abril 27, 2022

SIMBOLOGIA OCULTA DO XADREZ

O xadrez, como outros jogos e costumes contemporâneos, surge de um pano de fundo mítico. O jogo estratégico que busca encurralar o rei inimigo vem da Índia antiga. Como afirma um pesquisador qualificado do simbolismo antigo, o tabuleiro de xadrez "simboliza a existência concebida como um campo de ação para as forças divinas. Em seu significado mais universal, o combate representado pelo jogo de xadrez representa a batalha mítica dos devas com o asuras, dos deuses com os titãs, ou dos anjos com os demônios, derivando disso todos os outros significados do jogo."

O exército branco é o da luz, o preto é o das trevas. Numa ordem relativa, a batalha representada no tabuleiro representa, bem, a dos dois exércitos terrestres.

O que mais fascina o homem de casta nobre e guerreira é a relação entre vontade e destino. Pois bem, é exatamente isso que o jogo de xadrez ilustra, justamente porque suas sequências são sempre inteligíveis, sem serem limitadas em sua variação. Um rei da Índia queria saber se o mundo obedecia à inteligência ou à sorte. Dois sábios, seus conselheiros, deram respostas contrárias, e para provar suas respectivas teses, um deles pegou o xadrez, por exemplo, em que a inteligência prevalece sobre o acaso, enquanto o outro trouxe alguns dados, a imagem da fatalidade.

Em cada fase do jogo, o jogador é livre para escolher entre várias possibilidades, mas cada jogada trará uma série de consequências inevitáveis, de modo que a necessidade limita cada vez mais a livre escolha, aparecendo o fim do jogo não como resultado. do acaso, mas como resultado de leis rigorosas.

Aqui se revela não apenas a relação entre vontade e destino, mas também entre liberdade e conhecimento: a menos que haja um descuido do adversário, o jogador resguardará sua liberdade de ação apenas na medida em que suas decisões coincidam com a natureza do jogo. , ou seja, com as possibilidades que isso implica. Em outras palavras; a liberdade de ação é aqui solidária com a previsão, com o conhecimento das probabilidades; inversamente, a pulsão cega, por mais livre e espontânea que possa parecer à primeira vista, acaba se revelando como uma não-liberdade.

O xadrez representa o indivíduo capaz de governar seu mundo externo ou interno de acordo com suas próprias leis.

Esta arte supõe a sabedoria, que é o conhecimento das possibilidades; a verdadeira sabedoria é a identificação mais ou menos perfeita com o Espírito, este último simbolizado pela qualidade geométrica do tabuleiro, selo da unidade essencial das possibilidades cósmicas.

O Espírito é a verdade; pois seu homem é livre; fora dela, ele é escravo de seu destino. Esse é o ensinamento do jogo de xadrez.

abril 26, 2022

DIA MUNDIAL DO LIVRO - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Considerado um dos maiores intelectuais da maçonaria no país.

Sem querer entrar no conceito estético, formal e nem de seus primeiros indícios materiais é imprescindível que se faça uma breve referência histórica sobre o surgimento do Livro, cuja origem está intima e contemporaneamente ligada à escrita. 

A primeira versão do que se conhece por Livro, diz respeito aos Sumérios, que o criaram há cerca de 3200 anos A.C.  na Mesopotâmia, com seus escritos sobre "tabletes de argila".  

Posteriormente desenvolvido pelos gregos na cidade de Pergos, de onde surgiu a expressão pergaminho, que nada mais eram do que peles de vaca, ovelhas ou carneiros através do que se faziam as transcrições.

Inúmeros relatos históricos dão conta de que no início da Idade Média, os Judeus e os Muçulmanos foram os responsáveis por trazerem o "papel"  para a Europa, e que com o tempo deu origem à versão clássica do livro confeccionado  através deste elemento.

Mais recentemente, o Livro ganhou uma versão "high-tech", os chamados  e-books, diminutivo em Inglês para (Electronic  Books) ou seja; um arquivo configurado em forma de um livro, que funciona num computador.

O substantivo "livro" na língua portuguesa tem sua etimologia proveniente do latim "liber", termo relacionado à cortiça da árvore.

Porém, o conceito filosófico e semanticamente o que guarda melhor definição para o Livro, é o que traduz seu significado como uma obra de cunho literário, artístico, filosófico, lendário, científico ou de qualquer outra natureza fruto do conhecimento e da experiência humana..

