abril 17, 2022

VOCÊ É DESNECESSÁRIO PARA A ORDEM?



Uma das situações, talvez a mais dolorosa para um homem, é quando ele se conscientiza de que é totalmente desnecessário, seja no ambiente familiar, no trabalho, na comunidade ou, principalmente, para nós maçons, na nossa Instituição.

Os maçons tornam-se desnecessários:

Quando decorrido algum tempo de sua Iniciação ao primeiro grau da Ordem, já demonstram desinteresse pelas sessões, faltando constantemente, demonstrando não estarem comprometidos com a Instituição, apesar de terem aceitado a Iniciação e terem JURADO SOLENEMENTE.

Quando, durante as sessões, já "enturmados", ficam impacientes com as instruções, com as palestras ou com as palavras dos Irmãos mais velhos, achando tudo uma chatice, uma bobagem que atrasa o ágape e a esticada noturna ao BAR.

Quando, ao tempo da apresentação de trabalho para aumento de salário, não têm a mínima ideia dos assuntos dentre os quais podem escolher os seus temas. Simplesmente copiam alguma coisa de um livro e apresentam-no, pensando que ninguém vai notar.

Quando, ainda companheiros, começam a participar de grupos para ajudar a eleger o novo Venerável e, não raro, já pensando seriamente em, assim que chegarem a Mestres, começarem a trabalhar para obter o "poder" na Loja.

Quando já como Mestres, recusam-se a admitir que sabem quase nada a respeito da Ordem Maçônica. Acham que estudar e comparecer ao máximo de sessões do ano é coisa para os que aceitaram fazer parte da administração, para os companheiros e os aprendizes.

Quando Mestres, ao participarem das eleições como candidatos a algum cargo na Loja, principalmente para o de Venerável, e não forem eleitos, sumirem ou filiarem-se a outra Loja onde poderão ter a "honra" de serem cingidos com o avental de M∴ I∴, que consideram ser " muito mais vistoso do que o de um "simples Mestre “.

Quando já Mestres e até participando dos graus filosóficos não terem entendido ainda que o essencial para o verdadeiro maçom é o seu crescimento espiritual, a sua regeneração, a sua vitória sobre a vaidade e os vícios, a aceitação da humildade e o bem que possam fazer aos seus semelhantes, e que, a " política interna da Loja, a proteção mútua, principalmente na parte material, também tem lá seu valor, mas não é a ESSÊNCIA para o verdadeiro MAÇOM.

Quando, como Aprendiz, Companheiro ou Mestre, ainda não entenderem que a Loja necessita que suas mensalidades estejam rigorosamente em dia, para que possam enfrentar às despesas que são inevitáveis.

Quando, como Veneráveis Mestres, deixam o caos se abater sobre a Loja, não sendo firmes o suficiente para exercer sua autoridade; não tendo um calendário com programação pré-definida para um período; não cobrando de seus auxiliares a consecução das tarefas a eles determinadas, e não se importando com a educação maçônica, que é primordial para o aperfeiçoamento dos obreiros.

Quando, como Vigilantes, não entenderem que, juntamente com o Venerável Mestre, devem constituir uma unidade de pensamento, pois em todas as Lojas nas quais um ou os dois Vigilantes não se entendem entre si e principalmente não se entendem com o Venerável, o resultado da gestão é catastrófico.

Quando, como Guarda da Lei (Orador), nada sabem das leis e regulamentos da Potência e de sua própria Loja, e usam o cargo apenas para discursos ocos e intermináveis.

Quando, como Secretários, sonegam à Loja as informações dos boletins quinzenais, as correspondências dos Ministérios e, principalmente, os materiais do departamento de cultura, que visam dotar as Lojas de instruções e conhecimentos que normalmente não constam dos rituais, e são importantes para a formação do maçom.

Quando, como Tesoureiros, não se mostram diligentes com os metais da Loja, não se esforçam para manter as mensalidades dos Irmãos em dia e não se importam com os relatórios obrigatórios e as prestações de contas.

Quando, como Hospitaleiros, não estão atentos aos problemas de saúde e dificuldades físicas, financeiras, ou sociais dos Irmãos da Loja. Quando constatamos que em grande número de Lojas, com uma frequência média de vinte Irmãos, se recolhe um tronco de beneficência de R$ 10,00 (dez reais) em média (significa que 10 irmãos contribuíram com R$ 1 ,00 e 10 não conseguiram nem contribuir...).

Na prática, em condições originais, friamente, todos os 10 que não contribuíram são desnecessários, pois a benemerência é um dever declarado do maçom. Mas a benemerência é também do maçom que PODE mais, atendendo o maçom que agora não está podendo, por seu acidentais motivos de vida.

Quando, como Chanceleres, não dão importância aos natalícios dos Irmãos, cunhadas, sobrinhos e de outras Lojas. Quando, em desacordo com as leis, adulteram as presenças, beneficiam Irmãos que faltam e não merecem esse obséquio.

Quando a Instituição programa uma Sessão Magna Branca para homenagear alguém ou alguma entidade pública ou privada, constata-se a presença de um número irrisório de Irmãos, dando aos profanos uma visão negativa da Ordem, deixando constrangidos aqueles que se dedicaram e se esforçaram para realizar o evento à altura da Maçonaria. Todos esses Irmãos indiferentes, que não comparecem habitualmente a essas sessões, também são desnecessários à nossa Ordem.

Muito mais haveria para se dizer em relação aos Irmãos desinteressados da nossa Sublime Instituição. Fiquemos por aqui e imploremos ao Grande Arquiteto do Universo que ilumine cada um de nós, para que possamos agir na Maçonaria com o verdadeiro Espírito Maçônico e não com o espírito profano, e roguemos ainda, que em nenhuma circunstância, seja na família, no trabalho, na sociedade ou na Arte Real, tornemo-nos desnecessários, pois deve ser muito triste e frustrante para qualquer um sentir-se sem importância e sem utilidade no meio em que se vive.

Fonte: Transcrito da revista O Delta. Colaboração do Irmão Gerson Luiz M.de Almeida



abril 16, 2022

PRANCHA DE TRAÇAR - Ir.'. Rui Bandeira



Na Antiguidade, a especialização era muito menor. O Mestre Construtor era uma mistura de arquiteto, mestre de obras, engenheiro, paisagista, decorador de interiores, canteiro, escultor, metalúrgico, enfim, parte daquilo que as nossas mulheres ainda hoje pretendem que nós sejamos lá em casa...

Na Idade Média e no Renascimento, as corporações de construtores em pedra também tinham estruturas (Lojas) dirigidas por Mestres construtores, que exerciam as funções de arquiteto, engenheiro e diretor de obra, além de assegurar também as de gestor e formador.

Como hoje, a construção de uma edificação que ultrapassasse a rusticidade implicava a prévia laboração de um mais ou menos complexo e detalhado projeto. O desenho desse projeto era, na falta de papel, executado em material durável, transportável, leve, que se transportava enrolado e que se consultava estendido sobre e preso a uma prancha de madeira.

Mesmo a própria ação de desenhar o projeto era efetuada com o suporte do desenho colocado sobre e preso a uma prancha. Ali se desenhavam os planos da obra, ou, utilizando a linguagem da época, se traçavam os planos. E a prancha sobre a qual os planos eram traçados era denominada, naturalmente, a prancha de traçar.

A prancha de traçar era, pois, um indispensável instrumento do Mestre Construtor e o símbolo da sua atividade. Era o Mestre quem traçava, não os restantes operários da construção, pelo que a prancha de traçar era o instrumento do Mestre. Sempre que era preciso detalhar qualquer aspecto da obra, desenvolver qualquer solução, o Mestre ia à prancha traçar o trabalho.

A língua evolui. Uma mera questão de tempo mediou a passagem entre a expressão “ir à prancha” (traçar um projeto, desenhar um detalhe) e “fazer uma prancha”. E, quando se faz uma prancha, então a “prancha” é o trabalho feito.

A Maçonaria Especulativa herdou e desenvolveu as tradições vindas da Maçonaria Operativa, das Corporações de Construtores. Assim, na Maçonaria Especulativa o instrumento próprio do Mestre Maçom é a prancha de traçar. E o trabalho que o Mestre Maçom executa e apresenta em Loja é uma “prancha traçada”. Abreviadamente, uma “prancha”.

Mas, embora sejam os Mestres quem tem a obrigação de zelar pela formação de todos os obreiros (incluindo a dos outros Mestres e a deles próprios, pois um Mestre Maçom deve considerar-se um eterno aprendiz), não são só os Mestres quem apresentam trabalhos em Loja. Companheiros e Aprendizes também o fazem, como demonstração dos seus progressos na Arte Real. 

