Em 04.06.2014 o Respeitável Irmão Flávio Augusto Batistela, Coordenador Regional de Comunicação e Imprensa – 8ª Macrorregião – Grande Secretaria de Comunicação e Imprensa do GOSP – GOB, membro da Loja Solidariedade e Firmeza, 3.052, REAA, Oriente de Ouro Verde, Estado de São Paulo solicita esclarecimento sobre o que segue:
Gostaria que o Irmão explicasse o movimento do Sol, comparando com nosso Templo maçônico, a questão das Luzes da Loja não estarem na ausência de Luz (mas entendo que o 1º Vigilante está no Norte, total ausência de Luz). Gostaria de uma explicação melhor nesse sentido. Li um artigo sobre isso, e minha cabeça ficou cheia de dúvidas. Mais uma vez, obrigado.
Apreciação:
Esse assunto é bastante complexo em se tratando como um todo na Maçonaria, isso devido à doutrina específica de um Rito. Assim, as ponderações que seguem estão relacionadas ao Rito Escocês Antigo e Aceito no seu simbolismo.
No Rito em questão a Loja (Templo) é um canteiro de obras simbólico cujo espaço representa um segmento sobre a linha imaginária do Equador terrestre.
O retângulo da Sala da Loja é assim então orientado: seu comprimento de Leste para o Oeste, ou vice-versa e a sua largura de Norte ao Sul ou vice-versa. O nascente é o Leste, ou Oriente e o poente é Oeste ou Ocidente.
A linha imaginária, em se tratando do Templo, divide o Ocidente em dois espaços que se denominam Coluna do Norte (esquerda de quem entra) e Coluna do Sul (direita de quem entra). O topo das duas respectivas Colunas é representado pelas paredes Norte e Sul entre a grade do Oriente e a parede ocidental (meridião), ou vice-versa (setentrião).
Como o Canteiro (Loja) representa um segmento do planeta Terra, é dessa superfície que o Homem observa o movimento aparente do Sol em seus dois movimentos distintos – o diário e o anual. Obviamente, que o movimento é “aparente”, já que quem se desloca no espaço é verdadeiramente a Terra em relação ao Sol.
O movimento diário do Sol, ou sua marcha simbólica está representado em Loja no Ocidente pela circulação no sentido dos ponteiros do relógio toda a vez em que um Obreiro precise se deslocar de uma para outra Coluna (cruzando a linha imaginária).
Ainda no que tange o movimento diário está à referência ao nascente, ou romper da aurora (Venerável), a passagem do Sol no meridiano (meio-dia – Segundo Vigilante) e o ocaso ou crepúsculo em direção à noite (meia-noite – Primeiro Vigilante).
Esse movimento diário na Loja simula, dentre outros, o dia de trabalho do Maçom. Como a Maçonaria é uma Obra de Luz, ela segue simbolicamente a marcha diária do Sol – giro dextrocêntrico (ombro direito para o centro em torno do Painel da Loja).
A aclamação H.'. na abertura da Loja nos Graus de Aprendiz e Companheiro representa a saudação ao Sol no seu romper diário. No encerramento é a saudação ao seu ocaso na certeza de que quanto mais escura é a madrugada (meia-noite), mais próximo está o raiar de um novo dia.
O movimento anual do Sol, ou a sua revolução anual. Sobejamente conhecida é inclinação e o movimento do planeta Terra (cerca de 23º em relação ao seu plano de órbita) na sua viagem em torno do Sol durante um ano.
Pelo maior ou menor afastamento do Sol de cada Hemisfério inclinado é que sobrevêm as estações ou os ciclos da Natureza – Primavera, Verão, Outono e Inverno - oposto conforme a semiesfera.
Sob o ponto de vista da Terra aparentemente o Sol se desloca em sua eclíptica(1) inclinando-se a partir do Equador mais para o Sul, ou mais para o Norte conforme o ciclo natural e, desse movimento aparente, devido à inclinação do Planeta, marcam-se as datas solsticiais(2), cujas particularidades apresentam dias e noites diferentes na sua duração (no máximo de afastamento do Sol do Equador) e as datas equinociais que proporcionam os dias e noites iguais na sua duração (Sol sobre o Equador - equidistante).