Metafóricamente  o livro é um ser vivo, cuja família real se constitui de Autor e Leitor, e seu habitat pode ser uma editora, uma livraria, uma biblioteca, ou a casa de cada um de nós.

São sob os nossos olhos e debaixo de nossos braços que o sentimos, compartilhamos de seu conteúdo e discutimos ou debatemos livremente sobre seu teor, tal qual "um livro aberto".

O livro traduz fórmulas, experimentos, contos, prosas e poesias que se tornam referências e objeto de desejo, mas que concomitantemente são capazes de provocar dualismo,  alternâncias e pontos de divergências e convergências, tal qual ocorre no seio de qualquer família.

O livro é em si, um pedaço de vida que seu autor delega à história, e dele se esperam as mais profundas e diferentes reações.

Manusear suas páginas é um nobre exercício físico, mas sobretudo mental, em que a intelectualidade promove um conflito íntimo e inquietante de cada folha superada e diante de cada novo capítulo que se pronuncia.

O livro é antes de tudo, um guardião de pensamentos e reflexões, de lógica e de raciocínio que constrói uma ponte de interação entre o autor e o leitor.

O mérito de um livro não se julga pelo seu conteúdo, sua estética, suas ilustrações, sinais ou imagens, mas sim pelo simples fato de existir.


CULTURA E A SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DOS MAÇONS - Ubyrajara Souza M.'.M.


O conceito de cultura é bastante amplo e complexo.

Na visão acadêmica, ele pode ser desenvolvido sob diversos aspectos: antropológico, sociológico, filosófico etc.

Entretanto, para efeito deste artigo, podemos simplificar o seu entendimento adotando uma definição mais ecumênica: cultura é o termo genérico usado, basicamente, para significar duas acepções diferentes.

De um lado, o conjunto integrado de usos e costumes, de comportamentos, valores, regras morais, e de instituições que permeiam e identificam uma sociedade ou uma época.

E, de outro lado, artes, erudição e demais manifestações mais sofisticadas do intelecto e da sensibilidade humana, consideradas coletivamente. 

A cultura explica e dá sentido à cosmologia social, portanto, é impossível de se desenvolver individualmente.

Resumindo, podemos dizer que cultura é a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período. 

A maçonaria, como todo grupamento humano, possui identidade própria.

E reduzindo o conceito de ‘cultura’ a um universo específico, podemos chamar de cultura maçônica a esse sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que conferem sentido à prática da maçonaria, formando um conjunto de respostas de o que é aprendido e partilhado pelos maçons e que lhes confere essa identidade própria. 

Há os que tratam a cultura maçônica como um sistema de conhecimento da realidade, como o código mental dos maçons, não como um fenômeno material, mas cognitivo; e há os que entendem a cultura maçônica como um sistema simbólico que só poderá ser apreendido por meio de interpretação e não por mera descrição. 

Na verdade o conceito de cultura maçônica deve congregar a interpretação de seus símbolos, a prática de tradições maçônicas e suas lendas míticas.

Não somente aquelas que foram incorporadas dentro dos rituais e são exemplificadas em suas cerimônias, mas também aquelas que, embora não figurem nas instruções das lojas, foram transmitidas oralmente como partes de sua história e enuncia, em seu cânone de instrução, verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana, através do freqüente uso de arquétipos, sem se referir à veracidade dos relatos. 

A filosofia da maçonaria incentiva o homem a buscar o autoconhecimento, despertar no maçom o seu pensar em sua própria existência, independentemente dos agrupamentos sociais a que pertençam individualmente. 

Não cerceia o seu adepto ao estudo de qualquer ciência (esotérica ou exotérica) como cultura auxiliar, mas pretende que a base dos ensinamentos maçônicos esteja sempre presente, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces em que se levanta a Ordem.

*Assim sendo, o futuro da maçonaria está diretamente ligado ao desenvolvimento cultural do maçom.*

E, de um modo geral, o maçom deve estar consciente de que se cultura é informação, isto é, um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos contemporâneos e aos vindouros, a cultura maçônica deverá ser o resultado da forma como os maçons receberam e transmitem seus ensinamentos.

O importante é estar atento que ele não só receba a cultura dos seus antepassados como também crie elementos que a renovem.

E se cultura é um fator de humanização, deve compreender que esta transformação só ocorrerá porque ele é parte de um grupo em constante aperfeiçoamento cultural.





