março 31, 2022

TELHAMENTO OU TROLHAMENTO - Pedro Juk





Em 30.06.2014 o Respeitável Irmão Clovis Luciano de F. Júnior, sem declinar o nome da Loja, Rito, Obediência, Cidade e Estado da Federação apresenta a questão seguinte.

Caros amigos da redação Trolha, eu comprei um livro recentemente os Cadernos de Bolso de Aprendiz, Companheiro e Mestre; e lendo o Caderno de Aprendiz na pagina 63 sobre o telhamento ou trolhamento? O livro nos diz que o correto é telhamento, mas li em outro livro que na verdade seria trolhamento porque consultando o dicionário priberam da língua portuguesa de português europeu, trolha é aquele operário que assenta e conserta tijolos, logo trolhamento seria assentar e consertar telhados já o telhador é aquele que telha e o verbo telhar significa cobrir com telha. Eu li um livro muito interessante do Kennyo Ismail que me deu uma base muito mais sólida para esse assunto. Gostaria de saber uma posição de vocês em relação a isso.

Considerações: 

Assim se pronuncia o Novo Dicionário Aurélio – atualizado e versão eletrônica: 

Trolha - Substantivo feminino - 1. Espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa que vai usando. 2. Brasil - Desempoladeira. Substantivo masculino. 3. Pedreiro ruim. 4. Servente de pedreiro. 

Telhar - Verbo transitivo direto - 1. Cobrir com telhas; atelhar. Telhador (De telhar + -dor) - Substantivo masculino - 1. Aquele que telha.

Telhadura (De telhar + -dura) - Substantivo feminino - 1. Ato ou efeito de telhar. 2. Lugar onde se fabricam telhas. 

Neologia – Substantivo feminino - 1. Emprego de palavras novas, ou de novas acepções. 

Neologismo - Substantivo masculino - 1. Palavra ou expressão nova numa língua. 2. Por extensão - Significado novo que uma palavra ou expressão de uma língua pode assumir. 

Ponderações sobre os termos “telhamento e trolhamento” em Maçonaria: 

A origem dos “trabalhos cobertos” vem dos canteiros medievais onde os planos da obra, contratos de trabalho e o ensinamento da “arte” eram sigilosos. Essa prática estendeu-se para a Maçonaria Especulativa e por extensão a Moderna Maçonaria. 

Nesse caso a referência feita à “cobertura” significa exatamente o sigilo no trato dos acontecimentos e assuntos maçônicos dentro da Loja. Assim o rótulo assumiu o neologismo maçônico de “telhamento” pela cobertura dos trabalhos – ninguém pode ver nem ouvir o que se passa no canteiro (Loja). Desse costume apareceria o cargo do Cobridor como aquele que figuradamente cobre os trabalhos na Loja. Dependendo da vertente maçônica existe o Guarda Externo (francesa) e o Tyler (inglesa), assim como os conhecidos Cobridores, ou Guardas Internos. 

Como o termo se refere ao sigilo, os Sinais, Toques e Palavras guardados como verdadeiros segredos da Ordem assumiram também as características de “cobridores do grau”, posto que além de afastar bisbilhoteiros, preserva os segredos de cada grau, dando o caráter de qualidade para o maçom participar ou não de uma sessão de acordo com o seu nível de aprendizado. 

Assim o termo “cobertura” identifica-se com “telha” que, por extensão dá o caráter de “telhamento” (neologismo – termo encontrado no idioma vernáculo é telhadura). Também dessa associação apareceria o uso da palavra “goteira” para um não iniciado (costume adquirido pela má cobertura do recinto). 

Infelizmente, embora já exaustivamente explicado, alguns ainda produzem o equívoco de confundir “telhamento” com “trolhamento”. Essa interpretação enganosa foi inserida nos rituais brasileiros de há muito tempo atrás e veio se reproduzindo como uma erva daninha, embora alguns autores ainda “tentem” achar uma justificativa para a mesma. 

A palavra “trolha” rotula um instrumento usado pelo pedreiro no seu ofício. Ela pode ser a “colher de pedreiro”, ou a “desempoladeira, ou desempenadeira” donde o artífice se serve da argamassa e alisa a superfície para aparar arestas. Desse procedimento operativo, surgiria o termo figurado de “trolhamento” (outro neologismo maçônico) sugerindo a ação de aparar rusgas por eventuais desentendimentos entre os Irmãos. 

Assim, o ato do trolhamento significa apaziguar, enquanto que o de telhamento implica em cobrir. Afinal cobre-se um recinto com telhas ou com trolhas? O que não faz sentido é fazer analogia do trolhamento com o sigilo e o segredo maçônico, já que como Landmark específico o sigilo e o segredo fazem parte da “cobertura dos trabalhos maçônicos”, e nunca da digamos... “trolhadura dos trabalhos”. 

Definições maçônicas para os termos: 

Telha (do latim tegula) – substantivo feminino: designa uma peça, em geral de barro cozido, usada na cobertura de edifícios. 

Telhador – substantivo masculino: designa aquele que telha. 

Telhadura – substantivo feminino: designa o ato ou efeito de telhar. 

Telhamento – neologismo maçônico: designa o mesmo que telhadura. 

Trolha (do latim trullia, variação do latim trulla) – substantivo feminino: designa uma espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa da cal que vai se servindo. Designa no Brasil, também a desempoladeira; a desempenadeira. 

Trolhamento – neologismo maçônico: designa o ato ou efeito de trolhar (neologismo). 

Telha – Na Maçonaria moderna como uma “construtora social”, os instrumentos de trabalho e materiais são simbolicamente os dos construtores de edifícios. Assim a cobertura do Templo também está em não permitir a presença de intrusos e bisbilhoteiros. Simbolicamente é feita a cobertura com telhas através do Telhador, por extensão o Cobridor, ou aquele que cobre. É a origem do termo “goteira” que em Maçonaria significa o lugar descoberto, ou o bisbilhoteiro que espiona os trabalhos – para que isso não venha acontecer o Cobridor “cobre o Templo”. 

Telhador – Como oficio daquele que cobre de telhas. Em Maçonaria recebe também o título de Cobridor, ou o Guarda do Templo, a quem compete o ato de “telhar”, ou fazer o “telhamento” naqueles que se apresentam à porta do Templo para verificar a sua qualidade maçônica de iniciado, bem como o seu Grau conforme o trabalho da Loja. 

Telhar – verbo transitivo direto significa o ofício de cobrir com telhas. Em Maçonaria compete ao Cobridor, ou Telhador, o ofício de telhar, ou examinar nos toques, sinais e palavras, os visitantes que se apresentam à porta do Templo no intuito de verificar se os mesmos são realmente Maçons e posteriormente se certificar da qualidade maçônica conforme o Grau para ingressar nos trabalhos que estão sendo realizados. Infelizmente o termo tem ainda sido confundido com o ato de “trolhar”, que verdadeiramente significa o ato de “passar a trolha”. Assim, trolhar nesse caso é termo altamente incorreto para se designar o referido exame, já que telhar está ligado ao ato de cobertura e cobertura é feito com telhas, não com trolhas. Do mesmo modo o Cobridor, ou Telhador não possui o título de “trolhador” em qualquer Rito ou Trabalho maçônico. 

Trolha – a Moderna Maçonaria como construtora social, viria absorver inúmeros instrumentos da arte de construir. Sob esse prisma a trolha não deixaria de nela ter um importante significado simbólico. Alguns autores, provavelmente pela etimologia da palavra, defendem a tese de que a trolha seria a colher de pedreiro. Contudo seja ela a colher de pedreiro, seja ela a desempoladeira, ou desempenadeira, conforme a definição apontada por bons dicionaristas do idioma vernáculo, a verdade é que ela, dentro das suas funções, serve para alisar a argamassa aparando e preenchendo as rugosidades. 

Nesse sentido a trolha e o ato de trolhar (neologismo maçônico) significa o meio que é usado para apaziguar os Obreiros que porventura estejam em litigio - aparar arestas. Esse apaziguamento, ou esse entendimento é rotulado pelo neologismo maçônico como “trolhamento”, já que trolhar designa o ato de passar a trolha. 

Lamentavelmente o termo “trolhamento” ainda tem sido equivocadamente usado em lugar de “telhamento” como se ambos tivessem o mesmo sentido. 

Finalizando: “telhamento” é um dos ofícios do Cobridor quando verifica a qualidade maçônica de um visitante. Já “trolhamento” significa o ato de apaziguar eventuais rusgas ou desentendimentos entre os Irmãos. 

O Cobridor Externo no Craft (inglês e norte-americano) é o “Tyler”. 

Desculpe o abuso do “prolixo”, todavia é uma das armas para combater essas carcaças de dinossauro – a insistência do tal “trolhamento” para a verificação. 

Finalizando, o Caderno de Bolso “A Trolha”, Instruções para a Loja de Aprendiz, R∴E∴A∴A∴ no que concerne a vossa questão está corretíssimo.

março 30, 2022

SHITTIM OU A ACÁCIA BÍBLICA


A acácia é um grande símbolo da Maçonaria! Mas que acácia é?

