abril 07, 2022

A LOJA E O MOVIMENTO DO SOL - Pedro Juk




Em 04.06.2014 o Respeitável Irmão Flávio Augusto Batistela, Coordenador Regional de Comunicação e Imprensa – 8ª Macrorregião – Grande Secretaria de Comunicação e Imprensa do GOSP – GOB, membro da Loja Solidariedade e Firmeza, 3.052, REAA, Oriente de Ouro Verde, Estado de São Paulo solicita esclarecimento sobre o que segue:

Gostaria que o Irmão explicasse o movimento do Sol, comparando com nosso Templo maçônico, a questão das Luzes da Loja não estarem na ausência de Luz (mas entendo que o 1º Vigilante está no Norte, total ausência de Luz). Gostaria de uma explicação melhor nesse sentido. Li um artigo sobre isso, e minha cabeça ficou cheia de dúvidas. Mais uma vez, obrigado.

Apreciação: 

Esse assunto é bastante complexo em se tratando como um todo na Maçonaria, isso devido à doutrina específica de um Rito. Assim, as ponderações que seguem estão relacionadas ao Rito Escocês Antigo e Aceito no seu simbolismo.

No Rito em questão a Loja (Templo) é um canteiro de obras simbólico cujo espaço representa um segmento sobre a linha imaginária do Equador terrestre. 

O retângulo da Sala da Loja é assim então orientado: seu comprimento de Leste para o Oeste, ou vice-versa e a sua largura de Norte ao Sul ou vice-versa. O nascente é o Leste, ou Oriente e o poente é Oeste ou Ocidente. 

A linha imaginária, em se tratando do Templo, divide o Ocidente em dois espaços que se denominam Coluna do Norte (esquerda de quem entra) e Coluna do Sul (direita de quem entra). O topo das duas respectivas Colunas é representado pelas paredes Norte e Sul entre a grade do Oriente e a parede ocidental (meridião), ou vice-versa (setentrião). 

Como o Canteiro (Loja) representa um segmento do planeta Terra, é dessa superfície que o Homem observa o movimento aparente do Sol em seus dois movimentos distintos – o diário e o anual. Obviamente, que o movimento é “aparente”, já que quem se desloca no espaço é verdadeiramente a Terra em relação ao Sol.

O movimento diário do Sol, ou sua marcha simbólica está representado em Loja no Ocidente pela circulação no sentido dos ponteiros do relógio toda a vez em que um Obreiro precise se deslocar de uma para outra Coluna (cruzando a linha imaginária). 

Ainda no que tange o movimento diário está à referência ao nascente, ou romper da aurora (Venerável), a passagem do Sol no meridiano (meio-dia – Segundo Vigilante) e o ocaso ou crepúsculo em direção à noite (meia-noite – Primeiro Vigilante).

Esse movimento diário na Loja simula, dentre outros, o dia de trabalho do Maçom. Como a Maçonaria é uma Obra de Luz, ela segue simbolicamente a marcha diária do Sol – giro dextrocêntrico (ombro direito para o centro em torno do Painel da Loja).

A aclamação H.'. na abertura da Loja nos Graus de Aprendiz e Companheiro representa a saudação ao Sol no seu romper diário. No encerramento é a saudação ao seu ocaso na certeza de que quanto mais escura é a madrugada (meia-noite), mais próximo está o raiar de um novo dia.

O movimento anual do Sol, ou a sua revolução anual. Sobejamente conhecida é inclinação e o movimento do planeta Terra (cerca de 23º em relação ao seu plano de órbita) na sua viagem em torno do Sol durante um ano.

Pelo maior ou menor afastamento do Sol de cada Hemisfério inclinado é que sobrevêm as estações ou os ciclos da Natureza – Primavera, Verão, Outono e Inverno - oposto conforme a semiesfera.

Sob o ponto de vista da Terra aparentemente o Sol se desloca em sua eclíptica(1) inclinando-se a partir do Equador mais para o Sul, ou mais para o Norte conforme o ciclo natural e, desse movimento aparente, devido à inclinação do Planeta, marcam-se as datas solsticiais(2), cujas particularidades apresentam dias e noites diferentes na sua duração (no máximo de afastamento do Sol do Equador) e as datas equinociais que proporcionam os dias e noites iguais na sua duração (Sol sobre o Equador - equidistante).

O máximo afastamento aparente do Sol da linha imaginária do Equador para o Norte tem o seu limite demarcado pelo trópico de Câncer e para o Sul pelo trópico de Capricórnio.

Os ciclos naturais, ou as estações do ano, estão astronomicamente demarcados pelo alinhamento da Terra por sua vez com as doze constelações do Zodíaco durante o seu movimento de translação em torno do Sol. Assim o Zodíaco (do grego zodiakós- relativo às constelações dos animais) significa a zona circular, ou faixa, pela qual passam à eclíptica e que contém as doze constelações que o Sol aparentemente percorre durante o ano.

Esses alinhamentos são divididos de três em três por quatro grupos distintos, cujo início do primeiro grupo se dá a 21 de março - equinócio de Primavera no Norte e Outono no Sul; o segundo grupo se dá a 21 de junho – solstício de Verão no Norte e Inverno no Sul; o terceiro grupo se dá a 21 de setembro – equinócio de Outono no Norte e de Primavera no Sul. Por fim o quarto grupo que se dá a entre 21 e 23 de dezembro – solstício de inverno no Norte e de Verão no Sul. Assim os quatro grupos compostos cada qual por três alinhamentos perfazem o número de doze, cujos grupos são conhecidos por estações do ano. Em número de doze os alinhamentos correspondem trinta dias, ou um mês, que se iniciam geralmente no dia 21 do calendário gregoriano. Daí o ano nesse caso se inicia em 21 de março (início da primavera no hemisfério norte) e se encerra no dia 20 de março do ano seguinte (fim do inverno no hemisfério norte) – calendário equinocial muito usado pela Maçonaria – sempre com base no hemisfério Norte.

Em um Templo maçônico do Rito Escocês Antigo e Aceito os elementos que sugerem esse movimento anual do Sol são representados pelas Colunas Zodiacais, pelas Colunas Solsticiais (B.'. e J.'.) e pela linha imaginária do Equador.

Em relação à Maçonaria esse movimento aparente do Sol, ou as estações do ano, simbolicamente sempre corresponde ao Hemisfério Norte por ser este berço da Maçonaria em geral e do Rito em questão em particular.

A Marcha do Sol na concepção iniciática dos três Graus simbólicos. As Colunas Zodiacais, particulares da simbologia e alegoria do Rito Escocês Antigo e Aceito, rito de origem francesa, representam os ciclos e a evolução da Natureza. Essa particularidade esta presente no arcabouço doutrinário do Rito porque compara a evolução e aperfeiçoamento do Homem à perfeição das Leis Naturais, cujos ciclos sugerem essa relação com a Primavera, com o Verão, com o Outono e com o inverno às etapas da vida humana – nascimento, infância-adolescência, juventude e maturidade.

As doze Colunas, seis ao Norte e seis ao Sul, divididas em grupos de quatro correspondem às estações do ano representadas pelas Constelações do Zodíaco (sobre os capitéis das doze Colunas). Comparado cada ciclo à transformação essa alegoria suportada pelos adereços simbólicos das constelações sugere também o Homem como elemento integrante da Natureza, o que representa em primeira instância uma espécie de teatro da vida – a Primavera (infância), o Verão (adolescência/juventude), o Outono (juventude/maturidade) e o Inverno a morte.

Essa alegoria baseada nos ciclos que se relacionam com as constelações visíveis conforme os momentos astronômicos da translação terrestre não é propriedade da Maçonaria, já que essas relações se apresentam desde a Antiguidade e serviram de base para que as antigas civilizações calculassem o espaço e tempo das previsíveis estações terrenas.

Essas constelações eram então imaginadas como deuses relacionados com animais (zodíaco) fixados no firmamento – Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, etc., cuja afinidade com a evolução da Natureza e o Sol dera origem aos Cultos Solares da Antiguidade, base na grande totalidade das religiões hoje conhecidas, inclusive o Cristianismo.

Esse mesmo conceito alegórico através dessas Constelações e Colunas Zodiacais veio a servir para a Moderna Maçonaria e em particular para o simbolismo escocês. Assim os símbolos representativos desses corpos celestes passariam durante o segundo quartel do século XIX a integrar o Templo simbólico do Rito em questão, cuja referência da situação topográfica desses elementos em relação ao ponto de vista do Maçom é aquele de se estar posicionado no centro do Ocidente e sobre o Equador do canteiro (Loja).

Dessa posição, olhando para o Topo da Coluna do Norte (parede Norte) se localizam a partir do canto com a parede ocidental o primeiro grupo constituído pelas constelações Áries, Touro e Gêmeos (Primavera – 21/03 à 20/06) e, ainda nessa parede, o segundo grupo constituído pelas constelações de Câncer, Leão e Vigem (Verão – 21/06 à 20/09). Do mesmo ponto de vista, porém agora observando o Topo da Coluna do Sul (parede Sul) se localizam a partir da grade do oriental o terceiro grupo constituído pelas constelações de Libra, Escorpião e Sagitário (Outono – 21/09 à 20/12). Por fim e ainda nessa parede o quarto e último grupo constituído pelas constelações de Capricórnio, Aquário e Peixes (Inverno – 21/12 à 20/03).

Cabem aqui ainda duas observações, sendo que a primeira serve para ratificar que toda essa relação está para o hemisfério norte da Terra, enquanto que segunda lembra que as Colunas Zodiacais se localizam apenas nas paredes Norte e Sul do Templo, entre a parede ocidental e a grade do Oriente no Norte e vice-versa no Sul – Câncer estará sempre ao Norte e Capricórnio no Sul (razão pelo destaque em negrito no parágrafo anterior).

Dando então sequência às considerações, a senda (caminho) iniciática dos três Graus simbólicos encontra-se representada no encadeamento das Colunas Zodiacais, cujo arcabouço doutrinário relaciona simbolicamente o aperfeiçoamento humano com os ciclos perfeitos da Natureza. Assim, em linhas gerais comparativas, o Iniciado no teatro simbólico da Iniciação, após ter sucumbido no interior da Terra (Câmara de Reflexão) renasce na Primavera (morreu para renascer) tal qual a semente que germina após o inverno - o neófito (do grego: neóphytos = plantado recentemente).