CONSTRUINDO A PEDRA CÚBICA - Thiago Mangelli M.'.M.'.


A pedra cúbica é o símbolo da medida áurea, do desenvolvimento harmônico e equilibrado que supera todas as deficiências e controla a tendência para os excessos de qualquer natureza, pois todo excesso, em qualquer sentido, é uma falta de controle.

Exceder-se, em qualquer sentido, é uma deficiência, pois indica a falta de qualidade oposta que deve controlar esta tendência.

É uma das asperezas alegóricas da pedra bruta que deve ser desbastada, é uma irregularidade no desenvolvimento, em determinado sentido que nos afasta do equilíbrio perfeito e da perfeição cúbica ideal.

A beleza da figura humana, assim como a de um edifício ou obra de arte, é da mesma maneira função e resultado do grau de equilíbrio, harmonia e proporção perfeita entre todas as partes que compõem o conjunto.

Quando existir desproporção e excesso, em qualquer sentido, manifestar-se-á a imperfeição que afasta a obra da medida áurea.

A saúde perfeita e a eficiência física também dependem do grau de justo equilíbrio, harmonia e proporção que sabemos manifestar em nossos hábitos fisiológicos.

Todo excesso, em qualquer sentido, se converte em elemento destrutivo.

No campo moral, todo vício é um mau companheiro que é preciso revelar e disciplinar, para que não siga exercendo uma influência destrutiva sobre a obra da vida e acabe tornando inepta a pedra que deveria ocupar seu lugar no edifício social e humano.

O mesmo deve ser dito, no plano da inteligência, das diversas qualidades e faculdades que caracterizam a genialidade verdadeira, ou seja, a produtiva.

O chamado gênio não é constituído somente pelo desenvolvimento da faculdade da memória, nem da imaginação; não consiste unicamente na abundância das idéias, nem no desenvolvimento da concentração.

Nenhuma dessas qualidades, isolada, produz o gênio verdadeiro que só se realiza com o perfeito desenvolvimento equilibrado de todas as qualidades da inteligência, sem que haja excessos e desde que cada uma dessas qualidades e faculdades seja capaz de conservar o lugar ao qual pertence e atuar em perfeita harmonia às demais.

O que necessitamos é de uma cooperação e um desenvolvimento harmônico de ambas as faculdades.

Havendo o Aprendiz trabalhado na Pedra Bruta com o Malho e o Cinzel, transformando-a num cubo imperfeito, cabe ao Companheiro polir este cubo com o auxílio do esquadro, do Nível e do Prumo, tornando-a finalmente em pedra cúbica.

Desbastadas as arestas da personalidade ainda como Aprendiz, cabe agora ao Companheiro disciplinar suas ações através do conhecimento adquirido, realizando contornos delicados e fazendo então, do seu "eu", um cubo perfeito, a pedra polida que assim estará apta a ser utilizada na construção do edifico do Templo, isto é, a humanidade Perfeita.




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abril 24, 2022

POR QUE NOS ATACAM TANTO? - Paulo André







De novo esse assunto? 

Acontece que o mundo está cada vez mais mergulhado na internet, estamos sabendo lidar com o mundo virtual?

Cada vez mais, existem pessoas nos atacando, com teorias de conspiração, somos nós os culpados de tudo, e a pergunta ecoa, por que nos atacam tanto?

A resposta é simples:   Por Dinheiro!

Além de ibope e influência, sim as redes sociais são uma boa forma de se ganhar dinheiro e influência, então vale tudo, qualquer assunto que renda visualizações

Recentemente um canal de uma jovem, que virou estrela denunciando que nós somos a "Nova Ordem Mundial" blá blá blá, atingiu o pico de 700 mil inscritos, decidiu agora "desmascarar a Maçonaria"

Adquiriu livros, fez resumos tirando frases do contexto, com isso montou um curso,  e está vendendo na internet

O valor do curso é R$490,00, e promete subir o valor, a medida que for enchendo a plataforma de informações

No meio de 700 mil seguidores, não é difícil conseguir 100 inscritos que comprem o tal curso, ou seja, fatura-se R$49000,00 nessa brincadeira, desconfio que seja  muito mais

E não é esse o único curso vendido, sim, a rede social pode ser uma fábrica de fazer dinheiro

Com métodos diferentes, tem diversos outros canais, fazendo o mesmo, as custas de atacarem a gente

Devemos nos preocupar?