O máximo afastamento aparente do Sol da linha imaginária do Equador para o Norte tem o seu limite demarcado pelo trópico de Câncer e para o Sul pelo trópico de Capricórnio.
Os ciclos naturais, ou as estações do ano, estão astronomicamente demarcados pelo alinhamento da Terra por sua vez com as doze constelações do Zodíaco durante o seu movimento de translação em torno do Sol. Assim o Zodíaco (do grego zodiakós- relativo às constelações dos animais) significa a zona circular, ou faixa, pela qual passam à eclíptica e que contém as doze constelações que o Sol aparentemente percorre durante o ano.
Esses alinhamentos são divididos de três em três por quatro grupos distintos, cujo início do primeiro grupo se dá a 21 de março - equinócio de Primavera no Norte e Outono no Sul; o segundo grupo se dá a 21 de junho – solstício de Verão no Norte e Inverno no Sul; o terceiro grupo se dá a 21 de setembro – equinócio de Outono no Norte e de Primavera no Sul. Por fim o quarto grupo que se dá a entre 21 e 23 de dezembro – solstício de inverno no Norte e de Verão no Sul. Assim os quatro grupos compostos cada qual por três alinhamentos perfazem o número de doze, cujos grupos são conhecidos por estações do ano. Em número de doze os alinhamentos correspondem trinta dias, ou um mês, que se iniciam geralmente no dia 21 do calendário gregoriano. Daí o ano nesse caso se inicia em 21 de março (início da primavera no hemisfério norte) e se encerra no dia 20 de março do ano seguinte (fim do inverno no hemisfério norte) – calendário equinocial muito usado pela Maçonaria – sempre com base no hemisfério Norte.
Em um Templo maçônico do Rito Escocês Antigo e Aceito os elementos que sugerem esse movimento anual do Sol são representados pelas Colunas Zodiacais, pelas Colunas Solsticiais (B.'. e J.'.) e pela linha imaginária do Equador.
Em relação à Maçonaria esse movimento aparente do Sol, ou as estações do ano, simbolicamente sempre corresponde ao Hemisfério Norte por ser este berço da Maçonaria em geral e do Rito em questão em particular.
A Marcha do Sol na concepção iniciática dos três Graus simbólicos. As Colunas Zodiacais, particulares da simbologia e alegoria do Rito Escocês Antigo e Aceito, rito de origem francesa, representam os ciclos e a evolução da Natureza. Essa particularidade esta presente no arcabouço doutrinário do Rito porque compara a evolução e aperfeiçoamento do Homem à perfeição das Leis Naturais, cujos ciclos sugerem essa relação com a Primavera, com o Verão, com o Outono e com o inverno às etapas da vida humana – nascimento, infância-adolescência, juventude e maturidade.
As doze Colunas, seis ao Norte e seis ao Sul, divididas em grupos de quatro correspondem às estações do ano representadas pelas Constelações do Zodíaco (sobre os capitéis das doze Colunas). Comparado cada ciclo à transformação essa alegoria suportada pelos adereços simbólicos das constelações sugere também o Homem como elemento integrante da Natureza, o que representa em primeira instância uma espécie de teatro da vida – a Primavera (infância), o Verão (adolescência/juventude), o Outono (juventude/maturidade) e o Inverno a morte.
Essa alegoria baseada nos ciclos que se relacionam com as constelações visíveis conforme os momentos astronômicos da translação terrestre não é propriedade da Maçonaria, já que essas relações se apresentam desde a Antiguidade e serviram de base para que as antigas civilizações calculassem o espaço e tempo das previsíveis estações terrenas.
Essas constelações eram então imaginadas como deuses relacionados com animais (zodíaco) fixados no firmamento – Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, etc., cuja afinidade com a evolução da Natureza e o Sol dera origem aos Cultos Solares da Antiguidade, base na grande totalidade das religiões hoje conhecidas, inclusive o Cristianismo.
Esse mesmo conceito alegórico através dessas Constelações e Colunas Zodiacais veio a servir para a Moderna Maçonaria e em particular para o simbolismo escocês. Assim os símbolos representativos desses corpos celestes passariam durante o segundo quartel do século XIX a integrar o Templo simbólico do Rito em questão, cuja referência da situação topográfica desses elementos em relação ao ponto de vista do Maçom é aquele de se estar posicionado no centro do Ocidente e sobre o Equador do canteiro (Loja).
