abril 01, 2022

AS DESMOTIVADORAS SESSÕES MAÇÔNICAS - Breno Trautwein







“Precisamos de novos conceitos sociais, morais, científicos e ecológicos, e serem determinados por novas condições de vida da humanidade, hoje e no futuro”. I. T. Frolov. 

Porque a baixa frequência dos II:. nas sessões maçônicas e as inúmeras desistências?

Há um princípio geral de Psicologia Educacional, de que toda conduta é motivada, entretanto nossas reuniões privam pela repetição monótona de uma ritualística cansativa e sem qualquer utilidade prática. Trabalhos escritos e copiados de outros repisando temas já anteriormente apresentados, e muitas vezes lidos de modo gaguejante, sem a devida acentuação tônica para criar um clima emocional. V.´.M.´. ou irmãos eruditos ou pseudo-eruditos a usarem e abusarem no uso da palavra para exporem seus conhecimentos de almanaques de farmácias, ou inoportunas críticas a opúsculos apresentados. Outros irmãos dedicam-se, aos erros ritualísticos, como: o uso de espadas e bastões; ou, ainda, os historiadores de ocasião que leem longas biografias endeusando personagens históricos, cujas reputações apresentadas como exemplares, não resistem a uma apreciação mais profunda e desapaixonada.

Toda semana durante duas ou mais horas seguidas, todos sentados com dorso do corpo apoiado no espaldar da cadeira, e as mãos postadas abertas sobre a coxa (posição ritualística?), como nos antigos colégios religiosos. Depois de horas de tédio e, porque não, de angústia esperando o fim daquela chatice semanal. Todos têm um ponto de saturação e, no momento, que ele é alcançado, o pobre sofredor vai procurar em outro lugar um lazer mais reconfortante, para aliviá-lo das tensões causadas pela dura luta do pão de cada dia.

A fim de se evitar divagações inconsequentes vamos tentar criar uma axiomática sobre Maçonaria:

1º) é uma sociedade cível, sujeita as leis da comunidade onde se instala;

2º) é uma agremiação iniciática, o que a diferencia dos clubes de serviço (Rotary e Lyons);

3º) tem por principal objetivo o conhecimento do homem e da natureza;

4º) os meios empregados por ela é da execução de atos simbólicos que formam os ritos, o ensino mútuo e o exemplo, a cultura intelectual, e a prática da fraternidade e solidariedade;

5º) a melhoria moral e material da humanidade, baseada na crença do progresso infinito dela;

6º) o cultivo da tolerância; e

7º) abstração de todas as distinções sociais.

Segundo Jules Boucher: “a pátria do maçom é a terra inteira, e não só o local onde nasceu ou a coletividade em que se desenvolveu”.

Pertencemos ao nosso ambiente social, pois em última instância somo regidos pelas mesmas leis, cuja essência encontramo-la na Declaração dos Direitos Humanos, a qual sofreu a influência segura das ideias do iluminismo, adotadas pelos maçons, principalmente, europeus. Logo não podemos continuar isolados dos graves problemas sociais, políticos, religiosos, filosóficos, científicos e, sobretudo, ecológicos. Afirmamos ser o aspecto mais importante da Maçonaria, o iniciático; herança conservada por nós dos primitivos rituais dos povos totêmicos, e tinham por finalidade a preparação do púbere (10 ou 12 anos) para ocupar o seu lugar na comunidade. Em síntese a iniciação arcaica tinha suas provas (atirar o menino no ar e surrá-lo), pintura dos símbolos totêmicos e mutilações. Depois de anos a cerimônia culminava, geralmente, com a “benção do fogo”.

Durante todos os anos, até a integração no grupo, não se descuidava da educação prática, imitando os adultos instrutores, tendo como tema a caça, a agricultura; o lazer dele (o menino) é dirigido num sentido pragmático.

Examinando as sete proposições axiomáticas concluímos ter a Maçonaria uma função educativa, ou seja, uma escola de vida.

Segundo conceitos modernos, como escola ela teria de ter objetivos, um currículo e um método de ensino.

Referente aos objetivos teríamos: o conhecimento do homem e da natureza, através das atuais conquistas científicas; a prática da tolerância, da fraternidade e da solidariedade; a igualdade de direitos de seus membros e, consequentemente, a melhoria moral, material e, por que não espiritual da humanidade.

Currículo é a forma aportuguesada e simplificada do latim: curriculum vitae. Porém no Brasil é usado como a relação de matérias de um curso. Ele deve apresentar ao maçom em forma idealizada; a vida presente com suas atividades sociais, aspirações éticas, e a apreciação no momento atual do valor cultural do passado. Logo implicaria não só as disciplinas obrigatórias da Maçonaria: Simbólica, Ritualística, Filosofia, e História mas, também, o estudo comparado com o acervo geral do conhecimento da sociedade e suas múltiplas consequências no presente, fazendo uma projeção para o futuro. Entretanto temos notado que vem predominando os trabalhos descritivos de História, enquanto as demais matérias, talvez mais importantes, são relegadas a um segundo plano com a repetição dos trabalhos de maçons dos séculos passados com todos os erros, crendices e superstições. Pode-se dizer que aproximadamente noventa por cento dos escritores maçons dedicam-se à historiografia, ou pelo menos predominantemente, enquanto as outras matérias de interesse não só maçônico, porém, sobretudo, biopsicossocial são tratadas raramente e com superficialidade.

Quanto ao método que é o processo de usar este material de cultura para chegarmos aos objetivos.

Continuamos a usar a antiga e cansativa “aula magistral” dos doutos catedráticos presos ainda Escolástica. São as preleções, a base de saliva e da personalidade carismática do sábio. As vezes a mensagem é recebida, entendida e esquecida, outras vezes o tema se prolonga indefinidamente, sem ligações lógicas com os argumentos apresentados, sobretudo, quando o expositor parece não saber como terminar.

Existe a necessidade de começarmos a usar os modernos recursos didáticos como a televisão, o computador, projeção de transparências, “slides” e outros meios em exposições curtas seguidas de debates. Também poderíamos trazer as técnicas de dinâmica de Grupos (grandes ou pequenos), simpósios, seminários, evitando sempre as conferências magistrais. Contudo teremos de sacrificar o velho costume das sessões ritualísticas; herança, possível, da missa dominical, fazendo-as, somente, nas iniciações, elevações e exaltações, ou como treinamento para elas, como faziam os maçons especulativos de 1717.

Caberá a toda a nossa geração reiniciar o trabalho especulativo, teórico da Grande Loja Unida de Londres, e não seguirmos os princípios retrógrados inspirados por Lawrence Delmotl à Grande Loja de York; que predominaram na fusão de 1813, representando um retrocesso às conquistas dos filósofos iluministas e deístas.

A tarefa é muito grande, mas é necessário ser iniciada com a máxima urgência, pois a evolução não espera.

Hodiernamente, está difícil encontrarmos na sociedade elementos com os predicados exigidos pela ordem e, é mais difícil mantê-los pelas lutas de grupinhos por um poder efêmero, bem como pela monotonia insossa de nossas inúteis sessões econômicas ritualísticas. Geralmente os mais evoluídos, mais dinâmicos, mais atuantes sentem a luta inglória de procurar uma nova mensagem na Maçonaria e nada encontram.

Também, a massa informe do povo maçônico cansa-se de ouvir e ver sempre as mesmas pantomima e depois de algum tempo já sabem de tudo e, portanto, nada mais têm a fazer ou aprender, e vão-se. Ficam os teimosos que não acreditam ser aquela mediocridade o resultado de séculos ou milênios; se considerarmos as corporações de ofício e a Maçonaria Teórica, duma entidade tão criticada ou endeusada, admirada e cultuada por grandes expoentes da humanidade, seja unicamente aquelas práticas e mensagens insípidas, e como verdadeiros homens partem em busca da verdade e acendem luzes que vão clareando novos conceitos fraternais e afastando as trevas da ignorância geradoras da crendices e superstições. 