Recém-renascido como a Natureza o Aprendiz em busca da Luz cumpre sua jornada pelo Norte, primeiro nas três Colunas iniciais (infância-primavera) e em seguida ruma para as outras três (adolescência-verão). Assim sendo, pelo topo do Norte (encostado parede setentrional) o Aprendiz encetou sua trilha iniciática no equinócio de Primavera e a terminou na adolescência e juventude coincidindo com o solstício de Verão.

Agora, recém-chegado à juventude o já Companheiro simula a sua passagem para a maturidade cruzando a linha do Equador (do Norte para o Sul – Elevação, ou para a perpendicular ao nível) até o Topo do Sul, passando pelas outras três Colunas (outono – maturidade). Por fim, ainda no meridião tal como o Sol na sua trajetória, o Companheiro incide nas três últimas Colunas (inverno – fim da vida), o que alegoricamente significa o encerramento de mais um ciclo perfeito, ou o morrer para renascer – a volta do Sol. O Exaltado morre para renascer no Oriente.

Em resumo essa marcha anual (movimento) aparente do Sol relacionada ao Maçom e sugerida no Templo pelas Colunas Zodiacais se inicia no equinócio de Primavera (renascer da Natureza) na constelação de Áries, percorre o topo do Norte até o solstício de Verão na constelação de Câncer. Encerrado o Verão o Astro Rei se precipita para o Sul, ou Meio-Dia na constelação de Libra no equinócio de Outono. Por fim o Sol ingressa no derradeiro ciclo pela constelação de Capricórnio no solstício de Inverno.

De modo iniciático essa evolução representa progresso do aperfeiçoamento humano como se os ciclos naturais, ou estações do ano se assemelhassem simbolicamente às etapas da vida – infância, juventude, maturidade e morte.

Assim, o Templo como palco desse canteiro de aperfeiçoamento suporta essas referências que envolvem a marcha do Sol com as suas das datas equinociais (primavera e outono) e as solsticiais (verão e inverno).

Os solstícios, além de também pertencerem ao contexto histórico operativo dos Canteiros Medievais (origem da Moderna Maçonaria) que inclusive envolvem as datas comemorativas de João, o Batista e João, o Evangelista, estão na doutrina do Rito Escocês, que é de origem francesa, representados pelas Colunas Solsticiais, ou Vestibulares B.´. e J.´. que marcam a passagem abstrata dos trópicos de Câncer, ao Norte e Capricórnio ao Sul. Entre os trópicos, ao centro está à linha imaginária do Equador, que vai do centro da porta de entrada até o Oriente em direção ao Delta.

Essa linha imaginária divide o Ocidente em duas bandas distintas. À esquerda de quem entra está a Coluna do Norte em cuja cumeada (parede) estão localizadas as seis primeiras Colunas Zodiacais, ou as Constelações pelas quais o Sol percorre na eclíptica partindo da Primavera até o Verão. À direita de quem entra está a Coluna do Sul, em cuja culminância (parede) estão situadas as seis últimas Colunas Zodiacais, ou Constelações pelas quais o Sol percorre na eclíptica seguindo do Outono até o Inverno.

No tocante ao simbolismo do Norte ser mais escuro é pela referência feita à Maçonaria relacionada ao seu berço de nascimento que é no hemisfério Norte. Assim essa relação implica que no hemisfério boreal quanto mais afastado se estiver do Equador, pela inclinação e curvatura da Terra, a Luz fica mais distante, o que é dito “mais escuro”, ou “menos Luz”, enquanto que sob o ponto de vista do Norte, o Equador mais ao Sul, aparenta ser mais iluminado, o que dá o título ao hemisfério Austral de Meio-Dia, ou Sul – quanto mais próximo do Equador, mais iluminado.

A regra de observação sempre do hemisfério Norte pode ser verificada no Painel da Loja de Aprendiz e de Companheiro, onde as “três janelas” (rota do Sol) se apresentam mais ao Sul, o que dá inclusive a posição do Segundo Vigilante na Coluna do Sul e caracteriza simbolicamente o topo do Norte, oposto ao Sul, como lugar onde a incidência de Lua é menor (veja a Pedra Bruta). Essa é a explicação para o “Norte mais escuro, ou menos iluminado”.

Obviamente esse é apenas um trato simbólico, já que pela esfericidade da Terra, aquele que estiver posicionado no Sul e quanto mais afastado estiver do Equador também receberá menos Luz, já que astronomicamente as situações se invertem conforme o hemisfério. Entretanto, como a Maçonaria é simbólica as suas relações doutrinárias e tradicionais estão relacionadas sempre ao Hemisfério Norte da Terra, salvo algum caso pertinente a um rito maçônico específico que tenha surgindo no Hemisfério Sul.

Ainda para ilustrar o movimento anual do Sol no escocesismo simbólico, observe-se o número de Luzes que compõem o lugar do Venerável e dos Vigilantes. Estas se constituem se somadas no máximo de “nove”, o que significa a falta de Luz nos três meses de Inverno – a Terra fica viúva do Sol. Em síntese significa a morte do Mestre, cuja revolução anual está na procura pelos “nove” Mestres do corpo assassinado (o Sol) pelos três meses de Inverno.

Toda essa alegoria do movimento do Sol, os Solstícios e os Equinócios é perfeitamente compreendida se bem observados os passos da Marcha do Terceiro Grau, cujos movimentos do eixo para os respectivos hemisférios (Colunas) representam o Sol em solstício de Inverno e Verão. Em linhas gerais a Marcha do Mestre representa o movimento anual do Sol enquanto que a Lenda do Terceiro Grau, desde que despida de opiniões ocultistas e proselitistas geralmente hauridas de apreciações pessoais, é verdadeiramente uma belíssima lição de aperfeiçoamento humano e de sociologia suportada pela ciência da moral e da ética.

(1) .Eclíptica – 1. Plano da órbita terrestre. 2. Círculo máximo da esfera celeste, que é a interseção da eclíptica (1) com esta.

(2) Solstício - Época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador. Os solstícios situam-se, respectivamente, no dia 21 de junho para a maior declinação boreal, e no dia 21 ou 23 de dezembro para a maior declinação austral do Sol. No hemisfério sul, a primeira data se denomina solstício de inverno e a segunda, solstício de verão; e, como as estações são opostas nos dois hemisférios, essas denominações invertem-se no hemisfério norte.

TIC TAC - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil


É para ficar pensativo quando nos deparamos com a instigante expressão:

"...Vamos fabricar relógios e não dar a hora certa..."

Ora, todos temos o direito de saber o horário das nossas atividades, dos deveres e obrigações que nos aguardam, do respeito por aqueles que nos esperam e claro, a noção relativa do periodo daquilo que começamos e terminamos.

Porém, nada justifica tornarmo-nos escravos e submissos ao nosso prazo de validade, tampouco permanecermos monitorando cada fração de segundo que se vai...

Nossa existência é exclusiva por si só , uma vez que ela não se resume a uma fugaz experiência material, corpórea ou material.

Somos bem mais que isso.

Dispomos do espírito e da razão, que somadas à inteligência compõem uma propriedade única e consistente que nos conduz à chamada "consciência".

Esta sim, é a verdadeira manifestação humana e anímica que nos conecta com o Principio Criador e Incriado do Universo.

Especular o quanto de tempo vamos viver esta experiência presente, não é um atributo de nossa competência.

Nosso propósito é aprender "como viver" e de que maneira podemos aperfeiçoar o nosso interior, além de praticar e compartilhar a Virtude com todos os que estão à nossa volta.

Fabricar relógios é um exercício inspirado na contemplação de um objeto de estilo, requinte, elegância e até mesmo de status social.  Para por aí !

Sob a égide dialética, contudo, "dar a hora certa", encerra uma idéia que transgride a nossa capacidade existencial.

A hora certa não é minha, dele, dela ou nossa. Ela é simplesmente a propriedade geral da exterioridade do pensamento.

O ser humano, pela sua condição mortal, sob o ponto de vista físico, é impactado pelo tempo de maneira diferente da do espaço. 

Dado o seu caráter de irretroatividade, ciclicamente contido na idéia constante de Passado, Presente e Futuro, o tempo tem o poder de causar angústia pelo fim desconhecido.

Segundo o filósofo grego Platão, há no mito do eterno retorno, onde o tempo simboliza um movimento cíclico.

O conceito deste mito, apesar de extinguir o peso do passado e da vida, encerra o homem nas suas possibilidades e ações factível e imagináveis, bem como no empreendimento de sua liberdade.

Fica um convite para que ao olharmos para os ponteiros do relógio, nos detenhamos sobretudo na forma e sofisticação de seu design, deixando um pouco de lado a preocupação impronunciável de seu destino.


abril 06, 2022

AS ORIGENS DA MAÇONARIA ESPECULATIVA - Ir∴ Antonio Rocha Fadista.



Para pesquisar este complexo tema faz-se necessário examinar algumas lendas enraizadas no imaginário maçônico, para as quais não existe nenhuma comprovação documental.

A primeira delas descreve o nascimento da Maçonaria Especulativa como sendo a descendente direta da Guilda de Ofício correspondente, que teria deixado entrar os não operativos ou aceitos em suas Lojas.

Estes novos membros acabariam por dominar a guilda de ofício, não só em número, mas também na sua administração, transformando-a na organização maçônica que conhecemos a partir de 1717.

Sem dúvida, a Maçonaria moderna muito deve à instituição chamada de Venerável Companhia dos Maçons Livres da Cidade de Londres, como era chamada nos documentos oficiais, a corporação que reunia os que praticavam a arte de construir. Não é sem razão que a instituição atual é a sua sucessora, quase sem mudanças, no nome e em muitos dos seus princípios de governo.

A Maçonaria atual herdou nos nomes dos Oficiais e Dignitários mais importantes, o método de auto sustentação financeira, a taxa de admissão, e outros usos, A bem da verdade, estes usos eram típicos de todas as corporações medievais, Entretanto, tudo isto não explica por quê os não operativos teriam solicitado a sua admissão, especificamente nesta corporação de oficio.