A árvore que chamamos por esse nome na França é de fato a falsa acácia ou robinia - com flores brancas ou rosa -, sólida em seu tronco muito reto, decorativa com suas folhas bem compostas e caducifólias. Acácia é algo completamente diferente...

Uma enciclopédia explica: "A acácia é uma árvore espinhosa da família das leguminosas, com flores perfumadas, dispostas em cachos, das quais uma espécie fornece goma arábica, outra existe: a mimosa, de origem australiana. Na França, duas espécies de mimosa são comumente difundida: a mimosa "quatro estações" com suas longas folhas lanceoladas, mais longas e mais estreitas que as da oliveira, e a mimosa de inverno que possui pequenas folhas compostas semelhantes a pequenas samambaias de alguns centímetros de comprimento, bem como as famosas flores amarelas com forte fragrância".

A acácia que nos interessa, a acácia da Bíblia, o " Sittim " (ou Sethim), não corresponde a nenhuma das variedades presentes na França.

Em Israel, os beduínos reconhecem pelo menos cinco espécies de acácia;

algumas próximas à nossa mimosa das quatro estações, outras à acácia de inverno, mas menos frondosas e providas de espinhos simples ou duplos madeira e cujos galhos são cobertos de espinhos de três a cinco centímetros. Na junção dos espinhos e do galho crescem minúsculas folhas compostas, laços liliputianos de quinze a vinte e cinco milímetros.

É com madeira de Shittim que os hebreus fizeram a Arca da Aliança e certas partes do mobiliário sagrado do Tabernáculo.

A aparência irregular dos ramos não deixa, aliás, de colocar problemas para os exegetas, alguns dos quais pensam que pode ter existido, nos tempos bíblicos, Shittim de uma variedade mais esbelta com ramos retos, enquanto outros referem-se às lendas que relatam que o nome de Shittim evoca cedros que teriam sido plantados no deserto para a construção da Arca por ancestrais visionários.

No Sinai, diz-se que a acácia representa a morte... porque nada cresce ao redor, pois suas longas raízes anseiam pelo menor vestígio de umidade (mais de cinco metros às vezes). Diz-se também que é um símbolo de imortalidade, de pureza, porque tem fama de ser à prova de podridão.

E é com os seus ramos que foi tecida a coroa de espinhos de Cristo...

Tudo pode estar lá!

Fonte: Secreto masónico

O ANALFABETISMO MAÇÔNICO NO SÉCULO XXI - José Martins



O analfabetismo de ontem era o iletrado, não conhecedor do alfabeto, hoje analfabeto é aquele indivíduo que mesmo sabendo ler não consegue interpretar um texto, ou seja, não entende o que leu.

Isso ressalta no Brasil uma marca de aproximadamente 30 milhões de analfabetos funcionais.

O desígnio da Maçonaria é, em suma, o de tornar o homem maçom mais sábio e melhor, e consequentemente, mais feliz.

A sabedoria é inútil a menos que se ponha em prática.

Se você não estiver disposto a vivenciar a maçonaria, não procure conhecer os seus grandes mistérios.

Esse conhecimento traz em si a responsabilidade do uso e da obediência: é impossível esquivar-se dessa responsabilidade.

Deveríamos, e poucos IIr.’. procuram, estudar, entender, compreender e interpretar melhor o significado real de algumas passagens dos textos primitivos da Maçonaria, anterior à instrução da primeira Grande Loja de Londres e a Constituição de Anderson.

Dentro da instituição Maçônica, existem diversos segmentos a serem seguidos, tais como: a ação política maçônica; a defesa dos interesses da comunidade; a avaliação internamente dos problemas estruturais da sociedade, etc.

Mas é de fundamental importância, procurarmos ler e interpretar nossos rituais bem como nosso riquíssimo simbolismo.

O maçom, dentro do seu campo de atuação, pode-se assim concluir, que ele está certo, mas há de nos conscientizarmos, ou seja, existem IIr.’. que, apesar da capacidade de ler, maçonicamente não possuem capacidade de interpretar ou entender o que foi lido.

A interpretação da nossa simbologia, que além de importante, é de inteira responsabilidade individual de cada um de nós; e é no processo dessa interpretação pessoal que se pode entender a sobrevivência da nossa Ordem Maçônica como um “mistério”.

Para que possamos, com o secreto que se reserva entre nós, o de conhecermos entre si em qualquer parte do mundo e a forma de interpretar símbolos e seus ensinamentos.

Isso só se torna conhecimento desde quando fomos iniciados.

Na nossa instituição maçônica, ouvimos e falamos muito em filantropia, mas a verdadeira filantropia deve estender-se a todos os homens, indistintamente.

Filantropia verdadeira é ajudar o semelhante a emergir de sua pobreza material, de seu analfabetismo, de sua ignorância, devolvendo-lhe o amor próprio e a responsabilidade social.

No seio da nossa instituição, por meio dos nossos ensinamentos e do próprio simbolismo, a sabedoria é um crescimento da alma, e a recompensa do trabalho e do esforço, que não pode ser adquirida se não pelo seu igual valor em sacrifício.

Cada vez que você progride ao olhar para trás, perceberá ter passado pelo altar dos sacrifícios, algo que representa o trabalho de suas mãos e de seu coração, simbolizando que, por meio do trabalho, retribuirá aos seus IIr.’. e à humanidade os benefícios que recebeu gratuitamente.

Respeitando-se integralmente os Landmarks e os 33 mandamentos da Maçonaria e, considerando as faixas de ação da política maçônica, concluímos que devemos nos empenhar, como IIr.’. e instituição (Lojas), em defesa dos interesses maiores da comunidade.

Isso significa fazermos política comunitária; discutir e avaliar internamente os problemas estruturais da sociedade em que vivemos, ajudar a encontrar soluções e colaborar em suas implementações.

Acredito, e boa massa de IIr.’. também acreditam, que neste Brasil afora muitas Lojas vêm fazendo exatamente isso, seja nas áreas educacional, de assistência social, de saúde pública, de ecologia e tantas outras.

Para finalizar, é importante repassar e dizer que, talvez porventura, no século XVIII se justificasse o analfabetismo nos diversos segmentos.

Então imperava o analfabetismo, muitas das ciências davam os primeiros passos, o Iluminismo era ainda recente… mas, nos dias atuais, que interesse e justificação têm pedir-se a homens cultos, muitos licenciados e doutorados que … estudem o homem e as ciências e as artes?

Tudo isso são interrogações legítimas, preocupações compreensivas, hesitações evidentes.

Mas por tudo isso é necessário passar, para se concluir a formação maçônica.

março 29, 2022

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE SEGREDOS E MISTÉRIOS? - Almir Sant'Anna Cruz



SEGREDO: É algo simples que não carece de tempo, estudo ou pesquisa para ser compreendido. É algo oculto que ao ser revelado deixa de ser segredo. Assim, a grande maioria dos ditos segredos maçônicos são, na verdade, o que se conhece como “Segredos de Polichinelo”, ou seja, informação que deveria ser secreta, mas que já é do conhecimento de todos;

MISTÉRIO: Mistério não é Segredo, não é algo oculto, é algo que necessita de tempo, estudo, pesquisa, conhecimento e percepção para ser entendido. 

Invariavelmente as antigas instituições filosóficas e religiosas dividiam seus ensinamentos em públicos ou exotéricos (de caráter geral e ético, ministrados sob a forma de contos, alegorias e parábolas) e restritos ou esotéricos (de caráter individual e místico, reservados aos iniciados). 

Jesus também assim procedeu. Na Bíblia podemos confirmar que se para o público em geral seus ensinamentos eram limitados e por parábolas, para seus discípulos tudo lhes era revelado: Marcos 4:11: E ele disse-lhes: A vós é dado saber os MISTÉRIOS do reino de Deus, mas aos que estão de fora, todas estas coisas se ensinam por parábolas. 

Marcos 4:34: E sem parábolas nunca lhes falava; porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.

Então meus IIrm.’. a esse Mistério, chamamos o “Grande Segredo”, que não é comunicado nem confiado, é algo incomunicável, pois a linguagem humana é incapaz de traduzir, uma vez que as palavras correspondem a conceitos ao passo que o pensamento esotérico eleva-se acima do pensamento conceitual. 

Nenhum profano, que eventualmente teve acesso aos ditos “Segredos”, deles nada extrairá, pois somente quem foi ritualmente iniciado, quem viu a Luz Maçônica, poderá estar instrumentalizado a acessar O Grande Segredo, que é algo individual e que nem todos alcançam e, talvez por isso, por não terem alcançado o “Grande Segredo”, muitos acham que tudo é Segredo na Maçonaria.


WHATSAPP E A MAÇONARIA - Sérgio Quirino



A perpetuidade da Maçonaria se funda justamente na manutenção de nossas tradições, sem nos tornamos arcaicos.

Arcaico, aqui, se refere ao antiquado, obsoleto e não ao tradicionalismo: do latim traditio, que é “passar adiante” ou “entregar” algo.