Bibliografia: 

1- CAPRA, Fritjof – A Teia da Vida – Editora Cultrix Ltda. – 1998 – São Paulo SP. 

2- HUISMAN, Denis e André Vergez – Curso Moderno de Filosofia – 2 Volumes: Introdução À Filosofia das Ciências e A Ação – Livraria Freitas Bastos S.A. – 1966 – Rio de Janeiro RJ. 

3- HUTIN, Serge – As Sociedades Secretas – Editorial Inquérito Ltda – Lisboa – Portugal. 

4- MONROE, Paul – História da Educação – Companhia Editora Nacional – 1954 – São Paulo SP. 

5- SALZANO, Francisco M. – 1) Evolução do Mundo e do Homem. 2) Biologia Cultura e Evolução – 1995 e 1998 – Editora da Universidade de Porto Alegre – Porto Alegre RS.

RITO DE YORK VS. RITO INGLÊS - Ir.´. VM. F. Kuhn, Tradução José Filardo



Tem sido afirmado que “um Rito na Maçonaria é uma coleção de graduações ou graus sempre fundados nos três primeiros graus.” Esta definição é totalmente enganosa, e constitui um grave erro chamar de “Rito Americano”, o “Rito de York” conferido nos Estados Unidos.

Com a finalidade de adicionar “mais luz” ao assunto, podemos afirmar que nos Estados Unidos existem dois Ritos Maçônicos conhecidos como Rito de York e Rito Escocês Antigo e Aceito.

Ambos são nomes equivocados, se o nome do Rito destina-se a indicar seu parentesco ou lugar de nascimento. O Rito de York não nasceu na antiga cidade de York, nem o Rito Escocês Antigo e Aceito foi gerado na Escócia.

O chamado Rito de York é o resultado de uma evolução na Inglaterra do Craft Operativo de um Grau de 1717, para um sistema de seis ou mais graus, conforme é praticado atualmente nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Escócia e Irlanda. O Rito Escocês evoluiu do Rito de Perfeição de 25 graus, com a adição de mais oito em Charleston, Carolina do Sul em 1801, onde o Supremo Conselho Matriz foi formado.

Se for para qualquer um dos ritos ser conhecido como o Rito americano, o título provavelmente pertence ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Para designar o chamado Rito de York nos Estados Unidos como o Rito americano, seria ainda mais absurdo do que chamá-lo de Rito de York, para ele não é nenhum dos dois.

O que se entende pela palavra Rito? Um Rito é definido como “Um costume de prática de um tipo formal; um procedimento formal de uma observância religiosa ou solene”. Mas, tal procedimento religioso ou observância solene deve ter um fim ou propósito definido. Ele deve ter uma ideia objetivo. Uma ideia central que a cerimônia do processo se destina a transmitir. A cerimônia pode ser breve ou volumosa, simples ou ornamentada, mas a ideia central deve ser mantida e alcançada, como acontece no Rito do Batismo, no Rito de Casamento, no rito do Santíssimo Sacramento, etc.

A ideia central ou pivô em torno do qual todas as cerimônias maçônicas ou Graus deve girar é a Perda, a Recuperação e a Interpretação da Palavra de Mestre. Esta ideia objetivo deve ser o núcleo de um sistema de Graus, e sem o que nenhum sistema de Graus pode ser chamado de Rito.

Qualquer série de Graus, embora intimamente ligados, que não contenha a ideia central de Perda, Recuperação e interpretação não pode ser chamada de um Rito Maçônico. Esta é a ideia objetivo ou pivô do chamado Rito de York. O número de Graus em um rito é meramente eventual. Não importa se há três ou 33 graus, desde a ideia central, o fim de todo simbolismo maçônico esteja presente.

A Perda e Recuperação, com uma interpretação positiva, ou a Perda e Recuperação, com uma interpretação geral ou individual, é a própria essência de um Rito.

A perda é simbolizada nos Graus do Craft ou Loja, a Recuperação é simbolizada no Arco Real.

No Rito de York, a interpretação do simbolismo do Arco Real é deixada para a interpretação individual do Maçom do Arco Real, ou ela encontra sua interpretação positiva e especial à luz da nova gradução, conforme ensinado na Ordem Maçônica da Cavalaria Cristã.

Os Três Graus de Loja Azul ou Craft, o Arco Real, e as Ordens Unidas do Templo e de Malta são os graus essenciais do Rito de York. Os graus de Marca, Past, Mostais Excellent, Royal, Select e a Ilustre Ordem da Cruz Vermelha não são essenciais, nem essencialmente necessários para o Rito de York, mas eles são de grande ajuda na elucidação do simbolismo da ideia central do Rito e eles adornam e ampliam o Rito. Os Graus de Loja, o Arco Real, e as ordens maçônicas de Cavalaria Cristã constituem o chamado “Rito de York”. Eliminar o Real Arco seria como remover a pedra fundamental de um arco, e todo o tecido se esfacelaria e cairia.

Em essência, o Rito de York é o mesmo nos Estados Unidos que é em cada província ou país do Império Britânico; em outras palavras, é essencialmente o mesmo no mundo anglo-saxão. Mas cada país tem seu próprio sistema. Nos Estados Unidos, ele consiste de sete graus e três Ordens; no Canadá, de seis Graus e três Ordens, embora o Canadá tenha adicionado os excelentíssimos graus no Capítulo e a Cruz Vermelha da Comanderia para harmonizar, com a finalidade de visitação com os Estados Unidos; na Inglaterra, ele consiste em quatro Graus e duas Ordem; na Irlanda, de cinco Graus e duas Ordens; na Escócia, o sistema se parece bem de perto com o da Irlanda. O grau excelentíssimo é desconhecido no Império Britânico, exceto no Canadá; na Inglaterra, o grau de Mestre de Marca está sob o controle de uma Grande Loja de Mestres Maçons de Marca.

Note-se que nos países mencionados, o número de Graus no Rito varia, mesmo que os Graus tenham o mesmo nome, eles variam nas cerimônias de apresentação da mesma verdade. O Grau de Mestre na Pensilvânia varia muito em relação ao mesmo Grau nos outros Estados, embora seja simbolicamente o mesmo. O Arco Real nos Estados Unidos é mais dramático em sua forma do que o da Inglaterra e Canadá, ainda que essencialmente seja o mesmo.

A Ordem do Templo no Ritual Inglês é breve; no Ritual Canadense é mais elaborada e tem suas características militares; nos Estados Unidos, ela é mais prolixa, possivelmente mais ornamentada e dramática, mas é essencialmente a mesma em todos estes países.

Os Rituais da Ordem de Malta nesses países são tão semelhantes que uma pessoa que esteja familiarizada com um pode facilmente usar o outro; mesmo um observador casual pode ver facilmente que este assim chamado “Rito de York”, em essência é o mesmo em todos os lugares onde a língua inglesa é falada. A Concordata adotada em 1910 pelos Poderes do Templo do Mundo, sublinha este grande fato.

O nome “Rito de York” é um erro indesculpável, pelo menos um erro lamentável. Nunca existiu um Rito de York. Não é necessário entrar em qualquer discussão sobre as reivindicações da Grande Loja de York ou um sistema York de Maçonaria, pois a questão foi resolvida além de qualquer controvérsia. O nome “Rito de York” é uma herança dos antepassados ​​da Maçonaria nos Estados Unidos, que eram mais hábeis em alterar o ritual do que na história da Maçonaria. Isto torna-se especialmente evidente, quando se lembra que a efêmera Grande Loja de York jamais forneceu carta constitutiva a qualquer loja na América. A Maçonaria dos Estados Unidos começou com a Grande Loja Provincial de Massachusetts, então sob a Grande Loja da Inglaterra (Modernos), com Price como Grão Mestre. A Grande Loja de Inglaterra (Antigos) e a Grande Loja da Escócia emitiu cartas constitutivas para lojas na América, e é razoavelmente possível, que antes da união das duas Grandes Lojas da Inglaterra, o Arco Real e as Ordens Maçônicas de Cavalaria Crista eram conferidos neste País pelas Lojas militares ligadas aos Regimentos irlandeses estacionadas nas colônias. Para resumir tudo, o nosso chamado Rito de York é o Rito Inglês vestido com roupas mais fantasiosas.