Uma explicação inicial, que Anderson foi buscar na antiguidade, consistiria no fato de que a admissão à corporação era atrativa em termos de “status social”, ou seja, por ser um ”símbolo de distinção”, como atualmente o é a admissão em associações do tipo Rotary ou Lions Clubs.

Assim sendo, tratar-se-ia da atração que uma Companhia de Ofício, rica e poderosa, teria exercido sobre os homens que profissionalmente não pertenciam à corporação. Na realidade, isto é altamente improvável. De fato, devemos considerar que já no inicio do séc. XVII a Companhia de Ofício tinha perdido toda a sua importância e poder efetivo (causada pela falta de grandes obras, geralmente patrocinadas pela Igreja, cujo prestigio e poder econômico estava em decadência e já não era o mesmo da alta Idade Média).

Qual seria então a atração que uma corporação em declínio poderia exercer sobre homens em busca de realizar suas ambições sociais?

Uma segunda explicação sustenta que os não operativos foram atraídos para a corporação devido aos segredos esotéricos que esta possuía. Aqui também, devemos ressaltar que não existe nenhum documento das lojas operativas que ateste a existência de qualquer tipo de mistério que não fosse aquele ligado aos segredos de profissão, do mesmo tipo que se podem encontrar em qualquer outra corporação do gênero.

A propósito, recordamos a suposta existência, na Inglaterra, de um grupo da chamada sobrevivência operativa, com um ritual com sete graus, que dividiam os Irmãos conforme o grau, em maçons do esquadro e maçons do arco, hipótese tão cara a René Guénon, o que é uma mistificação que apareceu e logo desapareceu no inicio do séc. XX.

No que se refere à assim chamada Compagnonage, organização que só existiu na França, e na qual os Maçons não tinham a predominância, sabe-se que a sua parte ritual e esotérica é posterior à da Maçonaria Especulativa.

Quanto aos famosos Mestres Comacinos, não existem documentos que atestem que tenham existido sob a forma de corporação. Os éditos longobardos que os mencionam são dos séc. VII e VIII, enquanto que os sistemas corporativos, com os seus juramentos, só aparecem no início do séc. XII (O Estatuto de Bolonha, de 1248). Os artigos dos éditos de Rotari e de Luitprando, falam somente dos regulamentos a serem aplicados nos casos de eventuais acidentes no exercício da profissão de construtor. Falam também das compensações a serem atribuídas aos acidentados ou às suas famílias. Por outro lado, não se encontra nestes éditos nada que possa sugerir algo de misterioso ou de esotérico na profissão dos Mestres Comacinos.

Também não é conhecido nenhum documento medieval das Guildas de Ofício que mencione qualquer forma de ensinamento esotérico, partilhado por seus membros. Especificamente em relação à Inglaterra, ninguém que já tenha lido os manuscritos Regius, Cooke, etc. encontrou neles quaisquer segredos, a não ser os relativos à profissão, a par de uma forte influência cristã, além da atenção dispensada aos problemas práticos, econômicos e referentes à administração do pessoal operativo.

Assim sendo, não se conhece nenhum documento que contenha referências àqueles que são os pontos fundamentais do esoterismo maçônico atual, ou seja: Palavras, Sinais, Toques, a Lenda do Terceiro Grau ou similares. Na realidade, todos os documentos afirmam exatamente o oposto, isto é, que só depois do ingresso dos membros não operativos, no séc. XVII, foi que começaram a encontrar-se indícios de que algo misterioso estava acontecendo no interior da corporação. A propósito, mencionamos algumas datas:

Já nos anos de 1520/21 os registros contábeis da corporação mencionam pagamentos efetuados por alguns membros e oficiais operativos, que tinham sido feitos maçons aceitos. É de ressaltar que nesta altura alguns membros aceitos eram já membros “ativos e quotistas” da Corporação de Ofício (embora a primeira admissão oficial, na Saint Mary’s Chapell Lodge, só tenha sido registrada em 1600).

Deste modo, estamos diante de acontecimentos exatamente opostos àqueles que sempre se supôs acontecerem, isto é, que são os membros operativos que são admitidos entre os Aceitos, e não o inverso. De tal fato, podemos supor a existência de uma estrutura organizada e independente. Assim, fazer parte da organização operativa não significava pertencer automaticamente à organização especulativa.

Outro fato significativo é que nos anos de 1655/56 a Companhia de Ofício decidiu retirar a palavra “freemasons” (Pedreiros Livres) de seu título, passando a chamar-se somente Companhia dos Maçons. Este fato permite supor que a mudança no nome da Companhia de Ofício visava oferecer cobertura a uma nova organização surgida em seu interior.

O certo é que os primeiros sinais dos não operativos são todos posteriores ao início do séc. XVII. Na Escócia, em Edimburgo, os primeiros sinais aparecem em 1634. Em Atchison”s Haven, em 1672, 1677 1693. Em Kilwinning, em 1672 e em Aberdeen, em 1670. Na Inglaterra, já em 1621 os registros comprovam a existência de uma Sociedade de Maçons, em conjunto com a corporação de ofício regular. Esta nova sociedade recebia capitações dos maçons Aceitos, tanto dos construtores de ofício, quanto dos que não tinham nenhuma relação com a profissão.

Deste modo, é pode-se perfeitamente admitir que durante o séc. XVII tenha sido constituída uma fraternidade oculta, dentro da corporação profissional. Os seus membros ditos Aceitos seriam os efetivos possuidores do esoterismo e da maior parte da ritualidade que nos é hoje conhecida. Os membros desta nova fraternidade foram gradativamente assumindo a sua condição maçônica perante o público externo, a partir da segunda metade do mesmo século.

A partir deste ponto, devemos procurar as origens deste novo grupo, a possível data de sua constituição, os seu conteúdo filosófico e esotérico, os seus fundadores, e o motivo pelo qual decidem ocultar-se dentro da corporação dos construtores.

Todos os pesquisadores concordam em que o esoterismo maçônico, com a sua tradução em rituais, símbolos e ensinamentos, é uma criação desenvolvida ao longo de algumas dezenas de anos, e é obra dos Especulativos. Quem seriam os homens que possuíam este tipo de conhecimentos ? Sem dúvida, eram homens de condição social média/alta, pertencentes à burguesia iluminada e que, nos dias de hoje, poderiam ser chamados de “liberais”.

Eram pesquisadores e estudiosos das culturas da antiguidade, colecionadores de manuscritos e de livros raros. Muitos se tornaram membros da Sociedade Real (Royal Society). Fazia também parte do seu projeto social a difusão do conhecimento científico, visando melhorar as condições de vida das populações mais humildes. Sob o ponto de vista religioso, numa época conturbada da história da Europa ( a Inquisição ) estes homens manifestavam uma forte tendência para a tolerância, a partir de um forte teísmo do tipo judaico-cristão.

Características muito importantes são as relações que muitos deles tinham com os sobreviventes do movimento Rosa-cruz da Alemanha, que se refugiaram na Inglaterra depois da dissolução do reino da Boêmia, em 1619. Os primeiros documentos que atestam a existência dos Aceitos, são datados de dois anos depois, isto é, de 1621. Deve-se notar que a Inglaterra era, na Europa de então, o único país que os colocaria a salvo dos processos e dos autos de fé da Inquisição Católica.

Mesmo na Inglaterra a situação político-religiosa estava em transição, e ainda era bastante perigosa a divulgação dos conhecimentos esotéricos, filosóficos e sociais que os haviam inspirado. Nestas condições, era bastante atraente a oportunidade de se ocultarem dentro da organização, de modo a resguardar a permanência do conhecimento não ortodoxo, bem como a sua transmissão, de modo velado. O simbolismo geométrico arquitetônico era utilizado para exprimir o conteúdo do conhecimento esotérico e filosófico.

Assim, nada melhor para assegurar a continuidade da transmissão velada deste conhecimento do que a utilização de uma corporação de ofício, em declínio e de fácil manejo. Deste modo, a mensagem rosa-cruz foi introduzida na corporação dos maçons operativos ingleses, com a criação de rituais que asseguraram a sua sobrevivência e a sua transmissão futura.

Como já dito, estes rituais – Aprendiz e Companheiro – foram sendo desenvolvidos durante todo o séc. XVII e início do séc. XVIII. Não se conhecem com exatidão as datas em que foram concluídos estes rituais, por dois motivos: em primeiro lugar, os rituais não eram escritos. Em segundo lugar, porque eram escassos os registros das reuniões das Lojas. Os registros existentes das reuniões deste período referem-se, basicamente, aos aspectos administrativos das reuniões. Jamais, em relação aos aspectos ritualísticos.

A mensagem rosa-cruz tinha duas componentes: uma exotérica e outra esotérica. A primeira é facilmente reconhecida, e ainda hoje é uma das colunas de apoio do ensino maçônico. Propõe a tolerância religiosa, a ação social em favor dos necessitados, a difusão da cultura, a preferência pelos sistemas democráticos de governo, a aversão por toda a forma de despotismo, o compromisso com o social em todas as suas formas, e a obrigação de manter um comportamento ético irrepreensível.

A componente esotérica e metafísica começa a ser conhecida com o aparecimento dos Aceitos. Inicialmente se tem conhecimento da expressão “Palavra Maçônica”, cujo significado era desconhecido, e cujo segredo os Aceitos defendiam de maneira quase feroz. A esse respeito, Henry Adamson escreveu em 1638: “Nós temos a Palavra Maçônica e a segunda vista”. Henry Home assim se expressava em 1640: “Existem muitas palavras e sinais Maçônicos que vos serão revelados e de cujo segredo vos pedirei contas diante de Deus, no grande e terrível dia do Juízo Final. Deveis manter sempre o segredo sem revelá-lo a ninguém, a não ser aos mestres e companheiros da Sociedade dos Maçons”.

Além disso, encontramos referências nos juramentos de que essa Palavra jamais devia ser escrita, nem sequer na areia, sob pena de terríveis punições. Assim, parece certo que esta palavra devia consistir de algum tipo de conhecimento que nunca foi revelado. Neste ponto, é inequívoca a influência rosa-cruz.