Todo o trabalho apresentado em Loja se denomina uma prancha. E é irrelevante para essa denominação a natureza do trabalho: pode ser um texto ou uma obra de arte, uma música ou uma peça em pedra. O que importa é que se trate de um trabalho de um Maçom para Maçons, que se destine a testemunhar ou a colaborar no aperfeiçoamento individual ou coletivo.

Pode ser sobre matéria de exposição ou interpretação simbólica, pode ser uma reflexão filosófica, uma manifestação artística, uma exposição científica ou a mera divulgação de um fato. Feita por Maçom para Maçons -- e apresentada em Loja -- é uma prancha.

BOOZ e BOAZ - Rodrigo Peñaloza_


Nas Lojas brasileiras muito se confunde quanto à forma correta do nome Boaz, uns dizendo Booz, outros Boaz. Neste texto, eu procuro mostrar duas coisas. Primeiro, que o correto é Boaz, o que, aliás, é trivial, pois, para tanto basta observar a pronúncia hebraica. Em segundo lugar — e principalmente — , eu procuro dar uma explicação sobre o porquê de os tradutores antigos, ao escreverem a Septuaginta e a Vulgata, optaram pela transliteração incorreta do nome.

O termo Boaz aparece 18 vezes no Livro de Ruth, 3 vezes nas Crônicas, 1 vez em 1 Reis, 1 vez em Mateus e 1 em Lucas.

Na edição maçônica norte-americana da Bíblia Sagrada (Heirloom Bible Publishers, Kansas), o termo é Boaz. Na Encyclopedia of Freemasonry, de Albert Mackey (1917), é Boaz. Em Light on Masonry, de Elder D. Bernard (1828), é Boaz. O Manual of Freemasonry, de Richard Carlile (uma exposée da Maçonaria publicada aos poucos na revista The Republican, em 1825), é Boaz. No The Complete Ritual of the Scottish Rite Profuselly Illustrated, editado por um Soberano Grande Comendador (anônimo), 33o, e complementado por J. Blanchard, no século XIX (sem data), é Boaz. Em Morals and Dogma, de Albert Pike (1871), é Boaz.

Em todas as obras antigas, enfim, o termo é Boaz. Isso não nos surpreende, se observarmos que na escrita hebraica massorética, o que temos é בֹּ֫עַז (Bṓʿaz) e que, além disso, não existem vogais repetidas no Hebraico, de modo que Booz é uma pronúncia incorreta. Nos tempos modernos, o Irmão Harry Carr, em seu artigo “Pillars and globes, columns and candlesticks”, publicado em Ars Quatuor Coronatorum, Transactions of the Quatuor Coronati Lodge №2076 London, em 2001, e apresentado antes na Vancouver Lodge of Education and Research, em 20 novembro de 1998, é Boaz. Nesse artigo, Harry Carr reproduz alguns trechos de exposées publicadas entre 1760 e 1765, nos quais o termo é Boaz.

Por que, então, alguns autores nacionais insistem que o correto é Booz ou, quando muito, que tanto pode ser Booz quanto Boaz? Há duas razões para esse erro. O primeiro deles — e mais óbvio — é o desconhecimento do Hebraico. Em geral o argumento usado é que na escrita hebraica antiga não existiam vogais até o surgimento dos sinais massoréticos (século X), o que, segundo eles, justificaria qualquer pronúncia. Porém, não atentam para o fato de o Hebraico não admitir vogais repetidas, o que prontamente elimina Booz, de modo que, neste caso, a suposta ambivalência não existe.

A segunda razão está nas traduções portuguesas da Vulgata. De fato, na Vulgata o termo é Booz. Se São Jerônimo (347–420 d.C.) traduziu o Antigo Testamento diretamente do Hebraico para o Latim, por que optou por Booz e não Boaz? Só vejo duas explicações. Primeiro, em sua época, ainda não existiam os sinais massoréticos, que indicam as vogais. Somente alguém absolutamente fluente em Hebraico poderia ler corretamente o texto hebraico. São Jerônimo, porém, era ilírio e só aprendeu Latim e Grego no início de sua vida adulta. Quando maduro, mudou-se para Jerusalém para estudar Hebraico. É bem provável que, diante de uma dúvida, consultasse a Septuaginta, a versão grega da Bíblia, que também traz Booz (Βοος, que deve ser lido como Βοός, pois não é possível, por razões morfológicas, dizer Βόος em Grego).

Nessa série encadeada de porquês, surge mais um. Por que a Septuaginta traz Booz e não Boaz? Por uma razão muito simples. Boaz é nome próprio e é oxítono. Em Grego, um nome próprio masculino pode terminar em –ας, como ὁ Ξανθίας (cuja pronúncia é ksanthías, donde veio o nosso Xântias), mas não pode jamais ser oxítona. O mesmo ocorre com os substantivos terminados em –ας, como ὁ νεανίας (o jovem), que não podem ser oxítonos. Por outro lado, substantivos terminados em –ος podem ser oxítonos, como θεόϛ (theós, pronuncie the-ós, com o th ligeiramente aspirado).

Dessa forma, os sábios que verteram a Bíblia para o Grego podem ter optado por Booz (Βοός) em vez de Boaz apenas para preservação do acento tônico na última sílaba, uma exigência natural se a intenção era não desvirtuar demais a pronúncia de um nome próprio e fazê-lo ser entendido pelo leitor ou ouvinte grego. Em outras palavras, se a intenção era fazer a história bíblica minimamente inteligível ao grego, os tradutores tinham de resolver a seguinte questão: ou preservavam a grafia BOAZ mas trocavam o acento tônico da última para a penúltima sílaba (ou seja, Bóaz) ou trocavam Boáz para Boós e preservavam a oxítona. O nome Boáz, oxítono, soaria muito estranho ao ouvido grego, mas não Boóz e tampouco Bóaz. O que é mais próximo de Boáz: Bóaz ou Boóz? Eles julgaram que era Boóz. Dessa forma, São Jerônimo, mesmo que estivesse ciente da correta pronúncia hebraica, pode ter optado por Booz por influência da Septuaginta, tendo preferido, sabiamente, manter uma coerência entre a versão latina e a versão grega já estabelecida há séculos.

Os autores maçônicos antigos devem ter sabido disso, pois todos, no mínimo, eram fluentes em Latim, com boas noções de Grego e alguns até de Hebraico, além de, sendo em sua maioria protestantes, terem em mãos a versão protestante da Bíblia, que, ao contrário da Vulgata, trazia Boaz, graças ao gênio de Lutero. Textos não-maçônicos também trazem Boaz, como Historiarum Totius Mundi Epitome, seção 16, de Cluverius Johannes, de 1667.

Conclui-se, assim, que a pronúncia correta é Boaz e que, além disso, Booz é apenas a herança de uma característica fonética do idioma Grego, que herdamos por intermédio da Vulgata. A opção pelo aparente erro fonético se deve à perspicácia dos antigos tradutores, convictos que estavam de tornar esse e outros nomes hebraicos inteligíveis aos ouvidos gregos, sem prejuízo do significado mais profundo das histórias que traduziam.

Rodrigo Peñaloza é Ph.D em Economia pela University of California at Los Angeles (UCLA), M.Sc. em Matemática pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e Ba. em Economia pela UnB. É Prof. Adjunto do Depto de Economia da UnB. MI, filiado à Loja Maçônica Abrigo do Cedro n° 08 GLMDF.

abril 15, 2022

A HUMILDADE E A SOBERBA - Ir.’. Antônio César Dutra Ribeiro OR.'. Vitória-ES


A humildade é a rainha de todas as virtudes e a gratidão é a princesa. Em contrapartida o mais infausto dos vícios é a soberba, superlativo da vaidade. 

A soberba se manifesta através da pretensão, do orgulho, e de uma suposta superioridade. Ela aflora pela altivez, a autoconfiança excessiva, e pela arrogância desmedida. 

É também um vício específico, embora possa ser encontrado em todos os outros vícios, leva o homem a desprezar os iguais e a desobedecer às leis, nada mais é que o desejo distorcido de grandeza em relação às pessoas, aos grupos sociais e religiosos, e às instituições. 

A pessoa soberba não tolera ser contrariada, ela sabe tudo, ninguém faz melhor que ela, e quando aparece alguém disposto a fazer qualquer atribuição ou encargo que lhe faça “sombra” logo se transforma em seu adversário ou quiçá seu inimigo pertinaz. 

