais vai nos parecer tão asquerosa. Será vista tal como ela é: A bela e afetuosa amiga da vida, permitindo que o ciclo vital continue com o nascimento de novos seres, abrindo caminho para a evolução das espécies. Sem a morte não haveria renovação. A vida se tornaria enfadonha, desprovida de graça, de sentido, extremamente tediosa.

Pelo fato de ser limitada, mais nos sentimos atraídos pela vida, a viver cada minuto e transformar cada momento em momentos felizes. Cada dia, pelo simples fato que pode ser o último, deve ser saboreado com prazer. Cultivar a boa saúde, os bons relacionamentos, curtir os amigos, a felicidade de ver os filhos e netos crescendo, física, intelectual, moral e espiritualmente, aceitar com naturalidade a inexorável vinda da senilidade. E feliz de quem envelhece. Sempre digo aos meus idosos e queixosos pacientes que reclamam da velhice: “É ruim ficar velho, mas pior é não ficar”.

Cabe a nós a responsabilidade de cumprir o melhor possível nossa missão. Deixar bons exemplos. Impregnar os jovens com nossa conduta. Dentro das limitações de cada um, registrar a nossa passagem pelo nosso período vital, para que as gerações futuras tenham em quem se espelhar.

Ao chegar nosso momento, vamos nos retirar discretamente de cena desse maravilhoso “Drama da Vida”, deixando que nova safra de atores e atrizes assuma nossos papéis, desempenhando tão bem ou quem sabe, melhor que nós, nesse belíssimo Teatro que é a natureza.

Conscientes de que nos esforçamos para bem cumprir nossa tarefa, vamos abraçar carinhosamente nossa delicada, suave e querida amiga morte e com ela seguir, confiantes, caminhos desconhecidos.

Encerro minhas reflexões com o ensaio de William Shakespeare (1564 -1616) em Tragedies: “De todas as coisas que conheço, aquela que mais estranha me parece é que o homem sendo um ser mortal tenha medo da morte. O covarde morre mil vezes, enquanto que o homem corajoso só sente o sabor da morte uma única vez”.


Ademar Valsechi, MI da Loja “Templários da Nova Era” nr. 21 e Grande Mestre de Harmonia da GLSC. O presente artigo foi destaque em 2007 no Concurso“Pitágoras de Peças de Arquitetura” na categoria de Mestre-Maçom.

março 20, 2022

DESCALÇAMENTO & MAÇONARIA - Kennyo Ismail



O Ir, Kennyo Ismail é professor universitário, editor, escritor, uma dos mais importantes intelectuais da maçonaria no país.


Pra começar, esse negócio de chinelo é coisa relativamente nova, apenas para os candidatos não pegarem um resfriado, machucarem o pé ou mesmo se sujarem em demasia. Preocupações que não existiam anteriormente, mas passaram a fazer parte da sociedade. Afinal de contas, pé com chinelo não é pé descalço!

Os rituais e livros são extremamente omissos quanto ao motivo do descalçamento, muitas vezes informando apenas que se trata de uma questão de respeito. Há ainda os “achistas” de plantão, para viajarem em teorias tendenciosas e sem embasamento como Jesus lavando os pés de um discípulo, ou que o caminho do candidato é ao Oriente e no Oriente (Japão) as pessoas tiram os calçados para entrar em casa. Se neles falta pesquisa, sobra imaginação. Não me assustará se uns desses quiserem um dia lavar o pé do candidato no Mar de Bronze!

Para demonstrarmos a antiguidade e a importância do costume do descalçamento, podemos recorrer a vários povos e épocas. Entre os exemplos, há no livro “Êxodos”, 3:5, quando Deus fala com Moisés por meio de uma “sarça ardente”: “não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.” Outro exemplo interessante, dum personagem muitas vezes ligado à Maçonaria, é uma instrução de Pitágoras aos seus discípulos: “Ofereça sacrifício e adoração descalço” e “Devemos nos sacrificar e entrar nos templos sem sapatos”.