Vejamos ainda alguns pontos que ajudarão em nossas conclusões. Sem imitar o trapalhão Ragon, analisemos as características do maçom aceito mais conhecido do séc. XVII. Referimo-nos a Elias Ashmole, iniciado em Warrington a 16 de outubro de 1646, aos 29 anos, como consta em seu próprio diário, no qual o termo usado não é “iniciado”, mas “aceito”. Em outro de seus diários ele escreveu, a 13 de maio de 1653, que o seu padrinho na Ordem, o senhor Blackhouse, lhe revelou no leito de morte, por sílabas, o nome da matéria da Pedra Filosofal. Em 1663, Ashmole tornou-se membro da Sociedade Real.

O segundo ponto a ressaltar consiste nas freqüentes referências, nos rituais, à assim chamada Lenda Críptica e às suas conexões com o simbolismo do Templo de Salomão. Convém lembrar que o ritual maçônico do grau de Aprendiz, praticamente na forma em que o conhecemos, foi desenvolvido e aperfeiçoado ao longo da segunda metade do séc. XVII e, provavelmente nas primeiras décadas do século seguinte.

Devemos também lembrar que a definição de Deus como Grande Arquiteto do Universo não é, como se poderia pensar, de origem maçônica, mas sim de uma antiga versão de uma lenda Alquímic0/Rosa cruz. L”Andréa, conhecido por ter divulgado os Manifestos Rosacruzes em Londres, já usa esta expressão em um trabalho de 1623. Portanto, muito antes do desenvolvimento dos rituais maçônicos.

No que se refere ao sistema ritual que contém o Real Arco, muito apreciado pelos maçons, deve-se ressaltar que a lenda críptica é repetida, em várias versões, e que as referências alquímicas nos graus superiores ao terceiro são bastante explícitas, sem esquecer que um dos graus mais importantes do sistema é o Príncipe Rosa-Cruz.

Os argumentos acima expostos permitem concluir que o ensinamento dos Aceitos tem por base os conhecimentos alquímicos dos rosa-cruzes, com todas as suas consequências filosóficas e metafísicas.

Assim, concluímos também que o conhecimento esotérico e ocultista esteve presente nos primórdios da Instituição Maçônica atual e que a evolução do ritual e do simbolismo, ocorrida ao longo do séc. XVII e início do séc. XVIII, foi a maneira encontrada para manter vivo e compreensível todo este acervo de conhecimentos, cujo objetivo maior é o aperfeiçoamento moral e espiritual do ser humano.

BIBLIOGRAFIA

Freemasonry - Bernard Jones

The Compagnognage and the Craft - C.N. Batham

Historiae Patriae Monumenta - Edita Langobardorum

Medieval Masters and their Secrets - W.W. Conery-Crump

Speculative Masonry - Harry Carr

The Transition from Operative to Speculative Enlightenment - F.A. Yates The pre-eminence of the Great Architect in Freemasonry - R.H.S. Rottenburg

UM POUCO DA HISTÓRIA DA MAÇONARIA NA RÚSSIA - Jeronimo Borges




Alguns historiadores, como Dennis Stock, afirmam como sendo o imperador Pedro I “O Grande” como o introdutor da maçonaria na Rússia, através do arquiteto Christopher Wren - restaurador de uma Catedral em Londres - que o iniciou, muito antes do nascimento da maçonaria contemporânea, em 24 de junho de 1717.

Outros estudiosos preferem informar que o seu ingresso foi num navio militar inglês, o que era comum na época. Porém concordam que após o seu regresso da Inglaterra, Pedro I mandou o seu ministro de confiança, o suíço François Lefort, que em 1698 fundasse a primeira loja maçônica na Rússia, localizada em São Petesburgo, e que se fizesse Mestre dela.

No entanto, a Grande Loja da Rússia diz que existem apenas evidências desses fatos, como também mostra indícios de que a maçonaria especulativa apareceu em 1731.

Em 1762 o Czar Pedro III foi iniciado e incentivado por sua mulher Catarina II, apoiando a maçonaria, a ponto de promulgar a primeira Grande Constituição do Rito Escocês Antigo e Aceito na Rússia.

Mas foi em 1771, com o beneplácito de Catarina II, que surgiu a primeira Grande Loja Regular - denominada “Perfeita União” - com Carta Patente da Grande Loja da Inglaterra, tendo sido designado Grão-Mestre o capitão inglês John Phillips. A alta administração da Loja também foi constituída primeiramente por cidadãos ingleses.

A realidade, é que a explosão da maçonaria russa deu-se mesmo na segunda metade do Século XVIII, tendo sido a época mais marcante até os nossos dias. Capítulos de Altos Graus foram criados e houve uma afluência significativa de príncipes e destacadas personalidades, com realce para as lojas simbólicas “Concórdia”, “Hipócrates”, “Apolo”, “Pitágoras” e “Constância”.

Saliente-se a criação de uma entidade “paramaçônica” destinada ao estudo e preparo psicológico dos candidatos, com o objetivo de selecioná-los para o ingresso na Maçonaria. Funcionava como um noviciado de jesuítas. Os que davam mostras de vocação maçônica eram propostos à iniciação. Os que não tinham aptidão, por índole, temperamento ou falta de preparo, eram deixados sutil e delicadamente, sem que eles sequer adivinhassem a experiência que haviam sido submetidos.

Graças a Catarina II, muito mais por estratégia política do que pela propensão das ideias modernas que vicejavam na França, que a maçonaria recebeu o seu maior incentivo, a ponto de influenciar o marido Pedro III a multiplicar oficinas maçônicas nas principais cidades do império.

Segundo Eugenio Tschelakow, o historiador Nicolai Riasanovsky, citado por Richard L. Rhoda, afirma que durante o reinado de Catarina II que se chegou aos 2.500 membros espalhados em mais de cem lojas no território russo. Por sua vez, a revista alemã “O Globo” revela que existiam 161 oficinas em 1790, com a Rússia despontando dentre as principais potências maçônicas do mundo, com 4.000 maçons.

Foi a mesma Catarina II que persuadiu o Imperador Pedro III, a construir para a Loja “Constância” no castelo imperial Oranienbaum em São Petersburgo, um dos mais luxuosos templos maçônicos do continente europeu. Também contribuiu para que fosse proibida qualquer leitura ou divulgação relacionada à Bula “In Eminenti Apostolatus Specula” do Papa Clemente XII, como ainda não permitiu a publicação da Bula “Providas Romanorum Pontificium” do Papa Benedito XIV em 1751, enumerando as 6 razões de condenação à maçonaria russa.

Desde o início do seu reinado, Catarina II, que governou por 34 anos, lia e escrevia compulsivamente, tornando-se uma grafo maníaca. Foi nessa época que manteve ativa correspondência com os iluministas Voltaire e Diderot, acolhendo-os certa vez como seus hóspedes de honra, o que contribuiu para o crescimento da maçonaria.

Foi nessa oportunidade que a sempre pragmática Catarina II comprou todo o acervo bibliotecário de “Monsieur” Diderot, com recursos emprestados pelo astuto embaixador inglês Habury Williams, seu particular amigo e também maçom.

Em compensação, a performance da Maçonaria na Rússia proporcionou para Catarina II uma consolidação de amizade com as grandes potências que lideravam a política mundial. Em seu reinado, sempre com o apoio da Maçonaria, foi criado o Grande Colégio de Médicos e Cirurgiões, tornou conhecida a literatura russa pela fundação de uma academia, foi fundado o monumental asilo de Moscou, desenvolveu a instrução elementar e científica como nunca, além de terem sido criados hospitais e bibliotecas em toda a Rússia.

Foram implantados códigos de ética, de condutas e de normas para a vida civil. Catarina aboliu muitas regras que levavam à tortura ou execução, inspirando-se nos princípios iluministas de Voltaire e Diderot.

Contudo, os sentimentos pacifistas e filosóficos pregados pela maçonaria nem sempre acompanhavam as atitudes de Catarina II, como no caso da partilha da Polônia, como ainda a temerária vida desregrada de Catarina II com seus amantes, conquistados face à fragilidade física e mental do marido, comparado pelos franceses com Luiz XVI, pela semelhante impotência sexual de ambos. Catarina II e um de seus intelectuais comandantes chamado Potemkin tornaram-se amantes, desfrutando mais aventuras de que Marco Antonio e Cleópatra ou Napoleão e Josefina, embora casassem anos depois, com a viuvez da Imperatriz.

Vários fatores contribuíram para diluir o relacionamento de Catarina II com a maçonaria: a aberta simpatia e dedicação pela Ordem manifestada pelo seu marido e rival Pedro III; o ingresso à Instituição por convite do rei da Suécia Gustavo III - do seu filho e inimigo político o Grande Duque Paulo; a influência na maçonaria do seu outro inimigo político, o rei Frederico “O Grande”; do pseudomaçom e charlatão conde Alexandre Cagliostro com o seu impressionante Rito Egípcio de noventa graus, tendo sido desmascarado numa sessão espírita realizada nos salões do príncipe Gagarin, ensejando Catarina a escrever três comedias satíricas: “O xamã siberiano”, “O fabulador” e “O alucinado”.

Por derradeiro, as maliciosas acusações do abade Barruel no sentido de que a maçonaria teria realizado a Revolução Francesa (o que é absolutamente falso, conforme Castellani, Assis Carvalho e outros), influenciaram negativamente no ânimo da imperatriz que, a princípio, não proibiu os trabalhos nas Lojas, mas deu a entender aos nobres da corte que já não aprovava que pertencessem a elas.

Assassinado Pedro III, Catarina II foi coroada em 1762, como a “Imperatriz de todas as Rússias”.

Algum tempo mais tarde, no dizer do embaixador sueco e maçom, Conde Stedingk, o que mais incomodava a Catarina II era que não podia ser membro da Ordem pela sua condição de mulher, a exemplo de mulheres de destaque na França, com o Rito de Adoção. Disse ele certa vez que “Catarina sentia uma feminina repulsão contra a maçonaria”.

Por influência de alguns de seus amantes, acabou trocando suas idéias liberais por atitudes despóticas num escancarado contraste de vinte e sete anos de fecundo governo em que a paz interna e o bom “convívio” com a Maçonaria foram a tônica de seu governo, iniciando uma era de perseguições contra as organizações maçônicas, em que fechou templos, deteve e deportou maçons para a Sibéria. O contra-senso nos últimos tempos de vida de Catarina II ficou por conta da proibição da leitura de Voltaire, um de seus ídolos e seguidores, chegando a destruir todos os seus livros que possuía.