E o que é mais grave, para o soberbo “os fins justificam os meios”, ele tem a necessidade de se sentir indispensável e insubstituível, sem ele as coisas não caminham a contento. Caso isso aconteça o soberbo não medirá esforços, por meio de conspiração rasteira, para “eliminar”, desmoralizar, caluniar, injuriar e difamar o intruso que ousar cruzar seu espaço e age de modo inescrupuloso e ardil. 

Na verdade o soberbo se acha no direito de exigir um reconhecimento unânime que, na realidade, na maioria das vezes, não merece ou não tem. A pessoa com esse vício não suportar a dependência, menospreza os sentimentos das pessoas, se colocando sempre acima de todos como um "ser maior".

No trabalho surge a necessidade de aparecer, de ser notado, ignorando os padrões éticos e morais, vendo os outros colaboradores ou colegas com desprezo. Aqueles com tais características que ocupam cargos elevados ou intermediários se utilizam do seu poder para impor suas vontades, manipulando as pessoas com o intuito de conseguirem que tudo seja executado, indubitavelmente, conforme seus desejos. Exigem ainda uma disciplina sem falhas, não respeitando os limites da individualidade. Não percebem que a melhor maneira de incentivar o crescimento não é impondo caprichos, mas fazer com que cada um descubra em si seu melhor potencial, pungindo a independência. Precisa fazer com que o outro se sinta remitido para sentir-se superior. Não encontramos a soberba do poder apenas no meio político ou nos cargos de destaque da administração pública ou privada. 

O poder como a capacidade de fazer com que outras pessoas ajam na dependência de sua vontade, pode ser encontrando em muitos exemplos de situações diárias: 

A dona de casa que humilha a sua empregada doméstica e exige que ela suba, sempre, pelo elevador de serviço; a sociedade que vê com desdém o lixeiro e o gari que varre nossas ruas; o superior hierárquico que sequer cumprimenta seu subalterno; os pais que impõe sua vontade aos filhos tolhendo a livre escolha desses, por vezes escolhendo sua profissão ou com quem devam se casar; o preconceito sobre a condição econômica, a cor da pele, o nível cultural, o credo religioso, etc.. Importante frisar que muitas religiões são por si só soberbas na medida em que pregam a salvação apenas para seus seguidores, todos os demais são infiéis. 

Não querer abrir mão de um poder que durante anos deu sentido e valor à vida do soberbo, pode trazer muito sofrimento.

Ninguém abre mão do poder, ou sequer, de uma parte dele, com facilidade e satisfação. A perda do poder muitas vezes é sentida como sendo algo depreciativo, fere de morte a soberba. Já o antônimo da soberba é a humildade. 

A soberba está muito distante da humildade, característica básica de quem possui algum autoconhecimento. 

A humildade revela inteligência, nobreza de alma e superioridade de espírito, boa formação de caráter e um conceito exato do que é a vida. 

“É a qualidade das pessoas que procuram estar no nível dos outros, ninguém é pior ou melhor do que os outros, todos estamos no mesmo nível de dignidade, de cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade. Humildade é assumir, seus direitos e obrigações, erros e culpas sem resistir, agir diferente disto, é soberba e uma negação da sua origem”. 

Ser humilde é também ser grato. Agradecer sua vida a Deus todos os dias, a comida que você come, os que trabalham para que você possa sobreviver: o agricultor que planta, o cientista que descobre novas técnicas, a costureira que faz sua roupa, os prestadores de serviços: água, luz, telefone, cabeleireiro, médico, advogado, dentista, etc., etc.. Só os humildes são capazes de agradecer, os soberbos pensam que tudo não passa de obrigação que todos lhes devem. Parafraseando o polêmico jornalista esportivo Jorge Kajuru: “Quem não tem gratidão não tem caráter”. 

“Não há nada que demonstre tão bem a grandeza e a potência do intelecto humano, nem a superioridade e a nobreza do homem, como o fato de ele poder conhecer, compreender por completo e sentir fortemente a sua exiguidade”. (Giacomo Leopardi).

abril 14, 2022

APATHEIA - EQUANIMIDADE DOS MESTRES ZEN


Apatheia é um estado de espírito alcançado quando um ser está livre de perturbações emocionais, livre de oscilações. É melhor traduzido como equanimidade ao invés de indiferença. 

Por que se preocupar em demasia com a morte se ela é inevitável? Eu devo responder diminuindo minha paixão diante da busca do prazer ou diante do terror, da tragédia, então devo ter uma relativa indiferença, usa-se o termo Apatheia em grego, uma indiferença à essas oscilações, pois entende-se as leis cósmicas e os ciclos inexoráveis.

No Hermetismo, podemos correlacionar a supracitada Apatheia com a Lei do Ritmo, pois a medida do pêndulo à direta, trará a compensação à esquerda posteriormente, então o ideal é se manter no fiel da balança, no alto centro da serenidade. 

Se eu ficar eufórico, muito alegre porque o sol está brilhando, então se estiver chovendo fico triste. Se me cumprimentaram e fui bem tratado fico feliz, se não me cumprimentaram ou me trataram mal, fico triste, etc, etc. Se eu ficar oscilando, não terei uma vida virtuosa, satisfeita e feliz. Por isso que devo optar por enfrentar essa dor com uma relativa Apatheia, indiferença. Mestres Zen agem assim, com equanimidade, sem oscilações, pois estão no fiel da balança, fora do desce e sobe da gangorra oscilatória da atração (desejo) e aversão.

As pessoas felizes seriam aquelas que entendem que as oscilações são naturais e elas não ficarão em estado de euforia, de depressão, tristeza.  Euforia e tristeza, assim como paixão e ódio são da mesma natureza, mas em gradientes diferentes, são os extremos da mesma natureza. Amor incondicional e alegria estão no fiel da balança e não são suscetíveis à oscilações, o amor e a alegria expandem, são serenos.

As pessoas que atingiram essa iluminação  são aquelas que conceberam que é possível viver uma vida tranquila sem grandes oscilações de paixões. Buscar a satisfação da vida em adquirir coisas ou ter prazeres, irá levar a um caminho permanente de infelicidade. Os seres humanos confundem e tratam o que é meio como um fim por si só, como as finanças, prazeres sensoriais, status, auto-imagem. Os Budistas são muito claros no fato que se eu fico desejando incessantemente e se eu consigo A, então quero B, depois C e sempre mais e mais e nunca irei atingir a satisfação, a plenitude. O prazer é diferente da satisfação, pois o prazer é efêmero e superficial, passa logo, mas a satisfação é permanente profunda. 

Os Budistas recomendam então que eu consiga esse afastamento do desejo e perceba que o meu ego lançou uma armadilha de sempre querer mais. O problema não é o desejo em si, mas do objeto de desejo não conseguir sustentar a felicidade e a satisfação. O desejo nas coisas mundanas é saudável se não ocupar muito espaço interno e tempo, se for virtuoso e houver um equilíbrio. Muitas vezes o desejo é desequilibrado pois é impulsionado pela ignorância e pelo egoísmo, pois eu gero a expectativa que aquilo me fará feliz, o objeto, pessoas, algo qualquer, de forma intrínseca, autônoma.




O único desejo virtuoso, elevado, que traz satisfação e felicidade, que quanto mais eu tiver, melhor estarei é o desejo por atingir um estado de iluminação, ou seja, extinguir seus venenos mentais e desenvolver suas qualidades ao máximo potencial. As pessoas estáveis, satisfeitas, felizes são aquelas que pararam de buscar no mundo externo a opinião dos outros, no êxito material ou não essa questão.

É muito importante não se influenciar nem se importar com o elogio nem as críticas (destrutivas) das pessoas, pois se importar é um joguete do ego. A grande parcela da população encontra-se na bruma, no nevoeiro de seus venenos mentais; ignorância, egoísmo, raiva, inveja, ciúmes, ganância, etc, e não possuem uma clareza maior sobre o que são, sentem, pensam e falam. É essencial focar no caminho da evolução, da auto-iluminação para o benefício próprio e consequentemente dos outros. 

As situações difíceis, pessoas com comportamentos difíceis são como espelhos, são como mestres que mostram nossos venenos mentais mais escondidos e nos gera a valiosa oportunidade de aplicar o poder do antídoto para a transmutação alquímica interna.

Ninguém me pode fazer feliz; ninguém me pode fazer infeliz; exceto eu. Eu sou autor da minha felicidade ou infelicidade. O amor, o bem-estar, a satisfação vem de dentro para fora, não o inverso.