No compartilhamento das instruções, transmitimos os valores morais e éticos contidos nos símbolos, gestos e marchas.

Através da ritualística e por meio do conteúdo da lenda e do respeito à hierarquia, buscamos o sentido da formação do Ser.

Tudo o que é novo causa algum tipo de atrito entre o “antigo” e o “moderno”.

Assim foi quando os balaústres começaram a ser gravados, já que prometemos nada grafar.

Hoje, não há conflitos quanto ao uso de computadores para a lavratura.

Mas, já ocorreram embates quanto à substituição do Livro de Atas lavrado à caneta, na reunião pela folha impressa numa “profana impressora” (já que ela estaria fora do Templo) em data posterior a reunião.

O que dizer, então, da luz elétrica, da harmonização feita por pen drive em micro system e dos aparelhos de ar condicionado?

O PROBLEMA DAS “MODERNIDADES” NÃO ESTÁ NO USO, MAS NO MAU USO.

O aplicativo WhatsApp, esta fantástica ferramenta de comunicação, aproximação e estreitamento de laços tem, frequentemente, provocado exatamente o contrário.

WhatsApp vem da expressão em inglês “What’s up?” substituindo o “up” por app, de “application program”. Se traduzido para o português a expressão tem significa:

- E aí?   - O que esta acontecendo?     - Qual é o problema?

O aplicativo tem este nome justamente para que possamos compreender sua missão.

A plataforma destina-se a mensagens rápidas, objetivas e direcionadas.

Sejamos sinceros: O que temos praticado são, na maioria das vezes, desvirtuamentos.

Nos grupos criados sob o tema “Filosofia”, vemos Irmãos postando imagens e textos sobre futebol; grupos de Lojas Maçônicas com cenas de nudez, grupos de Hospitalaria onde o assunto predominante é política partidária.

Algumas reflexões:

Se você acorda cedo, parabéns!

Mas, é realmente necessário enviar um mero “Bom dia”, às 5, 6, 7 horas da manhã, para todos os 20 grupos que você e a maioria de seus Irmãos fazem parte? 

Doação de sangue para um moribundo, córneas sobrando, 500 cadeiras de rodas para doação, vagas de empregos em multinacionais, sequestrados, perdidos e abandonados em hospitais etc, essas mensagens devem ser multiplicadas somente se confirmada a veracidade da informação. 

Seja criativo. Crie sua própria mensagem.

O simples “copiar/colar” e enviar para todos os grupos, só serve para encher a memória dos celulares.

Se você recebeu aquela “linda mensagem” provavelmente todos nós já a recebemos. 

Entre nós Maçons, imagens e filmes de violência, agregam alguma coisa? 

Mensagens de WhatsApp são como flechas.

Depois de lançadas, não tem como pará-las.

Na maioria das vezes, os Irmãos miram um alvo e acertam outros. 

No calor e na intempestividade de se manifestar, magoamos, afastamos e destruímos fraternas relações. 

A MODERNIDADE SERÁ SEMPRE O PRÓXIMO PASSO. 

MANTENHA SEUS SENTIDOS EM ALERTA, A MENTE ABERTA E O CORAÇÃO PURO.

TEMOS A OBRIGAÇÃO DE USAR TODAS AS FERRAMENTAS A NÓS APRESENTADAS APENAS E EXCLUSIVAMENTE PARA EDIFICAR. 

SEJA AGENTE MODIFICADOR DAS VIBRAÇÕES DOS SEUS GRUPOS PARA QUE HAJA JUSTIÇA E PERFEIÇÃO.

Bom dia meus irmãos. 

 


março 28, 2022

LANDMARKS - CLASSIFICAÇÃO DE PIKE - José Castellani

















José Castellani, um dos mais importantes estudiosos da maçonaria no Brasil. Escreveu mais de 70 livros.

A palavra inglesa "landmark", literalmente, significa marco de limite, marco miliário; figuradamente, significa ponto de referência. No idioma vernáculo, podem ser usados os termos limite, ou lindeiro.

Limite, do latim: lime, itis,designa a linha de demarcação existente entre terrenos, ou territórios contíguos; o marco, a baliza, a raia, ou fronteira natural, que separa um país de outro; o ponto máximo, que não se deve, ou não se pode ultrapassar.

Lindeiro, com a mesma origem etimológica, designa o que é relativo a linde, ou seja, limite, raia,marco, baliza. Também se usa a forma landmarque. 

O vocábulo "landmark" surge, pela primeira vez, na compilação dos Regulamentos Gerais de 1721, incluídos na Constituição de Anderson, onde o 39º e último dos regulamentos diz:

"Cada Grande Loja anual tem o inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento, ou redigir um novo, em benefício da Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos landmarks....". A Assembléia Geral de 25 de novembro de 1723, da Premier Grand Lodge, todavia, resolvia substituir o termo "landmark" por "rule", que significa REGRA e que já iria constar nas edições seguintes do Livro das Constituições.

Desta maneira, pode-se concluir que a Regras, ou Landmarks, não eram aquelas expressas nos Regulamentos Gerais, mas, sim, normas não escritas. 

Considerando, então, que existiam esses limites, que regulam a atividade e o comportamento ético dos obreiros, consuetudinários, ou já expressos na Constituição de Anderson, surgiram, a partir da metade do século XIX, diversas classificações de landmarques, com maior ou menor número deles.

E a maior parte não resiste a uma análise crítica profunda, pois a maior parte dos conceitos nelas alinhavados não representais reais antigos limites, ou antigos e universais costumes da Ordem, os quais, paulatinamente, foram sendo estabelecidos, como regras básicas da atuação maçônica. 

Na realidade, para que uma regra seja considerada um verdadeiro limite, ela deve ser imemorial, espontânea e universalmente aceita, o que, na verdade, não ocorre com a quase totalidade das classificações conhecidas (mais de 60).

O conceito de imemorial, significa que uma regra, para ser um lindeiro, deve ter uma antigüidade suficiente para que não se possa estabelecer, no tempo, a sua origem. O de espontânea, significa que um verdadeiro landmarque não tem autor conhecido, mas foi gerado pelo uso da comunidade.

O conceito de universal aceitação, significa que uma norma só aceita em algumas comunidades não é um legítimo limite, mas, sim, uma regra particular de conduta. 

As cinco principais classificações são as de Findel, Pike, Mackey, Pound e Berthelon. A de Pike é, de longe, a mais sensata de todas. 

Classificação de Pike 

Albert Pike (1809-1891) foi um célebre maçom norte-americano, nascido em Boston. Poeta, advogado e militar --- que chegou ao generalato --- foi Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos.

Sua obra principal é "Morals and Dogma", de 1871, onde estida os Altos Graus, um a um.

Sua classificação de landmarques foi resultado de um amplo estudo e de uma arrasadora e erudita crítica contra o emaranhado de falsos limites, apresentados pelos autores da época, incluído, aí, o seu discípulo Albert Gallatin Mackey. Para Pike, os landmarques são apenas cinco: 

1º - A necessidade dos maçons reunirem-se em Lojas ; 

2º - O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes ; 

3º - A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura ; 

4º - A cobertura dos trabalhos da Loja ; 

5º - A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçónico. 

Pouco há a comentar sobre um trabalho como esse, bastando dizer o seguinte: todas as regras relacionadas são verdadeiros landmarques; e é a única classificação conhecida em que isso ocorre. Mesmo que alguns autores contestem uma ou outra dessas regras, nenhum deles pode deixar de reconhecer essa verdade. 

Subsidiariamente, é forçoso que se note que, nesta classificação, não consta a iniciação exclusiva de homens, que sejam livres e não mutilados. 

Pela sua erudição maçónica, pela síntese absoluta que faz em sua relação de limites, e por relacionar somente verdadeiros landmarques, Pike, com sua compilação, é que deveria merecer a maior credibilidade dos maçons.

Lamentavelmente, não é isso que acontece nos países latinos, onde a classificação de Mackey reina soberana, sendo, quase sempre a única conhecida e tomada como lei incontestável, embora seja uma das mais falhas e mais mentalmente castradoras de todas as compilações existentes, tendo vinte, das vinte e cinco regras, que não são verdadeiros landmarques e não tendo prestígio nem dos EUA, país natal de Mackey, onde só quatro das cinquenta e duas Grandes Lojas a aceitam. 

Do livro "Análise da Constituição de Anderson". Editora A Trolha - 1995

BOM SENSO NA MAÇONARIA - Sidnei Godinho



Em um mundo que sufoca pela maldade galopante e pela falta de dignidade, aqueles integrantes de um seleto grupo, que se propuseram a encontrar a verdadeira luz, carecem de então proceder como verdadeiros iniciados.

Não se pode aceitar que interesses políticos e sede de poder sobrepujem os princípios de Moral e bons costumes.

Não se pode aceitar que uma minoria domine toda uma instituição com seus interesses escusos, como se senhores fossem da realidade, quando no íntimo são apenas escravos de suas vaidades de poder e brilho. 

