março 24, 2022

COBERTURA DO TEMPLO DURANTE A SABATINA. ISSO EXISTE? - Pedro Juk



Em 01/09/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Gass, Loja Tríplice Aliança. 3.277, REAA, GOB-PR, Oriente de Toledo, Estado do Paraná, apresenta a consulta seguinte:

SABATINA - TEMPLO COBERTO AOS APRENDIZES E COMPANHEIROS

Surgiram alguns questionamentos em nossa Loja, sobre o Templo ser Cobertos aos Aprendizes e Companheiros que não participam da Sabatina para mudança de Grau. Alguns Irmãos, dizem que a presença deles nas Sabatinas, trarão mais conhecimentos e informações, e servirá como um aprendizado. É de costume em nossa Loja a retirada dos Irmãos Aprendizes e Companheiros que não serão sabatinados. Não encontrei nos Consultórios, informações a esse respeito. Gostaria de saber a posição do Irmão sobre o assunto.

CONSIDERAÇÕES:

Se a sessão for realizada num determinado grau, por óbvio que todos aqueles que têm grau suficiente para aquela sessão podem participar da mesma.

Esse costume anacrônico de se querer cobrir o Templo a Irmãos de um mesmo grau por conta de sabatina em que eles não serão ainda submetidos é atitude equivocada e não deve ser praticada. Essa prática não faz qualquer sentido, pois a Maçonaria não priva nenhum obreiro regular, do mesmo grau, de assistir instruções e exames inerentes ao seu aprendizado.

 Além do mais, é como se menciona na própria questão acima: é uma excelente oportunidade para se agregar mais conhecimento.

Ora, se esse costume procedesse, então, obrigatoriamente, seriam também filtradas instruções, bibliografias e outros afins de aperfeiçoamento conforme o tempo de atividade de um obreiro no se grau, entretanto isso não acontece, e sob nenhuma hipótese, tem embasamento legal.

Assim, compreenda-se que só existe “cobertura” nessas ocasiões (de instrução e sabatina) àqueles que porventura não possuam grau suficiente. Ao contrário disso é puro excesso de preciosismo haurido da ilegalidade de se privar um Irmão de participar dos trabalhos que ele tem direito de estar presente.

Coberturas a Irmãos nessas ocasiões só existem quando da avaliação do exame na sequência dos trabalhos. Nesse caso, a Loja será transformada noutro grau, por conseguinte todos (os examinados e os assistentes) que dela não puderem participar por falta de grau suficiente, terão para si então o Templo temporariamente coberto.

O ORADOR - Rui Bandeira



Nos Ritos de York e de Emulação existe um ofício, designado por Capelão, cuja função é dirigir a Loja na invocação do Grande Arquiteto do Universo, em oração coletiva que realça a espiritualidade da Maçonaria e reforça os laços entre os seus membros. 

No Rito Escocês Antigo e Aceito, o ofício de Orador é aquele cujo titular pode exercer a mesma função, mas que vai muito mais para além dela. O Orador não se limita à invocação do Grande Arquiteto do Universo. Aliás, em bom rigor, nem sequer é esse o principal escopo deste ofício. O Orador é o oficial da Loja encarregado de tirar as conclusões de qualquer debate. A discussão de qualquer assunto é levada a cabo segundo regras destinadas a permitir um debate sério, sereno e esclarecedor, em que cada um expõe a sua ideia e os motivos dela, mais do que rebater as ideias expressas pelos demais. Em reunião de Loja, procura-se que todos os membros se expressem pela positiva, isto é, afirmem as suas ideias, não pela negativa, limitando-se a criticar as opções dos demais. A forma como decorre o debate numa Loja maçónica já a mencionei no texto Decidir em Loja. E já aí referi que "No final, um oficial da Loja, o Orador, extrai as conclusões do debate, isto é, resumem as posições expostas, os argumentos apresentados, podendo ou não opinar sobre se existiu consenso ou sobre a decisão que aconselha seja tomada.

A função do Orador, porém, vai muito mais longe do que a sua intervenção para tirar as conclusões do debate. O Orador é, no clássico esquema da separação de poderes que Montesquieu nos legou, o representante do Poder Judicial na Loja. É ele que deve especialmente zelar e velar pelo estrito cumprimento dos Landmarks, usos e costumes maçónicos e pelo cumprimento das normas regulamentares, seja emanada da Grande Loja, seja da Loja. É a ele que cabe advertir os demais quando se lhe afigure que quaisquer destas normas estão a ser descumpridas ou em vias disso, em ordem a prevenir a indesejada violação. É a ele que, havendo infração suficientemente grave para justificar punição, cabe instruir o respectivo processo. É o Orador o único Oficial da Loja que tem a prerrogativa de poder interromper o Venerável Mestre, que à sua opinião se deve submeter, quando emitida em relação à aplicação ou interpretação de normas maçônicas.

O Orador da Loja zela e vela, em resumo, pela Regularidade da prática maçónica da Loja e de todos os seus obreiros. É, por isso, um ofício particularmente importante, que deve ser exercido por um maçon experiente, se possível um antigo Venerável Mestre. Mas, reconhecendo-se embora a importância deste ofício, deve-se ter presente que o seu titular não deve interferir na gestão da Loja. Tal compete especificamente às Luzes da Loja e, em particular, ao seu Venerável Mestre. Daí o paralelo que acima efetuei com a doutrina da separação de poderes. Daí a conveniência de o ofício ser exercido por mão e mente experientes. Ao Orador cabe prevenir infrações e excessos de poder. Deve, por isso, saber reconhecer perfeitamente os limites da sua própria função, sem, no entanto, deixar de exercê-la. Como em tudo o mais em Maçonaria, equilíbrio é a palavra chave...

março 23, 2022

A CONDUTA ÉTICA DO MAÇOM NA MAÇONARIA E NO MUNDO PROFANO - Ir. Josias do Santos


Penso ser importante na gênese deste trabalho apresentar ainda de que forma muito simplificada e limitada por certo aos meus escassos conhecimentos filosóficos um conceito acadêmico de ética.

O termo ética deriva do grego ethos que tinha o sentido de definir o caráter, o modo de ser de uma pessoa e a sua conduta em relação aos seus pares.

Ética seria, portanto, um conjunto de valores morais e de princípios que norteiam a conduta do individuo na sociedade. Uma boa conduta ética individual serve para que haja equilíbrio e um bom funcionamento social, possibilitando que ninguém seja privilegiado na sociedade.

Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, por que não representam um conjunto de normas sistematizadas e porque a sua não observância não implica em sansão, está relacionada sim com o sentimento de justiça social.

A ética se forma dentro do individuo e da sociedade com base nos valores históricos e culturais de determinado grupamento humano, pela visão filosófica a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Importante destacar que cada sociedade ou grupo possuem seus próprios códigos de ética.

A ética diferencia-se da moral na medida em que esta última se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos pelos indivíduos, a ética, por outro lado busca fundamentar o bom modo de viver, uma conduta correta sempre através da evolução do pensamento humano, depende, portanto da capacidade de cada individuo em assimilar estes conceitos e estar disposto a aplicá-los no seu dia a dia.

Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana, sendo a moral a qualidade desta conduta, quando analisada do ponto de vista daquilo que chamamos de bem e mal.

A fim de melhor compreender este conceito podemos dividir a ética em:

Metaética que se constitui na capacidade de se determinar se os valores de uma sociedade são bons ou maus, seria uma visão de segunda ordem eis que analisa teoricamente a valoração das condutas sociais, é uma analise filosófica da ética, uma analise do ponto de vista externo, busca determinar o status dos valores na estrutura de um determinado agrupamento social.

Ética normativa que estabelece concepções e princípios morais considera que uma ação é positiva quando leva o maior numero de pessoas possíveis a felicidade. Nesta linha as instituições, por exemplo, seriam justas quando suas normas sociais levassem o conjunto da sociedade à felicidade.

Ética aplicada constitui-se na aplicação de conceitos éticos as mais diversas áreas profissionais, como a advocacia e medicina, determinando através dos seus estatutos as condutas consideradas antiéticas por aquele determinado grupamento de profissionais que pode também prever a aplicação de sansões aos profissionais que mantenham uma conduta não ética.

Na área médica se poderia questionar se eventual decisão de transplantar este ou aquele paciente, poderia ser feita com base na aplicação de conceitos éticos.

Ética sociológica ou descritiva se presta a determinar que valores se sustentem em um determinado agrupamento social, baseia-se mais nas questões sociológicas, como por exemplo, determinar se o aborto é ou não aceitável, alguém que não segue a ética da sociedade a qual pertence é considerado de antiético, assim como o ato por ele praticado.

Atualmente vivemos uma crise ética sem precedentes que atinge a sociedade em todos os seus níveis, culturais e econômicos, neste sentido cabe lembrar Platão que defendia que sociedade ideal seria a dirigida por Guardiões sobre os quais pesariam tal grau de regras e responsabilidades que a escolha para ocupar estes cargos deixaria de ser um privilégio para tornar-se um sacrifício, só concebível para aqueles que conseguissem realmente compreender que a conduta correta exige perfeita identidade entre o bem comum e a satisfação pessoal, nesta linha podemos afirmar que uma conduta deixa de ser ética quando coloca a satisfação pessoal acima do bem comum.

Na utopia da sociedade perfeita preconizada por Platão os governantes seriam escolhidos unicamente por seus méritos, praticariam a harmonia completa do verdadeiro sentimento ético, sacrificando a si próprios em detrimento do bem comum, sem outra recompensa que não a gratidão de seus semelhantes.

Deveriam ser homens de vontade férrea que não teriam famílias nem posses e viveriam numa fraternidade na qual não existiria espaço para a hipocrisia ou a vaidade.

Já naqueles tempos também Sócrates identificou a pouca preparação intelectual dos dirigentes, destacando sempre que era incompreensível que para as tarefas mais triviais se exigisse preparação, mas que aos governantes bastava ser capazes de conduzir pela demagogia ou pela compra de votos à massa das populações, tal qual ocorre em nossos dias em que para se assumir um cargo de nível médio no setor público se exige aprovação em concursos concorridíssimos e para assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados não se exige sequer que o candidato saiba interpretar um texto.

Interessante considerar que a ética não deve ser confundida com a lei, muito embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos.  Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas, por outro lado, a lei com grande freqüência pode ser omissa quanto a questões relacionadas à ética.

Ou seja, em muitas situações uma conduta antiética pode ser legal, fato comum em nosso tempo em que políticos recebem, com base nas leis, duas ou até três aposentadorias enquanto o homem comum quando muito recebe uma, podemos dizer que esta conduta não é ética porque privilegia o interesse particular em detrimento do bem comum, já que é o conjunto da sociedade que subsidia as aposentadorias dos marajás através do pagamento de impostos que deveriam ser destinados a beneficiar o conjunto da coletividade e não a uma casta dominante.

Então temos meus Irmãos que se poderia afirmar que a essência da ética se fundamente na dualidade entre o bem comum e o bem individual, sendo que o comportamento ético é aquele que é considerado bom, devemos nos perguntar a todo o momento como devemos agir perante os outros, esta pergunta por certo é de alta indagação e de difícil resposta tanto para um profano quanto para um Maçom.

Sendo, portanto exigível do homem comum no seu dia a dia uma conduta ética, muito mais se exige do Maçom, eis que este se propõe a ser um homem livre e de bons costumes, deve o Maçom ser um exemplo de cidadão e buscar o aperfeiçoamento constante no que diz respeito ao seu caráter.

Evidentemente que manter uma conduta ética irretocável a exemplo do que pregava Platão com os seus guardiões implica e grande sacrifício e constante questionamento, o fato de que a ética não está em regra geral vinculada às questões legais nos coloca em situações diárias em que temos que decidir entre adotar uma conduta ética ou simplesmente observar o que é legal.

O manto da legalidade pode em muitos casos servir como justificativa para uma conduta antiética, como ser criticado se aquilo que se fez é permitido pela legislação do grupo social em que vivemos, essa crítica tem que ser interna e depende por óbvio do nível de desenvolvimento do individuo e da sua capacidade de entender que o bem comum está acima dos seus interesses pessoais.

Eugênio Bucci, em seu livro Sobre Ética e Imprensa, descreve a ética como um saber escolher entre "o bem" e “o mal", levando em conta o interesse da maioria da sociedade. Ao contrário da moral, que delimita o que é bom e o que é ruim no comportamento dos indivíduos para uma convivência civilizada, a ética é o indicativo do que é mais justo ou menos injusto diante de possíveis escolhas que afetam terceiros.