Não é o que alguém tem ou o que alguém não tem que o torna feliz, mas sim o modo como ele sabe ter e o modo como ele sabe não ter, isso é muito mais importante do que o ter ou não ter.

Nunca ei de depender a minha felicidade em algo que não dependa de mim, porque se minha felicidade depende de algo e esse algo não depende de mim ou depende de uma circunstância, logo eu não posso fazer consistir a minha felicidade.

A ACLAMAÇÃO HUZZÉ, HUZZÉ, HUZZÉ! - Ir.’. Valdemar Sansão



Existem momentos fortemente marcantes na Iniciação e nas sessões maçônicas normais. Um deles é a aclamação: "Huzzé, Huzzé, Huzzé", firmemente pronunciada e três vezes repetida. 

Aclamação e não exclamação de alegria entre os Maçons, usual no R.E.A.A., cuja origem é considerada obscura. 

Aclamar = aplaudir, aprovar bradando, saudar, proclamar, ovacionar. 

Exclamar  =  bradar, gritar. 

Pesquisas feitas a esse respeito pelo historiador Albert Lantoine, declara em 1815: "Acrescenta-se a triplice aclamação Huzzé que deve ser escrita Huzza, palavra inglesa que significa Viva o Rei e substitui o Vivat dos latinos".

Aclamada por três vezes, Huzza! (pronunciar huzzé). Eis a causa da diferença entre a ortografia e a pronúncia: é empregada em sinal de alegria. Citando o mesmo Albert Lantoine, a palavra Huzza (Huzzé!) é simplesmente sinônimo de Hurrah!, aclamação muito conhecida dos antigos torcedores das partidas de futebol, com o Hip! Hip! Hurra!...

Existe mesmo na língua inglesa o verbo “to huzza”, que significa aclamar. A bateria de alegria era sempre feita em honra a um acontecimento feliz para uma Loja ou para um Irmão. Era natural que os Maçons escoceses usassem esta aclamação. 

O dicionário "Michaelis" diz: huzza, interj. (de alegria) – v. gritar hurra, aclamar. Traduzindo corretamente do árabe "Huzzah" (Viva), significa Força e Vigor.

Huzzé era também o nome dado a uma espécie de Acácia consagrada ao Sol, como símbolo da imortalidade. 

"Huzzé, Huzzé, Huzzé" por constituir uma aclamação, é pronunciada com voz forte. Ela é feita apenas por duas vezes em cada reunião, por ocasião da abertura e do encerramento. Alivia tensões que eventualmente possam ter surgido entre os Irmãos.

Trazemos às Sessões as preocupações de ordem material que podem criar correntes vibratórias que põem obstáculos e restringem nossas percepções. 

Ao contrário, no decorrer dos trabalhos, o esforço constante para o bem e o belo, forma correntes que estabelecem as relações com os planos superiores. 

Nesse sentido, a aclamação na abertura do trabalho oferece passagem à energia habilitando-nos a benefícios (saúde, força e vigor) bem mais consistentes e duradouros. 

O importante é que, ao iniciar a Sessão, tenhamos presente que, em Loja, tudo, verdadeiramente tudo, tem uma razão para sua existência. Nada, absolutamente nada, se faz no interior de um Templo por acaso.

Ao se aproximar do objeto mais sagrado, existente no Templo Maçônico – o Livro da Lei -, os maçons lembram pelo nome de Huzzé, expressando com essa aclamação alegria e contentamento, por crerem que o Grande Arquiteto do Universo se faz presente a cada sessão de nossos trabalhos.

E é a ELE que os Maçons rendem graças pelos benefícios advindos de Sua infinita bondade e de Sua presença que, iluminando e espargindo bênçãos em todos aqueles que ali vão imbuídos do Espírito Fraterno, intencionados a praticar a Tolerância, subjugar as suas Intransigências, combater a Vaidade e, crentes que assim procedendo, estarão caminhando rumo a evolução espiritual do Homem, meta do maçom.

A Maçonaria é uma Obra de Luz; a prática da saudação está arraigada nos ensinamentos maçônicos. A consideração da saudação Huzzé na abertura dos trabalhos está relacionada ao meio-dia, hora de grande esplendor de iluminação, quando o sol a pino subentende que não há sombra, tornando-se um momento de extrema igualdade – ninguém faz sombra a ninguém. 

Lembra também as benesses da Sabedoria, representada pelo nascer do sol, cujos raios vivificantes espalham luz e calor, ou seja, a Sabedoria e seus efeitos. 

Quando do encerramento dos trabalhos, a saudação está relacionada à meia-noite, nos dando o alento de que um novo dia irá raiar, pois quanto mais escura é a madrugada, mais próximo está o nascer de um novo dia. 

A aclamação ao sol no seu ocaso, lembra que a Luz da Sabedoria irradiou os trabalhos, agora prestes a terminar, em alusão ao fim da nossa vida (meia-noite) quando devemos estar certos de que nossa passagem pelo plano terrreno fora pautada por atos de Sabedoria.

No Rito Moderno a aclamação é "Igualdade, Liberdade e Fraternidade"; no Adonhiramita é "Vivat, Vivat, Vivat"; no Brasileiro "Glória, Glória, Glória!" E nos ritos de York (Emulation) e Schroeder não existe aclamação.

Huzzé! é, pois, a reiteração que os Irmãos fazem de sua fé no Grande Criador, que tudo pode e tudo governa. E só através DELE encontram o caminho para a ascensão.

A primeira reflexão, portanto, em torno da aclamação sugere que analisemos nossa vida e verifiquemos se sustentamos os propósitos de paz ou espalhamos a agitação.

O Mahatma Gandhi dizia que alguém capaz de realizar a plenitude do amor neutralizará o ódio de milhões. Certamente estamos distanciados de suas realizações. Não obstante, podemos promover a paz evitando que ressentimentos e mágoas fermentem no coração dos que conosco congregam e se transformem nesse sentimento desajustante que é o ódio.

Certa feita o Obreiro de uma Loja queixava-se do Mestre de Cerimônias ao Venerável por sempre lhe oferecer, na falta dos titulares, os cargos que, segundo ele, eram de mais difícil desempenho ou de menor evidência. O Venerável, um semeador da paz o desarmou.

- Está enganado, meu Irmão, quanto ao nosso Mestre de Cerimônias. Ele o admira muito, sabe que é eficiente e digno de confiança. Por isso o tem encaminhado para desempenho das funções e encargos onde há problemas, consciente de que sabe desempenhá-los e resolvê-los melhor que qualquer outro Obreiro do quadro da Loja.

Desnecessário dizer que com sua intervenção pacificou o Irmão que passou a ver com simpatia as iniciativas a seu respeito. Desarmou, assim, o possível desafeto passando a ideia de que o Mestre de Cerimônias não tinha a mesma opinião a seu respeito, fazendo prevalecer a sugestão de Francisco de Assis: "Onde houver ódio que eu semeie o Amor".

Existem aqueles que entendem huzzé como força poderosa, ou seja, um mantra, que deve ser com a consciência de quem a emprega direcionada no sentido do bem. Seria essa a razão e significação da palavra Huzzé como proposta na ritualística maçônica?

Devemos acrescer, ainda, que Cristo, em várias oportunidades, saudava os Apóstolos com um "Adonai Ze" (O Senhor esteja entre vós). Essa aclamação os deixava mais alegres e confiantes, formando uma corrente de otimismo. 

Na Idade Média quando um católico se encontrava com outro, dizia: DOMINUS VOBISCUM (O Senhor esteja convosco); PAX TECUM (A paz esteja contigo). 

Até pelo exemplo citado, façamos tudo ao nosso alcance para que reine em nossa Loja uma atmosfera de carinho, afeição, tranquilidade, paz, amor e harmonia para nossa constante elevação e glória do Grande Arquiteto do Universo. 

O emprego da aclamação Huzzé na Maçonaria tem também o sentido esotérico, numa indução moral a que se busque o prazer no que se pratica, para o bem da humanidade (isto no começo) e, no final, a mesma alegria pelo bem praticado, não sem também invocar particularmente o duplo sentido do "Ele é ou ele está..." (com todos, evidentemente).

O importante é que, no momento exato, gritemos de alegria sempre que pudermos estar reunidos em Templo e rendermos graças por estarmos juntos mais uma vez!

Huzzé, Huzzé, Huzzé!