O nome “Rito de York” deveria ser eliminado e substituído pelo nome de Rito Inglês. Em vista dos fatos precedentes quanto ao que constitui um rito, nós, nos Estados Unidos estamos praticando ou formulamos um sistema americano do Rito Inglês; não um Rito Americano como é frequente e erroneamente chamado, mas um sistema de Graus do Rito Inglês; que deveria ser conhecido como o Rito Inglês, ou Rito anglo-saxão.

Fonte:   The Builder – November 1916

ABRIL MOSTRA SUA CARA - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil


Ainda que a origem deste nome seja relativamente obscura, ensejando algumas diferentes interpretações, fato é, que ABRIL, o quarto mês do calendário gregoriano, possui duas vertentes principais quanto a sua etimologia e significado.

Uma corrente de etimólogos é partidária do entendimento de que o nome  advenha do Latim  "APRILIS"  que significa "abrir" numa referência à germinação das culturas no Hemisfério Norte, pois lá, a estação do ano  é a Primavera.

Outra porém, entende que o vocábulo advenha de "Aprus", termo relacionado a "Afroditis", nome grego da deusa Vênus, que teria nascido de uma espuma do mar que, em grego antigo, se dizia "abril".

Independentemente destas especulações etimológicas, ABRIL é a abertura do Outono aquí no hemisfério sul.

Já que a abordagem dá conta sobre a abertura do mês de ABRIL neste ano corrente de 2022 da era vulgar, não custa lembrar que a origem do chamado 1o. de Abril, com Dia da Mentira, tem um componente histórico, cujas traduções orais traduzem a seguinte narrativa:

Segundo relatos de alguns historiadores,  com a instituição do Calendário Gregoriano na França em 1582, em lugar  do Juliano, isso acabou causando um certa confusão entre as pessoas.  

Muitas, nem tinham sido informadas quanto à mudança, sem contar as limitações e dificuldades à época, para que as notícias ganhassem alcance.

Assim, o primeiro dia do ano, deixou de ser em Abril e passou para Janeiro.

Diante desta significativa mudança, a data passou a ser chamada pelos europeus como 1o. de Abril , Dia da Mentira. 

O fato alastrou-se por todo o continente e ganhando influência em todo o Ocidente.

Daí a analogia com a Mentira, e por conseguinte, as brincadeiras que surgiram baseados na referida data.

No Brasil, especificamente o mês da Abril registra as seguintes datas mais marcantes do ponto de vista histórico-cultural:

19/04  Dia do Índio

21/04  Tiradentes (herói nacional) e a data de fundação de Brasília, capital federal.

22/04  Descobrimento do Brasil

Ainda aqui no Brasil, em termos de Celebrações Religiosas, apesar do caráter móvel,  habitualmente no mês de Abril comemoram-se a Páscoa (festa cristã) e o Pessach (festa judaica).

Apenas a título de curiosidade para fechar esse breve capítulo, vale lembrar que o calendário que hoje utilizamos trata-se de uma evolução do antigo calendário romano, em que vários meses ostentavam nomes de deuses pagãos. 

Que o majestoso azul celeste, tão típico de Abril, aqui em nosso hemisfério, bem como a leve queda de temperaturas, possam propiciar-nos dias melhores e mais felizes, estimulando nossas  disposições da alma a devotar nossos propósitos na busca incansável pela prática do bem.


março 31, 2022

MUITO OBRIGADO PELOS 106.616 ACESSOS



Meus caríssimos irmãos e leitores,

Encerramos o mês de março neste dia 31 com um recorde de 13.562 acessos neste blog em março, totalizando 106.616 acessos desde o seu início em fevereiro do ano passado.

É a nossa contribuição para divulgar os excelentes trabalhos dos melhores autores da maçonaria brasileira.

Nem sempre concordamos com as opiniões expostas, mas como livres pensadores entendemos que cada um deve formar a sua própria opinião a respeito dos textos publicados.

Para um trabalho tão despretensioso, esta quantidade de acessos nos enche de orgulho e de determinação de prosseguir divulgando a melhor maçonaria. Obrigado.

TFA

Michael Winetzki

PS - Como esta sendo postado as 20;45 pode ser que estes números sejam ainda maiores até o final deste dia.


TELHAMENTO OU TROLHAMENTO - Pedro Juk





Em 30.06.2014 o Respeitável Irmão Clovis Luciano de F. Júnior, sem declinar o nome da Loja, Rito, Obediência, Cidade e Estado da Federação apresenta a questão seguinte.

Caros amigos da redação Trolha, eu comprei um livro recentemente os Cadernos de Bolso de Aprendiz, Companheiro e Mestre; e lendo o Caderno de Aprendiz na pagina 63 sobre o telhamento ou trolhamento? O livro nos diz que o correto é telhamento, mas li em outro livro que na verdade seria trolhamento porque consultando o dicionário priberam da língua portuguesa de português europeu, trolha é aquele operário que assenta e conserta tijolos, logo trolhamento seria assentar e consertar telhados já o telhador é aquele que telha e o verbo telhar significa cobrir com telha. Eu li um livro muito interessante do Kennyo Ismail que me deu uma base muito mais sólida para esse assunto. Gostaria de saber uma posição de vocês em relação a isso.

Considerações: 

Assim se pronuncia o Novo Dicionário Aurélio – atualizado e versão eletrônica: 

Trolha - Substantivo feminino - 1. Espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa que vai usando. 2. Brasil - Desempoladeira. Substantivo masculino. 3. Pedreiro ruim. 4. Servente de pedreiro. 

Telhar - Verbo transitivo direto - 1. Cobrir com telhas; atelhar. Telhador (De telhar + -dor) - Substantivo masculino - 1. Aquele que telha.

Telhadura (De telhar + -dura) - Substantivo feminino - 1. Ato ou efeito de telhar. 2. Lugar onde se fabricam telhas. 

Neologia – Substantivo feminino - 1. Emprego de palavras novas, ou de novas acepções. 

Neologismo - Substantivo masculino - 1. Palavra ou expressão nova numa língua. 2. Por extensão - Significado novo que uma palavra ou expressão de uma língua pode assumir. 

Ponderações sobre os termos “telhamento e trolhamento” em Maçonaria: 

A origem dos “trabalhos cobertos” vem dos canteiros medievais onde os planos da obra, contratos de trabalho e o ensinamento da “arte” eram sigilosos. Essa prática estendeu-se para a Maçonaria Especulativa e por extensão a Moderna Maçonaria. 

Nesse caso a referência feita à “cobertura” significa exatamente o sigilo no trato dos acontecimentos e assuntos maçônicos dentro da Loja. Assim o rótulo assumiu o neologismo maçônico de “telhamento” pela cobertura dos trabalhos – ninguém pode ver nem ouvir o que se passa no canteiro (Loja). Desse costume apareceria o cargo do Cobridor como aquele que figuradamente cobre os trabalhos na Loja. Dependendo da vertente maçônica existe o Guarda Externo (francesa) e o Tyler (inglesa), assim como os conhecidos Cobridores, ou Guardas Internos. 

Como o termo se refere ao sigilo, os Sinais, Toques e Palavras guardados como verdadeiros segredos da Ordem assumiram também as características de “cobridores do grau”, posto que além de afastar bisbilhoteiros, preserva os segredos de cada grau, dando o caráter de qualidade para o maçom participar ou não de uma sessão de acordo com o seu nível de aprendizado. 