O certo, é que desde o Século XVIII, a Maçonaria na Rússia sempre foi condicionada aos caprichos de seus altos dirigentes.

Com sua morte, subiu ao trono o filho e algoz, Paulo I. Insano, presunçoso completamente inculto e perigoso, “refervia em ódios contra os que haviam ajudado a depor-lhe o pai”. Mandou exumar o corpo do pai mandando deixar seus restos mortais no mesmo túmulo de Catarina II, para que permanecessem juntos.

Convencido de que seu pai havia sido assassinado pelos parciais de sua mãe, em conluio com inúmeros maçons, mandou invadir lojas maçônicas destruindo todos os seus símbolos e pertences que encontrasse. O declínio da Maçonaria na Rússia era sentido por toda a Europa.

Em dezembro de 1798 proclamou-se Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros de Malta, entidade que era rival dos altos graus maçônicos da Rússia, e cuja ilha havia sido tomada dos franceses.

Paulo I foi persuadido a crer de que a Maçonaria teria sido a responsável pelo guilhotinamento de Luiz XVI na França, fato que o amedrontou profundamente. Esse apavoramento contribuiu para que ele expedisse um convite diplomático a Frederico Guilherme da Prússia, a fim de que declarasse guerra à Inglaterra e França.

Aquela sob pretexto de que era a “pátria de piratas e de maçons” e esta, como medida punitiva pela “contribuição dos maçons na Revolução Francesa”. Na vitória, tencionava promover o retorno dos Bourbons ao trono francês, cuja dinastia foi duradoura, iniciando-se em 1589 com Henrique IV e prolongando-se até quando a monarquia foi derrubada durante a Revolução Francesa. O convite, não prosperou.

Como o pai Pedro III, Paulo I foi assassinado dias depois de debochar e humilhar as tropas de elite russas fazendo-as vestir uniforme semelhante ao usado pelo exército prussiano, de quem era admirador.

Assumiu o poder seu filho Alexandre I que retomou em parte os rumos na política internacional de Pedro I “O Grande”, deixando os assuntos da França para os franceses e fixando a paz com a Inglaterra.

Em agosto de 1822, o Czar Alexandre I, antigo membro da Loja “Constância”, derrotou o seu irmão maçônico Napoleão I. Jean Palou, na obra “A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática”, relata que Napoleão I foi iniciado quando era tenente de artilharia na Itália, e teria pertencido à Loja egípcia de Hermes e ao Rito Escocês Retificado da Obediência do Grande Oriente de França.

Alexandre I, com o exército sob o comando do marechal de campo Mikhail Kutuzov, também maçom e com base em um relatório sobre as atividades de maçons russos elaborado pelo senador Igor Kushelev, que era Grão-Mestre Adjunto da Grande Loja Astréia, decidiu emitir ordem para que as Lojas maçônicas suspendessem suas atividades. Declarou mais Alexandre I: que continuavam em vigor as leis de Paulo I contra a Maçonaria.

A estranha coincidência histórica é que nesse mesmo ano de 1822, com diferença de poucas semanas, outro imperador maçom, o brasileiro Dom Pedro I, inobstante ter o grau 33° e ser Grão Mestre do Grande Oriente Brasílico, também proibiu a maçonaria no seu país.

A exemplo do pai, Alexandre I ignorou os compromissos com a Ordem Maçônica. Ambos se esqueceram da solidariedade que deviam aos irmãos maçons.

Jasper Ridley, no livro “Los Masones” relata que em 1815, o czar Alexandre I foi nomeado Grão- Mestre de honra da Maçonaria da Polônia, durante um banquete maçônico celebrado em Varsóvia.

A sina triste da Maçonaria na Rússia perdurou durante todo o Século XIX, cerceando o seu desenvolvimento. A limitação da liberdade, o controle e a censura continuaram sob o jugo e domínio dos governantes russos, apesar da perseverança sempre constante de maçons idealistas, mesmo enfrentando os riscos de deportação para a Sibéria.

No início do Século XX nova investida se aprofundou contra a Maçonaria. Foram fechadas algumas Oficinas de maior expressão, seus membros foram presos ou deportados, até que Nicolau II, o novo imperador, convenceu-se de que pouco adiantava as reprimendas, pois para cada maçom preso ou deportado, havia sempre uma dezena de bons candidatos dispostos à luta pela liberdade da Maçonaria.

Em 1906 destacavam-se em São Petesburgo a Loja Estrela Polar e em Moscou a Loja Renovação, compostas por intelectuais, liberais, escritores, militares, cientistas, clérigos e burgueses.

Com o colapso das forças russas na Revolução Bolchevique de 1917, desapareceram os vestígios de maçons e templos maçônicos, com a Maçonaria exterminada totalmente durante a ditadura comunista.

Durante o IV Congresso Internacional Comunista em Moscou, realizado de 30 de novembro a 5 de dezembro de 1922, foi declarado que “A Maçonaria é o engano mais infame que lhe faz ao proletariado uma burguesia inclinada para o radicalismo. Temos a necessidade de combatê-la até o extremo”.

Com a implosão do comunismo, começaram a surgir novas lojas maçônicas. A reinstalação da Grande Loja da Rússia, após 173 anos de proibição governamental, aconteceu no dia de São João do ano de 1995, no edifício do Sindicato de Professores de Moscou, sob os auspícios da Grande Loja Nacional da França.

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Referências Bibliográficas

A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática, Palou, Jean - Ed. Pensamento, São Paulo

A Maçonaria Russa, Tschelakow Eugenio

A Maçonaria na Rússia, Zeldis, León. In: As pedreiras de Salomão. Londrina: a Trolha, 2001.

“Catarina, a Grande” documentário exibido no dia 26/02/2007 ás 21h00 no The History Channel, TVA Canal 45.

Grande Loja da Rússia.

Los Masones, de Jasper Ridley, Ed. Vergara, Buenos Aires.

Maçonaria e Religião. Schüller Sobrinho, Octacílio. O Prumo, Florianópolis, n.124, 1999

Nos Bastidores do Mistério, de Adelino de Figueiredo Lima –Spiker (Rio) 1953

Relato Maçônico de procedência russa. Zelchenko, Henry L. - A Trolha, Londrina, v.10, n 25 1986.

abril 05, 2022

A ORIGEM DA MAÇONARIA - Pedro Juk




Em 22.05.2014 o Irmão Renato de Paula Lins, membro da Loja Fraterno Amor, 17, REAA, Grande Loja do Estado do Acre, Oriente de Senador Guiomard, Estado do Acre, formula o seguinte pedido de esclarecimento. 

Iniciado no ano de 2013, muitas são as dúvidas que pairam no meu cotidiano. Uma grande dúvida é acerca da origem da Maçonaria... Diversas são as informações, quase sempre conflitantes, o que acaba por não esclarecer a dúvida. Venho pedir uma ajuda no sentido de, senão esclarecer, indicar caminho para o esclarecimento.

Considerações:

Minhas breves ponderações seguintes possuem fulcro na vertente autêntica da Maçonaria. Nesse sentido devo orientá-lo partindo de uma divisão acadêmica para estudo da Sublime Instituição de tal modo que fiquem definidos os critérios para dois períodos distintos da Maçonaria – o primitivo composto pela Operativa ou de Ofício e na sequência aquele que antecedeu o sistema obediencial (Moderna Maçonaria), intitulado Especulativo, ou dos Aceitos. 

Também antes das considerações propriamente ditas aparecerão no texto referências a Associações de Ofício na arte de construir, todavia essas corporações não podem ser confundidas ainda com a Maçonaria, seja ela nos seus primórdios operativos, seja ela no período de aceitação. 

Nesse sentido, a autenticidade histórica da Ordem possui aproximadamente oitocentos anos comprovados, longe do imaginário e do ufanismo de pseudo historiadores que a imaginaram milenar e até mesmo, pasme, antediluviana. 

Ao tema propriamente dito: Maçonaria Operativa, ou de Ofício – sob esse título englobam-se inúmeras associações de artesãos instituídas para a preservação da “Arte Real” que viriam a prosperar na Idade Média, principalmente no seio dos construtores da Europa, embora essas associações que se dedicavam a arte da construção não sejam características apenas desse período específico, porém suas existências registram-se desde tempos mais antigos, a exemplo da Babilônia e do antigo Egito.

Conquanto o registro antigo dessas associações – que não eram Maçonaria sob nenhuma hipótese – desde os antigos povos que habitavam a Mesopotâmia (Sumérios, Acádios, Assírios e Caldeus), estas careciam em muito do sentido da organização e da coletividade, somente comuns bem mais tarde nos agrupamentos medievais. 

Segundo alguns pesquisadores e historiadores confiáveis, a primeira associação que possuiu um caráter organizado deveu-se à Numa Pompílio, imperador romano do século VI a.C., criador dos “Collegia Fabrorum”, cujos membros eram denominados “Collegiati”. Seu campo de atuação principal em todo o Império Romano junto aos legionários era o da reconstrução de cidades conquistadas e destruídas pela atividade bélica. Os Collegiati, em princípio politeístas e a posteriori monoteísta se caracterizavam por um cunho religioso dado ao trabalho. 

Com o advento da queda do Império Romano do Ocidente, essa Associação experimentaria então um profundo declínio, subsistindo apenas em algumas províncias, porém por pequenos agrupamentos a exemplo dos Mestres Comancinos e Cistercienses, dentre outros. 

Na passagem do primeiro milênio (ano 1.000) por influência da Igreja Católica e do “fim do mundo” que não veio! os homens cantaram louvores na pedra edificando Catedrais na expansão dos domínios territoriais daquela Igreja estado. 

Assim, surgiriam já no século VII da era cristã, como que a substituir os Collegiati as chamadas “Associações Monásticas”, cuja composição era exclusivamente composta por clérigos que detinham o segredo da arte de construir e edificavam igrejas, conventos e monastérios, consoante a propagação do estilo gótico de arquitetura, comum ao reino dos godos que influenciaria sobremaneira a característica construtiva das edificações da Idade Média. 