Dessa posição, olhando para o Topo da Coluna do Norte (parede Norte) se localizam a partir do canto com a parede ocidental o primeiro grupo constituído pelas constelações Áries, Touro e Gêmeos (Primavera – 21/03 à 20/06) e, ainda nessa parede, o segundo grupo constituído pelas constelações de Câncer, Leão e Vigem (Verão – 21/06 à 20/09). Do mesmo ponto de vista, porém agora observando o Topo da Coluna do Sul (parede Sul) se localizam a partir da grade do oriental o terceiro grupo constituído pelas constelações de Libra, Escorpião e Sagitário (Outono – 21/09 à 20/12). Por fim e ainda nessa parede o quarto e último grupo constituído pelas constelações de Capricórnio, Aquário e Peixes (Inverno – 21/12 à 20/03).
Cabem aqui ainda duas observações, sendo que a primeira serve para ratificar que toda essa relação está para o hemisfério norte da Terra, enquanto que segunda lembra que as Colunas Zodiacais se localizam apenas nas paredes Norte e Sul do Templo, entre a parede ocidental e a grade do Oriente no Norte e vice-versa no Sul – Câncer estará sempre ao Norte e Capricórnio no Sul (razão pelo destaque em negrito no parágrafo anterior).
Dando então sequência às considerações, a senda (caminho) iniciática dos três Graus simbólicos encontra-se representada no encadeamento das Colunas Zodiacais, cujo arcabouço doutrinário relaciona simbolicamente o aperfeiçoamento humano com os ciclos perfeitos da Natureza. Assim, em linhas gerais comparativas, o Iniciado no teatro simbólico da Iniciação, após ter sucumbido no interior da Terra (Câmara de Reflexão) renasce na Primavera (morreu para renascer) tal qual a semente que germina após o inverno - o neófito (do grego: neóphytos = plantado recentemente).
Recém-renascido como a Natureza o Aprendiz em busca da Luz cumpre sua jornada pelo Norte, primeiro nas três Colunas iniciais (infância-primavera) e em seguida ruma para as outras três (adolescência-verão). Assim sendo, pelo topo do Norte (encostado parede setentrional) o Aprendiz encetou sua trilha iniciática no equinócio de Primavera e a terminou na adolescência e juventude coincidindo com o solstício de Verão.
Agora, recém-chegado à juventude o já Companheiro simula a sua passagem para a maturidade cruzando a linha do Equador (do Norte para o Sul – Elevação, ou para a perpendicular ao nível) até o Topo do Sul, passando pelas outras três Colunas (outono – maturidade). Por fim, ainda no meridião tal como o Sol na sua trajetória, o Companheiro incide nas três últimas Colunas (inverno – fim da vida), o que alegoricamente significa o encerramento de mais um ciclo perfeito, ou o morrer para renascer – a volta do Sol. O Exaltado morre para renascer no Oriente.
Em resumo essa marcha anual (movimento) aparente do Sol relacionada ao Maçom e sugerida no Templo pelas Colunas Zodiacais se inicia no equinócio de Primavera (renascer da Natureza) na constelação de Áries, percorre o topo do Norte até o solstício de Verão na constelação de Câncer. Encerrado o Verão o Astro Rei se precipita para o Sul, ou Meio-Dia na constelação de Libra no equinócio de Outono. Por fim o Sol ingressa no derradeiro ciclo pela constelação de Capricórnio no solstício de Inverno.
De modo iniciático essa evolução representa progresso do aperfeiçoamento humano como se os ciclos naturais, ou estações do ano se assemelhassem simbolicamente às etapas da vida – infância, juventude, maturidade e morte.
Assim, o Templo como palco desse canteiro de aperfeiçoamento suporta essas referências que envolvem a marcha do Sol com as suas das datas equinociais (primavera e outono) e as solsticiais (verão e inverno).