Assim o termo “cobertura” identifica-se com “telha” que, por extensão dá o caráter de “telhamento” (neologismo – termo encontrado no idioma vernáculo é telhadura). Também dessa associação apareceria o uso da palavra “goteira” para um não iniciado (costume adquirido pela má cobertura do recinto). 

Infelizmente, embora já exaustivamente explicado, alguns ainda produzem o equívoco de confundir “telhamento” com “trolhamento”. Essa interpretação enganosa foi inserida nos rituais brasileiros de há muito tempo atrás e veio se reproduzindo como uma erva daninha, embora alguns autores ainda “tentem” achar uma justificativa para a mesma. 

A palavra “trolha” rotula um instrumento usado pelo pedreiro no seu ofício. Ela pode ser a “colher de pedreiro”, ou a “desempoladeira, ou desempenadeira” donde o artífice se serve da argamassa e alisa a superfície para aparar arestas. Desse procedimento operativo, surgiria o termo figurado de “trolhamento” (outro neologismo maçônico) sugerindo a ação de aparar rusgas por eventuais desentendimentos entre os Irmãos. 

Assim, o ato do trolhamento significa apaziguar, enquanto que o de telhamento implica em cobrir. Afinal cobre-se um recinto com telhas ou com trolhas? O que não faz sentido é fazer analogia do trolhamento com o sigilo e o segredo maçônico, já que como Landmark específico o sigilo e o segredo fazem parte da “cobertura dos trabalhos maçônicos”, e nunca da digamos... “trolhadura dos trabalhos”. 

Definições maçônicas para os termos: 

Telha (do latim tegula) – substantivo feminino: designa uma peça, em geral de barro cozido, usada na cobertura de edifícios. 

Telhador – substantivo masculino: designa aquele que telha. 

Telhadura – substantivo feminino: designa o ato ou efeito de telhar. 

Telhamento – neologismo maçônico: designa o mesmo que telhadura. 

Trolha (do latim trullia, variação do latim trulla) – substantivo feminino: designa uma espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa da cal que vai se servindo. Designa no Brasil, também a desempoladeira; a desempenadeira. 

Trolhamento – neologismo maçônico: designa o ato ou efeito de trolhar (neologismo). 

Telha – Na Maçonaria moderna como uma “construtora social”, os instrumentos de trabalho e materiais são simbolicamente os dos construtores de edifícios. Assim a cobertura do Templo também está em não permitir a presença de intrusos e bisbilhoteiros. Simbolicamente é feita a cobertura com telhas através do Telhador, por extensão o Cobridor, ou aquele que cobre. É a origem do termo “goteira” que em Maçonaria significa o lugar descoberto, ou o bisbilhoteiro que espiona os trabalhos – para que isso não venha acontecer o Cobridor “cobre o Templo”. 

Telhador – Como oficio daquele que cobre de telhas. Em Maçonaria recebe também o título de Cobridor, ou o Guarda do Templo, a quem compete o ato de “telhar”, ou fazer o “telhamento” naqueles que se apresentam à porta do Templo para verificar a sua qualidade maçônica de iniciado, bem como o seu Grau conforme o trabalho da Loja. 

Telhar – verbo transitivo direto significa o ofício de cobrir com telhas. Em Maçonaria compete ao Cobridor, ou Telhador, o ofício de telhar, ou examinar nos toques, sinais e palavras, os visitantes que se apresentam à porta do Templo no intuito de verificar se os mesmos são realmente Maçons e posteriormente se certificar da qualidade maçônica conforme o Grau para ingressar nos trabalhos que estão sendo realizados. Infelizmente o termo tem ainda sido confundido com o ato de “trolhar”, que verdadeiramente significa o ato de “passar a trolha”. Assim, trolhar nesse caso é termo altamente incorreto para se designar o referido exame, já que telhar está ligado ao ato de cobertura e cobertura é feito com telhas, não com trolhas. Do mesmo modo o Cobridor, ou Telhador não possui o título de “trolhador” em qualquer Rito ou Trabalho maçônico. 

Trolha – a Moderna Maçonaria como construtora social, viria absorver inúmeros instrumentos da arte de construir. Sob esse prisma a trolha não deixaria de nela ter um importante significado simbólico. Alguns autores, provavelmente pela etimologia da palavra, defendem a tese de que a trolha seria a colher de pedreiro. Contudo seja ela a colher de pedreiro, seja ela a desempoladeira, ou desempenadeira, conforme a definição apontada por bons dicionaristas do idioma vernáculo, a verdade é que ela, dentro das suas funções, serve para alisar a argamassa aparando e preenchendo as rugosidades. 

Nesse sentido a trolha e o ato de trolhar (neologismo maçônico) significa o meio que é usado para apaziguar os Obreiros que porventura estejam em litigio - aparar arestas. Esse apaziguamento, ou esse entendimento é rotulado pelo neologismo maçônico como “trolhamento”, já que trolhar designa o ato de passar a trolha. 

Lamentavelmente o termo “trolhamento” ainda tem sido equivocadamente usado em lugar de “telhamento” como se ambos tivessem o mesmo sentido. 

Finalizando: “telhamento” é um dos ofícios do Cobridor quando verifica a qualidade maçônica de um visitante. Já “trolhamento” significa o ato de apaziguar eventuais rusgas ou desentendimentos entre os Irmãos. 

O Cobridor Externo no Craft (inglês e norte-americano) é o “Tyler”. 

Desculpe o abuso do “prolixo”, todavia é uma das armas para combater essas carcaças de dinossauro – a insistência do tal “trolhamento” para a verificação. 

Finalizando, o Caderno de Bolso “A Trolha”, Instruções para a Loja de Aprendiz, R∴E∴A∴A∴ no que concerne a vossa questão está corretíssimo.

março 30, 2022

SHITTIM OU A ACÁCIA BÍBLICA


A acácia é um grande símbolo da Maçonaria! Mas que acácia é?

A árvore que chamamos por esse nome na França é de fato a falsa acácia ou robinia - com flores brancas ou rosa -, sólida em seu tronco muito reto, decorativa com suas folhas bem compostas e caducifólias. Acácia é algo completamente diferente...

Uma enciclopédia explica: "A acácia é uma árvore espinhosa da família das leguminosas, com flores perfumadas, dispostas em cachos, das quais uma espécie fornece goma arábica, outra existe: a mimosa, de origem australiana. Na França, duas espécies de mimosa são comumente difundida: a mimosa "quatro estações" com suas longas folhas lanceoladas, mais longas e mais estreitas que as da oliveira, e a mimosa de inverno que possui pequenas folhas compostas semelhantes a pequenas samambaias de alguns centímetros de comprimento, bem como as famosas flores amarelas com forte fragrância".

A acácia que nos interessa, a acácia da Bíblia, o " Sittim " (ou Sethim), não corresponde a nenhuma das variedades presentes na França.

Em Israel, os beduínos reconhecem pelo menos cinco espécies de acácia;

algumas próximas à nossa mimosa das quatro estações, outras à acácia de inverno, mas menos frondosas e providas de espinhos simples ou duplos madeira e cujos galhos são cobertos de espinhos de três a cinco centímetros. Na junção dos espinhos e do galho crescem minúsculas folhas compostas, laços liliputianos de quinze a vinte e cinco milímetros.

É com madeira de Shittim que os hebreus fizeram a Arca da Aliança e certas partes do mobiliário sagrado do Tabernáculo.

A aparência irregular dos ramos não deixa, aliás, de colocar problemas para os exegetas, alguns dos quais pensam que pode ter existido, nos tempos bíblicos, Shittim de uma variedade mais esbelta com ramos retos, enquanto outros referem-se às lendas que relatam que o nome de Shittim evoca cedros que teriam sido plantados no deserto para a construção da Arca por ancestrais visionários.