Tal costume, existente entre judeus e gregos, também é observado entre muçulmanos, hinduístas, e várias religiões orientais, o que comprova seu caráter universal. Tão antigo e presente em tão diferentes povos e culturas, é impossível e desnecessário determinar seu início e origem. Parece fruto de um senso comum, assim como a própria existência de um Ser Superior. Trata-se de um óbvio reflexo do simbolismo dos templos: um local sagrado é um local puro, portanto, livre do que é sujo. Dessa forma, o pé descalço simboliza o respeito e a deferência da pessoa para com aquele lugar, seu reconhecimento de que aquele solo é realmente sagrado.

Mas, como sempre, alguns ritualistas fizeram o favor de desconsiderar a história e o motivo de existir do rito de descalçamento, tornando os rituais, no mínimo, incoerentes: os candidatos descalçam o pé para pisarem num lugar puro, mas colocam sandália para não sujarem o pé. Uma verdadeira distorção do símbolo e de sua simbologia. Será que é preguiça de limpar a Loja? Espero que não.

TEMPERAMENTO MAÇÔNICO


No Judaísmo temos provérbios que são atuais, mesmo escritos há mais de 2.200 anos. 

Distinguem-se quatro tipos de temperamentos:

_O de quem é fácil de provocar e fácil de pacificar - esse ganha o que perde;

_O de quem é difícil de provocar e difícil de pacificar - esse perde o que ganha;

_O de quem é difícil de provocar e fácil de pacificar - esse é um santo;

_O de quem é fácil de provocar e difícil de pacificar - esse é um perverso. 

"A devoção não está no joelho que se dobra, mas no coração, que não se vê dobrar". 

A diferença entre o homem e o animal consiste na consciência, na qual o homem tem por objeto de sua reflexão sua própria essência, sua própria espécie.

Esta consciência pode converter em objeto outra realidade, outras coisas, de modo especial, seu próprio ser.

Sinal disso é o pensamento, a linguagem e o amor humanos.

Essa diferença entre o homem e o animal não só fundamenta as relações sociais e espirituais, mas também seu próprio ser infinito.

Nisso está sua verdade.

Nos dias de hoje estamos vivenciando na Ordem Maçônica um Ostracismo inercial intenso e desagregador, que está corroendo as nossas colunas.

E aquele provérbio descrito no início da presente explanação, mostra-nos que hoje somos quatro grupos na Ordem e a cada vez mais, se diminuem os números daqueles que são difíceis de se provocar e fáceis de serem pacificados!

As Vaidades pessoais , a inoperância mental e de compromissos com a Ordem, a falta de priorização de nossos princípios e leis em nossa vida profana e cotidiana , inclusive nos campos familiares e em geral , nos levam a desmotivação própria e daqueles que conosco convivem!

Lembremos sempre que:

... ” O Maçom busca o Bem pelo cultivo das virtudes e pelo abandono dos vícios. Tenta polir constantemente a sua pedra bruta reforçando a sua virtuosidade e reprimindo, conscientemente, os seus defeitos.

Pela autodisciplina, livremente imposta a si mesmo, torna-se também exemplo para seus pares, colaborando para o progresso moral daqueles que com ele interagem”...

Temos também que ter consciência que somos humanos e como tal sujeitos as falhas.

A Maçonaria porém nos mostra a saída para a recuperação:

Nossa união, o apoio dos Irmãos, a sabedoria dos mais experientes!

Que grande benção recebemos quando somos iniciados! 

Por fim, fica claro que a Maçonaria nos mostra e nos ensina o caminho da vida plena, íntegra , feliz e produtiva, sendo que cabe a nós, irmãos, não nos desviarmos do caminho do bem, lembrando que:

... “O mato cresce rápido em caminhos pouco percorridos”... 

Bom dia meus irmãos.