Com quem fala não, a grande preocupação é com a imensa maioria leiga que escuta, e acredita, esses vídeos costumam bater em média 100 mil visualizações, com isso vai se criando um clima de anti-
maçonaria principalmente entre os mais jovens

Como tornar feliz a humanidade, se a humanidade desconfiar e não gostar de nós?

Ainda não temos uma resposta para esse problema, ele ocorre principalmente dentro do mundo virtual, e pouca atenção damos ao fato

Faz cinco anos que venho batendo nessa tecla sozinho, creio que o futuro de nossa Ordem, vai estar atrelado aos jovens e estes estão no mundo virtual, onde somos massacrados constantemente, sem esboçar reação alguma

Faço palestras, já dei entrevistas, participei de Podcast, tentando esclarecer o assunto, e continuo a disposição, a quem de boa vontade, quiser compreender o problema, que vem de longa data, e já causou graves problemas para nós

Claro, não estou vendendo curso, nem jamais cobrarei um centavo sequer para explicar o assunto

Acordar antes que seja tarde demais.


O NOVO REI E A MAÇONARIA - Heitor Rodrigues Freire


Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis,  Grão Mestre “Ad Vitam” da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande.


A nossa Sublime Instituição, ao longo dos tempos, foi sofrendo muitas influências, produzindo alterações conjunturais.

Hoje nesta pós pandemia, durante a qual ficamos vivendo um tempo com reuniões virtuais, convivendo com tecnologia a mais avançada, foi suscitado um novo rei que se tornou soberano, reinando em todo o planeta de forma absoluta e total, sem contestação de ninguém – tanto que todos se dirigem a ele, de forma submissa, reverente, abaixando a cabeça e permitindo seu domínio completo: o celular.

Seu predomínio é tão grande que quando, eventualmente se perde, instala-se o pânico. 

A vida de todos ficou dependente desse instrumento tão dominador e tão útil, ao mesmo tempo, que cabe na palma da mão. A submissão é tão grande que o diálogo entre as pessoas foi eliminado de forma quase total. Todos deixam de participar de acontecimentos presentes para filmá-los e depois mostrá-los como um troféu.

Essa distorção ocorre pelo uso inadequado, pois o aparelho galvanizou de tal forma a atenção das pessoas – que não percebem essa dominação – que gerou uma dependência enorme, e acabou causando um dos males do século: a ansiedade. A ansiedade em aparecer, em demonstrar protagonismo, uma vontade imensa de ser importante. 

Antigamente, a ansiedade agia de forma natural, como reação a um perigo e com a adrenalina gerada proporcionava a ação de defesa. Mas, hoje, com as consequências da vida moderna, muito agitada, o uso indiscriminado do celular provoca manifestação e frequência aceleradas.

E essa distorção chegou à nossa Ordem.

Antes de ingressarmos ao Templo, todos conhecemos a exortação que o Mestre de Cerimônias faz: “...deixemos para trás os pensamentos comuns, os dissabores, as angustias, os problemas do cotidiano, enfim, deixemos aqui os pensamentos profanos...”

Quando ali adentrarmos, local sagrado, onde circula a energia divina com a invocação do Grande Arquiteto do Universo, a presença dos Irmãos da Ordem Maior e do Oriente Eterno, devemos conscientizar-nos da necessidade imperiosa de harmonizar-nos com esse ambiente.

Mas hoje isso raramente acontece. Porque os Irmãos não se separam dos seus celulares e frequentemente os acionam – não adianta desligá-los –, introduzindo assim uma energia que profana aquele recinto sagrado. Não estou sendo dramático. Estou observando o que acontece e o que implica em carrear para dentro “os dissabores, as angustias, os problemas do cotidiano...”

Já observei altas autoridades acionando o “rei”, dentro do Templo, abaixando a cabeça para tentar esconder o que se está fazendo.

É tempo de agirmos com sinceridade e consciência para coibir essa profanação. Para que isso aconteça, sugiro que nossas autoridades determinem que os celulares sejam deixados na sala dos passos perdidos. Porque embora também por orientação, os celulares sejam desligados é cada vez mais comum observar-se Irmãos utilizando o celular dentro dos Templos. E esse ato, acaba profanando o recinto porque se transporta para dentro as energias de fora. 