Entendo que a conduta ética deve estar muito mais ligada a nós como indivíduo do que propriamente a nossa condição de ser ou não Maçom, talvez por isso se diga que em geral o Maçom já era Maçom antes de ser iniciado, não se inicia alguém que não possua uma conduta ética correta.

Evidentemente que a nossa conduta em relação à sociedade tem muito da educação que recebemos da nossa família, assim como da nossa formação religiosa e das academias por nós frequentadas, tudo aquilo que ao longo da nossa formação conseguimos absorver do ponto de vista do conhecimento e da capacidade em desenvolver o nosso pensamento e a nossa visão de mundo se reflete na pessoa que somos e por consequência em nossa conduta social.

A Maçonaria por certo contribui para este desenvolvimento na medida em que nos proporciona um ambiente onde podemos discutir estas matérias de alta indagação, a busca do aperfeiçoamento humano talvez seja o principal legado da Maçonaria sendo os Maçons elementos de divulgação destas qualidades tendo em vista que transferem para a sua vida profana os ensinamentos absorvidos na fraternidade.

A prática de fazer o bem aos Irmãos e a Maçonaria em geral é dever de todo o Maçom dele não se espera outra conduta que a não do respeito às diferenças e a busca constante em identificar nos Irmãos e em nossa fraternidade aquilo que de melhor tem a nos oferecer, procurando sempre destacar as qualidades e entender e perdoar os eventuais defeitos, as críticas devem sempre ser construtivas e dentro do possível ser dirigidas as condutas praticadas e não aos indivíduos.

A arrogância, a soberba, o desrespeito as idéias dos Irmãos por certo não podem ser consideradas como uma conduta Maçônica em Loja devemos sempre ouvir mais do que falar e pensar muito antes de falar, pois uma palavra dita jogada ao vento não pode ser corrigida.

Concluindo meus Irmãos podemos dizer então que uma conduta ética, seja na maçonaria, seja na vida profana está intimamente ligada com a nossa capacidade de saber identificar o bem e o mal e de optar pela prática do bem ainda que isso implique em determinado sacrifício, sendo sempre o bem comum o objetivo principal daquele que se julga ético e mais ainda daquele que se julga um bom Maçom.

ÉTICA E VIRTUDE - Valdemar Sansão


O homem deve submeter-se a uma moral que lhe diga o que deve e o que pode fazer, e o que não deve e não pode fazer.

Ética é o estudo filosófico de natureza e dos fundamentos do pensamento e das ações morais. 

As teorias éticas, no sentido puro do termo, são marcadamente diferentes dos sistemas ou doutrinas morais, que têm por objetivo a elaboração de conjuntos específicos de regras de conduta que orientem a vida (por exemplo, a moral cristã facilita a possibilidade de retribuir à sociedade em bens os males que praticou). 

Também se distingue pela prática aplicada, que analisa os argumentos empregados para embasar determinadas premissas ou conclusões morais (por exemplo, a condenação ou aceitação do aborto).

A Maçonaria é uma sociedade onde os homens devem viver como Irmãos, respeitando, cada um, os direitos dos outros e se compenetrando que toda a humanidade é filha de Deus, que cada ser humano é tão caro ao Pai como todos os outros, procura levar estes conceitos para a sociedade em geral. 

Isso leva à conclusão de que, na organização designada, genericamente, como Maçonaria, ou Franco-Maçonaria, deve prevalecer a harmonia e reinar a união ou convivência como de Irmãos.

A Maçonaria, como Fraternidade, deve ser uma Instituição fundamentalmente ética. Sendo até, pela sua definição, uma organização ética, de rígidos códigos de moral e alto o sistema de valores que orientam a conduta dos Maçons, e a quantos queiram ter um comportamento ético-maçônico:

- Reconhecer como Irmão todo Maçom e prestar-lhe, em quaisquer circunstâncias, a proteção e a ajuda de que necessitar; principalmente contra as injustiças de que for alvo; 

- Haver-se sempre com probidade, praticando o Bem, a Tolerância e a solidariedade humana;

- Não são permitidas polêmicas de caráter pessoal nem ataques prejudiciais à reputação de Irmãos, nem se admite o anonimato.

- Sobretudo, a mais importante regra ética do Maçom é a prática do Bem. 

É a prática efetiva da Virtude. 

A Virtude é o hábito de praticar o Bem.

O comportamento ético-maçônico deve constituir o nosso modo de ser e de agir em todas as circunstâncias éticas da vida. 

Ao Maçom compete manter uma conduta ética no cotidiano, e que estabeleça com o seu semelhante e a sociedade ainda que em detrimento de seu interesse pessoal. 

Para isso deve consultar sempre sua consciência, onde está escrita a lei de Deus.

Aristóteles (384-322 a.C.) não separava a ética da virtude. 

Todos os atos virtuosos são éticos e bons. 

Pelos atos que pratica pode-se conhecer se uma pessoa é virtuosa ou não. Pelo modo de se portar, logo ficamos sabendo se um irmão é ou não, um bom Maçom.

Kant, faz do conceito de dever o ponto central da moralidade (chamada “deontologia”, ou seja, o estudo dos princípios, fundamentos e sistemas de moral). 

Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em si mesma (e não apenas boa como meio ou instrumento) é a “boa vontade” ou boa intenção, aquela que se põe livremente de acordo com o dever.

Existe, para todos os homens, uma força inspiradora absoluta, universal que se chama DEVER – a obrigação moral que cada um de nós tem, de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. 

Para o Maçom, como homem honesto, é simples e fácil; requer honestidade, sinceridade, simplicidade, lealdade, estudo e a disposição de ensinar, o que é capaz de fazer, bastando a compreensão de nós mesmos como limitados e ignorantes. 

Quando temos a força e a sabedoria de Deus, cumprimos nosso dever recebendo d’Ele aquilo que é necessário e está acima de nossas forças.

O conhecimento de dever, segundo Kant, é consequência da percepção, pelo sujeito, de que ele é um ser racional e que portanto está obrigado a obedecer ao que Kant chamou “imperativo categórico”: a necessidade de se respeitar todos os seres racionais na qualidade de “fins em si mesmos”. 

As ideias de Kant acerca da moralidade estão estreitamente ligadas à sua visão do livre arbítrio. 

O homem possui o livre arbítrio, podendo escolher o seu destino – O Bem ou o mal. 

Os atos morais são livres, podem ser escolhidos. 

Assim sendo, quem os pratica, é responsável por seus efeitos. 