(focoartereal.blogspot.com/2020/08/temperamento-maconico.html?m=1)

A VERDADE - Ir. Bruno Bezerra de Macedo


Ir. Bruno Bezerra de Macedo, MM - ARLS Adolfo Bezerra de Menezes n° 100 filiada a Grande Loja do Estado do Ceará GLMECE

Meditava sobre o Poder da Verdade, quando me deparei com a contundência das palavras do Ir.’. Vicente Wanzeler, que diz: "Viver a verdade e falar da verdade sempre será perseguido pelo sistema." Sim, é fato. Acontece!

Tal perseguição ocorre quando estamos desprovidos da capacidade de argumentação. Ter argumentos requer consciência desperta e este despertar só ocorre quando se conhece a si mesmo, aos outros e ao mundo em plenitude. 

Da argumentação advém o convencimento, do qual brota o entendimento e a harmonia, tomando unas as verdades conflitantes a benefício da evolução e do progresso.

Silenciar a verdade é atrocidade moral! 

É ato de opressão que extingue parcial ou totalmente a liberdade. Sobre isto, cumpre lembrar que não há democracia onde inexista o Estado de Direito, ou seja, sem a legalidade e suas benéficas edificações, não há liberdade, tão pouco igualdade e muito menos fraternidade. Assim, reina a barbárie ofuscando a clareza dos sublimes ideais.

Portanto, o Princípio da Legalidade é o fiel combatente contra a autotutela dos direitos, embora, por vezes, esta galhardia tenha suas forças minguadas por duas formas:

1 - pela não disseminação de seus valores em momento algum, nem de forma alguma.

2 - pela retenção deste saber nas mentes de pequena parcela do todo (a quem abrange independentemente de ser conhecido ou não) graças à forma ininteligível com que possa ter sido disseminado.

Cabe lembrar que "um povo unido é um povo esclarecido", como adverte o professor Maurício Leite, ganhador do prêmio nacional “Ricardo Oiticica”, na categoria Formação de Mediadores. Porém, estando a imensa massa do todo totalmente perdida no obscurantismo, facilmente a mordaça faz calar a verdade, como aduz o irmão Vicente.

Ainda que severa seja esta trevosa força, tal terror não assusta o Maçom, tão pouco o afugenta do cumprimento do seu mister de combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; também não o impede de glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade, pois com sutileza vai imprimindo na sociedade em que vive, pela excelência do melhor exemplo, os sublimes princípios da moral e da razão, irradiando aos quatro cantos da Terra a luminescência da Maçonaria.

Façamos nossa parte! Tornemos feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um. 

Nisto admoesta Samuel Lima: "Educação gera conhecimento, conhecimento gera sabedoria, e, só um povo sábio pode mudar seu destino."

março 19, 2022

E AGORA JOSÉ ? (hoje é seu dia) - Newton Agrella


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Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil

Aos "Josés" cristãos, judeus ou de qualquer outra denominação religiosa no mundo, o que vale é que hoje, 19 de Março, este dia é seu !

O nome José em Português é a transliteração de YOUSEF em Hebraico, cujo significado é : “aquele que acrescenta”, fazendo uma referência a Deus. 

Interessante destacar que relatos históricos dão conta de que no início este nome era popular somente entre os judeus. 

Porém no começo da Idade Media, e em especial no continente europeu, o referido nome começou a tornar-se mais frequente entre os cristãos especialmente na Espanha e na Itália em homenagem a São José.

Na Inglaterra, o nome começou a se popularizar após a Reforma Protestante, assim como na Alemanha e Holanda.

A História ainda revela que o nome José começou a se tornar mais comum em Portugal em documentos datados da primeira metade do século XVI, na forma transliterada "Joseph".

O nome em si, sempre esteve intimamente relacionado a um preceito divinal, em razão de seu significado.

Relatos bíblicos, dão conta de alguns personagens de destaque,  fazendo referência no Antigo Testamento a José do Egito, como o décimo primeiro filho de Jacó e Raquel.