Pelo andar da carruagem, contudo, não temos como dispensar o uso do celular. É um equipamento criado para facilitar a comunicação moderna, sempre tão rápida e exigente. A saída é aprender a utilizá-lo de forma adequada e coerente, sem nos submeter ao que os outros pensam e procurar vencer a ansiedade de querer mostrar o que, na realidade, não somos. Ou seja, temos que agir com consciência.

Heitor Rodrigues Freire – Grão Mestre “Ad Vitam” GLEMS.

abril 23, 2022

MAÇONARIA E SEUS SANTOS PROTETORES - parte 2/2

 


OS DOIS SÃO JOÃO E SEU RELACIONAMENTO COM O DEUS ROMANO JANUS

O Cristianismo uma vez implantado tratou de extirpar toda a tradição pagã até então existente em Roma, que era ditada pelo mitraísmo, religião de origem persa existente há 2700 A.C. a qual confrontava com os novos princípios cristãos, que estavam sendo implantados.

Roma tinha entre seus deuses locais, um deus tipicamente romano Janus ou Joannes, que deu nome ao mês de Janeiro, e que era representado por duas faces (bi frons), uma olhando para frente, para o futuro, e outra olhando para trás, para o passado.

As festas solsticiais de Janus eram celebradas em 21 de junho e 21 de dezembro dias de entrada e saída do verão e inverno respectivamente, isto no hemisfério norte, no hemisfério sul é o contrario, e ainda comemoravam no dia 25 de dezembro o nascimento do menino Mitra.

Segundo vários autores houve uma adaptação de Janus, sendo o mesmo cristianizado sob o nome dos dois São João. Inclusive pela semelhança do nome Joannes ou Janus com João. Há quem diga que ambas são duas versões de um único ser. Janus aparece em muitas gravuras antigas, vitrais, moedas antigas sempre com as duas faces. A igreja Católica não concorda com esta interpretação.

O cristianismo aproveitou a religião, tradição e os costumes dos pagãos modificando de acordo com a conveniência cristã da época. É lógico que o cristianismo que estava sendo implantado não poderia manter a adoração ao deus-Sol.Por isso, substituíram-no por Jesus Cristo. Os antigos especialmente no hemisfério norte comemoravam a noite de 20 para 21 de dezembro o solstício de inverno até com sacrifícios humanos, o renascimento do Sol (Natalis invicti solis). No dia 20 para 21 de junho igualmente era comemorada uma festa solsticial de verão. Esta regra valia para o hemisfério norte, sendo no hemisfério sul, o contrário. As datas que os cristãos adotaram para os dois São foram uma em 24 de junho João Batista e a outra em 27 de dezembro para São João Evangelista estão muito próximas das datas solsticiais celebrada pelos pagãos. E ainda aproveitaram o nascimento de Mitra 2.700 a.C. que os pagãos adotavam no dia 25 de dezembro para ser o dia do nascimento de Cristo e ainda criaram um novo calendário iniciando o ano zero com o nascimento de Cristo.

O Cristianismo naquele momento histórico de sua existência teve que fazer apropriações das tradições e costumes dos pagãos e dar a sua forma de ser, para incorporar as inúmeras fileiras de pessoas convertidas à nova religião, que estavam ainda culturalmente programados pela religião antiga.

Ainda no simbolismo que foi transmitido pela Maçonaria Operativa nas figuras de São João Batista e São João Evangelista que estão representados nos painéis dos ritos em seus rituais por um círculo com duas paralelas tangenciais. Este círculo representa o ciclo anual ou ainda a trajetória do Sol correspondendo os pontos de contatos destas duas tangentes diametralmente opostas aos dois pontos solsticiais que correspondem ao Trópico de Câncer no hemisfério sul e ao Trópico de Capricórnio no hemisfério norte.

Para os maçons, círculo representa o Sol e as duas paralelas tangenciais representa os dois São João. Para os maçons apegados à corrente calcada no Antigo Testamento elas representariam Moisés e Salomão, mas está abandonada esta interpretação.

SÃO JOÃO DE JERUSALÉM, SÃO JOÃO ESMOLER OU HOSPITALEIRO

O Rito ou Maçonaria Adonhiramita adota como padroeiro São João de Jerusalém também conhecido como São João Esmoler ou São João Hospitaleiro. É um santo reconhecido pela Igreja. Teria nascido no ano de 550 D.C. e falecido em 619 em Amamonte-Chipre. Este São João não tem relação com os santos da Maçonaria Operativa.