A responsabilidade é moral, quando o individuo responde por seus atos perante a sua própria consciência, e social, quando responde por eles perante a sociedade que o julgará pelas leis que regem o grupo, levando-o a formular e praticar uma nova filosofia de vida, uma nova conduta ética.

O terceiro sistema dentro da ética é o utilitarismo – sistema ou modo de agir do individuo utilitário que conhece seus deveres, desfruta do gosto de fazer o Bem, conhece o atrativo da Pura Virtude, segundo o qual o objetivo da moral é o de proporcionar “o máximo de felicidade ao maior número de pessoas”. 

Pensado verdade, uma mentira não acha sitio em sua mente; pensado amor, o ódio não poderá turbá-lo; pensado sabedoria, a ignorância não poderá paralisá-lo. 

O homem que aprende esta lição prática, encontrará pronto seu valor e descobrirá que, pelo reto pensar, a vida pode fazer-se mais nobre, bela e ditosa.

ÉTICA MAÇÔNICA 

O conceito maçônico de Ética se confunde com o de Moral. 

Sendo a moral em resumo a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o Bem do mal, fundamenta-se na observância da lei Divina. 

O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos.

Depende da vontade de cada um praticar a Virtude, isto é, qualidade própria do homem, o que implica força, coragem. 

As virtudes seriam, portanto, as “forças que ornam o caráter”. 

Para a Maçonaria, a Virtude é a disposição habitual para o bem e para o que é justo e, por isso, nela vê a prova da perfeição e o próprio ideal do Maçom. 

Ela nos ensina, em seus Rituais, que devemos erigir templos à Virtude e cavar masmorras ao vício.

Entenda-se o Bem (Virtude) tudo o que e conforme a lei de Deus; o mal (vício), tudo o que lhe é contrário. 

Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. 

Fazer o mal é infringi-la. 

Daí vê-se a importância que a Maçonaria dá a essa questão.

A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal em favor do próximo, sem pensamento oculto.

Na fase histórica que vivemos, a sociedade graças ao rompimento de sua estrutura familiar e o avanço avassalador da imoralidade, enfrenta uma das maiores crises éticas, quando a vida humana sofre enorme violência, quando crescem a miséria e a exclusão social e quando aumenta a desilusão diante das promessas de bem-estar econômico, quando a solidariedade é moeda em baixa; o respeito às demais pessoas é praticamente inexistente; o acatamento da lei e da ordem vai escorrendo pelo ralo; a deslealdade no sentido de auferir vantagens, vai de vento em popa, quem está por cima pisa na cara de quem está por baixo e quem está por baixo tenta puxar quem está por cima.

A Maçonaria conclama os Maçons a enfrentar com coragem os desafios cotidianos, a não esmorecer no empenho da justiça social, reconhecendo em cada pessoa a dignidade de filho de Deus.

Devemos combater o erro, ser tolerantes, mas nunca coniventes, fingindo não ver ou encobrindo o mal praticado por outrem.

Os Maçons devem dar exemplos de moral, de ética e de virtudes. 

Afinal nossa Sublime Instituição afirma ser: – educativa, filantrópica e filosófica que tem por objetivo os aperfeiçoamentos morais, sociais e intelectuais do Homem por meio do culto inflexível do Dever, da prática desinteressada da Beneficência e da investigação constante da Verdade. 

Afinal, reconhece-se o verdadeiro Maçom pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.


março 22, 2022

A ÁGUA CHORA ! - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico


A maltratada Terra implora

Grande e urgente união

Unificando forças agora,

Ao combate à devastação


Ao ar, à fauna, à flora,

Grave ofensa e  degradação

Um  desrespeito  que aflora

Ao SENHOR, pela população 


Assim também a ÁGUA chora 

Gritando  por preservação

Um gesto de amor, sem demora,

Antes de sua aniquilação !


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SER e TER - Rui Bandeira



O episódio de Diógenes e Alexandre é conhecido. Relembremo-lo.

Diógenes, filósofo grego que chegou a ser professor de Alexandre da Macedónia, questionando os costumes do seu tempo e a necessidade da posse de bens materiais, a certa altura começou a levar uma vida totalmente desprendida, ao ponto de morar dentro de um barril e ter como seu único bem pessoal uma vasilha com água. Mesmo essa, acabou por a deitar fora, depois de se aperceber que lhe bastava juntar as duas mãos e recolher a água de qualquer nascente ou curso de água, para a beber ou se lavar.

Quando Alexandre invadiu a Grécia, fez questão de visitar o seu antigo professor. Encontrou-o sentado ao sol, entregue aos seus pensamentos. Disse-lhe:

- Diógenes, como sabe conquistei a Grécia, que agora faz parte do meu Império. Como foi meu professor e sempre o admirei, quero recompensá-lo. Que deseja?

Diógenes manteve o silêncio, meditando. Alexandre e todos os que o acompanhavam aguardavam, expectantes e curiosos, a resposta que o filósofo daria, o pedido que faria.

Então Diógenes respondeu ao poderoso Alexandre:

A única coisa que neste momento me faz falta, aquilo que te peço, Alexandre, é que saias da frente do Sol, pois a tua sombra impede que os seus raios me aqueçam!

Alexandre, magnífico Imperador, grande conquistador, líder de numeroso e forte exército era, na época, o homem que praticamente tudo tinha, quase tudo podia. Era o homem mais rico, mais poderoso, mais temido, que de mais podia pôr e dispor naquele tempo e naquelas paragens. Tinha.

Diógenes nada tinha de seu, exceto o barril onde se acolhia e o que a Natureza lhe proporcionava. Mas era sabedor e respeitado e vivia sereno e feliz. Não pelo que tinha. Pelo que era.

A frugalidade de Diógenes era exagerada. Mas correspondia às suas necessidades. E ele nada mais queria do que isso. Para ele, o importante era o que ele era, não o que ele tinha. Para ele, os outros - todos, até o rico e poderoso Alexandre - valiam pelo que efetivamente eram, não pelo que tinham. No momento em que respondeu a Alexandre, para ele, Diógenes, o Imperador era apenas alguém que lhe tapava o Sol. Nada mais, pese embora toda a sua riqueza e todo o seu poder.

Nos dias de hoje, quantas vezes nós, embrenhados no afã de nossas vidas ocupadas, não discernimos, nem sequer nisso pensamos, se o que já temos não será suficiente para a nossa vida. E continuamos preocupados em TER. Ter isto, comprar aquilo, obter aquele outro bem.