PALESTRA NA ARLS IMPETRATIZ 77 EM SP




A convite de um dos mais importantes autores maçônicos do país, Ir. Amilcar Alabarce Mathias encerrei nesta quarta-feira, 13 de abril, a minha programação paulistana de abril com uma palestra na ARLS Imperatriz 77 que funciona no complexo da GLESP.

Mathias me preveniu - uma Loja pequena, - disse - mas como as joias é uma Loja preciosa.

Dois aprendizes apresentaram trabalhos magníficos e a minha palestra sobre a Cabalá da Felicidade despertou tamanho interesse que a sessão durou quase 3 horas, sem que ninguém tenha se cansado.

Concluí o trabalho de arrecadação da doação de rações que empreendi nesta semana. Ótimo jantar depois no restaurante Pedra Bruta da GLESP.

abril 13, 2022

O TEMPLO MAÇÔNICO - Ir. Paulo Edgar Melo


No Templo estão representados os quatro pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste).

O Leste corresponde toda a área do Oriente. O Norte, localizado a esquerdo de quem entra no Templo; do lado oposto, separado pela linha imaginária do Equador, encontra-se o Sul.           

O Ocidente é a localização da Loja oposta ao Oriente (Oeste). Situa-se na entrada do Templo e, cuja entrada, se erguem as duas Colunas solsticiais, à imitação dos Templos do antigo Egito.

Os Templos Maçônicos têm a forma de um quadrilongo, cujo comprimento é, simbolicamente, do Oriente ao Ocidente, indo em direção da Luz e da Sabedoria que se encontra no Oriente

O Oriente representa, simbolicamente, o aspecto do mundo de onde nos vem, nasce e emana Luz: onde, na realidade, aparece e brilha o Sol, pelo seu próprio resplendor, esclarecendo e fazendo desaparecer as sombras da noite.

O Ocidente é o lado ou aspecto do mundo onde o Sol se põe, onde a Luz que o ilumina declina, se oculta e se torna invisível, embora faça entrever sua presença, no último clarão do ocaso, antes de deixar o mundo submergido nas sombras escuras da noite: é, portanto, uma imagem muito expressiva do mundo sensível, da realidade visível que constitui o aspecto material, fenomênico ou objetivo do Universo, no qual a Verdadeira Luz que o ilumina, a Essência ou Realidade invisível que o sustêm se tenha ocultado aparentemente.

Partindo do Ocidente, ou do conhecimento objetivo da realidade exterior, o homem se encaminha pela fria escuridão do setentrião, em busca daquela realidade que constitui a essência mais permanente e profunda do Universo, e que não pode encontrar-se a não ser caminhando para o Oriente, desde os efeitos e as causas, desde os fenômenos às essências, leis e princípios que os regem.

Em função da importância esotérica do Oriente, só é permitido o acesso nele de Mestres Maçons, por uma clara razão iniciática: ali, simbolicamente, é o fim da escalada evolutiva, quando o Obreiro atinge a sua plenitude no caminho da Luz, que vem do Oriente, do Leste, do nascente. Como iniciado, ele penetra pelo Ocidente, Oeste, poente, onde reinam as trevas; como Aprendiz, ele fica ao Norte (ou ao Sul em alguns Ritos), onde já há mais luz do no Ocidente. Como Companheiro, ele fica ao Sul, mais próximo do equador e mais luminoso, portanto, como Mestre ele chega à plenitude da Luz.

“Os símbolos da Maçonaria encerram verdades profundas, segredos maravilhosos, ensinamentos que só devem ser conhecidos pela Iniciação sistemática e progressiva, única e verdadeira escola perfeita de sabedoria. Destruí-los, seria, perder, irremediavelmente, as chaves do Templo do Grande Arquiteto do Universo”.

ORDO AB CHAO - Ir.’. Mario Guanaes Simões Filho



Ir.’. Mario Guanaes Simões Filho, da ARLS Liberdade, Dever e Poder, Nº 631 (GLESP)

"No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz”. (Gênesis, 1:1-3).

Como poderia ser? As sombras não partem da luz. O fogo não parte da água. Como pode algo surgir ou ser criado a partir de seu oposto? Ora, os opostos se atraem e se cancelam mutuamente. Então, não. A Ordem não pode vir através do Caos. A não ser por um milagre… 

A Terra estava sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo. A primeira parte da criação já havia sido realizada: a criação do universo. No entanto, em se tratando da história da raça humana, esse livro, como muitos de outras tantas religiões, começa a partir da criação da vida neste mundo. A Terra estava sem forma.

Ou seja, o plano material não tinha organização, não estava submetido às Leis Cósmicas. As trevas podem significar tanto a ausência do Astro que permitiu a vida nesse planeta como as trevas da ignorância que nos separavam da existência do Divino.

O Espírito de Deus pairava sobre os Oceanos do Não Manifesto, a não matéria dos metafísicos, o Potencial Criador, a argila de Deus. Então, Ele lança Sua Luz no mundo e começa Seu trabalho: arquitetar e construir o Templo de Sua Criação.

Organizando o Não Manifesto, que é o Caos por essência, Ele cria as primeiras partículas que darão origem a átomos, dispersos, desconexos. Átomos que formarão moléculas, substâncias, matéria. Moléculas que formarão células, tecidos, órgãos, organismos. Vontade e verbo, que formarão almas, que encarnarão espíritos nos corpos.

Então, sim, O Grande Criador é capaz de conseguir a Ordem a partir do Caos.

No entanto estamos falando de um lema criado por homens para uma associação de homens. A que ela remeteria? A um objetivo inalcançável? À blasfêmia de equiparar-se a Deus? Certamente, não.

Os novos conceitos da Química, da Matemática e da Física dizem que “tudo tende para o Caos”. Por mais desencorajadora, aterradora e cruel pareça essa sentença, ela é um fato nas equações, nos laboratórios, na natureza, na vida. Tarefa ainda mais difícil, então a de cumprir com o lema.

O trabalho de um dia seria desfeito segundos, horas, meses ou séculos depois.

Nos Templos, o M.’. de Cer.’. nomeia os cargos da L.’., dando a cada Obr.’. sua alfaia, como que se fazendo valer do Verbo ao ordenar cada planeta em sua órbita, cada átomo em sua posição na molécula. Ele nomeia um a um para que a Loja  esteja composta, aguardando as ordens para iniciar mais um dia, como no primeiro dia em que Deus fez Luz.

Se o Templo é a representação deste Plano, se cada Sessão é a representação da Vida a cada dia, então façamos valer a vontade que o Criador nos delegou de fazer prevalecer a Ordem sobre o Caos. Deus nos fez à Sua imagem e semelhança, como parte de Si, como deuses que somos. Então, podemos também impor nossa vontade sobre o Caos e criar Ordem.

Em sua infinita sabedoria, ele fez com que sua criação definhasse constantemente para o Caos para que nós, seus fiéis arquitetos, nos mantivéssemos em constante alerta, tendo sempre algo a aprimorar e regenerar.

Não fosse pela degeneração das moléculas que compõem o DNA de uma célula, pela desestruturação “espontânea” de seus átomos, não procuraríamos a cura para o câncer. Não fosse pelo constante retroceder na evolução humana, pela ganância, vaidade, fanatismo, não praticaríamos a caridade, a modéstia e a tolerância. Não fosse pelas constantes tentações de nos desvirtuarmos do que é correto, não seríamos chamados dia a dia a desbastar as asperezas e polir a Pedra Bruta.

Ordem a partir do Caos significa, em última análise, Evolução. Seria muito fácil encarnarmos com todas as qualidades e virtudes e fazer um esforço mínimo para mante-las. Jamais evoluiríamos, jamais nos tornaríamos de novo Um com o Indivisível.

Ao contrário, devemos buscar nos nossos defeitos os motivos para fazer brilhar a Luz. Como a lótus que nasce da podridão dos pântanos, ergamos das masmorras de nossos vícios os templos às nossas virtudes, sempre vigilantes ao Caos que nos rodeia. Façamos valer o aprimoramento constante frente a inexorável degeneração do todo.

Fiat voluntas Dei: Ordo ab Chao._

PALESTRA NA ARLS ALPHA CRUCIS 593 EM SP

 







Realizei palestra na noite de ontem na ARLS Alpha Crucis 593 da GLESP em São Paulo. Agradeço ao irmão Rafael Moyano pelo convite e ao VM Abilio Augusto Martins pela bela condução da sessão. Também obtivemos a doação de ração para animais abandonados. A sessão de perguntas foi mais demorada do que a palestra, tal foi o interesse dos irmãos.