Para que a Maçonaria seja perene ela intima que se vençam as paixões e se sujeitem suas vontades.

É somente através desta infindável luta do bem contra o mal que o homem consegue purificar sua natureza e alcançar a pureza de um novo ser.

A Perfeição e a Justiça são objetivos a serem buscados diuturnamente e não há como alcançá-los sem o Bom Senso nas ações do dia-a-dia.

*NINGUÉM É PERFEITO*

O maçom jamais pode ser" inocente " em suas decisões, alegando desejar somente esclarecer outras ações que lhe são contrárias, pois o que se ensina na Ordem é a alcançar o Conhecimento; e a Sabedoria é oposta à ingenuidade.

Alegar desconhecer nossos princípios nem mesmo caracteriza excludente de ilicitude, mas ao contrário evidencia a falta de preparo e o descaso do irmão que ao longo de sua jornada demonstra não ter abandonado suas vaidades.

Que a inspiração para o tão necessário Bom Senso venha daquele que o primeiro exemplo deixou:

... Nem tudo o que "Eu Posso fazer eu *DEVO* fazer...

Que assim seja.'.

Bom dia e boas reflexões meus irmãos.



março 27, 2022

SÍMBOLOS E RITUAIS MAÇÔNICOS - M. Follain



Como instituição iniciática, a Maçonaria adota para o ensino e estudo de sua filosofia, a apresentação de Símbolos e Rituais. Este método consiste na interpretação intuitiva dos Símbolos e Rituais, e é eminentemente auto- didático.

Ritual Maçônico é uma representação, uma demonstração alegórica, um teatro ritualístico. Rituais (ou cerimônias) são fundamentais para o maçom.

Dentre eles, destacam-se: o Ritual de Iniciação: de profano a Aprendiz; Ritual de Elevação: de Aprendiz a Companheiro; e o Ritual de Exaltação (Rito Escocês Antigo e Aceito) de Companheiro a Mestre, que é a encenação da morte de Hiram Abiff.

Os Rituais são cerimônias de transformação interior - há uma interconexão entre o consciente e o inconsciente. “Iniciação” é uma palavra oriunda do latim “initiare”, “início ou começo em”.

O termo “iniciação” tem um sentido designado pelo uso comum da palavra: é o “início” de alguma coisa. Mas a expressão “Ritual Iniciático” é usada em dois contextos diferentes: em primeiro lugar, um Ritual Iniciático é a cerimônia de aceitação de um indivíduo por determinado grupo.

Nessa primeira acepção, o Ritual Iniciático tem um caráter social, que demarca a relação da pessoa com a coletividade ou com algum segmento da sociedade. Portanto, quando o indivíduo entra para um determinado grupo, esse ingresso é comemorado com um Ritual de Iniciação.

Em segundo lugar, a expressão “Ritual Iniciático”, indica não uma mudança de condição social, mas uma transformação interna: o que se modifica é o próprio ser do iniciado e, consequentemente, sua consciência e percepção.

Trata-se de uma verdadeira transmutação, no sentido alquímico do termo.

E, ao contrário do primeiro tipo, não envolve uma cerimônia pública. É um reconhecimento externo de uma mudança interior, que já se processou.

Neste segundo sentido, a Iniciação ocorre quando o neófito estabelece contato com as forças arquetípicas e deixa seu campo de consciência ser transformado pela exposição a essas forças, que se expressam por meio de manifestações simbólicas, que cabem a ele decifrar.

O cérebro, durante práticas de Rituais (ou de meditação), passa a operar em ondas mais lentas.

Durante o Ritual, o indivíduo entra num estado alterado de consciência, com ondas cerebrais alfa e teta, que lhe permitem acessar o inconsciente.

Esse estado alterado de consciência é alcançado pelo pensamento e a emoção, colocados na dramatização.

Quando acontece a emoção (intensidade e perfeição na atuação de cada maçom), o cérebro não consegue perceber o que é “realidade” e o que é “teatro”, entendendo o Ritual como realidade no presente. E, cada maçom, acessando seu inconsciente individual, estará conectado com o inconsciente coletivo.

No Ritual de Iniciação, há uma transmutação, um renascimento interior, proporcionando uma nova percepção de si mesmo e do mundo. O iniciado passa por “provas”, como acontece com cada indivíduo durante sua vida.

Por esse motivo, o símbolo maçônico da Iniciação é a morte – morrer para a vida profana e renascer para a Vida Maçônica. Morte e nascimento são dois aspectos entrelaçados e inseparáveis de toda mudança. Os Rituais de Iniciação na Maçonaria englobam esses dois sentidos.

O Ritual se destina a legitimar o ingresso do indivíduo na Ordem, e concomitantemente, seu interior está se desenvolvendo por meio de uma série de evoluções graduais que vão ampliando seu consciente e inconsciente.

A Iniciação tem como especial e fundamental objetivo, dissolver e eliminar aspectos negativos, que possam estar impedindo o crescimento pessoal: medos, egoísmo, etc.

O ato da Iniciação não pretende extirpar definitivamente do homem seu ser profano e o mundo. A finalidade é fazê-lo conviver com o profano e o conhecimento sagrado.

Os símbolos utilizados na cerimônia têm como finalidade, agregar as forças arquetípicas para o iniciado. A promoção na hierarquia da Ordem ocorre, quando sua consciência (do iniciado) atingiu um grau de desenvolvimento satisfatório.

Os Graus maçônicos são os degraus do conhecimento a serem alcançado pelo iniciado. Como todo processo de metamorfose, não há retrocesso para o iniciado. 

Uma vez maçom, sempre maçom. Transposto o portal que transmuta o indivíduo, ele jamais será o mesmo. O iniciado morre para uma realidade e renasce para outra dimensão de sabedoria.

As consequências do Ritual são irreversíveis: o milho que vira pipoca, jamais volta a ser milho. O iniciado fez o voto de caminhar sempre adiante, portanto, não pode mais retroceder.

Nos Rituais, são interpretadas, dramatizadas e vivenciadas várias situações arquetípicas - arquétipos primordiais, muito mais antigos que a própria linguagem.

Os Rituais, praticados em segredo são a imagem de processos interiores, permitindo a elevação para o conhecimento, a sabedoria, de maneira progressiva.

Os ensinamentos da Ordem dão-se, preferencialmente, através de três caminhos: Rituais, Devocionais e Contemplativos. Os Rituais são o caminho da ação e é o principal método de ensinamento da Ordem.

No caminho da devoção, há o uso da meditação, obediência e amor fraterno – os aspectos devocionais acontecem por meio dos trabalhos filantrópicos.

O caminho contemplativo acontece com o estudo de símbolos e os valores que esses símbolos representam. Os Rituais estão carregados de alegorias e simbolismos que se impõem desvendar e assimilar.

Os símbolos utilizados pela Maçonaria têm origens diversas. Alguns autores dividem esses símbolos em dois tipos principais: os que tiveram origem na Maçonaria Operativa e os que foram introduzidos a partir de conhecimentos ocultistas, que se integraram à Maçonaria Especulativa (Alquimia, Hermetismo, Astrologia, Numerologia, Cabala). Mas todos os símbolos devem ser assimilados pelo maçom e interpretados de acordo com sua inteligência, grau de evolução interior, sua maneira de ser e sentir.

Os símbolos são oriundos de diversas crenças, filosofias, antigos mistérios, mas isso não implica que os maçons partilhem dessas crenças.

As mensagens contidas nos símbolos serão interpretadas, compreendidas e interiorizadas, e passarão a fazer parte do ser e da experiência de cada maçom. Ser maçom implica integrar o racional a uma entrega mística.

Os Rituais e o estudo da simbologia permitem que os maçons progridam no entendimento racional e emocional, nos conceitos que a Maçonaria transmite. Com o aprofundamento de seus estudos, o maçom encaminha-se para a verdadeira “espiritualidade” – sem dogmas, livre de crenças religiosas.

Na realidade, é mais um princípio filosófico “espiritualista”: considerar que no homem e no Universo há “algo mais”, seja do ponto de vista “imanente” ou “transcendente”.

Essa espiritualidade é um aspecto indissociável da condição humana, e está muito mais além do que qualquer religião: espiritualidade é o que coloca cada ser diante do absoluto, do infinito, do todo, da eternidade, de seu “Deus”, de si próprio.

A espiritualidade maçônica é uma espiritualidade livre, pois sugere um caminho individual para a relação com a Divindade, com o Divino. A Ordem, respeitando as diferentes opções religiosas, não despoja o indivíduo de seu entendimento espiritual. E, esse respeito é à base da harmonia e da tolerância maçônica.

Como ensina Carl Sagan (maçom): “é essa espiritualidade que nos permite sentir de uma forma mais intensa e profunda a beleza de uma trilogia muito famosa e que define bem os grandes valores da humanidade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

E quando chegamos a esta fase em que, enquanto vamos construindo o nosso templo interior, e vamos estabelecendo fortes laços de união com os nossos Irmãos, é que estaremos realmente aptos a influenciar, positivamente, a evolução da humanidade e a defender todos os seus grandes valores”,

A MAÇONARIA NÃO É UMA SOCIEDADE SECRETA - Rui Bandeira


Em relação à Maçonaria criou-se um mito, frequentemente repetido, em tom acusatório, pelos detratores da maçonaria: a Maçonaria seria uma “sociedade secreta” e, assim sendo, boa coisa não é (pois, se o fosse, não necessitaria de ser secreta).