E, se não tivermos cuidado, o tempo passa e, um dia, damo-nos conta de que nos esfalfámos a trabalhar, nos esgotámos de esforço, para ter uma coisa e logo outra e seguidamente uma outra, numa infindável sucessão, e, entretanto, nos esquecemos do essencial, do que realmente é importante: de viver e de sermos felizes!

E, se bem virmos, para sermos felizes, não precisamos de tanto TER. Podemos e devemos dar-nos conta que o mais importante na vida é SER. Ser, simplesmente ser, objetivo tão simples e, se calhar por isso, tão esquecido, mas que tantas vezes nem sequer é difícil de atingir, de realizar.

Deixemos de buscar TER. Preocupemo-nos em SER. Ser feliz. Ser amado. Ser... gente!

Quem o fizer, não demorará muito a perceber que, afinal, quando se É é-se muito mais feliz do que quando apenas se TEM.

E, no entanto, muitas vezes o TER, tem-se logo, enquanto porventura se leva uma vida inteira para se conseguir SER. Mas, enquanto que o que temos pode ser perdido súbita e inesperadamente - um acidente, uma catástrofe, um azar, uma má decisão, tudo isso e muito mais pode levar-nos o que temos -, o que somos nunca se acaba nem se perde!

O SER, uma vez conseguido, é perene. O TER é passageiro - e, mesmo que dure muito, não nos traz necessariamente felicidade.

Tentemos, pois, SER e preocupar-nos menos com o TER. Se calhar, assim descobrimos que o caminho para se ser feliz é muito mais curto e acessível do que julgávamos!


A FORMA DA LOJA - Kennyo Ismail



O Ir, Kennyo Ismail é professor universitário, editor, escritor, uma dos mais importantes intelectuais da maçonaria no país.

Os rituais antigos registram que a forma da Loja é a de um “quadrado oblongo”. Talvez você esteja pensando: “Como é possível um quadrado ser oblongo? Aí não seria quadrado, e sim retângulo! Esse termo está errado!”

Se você pensou algo parecido, saiba que muitos ritualistas ao longo dos últimos séculos pensaram como você. Esses ritualistas também acharam o termo de certa forma contraditório e foram substituindo-o ao longo do tempo. Hoje, vê-se “quadrilongo” e até a aberração “retângulo alongado”! Ora, se é retângulo, então já é alongado, não é mesmo?

A verdade é que o quadrado oblongo, o quadrilongo e o retângulo são apenas nomes diferentes para a mesma figura geométrica. Nenhum deles está errado, nem mesmo o “quadrado oblongo”, o mais antigo deles. Entenda o porquê:

Procure na bíblia a palavra “retângulo”. Aliás, não procure porque você não encontrará. Isso não significa que não há objetos e construções retangulares descritos na bíblia. Simplesmente, o termo não existia.

Para que se entenda melhor a questão, deve-se compreender o verdadeiro significado da palavra “quadrado”. Quadrado vem do “quadratus”, que é o particípio passado do verbo em latim “quadrare”, que significa “esquadrar”. Assim sendo, quadrado, no sentido original, era toda forma geométrica de quatro lados formada por ângulos retos. Quando os quatro lados eram do mesmo tamanho, o quadrado era “quadrado perfeito”, e quando dois lados paralelos eram maiores que os outros dois, era “quadrado oblongo”. A palavra retângulo veio surgir muito tempo depois.

Mas quais as medidas corretas?

“Sem simetria e proporção não pode haver princípios na concepção de qualquer templo.”

Vitrúvio

O quadrado oblongo, como todo retângulo, pode ter qualquer tamanho, desde que dois lados paralelos sejam maiores do que os outros dois. Um templo maçônico, tendo a forma de um quadrado oblongo, também pode ter qualquer tamanho, conforme o espaço físico, interesse e recursos financeiros permitem. Mas a questão que interessa aos maçons é se há uma proporção correta a ser respeitada, como bem sinalizou Vitrúvio, autor das primeiras obras que detalham as Ordens de Arquitetura, tão importantes para a Maçonaria.

Nesse sentido, existem duas teorias:

A primeira é de que a proporção é de 1×2, ou seja, as paredes do Norte e do Sul devem ter o dobro do comprimento das paredes do Oriente e Ocidente. Essa teoria se sustenta na proporção conhecida como “ad quadratum”, de origem romana e que foi muito usada na construção de igrejas góticas.

A segunda teoria, e mais aceita, é da Proporção Áurea, que é de aproximadamente 1×1,618. Essa famosa proporção, também conhecida como Proporção de Ouro e Divina Proporção, foi utilizada na concepção do Parthenon e adotada por artistas como Giotto. Também está presente na natureza, como em algumas partes do corpo humano e nas colméias, além de vários outros exemplos envolvendo o crescimento biológico, o que torna tal proporção ainda mais intrigante. Pitágoras, figura extremamente importante na Maçonaria, registrou a presença da Proporção Áurea no Pentagrama, tornando esse o símbolo de sua Escola. O próprio Vitrúvio era fã devoto da proporção. O retângulo feito com base na Proporção Áurea é chamado de “Retângulo de Ouro”. Para se ter uma ideia de sua influência e aplicação até nos dias de hoje, os cartões de crédito convencionais respeitam a Proporção Áurea.

Desvendado o “mistério do quadrado oblongo”, é importante observar que a Maçonaria apenas declara que o templo tem tal formato, sem explicitar qual seria a proporção adequada. Mas se você é adepto de uma das proporções e não encontrá-la no templo de sua Loja, não se preocupe. Afinal de contas, não se fazem mais templos como antigamente

março 21, 2022

VOLTEMOS A LOJA - Adilson Zotovici


Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico


Melancólico o cenário

Nesse retorno ao canteiro

Quão diminuto o plenário

Reduto do livre pedreiro


Regresso inda que precário

Quanto ao progresso costumeiro,

Mas, virtual, é subsidiário

E presencial é pioneiro


A Oficina é um relicário

Arguta escola do roteiro

Que ensina o desbaste primário

Da pedra bruta ao luzeiro


Mui expresso o corolário

Que o processo é vanguardeiro

“Vontade” o insumo sumário

“Compromisso” o rumo certeiro


Há o ausente, que em comentário,

De desculpas é vezeiro

Temente ao feito sanitário

Mas, à festas...é o primeiro


Desde recipiendário

O empenho induz o obreiro

A fazer jus ao salário

Por desempenho verdadeiro !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif-169

ILUMINAÇÃO E EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO - Charles Evaldo Boller



A maior dádiva que se obtém na Maçonaria é o desenvolvimento da capacidade de pensar para além dos limites que alguém impôs a si mesmo por condicionamento no cativeiro debaixo do sistema econômico mundial.