No  Novo Testamento cita-seJosé de Nazaré, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus.

Posteriormente, reverenciado pela Igreja Católica como São José, declarado em 1870 pelo  papa Pio IX como o patrono da igreja universal.

E outro José de destaque é José de Arimatéia, um dos discípulos de Jesus.

José ainda ancora o nome de inúmeros santos no catolicismo, via de regra como um agente toponímico, ou seja; fazendo referência ao nome de seus locais de respectivas origens.

As transliterações do nome Yousef em hebraico, ganharam as seguintes formas mais conhecidas:  Giuseppe, em italiano, Joseph, em inglês, Jose em espanhol e José em português.

Sob a égide da interpretação semântica e muito mais sob o ponto de vista das emoções humanas traços gerais do nome José ensejam as seguintes características: uma personalidade firme, uma pessoa que tem "os pés no chão", resiliente, incansável e que precisa se esforçar mais que os outros para conseguir o merecido reconhecimento.

Eis portanto, uma breve amostra do significado, da etimologia e do universo circunstante, que revelam características atinentes aos inúmeros Josés que compartilham de sua existência  mundo afora.

A própria Bíblia, e o Antigo Dicionário de Nomes Próprios, são fontes de pesquisa e apoio que serviram com base para a elaboração deste sucinto texto.

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SALVE O ESCRIBA !!! - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil

*O Escriba era aquele que dominava a arte da  escrita e a usava a mando do regente para redigir as normas do povo daquela região ou de uma determinada religião.*

*Dessa arte de escrever surgiram os Gramáticos, que ao longo da história incumbiram-se de delinear a forma escrita de uma língua,  estabelecer regras gramaticais, criar padrões estéticos vernaculares e desenvolver as funções que as palavras desempenhariam no universo linguístico.*

*Inegável afirmar que o Escriba é o precursor da escrita, cujo valor inestimável se traduz através de inscrições rupestres, pergaminhos, papéis e livros que se tornaram o registro histórico da Civilização dos povos.*

*Nunca é demais lembrar que "escrever" é antes de tudo um ato político, através do qual, podemos viajar por intermédio dos verbos que indicam ação, tempo, estado e ligação.*

*Por sua vez, as frases  constituem a expressão escrita do pensamento.*

*O Escriba munia-se dos substantivos para registrar o nome das coisas.* *Fossem elas concretas ou abstratas.*

*E para  imprimir-lhes qualidades ou características valia-se dos Adjetivos.*

*Para que a escrita ganhasse um significado preciso e consistente os Gramáticos criaram conectivos, preposições, pronomes, vírgulas, adjuntos adnominais, adverbiais e advérbios que foram se conectando para que esse cenário  impusesse uma legitimidade acadêmica a uma língua culta e formal.*

*É fato ainda, que algumas línguas foram dotadas de mais acentos, sinais particulares e de características muito próprias e peculiares, conforme seu próprio alfabeto ou ideogramas.*

*Pontos de interrogação, exclamação, aspas dentre outros tantos sinais gráficos, representariam  as  expressões de sentimentos e emoções que se queriam transmitir.*

*Possam as marcas da escrita continuar sendo o registro mais latente da evolução da humanidade.*

*Afinal de contas, o universo da escrita é o alimento de nossos olhos, reproduzidos a partir do nosso pensamento.*



MENSAGEM AOS APRENDIZES… - Ir. Nuno Raimundo - Loures - Portugal.



No início das Instruções dadas ao Aprendiz Maçom são lhe colocadas algumas questões genéricas que para além de servirem para telhar um Maçom, servem fundamentalmente para lhe suscitar algumas reflexões.

Questiona-se:

“De onde vimos?”

“O que fazemos por lá?”

“O que vimos então aqui fazer?”

“O que trazemos nós, então?!”

A essas perguntas, eu ainda acrescento estas que me parecem ser ainda mais importantes:

“Quem somos? 