Não é verdade. A Maçonaria não é uma sociedade secreta, antes é uma associação que existe e funciona ao abrigo das leis civis e no integral respeito do que estas postulam. Qualquer Obediência maçónica existe enquanto pessoa jurídica coletiva, normalmente organizada sob a forma de associação, devidamente registada no Registo Nacional de Pessoas Coletivas em Portugal e nos serviços equivalentes nos outros países, constituída por escritura notarial, arquivada onde a lei do país em que se insere determina, fiscalmente manifestada e, a exemplo das demais pessoas coletivas, cumprindo as obrigações fiscais que a Lei determina, com os seus órgãos sociais designados pela forma que a Lei e os seus Estatutos determinam e publicitados pela forma que a Lei determina. Enfim, a Maçonaria Regular, que tem por princípio fundamental o respeito da legalidade vigente, existe e funciona ao abrigo e cumprindo as leis em vigor nos Estados onde funciona, como qualquer outra associação nesse Estado existente.

No entanto, e como já o Ministro da Propaganda nazi, Joseph Goebbels, descaradamente referia, uma mentira mil vezes repetida passa a ser entendida por muitos como verdade.

E a mentira de que a Maçonaria é uma sociedade secreta tem vindo a ser muitos milhares de vezes repetida, ao longo de mais de três séculos. O poder e persistência desta mentira são proporcionais às forças de quem a lançou e repetidamente a sustentou ao longo do tempo: a alta hierarquia da Igreja Católica.

Que a alta hierarquia da Igreja Católica não tenha visto com bons olhos a Maçonaria, é compreensível: tratava-se de uma agremiação nascida num país que, em termos religiosos, se rebelara contra a Igreja de Roma – a Inglaterra; e a Maçonaria consumava um princípio que então (muito antes de o ecumenismo ser um conceito aceite pela Igreja Romana) lhe era insuportável: a junção, a colaboração fraterna, entre crentes de diferentes religiões. Com efeito, a Maçonaria postula um princípio fundamental, inerente à hoje aceite e comum, na sociedade ocidental, noção da liberdade religiosa, que é o de que a crença religiosa de cada um só a ele diz respeito e que homens livres e de bons costumes podem auxiliar-se mutuamente na sua respetiva evolução ética e espiritual, independentemente das respetivas crenças religiosas. Quaisquer diferenças nestas são de somenos em face da essencial semelhança do que é ser Homem, da Ética que a todos deve unir, do comum anseio de melhoria, de aperfeiçoamento pessoal, moral e espiritual. Compreende-se que esta noção não seja bem vista para uma conceção religiosa que entende que o caminho para a Salvação é o da sua religião e não o de qualquer outra (e essa era a postura da alta hierarquia da Igreja Católica, pelo menos até ao Concílio Vaticano II).

Bastaram 21 anos, a contar da fundação de Premier Grand Lodge, em Londres, em 1717, para a alta hierarquia da Igreja Católica efetuar o primeiro ataque violento à maçonaria, utilizando o falso argumento de ser a Maçonaria uma “sociedade secreta”. A primeira bula papal de condenação da Maçonaria foi subscrita por Clemente XII em 28 de abril de 1738, ficou conhecida pela designação de Bula In Eminenti e nela pode ler-se, designadamente (destaque meu):

Agora, chegou a Nossos ouvidos, e o tema geral deixou claro, que certas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções chamadas popularmente de Liberi Muratori ou Franco-Maçons ou por outros nomes, de acordo com as várias línguas, estão se difundindo e crescendo diariamente em força; e que homens de quaisquer religiões ou seitas, satisfeitos com a aparência de probidade natural, estão reunidos, de acordo com seus estatutos e leis estabelecidas por eles, através de um rigoroso e inquebrantável vínculo que os obriga, tanto por um juramento sobre a Bíblia Sagrada quanto por uma variedade de severos castigos, a um inviolável silêncio sobre tudo o que eles fazem em segredo em conjunto.

A decisão anunciada na bula foi de proibição e condenação: decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações, ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco-Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proibidas.

Mas este foi apenas o primeiro ataque. Treze anos depois, Bento XIV emitiu, em 18 de maio de 1751, a Bula Provida Romanorum Pontificum, onde se pode ler:

Finalmente, entre as causas mais graves das supraditas proibições e condenações enunciadas na Constituição acima inserida, 

— a primeira é: que nas tais sociedades e assembleias secretas, estão filiados indistintamente homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica;

— a segunda é: a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembleias secretas, às quais com razão se pode aplicar o provérbio (do qual se serviu Caecilius Natalis, em causa de caráter diverso, contra Minúcius Félix): “As coisas honestas gozam da publicidade; as criminosas, do segredo”;

— a terceira é: o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar declarações ao legítimo poder, que investiga se em tais assembleias secretas não se maquina algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis;

Neste documento, o pretexto da “sociedade secreta” continua a ser invocado, mas desvendam-se as verdadeiras razões da decisão: o facto de, na Maçonaria estarem filiados indistintamente homens de todos os credos e tal “constituir um grande perigo para a pureza da religião católica” e o receio de que, nas reuniões maçónicas se maquine “algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis”.

O século XVIII não findou sem que, precisamente em 1800, mais um Papa, Pio VII, publicasse mais uma bula condenatória da maçonaria, a Bula Ecelesian a Jesus Christo, de que não consegui encontrar publicação do seu texto. O século XIX (em que, recorde-se, ocorreu a emergência da Maçonaria Irregular e da intervenção desta orientação na Coisa Pública, inclusivamente com ações revolucionárias) foi também fértil em documentos papais de condenação da Maçonaria, em que a classificação da mesma como sociedade secreta foi recorrente.

Mas isso é já matéria para o próximo texto.

Artigo publicado em Novembro de 2011.

março 26, 2022

TOLERÂNCIA E CONIVÊNCIA NO CONVÍVIO ENTRE OS IRMÃOS



"Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união."

É este sentimento que nos baseamos para a abertura dos trabalhos em Loja, evocando a convivência em união, harmônica, uníssona e pacífica entre os irmãos, pois assim dita o Livro da Lei, assim dita toda regência dos nossos mandamentos legais maçônicos, que devem ser seguidos pelos irmãos, e, entre os irmãos, não só na vida maçônica como também na vida profana, pois irmandade não é coleguismo, não é título, é sim sentimento fraterno de carinho, amor e respeito.

Logo, como podemos dentro de Loja nos chamar de meu alguém de irmão, se aquilo não é verdadeiro, não é puro d'alma??? 

Devemos, pois, viver em harmonia dentro e fora da Loja, construindo nosso templo interior sempre num ambiente fraterno, sadio, com respeito multilateral, donde cada irmão deva respeitar e aceitar a forma do outro ser e agir, desde que ele esteja trabalhando dentro dos preceitos da Ordem.

A isto, se chama de Tolerância.

Significado:

1 Qualidade de tolerante.

2 Ato ou efeito de tolerar, de admitir, de aquiescer.

3 Direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até diametralmente opostas às nossas.

Está é uma das virtudes nobres que deve ser trabalhada pelo homem maçom, donde deve ele tentar entender seu próximo como ele é, buscando, de acordo com a aceitação dele, dar-lhe informações de detalhes sobre sua conduta que possa e deva ser melhorada para que se tenha a convivência mais próxima possível do perfeito.

Porque sabemos todos nós somos falhos em algum momento, por isso somos considerados pedras brutas a serem lapidadas dentro de nossas virtudes.

Todavia, jamais deveremos deixar que esta virtude tolerante se confunda com a conivência ou permissividade .

"Significado de "conivência" sf (conivente+ia):

1 Qualidade de conivente; cumplicidade.

2  Espécie de cumplicidade, que consiste na abstenção propositada ou dissimulada de prevenir, obstar ou denunciar o ato delituoso, de cuja premeditação se teve conhecimento prévio".

Pois esta (a conivência) é perniciosa, levando-nos a querer sublevar o erro, o infringir da lei e da ordem, quer maçônica ou profana e do convívio entre os irmãos.

A feitura da correção de atitude equivocada, ou seja, fora dos parâmetros da ética, da moral e dos costumes, é uma necessidade para que possa reinar a harmonia, a paz e a corrente de bons fluídos dentro do convívio da irmandade, seja em Loja ou fora dela.

Daí o respeito multidirecional entre os irmãos torna-se pré-requisito para alicerçar a convivência harmônica, com a aceitação de certos comportamentos e/ou comentários que, para uns, se não aceito, deva ser tolerado, o que para outros será entendido como normal.