PALESTRA NA ARLS ALPHA CRUCIS 593 EM SP



Realizei palestra neste dia 12 de abril na ARLS Alpha Crucis 593 da GLESP em São Paulo.

Agradeço ao irmão Rafael Moyano pelo convite e ao VM Abilio Augusto Martins pela bela condução da sessão.

Também obtivemos a doação de valores para a aquisição de ração para os animais abandonados em Petrópolis após a tragédia da enchentes.

A sessão de perguntas foi mais demorada do que a palestra, tal foi o interesse dos irmãos.

abril 12, 2022

V.I.T.R.I.O.L. - Ir. José Carlos Carvalho, MI



VITRIOL às vezes pode parecer uma palavra, mas é uma sigla composta pelas iniciais da expressão “Visita Interiora Terrae, e, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”, cuja tradução é “VISITA O INTERIOR DA TERRA E, RETIFICANDO, ENCONTRARÁS A PEDRA OCULTA”.

O que vemos aí é um convite. Visita o interior da terra… Aliás, o ingresso na maçonaria é assim como um convite para que nós, no silêncio e na meditação, possamos pesquisar nossa própria alma em todos os detalhes a fim de encontrarmos o nosso próprio EU, o mais profundo do ser, o homem verdadeiro que habita no corpo material.

Este EU interior, o homem verdadeiro, é a pedra oculta cujo conhecimento todos nós temos necessidade. Ela está no interior da terra, ou seja, dentro de nós mesmos, no mais íntimo de nosso ser e para encontrá-la devemos agir retificando os nossos pensamentos, os nossos costumes, nossos vícios e a nossa moral.

Mas temos aqui um assunto esotérico. Já ouvimos que a maçonaria é esotérica, etc e tal. O que vem a ser esse esoterismo, o que ele nos ensina, o que ele busca? Vamos abrir um parêntesis para falar sobre esoterismo.

Vamos dizer que esoterismo significa um conjunto de tradições e de interpretações filosóficas das doutrinas e das religiões, que buscam desvendar seu sentido oculto, seus mistérios.

O esoterismo é um termo para as doutrinas cujos princípios e conhecimentos não podem ou não devem ser vulgarizados, ficando restrito a um pequeno número de pessoas escolhidas. Não vulgarizado pela sublimidade do estudo. E para pequeno número de pessoas porque são poucas as pessoas com, vamos dizer, aptidão para isso.

Helena Blavatsky, uma mística russa, criadora da moderna Teosofia, nos ensina que o termo esotérico refere-se ao que está DENTRO, no interior, designando o significado verdadeiro da doutrina estudada, significando a sua essência. Isto em oposição ao que está FORA, que é conhecido como exotérico, que é a vestimenta da doutrina, a sua decoração. Para Blavatsky, todas as religiões e filosofias mantêm concordância em sua essência (esotérico), mas divergem na vestimenta (exotérico).

Hoje em dia o termo esotérico é mais ligado ao misticismo, na busca de supostas verdades e leis que regem todo o universo. Seria assim, então, uma mistura de ciência com religião.

O significado da sigla VITRIOL é: “Explore o interior de si mesmo e, transformando, descubra seu tesouro oculto”. Para os iniciados, esse tesouro oculto vem a ser a sabedoria, a intuição, o processo místico que nos aproxima de Deus.

Nós temos aqui um convite para a busca do EGO profundo, e isto no silêncio da meditação. Como essa frase se acha na Câmara de Reflexões, desde nossa iniciação estamos sendo convidados. Desde lá já está sendo apresentada essa proposta de nossa introspecção. De buscarmos e descobrirmos o nosso próprio EU.

Em VITRIOL nós temos uma fórmula iniciática, que sintetiza a doutrina alquimista, com o sentido de transformação.

Já sabemos que alquimia é a arte da transmutação, da transmutação dos metais para a obtenção de ouro. Mas, nós não estamos aqui em busca de ouro. Trata-se de uma operação simbólica. Até cabe aqui a palavra ouro, uma vez que buscamos o que seja mais valioso. Mas não valioso em termos materiais, e sim em termos espirituais. A transmutação real é a da individualidade humana. Podemos então dizer que existem duas alquimias: a interior (espiritual) e a exterior (material). Temos assim a confirmação da ideia de Helena Blavatsky.

A sabedoria chinesa nos chama a atenção para a distinção entre a alquimia interior e a exterior. Nesse contexto é ensinado que a externa é a representação da interna. Isto quer dizer que toda transformação interior se manifesta no mundo exterior. P. ex. percebemos que existem pessoas que transmitem mais confiança. Vamos dizer que seriam mais “simpáticas”, que outras. Isso é demonstrado externamente: quer no semblante, num olhar confiável, num sorriso amigo. São p.ex., pessoas que não precisam mostrar RG nem CPF ou certidão negativa para demonstrarem que são honestas. Isto não é fantástico? Pois é, são pessoas que já visitaram o seu próprio interior e retificaram o rumo de suas vidas.

José Martins Jurado, nos ensina que VITRIOL “quer dizer, desce às profundezas da terra; e, sob a superfície da aparência exterior, que oculta a realidade interior das coisas e a revela, retificando teu ponto de vista e tua visão mental com o esquadro da razão e do discernimento espiritual, encontrarás a pedra oculta que constitui o segredo dos sábios, isto é, a própria sabedoria.” (Maç.’. Adonhiramita – Apontamentos, pág. 204).

Concluímos que estão abertas as portas para o aprofundamento necessário e assim chegarmos a ser aquele homem grande que a maçonaria tanto espera de todos nós. Ela está nos passando a ferramenta para trabalharmos em cima disso. Depende única e exclusivamente de cada um.

MAÇONARIA : UMA HISTÓRIA SEM MISTÉRIO




Organizações de ofício, as precursoras

Desde que o homem deixou as cavernas e as suas vivendas de nômade, sedentarizando-se e formando uma sociedade estratificada, surgiram os profissionais dedicados à arte da construção, os quais foram se aperfeiçoando, não só na ereção de casas de residência, mas, também, na de templos, de obras públicas e obras de arte. Embora tivessem, esses profissionais, desde os seus primeiros tempos, mantido, entre si, certa camaradagem e um sentimento de agregação, não havia, na realidade, uma organização que os reunisse, que regulasse a sua atividade e que lhes desse um maior sentido de responsabilidade profissional.

Foi no Império Romano do Ocidente, da Roma conquistadora, que, em função da própria atividade bélica, surgiu, no século VI a.C., a primeira associação organizada de construtores, os Collegia Fabrorum. Como a conquista das vastas regiões da Europa, da Ásia e do norte da África, levava à destruição, os collegiati acompanhavam as legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo destruído pela guerra. Dotada de forte caráter religioso, essa organização dava, ao trabalho, o cunho sagrado de um culto às divindades. De início politeísta, tornou-se, com a expansão do cristianismo, monoteista, entrando, porém, em decadência, após a queda do Império Romano do Ocidente, ocorrida em 476 d.C., embora persistissem pequenos grupos da associação no Império Romano do Oriente, cujo centro era Constantinopla.

Na Idade Média é que iria florescer, através do grande poder da época, a Igreja, a hoje chamada Maçonaria Operativa, ou Maçonaria de Ofício, para a preservação da Arte Real entre os mestres construtores da Europa. Assim, a partir do século VI, as Associações Monásticas, formadas, principalmente, por clérigos, dominavam o segredo da arte de construir, que ficou restrita aos conventos, já que, naquela época de barbárie, quando a Europa estava em ruínas, graças às sucessivas invasões dos bárbaros, e quando as guerras, os roubos e os saques eram freqüentes e até encarados como fatos normais, os artistas e arquitetos encontraram refúgio seguro nos conventos. Posteriormente, pela necessidade de expansão, os frades construtores começaram a preparar e a adestrar leigos, proporcionando, a partir do século X, a organização das Confrarias Leigas, que, embora formadas por leigos, recebiam forte influência do clero, do qual haviam aprendido a arte de construir e o cunho religioso dado ao trabalho. 

É dessa época aquela que é considerada a primeira reunião organizada de operários construtores: a Convenção de York, ocorrida em 926 e convocada por Edwin, filho do rei Athelstan, para reparar os prejuízos que as associações haviam tido com as sucessivas guerras e invasões. Nela foi apresentada, para apreciação e aprovação, um estatuto, que, dali em diante, deveria servir como lei suprema da confraria e que é, geralmente, chamado de Carta de York. 

