abril 24, 2022

O NOVO REI E A MAÇONARIA - Heitor Rodrigues Freire


Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis,  Grão Mestre “Ad Vitam” da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande.


A nossa Sublime Instituição, ao longo dos tempos, foi sofrendo muitas influências, produzindo alterações conjunturais.

Hoje nesta pós pandemia, durante a qual ficamos vivendo um tempo com reuniões virtuais, convivendo com tecnologia a mais avançada, foi suscitado um novo rei que se tornou soberano, reinando em todo o planeta de forma absoluta e total, sem contestação de ninguém – tanto que todos se dirigem a ele, de forma submissa, reverente, abaixando a cabeça e permitindo seu domínio completo: o celular.

Seu predomínio é tão grande que quando, eventualmente se perde, instala-se o pânico. 

A vida de todos ficou dependente desse instrumento tão dominador e tão útil, ao mesmo tempo, que cabe na palma da mão. A submissão é tão grande que o diálogo entre as pessoas foi eliminado de forma quase total. Todos deixam de participar de acontecimentos presentes para filmá-los e depois mostrá-los como um troféu.

Essa distorção ocorre pelo uso inadequado, pois o aparelho galvanizou de tal forma a atenção das pessoas – que não percebem essa dominação – que gerou uma dependência enorme, e acabou causando um dos males do século: a ansiedade. A ansiedade em aparecer, em demonstrar protagonismo, uma vontade imensa de ser importante. 

Antigamente, a ansiedade agia de forma natural, como reação a um perigo e com a adrenalina gerada proporcionava a ação de defesa. Mas, hoje, com as consequências da vida moderna, muito agitada, o uso indiscriminado do celular provoca manifestação e frequência aceleradas.

E essa distorção chegou à nossa Ordem.

Antes de ingressarmos ao Templo, todos conhecemos a exortação que o Mestre de Cerimônias faz: “...deixemos para trás os pensamentos comuns, os dissabores, as angustias, os problemas do cotidiano, enfim, deixemos aqui os pensamentos profanos...”

Quando ali adentrarmos, local sagrado, onde circula a energia divina com a invocação do Grande Arquiteto do Universo, a presença dos Irmãos da Ordem Maior e do Oriente Eterno, devemos conscientizar-nos da necessidade imperiosa de harmonizar-nos com esse ambiente.

Mas hoje isso raramente acontece. Porque os Irmãos não se separam dos seus celulares e frequentemente os acionam – não adianta desligá-los –, introduzindo assim uma energia que profana aquele recinto sagrado. Não estou sendo dramático. Estou observando o que acontece e o que implica em carrear para dentro “os dissabores, as angustias, os problemas do cotidiano...”

Já observei altas autoridades acionando o “rei”, dentro do Templo, abaixando a cabeça para tentar esconder o que se está fazendo.

É tempo de agirmos com sinceridade e consciência para coibir essa profanação. Para que isso aconteça, sugiro que nossas autoridades determinem que os celulares sejam deixados na sala dos passos perdidos. Porque embora também por orientação, os celulares sejam desligados é cada vez mais comum observar-se Irmãos utilizando o celular dentro dos Templos. E esse ato, acaba profanando o recinto porque se transporta para dentro as energias de fora. 

Pelo andar da carruagem, contudo, não temos como dispensar o uso do celular. É um equipamento criado para facilitar a comunicação moderna, sempre tão rápida e exigente. A saída é aprender a utilizá-lo de forma adequada e coerente, sem nos submeter ao que os outros pensam e procurar vencer a ansiedade de querer mostrar o que, na realidade, não somos. Ou seja, temos que agir com consciência.

Heitor Rodrigues Freire – Grão Mestre “Ad Vitam” GLEMS.

abril 23, 2022

MAÇONARIA E SEUS SANTOS PROTETORES - parte 2/2

 


OS DOIS SÃO JOÃO E SEU RELACIONAMENTO COM O DEUS ROMANO JANUS

O Cristianismo uma vez implantado tratou de extirpar toda a tradição pagã até então existente em Roma, que era ditada pelo mitraísmo, religião de origem persa existente há 2700 A.C. a qual confrontava com os novos princípios cristãos, que estavam sendo implantados.

Roma tinha entre seus deuses locais, um deus tipicamente romano Janus ou Joannes, que deu nome ao mês de Janeiro, e que era representado por duas faces (bi frons), uma olhando para frente, para o futuro, e outra olhando para trás, para o passado.

As festas solsticiais de Janus eram celebradas em 21 de junho e 21 de dezembro dias de entrada e saída do verão e inverno respectivamente, isto no hemisfério norte, no hemisfério sul é o contrario, e ainda comemoravam no dia 25 de dezembro o nascimento do menino Mitra.

Segundo vários autores houve uma adaptação de Janus, sendo o mesmo cristianizado sob o nome dos dois São João. Inclusive pela semelhança do nome Joannes ou Janus com João. Há quem diga que ambas são duas versões de um único ser. Janus aparece em muitas gravuras antigas, vitrais, moedas antigas sempre com as duas faces. A igreja Católica não concorda com esta interpretação.

O cristianismo aproveitou a religião, tradição e os costumes dos pagãos modificando de acordo com a conveniência cristã da época. É lógico que o cristianismo que estava sendo implantado não poderia manter a adoração ao deus-Sol.Por isso, substituíram-no por Jesus Cristo. Os antigos especialmente no hemisfério norte comemoravam a noite de 20 para 21 de dezembro o solstício de inverno até com sacrifícios humanos, o renascimento do Sol (Natalis invicti solis). No dia 20 para 21 de junho igualmente era comemorada uma festa solsticial de verão. Esta regra valia para o hemisfério norte, sendo no hemisfério sul, o contrário. As datas que os cristãos adotaram para os dois São foram uma em 24 de junho João Batista e a outra em 27 de dezembro para São João Evangelista estão muito próximas das datas solsticiais celebrada pelos pagãos. E ainda aproveitaram o nascimento de Mitra 2.700 a.C. que os pagãos adotavam no dia 25 de dezembro para ser o dia do nascimento de Cristo e ainda criaram um novo calendário iniciando o ano zero com o nascimento de Cristo.

O Cristianismo naquele momento histórico de sua existência teve que fazer apropriações das tradições e costumes dos pagãos e dar a sua forma de ser, para incorporar as inúmeras fileiras de pessoas convertidas à nova religião, que estavam ainda culturalmente programados pela religião antiga.

Ainda no simbolismo que foi transmitido pela Maçonaria Operativa nas figuras de São João Batista e São João Evangelista que estão representados nos painéis dos ritos em seus rituais por um círculo com duas paralelas tangenciais. Este círculo representa o ciclo anual ou ainda a trajetória do Sol correspondendo os pontos de contatos destas duas tangentes diametralmente opostas aos dois pontos solsticiais que correspondem ao Trópico de Câncer no hemisfério sul e ao Trópico de Capricórnio no hemisfério norte.

Para os maçons, círculo representa o Sol e as duas paralelas tangenciais representa os dois São João. Para os maçons apegados à corrente calcada no Antigo Testamento elas representariam Moisés e Salomão, mas está abandonada esta interpretação.

SÃO JOÃO DE JERUSALÉM, SÃO JOÃO ESMOLER OU HOSPITALEIRO

O Rito ou Maçonaria Adonhiramita adota como padroeiro São João de Jerusalém também conhecido como São João Esmoler ou São João Hospitaleiro. É um santo reconhecido pela Igreja. Teria nascido no ano de 550 D.C. e falecido em 619 em Amamonte-Chipre. Este São João não tem relação com os santos da Maçonaria Operativa.

Segundo Ragon, quem trouxe este santo para a Maçonaria, foi o Barão de Tschoudy e outros maçons da época que acreditavam que a Maçonaria era originada das Cruzadas. Segundo a lenda, este São João seria filho do rei de Chipre e teria deixado sua terra natal e abdicado de seus direitos como herdeiro do trono e teria partido para Jerusalém para dispensar socorros aos peregrinos e soldados cristãos feridos. Todavia segundo outros autores afirmam que ele seria o Patriarca de Alexandria e teria enviado recursos à Modesto de São Teodoro na Palestina para reconstruir as igrejas destruídas pelos árabes. Há também outra lenda que diz que ele fora grão-mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém no século VII. Ainda existem autores que o identificam com São João da Escócia, figura lendária na Maçonaria que jamais existiu.

SÃO JOÃO DA ESCÓCIA

Este “santo” jamais existiu. No entanto nos antigos rituais do Grande Oriente do Brasil ele era citado e mesmo nas paredes dos átrios ou Sala dos Passos Perdidos dos templos havia imagens deste “santo”. Também não está relacionado como santo da Igreja. Encontra-se citação com este nome como o nome de uma loja francesa fundada em Marselha em 1751 e que teria desempenhado papel importante na Revolução Francesa, mudando de nome após terminar a revolução.

Também citam alguns autores que ele teria este nome porque seria o santo de uma igreja construída na Escócia por franco-maçons.Fala-se também que seria o título de uma Ordem de Cavalheiros Espanhóis, bem como outra de São João da Palestina, que combateram em Jerusalém os chamados infiéis. Mas não se tem comprovação.

Enfim, há um grande número de “São João” que constam como santos do hagiológio da Igreja, a saber:

JOÃO BATISTA, JOÃO EVANGELISTA, JOÃO ESMOLER, João Batista Scalabrini, João Batista de La Salle, João Batista Piamarta, João Batista Berchmanns, João Bosco, João de Brito, João Crisóstomo, João Clímaco, João da Cruz, João de Deus, João Damasceno, João Ogilvie, João de Sahagum ou João Facundo, além do Papa João I e João II.

