março 28, 2022

BOM SENSO NA MAÇONARIA - Sidnei Godinho



Em um mundo que sufoca pela maldade galopante e pela falta de dignidade, aqueles integrantes de um seleto grupo, que se propuseram a encontrar a verdadeira luz, carecem de então proceder como verdadeiros iniciados.

Não se pode aceitar que interesses políticos e sede de poder sobrepujem os princípios de Moral e bons costumes.

Não se pode aceitar que uma minoria domine toda uma instituição com seus interesses escusos, como se senhores fossem da realidade, quando no íntimo são apenas escravos de suas vaidades de poder e brilho. 

Para que a Maçonaria seja perene ela intima que se vençam as paixões e se sujeitem suas vontades.

É somente através desta infindável luta do bem contra o mal que o homem consegue purificar sua natureza e alcançar a pureza de um novo ser.

A Perfeição e a Justiça são objetivos a serem buscados diuturnamente e não há como alcançá-los sem o Bom Senso nas ações do dia-a-dia.

*NINGUÉM É PERFEITO*

O maçom jamais pode ser" inocente " em suas decisões, alegando desejar somente esclarecer outras ações que lhe são contrárias, pois o que se ensina na Ordem é a alcançar o Conhecimento; e a Sabedoria é oposta à ingenuidade.

Alegar desconhecer nossos princípios nem mesmo caracteriza excludente de ilicitude, mas ao contrário evidencia a falta de preparo e o descaso do irmão que ao longo de sua jornada demonstra não ter abandonado suas vaidades.

Que a inspiração para o tão necessário Bom Senso venha daquele que o primeiro exemplo deixou:

... Nem tudo o que "Eu Posso fazer eu *DEVO* fazer...

Que assim seja.'.

Bom dia e boas reflexões meus irmãos.



março 27, 2022

SÍMBOLOS E RITUAIS MAÇÔNICOS - M. Follain



Como instituição iniciática, a Maçonaria adota para o ensino e estudo de sua filosofia, a apresentação de Símbolos e Rituais. Este método consiste na interpretação intuitiva dos Símbolos e Rituais, e é eminentemente auto- didático.

Ritual Maçônico é uma representação, uma demonstração alegórica, um teatro ritualístico. Rituais (ou cerimônias) são fundamentais para o maçom.

Dentre eles, destacam-se: o Ritual de Iniciação: de profano a Aprendiz; Ritual de Elevação: de Aprendiz a Companheiro; e o Ritual de Exaltação (Rito Escocês Antigo e Aceito) de Companheiro a Mestre, que é a encenação da morte de Hiram Abiff.

Os Rituais são cerimônias de transformação interior - há uma interconexão entre o consciente e o inconsciente. “Iniciação” é uma palavra oriunda do latim “initiare”, “início ou começo em”.

O termo “iniciação” tem um sentido designado pelo uso comum da palavra: é o “início” de alguma coisa. Mas a expressão “Ritual Iniciático” é usada em dois contextos diferentes: em primeiro lugar, um Ritual Iniciático é a cerimônia de aceitação de um indivíduo por determinado grupo.

Nessa primeira acepção, o Ritual Iniciático tem um caráter social, que demarca a relação da pessoa com a coletividade ou com algum segmento da sociedade. Portanto, quando o indivíduo entra para um determinado grupo, esse ingresso é comemorado com um Ritual de Iniciação.

Em segundo lugar, a expressão “Ritual Iniciático”, indica não uma mudança de condição social, mas uma transformação interna: o que se modifica é o próprio ser do iniciado e, consequentemente, sua consciência e percepção.

Trata-se de uma verdadeira transmutação, no sentido alquímico do termo.

E, ao contrário do primeiro tipo, não envolve uma cerimônia pública. É um reconhecimento externo de uma mudança interior, que já se processou.

Neste segundo sentido, a Iniciação ocorre quando o neófito estabelece contato com as forças arquetípicas e deixa seu campo de consciência ser transformado pela exposição a essas forças, que se expressam por meio de manifestações simbólicas, que cabem a ele decifrar.

O cérebro, durante práticas de Rituais (ou de meditação), passa a operar em ondas mais lentas.

Durante o Ritual, o indivíduo entra num estado alterado de consciência, com ondas cerebrais alfa e teta, que lhe permitem acessar o inconsciente.

Esse estado alterado de consciência é alcançado pelo pensamento e a emoção, colocados na dramatização.

Quando acontece a emoção (intensidade e perfeição na atuação de cada maçom), o cérebro não consegue perceber o que é “realidade” e o que é “teatro”, entendendo o Ritual como realidade no presente. E, cada maçom, acessando seu inconsciente individual, estará conectado com o inconsciente coletivo.

No Ritual de Iniciação, há uma transmutação, um renascimento interior, proporcionando uma nova percepção de si mesmo e do mundo. O iniciado passa por “provas”, como acontece com cada indivíduo durante sua vida.

Por esse motivo, o símbolo maçônico da Iniciação é a morte – morrer para a vida profana e renascer para a Vida Maçônica. Morte e nascimento são dois aspectos entrelaçados e inseparáveis de toda mudança. Os Rituais de Iniciação na Maçonaria englobam esses dois sentidos.

O Ritual se destina a legitimar o ingresso do indivíduo na Ordem, e concomitantemente, seu interior está se desenvolvendo por meio de uma série de evoluções graduais que vão ampliando seu consciente e inconsciente.

A Iniciação tem como especial e fundamental objetivo, dissolver e eliminar aspectos negativos, que possam estar impedindo o crescimento pessoal: medos, egoísmo, etc.

O ato da Iniciação não pretende extirpar definitivamente do homem seu ser profano e o mundo. A finalidade é fazê-lo conviver com o profano e o conhecimento sagrado.

Os símbolos utilizados na cerimônia têm como finalidade, agregar as forças arquetípicas para o iniciado. A promoção na hierarquia da Ordem ocorre, quando sua consciência (do iniciado) atingiu um grau de desenvolvimento satisfatório.

Os Graus maçônicos são os degraus do conhecimento a serem alcançado pelo iniciado. Como todo processo de metamorfose, não há retrocesso para o iniciado. 

Uma vez maçom, sempre maçom. Transposto o portal que transmuta o indivíduo, ele jamais será o mesmo. O iniciado morre para uma realidade e renasce para outra dimensão de sabedoria.

As consequências do Ritual são irreversíveis: o milho que vira pipoca, jamais volta a ser milho. O iniciado fez o voto de caminhar sempre adiante, portanto, não pode mais retroceder.

Nos Rituais, são interpretadas, dramatizadas e vivenciadas várias situações arquetípicas - arquétipos primordiais, muito mais antigos que a própria linguagem.

Os Rituais, praticados em segredo são a imagem de processos interiores, permitindo a elevação para o conhecimento, a sabedoria, de maneira progressiva.

Os ensinamentos da Ordem dão-se, preferencialmente, através de três caminhos: Rituais, Devocionais e Contemplativos. Os Rituais são o caminho da ação e é o principal método de ensinamento da Ordem.

No caminho da devoção, há o uso da meditação, obediência e amor fraterno – os aspectos devocionais acontecem por meio dos trabalhos filantrópicos.

O caminho contemplativo acontece com o estudo de símbolos e os valores que esses símbolos representam. Os Rituais estão carregados de alegorias e simbolismos que se impõem desvendar e assimilar.

Os símbolos utilizados pela Maçonaria têm origens diversas. Alguns autores dividem esses símbolos em dois tipos principais: os que tiveram origem na Maçonaria Operativa e os que foram introduzidos a partir de conhecimentos ocultistas, que se integraram à Maçonaria Especulativa (Alquimia, Hermetismo, Astrologia, Numerologia, Cabala). Mas todos os símbolos devem ser assimilados pelo maçom e interpretados de acordo com sua inteligência, grau de evolução interior, sua maneira de ser e sentir.

Os símbolos são oriundos de diversas crenças, filosofias, antigos mistérios, mas isso não implica que os maçons partilhem dessas crenças.

As mensagens contidas nos símbolos serão interpretadas, compreendidas e interiorizadas, e passarão a fazer parte do ser e da experiência de cada maçom. Ser maçom implica integrar o racional a uma entrega mística.

Os Rituais e o estudo da simbologia permitem que os maçons progridam no entendimento racional e emocional, nos conceitos que a Maçonaria transmite. Com o aprofundamento de seus estudos, o maçom encaminha-se para a verdadeira “espiritualidade” – sem dogmas, livre de crenças religiosas.

Na realidade, é mais um princípio filosófico “espiritualista”: considerar que no homem e no Universo há “algo mais”, seja do ponto de vista “imanente” ou “transcendente”.

Essa espiritualidade é um aspecto indissociável da condição humana, e está muito mais além do que qualquer religião: espiritualidade é o que coloca cada ser diante do absoluto, do infinito, do todo, da eternidade, de seu “Deus”, de si próprio.

A espiritualidade maçônica é uma espiritualidade livre, pois sugere um caminho individual para a relação com a Divindade, com o Divino. A Ordem, respeitando as diferentes opções religiosas, não despoja o indivíduo de seu entendimento espiritual. E, esse respeito é à base da harmonia e da tolerância maçônica.