Mas, este comportamento de convívio harmônico, só poderá acontecer com diálogo entabulado entre os irmãos, donde todos devem, com clareza ímpar, elencar assuntos dos quais não gostaria de participar, para que aí então àqueles que fossem discutir tal assunto, não o fizessem por meio que obrigue aos que não se sentem bem em discuti-los, ter de participar direta ou indiretamente, causando ruído na comunicação e desarmonia entre os interlocutores.

É sabido por todos que para se viver bem em coletividade é fundamental que haja entre os conviventes o respeito, a clareza no diálogo, devendo ser tratados todos os pontos de aresta, pois assim podemos colocar tais pontos na mira do cinzel e malha-lo, retirando-o em busca de uma pedra cúbica perfeita.

Donde ao se colocar o esquadro veremos o ângulo certo e o raio traçado pelo compasso medirá a capacidade de relacionamento livre, harmônico e perfeito dentre os irmãos, e, com a régua traçarmos nossas linhas retas para não incorrermos em erros, que maculem a imagem e/ou o convívio daqueles que ficamos felizes em chamar de irmão. 

Portanto meus amados irmãos, que Deus, nos dê “Sabedoria” para discernirmos entre essas duas situações, o que teremos que aplicar aos nossos corações e mentes; nos dê a “Força” necessária para fazer o que deve ser realizado nesses casos sem desvios de nossos usos e costumes e nos dê também a “Beleza” , de termos palavras amáveis e conformadoras para *não ofendermos desnecessariamente aos nossos irmãos*.

Bom dia meus Tolerantes, porém Não Coniventes Irmãos.

MAÇONARIA, UMA FACULDADE NA ESCOLA DA VIDA


Este trabalho foi baseado em artigos de autoria do maçom Pedro campos de Miranda – Loja Maçônica Spinoza 181 – com emendas do maçom Carlos Augusto Camargo da Silva – Loja Maçônica Estrêla Caldense de Poços de Caldas/MG Fonte: Loja Maçônica Estrêla Caldense de Poços de Caldas/MG

Não podemos viver felizes, se não formos justos, sensatos e bons.

 (Epícuro – Filósofo Grego)

A vida é uma escola. Desde a concepção no útero materno, estamos a aprender. Após o nascimento, o aprendizado se intensifica. Aprendemos a andar, a falar, somos alfabetizados, educados e vivemos em sociedade. As leis dos homens regulam nossas condutas sociais. O uso e os costumes, a moral e as leis, traçam nosso comportamento. Dentro dessa escola da vida, alguns homens tem o privilégio de ingressarem numa faculdade, que se chama Maçonaria. Alguns terminarão o curso e receberão o diploma. Outros, desistem no início, no meio ou no fim. Outros ainda, são reprovados e perdem a oportunidade. São, o livre arbítrio e as regras do curso. A faculdade começa na iniciação e termina na diplomação, que é a comunhão total e final, cuja banca examinadora é o Tribunal de nossa consciência e a misericórdia do Grande Arquiteto do Universo.

A Maçonaria é uma faculdade na vida, que incentiva a pesquisa da verdade, o exercício do amor e da tolerância. Que recomenda o respeito às leis, aos costumes, às autoridades e, sobretudo, à opção religiosa de cada um. A Maçonaria não se preocupa em retribuir as ofensas injustas recebidas pelos que não a conhecem, mas, devemos nos defender mostrando aos nossos algozes o que é a Maçonaria. Filosófica, moral e espiritualista é a Maçonaria. Filosófica, porque leva o homem a se ajudar na busca da verdade que ele procura, a vencer suas paixões e submeter sua vontade à verdadeira razão. É moral, porque só aceita homens de bons costumes, que comem o pão com o suor de seus rostos. É espiritualista, por não admitir ateus em suas fileiras. Aliás, nossa Sublime Ordem é a única organização que transforma em irmãos pessoas de crenças religiosas diferentes, pois nela convivem harmoniosamente católicos, espíritas, protestantes, budistas, maometanos, judeus, etc...

Alguns apressados poderiam pensar que isso significa que os maçons sejam transformados em seres absolutamente passivos, submissos, sem o menor interesse pelo que se passa na sociedade, em nosso país e no mundo. Outra inverdade, pois os maçons se preocupam com tudo o que acontece, a Maçonaria é universal. Se os maçons têm como compromisso maior a busca incessante da verdade, é claro que precisam exercitar continuadamente o direito de pensar em soluções que possam eliminar o mal, sem destruir o homem. Ela tem seus métodos próprios de ação, conhecidos pelos verdadeiros maçons, os quais são agentes da paz e chamam os conflitos armados de a estupidez da guerra, da guerrilha, do terrorismo, do radicalismo e da ignorância.

A Maçonaria sempre se colocou a favor da liberdade, contrária a qualquer tipo de opressão que sonegue ao ser humano o direito de pensar. Jamais pode ser radical, pois a virtude mora no meio, no bom senso, na equidade e isonomia. Mas, como exige de seus adeptos uma vida de constante exercício de cavar masmorras aos vícios e erguer templos às virtudes, ela sabe que o maior ensinamento que os maçons possam oferecer reside no exemplo oferecido por cada pedreiro livre, que não se esquece da polimento da pedra bruta que somos e da necessidade de erigirmos nosso templo interior. É aí que valorizamos o entendimento de Cícero: Sou livre porque sou escravo da lei! “Andar na lei” é difícil, fácil é andar fora dela. O maçom sabe que uma vida digna equivale a um templo erguido à virtude e que somente terá vencido suas paixões quando houver aprendido a respeitar e a amar cada ser humano, nunca se acovardando quando tiver de exigir de qualquer um o cumprimento da lei. Principalmente diante da covardia de maiorias que procuram esmagar impiedosamente as minorias, ou fanáticos que usam métodos covardes para valerem suas condutas.

A Maçonaria combate a hipocrisia, o fanatismo, a intolerância. E combate esses males procurando conduzir os homens ao entendimento, única forma de se conseguir a paz permanente, pregando a misericórdia para com os vencidos. Para nossa Ordem, o vencedor deve ser sempre a humanidade. Portanto, todos os maçons são concitados a uma conduta de vida capaz de levar consolo a quem sofre, a comida a quem tem fome, o agasalho a quem tem frio, uma toalha macia para enxugar as lágrimas de nossos semelhantes, a levar o conhecimento a quem o deseja. Sabe a nossa Instituição que quanto mais se propagar a luz, menor será a ser o espaço a ser ocupado pela trevas. Com isso poderemos nos guiar mais seguramente na direção do GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, luz irradiante que será o próprio caminho do amor, da fraternidade e da tolerância per omnia secula seculorum!

Não somos – e estamos longe de sermos – uma confraria de anjos, arcanjos ou querubins. Simplesmente homens buscando a prática do bem sem olhar a quem, sem alarde, sem soar a trombeta. Uma faculdade na escola da vida, onde temos o privilégio de podermos conhecer a fé, a esperança e a caridade, sem necessidade de apegarmos a alguma religião ou seita. Conseguimos o que muitos acham impossível, ou seja, a reunião de homens de todas as crenças, unidos pelo laço da irmandade, pelo pensamento uníssono de que pela boa obra, se conhece o bom pedreiro. Enquanto algumas religiões se dizem donas da verdade, nós estamos à busca dela sem querermos ser seu dono. Não nos interessa a transmutação dos metais, não nos interessa interferirmos na fé alheia. O que nos interessa é o exercício da caridade, pois sabemos que sem ela não há salvação. Não existe fé sem caridade, sem esperança e sem amor. A fé nos põe em contato com o criador, na sintonia de emissor e receptor. Somente palavras ou pensamentos não nos põe em sintonia com Ele, pois se assim fosse, os fariseus que praticavam com grande pontualidade os ritos prescritos e a grande importância aos estudos das Escrituras, não teriam sido convidados a deixarem o templo, mencionados pelos Evangelhos como hipócritas e orgulhosos.

Podemos concluir sem medo de errar, que só a maldade e a desinformação são capazes de rotular a Maçonaria como contrária a fé. O comportamento digno que nossa Ordem impõem a seus membros honrará, certamente, a qualquer profissão de fé religiosa, pois cada um de nós tem o direito de professar e praticar sua religião no mundo profano. Garante a Constituição brasileira que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de cultos e as suas liturgias. Em Templo Maçônico deixamos do lado de fora as diferenças religiosas e passamos à pratica comum da igualdade, liberdade e fraternidade. Oh! Como é bom, agradável viverem unidos os irmãos.