Não se pode negar que a Maçonaria tem um relacionamento profundo com o Cristianismo. A Maçonaria emprestou da Igreja Católica a cópia do próprio templo maçônico, muitos símbolos, objetos, muitos costumes que foram adaptados, vestes (vide os graus superiores do REAA). E também emprestou o Batista e o Evangelista.

Ressalte-se que quando começou a ser falar em Maçonaria Operativa, a Igreja Católica já existia há mais ou menos mil anos. Com relação aos santos protetores da Maçonaria eles não têm para a Ordem um valor religioso, e sim simbólico, Portanto os dois São João têm seu lugar dentro da Maçonaria, através de seus evangelhos com simbolismo esotérico profundo, e também diferente da interpretação religiosa e do público profano.

REFERÊNCIAS

ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Editora Artenova - S.A.- vol. IV - Rio de Janeiro, 1976

CASTELLANI,  José - Cadernos de Estudos Maçônicos - Consultório Maçônico II - Editora Maçônica  “A Trolha” Ltda. - Londrina, 1989

NAUDON, Paul - A Maçonaria - Edipe - Artes Gráficas - São Paulo, 1968

PALOU, Jean - A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática - Editora Pensamento - São Paulo, 1964

VAROLI, Theobaldo F. - Curso de Maçonaria Simbólica - Editora A Gazeta Maçônica S.A - São Paulo,

MAÇONARIA E SEUS SANTOS PROTETORES - parte 1/2




Nos antigos Collegia Fabrorum romanos, cada corporação de construtores tinha seu deus ou seus deuses protetores, como era o caso de Janus, o maior protetor das corporações de artífices. Seus adeptos celebravam anualmente as festas solsticiais de verão e inverno.

Logo no início do Cristianismo, as associações monásticas, guildas ou confrarias de pedreiros, consideradas como precursoras da Maçonaria Operativa, que estavam vinculadas às obrigações religiosas, passaram a adotar os santos católicos como seus protetores, padroeiro, patronos, os quais alguns eram sucessores dos deuses anteriores e não passavam de antigos deuses transformados ou adaptados em santos cristãos e outros santos criados pela própria Igreja entre os quais se destacam alguns já conhecidos como os primeiros mártires dos primeiros tempos do cristianismo.

O exemplo dos pagãos que tinham um ou mais deuses como padroeiros, posteriormente haviam corporações da Maçonaria Operativa que tinham até mais de um santo padroeiro, isto conforme a região e país.

Alguns santos que foram patronos de algumas corporações: São Bleso, São Luiz, São Nicolau, São José, Santa Ana, São Brás, São Gregório, Santo Alpiniano, São Martinho,São Martim, Santo Estevão, Santa Bárbara, São Tomás e os Quatro Coroados. Nem todos estes santos fazem parte dos santos reconhecidos pela Igreja Católica. Depois a Maçonaria adotou os São João, o Batista e o Evangelista.

Diz a lenda, que São Dunstan que teria sido Bispo da Cantuária e que teria sido grão-mestre dos franco-maçons da Inglaterra que em 959 D.C. e que teria reanimado os trabalhos das confrarias as quais estavam decaídas após a morte do rei Athlestan, o lendário-rei arquiteto. Esta lenda é contestada por muitos autores.

São Swithun de Winchester, santo anglicano teria sido o quarto grão-mestre das confrarias dos franco-maçons da Inglaterra de 856 a 872 D.C. Também não há comprovação desta narração. Interessante que a Igreja anglicana não canoniza oficialmente os santos, apesar de aceitar certos santos católicos tradicionais e conservar para estes, tal título, por tradição, não pela religião.

Atualmente os santos mencionados, a não ser os Quatro Coroados e os São João, não fazem parte de qualquer de qualquer segmento maçônico. No entanto existem outros santos que merecem ser citados e comentados pela influência, pelo menos histórica e tradicional e também pelas festas em seu nome entre os pedreiros livres.

Cita-se Santo Albano que serviu no exército romano, depois voltando à sua terra natal Verrulan na Inglaterra, nomeado pelo imperador Crasso, como governador da praça forte local, onde também era mestre de obras. Santo Albano teria implantado ali um sistema usado pelos franco-maçons, melhorando a situação dos operários que viviam em regime de escravidão. Posteriormente, sob as ordens de Deocleciano, imperador de Roma, ele foi decapitado, porque se tornou cristão. A Igreja Católica celebra no dia 22 de junho e a Igreja Anglicana no dia 17 de junho, como dia deste santo. Ele é considerado o primeiro mártir cristão da Inglaterra.

Santo André, patrono da Escócia tem sua festa em 30 de novembro. Apesar da Maçonaria daquele país aceitar São Jorge como seu padroeiro, faz a sua grande festa no dia de Santo André. Note-se que no painel simbólico de vários ritos, na Prancheta da Loja aparece uma cruz em X também chamada a Cruz de Santo André ou “Crux Decussata”. Santo André teria sido martirizado numa cruz deste tipo. Ainda a cruz em X que aparece na Prancheta é usada para o manuseio do alfabeto maçônico.

São Jorge é padroeiro da Inglaterra e é festejado em 23 de abril pela Grande Loja Unida da Inglaterra. As constituições maçônicas inglesas determinam que seja realizada anualmente uma grande festa em sua honra na sexta-feira seguinte ao dia de São Jorge.

Os Quatro Santos Coroados têm a sua história citada no Poema Régio. Conta-se que quatro escultores Severo, Severiano, Carpóforo e Vitorino, os quais por se negar a esculpir imagens de deuses pagãos, foram vergastados até a morte com varas revestidas de chumbo. Há autores que se referem aos quatro Santos Coroados como sendo soldados e não escultores.

Todavia, existem outras versões, segundo as quais a Igreja Católica por longo tempo desconheceu o nome dos quatro coroados e que o Papa Melquíades, em 310 D.C, os tornou santos ao celebrar no dia 08 de novembro o dia de outros cinco escultores Claudio, Castor, Sinforiano, Simplício e Nicostrato, que teriam sido asfixiados em barris de chumbo, no ano 287 D.C., porque, dois anos após a morte dos quatro coroados, também se negaram a esculpir estátuas pagãs. Estes nove mártires foram sacrificados por ordem de Deocleciano, cruel imperador romano, e inimigo dos cristãos. Deocleciano reconhecia Mitra como seu deus principal. O nome destes mártires citados não consta como santos citados no atual rol da Igreja Católica. Os Quatro Coroados foram escolhidos por algumas confrarias de maçons operativos ingleses como seus padroeiros.

O nome Quatro Coroados viria a inspirar o nome da primeira e mais famosa loja de pesquisas do mundo, a Loja Quatuor Coronati nº 2076 de Londres fundada em 28 de novembro de 1884 e instalada em janeiro de 1886 com o único fim de pesquisar de forma racional a história, símbolos, lendas enfim, tudo sobre a Maçonaria. Esta Loja tem suas colunas fortemente erguidas até a presente data, possui um museu e uma biblioteca admiráveis, um departamento de membros correspondentes em nível mundial bem como é responsável pelo estudo e pesquisa da antiga maçonaria verdadeira baseada em fontes primárias especialmente documentais e também pelo desmascaramento de uma série de lendas falsas a respeito da Ordem. Publica anualmente um livro chamado Ars Quatuor Coronatorum onde são publicadas todas as pesquisas feitas por seus membros. Existem lojas de pesquisas em muitos países que emprestaram o nome da Quatuor Coronati. Uma das mais importantes é a Forschungsloge Quatuor Coronati de Bayreuth- Alemanha. Existe no Brasil uma Loja com este nome, trata-se da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda” de Belo Horizonte.

Após a Maçonaria tornar-se oficialmente especulativa ou moderna a partir de 1717, ou já antes há algumas dezenas de anos, ela já não era mais essencialmente composta de profissionais da construção e católicos, quando começou a aceitação de rosa-cruzes, cabalistas, ocultistas, príncipes, artistas, cientistas da época, nobres, anglicanos luteranos e alquimistas. Neste momento histórico a influência da Igreja estava bastante diminuída já que a Maçonaria deixou de ser eminentemente católica.

Apesar desta mudança por uma questão de tradição, e dentro de uma situação irreversível, pois são históricos, tradicionais além de simbólicos, alguns santos ficaram inseridos definitivamente na tradição maçônica. É o caso dos “São João”, o Batista e o Evangelista e São João Esmoler. São João é citado inclusive nas Constituições de Anderson. E ainda o Rito Adonhiramita cultua o terceiro São João, ode Jerusalém ou São João Esmoler. Fala-se também de um São João da Escócia, que não tem razão alguma para ser levado a sério, pois foi pura invenção.

Os maçons atuais, independente de suas religiões, se aceitam ou não os santos, pelo menos têm nos dois São João como seus patronos, e este costume vem da Idade Média. É uma tradição que transcende a religião. É uma tradição respeitada por todos os maçons. Como foi dito, eles encerram um simbolismo que faz parte da Ordem.

Nestas alturas dada a tradição será impossível retirá-los da Ordem. Todavia, o Rito Francês ou Moderno desde 1887 resguardando o princípio da absoluta liberdade de consciência aboliu a fórmula GADU bem como a Bíblia nos seus trabalhos em lojas e assim consequentementeSão João não faz parte do Rito como padroeiro.

Os três primeiros graus do simbolismo são universais e considerados verdadeiros, únicos,legítimos, genuínos conhecidos aceitos e praticados em toda a superfície da Terra. São chamados graus de São João. Toda a doutrina maçônica acha-se contida nos graus de São João, ou seja, nos três primeiros graus.