Como ensina Carl Sagan (maçom): “é essa espiritualidade que nos permite sentir de uma forma mais intensa e profunda a beleza de uma trilogia muito famosa e que define bem os grandes valores da humanidade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

E quando chegamos a esta fase em que, enquanto vamos construindo o nosso templo interior, e vamos estabelecendo fortes laços de união com os nossos Irmãos, é que estaremos realmente aptos a influenciar, positivamente, a evolução da humanidade e a defender todos os seus grandes valores”,

A MAÇONARIA NÃO É UMA SOCIEDADE SECRETA - Rui Bandeira


Em relação à Maçonaria criou-se um mito, frequentemente repetido, em tom acusatório, pelos detratores da maçonaria: a Maçonaria seria uma “sociedade secreta” e, assim sendo, boa coisa não é (pois, se o fosse, não necessitaria de ser secreta).

Não é verdade. A Maçonaria não é uma sociedade secreta, antes é uma associação que existe e funciona ao abrigo das leis civis e no integral respeito do que estas postulam. Qualquer Obediência maçónica existe enquanto pessoa jurídica coletiva, normalmente organizada sob a forma de associação, devidamente registada no Registo Nacional de Pessoas Coletivas em Portugal e nos serviços equivalentes nos outros países, constituída por escritura notarial, arquivada onde a lei do país em que se insere determina, fiscalmente manifestada e, a exemplo das demais pessoas coletivas, cumprindo as obrigações fiscais que a Lei determina, com os seus órgãos sociais designados pela forma que a Lei e os seus Estatutos determinam e publicitados pela forma que a Lei determina. Enfim, a Maçonaria Regular, que tem por princípio fundamental o respeito da legalidade vigente, existe e funciona ao abrigo e cumprindo as leis em vigor nos Estados onde funciona, como qualquer outra associação nesse Estado existente.

No entanto, e como já o Ministro da Propaganda nazi, Joseph Goebbels, descaradamente referia, uma mentira mil vezes repetida passa a ser entendida por muitos como verdade.

E a mentira de que a Maçonaria é uma sociedade secreta tem vindo a ser muitos milhares de vezes repetida, ao longo de mais de três séculos. O poder e persistência desta mentira são proporcionais às forças de quem a lançou e repetidamente a sustentou ao longo do tempo: a alta hierarquia da Igreja Católica.

Que a alta hierarquia da Igreja Católica não tenha visto com bons olhos a Maçonaria, é compreensível: tratava-se de uma agremiação nascida num país que, em termos religiosos, se rebelara contra a Igreja de Roma – a Inglaterra; e a Maçonaria consumava um princípio que então (muito antes de o ecumenismo ser um conceito aceite pela Igreja Romana) lhe era insuportável: a junção, a colaboração fraterna, entre crentes de diferentes religiões. Com efeito, a Maçonaria postula um princípio fundamental, inerente à hoje aceite e comum, na sociedade ocidental, noção da liberdade religiosa, que é o de que a crença religiosa de cada um só a ele diz respeito e que homens livres e de bons costumes podem auxiliar-se mutuamente na sua respetiva evolução ética e espiritual, independentemente das respetivas crenças religiosas. Quaisquer diferenças nestas são de somenos em face da essencial semelhança do que é ser Homem, da Ética que a todos deve unir, do comum anseio de melhoria, de aperfeiçoamento pessoal, moral e espiritual. Compreende-se que esta noção não seja bem vista para uma conceção religiosa que entende que o caminho para a Salvação é o da sua religião e não o de qualquer outra (e essa era a postura da alta hierarquia da Igreja Católica, pelo menos até ao Concílio Vaticano II).

Bastaram 21 anos, a contar da fundação de Premier Grand Lodge, em Londres, em 1717, para a alta hierarquia da Igreja Católica efetuar o primeiro ataque violento à maçonaria, utilizando o falso argumento de ser a Maçonaria uma “sociedade secreta”. A primeira bula papal de condenação da Maçonaria foi subscrita por Clemente XII em 28 de abril de 1738, ficou conhecida pela designação de Bula In Eminenti e nela pode ler-se, designadamente (destaque meu):

Agora, chegou a Nossos ouvidos, e o tema geral deixou claro, que certas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções chamadas popularmente de Liberi Muratori ou Franco-Maçons ou por outros nomes, de acordo com as várias línguas, estão se difundindo e crescendo diariamente em força; e que homens de quaisquer religiões ou seitas, satisfeitos com a aparência de probidade natural, estão reunidos, de acordo com seus estatutos e leis estabelecidas por eles, através de um rigoroso e inquebrantável vínculo que os obriga, tanto por um juramento sobre a Bíblia Sagrada quanto por uma variedade de severos castigos, a um inviolável silêncio sobre tudo o que eles fazem em segredo em conjunto.

A decisão anunciada na bula foi de proibição e condenação: decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações, ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco-Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proibidas.

Mas este foi apenas o primeiro ataque. Treze anos depois, Bento XIV emitiu, em 18 de maio de 1751, a Bula Provida Romanorum Pontificum, onde se pode ler:

Finalmente, entre as causas mais graves das supraditas proibições e condenações enunciadas na Constituição acima inserida, 

— a primeira é: que nas tais sociedades e assembleias secretas, estão filiados indistintamente homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica;

— a segunda é: a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembleias secretas, às quais com razão se pode aplicar o provérbio (do qual se serviu Caecilius Natalis, em causa de caráter diverso, contra Minúcius Félix): “As coisas honestas gozam da publicidade; as criminosas, do segredo”;

— a terceira é: o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar declarações ao legítimo poder, que investiga se em tais assembleias secretas não se maquina algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis;

Neste documento, o pretexto da “sociedade secreta” continua a ser invocado, mas desvendam-se as verdadeiras razões da decisão: o facto de, na Maçonaria estarem filiados indistintamente homens de todos os credos e tal “constituir um grande perigo para a pureza da religião católica” e o receio de que, nas reuniões maçónicas se maquine “algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis”.

O século XVIII não findou sem que, precisamente em 1800, mais um Papa, Pio VII, publicasse mais uma bula condenatória da maçonaria, a Bula Ecelesian a Jesus Christo, de que não consegui encontrar publicação do seu texto. O século XIX (em que, recorde-se, ocorreu a emergência da Maçonaria Irregular e da intervenção desta orientação na Coisa Pública, inclusivamente com ações revolucionárias) foi também fértil em documentos papais de condenação da Maçonaria, em que a classificação da mesma como sociedade secreta foi recorrente.

Mas isso é já matéria para o próximo texto.

Artigo publicado em Novembro de 2011.

março 26, 2022

TOLERÂNCIA E CONIVÊNCIA NO CONVÍVIO ENTRE OS IRMÃOS



"Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união."

É este sentimento que nos baseamos para a abertura dos trabalhos em Loja, evocando a convivência em união, harmônica, uníssona e pacífica entre os irmãos, pois assim dita o Livro da Lei, assim dita toda regência dos nossos mandamentos legais maçônicos, que devem ser seguidos pelos irmãos, e, entre os irmãos, não só na vida maçônica como também na vida profana, pois irmandade não é coleguismo, não é título, é sim sentimento fraterno de carinho, amor e respeito.

Logo, como podemos dentro de Loja nos chamar de meu alguém de irmão, se aquilo não é verdadeiro, não é puro d'alma??? 

Devemos, pois, viver em harmonia dentro e fora da Loja, construindo nosso templo interior sempre num ambiente fraterno, sadio, com respeito multilateral, donde cada irmão deva respeitar e aceitar a forma do outro ser e agir, desde que ele esteja trabalhando dentro dos preceitos da Ordem.

A isto, se chama de Tolerância.

Significado:

1 Qualidade de tolerante.

2 Ato ou efeito de tolerar, de admitir, de aquiescer.

3 Direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até diametralmente opostas às nossas.

Está é uma das virtudes nobres que deve ser trabalhada pelo homem maçom, donde deve ele tentar entender seu próximo como ele é, buscando, de acordo com a aceitação dele, dar-lhe informações de detalhes sobre sua conduta que possa e deva ser melhorada para que se tenha a convivência mais próxima possível do perfeito.

Porque sabemos todos nós somos falhos em algum momento, por isso somos considerados pedras brutas a serem lapidadas dentro de nossas virtudes.

Todavia, jamais deveremos deixar que esta virtude tolerante se confunda com a conivência ou permissividade .

"Significado de "conivência" sf (conivente+ia):

1 Qualidade de conivente; cumplicidade.

2  Espécie de cumplicidade, que consiste na abstenção propositada ou dissimulada de prevenir, obstar ou denunciar o ato delituoso, de cuja premeditação se teve conhecimento prévio".

Pois esta (a conivência) é perniciosa, levando-nos a querer sublevar o erro, o infringir da lei e da ordem, quer maçônica ou profana e do convívio entre os irmãos.

A feitura da correção de atitude equivocada, ou seja, fora dos parâmetros da ética, da moral e dos costumes, é uma necessidade para que possa reinar a harmonia, a paz e a corrente de bons fluídos dentro do convívio da irmandade, seja em Loja ou fora dela.