Os solstícios, além de também pertencerem ao contexto histórico operativo dos Canteiros Medievais (origem da Moderna Maçonaria) que inclusive envolvem as datas comemorativas de João, o Batista e João, o Evangelista, estão na doutrina do Rito Escocês, que é de origem francesa, representados pelas Colunas Solsticiais, ou Vestibulares B.´. e J.´. que marcam a passagem abstrata dos trópicos de Câncer, ao Norte e Capricórnio ao Sul. Entre os trópicos, ao centro está à linha imaginária do Equador, que vai do centro da porta de entrada até o Oriente em direção ao Delta.
Essa linha imaginária divide o Ocidente em duas bandas distintas. À esquerda de quem entra está a Coluna do Norte em cuja cumeada (parede) estão localizadas as seis primeiras Colunas Zodiacais, ou as Constelações pelas quais o Sol percorre na eclíptica partindo da Primavera até o Verão. À direita de quem entra está a Coluna do Sul, em cuja culminância (parede) estão situadas as seis últimas Colunas Zodiacais, ou Constelações pelas quais o Sol percorre na eclíptica seguindo do Outono até o Inverno.
No tocante ao simbolismo do Norte ser mais escuro é pela referência feita à Maçonaria relacionada ao seu berço de nascimento que é no hemisfério Norte. Assim essa relação implica que no hemisfério boreal quanto mais afastado se estiver do Equador, pela inclinação e curvatura da Terra, a Luz fica mais distante, o que é dito “mais escuro”, ou “menos Luz”, enquanto que sob o ponto de vista do Norte, o Equador mais ao Sul, aparenta ser mais iluminado, o que dá o título ao hemisfério Austral de Meio-Dia, ou Sul – quanto mais próximo do Equador, mais iluminado.
A regra de observação sempre do hemisfério Norte pode ser verificada no Painel da Loja de Aprendiz e de Companheiro, onde as “três janelas” (rota do Sol) se apresentam mais ao Sul, o que dá inclusive a posição do Segundo Vigilante na Coluna do Sul e caracteriza simbolicamente o topo do Norte, oposto ao Sul, como lugar onde a incidência de Lua é menor (veja a Pedra Bruta). Essa é a explicação para o “Norte mais escuro, ou menos iluminado”.
Obviamente esse é apenas um trato simbólico, já que pela esfericidade da Terra, aquele que estiver posicionado no Sul e quanto mais afastado estiver do Equador também receberá menos Luz, já que astronomicamente as situações se invertem conforme o hemisfério. Entretanto, como a Maçonaria é simbólica as suas relações doutrinárias e tradicionais estão relacionadas sempre ao Hemisfério Norte da Terra, salvo algum caso pertinente a um rito maçônico específico que tenha surgindo no Hemisfério Sul.
Ainda para ilustrar o movimento anual do Sol no escocesismo simbólico, observe-se o número de Luzes que compõem o lugar do Venerável e dos Vigilantes. Estas se constituem se somadas no máximo de “nove”, o que significa a falta de Luz nos três meses de Inverno – a Terra fica viúva do Sol. Em síntese significa a morte do Mestre, cuja revolução anual está na procura pelos “nove” Mestres do corpo assassinado (o Sol) pelos três meses de Inverno.
Toda essa alegoria do movimento do Sol, os Solstícios e os Equinócios é perfeitamente compreendida se bem observados os passos da Marcha do Terceiro Grau, cujos movimentos do eixo para os respectivos hemisférios (Colunas) representam o Sol em solstício de Inverno e Verão. Em linhas gerais a Marcha do Mestre representa o movimento anual do Sol enquanto que a Lenda do Terceiro Grau, desde que despida de opiniões ocultistas e proselitistas geralmente hauridas de apreciações pessoais, é verdadeiramente uma belíssima lição de aperfeiçoamento humano e de sociologia suportada pela ciência da moral e da ética.
(1) .Eclíptica – 1. Plano da órbita terrestre. 2. Círculo máximo da esfera celeste, que é a interseção da eclíptica (1) com esta.
(2) Solstício - Época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador. Os solstícios situam-se, respectivamente, no dia 21 de junho para a maior declinação boreal, e no dia 21 ou 23 de dezembro para a maior declinação austral do Sol. No hemisfério sul, a primeira data se denomina solstício de inverno e a segunda, solstício de verão; e, como as estações são opostas nos dois hemisférios, essas denominações invertem-se no hemisfério norte.