No Sinai, diz-se que a acácia representa a morte... porque nada cresce ao redor, pois suas longas raízes anseiam pelo menor vestígio de umidade (mais de cinco metros às vezes). Diz-se também que é um símbolo de imortalidade, de pureza, porque tem fama de ser à prova de podridão.

E é com os seus ramos que foi tecida a coroa de espinhos de Cristo...

Tudo pode estar lá!

Fonte: Secreto masónico

O ANALFABETISMO MAÇÔNICO NO SÉCULO XXI - José Martins



O analfabetismo de ontem era o iletrado, não conhecedor do alfabeto, hoje analfabeto é aquele indivíduo que mesmo sabendo ler não consegue interpretar um texto, ou seja, não entende o que leu.

Isso ressalta no Brasil uma marca de aproximadamente 30 milhões de analfabetos funcionais.

O desígnio da Maçonaria é, em suma, o de tornar o homem maçom mais sábio e melhor, e consequentemente, mais feliz.

A sabedoria é inútil a menos que se ponha em prática.

Se você não estiver disposto a vivenciar a maçonaria, não procure conhecer os seus grandes mistérios.

Esse conhecimento traz em si a responsabilidade do uso e da obediência: é impossível esquivar-se dessa responsabilidade.

Deveríamos, e poucos IIr.’. procuram, estudar, entender, compreender e interpretar melhor o significado real de algumas passagens dos textos primitivos da Maçonaria, anterior à instrução da primeira Grande Loja de Londres e a Constituição de Anderson.

Dentro da instituição Maçônica, existem diversos segmentos a serem seguidos, tais como: a ação política maçônica; a defesa dos interesses da comunidade; a avaliação internamente dos problemas estruturais da sociedade, etc.

Mas é de fundamental importância, procurarmos ler e interpretar nossos rituais bem como nosso riquíssimo simbolismo.

O maçom, dentro do seu campo de atuação, pode-se assim concluir, que ele está certo, mas há de nos conscientizarmos, ou seja, existem IIr.’. que, apesar da capacidade de ler, maçonicamente não possuem capacidade de interpretar ou entender o que foi lido.

A interpretação da nossa simbologia, que além de importante, é de inteira responsabilidade individual de cada um de nós; e é no processo dessa interpretação pessoal que se pode entender a sobrevivência da nossa Ordem Maçônica como um “mistério”.

Para que possamos, com o secreto que se reserva entre nós, o de conhecermos entre si em qualquer parte do mundo e a forma de interpretar símbolos e seus ensinamentos.

Isso só se torna conhecimento desde quando fomos iniciados.

Na nossa instituição maçônica, ouvimos e falamos muito em filantropia, mas a verdadeira filantropia deve estender-se a todos os homens, indistintamente.

Filantropia verdadeira é ajudar o semelhante a emergir de sua pobreza material, de seu analfabetismo, de sua ignorância, devolvendo-lhe o amor próprio e a responsabilidade social.

No seio da nossa instituição, por meio dos nossos ensinamentos e do próprio simbolismo, a sabedoria é um crescimento da alma, e a recompensa do trabalho e do esforço, que não pode ser adquirida se não pelo seu igual valor em sacrifício.

Cada vez que você progride ao olhar para trás, perceberá ter passado pelo altar dos sacrifícios, algo que representa o trabalho de suas mãos e de seu coração, simbolizando que, por meio do trabalho, retribuirá aos seus IIr.’. e à humanidade os benefícios que recebeu gratuitamente.

Respeitando-se integralmente os Landmarks e os 33 mandamentos da Maçonaria e, considerando as faixas de ação da política maçônica, concluímos que devemos nos empenhar, como IIr.’. e instituição (Lojas), em defesa dos interesses maiores da comunidade.

Isso significa fazermos política comunitária; discutir e avaliar internamente os problemas estruturais da sociedade em que vivemos, ajudar a encontrar soluções e colaborar em suas implementações.

Acredito, e boa massa de IIr.’. também acreditam, que neste Brasil afora muitas Lojas vêm fazendo exatamente isso, seja nas áreas educacional, de assistência social, de saúde pública, de ecologia e tantas outras.

Para finalizar, é importante repassar e dizer que, talvez porventura, no século XVIII se justificasse o analfabetismo nos diversos segmentos.

Então imperava o analfabetismo, muitas das ciências davam os primeiros passos, o Iluminismo era ainda recente… mas, nos dias atuais, que interesse e justificação têm pedir-se a homens cultos, muitos licenciados e doutorados que … estudem o homem e as ciências e as artes?

Tudo isso são interrogações legítimas, preocupações compreensivas, hesitações evidentes.

Mas por tudo isso é necessário passar, para se concluir a formação maçônica.

março 29, 2022

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE SEGREDOS E MISTÉRIOS? - Almir Sant'Anna Cruz



SEGREDO: É algo simples que não carece de tempo, estudo ou pesquisa para ser compreendido. É algo oculto que ao ser revelado deixa de ser segredo. Assim, a grande maioria dos ditos segredos maçônicos são, na verdade, o que se conhece como “Segredos de Polichinelo”, ou seja, informação que deveria ser secreta, mas que já é do conhecimento de todos;

MISTÉRIO: Mistério não é Segredo, não é algo oculto, é algo que necessita de tempo, estudo, pesquisa, conhecimento e percepção para ser entendido. 

Invariavelmente as antigas instituições filosóficas e religiosas dividiam seus ensinamentos em públicos ou exotéricos (de caráter geral e ético, ministrados sob a forma de contos, alegorias e parábolas) e restritos ou esotéricos (de caráter individual e místico, reservados aos iniciados). 

Jesus também assim procedeu. Na Bíblia podemos confirmar que se para o público em geral seus ensinamentos eram limitados e por parábolas, para seus discípulos tudo lhes era revelado: Marcos 4:11: E ele disse-lhes: A vós é dado saber os MISTÉRIOS do reino de Deus, mas aos que estão de fora, todas estas coisas se ensinam por parábolas. 

Marcos 4:34: E sem parábolas nunca lhes falava; porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.

Então meus IIrm.’. a esse Mistério, chamamos o “Grande Segredo”, que não é comunicado nem confiado, é algo incomunicável, pois a linguagem humana é incapaz de traduzir, uma vez que as palavras correspondem a conceitos ao passo que o pensamento esotérico eleva-se acima do pensamento conceitual. 

Nenhum profano, que eventualmente teve acesso aos ditos “Segredos”, deles nada extrairá, pois somente quem foi ritualmente iniciado, quem viu a Luz Maçônica, poderá estar instrumentalizado a acessar O Grande Segredo, que é algo individual e que nem todos alcançam e, talvez por isso, por não terem alcançado o “Grande Segredo”, muitos acham que tudo é Segredo na Maçonaria.


WHATSAPP E A MAÇONARIA - Sérgio Quirino



A perpetuidade da Maçonaria se funda justamente na manutenção de nossas tradições, sem nos tornamos arcaicos.

Arcaico, aqui, se refere ao antiquado, obsoleto e não ao tradicionalismo: do latim traditio, que é “passar adiante” ou “entregar” algo.

No compartilhamento das instruções, transmitimos os valores morais e éticos contidos nos símbolos, gestos e marchas.

Através da ritualística e por meio do conteúdo da lenda e do respeito à hierarquia, buscamos o sentido da formação do Ser.

Tudo o que é novo causa algum tipo de atrito entre o “antigo” e o “moderno”.

Assim foi quando os balaústres começaram a ser gravados, já que prometemos nada grafar.

Hoje, não há conflitos quanto ao uso de computadores para a lavratura.

Mas, já ocorreram embates quanto à substituição do Livro de Atas lavrado à caneta, na reunião pela folha impressa numa “profana impressora” (já que ela estaria fora do Templo) em data posterior a reunião.