Daí o respeito multidirecional entre os irmãos torna-se pré-requisito para alicerçar a convivência harmônica, com a aceitação de certos comportamentos e/ou comentários que, para uns, se não aceito, deva ser tolerado, o que para outros será entendido como normal.

Mas, este comportamento de convívio harmônico, só poderá acontecer com diálogo entabulado entre os irmãos, donde todos devem, com clareza ímpar, elencar assuntos dos quais não gostaria de participar, para que aí então àqueles que fossem discutir tal assunto, não o fizessem por meio que obrigue aos que não se sentem bem em discuti-los, ter de participar direta ou indiretamente, causando ruído na comunicação e desarmonia entre os interlocutores.

É sabido por todos que para se viver bem em coletividade é fundamental que haja entre os conviventes o respeito, a clareza no diálogo, devendo ser tratados todos os pontos de aresta, pois assim podemos colocar tais pontos na mira do cinzel e malha-lo, retirando-o em busca de uma pedra cúbica perfeita.

Donde ao se colocar o esquadro veremos o ângulo certo e o raio traçado pelo compasso medirá a capacidade de relacionamento livre, harmônico e perfeito dentre os irmãos, e, com a régua traçarmos nossas linhas retas para não incorrermos em erros, que maculem a imagem e/ou o convívio daqueles que ficamos felizes em chamar de irmão. 

Portanto meus amados irmãos, que Deus, nos dê “Sabedoria” para discernirmos entre essas duas situações, o que teremos que aplicar aos nossos corações e mentes; nos dê a “Força” necessária para fazer o que deve ser realizado nesses casos sem desvios de nossos usos e costumes e nos dê também a “Beleza” , de termos palavras amáveis e conformadoras para *não ofendermos desnecessariamente aos nossos irmãos*.

Bom dia meus Tolerantes, porém Não Coniventes Irmãos.

MAÇONARIA, UMA FACULDADE NA ESCOLA DA VIDA


Este trabalho foi baseado em artigos de autoria do maçom Pedro campos de Miranda – Loja Maçônica Spinoza 181 – com emendas do maçom Carlos Augusto Camargo da Silva – Loja Maçônica Estrêla Caldense de Poços de Caldas/MG Fonte: Loja Maçônica Estrêla Caldense de Poços de Caldas/MG

Não podemos viver felizes, se não formos justos, sensatos e bons.

 (Epícuro – Filósofo Grego)

A vida é uma escola. Desde a concepção no útero materno, estamos a aprender. Após o nascimento, o aprendizado se intensifica. Aprendemos a andar, a falar, somos alfabetizados, educados e vivemos em sociedade. As leis dos homens regulam nossas condutas sociais. O uso e os costumes, a moral e as leis, traçam nosso comportamento. Dentro dessa escola da vida, alguns homens tem o privilégio de ingressarem numa faculdade, que se chama Maçonaria. Alguns terminarão o curso e receberão o diploma. Outros, desistem no início, no meio ou no fim. Outros ainda, são reprovados e perdem a oportunidade. São, o livre arbítrio e as regras do curso. A faculdade começa na iniciação e termina na diplomação, que é a comunhão total e final, cuja banca examinadora é o Tribunal de nossa consciência e a misericórdia do Grande Arquiteto do Universo.

A Maçonaria é uma faculdade na vida, que incentiva a pesquisa da verdade, o exercício do amor e da tolerância. Que recomenda o respeito às leis, aos costumes, às autoridades e, sobretudo, à opção religiosa de cada um. A Maçonaria não se preocupa em retribuir as ofensas injustas recebidas pelos que não a conhecem, mas, devemos nos defender mostrando aos nossos algozes o que é a Maçonaria. Filosófica, moral e espiritualista é a Maçonaria. Filosófica, porque leva o homem a se ajudar na busca da verdade que ele procura, a vencer suas paixões e submeter sua vontade à verdadeira razão. É moral, porque só aceita homens de bons costumes, que comem o pão com o suor de seus rostos. É espiritualista, por não admitir ateus em suas fileiras. Aliás, nossa Sublime Ordem é a única organização que transforma em irmãos pessoas de crenças religiosas diferentes, pois nela convivem harmoniosamente católicos, espíritas, protestantes, budistas, maometanos, judeus, etc...

Alguns apressados poderiam pensar que isso significa que os maçons sejam transformados em seres absolutamente passivos, submissos, sem o menor interesse pelo que se passa na sociedade, em nosso país e no mundo. Outra inverdade, pois os maçons se preocupam com tudo o que acontece, a Maçonaria é universal. Se os maçons têm como compromisso maior a busca incessante da verdade, é claro que precisam exercitar continuadamente o direito de pensar em soluções que possam eliminar o mal, sem destruir o homem. Ela tem seus métodos próprios de ação, conhecidos pelos verdadeiros maçons, os quais são agentes da paz e chamam os conflitos armados de a estupidez da guerra, da guerrilha, do terrorismo, do radicalismo e da ignorância.

A Maçonaria sempre se colocou a favor da liberdade, contrária a qualquer tipo de opressão que sonegue ao ser humano o direito de pensar. Jamais pode ser radical, pois a virtude mora no meio, no bom senso, na equidade e isonomia. Mas, como exige de seus adeptos uma vida de constante exercício de cavar masmorras aos vícios e erguer templos às virtudes, ela sabe que o maior ensinamento que os maçons possam oferecer reside no exemplo oferecido por cada pedreiro livre, que não se esquece da polimento da pedra bruta que somos e da necessidade de erigirmos nosso templo interior. É aí que valorizamos o entendimento de Cícero: Sou livre porque sou escravo da lei! “Andar na lei” é difícil, fácil é andar fora dela. O maçom sabe que uma vida digna equivale a um templo erguido à virtude e que somente terá vencido suas paixões quando houver aprendido a respeitar e a amar cada ser humano, nunca se acovardando quando tiver de exigir de qualquer um o cumprimento da lei. Principalmente diante da covardia de maiorias que procuram esmagar impiedosamente as minorias, ou fanáticos que usam métodos covardes para valerem suas condutas.

A Maçonaria combate a hipocrisia, o fanatismo, a intolerância. E combate esses males procurando conduzir os homens ao entendimento, única forma de se conseguir a paz permanente, pregando a misericórdia para com os vencidos. Para nossa Ordem, o vencedor deve ser sempre a humanidade. Portanto, todos os maçons são concitados a uma conduta de vida capaz de levar consolo a quem sofre, a comida a quem tem fome, o agasalho a quem tem frio, uma toalha macia para enxugar as lágrimas de nossos semelhantes, a levar o conhecimento a quem o deseja. Sabe a nossa Instituição que quanto mais se propagar a luz, menor será a ser o espaço a ser ocupado pela trevas. Com isso poderemos nos guiar mais seguramente na direção do GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, luz irradiante que será o próprio caminho do amor, da fraternidade e da tolerância per omnia secula seculorum!

Não somos – e estamos longe de sermos – uma confraria de anjos, arcanjos ou querubins. Simplesmente homens buscando a prática do bem sem olhar a quem, sem alarde, sem soar a trombeta. Uma faculdade na escola da vida, onde temos o privilégio de podermos conhecer a fé, a esperança e a caridade, sem necessidade de apegarmos a alguma religião ou seita. Conseguimos o que muitos acham impossível, ou seja, a reunião de homens de todas as crenças, unidos pelo laço da irmandade, pelo pensamento uníssono de que pela boa obra, se conhece o bom pedreiro. Enquanto algumas religiões se dizem donas da verdade, nós estamos à busca dela sem querermos ser seu dono. Não nos interessa a transmutação dos metais, não nos interessa interferirmos na fé alheia. O que nos interessa é o exercício da caridade, pois sabemos que sem ela não há salvação. Não existe fé sem caridade, sem esperança e sem amor. A fé nos põe em contato com o criador, na sintonia de emissor e receptor. Somente palavras ou pensamentos não nos põe em sintonia com Ele, pois se assim fosse, os fariseus que praticavam com grande pontualidade os ritos prescritos e a grande importância aos estudos das Escrituras, não teriam sido convidados a deixarem o templo, mencionados pelos Evangelhos como hipócritas e orgulhosos.

Podemos concluir sem medo de errar, que só a maldade e a desinformação são capazes de rotular a Maçonaria como contrária a fé. O comportamento digno que nossa Ordem impõem a seus membros honrará, certamente, a qualquer profissão de fé religiosa, pois cada um de nós tem o direito de professar e praticar sua religião no mundo profano. Garante a Constituição brasileira que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de cultos e as suas liturgias. Em Templo Maçônico deixamos do lado de fora as diferenças religiosas e passamos à pratica comum da igualdade, liberdade e fraternidade. Oh! Como é bom, agradável viverem unidos os irmãos.