São João Batista, O Precursor

João Batista era provavelmente essênio, segundo alguns autores. Sempre aparece nas imagens nas igrejas de roupa vermelha, símbolo do martírio segundo alguns religiosos. O Evangelho segundo São João exprime as mais perfeitas formulações a respeito da eterna dúvida com relação às respostas imutáveis da mente humana. O esoterismo dos escritos de São João faz com que os teólogos, os exegetas e outros estudiosos das religiões as compreendam mais profundamente. Há ainda certa analogia entre os escritos de São João e os ensinamentos de Hermes Trismegisto (do latim Hermes Trismegistus). Neles encontram-se a mesma evocação do Verbo e da Luz.Tal é a influência de João Batista que a Maçonaria moderna foi fundada no dia de São João no dia 24 de junho de 1717, dia de sua celebração. Dizem alguns autores que João Batista pregava no deserto e se alimentava de mel e gafanhotos. Vestido de pele de camelo atada apenas por um cinto, e assim foi pregar em Jerusalém. Ele praticava o batismo.

Segundo a Bíblia São João Batista sempre condenou uma relação adúltera entre Herodes de Antipas e sua sobrinha Herodíades, a qual tinha uma filha de nome Salomé. Durante uma das festas da corte, Salomé dançou com tal graça que Herodes entusiasmado disse a ela que daria a ela o que ela pedisse. Ela instigada pela mãe, não teve dúvidas, pediu a cabeça de João Batista. O rei mandou então decapitar João trazendo o carrasco a cabeça num prato que foi entregue a jovem e esta entregou à sua mãe.

Segundo o historiador judeu Flavio Josephus, João Batista foi decapitado no cárcere de Mequeronte, perto do Mar Morto e de Qunran onde foram encontrados em 1947 os celebres pergaminhos que foram lá deixados pelos essênios.

São João Evangelista, o Apóstolo e Evangelizador

Foi um dos apóstolos de Jesus Cristo, que juntamente com seu irmão Tiago eram chamados de filhos do trovão, por causa de seus temperamentos exaltados. Após sua convivência com Jesus ficou conhecido como o apóstolo do amor e também como o discípulo que mais perto esteve do Mestre por ser aquele que mais o acompanhou. Em suas epístolas é constante a preocupação para que se pratique o amor fraternal. Nos vitrais da Idade Média é sempre representado com roupa verde. Seu evangelho tem relação com a Maçonaria. Suas visões apocalípticas quando João “recebeu de um anjo uma vara para medir o templo com exceção do átrio.” marcaram muito sendo uma das razões da Maçonaria adota-lo como um dos seus santos padroeiros cuja festa é celebrada em 27 de dezembro. O Apocalipse parece ser uma mensagem cabalística e esotérica deixada para um grupo seleto de iniciados.

 

OS DOIS SÃO JOÃO E SEU RELACIONAMENTO COM O DEUS ROMANO JANUS

O Cristianismo uma vez implantado tratou de extirpar toda a tradição pagã até então existente em Roma, que era ditada pelo mitraísmo, religião de origem persa existente há 2700 A.C. a qual confrontava com os novos princípios cristãos, que estavam sendo implantados.

Roma tinha entre seus deuses locais, um deus tipicamente romano Janus ou Joannes, que deu nome ao mês de Janeiro, e que era representado por duas faces (bi frons), uma olhando para frente, para o futuro, e outra olhando para trás, para o passado.


As festas solsticiais de Janus eram celebradas em 21 de junho e 21 de dezembro dias de entrada e saída do verão e inverno respectivamente, isto no hemisfério norte, no hemisfério sul é o contrario, e ainda comemoravam no dia 25 de dezembro o nascimento do menino Mitra.

Segundo vários autores houve uma adaptação de Janus, sendo o mesmo cristianizado sob o nome dos dois São João. Inclusive pela semelhança do nome Joannes ou Janus com João. Há quem diga que ambas são duas versões de um único ser. Janus aparece em muitas gravuras antigas, vitrais, moedas antigas sempre com as duas faces. A igreja Católica não concorda com esta interpretação.


O cristianismo aproveitou a religião, tradição e os costumes dos pagãos modificando de acordo com a conveniência cristã da época. É lógico que o cristianismo que estava sendo implantado não poderia manter a adoração ao deus-Sol.Por isso, substituíram-no por Jesus Cristo. Os antigos especialmente no hemisfério norte comemoravam a noite de 20 para 21 de dezembro o solstício de inverno até com sacrifícios humanos, o renascimento do Sol (Natalis invicti solis). No dia 20 para 21 de junho igualmente era comemorada uma festa solsticial de verão. Esta regra valia para o hemisfério norte, sendo no hemisfério sul, o contrário. As datas que os cristãos adotaram para os dois São foram uma em 24 de junho João Batista e a outra em 27 de dezembro para São João Evangelista estão muito próximas das datas solsticiais celebrada pelos pagãos. E ainda aproveitaram o nascimento de Mitra 2.700 a.C. que os pagãos adotavam no dia 25 de dezembro para ser o dia do nascimento de Cristo e ainda criaram um novo calendário iniciando o ano zero com o nascimento de Cristo.

O Cristianismo naquele momento histórico de sua existência teve que fazer apropriações das tradições e costumes dos pagãos e dar a sua forma de ser, para incorporar as inúmeras fileiras de pessoas convertidas à nova religião, que estavam ainda culturalmente programados pela religião antiga.


Ainda no simbolismo que foi transmitido pela Maçonaria Operativa nas figuras de São João Batista e São João Evangelista que estão representados nos painéis dos ritos em seus rituais por um círculo com duas paralelas tangenciais. Este círculo representa o ciclo anual ou ainda a trajetória do Sol correspondendo os pontos de contatos destas duas tangentes diametralmente opostas aos dois pontos solsticiais que correspondem ao Trópico de Câncer no hemisfério sul e ao Trópico de Capricórnio no hemisfério norte.

Para os maçons, círculo representa o Sol e as duas paralelas tangenciais representa os dois São João. Para os maçons apegados à corrente calcada no Antigo Testamento elas representariam Moisés e Salomão, mas está abandonada esta interpretação.

 

SÃO JOÃO DE JERUSALÉM, SÃO JOÃO ESMOLER OU HOSPITALEIRO

O Rito ou Maçonaria Adonhiramita adota como padroeiro São João de Jerusalém também conhecido como São João Esmoler ou São João Hospitaleiro. É um santo reconhecido pela Igreja. Teria nascido no ano de 550 D.C. e falecido em 619 em Amamonte-Chipre. Este São João não tem relação com os santos da Maçonaria Operativa.


Segundo Ragon, quem trouxe este santo para a Maçonaria, foi o Barão de Tschoudy e outros maçons da época que acreditavam que a Maçonaria era originada das Cruzadas. Segundo a lenda, este São João seria filho do rei de Chipre e teria deixado sua terra natal e abdicado de seus direitos como herdeiro do trono e teria partido para Jerusalém para dispensar socorros aos peregrinos e soldados cristãos feridos. Todavia segundo outros autores afirmam que ele seria o Patriarca de Alexandria e teria enviado recursos à Modesto de São Teodoro na Palestina para reconstruir as igrejas destruídas pelos árabes. Há também outra lenda que diz que ele fora grão-mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém no século VII. Ainda existem autores que o identificam com São João da Escócia, figura lendária na Maçonaria que jamais existiu.


SÃO JOÃO DA ESCÓCIA

Este “santo” jamais existiu. No entanto nos antigos rituais do Grande Oriente do Brasil ele era citado e mesmo nas paredes dos átrios ou Sala dos Passos Perdidos dos templos havia imagens deste “santo”. Também não está relacionado como santo da Igreja. Encontra-se citação com este nome como o nome de uma loja francesa fundada em Marselha em 1751 e que teria desempenhado papel importante na Revolução Francesa, mudando de nome após terminar a revolução.

Também citam alguns autores que ele teria este nome porque seria o santo de uma igreja construída na Escócia por franco-maçons.Fala-se também que seria o título de uma Ordem de Cavalheiros Espanhóis, bem como outra de São João da Palestina, que combateram em Jerusalém os chamados infiéis. Mas não se tem comprovação.


Enfim, há um grande número de “São João” que constam como santos do hagiológio da Igreja, a saber:


JOÃO BATISTA, JOÃO EVANGELISTA, JOÃO ESMOLER, João Batista Scalabrini, João Batista de La Salle, João Batista Piamarta, João Batista Berchmanns, João Bosco, João de Brito, João Crisóstomo, João Clímaco, João da Cruz, João de Deus, João Damasceno, João Ogilvie, João de Sahagum ou João Facundo, além do Papa João I e João II.


Não se pode negar que a Maçonaria tem um relacionamento profundo com o Cristianismo. A Maçonaria emprestou da Igreja Católica a cópia do próprio templo maçônico, muitos símbolos, objetos, muitos costumes que foram adaptados, vestes (vide os graus superiores do REAA). E também emprestou o Batista e o Evangelista.


Ressalte-se que quando começou a ser falar em Maçonaria Operativa, a Igreja Católica já existia há mais ou menos mil anos. Com relação aos santos protetores da Maçonaria eles não têm para a Ordem um valor religioso, e sim simbólico, Portanto os dois São João têm seu lugar dentro da Maçonaria, através de seus evangelhos com simbolismo esotérico profundo, e também diferente da interpretação religiosa e do público profano.


REFERÊNCIAS

ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Editora Artenova - S.A.- vol. IV - Rio de Janeiro, 1976

CASTELLANI,  José - Cadernos de Estudos Maçônicos - Consultório Maçônico II - Editora Maçônica  “A Trolha” Ltda. - Londrina, 1989

NAUDON, Paul - A Maçonaria - Edipe - Artes Gráficas - São Paulo, 1968

PALOU, Jean - A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática - Editora Pensamento - São Paulo, 1964

VAROLI, Theobaldo F. - Curso de Maçonaria Simbólica - Editora A Gazeta Maçônica S.A - São Paulo, 1970

abril 22, 2022

REFLEXÃO SOBRE O CARÁTER, A ÉTICA E A HONRA - Ir.’. Luciano A. Vianna


"Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres." (Albert Einstein)

Até que ponto o homem pode vender-se sem ser prejudicado e sem prejudicar os outros?