Ou o que somos? 

E por que!?”

Estas questões para alguém reconhecido como maçom, e que se considere como sendo um Aprendiz para o resto da sua vida, são a chamada "linha de partida" para o Caminho que pretenderá fazer.

São estas dúvidas que servirão de sustentáculo àquilo que procura. Pois serão essas dúvidas que o motivarão a atingir a meta daquilo a que se propõe a cumprir.

Ritualmente todas elas terão resposta; respostas essas que qualquer Aprendiz Maçom conhece desde a sua Iniciação. Mas, na realidade, estas questões que cito nada mais são do que as premissas para a nossa Caminhada na Vida e no mundo em que vivemos.

Apenas nos questionando e questionando o mundo à nossa volta é que poderemos ir mais longe!

Qual a nossa Origem?

Quais os nossos Deveres?

O que poderemos fazer para evoluir, melhorar?

O que poderemos fazer para sermos úteis aos outros?

Na prática, qual a nossa própria Identidade?

Talvez, as "primeiras" questões que abordei sejam apenas, vistas sob outro "prisma", as mesmas que agora efetuei.

E mesmo dessas "primeiras" questões e/ou até mesmo das "segundas", poderemos encontrar outras que por sua vez nos permitam fazer as reflexões que importam ser feitas.

A este questionamento que aqui faço, por meio destas, aparentemente, simples perguntas, não me atrevo eu a responder. Pois as suas respostas tal como o meio para obtê-las são parte integrante do Caminho.

Aliás o método maçônico é ele mesmo um processo de questionamentos vários, onde inclusive nos autoquestionamos e salientamos o nosso conhecimento ou a sua ausência, isto é, aquilo que desconhecemos.

- A dúvida foi sempre a base de partida para o Homem poder evoluir! -

Eu já encontrei as minhas respostas. Os outros que tentem obter as deles...

Sei quem sou e porque o sou!

Sei de onde vim e o que por lá faço!

Conheço os meus deveres e obrigações!

E ofereço aquilo que posso oferecer sem nada esperar em troca!

Para mim, estas, já não são dúvidas... Apenas certezas!

E, Meus Queridos Irmãos Aprendizes, vocês que ainda há bem pouco tempo chegaram aqui, não podem ainda assumir saber tudo, pois também nunca o ninguém saberá…; mas estas perguntas que citei, estas dúvidas que alguém vos poderá colocar, testando-vos ou apenas formalizando e cumprindo determinadas ritualísticas, estas sim, Meus Queridos Irmãos, estas já tanto vocês as conhecem como desde há algum tempo para cá que as suas respostas as devem praticar, mas principalmente as deverão sentir…

Assim, Meus Queridos Irmãos Aprendizes, espero que quando chegar o momento em que completem o vosso tempo na Coluna do Norte, onde realizam o vosso labor na Oficina de Aprendizes, com o auxílio do malho da vontade e do cinzel da vossa ação, burilando assim as asperezas da vossa pedra bruta, espero eu que as vinte e quatro horas disponíveis na régua do tempo, Vos tenham sido pródigas e auspiciosas, pois o que se esperará no futuro de Vós não será uma demanda fácil, mas também não será uma tarefa hercúlea, pois Vós sois capazes de demonstrar as vossas potencialidades e por isso mesmo conhecemos de antemão o que de Vós esperar.

Neste momento apenas quero felicitar-vos pela vossa jornada até aqui e incentivá-los e motivá-los há irem um pouco mais além.

Serão testados, terão de seguir outros e novos caminhos, ascendendo a patamares que não conhecem por ora, mas que Vos serão muito úteis no vosso futuro e nas vossas demandas…

Para já, não me alongarei mais sobre as vossas tarefas, sobre a vossa busca, sobre o vosso estudo… Deixo isso para mais tarde, para quando nos encontrarmos juntos  outra vez, novamente na “linha de partida”, mas seguindo noutra direção, rumo ao Sul…

E para tal, Meus Queridos Irmãos Aprendizes, apenas Vos solicito novamente o vosso empenho e o vosso silêncio, pois sem um e o outro nada poderão alcançar. Um dar-vos-á a coragem e embalo em prosseguir; o outro, a serenidade para que possam observar e escutar, mas principalmente sentir o que vos rodeia.