Os rótulos nem sempre garantem o conteúdo. Por isso, nosso Templo Interior é que deve permanecer sempre limpo, livre da sujeira que as iniquidades provocam, iluminado pelo verdadeiro amor, sempre nos permitindo lembrar que o nosso conhecimento é apenas uma gota diante de um oceano de coisas que ignoramos. Ensina-nos a Maçonaria que o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO é uma fonte perene de amor, sempre pronto a permitir o soerguimento de qualquer um que queira se levantar. Como Ele saberá, a qualquer tempo, separar o joio do trigo, nós, os maçons, somos sempre recomendados a produzir mais trigo, mais trigo, mais trigo...


março 25, 2022

A EXALTAÇÃO AO TRABALHO NO GRAU DE COMPANHEIRO


Permitam-me, meus Irmãos, apoderar-me de um dos mais belos trechos da Oração aos Moços, de Rui Barbosa

“Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo subliminar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos. …O Criador começa e a criatura acaba a criação de si própria. Quem quer, pois, que trabalhe, está em oração ao Senhor.” (trecho da Obra de Rui Barbosa extraído do artigo do Ir:. Raimundo Rodrigues – Cartilha do Companheiro – Ed. A Trolha – 1a. Edição – 1998 – págs. 105 e seguintes.

O Grau de Companheiro, ensina-nos o Rito Escocês Antigo e Aceito, é o Grau dedicado à exaltação do Trabalho. De pouca relevância o tipo de trabalho, ministra também lições nesse sentido, o Ritual.

Imprescindível, entretanto, nos dias tumultuados de nossa atualidade, quando valores invertidos atropelam sem ressentimentos a Ética, que o trabalho seja prestado com respaldo nos melhores princípios da dignidade, que o ato de trabalhar seja praticado com a alegria do crescimento espiritual, pois o homem, na sua capacidade de errar e transgredir, esmera-se em arquitetar formas nada saudáveis e recomendáveis de “trabalhos” distantes de qualidades sublimes, exercidos unicamente com o intuito de provocar um enriquecimento rápido e sem causa, com a meta apenas de acumular a matéria.

O Companheiro exalta o trabalho, impõe ação aos instrumentos colocados à sua disposição, como o maço e o cinzel, a régua, o compasso e o esquadro, o prumo e o nível, a alavanca, aprendendo a manejá-los com habilidade e dedicação, buscando a abundância de espigas de trigo; transformando em Pedra Cúbica a Pedra Bruta que já desbastara; escalando a escada do aprimoramento espiritual; lançando-se às profundezas dos mistérios de sua existência; conhecendo o significado da letra “G”, vendo e sentindo a Estrela Flamejante.

Não encarar o trabalho como um castigo, é um sábio ensinamento e um grande e bom desafio. O preceito bíblico da transformação do suor e da força do trabalho em alimento, com uma carga evidente de suplício, teve lá a sua razão de ser. O G:.A:.D:.U:., em momento de justa fúria, lançou sobre o homem a pecha que o haveria de seguir pelas suas trilhas terrenas.

E realmente, por séculos, trabalhar era próprio de alguém inferior, era próprio de escravos condenados a suprir com o seu suor e esforço o alimento dos seus senhores, na turva visão do trabalho como desonra e estigma social. O I:. Raimundo Rodrigues, num excelente artigo publicado na Cartilha do Companheiro – 1ª. Edição da Ed. A Trolha, lembra-nos que – o “ora et labora” era um incentivo que se dava aos religiosos para que pudessem evitar e, até mesmo, vencer as tentações e que essa forma de entender o trabalho se modificou com o advento do humanismo e mais ainda com a chegada do Renascentismo.

Mas a mesma sabedoria do Grande Arquiteto teve o condão de mudar conceitos, mesmo que tão arraigados; teve a sabedoria de incutir em filósofos a essência magnífica do trabalho e daí nasceram apologias e exaltações ao ato de trabalhar, desmistificou-se a supremacia do conhecimento sobre a ação e descobriu-se que o homem, se podia pensar, conhecer, melhor estaria se colocasse em prática os seus pensamentos e conhecimentos.

É pela ação do trabalho que obras maravilhosas acontecem. É pelo trabalho que a inércia desaparece, o Universo se transforma e que tudo está em constante e perene movimento, ainda nas palavras do I:. Raimundo Rodrigues.

O Maçom é um trabalhador por excelência. Por perfeita e justa razão, recebe ele o apelido de Obreiro e o seu local de trabalho, Oficina. Junto dos Companheiros, essa qualidade de trabalhador enaltece-se ainda mais, passando a ser a essência filosófica do Grau.

Deixando de usar apenas a força mais bruta, arduamente aplicada na aprendizagem do alto da Coluna do Norte, e utilizando mais a inteligência, o Companheiro estará mais livre nos seus passos em busca dos seus caminhos.

Nas etapas da sua jornada, trabalhando com afinco e sempre em conjunto com seus Irmãos, na mais pura essência da fraternidade, certamente terá confrontos com dificuldades e obstáculos para vencer os degraus da escada que o levará às portas da Câmara do Meio.

Mas o empenho na construção do Templo, com o uso adequado das ferramentas do Grau e a aplicação de princípios teóricos e filosóficos que passará a dominar com mais propriedade, servirá para aprender e compreender os sentidos dos emblemas, das alegorias e dos símbolos que a Maçonaria lhe proporciona e para entender o que é realmente necessário para alcançar o Grau de Mestre.

O Grau de Companheiro possui uma característica bastante forte de participação, de ação e criação em grupo, possibilitando o exercício da fraternidade com plenitude e ampliando a visão espiritual sobre a vida material.

Usando a trolha, símbolo da indulgência, o Companheiro unirá as pedras cúbicas pela argamassa da irmandade, lançando o reboco e corrigindo as arestas, reconhecendo, acima de tudo, na lição de Assis Carvalho, “as qualidades de cada Irmão, perdoando-lhe os defeitos reparáveis“. (Cartilha do Companheiro – 1a. Edição – Editora A Trolha – páginas 145 e seguintes).

O trabalho, nas anotações feitas pelo I:. Raimundo Rodrigues na sua obra já mencionada, evoca a essência da Maçonaria e faz parte da sua filosofia e da sua história e alguns aspectos servem sobremaneira como evidências a esse respeito, tais como:

Na Maçonaria operativa, o trabalho dos construtores tinha uma alta qualidade e era bastante criativo, como provam as estupendas construções, muitas ainda de pé e deslumbrando a quem as visita;

Passando a ser especulativa em 1717, a Maçonaria adquire um caráter filosófico, espiritual e social;

Os locais dos Maçons, como Obreiros, passam a ser conhecidos como Templos ou Oficinas;

A vestimenta do Maçom é o avental, símbolo grandioso do trabalho;

As atividades em Loja passam a denominar-se Trabalho, tendo este a qualidade de Justo e Perfeito, quando transcorre em obediência aos ditames da lei maçônica; quando é praticado em ambiente de harmonia; com respeito aos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade e quando recebe as bençãos do Grande Arquiteto do Universo.

E se o trabalho é uma característica primordial da Maçonaria, mais ainda o é no Grau de Companheiro, que a ele se dedica, como se dedica às ciências, à filosofia e às artes, ouvindo sempre, falando quando necessário e trabalhando bem e muito, dentro dos melhores princípios maçônicos.

Trabalhar, principalmente para o Companheiro, é dedicar-se à construção do seu Templo Interior, num processo contínuo, no qual o sentido de “vencer as paixões e submeter as nossas vontades” mais se acentua e se faz presente. 

Pouco a pouco, com a pertinácia do trabalho e o uso adequado das ferramentas, e, sobretudo irmanado, o Companheiro entrega-se à construção do edifício, dentro de si, mas com o objetivo de se projetar para fora, para a sociedade, num processo sociológico que pretende exteriorizar e transmitir para outros indivíduos as conquistas espirituais que constituem a argamassa e os demais materiais utilizados na ação de construir.

E seu templo social será erguido, sempre na vertical, como quem tem o pé no chão e a cabeça, o espírito, perto do Grande Arquiteto. E nessa obra, serão observados os ensinamentos da Maçonaria, com o edifício amparado em pedras cúbicas cinzeladas para suportar uma sólida estrutura; com cálculos feitos no projeto com o melhor uso da geometria e das demais ciências; apoiados no melhor manuseio do compasso, do esquadro e da régua.

E na construção, parede por parede, que a trolha tenha bom uso no aparo das arestas e com o poder de indulgência que lhe caracteriza; que o nível seja usado de bom grado para assegurar a horizontalidade e a igualdade das superfícies, onde os Irmãos estarão no mesmo patamar; que o prumo tenha a manipulação adequada, demonstrando a retidão da construção, visível na perfeita verticalidade das paredes.

E, quando os obstáculos se impuserem, ou mesmo quando um esforço maior for exigido para a execução da tarefa de construção, que a alavanca seja usada na melhor acepção de Arquimedes, para facilitar a transposição de dificuldades e contribuir para a consecução dos trabalhos.

A alegria e o pensamento positivo devem acompanhar o Companheiro na construção do Templo e, maior será essa alegria, quando houver a descoberta que a construção é, na verdade, um processo de transformação, no qual, a cada pedra assentada, as virtudes vão substituindo os vícios; o espírito vai tomando o lugar da matéria; a fraternidade, pois o trabalho não deve ser apenas solitário, vai se sobrepondo ao individualismo e à vaidade.