Segundo Ragon, quem trouxe este santo para a Maçonaria, foi o Barão de Tschoudy e outros maçons da época que acreditavam que a Maçonaria era originada das Cruzadas. Segundo a lenda, este São João seria filho do rei de Chipre e teria deixado sua terra natal e abdicado de seus direitos como herdeiro do trono e teria partido para Jerusalém para dispensar socorros aos peregrinos e soldados cristãos feridos. Todavia segundo outros autores afirmam que ele seria o Patriarca de Alexandria e teria enviado recursos à Modesto de São Teodoro na Palestina para reconstruir as igrejas destruídas pelos árabes. Há também outra lenda que diz que ele fora grão-mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém no século VII. Ainda existem autores que o identificam com São João da Escócia, figura lendária na Maçonaria que jamais existiu.

SÃO JOÃO DA ESCÓCIA

Este “santo” jamais existiu. No entanto nos antigos rituais do Grande Oriente do Brasil ele era citado e mesmo nas paredes dos átrios ou Sala dos Passos Perdidos dos templos havia imagens deste “santo”. Também não está relacionado como santo da Igreja. Encontra-se citação com este nome como o nome de uma loja francesa fundada em Marselha em 1751 e que teria desempenhado papel importante na Revolução Francesa, mudando de nome após terminar a revolução.

Também citam alguns autores que ele teria este nome porque seria o santo de uma igreja construída na Escócia por franco-maçons.Fala-se também que seria o título de uma Ordem de Cavalheiros Espanhóis, bem como outra de São João da Palestina, que combateram em Jerusalém os chamados infiéis. Mas não se tem comprovação.

Enfim, há um grande número de “São João” que constam como santos do hagiológio da Igreja, a saber:

JOÃO BATISTA, JOÃO EVANGELISTA, JOÃO ESMOLER, João Batista Scalabrini, João Batista de La Salle, João Batista Piamarta, João Batista Berchmanns, João Bosco, João de Brito, João Crisóstomo, João Clímaco, João da Cruz, João de Deus, João Damasceno, João Ogilvie, João de Sahagum ou João Facundo, além do Papa João I e João II.

Não se pode negar que a Maçonaria tem um relacionamento profundo com o Cristianismo. A Maçonaria emprestou da Igreja Católica a cópia do próprio templo maçônico, muitos símbolos, objetos, muitos costumes que foram adaptados, vestes (vide os graus superiores do REAA). E também emprestou o Batista e o Evangelista.

Ressalte-se que quando começou a ser falar em Maçonaria Operativa, a Igreja Católica já existia há mais ou menos mil anos. Com relação aos santos protetores da Maçonaria eles não têm para a Ordem um valor religioso, e sim simbólico, Portanto os dois São João têm seu lugar dentro da Maçonaria, através de seus evangelhos com simbolismo esotérico profundo, e também diferente da interpretação religiosa e do público profano.

REFERÊNCIAS

ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Editora Artenova - S.A.- vol. IV - Rio de Janeiro, 1976

CASTELLANI,  José - Cadernos de Estudos Maçônicos - Consultório Maçônico II - Editora Maçônica  “A Trolha” Ltda. - Londrina, 1989

NAUDON, Paul - A Maçonaria - Edipe - Artes Gráficas - São Paulo, 1968

PALOU, Jean - A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática - Editora Pensamento - São Paulo, 1964

VAROLI, Theobaldo F. - Curso de Maçonaria Simbólica - Editora A Gazeta Maçônica S.A - São Paulo,

MAÇONARIA E SEUS SANTOS PROTETORES - parte 1/2




Nos antigos Collegia Fabrorum romanos, cada corporação de construtores tinha seu deus ou seus deuses protetores, como era o caso de Janus, o maior protetor das corporações de artífices. Seus adeptos celebravam anualmente as festas solsticiais de verão e inverno.

Logo no início do Cristianismo, as associações monásticas, guildas ou confrarias de pedreiros, consideradas como precursoras da Maçonaria Operativa, que estavam vinculadas às obrigações religiosas, passaram a adotar os santos católicos como seus protetores, padroeiro, patronos, os quais alguns eram sucessores dos deuses anteriores e não passavam de antigos deuses transformados ou adaptados em santos cristãos e outros santos criados pela própria Igreja entre os quais se destacam alguns já conhecidos como os primeiros mártires dos primeiros tempos do cristianismo.