Por isso, Meus Queridos Irmãos, digo-Vos: “Até Já!”

março 18, 2022

JUSTO E PERFEITO - Ruy Ramires




“JUSTO E PERFEITO” é uma expressão, encontrada no Livro de Gênesis, onde a história do Dilúvio é retratada, com Deus, arrependido de criar o homem, resolvendo destruí-lo numa proporção imensurável, pois o mesmo passou a trilhar os caminhos da iniquidade, corrompendo sua humanidade, conforme versam o Capitulo 6, versículo 9: “Noé era um homem Justo e Perfeito no meio dos homens de sua geração. Ele andava com Deus” e, em Gênesis, capitulo 7, versículo 1-3, Deus disse a Noé: “Entre na arca...tu e toda tua casa... porque te reconheci justo diante dos meus olhos... entre os de tua geração”_*.

Essa expressão, para a maçonaria, segundo o Ir.'. José Castellani, remonta às organizações medievais de canteiros (trabalhadores em cantaria - o enquadramento da pedra bruta) onde havia muita rivalidade dentre as corporações dos profissionais, que se resultava da sabotagem no trabalho, que consistia em penetrar no terreno do concorrente para fazer um leve desbastamento da pedra já cúbica que, difícil de ser verificada pelo olho humano, se mostrava quando usada na construção.

Assim, no fim do dia de trabalho, por ordem do Máster (o proprietário ou seu preposto), um Warden (zelador, ou vigilante) media a horizontalidade da obra com o nível, enquanto outro aferia sua perpendicularidade com o prumo, e, se tudo estivesse em ordem, comunicavam ao Master, “Tudo está Justo e Perfeito”.

Na manhã do dia seguinte a operação era repetida para prevenir eventuais sabotagens noturnas, pois a estabilidade das construções dependia da forma cúbica das pedras. Com tudo “JUSTO E PERFEITO” os trabalhos eram iniciados.

A expressão “Está Tudo Justo e Perfeito” é utilizada como cumprimento e reconhecimento entre os Maçons. Porém, de fato, tudo está Justo e Perfeito, tendo em vista as queixas de IIr∴ de que nada vai bem hoje na Maçonaria? Tudo está JUSTO e PERFEITO com a Maçonaria atual, que permanece como a de ontem, crendo que sua Filosofia é eterna, assim como seus ensinamentos? A Maçonaria está ciente de que nada mudou, pois as inconformidades estão nas atitudes de alguns IIr∴ que não assimilam seus ensinamentos, deixando de incorporá-los nos seus “Templos Interiores”, ou seja, não praticam as virtudes juradas, vilipendiando-as muitas vezes ao se mostrarem vaidosos, antiéticos e hipócritas, deixando de se renunciar ao TER para acreditar no SER.

Os Maçons que corrompem a cubicidade de suas próprias pedras não levam consigo para o mundo profano os preceitos e ensinamentos da Sublime ARTE REAL. Muito pelo contrário, trazem do mundo profano imperfeições que semeiam a desarmonia na Loja, fomentando a desagregação entre os IIr∴ e o desequilíbrio dos trabalhos que têm como principal objetivo a assunção do cumprimento de seus juramentos, prestados em suas iniciações, para o engrandecimento do próprio ser em si.

Enquanto a pedra d’outrora era física, a atual representa o próprio ser em si, que é moldado numa cubicidade cujos lados representam a Personalidade e o Eu. Três deles a Personalidade (Caráter, Determinação e Virtude) e os outros três o Eu (Crença, Fé e Espiritualidade).