E assim é o trabalho maçônico, o trabalho exaltado no Grau de Companheiro. De tal sorte que, se praticado com perseverança e entusiasmo, sepultará intolerâncias, ressentimentos, mágoas e medos, bem como outros sentimentos que não são e não devem ser próprios das virtudes perseguidas pelo Maçom e, em contraponto, ressaltará virtudes fortemente necessárias ao aprimoramento da humanidade, papel fundamental do verdadeiro Maçom.

Bibliografia consultada:

Ritual do 2º Grau – Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito

Bíblia Sagrada

Cadernos de Bolso A Trolha – Instruções para Loja de Companheiro

Cadernos de Pesquisas Maçônicas – nº 14 – Ed. A Trolha

Cadernos de Estudos Maçônicos – nº 17 – Ed. A Trolha

Cartilha do Companheiro – Ed. A Trolha

Grau dos Companheiros e seus Mistérios – Jorge Adoum – Ed. Pensamento

Jornal A Gazeta Maçônica – Julho/Agosto de 2003 pág. 3

Texto de Autor Desconhecido, fornecido pelo nosso Irmão Nuno Raimundo.

MARAVILHAS DOS SÍMBOLOS E O ÓCIO CRIATIVO - Charles Evaldo Boller



Considerando o equipamento de comunicação, sensibilidade e habilidade de que o homem é provido, só isto já o faz reinar soberano nesta biosfera. Sua superioridade é aumentada quando coloca em prática a sua capacidade de sonhar e principalmente de pensar com lógica e clareza. Mesmo que sua construção emocional o equipe com instintos que podem ser usados para bem e para o mal, ele desenvolve processos de interiorização que o defendem e o transformam de besta cruel e sanguinária em criatura dócil e amorosa. E é neste desenvolvimento que a Maçonaria atua no maçom que realmente deseja ser pessoa de bem em sentido lato. Ao incentivar o pensamento com ilustrações e especulações racionais, ensina ao homem a favorecer-se de sua capacidade racional e lógica. O maçom aprende a pensar.

Pensar como fruto do próprio esforço e iniciativa é uma característica que a poucos seres humanos é dado fazer. Não que sejam indolentes para meditar sobre temas importantes, mas estão submetidos a um sistema cruel de sobrevivência; pouco ou nenhum tempo resta para o indivíduo caminhar pelos meandros do pensamento especulativo. Esta falta de tempo é agravada pelas ofertas do mundo da propaganda e do entretenimento passivo. A concorrência é tão intensa e os atrativos para atividades passivas são tantas, que a maioria fica impossibilitada de oportunidades para meditar e pensar. Cinema, televisão, joguinhos de computador e outras distrações roubam o tempo e viciam as pessoas em atividade que não exigem praticamente nenhum esforço e os impedem de desenvolver a capacidade de pensamento para a felicidade.

A Maçonaria usa símbolos e alegorias para fazer as pessoas pensar. Todo aquele que é assíduo aos trabalhos em loja, praticamente sem esforço algum é conduzido pela caminhada dos símbolos e das estorinhas de fundo moral, que levam a pensar. Inclusive, por breves instantes, quando reunido em loja, o maçom é afastado dos laços alienantes do mercado consumidor para exercitar sua capacidade de pensar com lógica, filosofar e até sonhar.

Um símbolo fala muito mais que palavras; ele induz pensamentos completos que não são estáticos na linha do tempo, mas que se adaptam a cada situação, a cada estágio evolutivo da pessoa e da sociedade. O símbolo é o mesmo, a ideia que o circunda é diferente.

Uma alegoria representa de forma figurada expressões de pensamentos que se não forem traduzidas por ficções tornam-se difíceis, senão impossíveis de analisar com isenção. Os preconceitos e referenciais da cultura induzem enveredar por caminhos tortuosos, difíceis e até errados. Se a dificuldade for muito grande, a mente desiste e desliga o assunto. É semelhante a um ruído monótono e continuo; a mente desliga a capacidade de filtrar aquela informação e a pessoa consegue até dormir. O homem usa de sua capacidade de contar estorinhas para transmitir conceitos de moral e ética complicados aos seus pares, consistindo na principal razão do homem chegar ao ponto de evolução em que se encontra. Não fosse a sua maravilhosa capacidade de contar estorinhas ao redor das fogueiras desde o tempo das cavernas, não teria desenvolvido sua capacidade de pensar e até de sonhar. A Maçonaria abraçou esta intuitiva capacidade de ensinar utilizando-se de símbolos e estorinhas. O maçom nem percebe que está evoluindo em sua capacidade latente de pensar com lógica.

Esta característica de transmitir conhecimento era usada pelos pedreiros operativos no projeto e ensino das tarefas da profissão. Depois do trabalho, duro e estafante, eles reuniam-se de modo fraternal em algum lugar confortável, e lá, ao sabor de bom vinho e boa comida sonhavam e trocavam idéias de como fazer e melhorar em sua arte de construir catedrais. Os sábios que deram origem a Maçonaria perceberam isto e transportaram os hábitos e costumes daqueles pedreiros ao campo da especulação, na construção de catedrais que usam de pedras vivas para edificar a sociedade. Em loja tratam do treinamento formal e disciplinado, e após a reunião, em alegres reuniões os irmãos discutem os mais variados temas de interesse comum do indivíduo ou da sociedade. Assim foi o berço das grandes ações desenvolvidas por maçons que alteraram de forma permanente a história.

É nos momentos de descontração que afloram os potenciais de pensar; semelhante ao tempo em que não existia rádio e televisão, quando as pessoas conversavam e trocavam as mais valiosas informações para o seu crescimento intelectual, emocional e espiritual. É a prática daquela reunião familiar tão comum antes da Primeira Guerra Mundial. É uma sábia forma de escapar da alienação do sistema que escraviza e afasta o homem do estado natural.

O maçom que participa das atividades de sua loja, em todos os aspectos, se humaniza com muito mais facilidade. As duas atividades são importantes e complementares. O ritual comportado e ordeiro das lojas e a descontração livre e solta após os trabalhos complementam-se. É nos momentos de relaxamento que o maçom encontra solução para a maioria de seus problemas do cotidiano. Estes postulados são meticulosamente defendidos por Domenico de Masi e Bertrand Russell. Muitas vezes um simples comentário de um irmão dispara um processo racional para solução de problemas que até então pareciam insolúveis; é a volta para o circulo das fogueiras praticado pelos vetustos homens das cavernas, um hábito que a poucos é dado desfrutar neste mundo recheado de artificialidades.

Muitas vezes uma pessoa que não está contaminada pela emoção ou submetida a um sentimento de culpa desperta soluções na mente do irmão que tem algum problema em sua casa ou escritório.

Em todas as oportunidades da vida moderna o cidadão é instado a preparar-se para o trabalho; são raras ou inexistentes as vezes em que é treinado para o ócio. Nas ágapes festivas após os trabalhos em loja, o maçom reúne-se com outros seres humanos e troca símbolos ou ideias que o ajudam na programação de sua vida profissional e familiar. Há muito tempo, bem antes da loucura de nossa lides estafantes e alienantes que a Maçonaria trabalha assim, preparando o homem para bem usufruir os momentos de descontração. É um ócio criativo que possibilita e fomenta um futuro de qualidade e feliz para o ser humano.

Estes procedimentos complementares das reuniões nas lojas maçônicas liberam intelectualidade, energias psicológicas, morais, emocionais e espirituais. Existe um intercâmbio de sensações, emoções, símbolos e estorinhas que constroem o ser humano para fazer frente às vicissitudes da vida. Esta convivência pacífica e prazerosa desperta o poder dos símbolos latentes em cada intelecto e que foram treinados, até de forma subliminar, na reunião do templo. Cada atitude exterior do maçom reflete uma disposição interior, que foi desenvolvida no templo. Os momentos de descontração e divertimento consolidam aquilo a que o maçom foi exposto em loja. É importante não sair correndo após os trabalhos da loja exatamente devido a esta característica de complementação do que se aprendeu no templo. Ambas as atividades tem igual importância na fixação de tudo o que se aprendeu. Se assim não ocorre na loja é porque existe algum problema que está dispersando os irmãos, e cabe a todos os mestres maçons examinar quais os motivos que levam à debandada dos irmãos após os trabalhos; motivos que podem ser a sinalização de simples apatia até o perigo de degradação dos relacionamentos da irmandade ao ponto de culminar com abatimento de colunas, além de tornar infrutífero tudo o que se desenvolveu durante a sessão.