Quase na mesma época, surgiriam associações simplesmente religiosas, que, a partir do século XII, formaram corpos profissionais: as Guildas. A elas se deve o primeiro documento em que é mencionada a palavra “Loja”, para designar uma corporação e o seu local de trabalho. As Guildas e sua contemporânea, a organização dos Ofícios Francos, foram as principais precursoras da moderna Maçonaria. O seu nome “Gild, de origem teutônica, deriva do título dado, na antiga região da Escandinávia, a um ágape religioso, durante o qual, numa cerimônia especial, eram despejados três copos de chifre (chavelhos), conforme o uso da época, cheios de cerveja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelos antigos heróis, e o último em homenagem aos parentes e em memória dos amigos mortos; ao final da cerimônia, todos os participantes juravam defender uns aos outros, como irmãos, socorrendo-se mutuamente nos momentos difíceis. As Guildas caracterizavam-se por três finalidades principais: auxílio mútuo, reuniões em banquetes e atuação por reformas políticas e sociais. Introduzidas na Inglaterra, por reis saxões, elas foram modificadas por influência do cristianismo, mas, mesmo assim, não eram bem aceitas pela Igreja, que não via com bons olhos a prática do banquete, por suas origens pagãs, e a pretensão de reformas políticas e sociais, que pudessem, eventualmente, contribuir para diminuir os seus privilégios e os privilégios das corporações sob a sua proteção. Assim, para evitar a hostilidade da Igreja, cada guilda era organizada sob a égide de um monarca, ou sob o nome de um santo protetor.

No século XII, associada às guildas, surgia uma organização de operários alemães, os Steinmetzen, ou seja, canteiros, que, sob a direção de Erwin de Steinbach, alcançariam notoriedade, quando este conseguiu a aprovação de seus planos para a construção da catedral de Estrasburgo e deu um aperfeiçoado sentido de organização aos seus obreiros. Canteiro é o operário que trabalha em cantaria, que esquadreja e trabalha na escultura da pedra bruta; cantaria (palavra derivada de canto) designa a pedra lavrada para as construções. 

Surgem os ofícios francos, ou franco-maçonaria

No século XII, também, iria florescer a associação considerada a mais importante desse período operativo: os Ofícios Francos (ou Franco-Maçonaria), formados por artesãos privilegiados, com liberdade de locomoção e isentos das obrigações e impostos reais, feudais e eclesiásticos. Tratava-se, portanto, de uma organização de construtores categorizados, diferentes dos operários servos, que ficavam presos a uma mesma região, a um mesmo feudo, à disposição de seus amos. Na Idade Média, a palavra franco designava não só o que era livre, em oposição ao que era servil, mas, também, todos os indivíduos e todos os bens que escapavam às servidões e aos direitos senhoriais; esses artesãos privilegiados eram, então, os pedreiros-livres, franc-maçons, para os franceses, ou free-masons, para os ingleses. Tais obreiros, evidentemente, tinham esses privilégios concedidos pela Igreja, que era o maior poder político da época, com grande ascendência sobre os governantes. 

A palavra francesa “maçon”, correspondente a pedreiro, converteu-se em “maison” (casa) e, também, embora só relativamente, em “masse” (maça, clava). Essa maça, ou clava, habilitava o porteiro a afastar os indesejáveis intrusos e curiosos. O pesquisador alemão Lessing, um dos clássicos da literatura alemã, atribui a palavra inglesa “masonry” (maçonaria) a uma transmissão incorreta. Originalmente, a idéia teria sido dada pelo velho termo inglês “mase” (missa, reunião à mesa). Uma tal sociedade de mesa, ou reunião de comensais, de acordo com a alegoria da Távola Redonda, do rei Arthur, poderia, segundo Lessing, ainda ser encontrada em Londres, no século XVII. Ela se reunia nas proximidades da famosa catedral de São Paulo e, quando sir Christopher Wren, o construtor da catedral, tornou-se membro desse círculo, julgou-se que se tratava de uma cabana dos construtores, que estabelecia uma ligação de mestres construtores e obreiros; daí, então, ou seja, dessa suposição errada, é que teria se originado o termo “masonry”, para designar a sociedade dos construtores. 

Uma explicação para o termo inglês “freemason” (pedreiro livre) está ligada ao termo “freestone”, que é a pedra de cantaria, ou seja, a pedra própria para ser esquadrejada, para que nela sejam feitos cantos, que a transformem numa pedra cúbica, a ser usada nas construções. As expressões “freestone mason” e “freestone masonry”, daí surgidas, acabaram sendo simplificadas para “freemason” (o obreiro) e “freemasonry” (a atividade). Esta é uma hipótese mais plausível do que a de Lessing, que só considerou o caso particular da Inglaterra, quando se sabe que não foi só aí que existiu uma íntima ligação com o trabalho dos artífices da construção. 

Nessa fase primitiva, porém, antes de, propriamente, se ter iniciado a formação de Lojas, quase que não se pode falar em Maçonaria no sentido que ela adquiriu na fase moderna, pois, sobretudo, naquele tempo não podia ser considerada como uma sociedade secreta. O segredo não era, a princípio, mais do que o processo pelo qual um dos membros da irmandade reconhecia o outro. Diga-se a bem da verdade, que, na época atual, a Maçonaria já não pode mais ser considerada secreta, mas apenas discreta. Os segredos mais guardados e que persistem são, obviamente, apenas os meios de reconhecimento, reservados só aos iniciados, já que, de posse deles, um não iniciado poderia ter acesso aos templos maçônicos e às sessões das Lojas. 

É criado o importante estilo gótico

Na metade do século XII, surgia o estilo arquitetônico gótico, ou germânico, primeiro no norte da França, espalhando-se, depois, pela Inglaterra, Alemanha e outras regiões do norte da Europa e tendo o seu apogeu na Alemanha, durante 300 anos. Tão importante foi o estilo gótico para as confrarias de construtores, que as suas regras básicas eram ensinadas nas oficinas dos canteiros, ou talhadores de pedra; tão importante que a sua decadência, no século XVI, decretou o declínio das corporações. 

No século XIII, em 1220, era fundada, na Inglaterra, durante o reinado de Henrique III, uma corporação dos pedreiros de Londres, que tomou o título de The Hole Craft and Fellowship of Masons (Santa Arte e Associação dos Pedreiros) e que, segundo alguns autores, seria o germe da moderna Maçonaria. Pouco depois, em 1275, ocorria a Convenção de Estrasburgo, convocada pelo mestre dos canteiros e da catedral de Estrasburgo, Erwin de Steinbach, para terminar as obras do templo. A construção da catedral, iniciada em 1015, estava praticamente terminada, quando foi resolvido ampliar o projeto original e, para isso, foi chamado Erwin A essa convenção acorreram os mais famosos arquitetos da Inglaterra, da Alemanha e da Itália, que criaram uma Loja, para as assembléias e discussão sobre o andamento dos trabalhos, elegendo Erwin como Mestre de Cátedra (Meister von sthul). 

Esclareça-se que, na época, os obreiros criavam uma Loja, fundamentalmente, para tratar de determinada construção, como é o caso dessa catedral. Tais Lojas serviam para tratar dos assuntos ligados apenas à construção prevista, já que, para outras reuniões, inclusive com obreiros de outras corporações, eram utilizados os recintos de tabernas e hospedarias, principalmente em solo inglês. A palavra Loja, por sinal, foi mencionada pela primeira vez em 1292, em documento de uma guilda . Loja, do germânico leubja (pronúncia: lóibja), através do francês lodge, designava o lar, a casa, o abrigo, o pátio, o alpendre e, também, a entrada de edifício, ou galeria usada para exposições artísticas e venda de produtos artesanais. As guildas de mercadores assim designavam seus locais de depósito e venda de produtos manufaturados, enquanto que as guildas artesanais adotaram o termo para designar o seu local de trabalho, ou seja, as oficinas dos artífices. 

Próximo desse tempo, ou seja, no século XIV, começava, também, a atuação do Compagnonnage (Companheirismo), criado pelos cavaleiros templários . Os membros dessa organização construíram, no Oriente Médio, formidáveis cidadelas, adquirindo certo número de métodos de trabalho herdados da Antigüidade e constituindo, durante as Cruzadas, verdadeiras oficinas itinerantes, para a construção de obras de defesa militar, pontes e santuários. Retornando à Europa, eles tiveram a oportunidade de exercer o seu ofício, construindo catedrais, igrejas, obras públicas e monumentos civis. A Ordem da Milícia do Templo, ou Ordem dos Templários, foi uma ordem religiosa e militar, criada em 1118, com estatutos feitos pelo abade de Clairvaux (São Bernardo). Adquirindo prestígio e riqueza, a ordem excitaria a cobiça do rei francês Filipe IV, cognominado “o Belo”, que, com a conivência do papa Clemente V, conseguiu a sua extinção, em 1312, seguida da execução, na fogueira, de seu Grão-Mestre, Jacques de Molay, em 1314. Antes da extinção, necessitando, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos, os templários organizaram o Compagnonnage, dando-lhe um estatuto chamado Santo Dever, de acordo com sua própria filosofia. 