A união das pedras cúbicas, representativas dos Maçons, se perfaz numa pedra cúbica que envolve e influencia toda a sociedade. Portanto cabe a cada Maçom o desafio do labor que impede a geração de imperfeições em sua própria pedra, sujeita às intempéries e divergências naturais da sociedade.

Portanto a ele cabe a responsabilidade de colocar em prática, no mundo profano, a doutrina e os ensinamentos Maçônicos, transformando-o, com muito trabalho e ação, num sistema harmônico baseado numa “Filosofia de Vida”.

O Grande Maçom Ir∴ Albert Pike nos deixa uma lição. Assim ele discorre: “É surpreendente ver como os homens falam das virtudes e da honra e não pautam suas vidas nem por uma nem outra. A boca exprime o que o coração devia ter em abundância, que quase sempre é o inverso do que o homem pratica”.

A principal obra de uma Loja Maçônica está na constituição da união de todas as pedras cúbicas lavradas e lapidadas com ardor, perseverança e vontade de cada um de seus integrantes, por isso ela deve ser aferida diariamente afim de cada Ir∴ se certificar de que não será a sua pedra a corruptora da imagem emanada de sua Loja para a sociedade que a cerca.

POR QUE MASMORRAS E NÃO GUILHOTINAS? - Leonardo Moreira M.'.M.'.



Quando entramos para a Maçonaria é comum sermos questionados sobre o que fazemos nas Lojas. 

Aprendemos sobre isso nos rituais: Levantamos templos à virtude e cavamos masmorras ao vício. 

Assim como tudo que se encontra na Maçonaria, essa expressão também é rica de significados, por mais simples que possa parecer, e se conecta harmonicamente ao sistema de símbolos que ilustram nossos trabalhos.

A começar pela Iniciação: nos é revelado o conceito de vício e virtude. 

O primeiro, em especial, entende-se ser “um hábito desgraçado”.

Segundo dicionário online de português, o significado de hábito é:

_Mania; ação que se repete com frequência e regularidade; comportamento que alguém aprende e repete frequentemente; Costume; maneira de se comportar; modo regular e usual de ser, de sentir ou de realizar algo; Prática repetida que se torna conhecimento ou experiência.

Ora…se temos um hábito ou costume de fazermos ou nos comportarmos de forma que nos prejudique ou prejudique a outrem, a curto ou longo prazo, entende-se ser um hábito ruim, um hábito desgraçado, um vício.

O exercício de olhar para si mesmo não é natural. 

Nossos olhos só têm acesso a nós mesmos quando olhamos no espelho.

Nossos ouvidos não escutam nossa voz da mesma forma como ela é proferida.

Os nossos sentidos nos proporcionam o reconhecimento do mundo à nossa volta, e não do nosso interior.

Fisiologicamente somos constituídos para interagir com o externo; para trabalhar o interno é necessário um “aprendizado”.

E qual é a grande missão do Aprendiz? 

É conhecer a si mesmo.

É saber (ou reconhecer) seus defeitos, suas forças, seus medos, seu potencial; para que essa consciência lhe sirva de base para tomar uma atitude (a Vontade é um atributo indispensável ao Maçom) quando se fizer reconhecer um “hábito desgraçado”, para contê-lo, ou mesmo uma virtude que possa ser explorada.

Desbastar a Pedra Bruta é fazer esse exercício. 

Exige um trabalho de introspecção para identificar o gatilho destes hábitos. 

E quando descobrimos o que os dispara, podemos decidir o que fazer: seguir no hábito ou contê-lo.

E esta é a chave para o entendimento da expressão “Masmorras”.

Desenvolver vícios é um atributo inerente à nossa constituição humana e material.

Não é possível extingui-los, mas sim, contê-los, trancá-los nas masmorras do nosso mais profundo íntimo, para que não atuem em nossos comportamentos ou interfiram em nosso Ser.

Desbastar a Pedra Bruta é começar o caminho da espiritualização.

Bom dia meus irmãos.