Devido a imensa expansão dos domínios da Igreja, a partir do século XI, por necessidade de mão de obra surgiriam as “Confrarias Leigas”, como organizações formadas por mestres leigos, cujo aprendizado da “arte da arquitetura” fora obtido através dos clérigos componentes das Associações Monásticas. Preservava-se assim o segredo da “arte” e o forte cunho religioso dado ao trabalho em continuidade. 

É desse período, já no século XI que começariam a florescer outras corporações simplesmente religiosas denominadas “Guildas”, embora já no século XII se caracterizaria pela formação de agrupamentos profissionais de mercadores e artesãos. 

Das Guildas deve-se o uso do termo “Loja” que apareceria em 1.292 e mais tarde serviria também para designar uma corporação maçônica. 

Surgiriam então, posteriormente ao século XII a “Franco-Maçonaria” ou os também conhecidos como “Ofícios Francos” que se caracterizavam na sua formação por grupos de construtores privilegiados e desligados das obrigações impostas pelo poder real e eclesiástico (livres, francos), o que lhes dava inclusive a liberdade de locomoção (privilégios concedidos pelo clero). 

Embora o termo “livre”, esses grupos (Franco-Maçonaria) dedicados à arte de construir ficavam submissos à Igreja, por conseguinte agregados com os princípios religiosos (a influência da Igreja). 

Daqui cabe um esclarecimento sobre o termo “franco” relacionado à Idade Média. Essa palavra significava não só que era livre, contrário ao servil, contudo também se referia aos indivíduos ou bens que escapavam à servidão, à tutela e aos direitos senhoriais. 

Assim a Franco-Maçonaria, ou de Ofício encerra o último estágio desse período, destacando-se que esta fora o alicerce da etapa de transição para a Moderna Maçonaria. 

Os Ofícios Francos deram o suporte na história para a trajetória da “Maçonaria dos Aceitos”, ou “Especulativos”, cuja característica principal está no fato de que os seus componentes não eram construtores de fato por profissão, porém construtores simbólicos que objetivavam a edificação de um templo à virtude para a humanidade – inclusive é a definição atual da própria Moderna Maçonaria. 

Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos – no trajeto da história muitos aspectos viriam influenciar a decadência dessas corporações de ofício o que as obrigaria paulatinamente a introduzir o costume da “aceitação” o que significava aceitar elementos não profissionais na arte de construir no intuído de proteger e manter essas associações de ofício. 

O primeiro elemento estranho à profissão e admitido que se tem registro é o Lorde de Aushinleck, John Boswell, um abastado latifundiário escocês iniciado na Chapel’s Mary Lodge em Edimburgo na Escócia no ano de 1.600. 

Posteriormente seriam também admitidos filósofos, alquimistas e hermetistas geralmente pela roupagem simbólica que em não raras vezes chegava a se confundir com a própria linguagem dos franco-maçons. 

Essa transformação que se iniciara no século XVII se tornaria pujante nesse sentido, a tal ponto que no século seguinte o número de maçons aceitos suplantaria o de maçons operativos. 

Assim essa progressiva transformação daria origem a Maçonaria dos Aceitos, ou também conhecida como Maçonaria Especulativa, cuja maioria dos integrantes de então não eram ligados literalmente a arte de construir. 

Essa nova roupagem viria então provocar uma verdadeira revolução político-social e cultural nas corporações de ofício reforçada pelo advento do Renascimento que apontava então o período transitório entre a Idade Média e a Moderna, em cuja época seria retomado o estudo relacionado à arte e a literatura da Antiguidade Clássica e que se somava também ao enfraquecimento do poder temporal papal, assim como o fim do feudalismo. 

Essa nova roupagem das associações organizadas (Maçonaria dos Aceitos) proporcionaria através do brilhantismo de muitos integrantes oriundos da aceitação uma verdadeira conflagração de cultura e liberdade afastada das tutelas eclesiásticas e feudais, cujo objetivo principal seria o desenvolvimento político-social. 

Conforme cita o autor José Castellani, in Dicionário de Termos Maçônicos, p. 94: “As grandes figuras intelectuais da época procuravam a franco-maçonaria, tornando-se aceitos por três motivos principais: 1º. A franco-maçonaria oferecia uma forma lícita de associação, tão rara na época; 2º. A natureza dessas associações, os seus privilégios, a proteção de pessoas influentes e a livre manifestação do pensamento, abordando a universalidade dos conhecimentos, sempre tão cerceados pelo dogmatismo medieval, seduziram a mente científica e crítica dos intelectuais, que desejavam aumentar o seu conhecimento e expor os seus pensamentos, sem despertar suspeitas e perseguições; 3º. A franco-maçonaria era o único artifício não arraigado a um local, mantendo, todavia, elos entre cidades e entre países, protegendo e acolhendo os Irmãos em viagem e proporcionando, portanto, aos estudiosos, o intercâmbio de conhecimento e ideias”. 

Esse inteligente panorama nos dá uma ótima ideia de como a Maçonaria fora colocada na vanguarda do renascimento cultural e científico, bem como suas lutas pela liberdade, pelas reformas e conquistas sociais. 

Obviamente que esse caráter liberal e libertário traria à Maçonaria e aos maçons ataques e ferozes perseguições tanto por parte dos governos totalitários como pelas malfadadas excomunhões da igreja, já que sobre a visão desses poderes, a Maçonaria seria a causa do enfraquecimento e da perda de muitos privilégios até então mantidos desde a idade medieval. 

Sob essa óptica é que maçons sofreriam o percalço dos cárceres e imolados pela tirania inquisitória em nome da liberdade de pensamento, fato esse que acabou por tornar secreta a Maçonaria na época no intuito de proteger os seus membros e a sua própria atividade de ação pela liberdade. 

Moderna Maçonaria – Até então os maçons se reconheciam e trabalhavam em Lojas livres das travas obedienciais (não existiam Obediências, ou Potências), todavia no primeiro quartel do século XVIII, visando organizar as inúmeras Lojas existentes em Londres após o incêndio que consumiu a cidade londrina em 1.666, aproveitando também a oportunidade para realizar uma festa comemorativa ao solstício de verão no hemisfério Norte, seria fundada no pátio da Igreja São Paulo pelas Lojas das tabernas do Ganso e a Grelha, do Copázio e as Uvas, da Macieira e da Coroa a Premier Grand Lodge em Londres em 24 de junho de 1.717 (dia de João, o Batista) sob a égide política-religiosa da Igreja Anglicana e posteriormente também da Royal Society Inglesa. Esse acontecimento inauguraria então o primeiro sistema obediencial através da Primeira Grande Loja com a finalidade auto rogada de ser uma Potência Simbólica suprema para julgar a regularidade das demais Lojas.

No curso da história durante todo o século XVIII e o início do século XIX a Primeira Grande Loja sofreria oposição, destacando-se a Grande Loja de 1.751 que se auto denominava a dos “Maçons Antigos” e pejorativamente alcunhava a primeira como a dos “Modernos”. 

Essas escaramuças durariam até 27 de novembro de 1.813 com a união dos Antigos com os Modernos o que resultaria na atual conhecida Grande Loja Unida da Inglaterra. 

Destaque-se que particularmente esses quase cem anos de história relativos à Maçonaria Inglesa merecem um estudo atento e acurado, já que a faceta “Antigo e Moderno” daria suporte às duas principais vertentes maçônicas do mundo – a inglesa e a francesa. 

Assim esse seria o espelho principal para a grade de estudo da história autêntica da Maçonaria, porém dentro desse imenso mosaico contextual situam-se as particularidades culturais, sociais, simbólicas, ritualísticas e lendárias da Sublime Instituição. 

Há que se considerar um minucioso estudo sobre essas associações oriundas dos canteiros medievais, bem como as suas antigas obrigações, contratos das obras e o respectivo sigilo; seus catecismos e práticas operativas. 

Dando sequência ao estudo perscrutar a origem dos símbolos e a sua evolução nos diversos canteiros espalhados pelas latitudes terrenas. Essa exegese vai de encontro a posteriori com a evolução dos ritos e as suas particularidades históricas e doutrinárias a partir principalmente do século XVIII. 

Obviamente essa é uma feição apanhada na superficialidade histórica, principalmente porque as peculiaridades maçônicas ainda se encontram indubitavelmente espalhadas pelos rincões boreais da Terra. 

A questão é garimpar essas preciosidades com métodos geridos pela academia da história. Há então que se consultarem autores autênticos para não se cair no campo das suposições e interpretações proselitistas, ufanas e pessoais que geralmente se apoiam em anacronismos temerários tidos como verdade inconsistente por alguns. 

Finalizando, deixo determinados conselhos. Como uma grande jornada sempre começa a partir de um único passo, prudentemente siga o rumo correto que serão evitados desvios improdutivos e desnecessários. 

1. Nunca confundir lendas com realidade histórica; 

2. Sempre que possível, tenha às mãos a “documentação primária”. 

3. O historiador é aquele que narra metodicamente os fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade. Utiliza a ciência e o método que permitem adquirir e transmitir conhecimentos adquiridos através da tradição e/ou por meio dos documentos relativos à evolução, e ao passado da humanidade. Assim, um historiador simplesmente narra os fatos, sem emitir a sua opinião pessoal. O termo “eu acho” é um verdadeiro sacrilégio para o historiador; 

4. Em história e na pesquisa autêntica, se afaste dos “achistas”. Aqueles que apenas “acham” não são comprometidos com a Verdade – imaginar é fácil, pesquisar com método é o difícil; 

5. Se afaste de autores imaginosos e ufanos; 

6. Maçonaria não é um palco de proselitismo religioso, nem mesmo de crenças pessoais. Ela combate a ignorância e a superstição, tendo-os como flagelo da humanidade; 

7. Um rito único não é toda a Maçonaria. Lembre-se que a Maçonaria é constituída por ritos; 

8. Analise profundamente a bibliografia consultada. Ela pode ser enganosa e traiçoeira; 

9. Lembre-se, Maçonaria não é religião nem partido político, porém ela é sim religiosa e política. 

10. Conhecer a história relacionada aos “Antigos” de 1.751 e os “Modernos” de 1.717 é imprescindível para se avaliar o conhecimento sobre a Sublime Instituição; 