No século XVI, a decadência das corporações de ofício

Já na primeira metade do século XVI, as corporações, diante das perseguições que sofriam --- principalmente por parte do clero --- e diante da evolução social européia, começavam a entrar em declínio. Em 1535, realizava-se, em Colônia, uma convenção, que fora convocada para refutar as calúnias dirigidas pelo clero contra os franco-maçons. Embora ela não tenha tido o brilho e a freqüência de outras convenções, consta, embora tal afirmativa seja contestada, por carecer de comprovação, que, na ocasião, teria sido redigido um manifesto, onde era estabelecido o princípio de altos graus, que seriam introduzidos por razões políticas. 

Em 1539, o rei da França, Francisco I, revogava os privilégios concedidos aos franco-maçons, abolindo as guildas e demais fraternidades e regulamentando as corporações de artesãos. Em contrapartida, em 1548, era concedido, aos operários construtores, de maneira geral, o livre exercício de sua profissão, em toda a Inglaterra; um ano depois, todavia, por exigência de Londres, era cassada a autorização concedida, o que fazia com que os franco-maçons ficassem na condição de operários ordinários, como tais sendo tratados legalmente. Em 1558, ao assumir o trono da Inglaterra, a rainha Isabel renovava uma ordenação de 1425, que proibia qualquer assembléia ilegal, sob pena dela ser considerada uma rebelião. Três anos depois, em dezembro de 1561, tendo, os franco-maçons ingleses, anunciado a realização de uma convenção em York, durante a festividade de São João Evangelista, Isabel ordenou a dissolução da assembléia, decretando a prisão de todos os presentes a ela; a ordem só não foi confirmada, porque lord Thomas Sackville, adepto da arte da construção, estando presente, demoveu a rainha de seu intento, fazendo com que, em 1562, ela revogasse a ordenação de 1425. 

Em 1563, a Convenção de Basiléia, feita por iniciativa da confraria de Estrasburgo, organizava um código para os franco-maçons alemães, o qual serviria de regra à corporação dos canteiros, até que surgissem os primeiros sindicatos de operários, no século XIX. Mas era patente o declínio das confrarias, no século XVI. A Renascença relegara o estilo gótico e a estrutura ogival das abóbadas --- próprias da arte dos franco-maçons medievais --- ao abandono, revivendo as características da arte greco-romana. Assim, embora ela tivesse atingido a todos os campos do conhecimento e a todas as corporações profissionais, foi a dos franco-maçons a mais afetada. No final do século, Ínigo Jones introduzia, na Inglaterra, o estilo renascentista, sepultando o estilo gótico e apressando a decadência das corporações de franco-maçons ingleses. Estas, perdendo o seu objetivo inicial e transformando-se em sociedade de auxílio mútuo, resolveram, então, permitir a entrada de homens não ligados à arte de construir, não profissionais, que eram, então, chamados de maçons aceitos. 

Iniciava-se a transformação na Maçonaria atual 

As corporações, evidentemente, começaram por admitir pessoas em pequeno número e selecionadas entre os homens conhecidos pelos seus dotes culturais, pelo seu talento e pela sua condição aristocrática, que poderiam dar projeção a elas, submetendo-se, todavia, aos seus regulamentos. Era a tentativa de sustar o declínio. 

O primeiro caso conhecido de aceitação é o de John Boswell, lord de Aushinleck --- ou, segundo J.G. Findel, sir Thomas Rosswell, esquire de Aushinleck --- que, a 8 de junho de 1600 foi recebido como maçom aceito --- não profissional --- na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja da Capela de Santa Maria), em Edimburgo, na Escócia. Esta Loja fora criada em 1228, para a construção da Capela de Santa Maria, destinando-se, como já foi visto, às assembléias dos obreiros e discussões sobre o andamento das obras. 

Depois disso, o processo de aceitação, iniciado na Escócia, iria se espalhar e se acelerar, fazendo com que, ao final do século, o número de aceitos já ultrapassasse, largamente, o de franco-maçons operativos. Os mais famosos nomes de “aceitos”, na primeira metade do século XVII, foram: William Wilson, aceito em 1622; Robert Murray, tenente-general do exército escocês, recebido, em 1641, na Loja da Capela de Santa Maria e tornando-se, posteriormente, Mestre Geral de todas as Lojas do Exército; o coronel Henry Mainwairing, recebido, em 1646, numa Loja de Warrington, no Lancashire; e o antiquário e alquimista Elias Ashmole, recebido na mesma Loja e no mesmo dia (16 de outubro) que o coronel Henry. 

Em 1666, os franco-maçons iriam recuperar parte do antigo prestígio, diante do grande incêndio, que, a 2 de setembro daquele ano, aconteceu em Londres, destruindo cerca de quarenta mil casas e oitenta e seis igrejas. Nessa ocasião, os maçons acorreram para participar do esforço de reconstrução, sob a direção do renomado mestre arquiteto Cristopher Wren, que, em 1688, viu aprovado o seu plano para reconstrução da cidade, sendo nomeado arquiteto do rei e da cidade de Londres. A obra principal de Wren foi a reconstrução da igreja de S. Paulo, em cujo adro se desenvolveria e se estabeleceria, em 1691, uma Loja de fundamental importância para a História da Maçonaria moderna: a Loja São Paulo (em alusão à igreja), ou Loja da taberna “O Ganso e a Grelha”, em alusão ao local em que, como faziam outras Lojas, realizava suas reuniões de caráter informal e administrativo, como se verá adiante. A reconstrução de Londres só iria terminar em 1710. 

E nascia a primeira Grande Loja

Como, na época, não existiam templos maçônicos --- o primeiro só seria inaugurado em 1776 --- os maçons reuniam-se em tabernas, ou nos adros das igrejas. As tabernas, cervejarias e hospedarias desse tempo, principalmente na Inglaterra, tinham uma função social muito grande, como local de reunião e de troca de idéias de intelectuais, artífices, obreiros do mesmo ofício, etc. . A Loja da Cervejaria “The Goose and Gridiron” (O Ganso e a Grelha), ou Loja São Paulo, inicialmente formada só pelos maçons de ofício que participaram da reconstrução de Londres, resolvia, em 1703, diante do número cada vez maior de maçons aceitos, em todas as Lojas, admitir, a partir dali, homens de todas as classes, sem qualquer restrição, promovendo, então, uma reforma estrutural, que iria dar o arcabouço da moderna Maçonaria. A admissão, em 1709, do reverendo Jean Théophile Désaguliers , nessa Loja, em cerimônia realizada no adro da igreja de São Paulo, iria apressar o processo de transformação, já que Désagulliers iria se tornar seu lider e paladino. 

A 7 de fevereiro de 1717, Désagulliers conseguia reunir quatro Lojas metropolitanas, para traçar planos referentes à alteração da estrutura maçônica. Nessa ocasião, foi convocada uma reunião geral dessas quatro Lojas existentes em Londres, para o dia 24 de junho daquele ano. Essa reunião foi realizada na taberna “The Apple Tree” (A Macieira), e as Lojas presentes foram, além da “O Ganso e a Grelha”: a da Cervejaria “The Crown” (A Coroa), a da Taberna “Rummer and Grappes” (O Copázio e as Uvas) e a da Taberna “The Apple Tree” (A Macieira). 

E, no dia 24 de junho de 1717, como fora marcado, as quatro Lojas reuniam-se e criavam The Premier Grand Lodge (a Primeira Grande Loja), em Londres, implantando o sistema obediencial, com Lojas subordinadas a um poder central, sob a direção de um Grão-Mestre, já que, antes disso, as Lojas eram livres de qualquer subordinação externa, concretizando a idéia do “maçom livre na Loja livre”. Isso era, portanto, um fato novo e uma grande alteração --- uma verdadeira revolução --- na estrutura maçônica tradicional, o que faz com que esse acontecimento seja tomado como o divisor de águas, o marco histórico entre a antiga e a moderna Maçonaria, ou seja, entre a operativa, ou de ofício, e a dos aceitos, ou especulativa, sua forma moderna.