Até que ponto pode, impunemente, ferir sua coerência interior dizendo, publicamente, ora uma coisa, ora exatamente o contrário, dependendo da vantagem oferecida?

Quando digo “impunemente” não me refiro a sanções legais, multas ou coisas do gênero.

Isso é o de menos!

Um bom advogado resolve.

Ao dizer “impunemente” refiro-me ao interior da pessoa, à sua “inteireza” e paz, aquela qualidade das pessoas retas, sábias, coesas, coerentes, “inteiras” também por dentro.

Refiro-me, também, ao ônus social gerado por atitudes que sobrepõem a vaidade à verdade, à lealdade, à coerência, à reflexão, à nobreza de caráter.

O grande problema da humanidade, hoje em dia, é de caráter ético, pois socialmente, aprendemos que é preciso fazer o correto, mas na informalidade, criamos a idéia de que não há nada de errado, em levar vantagem em cima de nosso semelhante, e para todas as situações costumamos dar “o jeitinho brasileiro”. 

Uma vez que é muito comum, todos criticarem a corrupção brasileira, a política brasileira, e esquecerem-se dos pequenos delitos que cometem diariamente, usando a premissa de que os fins justificam os meios.

E é em meio a esta sociedade, mais preocupada em aparecer, do que ajudar o próximo, que surge o desejo exagerado de acumular poder e projeção.

E neste mesmo momento, o homem deixa a sua ambição falar mais alto que a ética.

Pois se a ética atrapalhar o objetivo de adquirir glória, poder e honras, a tendência é de reduzir o caráter ético, para não frustrar o propósito final.

É preciso ter consciência de que ser ético é tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados.

É procurar ajudar mais as pessoas a nossa volta, do que criticar, ou lesionar em momentos oportunos, só para atingir nossos objetivos.

Precisamos também entender que a atual crise ética originou-se em decorrência das atitudes do ser humano individual, e que por isso, é preciso antes de qualquer coisa, mudar nossas atitudes individuais, para depois podermos criticar e tentar consertar o mundo.

E é claro, é preciso ter ambições sim, mas é preciso usar a ética e a moral, antes de definir nossas metas, ideais e sonhos.

A tendência daqueles que por simples vaidade ou desejo de poder tem de criticar e lançar inverdades, bem como criar fatos e atos inexistentes, sobre àqueles que ocupam posições por eles desejadas reflete bem a pequenez de seu caráter e sua falta de ética, pois deveriam eles exaltarem seus feitos e seus atos em contraponto àqueles que se critica.

Confúcio já dizia que “Homem superior é aquele que começa por pôr em prática as suas palavras e em seguida fala de acordo com as suas ações”.

Creio que já é passado o momento de colocarmos nossas ambições no mesmo patamar de nossas realizações, pois se essas realizações forem realmente grandes nossas ambições serão satisfeitas por reconhecimento e natural consequência delas.




MAÇONARIA E SECULARISMO - Jean-Philippe Hubsch. Adaptado de tradução feita por José Filardo


O secularismo é um conjunto de princípios legais baseados no primado da liberdade de consciência; não é uma arma contra as religiões, nem uma religião civil. A universalidade da lei comum não deve referir-se a nenhuma das várias religiões para se impor a todos os cidadãos. Uma loja maçónica é um lugar de aceitação da diferença, de pacificação de intercâmbios. Isto porque a Maçonaria considera que o secularismo é um princípio universal de pacificação social.

A oportunidade que nos é oferecida de questionar aqui as ligações entre a Maçonaria e o secularismo é particularmente bem-vinda.

Princípio emblemático da tradição republicana francesa, sacralizado pela Terceira República e considerado “intangível” até 1940, o secularismo é hoje o lugar de um profundo esquecimento e, no momento em que ele é perigosamente desafiado pelos “fanatismos” e intolerâncias, sejam eles culturais, políticos, económicos, religiosos, raciais, não é mais propriamente defendido e a pior das confusões reina em torno da noção…

Às vezes, o secularismo é confiscado a favor de um projeto identitário e usado como uma arma contra o Islão. Outras vezes, e ao contrário, pode dizer-se, ele é reduzido a um simples princípio de tolerância a serviço de um projeto multicultural de organização de designações identitárias. Ele é também apresentado como uma espécie de religião civil – aquela daqueles que não teriam nenhuma religião – quando não é visto como uma mera máquina de guerra contra convicções e sentimentos religiosos!… Cada um à sua maneira, todos estes discursos constituem tantas desnaturações do secularismo republicano.

É verdade que no nosso país a Maçonaria é sempre associada ao secularismo. Com as suas tomadas de posição vigilantes a cada suposta ameaça, ela seria até vista – sem trocadilho – como “guardiã do templo”! …

A inspiração das lojas

Desde os seus primeiros passos, a moderna Maçonaria desenvolve um pensamento universalista.  As Constituições de Anderson – o seu texto fundador – anunciam que ela se pretende tornar o “Centro da União, [permitindo] uma amizade sincera entre pessoas que poderiam ter permanecido a uma distância perpétua”, seja por razões políticas, religiosas ou nacionais.

A loja que trabalha neste “centro da união” é uma comunidade que implementa uma “fraternidade eletiva” em busca do pluralismo social, político e religioso. Ela só pode existir e durar porque é soldada por rituais rigorosos e eficazes.

A Loja Maçónica em trabalho é também um método, uma disciplina que contraria toda a espontaneidade e se opõe a todas as inclinações naturais, para realizar uma mudança de estrutura mental para assegurar a superação de intercâmbios interpessoais em benefício da unidade da loja. É uma contracultura tradicional na qual os Maçons, protegidos pelo segredo dos seus intercâmbios, se tornam tantos “contrabandistas” heterodoxos.

O que esta contracultura propõe é, antes de tudo, o trabalho sobre si mesmo – os Maçons falam do seu “templo interior” que torna possível encontrar a unidade interior, reconciliar-se consigo mesmo, a condição primeira para poder para realmente abrir para os outros que eles aprenderam a ver como irmãos e, ao fazê-lo, trabalhar para a melhoria da humanidade – no “templo da humanidade” – Esta contracultura afirma-se como um continuidade espiritual, uma tomada de consciência da solidariedade universal.

Ela é o lugar de uma certa igualdade, marca de tolerância e de abertura. Em loja, aceitar a diferença do outro, aceitar a sua palavra e a respeitar é, para todo Maçom, um requisito absoluto. Mas a tomada em consideração desta alteridade é feita no âmbito de referências comuns que não podem ser transgredidas.

Com as suas ferramentas tradicionais de pacificação progressiva das relações, a Maçonaria é, portanto, uma espécie de laboratório de sociedade, laboratório do laço social que faz germinar naturalmente o princípio do secularismo.

Embora supervisionadas de perto, as lojas maçónicas foram, na sociedade política muito fechada do século XIX francês, as únicas associações ativas toleradas e, portanto, naturalmente, os lares subterrâneos do essencial da vida intelectual e política do país. É por isto que, desde a capitulação de Sedan, a República surgirá toda armada de lojas. Léon Gambetta, e todos os Jules, Simon, Grévy, Favre e especialmente Ferry, para citar apenas estas eminentes personalidades da primeira geração republicana, todos vieram diretamente das lojas.

A construção republicana do secularismo

A República tem por ambição uma construção permanente do laço cívico além das designações identitárias de cada um, na busca e preservação do que é comum a todos. No final do século XIX e início do século XX, a Maçonaria será participará verdadeiramente dos combates políticos para a construção do secularismo do Estado e as concepções que ela defenderá não serão diferentes daquelas que a República se vai dedicar a implementar.

O secularismo é um conjunto de princípios jurídicos baseados no primado da liberdade de consciência. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de Agosto de 1789, tem a religião por uma “opinião” como qualquer outra (Artigo 1.0), que surge, portanto, exclusivamente da liberdade de cada um. Isto necessariamente decorre da igualdade de todas estas opções espirituais aos olhos da lei e, portanto, a igualdade de todos os cidadãos, independentemente das suas opiniões ou religião. A universalidade da lei comum que não se deve referir a nenhuma das diferentes religiões para se impor ao conjunto dos cidadãos é indispensável.

O secularismo torna-se, assim, um princípio de organização social.  O poder público e a esfera a ele associada, com vistas a constituir, estabelecer e garantir os direitos e liberdades que beneficiarão a universalidade dos cidadãos, deve estar sujeitos a uma reserva absoluta em matéria de opções espirituais.

A esfera privada é a dos indivíduos e das comunidades, livre no respeito a lei.  Cada cidadão devem poder exercer estas liberdades individuais e privadas, que são as liberdades de consciência, de opinião religiosa ou outras – e da expressão, fora do domicilio privado, ao nível do espaço civil aberto a todos, no respeito ao direito comum e à ordem pública.

Ao mesmo tempo, o Estado garante a independência destas duas esferas e da unidade da comunidade política dos cidadãos em torno de valores comuns compartilhados.

Numa sociedade secular, o reconhecimento do direito de cada um construir e expressar a sua diferença é, portanto, sempre concebida num espaço de relacionamento, confronto e diálogo com os outros. Este comportamento representa, obviamente, um ideal difícil de construir e alcançar, que produziu no nosso país um modo de vida que é objeto de um consenso duradouro.