A confraternização após os trabalhos da sessão é útil e obrigatória. É quando afloram as maravilhas dos símbolos e o ócio criativo em termos práticos. É o momento de gozar das delícias para as quais o corpo humano foi maravilhosamente projetado. Isto porque, o homem não foi feito para o trabalho abusivo e degradante, mas para em suas lides obter prazer e alegria. Os orientais dizem que é devido ao cidadão encontrar um trabalho que ama que ele nunca mais trabalhará na vida. É nos momentos de ócio que a mente humana cria as mais belas obras de arte, seja esta uma arte útil ou inútil. O que interessa é fazer jus de ser maçom, desenvolver para fazer o bem, criar mais e melhores obras que influenciem a sociedade para a honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.

março 24, 2022

COBERTURA DO TEMPLO DURANTE A SABATINA. ISSO EXISTE? - Pedro Juk



Em 01/09/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Gass, Loja Tríplice Aliança. 3.277, REAA, GOB-PR, Oriente de Toledo, Estado do Paraná, apresenta a consulta seguinte:

SABATINA - TEMPLO COBERTO AOS APRENDIZES E COMPANHEIROS

Surgiram alguns questionamentos em nossa Loja, sobre o Templo ser Cobertos aos Aprendizes e Companheiros que não participam da Sabatina para mudança de Grau. Alguns Irmãos, dizem que a presença deles nas Sabatinas, trarão mais conhecimentos e informações, e servirá como um aprendizado. É de costume em nossa Loja a retirada dos Irmãos Aprendizes e Companheiros que não serão sabatinados. Não encontrei nos Consultórios, informações a esse respeito. Gostaria de saber a posição do Irmão sobre o assunto.

CONSIDERAÇÕES:

Se a sessão for realizada num determinado grau, por óbvio que todos aqueles que têm grau suficiente para aquela sessão podem participar da mesma.

Esse costume anacrônico de se querer cobrir o Templo a Irmãos de um mesmo grau por conta de sabatina em que eles não serão ainda submetidos é atitude equivocada e não deve ser praticada. Essa prática não faz qualquer sentido, pois a Maçonaria não priva nenhum obreiro regular, do mesmo grau, de assistir instruções e exames inerentes ao seu aprendizado.

 Além do mais, é como se menciona na própria questão acima: é uma excelente oportunidade para se agregar mais conhecimento.

Ora, se esse costume procedesse, então, obrigatoriamente, seriam também filtradas instruções, bibliografias e outros afins de aperfeiçoamento conforme o tempo de atividade de um obreiro no se grau, entretanto isso não acontece, e sob nenhuma hipótese, tem embasamento legal.

Assim, compreenda-se que só existe “cobertura” nessas ocasiões (de instrução e sabatina) àqueles que porventura não possuam grau suficiente. Ao contrário disso é puro excesso de preciosismo haurido da ilegalidade de se privar um Irmão de participar dos trabalhos que ele tem direito de estar presente.

Coberturas a Irmãos nessas ocasiões só existem quando da avaliação do exame na sequência dos trabalhos. Nesse caso, a Loja será transformada noutro grau, por conseguinte todos (os examinados e os assistentes) que dela não puderem participar por falta de grau suficiente, terão para si então o Templo temporariamente coberto.

O ORADOR - Rui Bandeira



Nos Ritos de York e de Emulação existe um ofício, designado por Capelão, cuja função é dirigir a Loja na invocação do Grande Arquiteto do Universo, em oração coletiva que realça a espiritualidade da Maçonaria e reforça os laços entre os seus membros. 

No Rito Escocês Antigo e Aceito, o ofício de Orador é aquele cujo titular pode exercer a mesma função, mas que vai muito mais para além dela. O Orador não se limita à invocação do Grande Arquiteto do Universo. Aliás, em bom rigor, nem sequer é esse o principal escopo deste ofício. O Orador é o oficial da Loja encarregado de tirar as conclusões de qualquer debate. A discussão de qualquer assunto é levada a cabo segundo regras destinadas a permitir um debate sério, sereno e esclarecedor, em que cada um expõe a sua ideia e os motivos dela, mais do que rebater as ideias expressas pelos demais. Em reunião de Loja, procura-se que todos os membros se expressem pela positiva, isto é, afirmem as suas ideias, não pela negativa, limitando-se a criticar as opções dos demais. A forma como decorre o debate numa Loja maçónica já a mencionei no texto Decidir em Loja. E já aí referi que "No final, um oficial da Loja, o Orador, extrai as conclusões do debate, isto é, resumem as posições expostas, os argumentos apresentados, podendo ou não opinar sobre se existiu consenso ou sobre a decisão que aconselha seja tomada.

A função do Orador, porém, vai muito mais longe do que a sua intervenção para tirar as conclusões do debate. O Orador é, no clássico esquema da separação de poderes que Montesquieu nos legou, o representante do Poder Judicial na Loja. É ele que deve especialmente zelar e velar pelo estrito cumprimento dos Landmarks, usos e costumes maçónicos e pelo cumprimento das normas regulamentares, seja emanada da Grande Loja, seja da Loja. É a ele que cabe advertir os demais quando se lhe afigure que quaisquer destas normas estão a ser descumpridas ou em vias disso, em ordem a prevenir a indesejada violação. É a ele que, havendo infração suficientemente grave para justificar punição, cabe instruir o respectivo processo. É o Orador o único Oficial da Loja que tem a prerrogativa de poder interromper o Venerável Mestre, que à sua opinião se deve submeter, quando emitida em relação à aplicação ou interpretação de normas maçônicas.

O Orador da Loja zela e vela, em resumo, pela Regularidade da prática maçónica da Loja e de todos os seus obreiros. É, por isso, um ofício particularmente importante, que deve ser exercido por um maçon experiente, se possível um antigo Venerável Mestre. Mas, reconhecendo-se embora a importância deste ofício, deve-se ter presente que o seu titular não deve interferir na gestão da Loja. Tal compete especificamente às Luzes da Loja e, em particular, ao seu Venerável Mestre. Daí o paralelo que acima efetuei com a doutrina da separação de poderes. Daí a conveniência de o ofício ser exercido por mão e mente experientes. Ao Orador cabe prevenir infrações e excessos de poder. Deve, por isso, saber reconhecer perfeitamente os limites da sua própria função, sem, no entanto, deixar de exercê-la. Como em tudo o mais em Maçonaria, equilíbrio é a palavra chave...

março 23, 2022

A CONDUTA ÉTICA DO MAÇOM NA MAÇONARIA E NO MUNDO PROFANO - Ir. Josias do Santos


Penso ser importante na gênese deste trabalho apresentar ainda de que forma muito simplificada e limitada por certo aos meus escassos conhecimentos filosóficos um conceito acadêmico de ética.

O termo ética deriva do grego ethos que tinha o sentido de definir o caráter, o modo de ser de uma pessoa e a sua conduta em relação aos seus pares.

Ética seria, portanto, um conjunto de valores morais e de princípios que norteiam a conduta do individuo na sociedade. Uma boa conduta ética individual serve para que haja equilíbrio e um bom funcionamento social, possibilitando que ninguém seja privilegiado na sociedade.

Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, por que não representam um conjunto de normas sistematizadas e porque a sua não observância não implica em sansão, está relacionada sim com o sentimento de justiça social.

A ética se forma dentro do individuo e da sociedade com base nos valores históricos e culturais de determinado grupamento humano, pela visão filosófica a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Importante destacar que cada sociedade ou grupo possuem seus próprios códigos de ética.

A ética diferencia-se da moral na medida em que esta última se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos pelos indivíduos, a ética, por outro lado busca fundamentar o bom modo de viver, uma conduta correta sempre através da evolução do pensamento humano, depende, portanto da capacidade de cada individuo em assimilar estes conceitos e estar disposto a aplicá-los no seu dia a dia.

Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana, sendo a moral a qualidade desta conduta, quando analisada do ponto de vista daquilo que chamamos de bem e mal.

A fim de melhor compreender este conceito podemos dividir a ética em:

Metaética que se constitui na capacidade de se determinar se os valores de uma sociedade são bons ou maus, seria uma visão de segunda ordem eis que analisa teoricamente a valoração das condutas sociais, é uma analise filosófica da ética, uma analise do ponto de vista externo, busca determinar o status dos valores na estrutura de um determinado agrupamento social.

Ética normativa que estabelece concepções e princípios morais considera que uma ação é positiva quando leva o maior numero de pessoas possíveis a felicidade. Nesta linha as instituições, por exemplo, seriam justas quando suas normas sociais levassem o conjunto da sociedade à felicidade.

Ética aplicada constitui-se na aplicação de conceitos éticos as mais diversas áreas profissionais, como a advocacia e medicina, determinando através dos seus estatutos as condutas consideradas antiéticas por aquele determinado grupamento de profissionais que pode também prever a aplicação de sansões aos profissionais que mantenham uma conduta não ética.

Na área médica se poderia questionar se eventual decisão de transplantar este ou aquele paciente, poderia ser feita com base na aplicação de conceitos éticos.

Ética sociológica ou descritiva se presta a determinar que valores se sustentem em um determinado agrupamento social, baseia-se mais nas questões sociológicas, como por exemplo, determinar se o aborto é ou não aceitável, alguém que não segue a ética da sociedade a qual pertence é considerado de antiético, assim como o ato por ele praticado.