O exemplo dos pagãos que tinham um ou mais deuses como padroeiros, posteriormente haviam corporações da Maçonaria Operativa que tinham até mais de um santo padroeiro, isto conforme a região e país.

Alguns santos que foram patronos de algumas corporações: São Bleso, São Luiz, São Nicolau, São José, Santa Ana, São Brás, São Gregório, Santo Alpiniano, São Martinho,São Martim, Santo Estevão, Santa Bárbara, São Tomás e os Quatro Coroados. Nem todos estes santos fazem parte dos santos reconhecidos pela Igreja Católica. Depois a Maçonaria adotou os São João, o Batista e o Evangelista.

Diz a lenda, que São Dunstan que teria sido Bispo da Cantuária e que teria sido grão-mestre dos franco-maçons da Inglaterra que em 959 D.C. e que teria reanimado os trabalhos das confrarias as quais estavam decaídas após a morte do rei Athlestan, o lendário-rei arquiteto. Esta lenda é contestada por muitos autores.

São Swithun de Winchester, santo anglicano teria sido o quarto grão-mestre das confrarias dos franco-maçons da Inglaterra de 856 a 872 D.C. Também não há comprovação desta narração. Interessante que a Igreja anglicana não canoniza oficialmente os santos, apesar de aceitar certos santos católicos tradicionais e conservar para estes, tal título, por tradição, não pela religião.

Atualmente os santos mencionados, a não ser os Quatro Coroados e os São João, não fazem parte de qualquer de qualquer segmento maçônico. No entanto existem outros santos que merecem ser citados e comentados pela influência, pelo menos histórica e tradicional e também pelas festas em seu nome entre os pedreiros livres.

Cita-se Santo Albano que serviu no exército romano, depois voltando à sua terra natal Verrulan na Inglaterra, nomeado pelo imperador Crasso, como governador da praça forte local, onde também era mestre de obras. Santo Albano teria implantado ali um sistema usado pelos franco-maçons, melhorando a situação dos operários que viviam em regime de escravidão. Posteriormente, sob as ordens de Deocleciano, imperador de Roma, ele foi decapitado, porque se tornou cristão. A Igreja Católica celebra no dia 22 de junho e a Igreja Anglicana no dia 17 de junho, como dia deste santo. Ele é considerado o primeiro mártir cristão da Inglaterra.

Santo André, patrono da Escócia tem sua festa em 30 de novembro. Apesar da Maçonaria daquele país aceitar São Jorge como seu padroeiro, faz a sua grande festa no dia de Santo André. Note-se que no painel simbólico de vários ritos, na Prancheta da Loja aparece uma cruz em X também chamada a Cruz de Santo André ou “Crux Decussata”. Santo André teria sido martirizado numa cruz deste tipo. Ainda a cruz em X que aparece na Prancheta é usada para o manuseio do alfabeto maçônico.

São Jorge é padroeiro da Inglaterra e é festejado em 23 de abril pela Grande Loja Unida da Inglaterra. As constituições maçônicas inglesas determinam que seja realizada anualmente uma grande festa em sua honra na sexta-feira seguinte ao dia de São Jorge.

Os Quatro Santos Coroados têm a sua história citada no Poema Régio. Conta-se que quatro escultores Severo, Severiano, Carpóforo e Vitorino, os quais por se negar a esculpir imagens de deuses pagãos, foram vergastados até a morte com varas revestidas de chumbo. Há autores que se referem aos quatro Santos Coroados como sendo soldados e não escultores.

Todavia, existem outras versões, segundo as quais a Igreja Católica por longo tempo desconheceu o nome dos quatro coroados e que o Papa Melquíades, em 310 D.C, os tornou santos ao celebrar no dia 08 de novembro o dia de outros cinco escultores Claudio, Castor, Sinforiano, Simplício e Nicostrato, que teriam sido asfixiados em barris de chumbo, no ano 287 D.C., porque, dois anos após a morte dos quatro coroados, também se negaram a esculpir estátuas pagãs. Estes nove mártires foram sacrificados por ordem de Deocleciano, cruel imperador romano, e inimigo dos cristãos. Deocleciano reconhecia Mitra como seu deus principal. O nome destes mártires citados não consta como santos citados no atual rol da Igreja Católica. Os Quatro Coroados foram escolhidos por algumas confrarias de maçons operativos ingleses como seus padroeiros.