11. Pesquisar nas revelações, nos fragmentos e nas obras espúrias; 

12. Pesquisar os verdadeiros Landmarks da Ordem (espontâneos, imemoriais e universalmente aceitos), bem como as Antigas Obrigações; 

13. As tabernas dos Maçons antigos e aceitos;

14. Uma Loja maçônica não representa literalmente o Templo de Jerusalém, portanto o Templo não é arquétipo, nem estereótipo de uma Loja; 

15. Cuidado com a imensa quantidade de rituais impressos, principalmente no Brasil a partir dos meados do século XIX. Sem medo de errar a maioria deles é ultrapassada, misturada (um com outro rito), inventiva e mal qualificada. Nunca os tenha como uma fonte confiável. É bem verdade que essa regra não é generalizada, porém poucos de salvam; 

16. Em se tratando de rito, procure a sua origem e o seu primeiro ritual. Entenda a sua mensagem doutrinária; 

17. Ainda em se tratando de rito, observe a sua vertente. Veja se ela é francesa ou inglesa. 

18. Outro perigo à vista é a licenciosidade de interpretação, tanto histórica, como simbólica, afaste-se dela; 

19. A Moderna Maçonaria universal é composta por apenas três Graus – Aprendiz, Companheiro e Mestre. Graus acima do simbolismo são particularidades dos Ritos. Nenhum deles seria melhor do que outros pela sua maior quantidade de Graus; 

20. A Maçonaria primitiva não possuía Graus, porém duas classes de operários que deram origem aos Aprendizes e Companheiros. O Grau de Mestre só apareceria a partir de 1.724 já na Moderna Maçonaria. No operativo existia o Mestre da Obra – não era Grau. Daí o Grau de Companheiro ser o mais genuíno da Maçonaria, tanto histórico quanto doutrinário. Aprenda a não trata-lo como “intermediário” (sic); 

21. Etc., etc., etc. Obviamente esses tópicos não se resumem em tudo aquilo que é necessário para bem compreender a “Arte”. A intenção é apenas dar uma direção para a espinhosa jornada em cujo trajeto serão encontradas inúmeras estações.

A IDENTIDADE DO JUSTO



O juramento sagrado proferido pelo maçom com a mão direita sobre o Livro da Lei (Bíblia Sagrada), é um compromisso assumido com Deus , com os irmãos, mas sobretudo consigo mesmo.

 Compromisso este de, através do auto aperfeiçoamento, contribuir significativamente para o aprimoramento de toda a humanidade.

Se ali se encontra um incauto, um dissimilado que equivocadamente foi levado ao processo de iniciação, lamentavelmente tal pessoa não passará de uma grande decepção. 

Com certeza, as exigências das práticas maçônicas, pesadas ao fraco de caráter, se encarregará com o tempo de excluí-lo da Maçonaria.

Mas se ao contrário, o homem postado diante do Altar dos Juramentos, for da estirpe dos grandes homens, se trouxer consigo as marcas indeléveis que caracterizam os verdadeiros maçons, estará o mundo ganhando um lutador valioso, um guerreiro do Bem e da Justiça.

Quisera todos os homens livres e de bons costumes do planeta tivessem a mesma oportunidade, para que no ambiente propício de uma oficina maçônica, recebendo a inspiração da Filosofia ali difundida, pudessem direcionar seus esforços de forma efetiva em prol da construção de um mundo melhor.

O verdadeiro maçom sabe que não há melhor argumento que sua própria vivência . 

Ele se impõe no seu ambiente influenciando-o positivamente, não de forma arrogante ou arbitrária, mas por sua conduta exemplar e inquestionável. 

Ele é enérgico porém bondoso. 

Firme, porém humilde. 

Sua bondade e humildade residem no fato de saber que, a despeito de num dado momento de sua vida maçônica ser simbolicamente denominado mestre, na prática será sempre aprendiz. 

Aprende-se a todo instante e de todas as formas. 

O Maçom é o pedreiro de si mesmo, e por mais que a obra esteja adiantada, sempre faltará um retoque, pequeno que seja. 

E depois outro, outro, e mais outro, assim infinitamente. 

Por mais que se saiba, por mais evoluído que seja, sempre restará algo a aprender, novas lições a assimilar. 

Na escola da vida não há formandos, ou formados, apenas eternos alunos em busca do aperfeiçoamento.

Fixemo-nos pois, nas principais características que distinguem o verdadeiro Maçom e não nos desvirtuemos de nosso objetivo maior. 

Mantenham-nos livres e firmes na prática dos bons costumes, e que com o auxilio do "Grande Arquiteto do Universo" nossos corações sejam cada vez mais sensíveis ao bem.

E lembremo-nos sempre: "o que para o profano é um gesto meritório, para o Pedreiro Livre é um dever sagrado."



abril 04, 2022

O CHAPÉU NA MAÇONARIA



Qual a origem do chapéu na maçonaria, usado pelo Venerável Mestre nas reuniões de Aprendiz e Companheiro e por todos os Mestres nas reuniões de Mestre Maçom?

Uma das obras de José Castellani declara que herdamos o chapéu preto dos judeus ortodoxos, e que o chapéu em Loja é a “coroa maçônica”, influência da realeza europeia, usada pelo Venerável como símbolo de sua posição de liderança.

Afinal de contas, herdamos dos judeus ou dos reis europeus? E os judeus ortodoxos, usam o chapéu preto porque se consideram reis? Não há como misturar uma coisa com a outra, chapéu de judeu com coroa de europeu. Mas Castellani e muitos outros irmãos tentaram.

Se herdamos o chapéu dos judeus ortodoxos, será que não deveríamos adotar também a circuncisão? Ou talvez as tranças nas orelhas e a barba longa?

Na verdade, o uso do chapéu na Maçonaria é praticamente inverso ao uso do chapéu pelos judeus! Os judeus utilizam o chapéu obrigatoriamente durante as orações e cerimônias religiosas, em sinal de temor a Deus. Já o maçom utiliza durante toda a reunião e retira o chapéu exatamente nos momentos de orações, em sinal de respeito! Dessa forma, fica claro que o uso do chapéu pelos maçons não tem nenhuma relação com o uso do chapéu pelos judeus ortodoxos, como pensava Castellani. 

Já a teoria do chapéu ser um símbolo da “coroa maçônica”, influenciada pelo símbolo de liderança que distingue o rei dos demais, seria mais plausível, afinal de contas, o Venerável Mestre representa o Rei Salomão, não é mesmo? Porém, porque o Venerável não utilizaria uma verdadeira coroa em Loja? Uma coroa de louros, ou flores, ou de metal? Porque seria um chapéu preto de abas caídas (REAA) ou mesmo uma cartola (Rito de York)? E por que todos os Mestres usariam em reuniões de Mestre, se o representante do rei Salomão é apenas o Venerável?

Na Grécia Antiga o chapéu era símbolo de sabedoria e liberdade. O famoso escritor maçom Oliver comenta sobre o mesmo significado para os romanos, tendo sobrevivido na maçonaria desde as Guildas Romanas. Sua relação com a sabedoria permaneceu na Idade Média, como os chapéus dos magos denunciavam, os quais foram adaptados para cartolas pelos mágicos. O chapéu representa proteção. Se na prática o chapéu protege a cabeça do dono contra o sol, simbolicamente, o chapéu é como um elmo que confirma e protege a sabedoria que se encontra na cabeça do Venerável Mestre. Assim sendo, o chapéu do Venerável Mestre pode realmente ser interpretado como uma coroa representativa de sua autoridade. Porém, uma autoridade com base na Sabedoria, assim como a de Salomão. E é por serem detentores da sabedoria maçônica que todos os Mestres utilizam o chapéu nos ritos originados na França.

O costume do uso de chapéu pelo Venerável Mestre era um costume na maçonaria inglesa até a fusão que originou a Grande Loja Unida da Inglaterra. Após a fusão, os antigos costumes foram “reformulados” para agradar ambas as partes, e a tradição do chapéu simplesmente foi descartada. O único ritual na Inglaterra que mantém o uso do chapéu pelo Venerável Mestre é o Bristol. Mas por uma ironia do destino, essa tradição permaneceu viva nos EUA. E os ritos de origem francesa também mantiveram esse antigo costume, tão presente no Brasil.

...Fonte: JBNews - informativo nº 0176

A CADEIA DE UNIÃO



Espero apresentar, com este tema, o enriquecimento dos que conhecem a "Cadeia de União" apenas como um ato litúrgico de transmissão da " Palavra Semestral"; pois, na realidade, ela se constitui numa cerimônia totalmente ligada à filosofia maçônica, porque está embutida numa série de conceitos que se integraram ao alicerce da nossa Ordem.

Acredito que na próxima oportunidade, todos possam sentir os efeitos daquela que é não apenas um símbolo de união fraterna, mas sim a própria fraternidade.

Tentarei ser o mais sucinto e objetivo possível; contudo, pela elevada riqueza de informações e pelo interesse que me despertou o assunto, fui forçado a fazer uma descrição mais detalhada.         É necessário, ter compreensão e obedecer com rigor a ritualística do acontecimento para que se produza o efeito esperado de elevar nosso espírito ao nosso G.A.D.U.

A Maçonaria, através dos tempos, conseguiu reunir comportamentos retirados de todos os ramos do conhecimento humano e de todas as raízes esotéricas e filosóficas, oriundas das outras Instituições, como os mistérios de Ceres, os mistérios Egípcios, Rosacrucianos dos Alquimistas e dos Essênios.

Um dos comportamentos que influenciou a Teoria do Magnetismo Animal de Masmer, foi a Cadeia de União, é um instrumento místico que deve ser estudado e exercido com transparência, para que possamos colher, no aperfeiçoamento da sua prática, os seus efeitos benéficos. 

A Cadeia de União é formada no centro do Templo, composta de elos humanos exatamente iguais, representando os espíritos maçônicos unidos pela solidariedade de ideias e pela comunhão de sentimentos e aspirações. Não existe na corrente de União, um elo maior que outro, todos são iguais na Instituição fraternal, não admitimos hierarquia, nem superioridade, todos são iguais nos direitos e deveres.

A Cadeia de União, nos Ritos mais praticados no Brasil, é formada, quase que exclusivamente, para a transmissão da Palavra Semestral; a exceção é o Rito Schroeder, onde a cadeia é obrigatória após o término de todos os Trabalhos.