Atualmente vivemos uma crise ética sem precedentes que atinge a sociedade em todos os seus níveis, culturais e econômicos, neste sentido cabe lembrar Platão que defendia que sociedade ideal seria a dirigida por Guardiões sobre os quais pesariam tal grau de regras e responsabilidades que a escolha para ocupar estes cargos deixaria de ser um privilégio para tornar-se um sacrifício, só concebível para aqueles que conseguissem realmente compreender que a conduta correta exige perfeita identidade entre o bem comum e a satisfação pessoal, nesta linha podemos afirmar que uma conduta deixa de ser ética quando coloca a satisfação pessoal acima do bem comum.

Na utopia da sociedade perfeita preconizada por Platão os governantes seriam escolhidos unicamente por seus méritos, praticariam a harmonia completa do verdadeiro sentimento ético, sacrificando a si próprios em detrimento do bem comum, sem outra recompensa que não a gratidão de seus semelhantes.

Deveriam ser homens de vontade férrea que não teriam famílias nem posses e viveriam numa fraternidade na qual não existiria espaço para a hipocrisia ou a vaidade.

Já naqueles tempos também Sócrates identificou a pouca preparação intelectual dos dirigentes, destacando sempre que era incompreensível que para as tarefas mais triviais se exigisse preparação, mas que aos governantes bastava ser capazes de conduzir pela demagogia ou pela compra de votos à massa das populações, tal qual ocorre em nossos dias em que para se assumir um cargo de nível médio no setor público se exige aprovação em concursos concorridíssimos e para assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados não se exige sequer que o candidato saiba interpretar um texto.

Interessante considerar que a ética não deve ser confundida com a lei, muito embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos.  Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas, por outro lado, a lei com grande freqüência pode ser omissa quanto a questões relacionadas à ética.

Ou seja, em muitas situações uma conduta antiética pode ser legal, fato comum em nosso tempo em que políticos recebem, com base nas leis, duas ou até três aposentadorias enquanto o homem comum quando muito recebe uma, podemos dizer que esta conduta não é ética porque privilegia o interesse particular em detrimento do bem comum, já que é o conjunto da sociedade que subsidia as aposentadorias dos marajás através do pagamento de impostos que deveriam ser destinados a beneficiar o conjunto da coletividade e não a uma casta dominante.

Então temos meus Irmãos que se poderia afirmar que a essência da ética se fundamente na dualidade entre o bem comum e o bem individual, sendo que o comportamento ético é aquele que é considerado bom, devemos nos perguntar a todo o momento como devemos agir perante os outros, esta pergunta por certo é de alta indagação e de difícil resposta tanto para um profano quanto para um Maçom.

Sendo, portanto exigível do homem comum no seu dia a dia uma conduta ética, muito mais se exige do Maçom, eis que este se propõe a ser um homem livre e de bons costumes, deve o Maçom ser um exemplo de cidadão e buscar o aperfeiçoamento constante no que diz respeito ao seu caráter.

Evidentemente que manter uma conduta ética irretocável a exemplo do que pregava Platão com os seus guardiões implica e grande sacrifício e constante questionamento, o fato de que a ética não está em regra geral vinculada às questões legais nos coloca em situações diárias em que temos que decidir entre adotar uma conduta ética ou simplesmente observar o que é legal.

O manto da legalidade pode em muitos casos servir como justificativa para uma conduta antiética, como ser criticado se aquilo que se fez é permitido pela legislação do grupo social em que vivemos, essa crítica tem que ser interna e depende por óbvio do nível de desenvolvimento do individuo e da sua capacidade de entender que o bem comum está acima dos seus interesses pessoais.

Eugênio Bucci, em seu livro Sobre Ética e Imprensa, descreve a ética como um saber escolher entre "o bem" e “o mal", levando em conta o interesse da maioria da sociedade. Ao contrário da moral, que delimita o que é bom e o que é ruim no comportamento dos indivíduos para uma convivência civilizada, a ética é o indicativo do que é mais justo ou menos injusto diante de possíveis escolhas que afetam terceiros.

Entendo que a conduta ética deve estar muito mais ligada a nós como indivíduo do que propriamente a nossa condição de ser ou não Maçom, talvez por isso se diga que em geral o Maçom já era Maçom antes de ser iniciado, não se inicia alguém que não possua uma conduta ética correta.

Evidentemente que a nossa conduta em relação à sociedade tem muito da educação que recebemos da nossa família, assim como da nossa formação religiosa e das academias por nós frequentadas, tudo aquilo que ao longo da nossa formação conseguimos absorver do ponto de vista do conhecimento e da capacidade em desenvolver o nosso pensamento e a nossa visão de mundo se reflete na pessoa que somos e por consequência em nossa conduta social.

A Maçonaria por certo contribui para este desenvolvimento na medida em que nos proporciona um ambiente onde podemos discutir estas matérias de alta indagação, a busca do aperfeiçoamento humano talvez seja o principal legado da Maçonaria sendo os Maçons elementos de divulgação destas qualidades tendo em vista que transferem para a sua vida profana os ensinamentos absorvidos na fraternidade.

A prática de fazer o bem aos Irmãos e a Maçonaria em geral é dever de todo o Maçom dele não se espera outra conduta que a não do respeito às diferenças e a busca constante em identificar nos Irmãos e em nossa fraternidade aquilo que de melhor tem a nos oferecer, procurando sempre destacar as qualidades e entender e perdoar os eventuais defeitos, as críticas devem sempre ser construtivas e dentro do possível ser dirigidas as condutas praticadas e não aos indivíduos.

A arrogância, a soberba, o desrespeito as idéias dos Irmãos por certo não podem ser consideradas como uma conduta Maçônica em Loja devemos sempre ouvir mais do que falar e pensar muito antes de falar, pois uma palavra dita jogada ao vento não pode ser corrigida.

Concluindo meus Irmãos podemos dizer então que uma conduta ética, seja na maçonaria, seja na vida profana está intimamente ligada com a nossa capacidade de saber identificar o bem e o mal e de optar pela prática do bem ainda que isso implique em determinado sacrifício, sendo sempre o bem comum o objetivo principal daquele que se julga ético e mais ainda daquele que se julga um bom Maçom.

ÉTICA E VIRTUDE - Valdemar Sansão


O homem deve submeter-se a uma moral que lhe diga o que deve e o que pode fazer, e o que não deve e não pode fazer.

Ética é o estudo filosófico de natureza e dos fundamentos do pensamento e das ações morais. 

As teorias éticas, no sentido puro do termo, são marcadamente diferentes dos sistemas ou doutrinas morais, que têm por objetivo a elaboração de conjuntos específicos de regras de conduta que orientem a vida (por exemplo, a moral cristã facilita a possibilidade de retribuir à sociedade em bens os males que praticou). 

Também se distingue pela prática aplicada, que analisa os argumentos empregados para embasar determinadas premissas ou conclusões morais (por exemplo, a condenação ou aceitação do aborto).

A Maçonaria é uma sociedade onde os homens devem viver como Irmãos, respeitando, cada um, os direitos dos outros e se compenetrando que toda a humanidade é filha de Deus, que cada ser humano é tão caro ao Pai como todos os outros, procura levar estes conceitos para a sociedade em geral. 

Isso leva à conclusão de que, na organização designada, genericamente, como Maçonaria, ou Franco-Maçonaria, deve prevalecer a harmonia e reinar a união ou convivência como de Irmãos.

A Maçonaria, como Fraternidade, deve ser uma Instituição fundamentalmente ética. Sendo até, pela sua definição, uma organização ética, de rígidos códigos de moral e alto o sistema de valores que orientam a conduta dos Maçons, e a quantos queiram ter um comportamento ético-maçônico:

- Reconhecer como Irmão todo Maçom e prestar-lhe, em quaisquer circunstâncias, a proteção e a ajuda de que necessitar; principalmente contra as injustiças de que for alvo; 

- Haver-se sempre com probidade, praticando o Bem, a Tolerância e a solidariedade humana;

- Não são permitidas polêmicas de caráter pessoal nem ataques prejudiciais à reputação de Irmãos, nem se admite o anonimato.

- Sobretudo, a mais importante regra ética do Maçom é a prática do Bem. 

É a prática efetiva da Virtude. 

A Virtude é o hábito de praticar o Bem.

O comportamento ético-maçônico deve constituir o nosso modo de ser e de agir em todas as circunstâncias éticas da vida. 

Ao Maçom compete manter uma conduta ética no cotidiano, e que estabeleça com o seu semelhante e a sociedade ainda que em detrimento de seu interesse pessoal. 

Para isso deve consultar sempre sua consciência, onde está escrita a lei de Deus.

Aristóteles (384-322 a.C.) não separava a ética da virtude. 

Todos os atos virtuosos são éticos e bons. 

Pelos atos que pratica pode-se conhecer se uma pessoa é virtuosa ou não. Pelo modo de se portar, logo ficamos sabendo se um irmão é ou não, um bom Maçom.

Kant, faz do conceito de dever o ponto central da moralidade (chamada “deontologia”, ou seja, o estudo dos princípios, fundamentos e sistemas de moral). 

Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em si mesma (e não apenas boa como meio ou instrumento) é a “boa vontade” ou boa intenção, aquela que se põe livremente de acordo com o dever.

Existe, para todos os homens, uma força inspiradora absoluta, universal que se chama DEVER – a obrigação moral que cada um de nós tem, de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. 