O que dizer, então, da luz elétrica, da harmonização feita por pen drive em micro system e dos aparelhos de ar condicionado?

O PROBLEMA DAS “MODERNIDADES” NÃO ESTÁ NO USO, MAS NO MAU USO.

O aplicativo WhatsApp, esta fantástica ferramenta de comunicação, aproximação e estreitamento de laços tem, frequentemente, provocado exatamente o contrário.

WhatsApp vem da expressão em inglês “What’s up?” substituindo o “up” por app, de “application program”. Se traduzido para o português a expressão tem significa:

- E aí?   - O que esta acontecendo?     - Qual é o problema?

O aplicativo tem este nome justamente para que possamos compreender sua missão.

A plataforma destina-se a mensagens rápidas, objetivas e direcionadas.

Sejamos sinceros: O que temos praticado são, na maioria das vezes, desvirtuamentos.

Nos grupos criados sob o tema “Filosofia”, vemos Irmãos postando imagens e textos sobre futebol; grupos de Lojas Maçônicas com cenas de nudez, grupos de Hospitalaria onde o assunto predominante é política partidária.

Algumas reflexões:

Se você acorda cedo, parabéns!

Mas, é realmente necessário enviar um mero “Bom dia”, às 5, 6, 7 horas da manhã, para todos os 20 grupos que você e a maioria de seus Irmãos fazem parte? 

Doação de sangue para um moribundo, córneas sobrando, 500 cadeiras de rodas para doação, vagas de empregos em multinacionais, sequestrados, perdidos e abandonados em hospitais etc, essas mensagens devem ser multiplicadas somente se confirmada a veracidade da informação. 

Seja criativo. Crie sua própria mensagem.

O simples “copiar/colar” e enviar para todos os grupos, só serve para encher a memória dos celulares.

Se você recebeu aquela “linda mensagem” provavelmente todos nós já a recebemos. 

Entre nós Maçons, imagens e filmes de violência, agregam alguma coisa? 

Mensagens de WhatsApp são como flechas.

Depois de lançadas, não tem como pará-las.

Na maioria das vezes, os Irmãos miram um alvo e acertam outros. 

No calor e na intempestividade de se manifestar, magoamos, afastamos e destruímos fraternas relações. 

A MODERNIDADE SERÁ SEMPRE O PRÓXIMO PASSO. 

MANTENHA SEUS SENTIDOS EM ALERTA, A MENTE ABERTA E O CORAÇÃO PURO.

TEMOS A OBRIGAÇÃO DE USAR TODAS AS FERRAMENTAS A NÓS APRESENTADAS APENAS E EXCLUSIVAMENTE PARA EDIFICAR. 

SEJA AGENTE MODIFICADOR DAS VIBRAÇÕES DOS SEUS GRUPOS PARA QUE HAJA JUSTIÇA E PERFEIÇÃO.

Bom dia meus irmãos. 

 


março 28, 2022

LANDMARKS - CLASSIFICAÇÃO DE PIKE - José Castellani

















José Castellani, um dos mais importantes estudiosos da maçonaria no Brasil. Escreveu mais de 70 livros.

A palavra inglesa "landmark", literalmente, significa marco de limite, marco miliário; figuradamente, significa ponto de referência. No idioma vernáculo, podem ser usados os termos limite, ou lindeiro.

Limite, do latim: lime, itis,designa a linha de demarcação existente entre terrenos, ou territórios contíguos; o marco, a baliza, a raia, ou fronteira natural, que separa um país de outro; o ponto máximo, que não se deve, ou não se pode ultrapassar.

Lindeiro, com a mesma origem etimológica, designa o que é relativo a linde, ou seja, limite, raia,marco, baliza. Também se usa a forma landmarque. 

O vocábulo "landmark" surge, pela primeira vez, na compilação dos Regulamentos Gerais de 1721, incluídos na Constituição de Anderson, onde o 39º e último dos regulamentos diz:

"Cada Grande Loja anual tem o inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento, ou redigir um novo, em benefício da Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos landmarks....". A Assembléia Geral de 25 de novembro de 1723, da Premier Grand Lodge, todavia, resolvia substituir o termo "landmark" por "rule", que significa REGRA e que já iria constar nas edições seguintes do Livro das Constituições.

Desta maneira, pode-se concluir que a Regras, ou Landmarks, não eram aquelas expressas nos Regulamentos Gerais, mas, sim, normas não escritas. 

Considerando, então, que existiam esses limites, que regulam a atividade e o comportamento ético dos obreiros, consuetudinários, ou já expressos na Constituição de Anderson, surgiram, a partir da metade do século XIX, diversas classificações de landmarques, com maior ou menor número deles.

E a maior parte não resiste a uma análise crítica profunda, pois a maior parte dos conceitos nelas alinhavados não representais reais antigos limites, ou antigos e universais costumes da Ordem, os quais, paulatinamente, foram sendo estabelecidos, como regras básicas da atuação maçônica. 

Na realidade, para que uma regra seja considerada um verdadeiro limite, ela deve ser imemorial, espontânea e universalmente aceita, o que, na verdade, não ocorre com a quase totalidade das classificações conhecidas (mais de 60).

O conceito de imemorial, significa que uma regra, para ser um lindeiro, deve ter uma antigüidade suficiente para que não se possa estabelecer, no tempo, a sua origem. O de espontânea, significa que um verdadeiro landmarque não tem autor conhecido, mas foi gerado pelo uso da comunidade.

O conceito de universal aceitação, significa que uma norma só aceita em algumas comunidades não é um legítimo limite, mas, sim, uma regra particular de conduta. 

As cinco principais classificações são as de Findel, Pike, Mackey, Pound e Berthelon. A de Pike é, de longe, a mais sensata de todas. 

Classificação de Pike 

Albert Pike (1809-1891) foi um célebre maçom norte-americano, nascido em Boston. Poeta, advogado e militar --- que chegou ao generalato --- foi Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos.

Sua obra principal é "Morals and Dogma", de 1871, onde estida os Altos Graus, um a um.

Sua classificação de landmarques foi resultado de um amplo estudo e de uma arrasadora e erudita crítica contra o emaranhado de falsos limites, apresentados pelos autores da época, incluído, aí, o seu discípulo Albert Gallatin Mackey. Para Pike, os landmarques são apenas cinco: 

1º - A necessidade dos maçons reunirem-se em Lojas ; 

2º - O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes ; 

3º - A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura ; 

4º - A cobertura dos trabalhos da Loja ; 

5º - A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçónico. 

Pouco há a comentar sobre um trabalho como esse, bastando dizer o seguinte: todas as regras relacionadas são verdadeiros landmarques; e é a única classificação conhecida em que isso ocorre. Mesmo que alguns autores contestem uma ou outra dessas regras, nenhum deles pode deixar de reconhecer essa verdade. 

Subsidiariamente, é forçoso que se note que, nesta classificação, não consta a iniciação exclusiva de homens, que sejam livres e não mutilados. 

Pela sua erudição maçónica, pela síntese absoluta que faz em sua relação de limites, e por relacionar somente verdadeiros landmarques, Pike, com sua compilação, é que deveria merecer a maior credibilidade dos maçons.

Lamentavelmente, não é isso que acontece nos países latinos, onde a classificação de Mackey reina soberana, sendo, quase sempre a única conhecida e tomada como lei incontestável, embora seja uma das mais falhas e mais mentalmente castradoras de todas as compilações existentes, tendo vinte, das vinte e cinco regras, que não são verdadeiros landmarques e não tendo prestígio nem dos EUA, país natal de Mackey, onde só quatro das cinquenta e duas Grandes Lojas a aceitam. 

Do livro "Análise da Constituição de Anderson". Editora A Trolha - 1995

BOM SENSO NA MAÇONARIA - Sidnei Godinho



Em um mundo que sufoca pela maldade galopante e pela falta de dignidade, aqueles integrantes de um seleto grupo, que se propuseram a encontrar a verdadeira luz, carecem de então proceder como verdadeiros iniciados.