Os rótulos nem sempre garantem o conteúdo. Por isso, nosso Templo Interior é que deve permanecer sempre limpo, livre da sujeira que as iniquidades provocam, iluminado pelo verdadeiro amor, sempre nos permitindo lembrar que o nosso conhecimento é apenas uma gota diante de um oceano de coisas que ignoramos. Ensina-nos a Maçonaria que o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO é uma fonte perene de amor, sempre pronto a permitir o soerguimento de qualquer um que queira se levantar. Como Ele saberá, a qualquer tempo, separar o joio do trigo, nós, os maçons, somos sempre recomendados a produzir mais trigo, mais trigo, mais trigo...


março 25, 2022

A EXALTAÇÃO AO TRABALHO NO GRAU DE COMPANHEIRO


Permitam-me, meus Irmãos, apoderar-me de um dos mais belos trechos da Oração aos Moços, de Rui Barbosa

“Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo subliminar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos. …O Criador começa e a criatura acaba a criação de si própria. Quem quer, pois, que trabalhe, está em oração ao Senhor.” (trecho da Obra de Rui Barbosa extraído do artigo do Ir:. Raimundo Rodrigues – Cartilha do Companheiro – Ed. A Trolha – 1a. Edição – 1998 – págs. 105 e seguintes.

O Grau de Companheiro, ensina-nos o Rito Escocês Antigo e Aceito, é o Grau dedicado à exaltação do Trabalho. De pouca relevância o tipo de trabalho, ministra também lições nesse sentido, o Ritual.

Imprescindível, entretanto, nos dias tumultuados de nossa atualidade, quando valores invertidos atropelam sem ressentimentos a Ética, que o trabalho seja prestado com respaldo nos melhores princípios da dignidade, que o ato de trabalhar seja praticado com a alegria do crescimento espiritual, pois o homem, na sua capacidade de errar e transgredir, esmera-se em arquitetar formas nada saudáveis e recomendáveis de “trabalhos” distantes de qualidades sublimes, exercidos unicamente com o intuito de provocar um enriquecimento rápido e sem causa, com a meta apenas de acumular a matéria.

O Companheiro exalta o trabalho, impõe ação aos instrumentos colocados à sua disposição, como o maço e o cinzel, a régua, o compasso e o esquadro, o prumo e o nível, a alavanca, aprendendo a manejá-los com habilidade e dedicação, buscando a abundância de espigas de trigo; transformando em Pedra Cúbica a Pedra Bruta que já desbastara; escalando a escada do aprimoramento espiritual; lançando-se às profundezas dos mistérios de sua existência; conhecendo o significado da letra “G”, vendo e sentindo a Estrela Flamejante.

Não encarar o trabalho como um castigo, é um sábio ensinamento e um grande e bom desafio. O preceito bíblico da transformação do suor e da força do trabalho em alimento, com uma carga evidente de suplício, teve lá a sua razão de ser. O G:.A:.D:.U:., em momento de justa fúria, lançou sobre o homem a pecha que o haveria de seguir pelas suas trilhas terrenas.

E realmente, por séculos, trabalhar era próprio de alguém inferior, era próprio de escravos condenados a suprir com o seu suor e esforço o alimento dos seus senhores, na turva visão do trabalho como desonra e estigma social. O I:. Raimundo Rodrigues, num excelente artigo publicado na Cartilha do Companheiro – 1ª. Edição da Ed. A Trolha, lembra-nos que – o “ora et labora” era um incentivo que se dava aos religiosos para que pudessem evitar e, até mesmo, vencer as tentações e que essa forma de entender o trabalho se modificou com o advento do humanismo e mais ainda com a chegada do Renascentismo.

Mas a mesma sabedoria do Grande Arquiteto teve o condão de mudar conceitos, mesmo que tão arraigados; teve a sabedoria de incutir em filósofos a essência magnífica do trabalho e daí nasceram apologias e exaltações ao ato de trabalhar, desmistificou-se a supremacia do conhecimento sobre a ação e descobriu-se que o homem, se podia pensar, conhecer, melhor estaria se colocasse em prática os seus pensamentos e conhecimentos.

É pela ação do trabalho que obras maravilhosas acontecem. É pelo trabalho que a inércia desaparece, o Universo se transforma e que tudo está em constante e perene movimento, ainda nas palavras do I:. Raimundo Rodrigues.

O Maçom é um trabalhador por excelência. Por perfeita e justa razão, recebe ele o apelido de Obreiro e o seu local de trabalho, Oficina. Junto dos Companheiros, essa qualidade de trabalhador enaltece-se ainda mais, passando a ser a essência filosófica do Grau.

Deixando de usar apenas a força mais bruta, arduamente aplicada na aprendizagem do alto da Coluna do Norte, e utilizando mais a inteligência, o Companheiro estará mais livre nos seus passos em busca dos seus caminhos.

Nas etapas da sua jornada, trabalhando com afinco e sempre em conjunto com seus Irmãos, na mais pura essência da fraternidade, certamente terá confrontos com dificuldades e obstáculos para vencer os degraus da escada que o levará às portas da Câmara do Meio.

Mas o empenho na construção do Templo, com o uso adequado das ferramentas do Grau e a aplicação de princípios teóricos e filosóficos que passará a dominar com mais propriedade, servirá para aprender e compreender os sentidos dos emblemas, das alegorias e dos símbolos que a Maçonaria lhe proporciona e para entender o que é realmente necessário para alcançar o Grau de Mestre.

O Grau de Companheiro possui uma característica bastante forte de participação, de ação e criação em grupo, possibilitando o exercício da fraternidade com plenitude e ampliando a visão espiritual sobre a vida material.

Usando a trolha, símbolo da indulgência, o Companheiro unirá as pedras cúbicas pela argamassa da irmandade, lançando o reboco e corrigindo as arestas, reconhecendo, acima de tudo, na lição de Assis Carvalho, “as qualidades de cada Irmão, perdoando-lhe os defeitos reparáveis“. (Cartilha do Companheiro – 1a. Edição – Editora A Trolha – páginas 145 e seguintes).

O trabalho, nas anotações feitas pelo I:. Raimundo Rodrigues na sua obra já mencionada, evoca a essência da Maçonaria e faz parte da sua filosofia e da sua história e alguns aspectos servem sobremaneira como evidências a esse respeito, tais como:

Na Maçonaria operativa, o trabalho dos construtores tinha uma alta qualidade e era bastante criativo, como provam as estupendas construções, muitas ainda de pé e deslumbrando a quem as visita;

Passando a ser especulativa em 1717, a Maçonaria adquire um caráter filosófico, espiritual e social;

Os locais dos Maçons, como Obreiros, passam a ser conhecidos como Templos ou Oficinas;

A vestimenta do Maçom é o avental, símbolo grandioso do trabalho;

As atividades em Loja passam a denominar-se Trabalho, tendo este a qualidade de Justo e Perfeito, quando transcorre em obediência aos ditames da lei maçônica; quando é praticado em ambiente de harmonia; com respeito aos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade e quando recebe as bençãos do Grande Arquiteto do Universo.

E se o trabalho é uma característica primordial da Maçonaria, mais ainda o é no Grau de Companheiro, que a ele se dedica, como se dedica às ciências, à filosofia e às artes, ouvindo sempre, falando quando necessário e trabalhando bem e muito, dentro dos melhores princípios maçônicos.

Trabalhar, principalmente para o Companheiro, é dedicar-se à construção do seu Templo Interior, num processo contínuo, no qual o sentido de “vencer as paixões e submeter as nossas vontades” mais se acentua e se faz presente. 

Pouco a pouco, com a pertinácia do trabalho e o uso adequado das ferramentas, e, sobretudo irmanado, o Companheiro entrega-se à construção do edifício, dentro de si, mas com o objetivo de se projetar para fora, para a sociedade, num processo sociológico que pretende exteriorizar e transmitir para outros indivíduos as conquistas espirituais que constituem a argamassa e os demais materiais utilizados na ação de construir.

E seu templo social será erguido, sempre na vertical, como quem tem o pé no chão e a cabeça, o espírito, perto do Grande Arquiteto. E nessa obra, serão observados os ensinamentos da Maçonaria, com o edifício amparado em pedras cúbicas cinzeladas para suportar uma sólida estrutura; com cálculos feitos no projeto com o melhor uso da geometria e das demais ciências; apoiados no melhor manuseio do compasso, do esquadro e da régua.

E na construção, parede por parede, que a trolha tenha bom uso no aparo das arestas e com o poder de indulgência que lhe caracteriza; que o nível seja usado de bom grado para assegurar a horizontalidade e a igualdade das superfícies, onde os Irmãos estarão no mesmo patamar; que o prumo tenha a manipulação adequada, demonstrando a retidão da construção, visível na perfeita verticalidade das paredes.

E, quando os obstáculos se impuserem, ou mesmo quando um esforço maior for exigido para a execução da tarefa de construção, que a alavanca seja usada na melhor acepção de Arquimedes, para facilitar a transposição de dificuldades e contribuir para a consecução dos trabalhos.

A alegria e o pensamento positivo devem acompanhar o Companheiro na construção do Templo e, maior será essa alegria, quando houver a descoberta que a construção é, na verdade, um processo de transformação, no qual, a cada pedra assentada, as virtudes vão substituindo os vícios; o espírito vai tomando o lugar da matéria; a fraternidade, pois o trabalho não deve ser apenas solitário, vai se sobrepondo ao individualismo e à vaidade.