Ser capaz de pensar por si é o maior estágio de liberdade alcançável de forma consciente.

A capacidade de criar ideias novas, libertadoras, é desenvolvida em diálogos, debates e meditação. Na interação com o pensamento de outras pessoas absorvem-se novas idéias, e estas somadas com aquelas já existentes na memória, pela ação da meditação ou intuição transformam-se em pensamentos inéditos, totalmente diferentes dos pensamentos que lhe deram origem. Assim ocorre desde que o homem passou a usar do pensamento para interagir com o ambiente. Foi o que o diferenciou das outras unidades viventes deste imenso organismo vivo que é a biosfera terrestre.

É no pensamento que se materializa a liberdade absoluta, local que a nenhum déspota jamais foi dado saber o que o outro pensa.

Todo aquele que se submete ao pensamento de outros, por preguiça de pensar, é escravo; um homem domina o outro através da força do pensamento, da capacidade de realização do pensamento.

Todo desenvolvimento humano surgiu primeiro na mente.

Pensamento é energia.

Pensamento revela riquezas que estão disponíveis ao redor. É só aprender a colher. É a razão do maçom diligente e perseverante melhorar suas condições sociais e financeiras.

Ninguém escraviza a quem se tornou livre pensador, pois é pela "aufklärung", uma conceituação de Kant que significa iluminação, que ele se conscientiza que sem liberdade deixam de existir fraternidade e igualdade. Um ser iluminado goza de liberdade do pensamento e não carece da tutela de ninguém, é a liberdade absoluta, não carece mais ser guiado por outro, tem coragem de usar do próprio discernimento de seu intelecto para desbravar seus próprios caminhos.

Liberdade começa no pensamento; o resto é mera consequência.

Confúcio disse: "Estudo sem pensamento é trabalho perdido; pensamento sem estudo é perigoso".

Na era paleolítica o homem era uma espécie de gari da natureza, sobrevivendo graças ao que encontravam por acaso. Progrediu até que, pela caça em grupo, obteve sucesso em capturar animais de maior porte e a utilizar-se da colheita selecionada de frutas.

No neolítico passou a desenvolver a agricultura, pastoreio de animais e usar o ferro.

Durante cerca de duzentos anos passou a desenvolver-se cientificamente e a utilizar-se de máquinas automáticas.

Nos últimos anos passou a usar intensamente do saber e da informação.

Existe um abismo entre a primeira e a última fase do desenvolvimento da criatividade humana, tudo resultado da capacidade de pensar com lógica.

A velocidade com que se sucederam as diversas etapas manifestou-se em progressão geométrica.

E como tudo na natureza é uma questão de domínio do mais apto, a maioria das pessoas sempre é dominada pelos melhor preparados; por aqueles que treinaram e são livres para pensar às suas próprias custas, estes foram e são os mais ricos e se forem sábios, serão mais felizes. Também são os mais ricos que mais espoliaram os menos aptos, os pobres e incapacitados de pensar às suas próprias expensas.

Benevolência, magnanimidade, é dada a poucos; sempre houve a exploração do homem pelo próprio homem.

O único caminho para progredir debaixo deste sistema de coisas é educar-se, estudar das coisas da ciência para subsistir com qualidade e educar-se para obter maiores possibilidade de obter sucesso e ser feliz.

Ao maçom é propiciada esta oportunidade de auto educar-se, de progredir como pessoa, como homem. A educação aqui preconizada é a educação natural, criada por Rousseau e complementada por Kant. Todo aquele que percebe esta intenção e tira da Ordem Maçônica tudo o que é importante para educar-se na linha natural vai obter sucesso na vida e será mais uma pedra polida na sociedade humana, para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.


Bibliografia:

1. ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia, Dizionario di Filosofia, tradução: Alfredo Bosi, Ivone Castilho Benedetti, ISBN 978-85-336-2356-9, quinta edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1210 páginas, São Paulo, 2007;

2. BOURRICAUD, François; BOUDON, Raymond, Dicionário Crítico de Sociologia, tradução: Durval Ártico, Maria Letícia Guedes Alcoforado, ISBN 978-85-0804-317-0, segunda edição, Editora Ática, 654 páginas, São Paulo, 2007;

3. GEORGE, Susan, O Relatório Lugano, Sobre a Manutenção do Capitalismo no Século XXI, título original: The Lugano Report, tradução: Afonso Teixeira Filho, ISBN 85-85934-89-1, primeira edição, Boitempo Editorial, 224 páginas, São Paulo, 1999;

4. MASI, Domenico de, O Futuro do Trabalho, Fadiga e Ócio na Sociedade Pós-industrial, título original: Il Futuro del Lavoro, tradução: Yadyr A. Figueiredo, ISBN 85-03-00682-0, nona edição, José Olympio Editora, 354 páginas, Rio de Janeiro, 1999;

5. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas, São Paulo, 2007.

REFLEXÕES SOBRE A MORTE - Ir. Valdemar Valsechi




Ademar Valsechi, médico, notável intelectual, MI da Loja “Templários da Nova Era” nr. 21 e Grande Mestre de Harmonia da GLSC. O presente artigo foi destaque em 2007 no Concurso“Pitágoras de Peças de Arquitetura” na categoria de Mestre-Maçom.

“Como a morte é o verdadeiro objetivo da existência, travei durante estes poucos últimos anos, relações tão íntimas com esta melhor e mais fiel das amigas da humanidade, que sua imagem não me parece terrível, mas sim, suave e consoladora." (Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791 - Carta ao seu pai Leopold, no seu leito de morte em 1787.

Diz-se que um ser é racional, quando a sua inteligência é desenvolvida a tal ponto, que permite conceber a idéia de existência, com um início e fim, isto é, raciocinar que existe morte. Todos os seres vivos convivem naturalmente com o seu ciclo vital: Nascimento, Reprodução e Morte, mas apenas os seres humanos, pelo enorme número de neurônios que possuem (aproximadamente 10 bilhões), apresentam a capacidade cognitiva de finitude, que um dia vai morrer. E com isso convive com o medo da morte.