Não se pode aceitar que interesses políticos e sede de poder sobrepujem os princípios de Moral e bons costumes.

Não se pode aceitar que uma minoria domine toda uma instituição com seus interesses escusos, como se senhores fossem da realidade, quando no íntimo são apenas escravos de suas vaidades de poder e brilho. 

Para que a Maçonaria seja perene ela intima que se vençam as paixões e se sujeitem suas vontades.

É somente através desta infindável luta do bem contra o mal que o homem consegue purificar sua natureza e alcançar a pureza de um novo ser.

A Perfeição e a Justiça são objetivos a serem buscados diuturnamente e não há como alcançá-los sem o Bom Senso nas ações do dia-a-dia.

*NINGUÉM É PERFEITO*

O maçom jamais pode ser" inocente " em suas decisões, alegando desejar somente esclarecer outras ações que lhe são contrárias, pois o que se ensina na Ordem é a alcançar o Conhecimento; e a Sabedoria é oposta à ingenuidade.

Alegar desconhecer nossos princípios nem mesmo caracteriza excludente de ilicitude, mas ao contrário evidencia a falta de preparo e o descaso do irmão que ao longo de sua jornada demonstra não ter abandonado suas vaidades.

Que a inspiração para o tão necessário Bom Senso venha daquele que o primeiro exemplo deixou:

... Nem tudo o que "Eu Posso fazer eu *DEVO* fazer...

Que assim seja.'.

Bom dia e boas reflexões meus irmãos.



março 27, 2022

SÍMBOLOS E RITUAIS MAÇÔNICOS - M. Follain



Como instituição iniciática, a Maçonaria adota para o ensino e estudo de sua filosofia, a apresentação de Símbolos e Rituais. Este método consiste na interpretação intuitiva dos Símbolos e Rituais, e é eminentemente auto- didático.

Ritual Maçônico é uma representação, uma demonstração alegórica, um teatro ritualístico. Rituais (ou cerimônias) são fundamentais para o maçom.

Dentre eles, destacam-se: o Ritual de Iniciação: de profano a Aprendiz; Ritual de Elevação: de Aprendiz a Companheiro; e o Ritual de Exaltação (Rito Escocês Antigo e Aceito) de Companheiro a Mestre, que é a encenação da morte de Hiram Abiff.

Os Rituais são cerimônias de transformação interior - há uma interconexão entre o consciente e o inconsciente. “Iniciação” é uma palavra oriunda do latim “initiare”, “início ou começo em”.

O termo “iniciação” tem um sentido designado pelo uso comum da palavra: é o “início” de alguma coisa. Mas a expressão “Ritual Iniciático” é usada em dois contextos diferentes: em primeiro lugar, um Ritual Iniciático é a cerimônia de aceitação de um indivíduo por determinado grupo.

Nessa primeira acepção, o Ritual Iniciático tem um caráter social, que demarca a relação da pessoa com a coletividade ou com algum segmento da sociedade. Portanto, quando o indivíduo entra para um determinado grupo, esse ingresso é comemorado com um Ritual de Iniciação.

Em segundo lugar, a expressão “Ritual Iniciático”, indica não uma mudança de condição social, mas uma transformação interna: o que se modifica é o próprio ser do iniciado e, consequentemente, sua consciência e percepção.

Trata-se de uma verdadeira transmutação, no sentido alquímico do termo.

E, ao contrário do primeiro tipo, não envolve uma cerimônia pública. É um reconhecimento externo de uma mudança interior, que já se processou.

Neste segundo sentido, a Iniciação ocorre quando o neófito estabelece contato com as forças arquetípicas e deixa seu campo de consciência ser transformado pela exposição a essas forças, que se expressam por meio de manifestações simbólicas, que cabem a ele decifrar.

O cérebro, durante práticas de Rituais (ou de meditação), passa a operar em ondas mais lentas.

Durante o Ritual, o indivíduo entra num estado alterado de consciência, com ondas cerebrais alfa e teta, que lhe permitem acessar o inconsciente.

Esse estado alterado de consciência é alcançado pelo pensamento e a emoção, colocados na dramatização.

Quando acontece a emoção (intensidade e perfeição na atuação de cada maçom), o cérebro não consegue perceber o que é “realidade” e o que é “teatro”, entendendo o Ritual como realidade no presente. E, cada maçom, acessando seu inconsciente individual, estará conectado com o inconsciente coletivo.

No Ritual de Iniciação, há uma transmutação, um renascimento interior, proporcionando uma nova percepção de si mesmo e do mundo. O iniciado passa por “provas”, como acontece com cada indivíduo durante sua vida.

Por esse motivo, o símbolo maçônico da Iniciação é a morte – morrer para a vida profana e renascer para a Vida Maçônica. Morte e nascimento são dois aspectos entrelaçados e inseparáveis de toda mudança. Os Rituais de Iniciação na Maçonaria englobam esses dois sentidos.

O Ritual se destina a legitimar o ingresso do indivíduo na Ordem, e concomitantemente, seu interior está se desenvolvendo por meio de uma série de evoluções graduais que vão ampliando seu consciente e inconsciente.

A Iniciação tem como especial e fundamental objetivo, dissolver e eliminar aspectos negativos, que possam estar impedindo o crescimento pessoal: medos, egoísmo, etc.

O ato da Iniciação não pretende extirpar definitivamente do homem seu ser profano e o mundo. A finalidade é fazê-lo conviver com o profano e o conhecimento sagrado.

Os símbolos utilizados na cerimônia têm como finalidade, agregar as forças arquetípicas para o iniciado. A promoção na hierarquia da Ordem ocorre, quando sua consciência (do iniciado) atingiu um grau de desenvolvimento satisfatório.

Os Graus maçônicos são os degraus do conhecimento a serem alcançado pelo iniciado. Como todo processo de metamorfose, não há retrocesso para o iniciado. 

Uma vez maçom, sempre maçom. Transposto o portal que transmuta o indivíduo, ele jamais será o mesmo. O iniciado morre para uma realidade e renasce para outra dimensão de sabedoria.

As consequências do Ritual são irreversíveis: o milho que vira pipoca, jamais volta a ser milho. O iniciado fez o voto de caminhar sempre adiante, portanto, não pode mais retroceder.

Nos Rituais, são interpretadas, dramatizadas e vivenciadas várias situações arquetípicas - arquétipos primordiais, muito mais antigos que a própria linguagem.

Os Rituais, praticados em segredo são a imagem de processos interiores, permitindo a elevação para o conhecimento, a sabedoria, de maneira progressiva.

Os ensinamentos da Ordem dão-se, preferencialmente, através de três caminhos: Rituais, Devocionais e Contemplativos. Os Rituais são o caminho da ação e é o principal método de ensinamento da Ordem.

No caminho da devoção, há o uso da meditação, obediência e amor fraterno – os aspectos devocionais acontecem por meio dos trabalhos filantrópicos.

O caminho contemplativo acontece com o estudo de símbolos e os valores que esses símbolos representam. Os Rituais estão carregados de alegorias e simbolismos que se impõem desvendar e assimilar.

Os símbolos utilizados pela Maçonaria têm origens diversas. Alguns autores dividem esses símbolos em dois tipos principais: os que tiveram origem na Maçonaria Operativa e os que foram introduzidos a partir de conhecimentos ocultistas, que se integraram à Maçonaria Especulativa (Alquimia, Hermetismo, Astrologia, Numerologia, Cabala). Mas todos os símbolos devem ser assimilados pelo maçom e interpretados de acordo com sua inteligência, grau de evolução interior, sua maneira de ser e sentir.

Os símbolos são oriundos de diversas crenças, filosofias, antigos mistérios, mas isso não implica que os maçons partilhem dessas crenças.