E assim é o trabalho maçônico, o trabalho exaltado no Grau de Companheiro. De tal sorte que, se praticado com perseverança e entusiasmo, sepultará intolerâncias, ressentimentos, mágoas e medos, bem como outros sentimentos que não são e não devem ser próprios das virtudes perseguidas pelo Maçom e, em contraponto, ressaltará virtudes fortemente necessárias ao aprimoramento da humanidade, papel fundamental do verdadeiro Maçom.

Bibliografia consultada:

Ritual do 2º Grau – Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito

Bíblia Sagrada

Cadernos de Bolso A Trolha – Instruções para Loja de Companheiro

Cadernos de Pesquisas Maçônicas – nº 14 – Ed. A Trolha

Cadernos de Estudos Maçônicos – nº 17 – Ed. A Trolha

Cartilha do Companheiro – Ed. A Trolha

Grau dos Companheiros e seus Mistérios – Jorge Adoum – Ed. Pensamento

Jornal A Gazeta Maçônica – Julho/Agosto de 2003 pág. 3

Texto de Autor Desconhecido, fornecido pelo nosso Irmão Nuno Raimundo.

MARAVILHAS DOS SÍMBOLOS E O ÓCIO CRIATIVO - Charles Evaldo Boller



Considerando o equipamento de comunicação, sensibilidade e habilidade de que o homem é provido, só isto já o faz reinar soberano nesta biosfera. Sua superioridade é aumentada quando coloca em prática a sua capacidade de sonhar e principalmente de pensar com lógica e clareza. Mesmo que sua construção emocional o equipe com instintos que podem ser usados para bem e para o mal, ele desenvolve processos de interiorização que o defendem e o transformam de besta cruel e sanguinária em criatura dócil e amorosa. E é neste desenvolvimento que a Maçonaria atua no maçom que realmente deseja ser pessoa de bem em sentido lato. Ao incentivar o pensamento com ilustrações e especulações racionais, ensina ao homem a favorecer-se de sua capacidade racional e lógica. O maçom aprende a pensar.

Pensar como fruto do próprio esforço e iniciativa é uma característica que a poucos seres humanos é dado fazer. Não que sejam indolentes para meditar sobre temas importantes, mas estão submetidos a um sistema cruel de sobrevivência; pouco ou nenhum tempo resta para o indivíduo caminhar pelos meandros do pensamento especulativo. Esta falta de tempo é agravada pelas ofertas do mundo da propaganda e do entretenimento passivo. A concorrência é tão intensa e os atrativos para atividades passivas são tantas, que a maioria fica impossibilitada de oportunidades para meditar e pensar. Cinema, televisão, joguinhos de computador e outras distrações roubam o tempo e viciam as pessoas em atividade que não exigem praticamente nenhum esforço e os impedem de desenvolver a capacidade de pensamento para a felicidade.

A Maçonaria usa símbolos e alegorias para fazer as pessoas pensar. Todo aquele que é assíduo aos trabalhos em loja, praticamente sem esforço algum é conduzido pela caminhada dos símbolos e das estorinhas de fundo moral, que levam a pensar. Inclusive, por breves instantes, quando reunido em loja, o maçom é afastado dos laços alienantes do mercado consumidor para exercitar sua capacidade de pensar com lógica, filosofar e até sonhar.

Um símbolo fala muito mais que palavras; ele induz pensamentos completos que não são estáticos na linha do tempo, mas que se adaptam a cada situação, a cada estágio evolutivo da pessoa e da sociedade. O símbolo é o mesmo, a ideia que o circunda é diferente.

Uma alegoria representa de forma figurada expressões de pensamentos que se não forem traduzidas por ficções tornam-se difíceis, senão impossíveis de analisar com isenção. Os preconceitos e referenciais da cultura induzem enveredar por caminhos tortuosos, difíceis e até errados. Se a dificuldade for muito grande, a mente desiste e desliga o assunto. É semelhante a um ruído monótono e continuo; a mente desliga a capacidade de filtrar aquela informação e a pessoa consegue até dormir. O homem usa de sua capacidade de contar estorinhas para transmitir conceitos de moral e ética complicados aos seus pares, consistindo na principal razão do homem chegar ao ponto de evolução em que se encontra. Não fosse a sua maravilhosa capacidade de contar estorinhas ao redor das fogueiras desde o tempo das cavernas, não teria desenvolvido sua capacidade de pensar e até de sonhar. A Maçonaria abraçou esta intuitiva capacidade de ensinar utilizando-se de símbolos e estorinhas. O maçom nem percebe que está evoluindo em sua capacidade latente de pensar com lógica.

Esta característica de transmitir conhecimento era usada pelos pedreiros operativos no projeto e ensino das tarefas da profissão. Depois do trabalho, duro e estafante, eles reuniam-se de modo fraternal em algum lugar confortável, e lá, ao sabor de bom vinho e boa comida sonhavam e trocavam idéias de como fazer e melhorar em sua arte de construir catedrais. Os sábios que deram origem a Maçonaria perceberam isto e transportaram os hábitos e costumes daqueles pedreiros ao campo da especulação, na construção de catedrais que usam de pedras vivas para edificar a sociedade. Em loja tratam do treinamento formal e disciplinado, e após a reunião, em alegres reuniões os irmãos discutem os mais variados temas de interesse comum do indivíduo ou da sociedade. Assim foi o berço das grandes ações desenvolvidas por maçons que alteraram de forma permanente a história.

É nos momentos de descontração que afloram os potenciais de pensar; semelhante ao tempo em que não existia rádio e televisão, quando as pessoas conversavam e trocavam as mais valiosas informações para o seu crescimento intelectual, emocional e espiritual. É a prática daquela reunião familiar tão comum antes da Primeira Guerra Mundial. É uma sábia forma de escapar da alienação do sistema que escraviza e afasta o homem do estado natural.

O maçom que participa das atividades de sua loja, em todos os aspectos, se humaniza com muito mais facilidade. As duas atividades são importantes e complementares. O ritual comportado e ordeiro das lojas e a descontração livre e solta após os trabalhos complementam-se. É nos momentos de relaxamento que o maçom encontra solução para a maioria de seus problemas do cotidiano. Estes postulados são meticulosamente defendidos por Domenico de Masi e Bertrand Russell. Muitas vezes um simples comentário de um irmão dispara um processo racional para solução de problemas que até então pareciam insolúveis; é a volta para o circulo das fogueiras praticado pelos vetustos homens das cavernas, um hábito que a poucos é dado desfrutar neste mundo recheado de artificialidades.

Muitas vezes uma pessoa que não está contaminada pela emoção ou submetida a um sentimento de culpa desperta soluções na mente do irmão que tem algum problema em sua casa ou escritório.

Em todas as oportunidades da vida moderna o cidadão é instado a preparar-se para o trabalho; são raras ou inexistentes as vezes em que é treinado para o ócio. Nas ágapes festivas após os trabalhos em loja, o maçom reúne-se com outros seres humanos e troca símbolos ou ideias que o ajudam na programação de sua vida profissional e familiar. Há muito tempo, bem antes da loucura de nossa lides estafantes e alienantes que a Maçonaria trabalha assim, preparando o homem para bem usufruir os momentos de descontração. É um ócio criativo que possibilita e fomenta um futuro de qualidade e feliz para o ser humano.

Estes procedimentos complementares das reuniões nas lojas maçônicas liberam intelectualidade, energias psicológicas, morais, emocionais e espirituais. Existe um intercâmbio de sensações, emoções, símbolos e estorinhas que constroem o ser humano para fazer frente às vicissitudes da vida. Esta convivência pacífica e prazerosa desperta o poder dos símbolos latentes em cada intelecto e que foram treinados, até de forma subliminar, na reunião do templo. Cada atitude exterior do maçom reflete uma disposição interior, que foi desenvolvida no templo. Os momentos de descontração e divertimento consolidam aquilo a que o maçom foi exposto em loja. É importante não sair correndo após os trabalhos da loja exatamente devido a esta característica de complementação do que se aprendeu no templo. Ambas as atividades tem igual importância na fixação de tudo o que se aprendeu. Se assim não ocorre na loja é porque existe algum problema que está dispersando os irmãos, e cabe a todos os mestres maçons examinar quais os motivos que levam à debandada dos irmãos após os trabalhos; motivos que podem ser a sinalização de simples apatia até o perigo de degradação dos relacionamentos da irmandade ao ponto de culminar com abatimento de colunas, além de tornar infrutífero tudo o que se desenvolveu durante a sessão.

A confraternização após os trabalhos da sessão é útil e obrigatória. É quando afloram as maravilhas dos símbolos e o ócio criativo em termos práticos. É o momento de gozar das delícias para as quais o corpo humano foi maravilhosamente projetado. Isto porque, o homem não foi feito para o trabalho abusivo e degradante, mas para em suas lides obter prazer e alegria. Os orientais dizem que é devido ao cidadão encontrar um trabalho que ama que ele nunca mais trabalhará na vida. É nos momentos de ócio que a mente humana cria as mais belas obras de arte, seja esta uma arte útil ou inútil. O que interessa é fazer jus de ser maçom, desenvolver para fazer o bem, criar mais e melhores obras que influenciem a sociedade para a honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.