O medo sempre foi o grande companheiro do instinto de sobrevivência. Inibidor da audácia, nos salvando de muitas ciladas, nos mantendo nos limites seguros. Todos nós temos medo, variando desde leve stress ao terror paralisante. A única arma eficaz contra o medo chama-se coragem. Para grandes medos, grandes coragens.

Como disse o professor J.M. Queiroz de Abreu, no seu discurso aos formandos de medicina em agosto de 2005, Campinas – S.P. :

“A morte e o medo são duas faces de uma moeda. A morte é a culminação do medo, sua máxima representação, é a progressão geométrica do medo quando ela encontra o infinito... A epítome do medo é a morte. Enfrentar o medo é enfrentar a face escura de nossa personalidade, a face oculta do destino".

Devemos aceitar nossos temores para conhecê-los melhor, para não perdermos as rédeas, sem deixar que eles nos controlem. O tempero entre medo e coragem deve ser equilibrado. Muita coragem com pouco medo será um ousado inconsequente de vida curta, um kamicase, um homem-bomba. Pouca coragem e muito medo teremos um indivíduo enclausurado, covarde, que até poderá ter vida longa, mas sem deleite. Um medo moderado, ao nível da prudência, é saudável, é esperto. Um medo muito intenso ao nível do pânico e da covardia é burrice.

Todos nós vivemos com nossos medos. Só os perdemos quando morremos. A pessoa que tem um câncer passa pela angústia de saber se vai ou não sobreviver. Os doentes pulmonares conhecem bem o que é falta de ar e convivem com o temor de uma morte asfixiante. Os cardíacos temem uma morte súbita e quem sabe, dolorosa. Tememos os acidentes de trânsito, os assaltos e toda ordem de violência.

Apesar de fazer parte de um processo natural, a morte é odiada. Excluída de nossos bons sentimentos, estamos sempre tentando enganá-la, desviando-nos dela, nos disfarçando para que ela não nos reconheça, pois o nosso medo não nos permite encará-la.

O melhor método para vencer nossos medos é tomar alguma dose de coragem. Quanto maior o medo, maior deverá ser a dosagem. Como não existe um “medômetro”, não temos como quantificá-lo. É algo individual, privativo de cada pessoa. Devemos aceitar e enfrentar os nossos temores e principalmente, não acreditar neles, pois quanto mais nos deixamos envolver, mais reais eles se tornam, a ponto de nos escravizar.

Com o medo controlado, a morte não mais vai nos parecer tão asquerosa. Será vista tal como ela é: A bela e afetuosa amiga da vida, permitindo que o ciclo vital continue com o nascimento de novos seres, abrindo caminho para a evolução das espécies. Sem a morte não haveria renovação. A vida se tornaria enfadonha, desprovida de graça, de sentido, extremamente tediosa.

Pelo fato de ser limitada, mais nos sentimos atraídos pela vida, a viver cada minuto e transformar cada momento em momentos felizes. Cada dia, pelo simples fato que pode ser o último, deve ser saboreado com prazer. Cultivar a boa saúde, os bons relacionamentos, curtir os amigos, a felicidade de ver os filhos e netos crescendo, física, intelectual, moral e espiritualmente, aceitar com naturalidade a inexorável vinda da senilidade. E feliz de quem envelhece. Sempre digo aos meus idosos e queixosos pacientes que reclamam da velhice: “É ruim ficar velho, mas pior é não ficar”.

Cabe a nós a responsabilidade de cumprir o melhor possível nossa missão. Deixar bons exemplos. Impregnar os jovens com nossa conduta. Dentro das limitações de cada um, registrar a nossa passagem pelo nosso período vital, para que as gerações futuras tenham em quem se espelhar.

Ao chegar nosso momento, vamos nos retirar discretamente de cena desse maravilhoso “Drama da Vida”, deixando que nova safra de atores e atrizes assuma nossos papéis, desempenhando tão bem ou quem sabe, melhor que nós, nesse belíssimo Teatro que é a natureza.

Conscientes de que nos esforçamos para bem cumprir nossa tarefa, vamos abraçar carinhosamente nossa delicada, suave e querida amiga morte e com ela seguir, confiantes, caminhos desconhecidos.

Encerro minhas reflexões com o ensaio de William Shakespeare (1564 -1616) em Tragedies: “De todas as coisas que conheço, aquela que mais estranha me parece é que o homem sendo um ser mortal tenha medo da morte. O covarde morre mil vezes, enquanto que o homem corajoso só sente o sabor da morte uma única vez”.


Ademar Valsechi, MI da Loja “Templários da Nova Era” nr. 21 e Grande Mestre de Harmonia da GLSC. O presente artigo foi destaque em 2007 no Concurso“Pitágoras de Peças de Arquitetura” na categoria de Mestre-Maçom.

março 20, 2022

DESCALÇAMENTO & MAÇONARIA - Kennyo Ismail



O Ir, Kennyo Ismail é professor universitário, editor, escritor, uma dos mais importantes intelectuais da maçonaria no país.


Pra começar, esse negócio de chinelo é coisa relativamente nova, apenas para os candidatos não pegarem um resfriado, machucarem o pé ou mesmo se sujarem em demasia. Preocupações que não existiam anteriormente, mas passaram a fazer parte da sociedade. Afinal de contas, pé com chinelo não é pé descalço!

Os rituais e livros são extremamente omissos quanto ao motivo do descalçamento, muitas vezes informando apenas que se trata de uma questão de respeito. Há ainda os “achistas” de plantão, para viajarem em teorias tendenciosas e sem embasamento como Jesus lavando os pés de um discípulo, ou que o caminho do candidato é ao Oriente e no Oriente (Japão) as pessoas tiram os calçados para entrar em casa. Se neles falta pesquisa, sobra imaginação. Não me assustará se uns desses quiserem um dia lavar o pé do candidato no Mar de Bronze!

Para demonstrarmos a antiguidade e a importância do costume do descalçamento, podemos recorrer a vários povos e épocas. Entre os exemplos, há no livro “Êxodos”, 3:5, quando Deus fala com Moisés por meio de uma “sarça ardente”: “não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.” Outro exemplo interessante, dum personagem muitas vezes ligado à Maçonaria, é uma instrução de Pitágoras aos seus discípulos: “Ofereça sacrifício e adoração descalço” e “Devemos nos sacrificar e entrar nos templos sem sapatos”.