Ninguém precisa conhecer as escolhas filosóficas ou religiosas uns dos outros, elas pertencem-lhes. Ninguém precisa de as conhecer, especialmente o Estado, que se proíbe de os recensear. Aqui, novamente, a religião é entendida como uma escolha individual, uma opinião – que se pode mudar – e não como um pertencimento. O culto público, que é legítimo, é praticado em lugares que lhe são normalmente reservados  e isto traduz-se no nosso país pelo surgir gradual de uma cultura compartilhada da discrição das expressões religiosas na sociedade civil.

É a própria essência da tradição histórica e jurídica francesa que vê nessa discrição compartilhada a melhor maneira de garantir que todos tenham a oportunidade de viver juntos numa convivência serena e pacífica, baseada no respeito aos diferentes pensamentos.

Fundamentalmente, se o secularismo francês respeita todas as opções espirituais, é antes de tudo na medida em que elas são expressões da liberdade de consciência dos cidadãos. Assim, a República estará, sem dúvida, menos preocupada expressamente com o indivíduo cuja afiliação a uma comunidade é adquirida do que com o ateu, o agnóstico ou o crente individualista que rompe com o seu grupo, porque eles estão sozinhos e a sua liberdade precisa da protecção do Estado, que também deve ser capaz de proteger o direito de acreditar e de blasfemar.

Os desafios do presente

A construção republicana define-se pelo seu carácter universalista, do qual o secularismo é uma ferramenta essencial. Atualmente, assistimos a um ressurgir de manifestações de afirmação identitária inspiradas na religião, mas que vão muito além das questões de culto, desafiando abertamente o secularismo e os princípios republicanos. E também observamos que a liberdade de consciência e a igualdade de todos recuam e não são mais garantidas em certos espaços privados.

No exato momento em que, portanto, parece que o nosso secularismo constitucional devia, sem dúvida, ser exercido, além dos serviços públicos, na proteção do espaço social, “um lugar de compartilhamento sob o olhar dos outros”, em face de demandas urgentes de expressão religiosa, percebemos que o secularismo perdeu muito da sua força simbólica. O Estado republicano tem o dever de se envolver na defesa de projetos universalistas diante  ataques comunitaristas de certos grupos de pressão.

Como as lojas sabem fazer, a República deve esforçar-se para criar públicos comuns.  Ela deve saber lutar contra as discriminações com base na igualdade, apresentando o que é comum aos indivíduos e grupos sociais, e não através do reconhecimento identitário, que se fechará como uma armadilha implacável sobre o cidadão e os seus direitos.

Um estado neutro, sensível apenas à liberdade do cidadão individual é um modelo moderno e portador de progresso para o futuro. O seu instrumento fundamental é o secularismo, que por si só é capaz de impregnar um pensamento universalista da diversidade, livre da vulgata culturalista que atualmente se está a espalhar sem restrições alguma no debate político e na Comunicação Social. Ela aparecerá então como um princípio universal de pacificação social.



abril 21, 2022

TIRADENTES, HERÓI e HISTÓRIA - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Considerado um dos maiores intelectuais da maçonaria no país.

Eleger e reverenciar heróis faz parte da cultura de cada povo.

Trata-se de uma espécie de valorização da própria natureza humana e da identidade de cada sociedade.

Ao herói se lhe é dado um salvo-conduto, como instrumento de representatividade de um povo.

Como não poderia ser diferente, nós brasileiros, também elegemos nossos heróis.

Há aqueles que dizem respeito notadamente aos ideais de Liberdade e Soberania, como é o caso de Tiradentes, cuja consagração ao status de mártir, faz com que do ponto de vista histórico-social, seja aquele que melhor se identifique com as aspirações e  com o sentimento de orgulho de nosso povo. 

A data de 21 de Abril de 1792 que diz respeito à sua morte por enforcamento, que o diga.

Ainda que marcada por traços obscuros de sua trajetória de vida, bem como das interpretações imprecisas que historiadores conferem a ele, e que se explicam em função das  inevitáveis distorções que a transmissão oral dos fatos e a carência de registros documentais produzem, não há contudo, como desvirtuar a relevância de seu papel no tocante à Inconfidência Mineira, em que seu protagonismo foi inquestionável num dos episódios embrionários na luta pela independência do Brasil em relação à coroa portuguesa.

A data de 21 Abril parece até, que ganhou um certo estigma, fruto inclusive da própria mídia nacional, que na História mais recente de nosso país, registrou  a morte do então eleito presidente, Tancredo Neves, que tomado por uma grave doença não conseguiu ser empossado e assumir a presidência da República, provocando uma verdadeira comoção nacional.

Cabe lembrar, que sua figura dócil, paternal e conciliadora contribuíram de forma inequívoca para que o mesmo fosse igualmente alçado à condição de herói.

E assim a História vai sendo contada, com requintes de beleza, sofrimento, amor e ódio, de tal sorte, que o que permanece na mente das pessoas, é o que o imaginário registra e guarda na memória.

Aliás, para um povo que habitualmente tropeça em sua própria memória histórica, nada melhor do que preservar seus heróis, inobstante algumas inconsistências que possam haver em todo esse processo.


VINTE E UM DE ABRIL - Adilson Zotovici



Adilson Zotovici  poeta e intelectual, da Confraria Maçons em Reflexão e da ARLS Chequer Nachif de S. Bernardo do Campo


Sem se conter, por Liberdade, 

Conjuração com pertinência 

A defender sua propriedade 

Com obstinação, resistência


Inflama a arbitrariedade, 

A exploração, a truculência  

E clama a sociedade 

Contra a Derrama, inclemência  


Homens da fraternidade 

Quiseram igualdade, decência, 

Para si e à posteridade 

Tiveram a intransigência 


E a traição persuade  

À punição em essência !

Contra o Alferes...atrocidade

Degredo a outros em sequência


Travos de insídia, ambiguidade 

Timbravam de Inconfidência

Aos bravos heróis, que em verdade, 

Ansiavam a Independência ! 



abril 20, 2022

QUEM FOI ALBERT MACKEY? -


Alguns autores e obras são citados constantemente na maioria dos livros pela sua importância cronológica e, mais ainda, pela contribuição imprescindível que deram para a organização da nossa instituição. Poderíamos mencionar os trabalhos eternos de Joseph Paul Oswald Wirth, Robert Freke Gould, George Kloss, William Hutchinson, René Guénon,Wilhelm Begemann, Eliphas Levy, Alec Mellor e tantos outros não menos importantes. Trataremos aqui, de maneira breve, da obra de Albert Gallatin Mackey, possivelmente, o mais citado de todos os autores, facto este que se deve a especificamente um dos seus legados.

O americano Albert Gallatin Mackey talvez tenha sido o mais importante historiador e jurista maçónico que aquela nação já produziu. Segundo os seus próprios compatriotas, até hoje não se avaliou adequadamente as consequências que os seus trabalhos tiveram sobre a maçonaria, não só americana, mas também de todo o mundo.

Dos Irmãos Americanos que conquistaram fama internacional no mundo maçónico, vários foram escritores cujos trabalhos ajudaram na formação e na extensão da luz maçónica, dentre estes nenhum escreveu tão volumosamente como o fez Mackey.

Nascido em 12 de Março de 1807 na cidade de Charleston no estado americano da Carolina do Sul, Albert Mackey graduou-se com honras na faculdade de medicina daquela cidade em 1834. Praticou a sua profissão durante vinte anos, após o que dedicou quase por completo a sua vida à obra maçónica.

Recebeu o grau 33, o último grau do Rito Escocês Antigo e Aceite, e tornou-se membro do Supremo Conselho onde serviu como Secretário-geral durante anos. Foi nesta época que ele manteve uma estreita associação com outro famoso Maçon americano, Albert Pike.

Participou como membro ativo de muitas lojas, inclusive a lendária “Solomon’s Lodge nº 1”, fundada em 1734, que é, ainda hoje, a mais famosa e mais antiga loja operando continuamente na América do Norte. Ocupou inúmeros cargos de destaque nos mais altos postos da hierarquia maçónica do seu país.

Pessoalmente o Dr. Mackey foi considerado encantador por um círculo grande de amigos íntimos. O seu comportamento representava bem o que, entre os americanos, é chamado de cortesia sulista. Sempre que se interessava por um assunto era muito animado na sua discussão, até mesmo eloquente. Generoso, honesto, leal, sincero, ele mereceu bem os elogios e qualificações que recebeu de inúmeros maçons de destaque.

Um revisor da obra de Mackey disse que, como autor de literatura e ciência maçónica, ele trabalhou mais que qualquer outro na América ou na Europa. Em 1845 ele publicou o seu primeiro trabalho, intitulado Um Léxico de Maçonaria, depois disto seguiram-se:

“The True Mystic Tie” 1851;

The Ahiman Rezon of South Carolina,1852;

Principles of Masonic Law, 1856;

Book of the Chapter, 1858;

TextBook of Masonic Jurisprudence, 1859;

History of Freemasonry in South Carolina, 1861;

Manual of the Lodge, 1862;

Cryptic Masonry, 1867;

Symbolism of Freemasonry, and Masonic Ritual, 1869;

Encyclopedia of Freemasonry, 1874;

Masonic Parliamentary Law 1875.

Mackey esteve até o fim da vida envolvido com a produção de conhecimento maçónico. Além dos livros citados ele contribuiu com frequência para diversos periódicos e também foi editor de alguns. Por fim, publicou uma monumental “History of Freemasonry”, que possui sete volumes. Um testemunho da importância e popularidade que os livros escritos por Mackey têm é o facto de que muitos deles são editados até hoje e estão à venda em livrarias, inclusive pela Internet. No site da livraria Amazon, tida como a maior da Internet, é possível adquirir 26 edições diferentes quando se procura livros usando como referência as palavras Albert Mackey. Para quem tem habilidade de leitura em inglês, é possível ler um livro inteiro de Mackey disponível na internet. O título “Symbolism of Freemasonry” ou o Simbolismo na Maçonaria, de 364 páginas.