Para transmissão da Palavra Semestral, somente os membros do quadro da Loja é que poderão fazer parte da Cadeia, que terá uma forma circular ou oval, estendendo-se do Oriente ao Ocidente.

No Rito Escocês, o Venerável ocupa o lado mais oriental da Cadeia, e terá à sua direita, o Orador e à sua esquerda, o Secretário.

O Mestre de Cerimônias ocupará o lado mais ocidental, bem de frente para o Venerável, tendo à sua esquerda, o 1º Vigilante e, à sua direita, o 2º Vigilante, isso no Rito Escocês. Os demais Irmãos do quadro comporão a Cadeia de acordo com o seu lugar em Loja.

Para a transmissão da palavra, o Venerável a diz, em voz baixa, na orelha esquerda do Irmão que está à sua direita, e na orelha direita do que se encontra à sua esquerda, daí a palavra circula pelos dois lados, sendo recebida pelo Mestre de Cerimônias, em ambas as orelhas, ocasião em que esse oficial irá levar, ao Venerável, as palavras recebidas, dizendo, na orelha direita a palavra recebida no lado direito e, na esquerda, a palavra correspondente a esse lado.

Se a palavra estiver errada, o processo é repetido. Se estiver certa o Venerável dirá, simplesmente: "Meus Irmãos, a palavra está correta, guardemo-la como condição de regularidade e penhor de nossa fraternidade. Desfaçamos a Cadeia e retiremo-nos em paz.” 

Após isso, os Irmãos poderão fazer uma saudação de regozijo, abaixando e levantando os braços, sem desfazer a Cadeia, por três vezes, dizendo "S.S.S.".

Como a Cadeia é composta após o encerramento dos Trabalhos da Oficina, é óbvio que não é feito nenhum Sinal, nessa oportunidade, nem o de ordem e nem a saudação.

Finalizando, a Cadeia de União simboliza a igualdade mais preciosa e a fraternidade mais pura, que se estende do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul do Templo, da mesma forma como o princípio da civilização se estendeu por todo mundo. 

Ela recorda que são verdadeiros Irmãos. A Cadeia de União lembra que a Instituição Maçônica é maior que as religiões, abraça todo Mundo conhecido, unindo raças, povos, nações e continentes. Bem longe das preocupações da vida material, abre-se para o Maçom o vasto domínio do pensamento e da ação. 

Antes de nos separarmos, elevamo-nos em conjunto para o nosso ideal, que ele inspire a nossa conduta no Mundo profano, que guie a nossa vida, que seja a luz no nosso caminho. Cruzam-se os braços para identificar a unificação de todos numa única concentração de vontade, devotada à elaboração dos interesses da Ordem e da Loja.

Juntam-se as mãos para que o Venerável invoque a descida do verdadeiro espírito maçônico, sobre a totalidade de seus componentes, numa preparação para que vençam todos os obstáculos pessoais, limpando a atmosfera do Templo das vibrações impróprias ou maldosas à evolução de cada Obreiro.

"A Cadeia de União", é a mais bela e preciosa Jóia da Loja, ora móvel, ora fixa e quando formada representa a Luz dos Astros em torno do Sol.

"A Cadeia de União", simboliza o Universo e é eterna, como eternos e universais são o amor, a bondade, o progresso e a Justiça. Os homens unidos se abraçam constituindo uma só Cadeia de União, uma só família, orientada pela grandeza absoluta do Pai Celestial, que é o nosso G.A.D.U.

A Cadeia de União é mais um motivo para o Maçom praticar a verdadeira caridade, ou seja, a que o "Olhos não veem", mas o coração sente. 

Que a sabedoria de Salomão nos inspire; que a Força de Hiram, Rei de Tiro, nos mantenha firmes e unidos; e que a beleza do Mestre Hiram Abi adorne os nossos pensamentos, as nossas palavras, gestos e atitudes para que possamos passar essa imagem da Maçonaria, na vivência de todos os instantes do cotidiano de cada um de nós.

(Recebido de João Carlos Laino, em 10/04/2004. Postado no Grupo Atalaia)

abril 03, 2022

CARLO COLLODI, O MAÇOM QUE CRIOU PINÓQUIO - Rui Bandeira


Carlo Collodi não era o seu verdadeiro nome, antes um pseudônimo usado por Carlo Lorenzini. Mas foi por Carlo Collodi que ficou mundialmente conhecido.

Nasceu em Florença em 24/11/1826 e aí passou ao Oriente Eterno em 26/10/1890. Foi jornalista, escritor e combatente voluntário na Guerra de Independência de Itália, entre 1848 e 1860.

Publicou as obras "Gli amici di casa" e "Un romanzo in vapore. Da Firenze a Livorno. Guida storico-umoristica", por volta de 1856. O seu primeiro livro infantil foi publicado em 1876 e intitulou-se "Raconti delle fate". Em 1877 escreveu "Giannettino" e no ano seguinte " Minuzzolo". Em 1881, inicia a publicação de um periódico virado para o público infantil, o "Giornale per i bambini". Foi nesse periódico que originalmente foi publicada, em curtos capítulos, a "Storia di un burattino" (História de um Boneco), o primeiro título do que veio a ser o livro mundialmente conhecido por "Aventuras de Pinóquio", a sua obra-prima. Em 1887, publica ainda "Storie allegre".

A condição de maçom de Carlo Collodi, apesar de não estar confirmada por nenhum documento oficial, é indisputadamente reconhecida. Aldo Molla, profano que, em Itália, é geralmente reconhecido como o historiador ofical da Maçonaria, manifesta essa certeza. Vários elementos biográficos de Carlo Collodi parecem confirmá-la: a criação em 1848 de um jornal chamado "Il Lampione", que, como ele dizia, devia "iluminar todos aqueles que vagueavam nas trevas"; a participação na Guerra da Independência integrado nos voluntários toscanos, em 1848, e a sua, também voluntária, integração no exército piemontês em 1859; a sua extrema proximidade ao reconhecido maçom Mazzini, de quem se declarava "discípulo apaixonado".

Os princípios caros à Maçonaria expressos na trilogia Liberdade - Igualdade - Fraternidade estão expressos nas "Aventuras de Pinóquio": a Liberdade, porque Pinóquio é um ser livre e que ama a Liberdade; a Igualdade, porque a única aspiração de Pinóquio é ser igual aos outros e porque nenhuma personagem é superior às demais, nem em importância, nem em nível social; a Fraternidade, porque este é o sentimento principal que faz agir as personagens nas diferentes situações.

OS SÍMBOLOS EM MAÇONARIA: O ENSINAR E O APRENDER - Paulo M.


É conhecido que a maçonaria recorre extensivamente a símbolos como forma de transmissão do conhecimento. É evidente que esses símbolos terão algum significado. O que, todavia, é menos evidente, é que não há significados universalmente aceites ou impostos para os símbolos maçónicos. O que um interpreta de um modo, outro pode interpretar de modo diverso. Assim sendo, de que serve a simbologia na maçonaria? A que aproveita essa "plasticidade" nos significados dos símbolos? E como é que se pode usar os símbolos como meios de comunicação do seu significado subjacente, se esse significado pode variar de pessoa para pessoa?

Para o entendermos, temos que recuar no tempo. Bem antes da maçonaria especulativa ter surgido - o que sucedeu, oficialmente, em 1717 - já os maçons operativos se socorriam de símbolos para se recordarem dos ensinamentos que os seus mestres lhes haviam transmitido. De facto, muitos dos trabalhadores da pedra não sabiam ler nem escrever, pelo que se socorriam de pictogramas e representações de objetos para o efeito. Os símbolos não eram propriamente secretos; o seu significado - as técnicas a que os mesmos se referiam - é que era apenas revelado a alguns. A maçonaria especulativa veio a adotar esse método de transmissão de conhecimento. Assim, hoje como outrora, os símbolos são auxiliares de memória, instrumentos de suporte ao conhecimento, verdadeiras mnemónicas- diríamos hoje: são cábulas - que nos permitem recordar, evocar e especular.

Mas se o seu significado pode ser individualizado, como é que o conhecimento passa sem se perder, sem se desvanecer, sem se espraiar numa mar de semânticas? De forma muito simples: para tudo há um início, e o método consiste, precisamente, em dar a cada um os pontos de partida, sem estabelecer qualquer ponto de chegada... Assim, a um aprendiz é, desde logo, ensinado o significado comum de vários símbolos: o esquadro, o prumo, o nível, o mosaico bicolor do chão dos templos, a pedra bruta, a pedra polida, entre outros. É das poucas ocasiões que, em maçonaria, alguma coisa é verdadeiramente ensinada, e mesmo aí os significados gerais são dados com parcimónia de explicações e de forma sucinta e concisa. A cada um é dito, então, que deverá procurar interpretar cada símbolo de forma pessoal, podendo quer aplicar o significado original, quer levá-lo até onde o deseje. E é esse o trabalho do aprendiz: estudar os símbolos, construir um significado em torno dos mesmos, e aplicá-lo a si mesmo.

E como se mantém um denominador comum? Quando um maçon se refere ao prumo, os demais sabem que se refere à retidão moral, à integridade, à verticalidade de caráter - aquilo que ouviu quando, ainda aprendiz, lhe "apresentaram" os símbolos. Contudo, mais tarde cada um irá interiorizar a seu jeito o que estas palavras significam. O que será sinal de caráter para um poderá ser duvidoso para outro; a nenhum, porém, é imposto qualquer significado universal. E porquê? Porque, se a maçonaria se destina a tornar cada homem num homem melhor, deve fazê-lo dentro do absoluto respeito pela sua liberdade. Por isso se diz que em maçonaria tudo se aprende e nada se ensina, no sentido de que cada um deve procurar os seus próprios ensinamentos sem esperar que lhos facultem. Cada um deverá poder procurar, no mais íntimo de si, o que quer fazer dos princípios que lhe são transmitidos: se quer segui-los ou ignorá-los, quais aqueles a que vai dar maior preponderância, e até onde vai levar esse ânimo de se superar. E é por tudo isto que, sendo essa luta de cada homem consigo mesmo algo de mais único do que uma impressão digital, a liberdade individual de interpretação se impõe sobre qualquer eventual tentativa de normalização do significado dos símbolos.