Tal costume, existente entre judeus e gregos, também é observado entre muçulmanos, hinduístas, e várias religiões orientais, o que comprova seu caráter universal. Tão antigo e presente em tão diferentes povos e culturas, é impossível e desnecessário determinar seu início e origem. Parece fruto de um senso comum, assim como a própria existência de um Ser Superior. Trata-se de um óbvio reflexo do simbolismo dos templos: um local sagrado é um local puro, portanto, livre do que é sujo. Dessa forma, o pé descalço simboliza o respeito e a deferência da pessoa para com aquele lugar, seu reconhecimento de que aquele solo é realmente sagrado.

Mas, como sempre, alguns ritualistas fizeram o favor de desconsiderar a história e o motivo de existir do rito de descalçamento, tornando os rituais, no mínimo, incoerentes: os candidatos descalçam o pé para pisarem num lugar puro, mas colocam sandália para não sujarem o pé. Uma verdadeira distorção do símbolo e de sua simbologia. Será que é preguiça de limpar a Loja? Espero que não.

TEMPERAMENTO MAÇÔNICO


No Judaísmo temos provérbios que são atuais, mesmo escritos há mais de 2.200 anos. 

Distinguem-se quatro tipos de temperamentos:

_O de quem é fácil de provocar e fácil de pacificar - esse ganha o que perde;

_O de quem é difícil de provocar e difícil de pacificar - esse perde o que ganha;

_O de quem é difícil de provocar e fácil de pacificar - esse é um santo;

_O de quem é fácil de provocar e difícil de pacificar - esse é um perverso. 

"A devoção não está no joelho que se dobra, mas no coração, que não se vê dobrar". 

A diferença entre o homem e o animal consiste na consciência, na qual o homem tem por objeto de sua reflexão sua própria essência, sua própria espécie.

Esta consciência pode converter em objeto outra realidade, outras coisas, de modo especial, seu próprio ser.

Sinal disso é o pensamento, a linguagem e o amor humanos.

Essa diferença entre o homem e o animal não só fundamenta as relações sociais e espirituais, mas também seu próprio ser infinito.

Nisso está sua verdade.

Nos dias de hoje estamos vivenciando na Ordem Maçônica um Ostracismo inercial intenso e desagregador, que está corroendo as nossas colunas.

E aquele provérbio descrito no início da presente explanação, mostra-nos que hoje somos quatro grupos na Ordem e a cada vez mais, se diminuem os números daqueles que são difíceis de se provocar e fáceis de serem pacificados!

As Vaidades pessoais , a inoperância mental e de compromissos com a Ordem, a falta de priorização de nossos princípios e leis em nossa vida profana e cotidiana , inclusive nos campos familiares e em geral , nos levam a desmotivação própria e daqueles que conosco convivem!

Lembremos sempre que:

... ” O Maçom busca o Bem pelo cultivo das virtudes e pelo abandono dos vícios. Tenta polir constantemente a sua pedra bruta reforçando a sua virtuosidade e reprimindo, conscientemente, os seus defeitos.

Pela autodisciplina, livremente imposta a si mesmo, torna-se também exemplo para seus pares, colaborando para o progresso moral daqueles que com ele interagem”...

Temos também que ter consciência que somos humanos e como tal sujeitos as falhas.

A Maçonaria porém nos mostra a saída para a recuperação:

Nossa união, o apoio dos Irmãos, a sabedoria dos mais experientes!

Que grande benção recebemos quando somos iniciados! 

Por fim, fica claro que a Maçonaria nos mostra e nos ensina o caminho da vida plena, íntegra , feliz e produtiva, sendo que cabe a nós, irmãos, não nos desviarmos do caminho do bem, lembrando que:

... “O mato cresce rápido em caminhos pouco percorridos”... 

Bom dia meus irmãos.


(focoartereal.blogspot.com/2020/08/temperamento-maconico.html?m=1)

A VERDADE - Ir. Bruno Bezerra de Macedo


Ir. Bruno Bezerra de Macedo, MM - ARLS Adolfo Bezerra de Menezes n° 100 filiada a Grande Loja do Estado do Ceará GLMECE

Meditava sobre o Poder da Verdade, quando me deparei com a contundência das palavras do Ir.’. Vicente Wanzeler, que diz: "Viver a verdade e falar da verdade sempre será perseguido pelo sistema." Sim, é fato. Acontece!

Tal perseguição ocorre quando estamos desprovidos da capacidade de argumentação. Ter argumentos requer consciência desperta e este despertar só ocorre quando se conhece a si mesmo, aos outros e ao mundo em plenitude. 

Da argumentação advém o convencimento, do qual brota o entendimento e a harmonia, tomando unas as verdades conflitantes a benefício da evolução e do progresso.

Silenciar a verdade é atrocidade moral! 

É ato de opressão que extingue parcial ou totalmente a liberdade. Sobre isto, cumpre lembrar que não há democracia onde inexista o Estado de Direito, ou seja, sem a legalidade e suas benéficas edificações, não há liberdade, tão pouco igualdade e muito menos fraternidade. Assim, reina a barbárie ofuscando a clareza dos sublimes ideais.

Portanto, o Princípio da Legalidade é o fiel combatente contra a autotutela dos direitos, embora, por vezes, esta galhardia tenha suas forças minguadas por duas formas:

1 - pela não disseminação de seus valores em momento algum, nem de forma alguma.

2 - pela retenção deste saber nas mentes de pequena parcela do todo (a quem abrange independentemente de ser conhecido ou não) graças à forma ininteligível com que possa ter sido disseminado.

Cabe lembrar que "um povo unido é um povo esclarecido", como adverte o professor Maurício Leite, ganhador do prêmio nacional “Ricardo Oiticica”, na categoria Formação de Mediadores. Porém, estando a imensa massa do todo totalmente perdida no obscurantismo, facilmente a mordaça faz calar a verdade, como aduz o irmão Vicente.

Ainda que severa seja esta trevosa força, tal terror não assusta o Maçom, tão pouco o afugenta do cumprimento do seu mister de combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; também não o impede de glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade, pois com sutileza vai imprimindo na sociedade em que vive, pela excelência do melhor exemplo, os sublimes princípios da moral e da razão, irradiando aos quatro cantos da Terra a luminescência da Maçonaria.

Façamos nossa parte! Tornemos feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um. 

Nisto admoesta Samuel Lima: "Educação gera conhecimento, conhecimento gera sabedoria, e, só um povo sábio pode mudar seu destino."