Dos muitos trabalhos que o Dr. Mackey legou à posteridade, um julgamento quase universal identifica a “Encyclopedia of Freemasonry” como a obra de maior importância. Anteriormente à publicação deste livro não havia nenhum de igual teor e extensão em qualquer parte do mundo. Esta obra teve muitas edições e foi revista várias vezes por outros autores maçónicos.

A contribuição de Mackey para o pensamento e leis maçónicas, produto da sua mente clara e precisa, é tida como de fundamental importância. Praticamente toda a legislação maçónica fundamental é hoje interpretada com base em alguns dos seus escritos. É verdade que algumas das suas obras contêm enganos, mas o conjunto é de extremo valor e, em particular, um trabalho tem especial destaque no mundo todo. A compilação feita por ele dos marcos ou referenciais básicos da maçonaria é adoptada como fundamento em vários ritos e obediências. Estamos a falar dos tão mencionados e conhecidos “Landmarks”.

A primeira vez em que se fez menção à palavra Landmark em Maçonaria foi nos Regulamentos Gerais compilados em 1720 por George Payne, durante o seu segundo mandato como Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, e adoptados em 1721, como lei orgânica e terceira parte integrante das Constituições dos Maçons Livres, a conhecida Constituição de Anderson, que, na sua prescrição 39, estabelecia assim:

“XXXIX – Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks…”

A tradução da palavra Landmark do inglês para o português resulta no substantivo “marco”, que, caso consultemos o dicionário Aurélio, tem o seguinte significado: marco [De marca.] S. m. 1. Sinal de demarcação, ordinariamente de pedra ou de granito oblongo, que se põe nos limites territoriais. [Cf. baliza (1).] 2. Coluna, pirâmide, cilindro, etc., de granito ou mármore, para assinalar um local ou acontecimento: o marco da fundação da cidade. 3. Qualquer acidente natural que se aproveita para sinal de demarcação. 4. Fig. Fronteira, limite: os marcos do conhecimento.

Estas definições exemplificam bem o contexto no qual o termo Landmark é utilizado, além de fazer uma referência quase explícita às origens operativas da maçonaria, quem já construiu algo em alvenaria sabe que a fixação dos marcos é um dos primeiros momentos da obra e um passo fundamental para a sua execução. Sem marcos bem estabelecidos fica muito difícil a obra ser bem executada.

Os Landmarks, que podem ser considerados uma “constituição maçónica não escrita”, longe de serem uma questão pacífica, constituem-se numa das mais controversas discussões da Maçonaria, um problema de difícil solução para a Maçonaria Especulativa. Há grandes divergências entre os estudiosos e pesquisadores maçónicos acerca das definições e nomenclatura dos Landmarks. Existem várias e várias classificações de Landmarks, cada uma com um número variado deles, que vai de 3 até 54. Virgilio A. Lasca, em “Princípios Fundamentales de la Orden e los Verdaderos Landmarks”, menciona uma relação de quinze compilações.

As Potências Maçónicas latino-americanas, via de regra, adoptam a classificação de vinte e cinco Landmarks compilada por Albert Gallatin Mackey. Deve-se a isto a frequência com que o Mackey é mencionado também entre nós.

Segundo estudiosos do assunto, a compilação de Mackey teve sucesso por que conseguiu ir ao passado e trazer as tradições e costumes imemoriais à prática maçónica moderna. Este trabalho estabeleceu a ordem no meio do caos, fornecendo um ponto de partida para os juristas e legisladores maçónicos que o seguiram.

Fato é que o grande trabalho de Mackey em jurisprudência, e mesmo o que se estende além dos Landmarks ou da jurisprudência, sobreviveu ao teste do tempo. Ainda hoje ele é frequentemente citado como uma autoridade final. As suas contribuições tiveram, e ainda tem, um efeito profundo e permeiam grande parte do pensamento maçónico moderno. Ao criar a sua obra, este autor, estava na realidade criando os marcos sobre os quais foi possível edificar grande parte do conhecimento maçónico que se produziu posteriormente.

Albert Gallatin Mackey passou ao oriente eterno em Fortress Monroe, Virgínia, em 20 de Junho de 1881, aos 74 anos. Foi enterrado em Washington em 26 de Junho, tendo recebido as mais altas honras por parte de diversos Ritos e Ordens. Hoje existe nos Estados Unidos uma condecoração, a “Albert Gallatin Mackey Medal” , que é a mais alta condecoração concedida a alguém que muito tenha contribuído para a causa maçónica.

Adaptado de Autor desconhecido

Bibliografia:

Este trabalho foi elaborado tendo como base a bibliografia listada abaixo, sendo que dela foram retirados as ideias centrais, referências e inclusive transcrições literais.

Publicação da Aug∴ Resp∴ Loj∴ Simb∴ São Paulo n° 43.

Publicação da Gran∴ Loj∴ Maç∴ do Estado da Paraíba.

The Grand Lodge of Free and Accepted Masons of the State of California.

Fonte: Freemason.

DAS COISAS INANIMADAS - Heitor Rodrigues Freire


Heitor Rodrigues Freire,  Corretor de imóveis e advogado é past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande, MS,


Nós vivemos imersos em um mundo cheio de pessoas, coisas, cheiros, sons, movimento e gostos e, envolvidos pelos nossos sentimentos, desejos, objetivos e projetos, poucas vezes nos damos conta da realidade que nos circunda.

Como nosso foco é sempre voltado para o que nos interessa no momento, deixamos de perceber um universo de energias e de situações que nos cercam e que são muito importantes, para as quais não damos a menor importância, de um modo geral.

Refiro-me às coisas inanimadas. Inanimadas? Por quê? Porque não têm movimento aparente? Existe algo no universo que permaneça inerte? Inanimado? Objeto que não tenha alma, que não tenha vida?

No meu entendimento tudo está conectado. Não há nada fora da vibração divina. Assim, tudo vibra, tudo tem vida, tudo tem energia e como tal, tudo tem uma espécie de consciência. É indispensável que tenhamos respeito por tudo que nos cerca. E que procuremos entender a função das coisas inanimadas para que possamos vibrar juntamente com elas e nos beneficiarmos disso.

Dentre os princípios herméticos, que são sete, codificados por Hermes Trismegisto, rei, sacerdote e juiz no Egito Antigo, o princípio de vibração é o terceiro: “Nada está parado, tudo se move, tudo vibra”. Nada neste mundo está em repouso, tudo está em constante movimento. Tudo tem a sua infinita vibração, embora algumas coisas pareçam estar em repouso, na verdade estão dentro de um universo que não para de vibrar.  

Um acontecimento bíblico, mencionado por Michael Berg (acadêmico, professor, co-diretor do Kabbalah Centre), editor da primeira tradução do Zohar em inglês (Sefer ha-Zohar – o Livro do Esplendor – sem sombra de dúvida, a obra principal e mais sagrada da Cabalá, a dimensão mística do judaísmo), ilustra bem essa afirmação: Quando Moisés recebeu a incumbência de salvar seu povo, o primeiro ato foi o da transformação das águas do rio Nilo em sangue, e quem golpeou o Nilo com a vara de Moisés foi Aarão, seu irmão. Moisés não poderia fazê-lo porque estaria demonstrando ingratidão com o rio que o acolheu e protegeu. 

Isto porque, como se sabe, quando Moisés era bebê foi colocado numa cesta por sua mãe na correnteza do rio, para fugir do decreto faraônico que determinava que os varões nascidos da descendência judaica deveriam ser sacrificados. O Nilo o acolheu e lhe deu guarida até que fosse encontrado pela irmã do faraó, que o adotou. 

Segundo os judeus, todo o reino dos objetos inanimados está em constante comunicação com ele mesmo, assim como com todas as coisas vivas. Portanto, é tremendamente importante que nunca haja um momento em que desrespeitemos qualquer coisa no mundo inanimado. 

Podemos ler isto e pensar: “Que possíveis sentimentos pode ter o rio Nilo? Será que realmente os sentimentos do rio Nilo ficariam feridos se Moisés os golpeasse? Mas a verdade é que uma consciência muito importante está sendo revelada para nós aqui, consciência que também podemos ver no trabalho a cada Shabat”.

A consciência de Moisés com relação ao rio Nilo, portanto, desperta em nós o entendimento de que há consciência em tudo no nosso mundo. Todos os objetos — animados e inanimados — estão interligados através de uma rede de energia e luz. Não foram só as águas do Nilo que salvaram Moisés quando ele estava flutuando rio abaixo, ainda bebê; foram também a energia e a luz que existem dentro do Nilo que o salvaram.

Precisamos da ajuda de tudo, inclusive das coisas inanimadas. E o Zohar diz que, assim como nossas paredes pensam em nós, assim também o fazem nossas roupas e todas as outras coisas. Esses objetos inanimados podem nos amparar, por isso não devemos fazer-lhes nenhum mal. A maioria de nós, no entanto, nem sequer está ciente de como os objetos inanimados são necessários para o nosso próprio desenvolvimento e crescimento espiritual.

Como é complexo e fascinante o mundo em que vivemos. E como é importante procurar conhecê-lo, reconhecê-lo e considerá-lo para que possamos interagir com ele e assim vivermos com consciência e alegria.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado

abril 18, 2022

A MAÇONARIA NA HISTÓRIA - Demerval Mattos Júnior


A maçonaria é uma instituição que teve origem nas antigas corporações de mestres pedreiros, construtores de igrejas e catedrais, que sob a sombra dos religiosos, erigiam as diversas edificações para o mundo católico romano.