Para o Maçom, como homem honesto, é simples e fácil; requer honestidade, sinceridade, simplicidade, lealdade, estudo e a disposição de ensinar, o que é capaz de fazer, bastando a compreensão de nós mesmos como limitados e ignorantes. 

Quando temos a força e a sabedoria de Deus, cumprimos nosso dever recebendo d’Ele aquilo que é necessário e está acima de nossas forças.

O conhecimento de dever, segundo Kant, é consequência da percepção, pelo sujeito, de que ele é um ser racional e que portanto está obrigado a obedecer ao que Kant chamou “imperativo categórico”: a necessidade de se respeitar todos os seres racionais na qualidade de “fins em si mesmos”. 

As ideias de Kant acerca da moralidade estão estreitamente ligadas à sua visão do livre arbítrio. 

O homem possui o livre arbítrio, podendo escolher o seu destino – O Bem ou o mal. 

Os atos morais são livres, podem ser escolhidos. 

Assim sendo, quem os pratica, é responsável por seus efeitos. 

A responsabilidade é moral, quando o individuo responde por seus atos perante a sua própria consciência, e social, quando responde por eles perante a sociedade que o julgará pelas leis que regem o grupo, levando-o a formular e praticar uma nova filosofia de vida, uma nova conduta ética.

O terceiro sistema dentro da ética é o utilitarismo – sistema ou modo de agir do individuo utilitário que conhece seus deveres, desfruta do gosto de fazer o Bem, conhece o atrativo da Pura Virtude, segundo o qual o objetivo da moral é o de proporcionar “o máximo de felicidade ao maior número de pessoas”. 

Pensado verdade, uma mentira não acha sitio em sua mente; pensado amor, o ódio não poderá turbá-lo; pensado sabedoria, a ignorância não poderá paralisá-lo. 

O homem que aprende esta lição prática, encontrará pronto seu valor e descobrirá que, pelo reto pensar, a vida pode fazer-se mais nobre, bela e ditosa.

ÉTICA MAÇÔNICA 

O conceito maçônico de Ética se confunde com o de Moral. 

Sendo a moral em resumo a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o Bem do mal, fundamenta-se na observância da lei Divina. 

O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos.

Depende da vontade de cada um praticar a Virtude, isto é, qualidade própria do homem, o que implica força, coragem. 

As virtudes seriam, portanto, as “forças que ornam o caráter”. 

Para a Maçonaria, a Virtude é a disposição habitual para o bem e para o que é justo e, por isso, nela vê a prova da perfeição e o próprio ideal do Maçom. 

Ela nos ensina, em seus Rituais, que devemos erigir templos à Virtude e cavar masmorras ao vício.

Entenda-se o Bem (Virtude) tudo o que e conforme a lei de Deus; o mal (vício), tudo o que lhe é contrário. 

Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. 

Fazer o mal é infringi-la. 

Daí vê-se a importância que a Maçonaria dá a essa questão.

A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal em favor do próximo, sem pensamento oculto.

Na fase histórica que vivemos, a sociedade graças ao rompimento de sua estrutura familiar e o avanço avassalador da imoralidade, enfrenta uma das maiores crises éticas, quando a vida humana sofre enorme violência, quando crescem a miséria e a exclusão social e quando aumenta a desilusão diante das promessas de bem-estar econômico, quando a solidariedade é moeda em baixa; o respeito às demais pessoas é praticamente inexistente; o acatamento da lei e da ordem vai escorrendo pelo ralo; a deslealdade no sentido de auferir vantagens, vai de vento em popa, quem está por cima pisa na cara de quem está por baixo e quem está por baixo tenta puxar quem está por cima.

A Maçonaria conclama os Maçons a enfrentar com coragem os desafios cotidianos, a não esmorecer no empenho da justiça social, reconhecendo em cada pessoa a dignidade de filho de Deus.

Devemos combater o erro, ser tolerantes, mas nunca coniventes, fingindo não ver ou encobrindo o mal praticado por outrem.

Os Maçons devem dar exemplos de moral, de ética e de virtudes. 

Afinal nossa Sublime Instituição afirma ser: – educativa, filantrópica e filosófica que tem por objetivo os aperfeiçoamentos morais, sociais e intelectuais do Homem por meio do culto inflexível do Dever, da prática desinteressada da Beneficência e da investigação constante da Verdade. 

Afinal, reconhece-se o verdadeiro Maçom pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.


março 22, 2022

A ÁGUA CHORA ! - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Bernardo do Campo é notável poeta e intelectual maçônico


A maltratada Terra implora

Grande e urgente união

Unificando forças agora,

Ao combate à devastação


Ao ar, à fauna, à flora,

Grave ofensa e  degradação

Um  desrespeito  que aflora

Ao SENHOR, pela população 


Assim também a ÁGUA chora 

Gritando  por preservação

Um gesto de amor, sem demora,

Antes de sua aniquilação !


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SER e TER - Rui Bandeira



O episódio de Diógenes e Alexandre é conhecido. Relembremo-lo.

Diógenes, filósofo grego que chegou a ser professor de Alexandre da Macedónia, questionando os costumes do seu tempo e a necessidade da posse de bens materiais, a certa altura começou a levar uma vida totalmente desprendida, ao ponto de morar dentro de um barril e ter como seu único bem pessoal uma vasilha com água. Mesmo essa, acabou por a deitar fora, depois de se aperceber que lhe bastava juntar as duas mãos e recolher a água de qualquer nascente ou curso de água, para a beber ou se lavar.

Quando Alexandre invadiu a Grécia, fez questão de visitar o seu antigo professor. Encontrou-o sentado ao sol, entregue aos seus pensamentos. Disse-lhe:

- Diógenes, como sabe conquistei a Grécia, que agora faz parte do meu Império. Como foi meu professor e sempre o admirei, quero recompensá-lo. Que deseja?

Diógenes manteve o silêncio, meditando. Alexandre e todos os que o acompanhavam aguardavam, expectantes e curiosos, a resposta que o filósofo daria, o pedido que faria.

Então Diógenes respondeu ao poderoso Alexandre:

A única coisa que neste momento me faz falta, aquilo que te peço, Alexandre, é que saias da frente do Sol, pois a tua sombra impede que os seus raios me aqueçam!

Alexandre, magnífico Imperador, grande conquistador, líder de numeroso e forte exército era, na época, o homem que praticamente tudo tinha, quase tudo podia. Era o homem mais rico, mais poderoso, mais temido, que de mais podia pôr e dispor naquele tempo e naquelas paragens. Tinha.

Diógenes nada tinha de seu, exceto o barril onde se acolhia e o que a Natureza lhe proporcionava. Mas era sabedor e respeitado e vivia sereno e feliz. Não pelo que tinha. Pelo que era.

A frugalidade de Diógenes era exagerada. Mas correspondia às suas necessidades. E ele nada mais queria do que isso. Para ele, o importante era o que ele era, não o que ele tinha. Para ele, os outros - todos, até o rico e poderoso Alexandre - valiam pelo que efetivamente eram, não pelo que tinham. No momento em que respondeu a Alexandre, para ele, Diógenes, o Imperador era apenas alguém que lhe tapava o Sol. Nada mais, pese embora toda a sua riqueza e todo o seu poder.

Nos dias de hoje, quantas vezes nós, embrenhados no afã de nossas vidas ocupadas, não discernimos, nem sequer nisso pensamos, se o que já temos não será suficiente para a nossa vida. E continuamos preocupados em TER. Ter isto, comprar aquilo, obter aquele outro bem.

E, se não tivermos cuidado, o tempo passa e, um dia, damo-nos conta de que nos esfalfámos a trabalhar, nos esgotámos de esforço, para ter uma coisa e logo outra e seguidamente uma outra, numa infindável sucessão, e, entretanto, nos esquecemos do essencial, do que realmente é importante: de viver e de sermos felizes!

E, se bem virmos, para sermos felizes, não precisamos de tanto TER. Podemos e devemos dar-nos conta que o mais importante na vida é SER. Ser, simplesmente ser, objetivo tão simples e, se calhar por isso, tão esquecido, mas que tantas vezes nem sequer é difícil de atingir, de realizar.

Deixemos de buscar TER. Preocupemo-nos em SER. Ser feliz. Ser amado. Ser... gente!

Quem o fizer, não demorará muito a perceber que, afinal, quando se É é-se muito mais feliz do que quando apenas se TEM.

E, no entanto, muitas vezes o TER, tem-se logo, enquanto porventura se leva uma vida inteira para se conseguir SER. Mas, enquanto que o que temos pode ser perdido súbita e inesperadamente - um acidente, uma catástrofe, um azar, uma má decisão, tudo isso e muito mais pode levar-nos o que temos -, o que somos nunca se acaba nem se perde!

O SER, uma vez conseguido, é perene. O TER é passageiro - e, mesmo que dure muito, não nos traz necessariamente felicidade.

Tentemos, pois, SER e preocupar-nos menos com o TER. Se calhar, assim descobrimos que o caminho para se ser feliz é muito mais curto e acessível do que julgávamos!