As mensagens contidas nos símbolos serão interpretadas, compreendidas e interiorizadas, e passarão a fazer parte do ser e da experiência de cada maçom. Ser maçom implica integrar o racional a uma entrega mística.

Os Rituais e o estudo da simbologia permitem que os maçons progridam no entendimento racional e emocional, nos conceitos que a Maçonaria transmite. Com o aprofundamento de seus estudos, o maçom encaminha-se para a verdadeira “espiritualidade” – sem dogmas, livre de crenças religiosas.

Na realidade, é mais um princípio filosófico “espiritualista”: considerar que no homem e no Universo há “algo mais”, seja do ponto de vista “imanente” ou “transcendente”.

Essa espiritualidade é um aspecto indissociável da condição humana, e está muito mais além do que qualquer religião: espiritualidade é o que coloca cada ser diante do absoluto, do infinito, do todo, da eternidade, de seu “Deus”, de si próprio.

A espiritualidade maçônica é uma espiritualidade livre, pois sugere um caminho individual para a relação com a Divindade, com o Divino. A Ordem, respeitando as diferentes opções religiosas, não despoja o indivíduo de seu entendimento espiritual. E, esse respeito é à base da harmonia e da tolerância maçônica.

Como ensina Carl Sagan (maçom): “é essa espiritualidade que nos permite sentir de uma forma mais intensa e profunda a beleza de uma trilogia muito famosa e que define bem os grandes valores da humanidade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

E quando chegamos a esta fase em que, enquanto vamos construindo o nosso templo interior, e vamos estabelecendo fortes laços de união com os nossos Irmãos, é que estaremos realmente aptos a influenciar, positivamente, a evolução da humanidade e a defender todos os seus grandes valores”,

A MAÇONARIA NÃO É UMA SOCIEDADE SECRETA - Rui Bandeira


Em relação à Maçonaria criou-se um mito, frequentemente repetido, em tom acusatório, pelos detratores da maçonaria: a Maçonaria seria uma “sociedade secreta” e, assim sendo, boa coisa não é (pois, se o fosse, não necessitaria de ser secreta).

Não é verdade. A Maçonaria não é uma sociedade secreta, antes é uma associação que existe e funciona ao abrigo das leis civis e no integral respeito do que estas postulam. Qualquer Obediência maçónica existe enquanto pessoa jurídica coletiva, normalmente organizada sob a forma de associação, devidamente registada no Registo Nacional de Pessoas Coletivas em Portugal e nos serviços equivalentes nos outros países, constituída por escritura notarial, arquivada onde a lei do país em que se insere determina, fiscalmente manifestada e, a exemplo das demais pessoas coletivas, cumprindo as obrigações fiscais que a Lei determina, com os seus órgãos sociais designados pela forma que a Lei e os seus Estatutos determinam e publicitados pela forma que a Lei determina. Enfim, a Maçonaria Regular, que tem por princípio fundamental o respeito da legalidade vigente, existe e funciona ao abrigo e cumprindo as leis em vigor nos Estados onde funciona, como qualquer outra associação nesse Estado existente.

No entanto, e como já o Ministro da Propaganda nazi, Joseph Goebbels, descaradamente referia, uma mentira mil vezes repetida passa a ser entendida por muitos como verdade.

E a mentira de que a Maçonaria é uma sociedade secreta tem vindo a ser muitos milhares de vezes repetida, ao longo de mais de três séculos. O poder e persistência desta mentira são proporcionais às forças de quem a lançou e repetidamente a sustentou ao longo do tempo: a alta hierarquia da Igreja Católica.

Que a alta hierarquia da Igreja Católica não tenha visto com bons olhos a Maçonaria, é compreensível: tratava-se de uma agremiação nascida num país que, em termos religiosos, se rebelara contra a Igreja de Roma – a Inglaterra; e a Maçonaria consumava um princípio que então (muito antes de o ecumenismo ser um conceito aceite pela Igreja Romana) lhe era insuportável: a junção, a colaboração fraterna, entre crentes de diferentes religiões. Com efeito, a Maçonaria postula um princípio fundamental, inerente à hoje aceite e comum, na sociedade ocidental, noção da liberdade religiosa, que é o de que a crença religiosa de cada um só a ele diz respeito e que homens livres e de bons costumes podem auxiliar-se mutuamente na sua respetiva evolução ética e espiritual, independentemente das respetivas crenças religiosas. Quaisquer diferenças nestas são de somenos em face da essencial semelhança do que é ser Homem, da Ética que a todos deve unir, do comum anseio de melhoria, de aperfeiçoamento pessoal, moral e espiritual. Compreende-se que esta noção não seja bem vista para uma conceção religiosa que entende que o caminho para a Salvação é o da sua religião e não o de qualquer outra (e essa era a postura da alta hierarquia da Igreja Católica, pelo menos até ao Concílio Vaticano II).

Bastaram 21 anos, a contar da fundação de Premier Grand Lodge, em Londres, em 1717, para a alta hierarquia da Igreja Católica efetuar o primeiro ataque violento à maçonaria, utilizando o falso argumento de ser a Maçonaria uma “sociedade secreta”. A primeira bula papal de condenação da Maçonaria foi subscrita por Clemente XII em 28 de abril de 1738, ficou conhecida pela designação de Bula In Eminenti e nela pode ler-se, designadamente (destaque meu):

Agora, chegou a Nossos ouvidos, e o tema geral deixou claro, que certas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções chamadas popularmente de Liberi Muratori ou Franco-Maçons ou por outros nomes, de acordo com as várias línguas, estão se difundindo e crescendo diariamente em força; e que homens de quaisquer religiões ou seitas, satisfeitos com a aparência de probidade natural, estão reunidos, de acordo com seus estatutos e leis estabelecidas por eles, através de um rigoroso e inquebrantável vínculo que os obriga, tanto por um juramento sobre a Bíblia Sagrada quanto por uma variedade de severos castigos, a um inviolável silêncio sobre tudo o que eles fazem em segredo em conjunto.

A decisão anunciada na bula foi de proibição e condenação: decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações, ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco-Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proibidas.

Mas este foi apenas o primeiro ataque. Treze anos depois, Bento XIV emitiu, em 18 de maio de 1751, a Bula Provida Romanorum Pontificum, onde se pode ler:

Finalmente, entre as causas mais graves das supraditas proibições e condenações enunciadas na Constituição acima inserida, 

— a primeira é: que nas tais sociedades e assembleias secretas, estão filiados indistintamente homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica;

— a segunda é: a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembleias secretas, às quais com razão se pode aplicar o provérbio (do qual se serviu Caecilius Natalis, em causa de caráter diverso, contra Minúcius Félix): “As coisas honestas gozam da publicidade; as criminosas, do segredo”;

— a terceira é: o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar declarações ao legítimo poder, que investiga se em tais assembleias secretas não se maquina algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis;

Neste documento, o pretexto da “sociedade secreta” continua a ser invocado, mas desvendam-se as verdadeiras razões da decisão: o facto de, na Maçonaria estarem filiados indistintamente homens de todos os credos e tal “constituir um grande perigo para a pureza da religião católica” e o receio de que, nas reuniões maçónicas se maquine “algo contra o Estado, contra a Religião e contra as Leis”.

O século XVIII não findou sem que, precisamente em 1800, mais um Papa, Pio VII, publicasse mais uma bula condenatória da maçonaria, a Bula Ecelesian a Jesus Christo, de que não consegui encontrar publicação do seu texto. O século XIX (em que, recorde-se, ocorreu a emergência da Maçonaria Irregular e da intervenção desta orientação na Coisa Pública, inclusivamente com ações revolucionárias) foi também fértil em documentos papais de condenação da Maçonaria, em que a classificação da mesma como sociedade secreta foi recorrente.

Mas isso é já matéria para o próximo texto.

Artigo publicado em Novembro de 2011.