Inicialmente, o trabalho era executado apenas pelos religiosos, que, além de arquitetos levantavam os edifícios com as próprias mãos. Os leigos foram aceitos lentamente quando se reconheceu que o trabalho honrava e era realizado por amor a Deus e à Igreja, mas afastava os monges de seus deveres religiosos e intelectuais.

CONSTRUTORES DE CATEDRAIS

Tudo aconteceu quando a ciência da construção foi revivida pelos padres do mosteiro de Cluny da ordem de São Bento numa época em que a Europa encontrava-se devastada pelas invasões bárbaras. Esse mosteiro, construído no século X, em 911, tornou-se o mais importante centro de conhecimento e cultura para onde se dirigiam altos dignitários da Igreja em busca de aperfeiçoamento e entendimento.

As construções de Cluny serviram de modelo para toda Europa. Seus arquitetos e mestres de obras permitiram a evolução da arte romântica para a arte gótica, marcando definitivamente seu gênio na beleza das grandes catedrais construídas nos séculos seguintes. As primeiras igrejas eram sem decorações e os cristãos ali se reuniam para orações e pregações, mas era também um ponto de encontro dos cidadãos e centro de reuniões onde discutiam assuntos da comunidade.

Em 1205, um sínodo reunido em Arras, permitiu a gravação de momentos bíblicos nas paredes dos santuários. Por meio de pinturas, gravações na pedra e esculturas, o artesão ganhou a oportunidade de criar e exercer sua arte em uma linguagem direta dos olhos para o coração. Foi o escritor francês Victor Hugo que chamou essas catedrais de Maravilhosos Livros de Pedra, onde os "simples", como eram chamados os homens do povo, analfabetos e arraigados na sua fé, conseguiam "ler" a expressão maior de sua crença nas imagens, altares, altos e baixos relevos, vitrais e símbolos das fachadas. Fulcanelli escreveu que a catedral "é o asilo inviolável das pessoas perseguidas e o sepulcro dos mortos ilustres. É a cidade dentro da cidade, o núcleo intelectual e moral do aglomerado, o coração da atividade pública a apoteose do pensamento, do saber e da arte".

Foi o pedreiro, aquele artesão que dentro de sua confraria como aprendiz havia aprendido a trabalhar a pedra lavrada, que construiu as grandes obras, erigindo edifícios e torres de altura até então inimagináveis. Associados a marceneiros, vidraceiros, canteiros e religiosos, os pedreiros criaram as maravilhas das igrejas góticas espalhadas pela Europa.

O MAÇOM OPERATIVO

Esse pedreiro, talhador de pedra ou free-maçom - conhecido por maçom operativo porque exercia na pedra a sua arte de construtor - é o antecessor do maçom moderno, especulativo, que surgiu oficialmente em 1717 e cujos preceitos fundamentais persistem até os dias de hoje.

O maçom medieval era como o homem de sua época, extremamente religioso, ligado à Igreja, obediente a seus mandamentos e doutrina, mas distinguia-se pela liberdade de locomoção através do continente em busca de trabalho nas construções de igrejas, abadias, mosteiros, castelos pontes e fortificações, o que não era permitido ao homem do povo, o servo, proibido de circular fora das terras do senhor feudal.

A liberdade de ir e vir, além de sinal de prestigio na sociedade em que vivia, trazia um nível de satisfação pessoal intensa que possibilitava na criatividade de seu trabalho repercutir a alegria de ser um homem livre. Ele trabalhava com a comunidade conhecia seus problemas e necessidades, e expressava em suas paredes as imagens de seu tempo.

O trabalho e a arte de construir uma grande igreja ou catedral era lento, por vezes ultrapassando séculos, interrompido por guerras, invasões, incêndios, falta de recursos, mudança de governantes, epidemias ou outras agruras que faziam reais os ditos da oração "a vós bradamos os degradados filhos de Eva, a vós suplicamos gemendo e chorando neste vale de lágrimas". Passado o problema e mais motivado em sua fé o povo da cidade, seus bispos, senhores feudais, reis e principes, ajudavam, patrocinavam e empregavam recursos no intuito de melhorar a renda da cidade e o comércio local. Eram contratados mestres construtores, com os quais concluíam-se contratos minuciosos discriminando deveres e obrigações de cada parte. Tais documentos encontram-se hoje à disposição de estudiosos com dados e solicitações que expõem a vida daqueles homens.  

O maçom operativo fazia parte de uma corporação, na qual exercia a função de aprendiz ou companheiro. O local das reuniões era chamado de Loja e funcionava tanto como ponto de encontro quanto de local de repouso. Nas Lojas eram guardados os instrumentos de trabalho, planos, desenhos e plantas. O acesso era vedado aos que não pertencessem à corporação. Em geral, as Lojas eram situadas junto ao canteiro de obras. Ali se discutiam e planejavam as tarefas do dia. Assim como em outras corporações, os maçons guardavam em segredo sua arte, pois trabalhar com pedras e erguer paredes firmes, abrir janelas e espaços exigia conhecimento e técnica, já que desmoronamentos e acidentes poderiam ser fatais em caso de erro.

Iniciavam o dia com atos de devoção. O mestre instruía sobre as tarefas; os companheiros cinzelavam as pedras, erguiam paredes, arcos e flechas das igrejas; os aprendizes lidavam com a argamassa e traziam as ferramentas. O pagamento era estabelecido a partir de contratos feitos com os habitantes da cidade, os quais previam também a construção da loja e o fornecimento de aventais e luvas para as necessidades do oficio. Raramente eram pagos em dinheiro mas em trigo, pão, cerveja e tecidos. Assim trabalharam durante séculos, conservando o monopólio das construções por meio de segredo e juramento.

A Maçonaria na sua forma atual, a forma Especulativa, teve início no séc. XVIII através da fundação em 24 de junho de 1717 da Grande Loja de Londres, resultado da reunião de quatro Lojas dos chamados Maçons Aceitos. Mas em realidade a Maçonaria Especulativa é sucessora de uma associação ainda mais antiga, a Maçonaria Operativa, que em suas origens retorna à Idade Média.  

Em meio à estabilização política do século X, as pessoas que até então se preocupavam somente em se proteger das invasões de bárbaros,  voltaram a se preocupar com os assuntos da fé e também a construir obras de melhor qualidade, utilizando a pedra em substituição à madeira.  

Esse ressurgimento religioso resultou na construção em grande escala de Igrejas, catedrais e abadias. Somente na Inglaterra do séc. XI foram construídas 5.000 igrejas, havendo a imperiosa necessidade de recuperar as técnicas de construção em pedra, há muito não utilizadas. Nessa época ressurge o trabalhador especializado na arte de construção com pedra, chamado de "Talhador de Pedra", ou Freemason ou Maçom Operativo.

O trabalho dos talhadores de pedra era realizado em varandas cobertas de palha ou telhas, chamadas de "Lodge" ou abrigo em português, traduzidos na Maçonaria para "Lojas", onde trabalhava, comia, repousava e discutia os problemas da obra. Naturalmente se formava uma corporação profissional que, por conta do caráter religioso da época, também resultou em uma confraria religiosa.

Mais adiante em 1364, o governo da Inglaterra obrigou a todos os tipos de operários a se organizarem em companhias de ofício. Os Maçons Operativos se reuniram então em uma das 91 companhias formadas na cidade de Londres. Ao mesmo tempo, o estilo de construção de igrejas havia mudado, abandonando-se o complicado estilo gótico por um estilo mais simples da Renascença. 

Aos poucos os Maçons Operativos foram perdendo seus clientes e sua força, entrando a seguir em franca decadência. A partir de século XVI as Confrarias, sob o risco de desaparecimento, abriram suas portas para os Maçons Aceitos, pessoas que podiam ajudar na manutenção da Fraternidade, mas que não tinham nenhuma relação com ofício de construtor.

Aos poucos as Lojas Operativas desapareciam e as Fraternidades que aceitavam os Maçons Aceitos floresciam, até que em determinada época as últimas se separam das Lojas Operativas, contudo mantendo a tradição de mútuo socorro e proteção.

Finalmente em 1717, quatro Lojas Especulativas dos Maçons Aceitos se reuniram para formar a Grande Loja de Londres, que passou a se denominar Grande Loja da Inglaterra, quando se expandiu além dos território da cidade de Londres. Ao admitir pessoas de todas as religiões, nacionalidade, raças e partidos, a Maçonaria cresceu rapidamente, sendo que em 1723 já eram 30, 64 lojas em 1725 e 102 em 1732.

MAÇONARIA ESPECULATIVA

A ascensão da burguesia trouxe mudanças. As construções de menor porte, a descoberta de novas técnicas, o emprego de materiais mais simples e o abandono das construções de pedra possibilitaram que pessoas de fora da corporação pudessem exercer o oficio. Simultaneamente, após a Renascença, no século XVII, as universidades da Inglaterra começaram a formar arquitetos especializados em projetar e construir. Esses profissionais, porém, encontraram intensa dificuldade em trabalhar, uma vez que, por tradição, as edificações ainda eram confiadas aos membros das corporações, os free-maçons. Os universitários procuravam entrar nas confrarias. O maçom operativo, sentindo diminuir progressivamente as possibilidades de trabalho, começou a trazer para o interior das lojas indivíduos que, embora nunca houvessem exercido o ofício de pedreiro, traziam um conhecimento novo. Preocupados em não desaparecer como corporação e manter suas aspirações liberais, os maçons livres resolveram trazer para as lojas pessoas de destaque, que não exerciam o oficio, mas comungavam com suas idéias e eram capazes de reforçar as Lojas.

Inicialmente, deram a esses homens a denominação de patronos, logo substituída por maçons aceitos. Dessa forma, a fraternidade de maçons livres e aceitos ganhou força e poder. Esse novo maçom é chamado de Especulativo (de especular: examinar com atenção, averiguar, observar, indagar, pesquisar). Ele traz para a corporação o ideário do iluminismo e a influência Rosacruz. Surgia o que os historiadores passaram a chamar de maçonaria especulativa (filosófica). Rapidamente os mais letrados passaram a predominar na corporação, mudando a orientação cultural, embora conservando os aspectos fundamentais da fraternidade, tais como: o sentimento de união, igualdade entre todos, liberdade e fraternidade, atributos que constituíam sua espinha dorsal. Além da organização ritualística, foi mantido todo o simbolismo básico, incluindo os aventais de pedreiro e os instrumentos de trabalho do maçom operativo (esquadro, compasso, fio de prumo, nível), bem como a parte secreta da corporação, constituída por sinais, toques e palavras de reconhecimento mútuos.

EXPANSÃO NA EUROPA

Fiéis a uma tradição de tolerância religiosa e liberdade, as lojas atuavam silenciosamente num continente em conflito. Recebiam e protegiam os perseguidos por sua crença ou aqueles envolvidos na luta contra o arbítrio dos poderosos. Em 1717, evoluindo e aumentando seus interesses sociais, quatro lojas – constituídas basicamente por maçons aceitos - reuniram-se em uma taberna de Londres. Ali foi criada a Grande Loja da Inglaterra, considerada a Loja mãe da maçonaria universal.

A expansão foi rápida, passando de quatro Lojas, em 1717, para 16 Lojas em 1721; 30 Lojas em 1723, até alcançar 102 Lojas em 1732. A maçonaria alcançou a França em 1730, espalhando-se rapidamente sob a égide da Grande Loja da Inglaterra.

Em 1733, foi criado o Grande Oriente da França tornando independentes e autônomas as Lojas daquele país. Sua influência estendeu-se rapidamente, fazendo com que os princípios maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade varressem a Europa. As Lojas se disseminaram com uma rapidez espantosa. A maçonaria atraiu a sociedade mais intelectualizada, a aristocracia, militares, escritores, músicos, poetas e filósofos. Isso fez crescer o debate e a livre discussão das idéias, contestando o Estado e a Igreja, ampliando a pregação de uma nova convivência entre os homens, sem preconceitos religiosos, sociais ou de raça.

Naquele momento da história ainda estava muito viva na memória de todos as guerras religiosas do passado que haviam devastado a Europa. O desejo de paz e tolerância concretizava-se no interior das Lojas, onde se rendia homenagem e glorificava-se o "Grande Arquiteto do Universo" em um ambiente de absoluta liberdade. Foi a época de ouro da maçonaria, em que ela adotou as idéias dos filósofos do Iluminismo, muitos deles maçons, quando se pregava a revolução universal pelo direito do homem a liberdade, a igualdade de deveres e obrigações de todos os cidadãos e a fraternidade entre todos os indivíduos.

Pregava-se discreta e subliminarmente nas Lojas a substituição dos regimes absolutistas por um regime constitucional, com um parlamento eleito pelo povo. A maçonaria nunca foi um partido político, mas após 1717 sempre teve em suas fileiras homens que atuaram fortemente na construção de uma sociedade livre e de bons costumes. Procurava-se evitar o debate político e religioso, mas as Lojas eram um espelho da sociedade em que viviam. Se a religião era praticamente comum a todos, os interesses políticos eram diversos, por isso em uma mesma cidade Lojas tinham direções diferentes.

Enquanto na França algumas Lojas defendiam a monarquia constitucional, outras lutavam pela república. No Brasil, anos mais tarde, nas lutas pela abolição da escravatura, aconteceu a mesma coisa. Havia na mesma Loja maçons a favor e contra a abolição. Outros constituíram Lojas diferentes, o que nunca enfraqueceu a instituição uma vez que a liberdade de pensamento sempre foi o mais preservado de todos os direitos.

Para a maçonaria, não é somente o aspecto político que é primordial. Além do ideário de liberdade, igualdade e fraternidade, as manifestações de cultura, a busca incessante da verdade, o respeito a natureza e ao homem sempre exerceram uma imensa atração para os mais diferenciados indivíduos, impressionados com o pensamento humanístico e filantrópico da instituição. Como era de se esperar, os governos absolutistas combatiam e proibiam com energia as reuniões maçônicas, não admitindo qualquer tipo de literatura ou manifestação.

A MAÇONARIA E A IGREJA

Desde a introdução da maçonaria na França, ela sempre foi vista com suspeição pela Igreja Romana, em virtude da sua pregação de máxima tolerância religiosa. Sucessivos Papas emitiram bulas, encíclicas e outras ordens proibindo os católicos de pertencerem à maçonaria sob pena de excomunhão. Houve intensas lutas políticas entre a instituição maçônica, o Estado e a Igreja.

Nesses momentos, os maçons que, por formação, eram ligados à Igreja em fé e devoção fizeram do segredo maçônico um elemento fundamental para a sobrevivência em uma vida dupla e por vezes perigosa, uma vez que são obrigados por seus regulamentos e rituais a seguir a lei de suas nações. A história da maçonaria em cada país é um relato de diferentes trajetórias e cada povo tem uma narração diferente sobre sua influência nos fatos ocorridos nos últimos séculos. Livre e tradicionalista na Inglaterra, revolucionária e republicana na França, emancipadora e republicana nas Américas, unificadora e guerreira na Itália, a sublime Instituição escreveu com letras indeléveis e gravou no coração de todos seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

AS TRÊS OBRIGAÇÕES INICIAIS DO MAÇOM



As três primeiras obrigações do maçom consistem no Silêncio, na Solidariedade e na Submissão.

A primeira é o Silêncio acerca de tudo quanto vier a ouvir, ver, descobrir e conhecer sobre a Ordem.

Declarando-se disposto a sujeitar-se a esta prática, o neófito é submetido ao teste da Taç.’. Sagr.’. quando jura “guardar o mais profundo silêncio” sobre todas as provas a que fosse exposta sua coragem.

Este dever é confirmado mais uma vez, desta feita de joelhos e solenemente em presença de Deus – O Supremo Arquiteto do Universo – quando então jura “nunca revelar os mistérios da Maçonaria” que lhe forem confiados.

Esse silêncio consiste no tradicional Sigilo Maçônico, uma vez que os assuntos de maçonaria e os ensinamentos maçônicos são dados, exclusivamente, a maçons regulares e em lojas regularmente constituídas.

A prática do Sigilo Maçônica se sustenta na sabedoria da Ordem cujos aspectos esotéricos não serão todos transmitidos no grau de Aprendiz.

A maçonaria instrui que o ensino esotérico não se faz proveitoso a não ser quando dedicado a quem esteja devidamente preparado para recebê-lo, isto é, capacitado para entender o seu real sentido.

Esta obrigação está em perfeita sintonia com as palavras de Jesus: “Não deis as coisas sagradas aos profanos e não lanceis vossas pérolas aos porcos”.

O Budismo também recomenda semelhante cuidado quando instrui: “Não turbe o sábio a mente do homem de inteligência tardia”. Hermes Trimegistos também apresenta a mesma doutrina (Hermetismo) com a expressão: “Os lábios da sabedoria estão mudos para os ouvidos da incompreensão”.

A segunda obrigação é a Solidariedade cuja doutrina ensina que devemos vencer as paixões ignóbeis e, em seu lugar, cultivar os sentimentos nobres que impulsionam a beneficência.

Devemos socorrer nossos irmãos, prevenir suas necessidades, mi-norar seus infortúnios, assisti-los com nossos conselhos e nossas luzes.

Também a Amizade é cultivada em nossos Templos como um dos fundamentos da doutrina maçônica.

Nunca devemos perder a oportunidade de sermos úteis ou de atendermos a um pedido de socorro.

A amizade antecede a fraternidade maçônica.

Só poderemos conhecer as virtudes e as limitações do nosso amigo se com ele convivermos nas várias circunstâncias que a vida nos oferece.

Por meio dessa convivência é que poderemos descobrir a vocação maçônica que nos levará a reconhecer no amigo um potencial irmão.

A Amizade é uma virtude que se manifesta sob a forma de dedicação, interesse, benevolência, tolerância, afetividade e sentimento de união permanente com o amigo.

Essa permanência é que leva à fidelidade, à solidariedade e à confiança mútuas, que se fortalecem naturalmente com o tempo e com a convivência fraterna.

A amizade cultuada na doutrina maçônica não é pois, um dever moral ou uma obrigação regimental.

É, antes de tudo, um dos resultados da verdadeira iniciação.

Em sendo fruto de uma metamorfose iniciática, a amizade fraterna é desinteressada, altruística e visa sempre ao bem e ao progresso do outro.

Quanto à terceira obrigação, a Submissão, que se caracteriza pela fidelidade à Ordem como uma das obrigações do Iniciado.

Ele se submete às suas leis e se alia aos seus fins.

A Lei é a maior autoridade do homem livre.

A solidariedade implica a observância de regras comuns na luta por um ideal coletivo livremente assumido.

A submissão é um dos elementos da virtude moral pela qual o homem livre acata e cumpre leis, ordens e determinações emanadas legitimamente.

Essa virtude de Obediência é uma atitude racional, forte, que se fundamenta no princípio da autoridade, na plena consciência dos requisitos do bem comum.

A submissão do homem livre não responde a estímulos da coerção, da exortação, da ameaça ou da recompensa material, mas, responde fielmente à sua consciência moral de fidelidade ao dever e ao compromisso livremente assumidos.

Extraído do livro “Instrucional Maçônico – Gr.’.de Apr.’., de Tito Alves de Campos, pg. 80, GOB, Brasília, DF – 2007).