O nome Quatro Coroados viria a inspirar o nome da primeira e mais famosa loja de pesquisas do mundo, a Loja Quatuor Coronati nº 2076 de Londres fundada em 28 de novembro de 1884 e instalada em janeiro de 1886 com o único fim de pesquisar de forma racional a história, símbolos, lendas enfim, tudo sobre a Maçonaria. Esta Loja tem suas colunas fortemente erguidas até a presente data, possui um museu e uma biblioteca admiráveis, um departamento de membros correspondentes em nível mundial bem como é responsável pelo estudo e pesquisa da antiga maçonaria verdadeira baseada em fontes primárias especialmente documentais e também pelo desmascaramento de uma série de lendas falsas a respeito da Ordem. Publica anualmente um livro chamado Ars Quatuor Coronatorum onde são publicadas todas as pesquisas feitas por seus membros. Existem lojas de pesquisas em muitos países que emprestaram o nome da Quatuor Coronati. Uma das mais importantes é a Forschungsloge Quatuor Coronati de Bayreuth- Alemanha. Existe no Brasil uma Loja com este nome, trata-se da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda” de Belo Horizonte.

Após a Maçonaria tornar-se oficialmente especulativa ou moderna a partir de 1717, ou já antes há algumas dezenas de anos, ela já não era mais essencialmente composta de profissionais da construção e católicos, quando começou a aceitação de rosa-cruzes, cabalistas, ocultistas, príncipes, artistas, cientistas da época, nobres, anglicanos luteranos e alquimistas. Neste momento histórico a influência da Igreja estava bastante diminuída já que a Maçonaria deixou de ser eminentemente católica.

Apesar desta mudança por uma questão de tradição, e dentro de uma situação irreversível, pois são históricos, tradicionais além de simbólicos, alguns santos ficaram inseridos definitivamente na tradição maçônica. É o caso dos “São João”, o Batista e o Evangelista e São João Esmoler. São João é citado inclusive nas Constituições de Anderson. E ainda o Rito Adonhiramita cultua o terceiro São João, ode Jerusalém ou São João Esmoler. Fala-se também de um São João da Escócia, que não tem razão alguma para ser levado a sério, pois foi pura invenção.

Os maçons atuais, independente de suas religiões, se aceitam ou não os santos, pelo menos têm nos dois São João como seus patronos, e este costume vem da Idade Média. É uma tradição que transcende a religião. É uma tradição respeitada por todos os maçons. Como foi dito, eles encerram um simbolismo que faz parte da Ordem.

Nestas alturas dada a tradição será impossível retirá-los da Ordem. Todavia, o Rito Francês ou Moderno desde 1887 resguardando o princípio da absoluta liberdade de consciência aboliu a fórmula GADU bem como a Bíblia nos seus trabalhos em lojas e assim consequentementeSão João não faz parte do Rito como padroeiro.

Os três primeiros graus do simbolismo são universais e considerados verdadeiros, únicos,legítimos, genuínos conhecidos aceitos e praticados em toda a superfície da Terra. São chamados graus de São João. Toda a doutrina maçônica acha-se contida nos graus de São João, ou seja, nos três primeiros graus.

São João Batista, O Precursor

João Batista era provavelmente essênio, segundo alguns autores. Sempre aparece nas imagens nas igrejas de roupa vermelha, símbolo do martírio segundo alguns religiosos. O Evangelho segundo São João exprime as mais perfeitas formulações a respeito da eterna dúvida com relação às respostas imutáveis da mente humana. O esoterismo dos escritos de São João faz com que os teólogos, os exegetas e outros estudiosos das religiões as compreendam mais profundamente. Há ainda certa analogia entre os escritos de São João e os ensinamentos de Hermes Trismegisto (do latim Hermes Trismegistus). Neles encontram-se a mesma evocação do Verbo e da Luz.Tal é a influência de João Batista que a Maçonaria moderna foi fundada no dia de São João no dia 24 de junho de 1717, dia de sua celebração. Dizem alguns autores que João Batista pregava no deserto e se alimentava de mel e gafanhotos. Vestido de pele de camelo atada apenas por um cinto, e assim foi pregar em Jerusalém. Ele praticava o batismo.

Segundo a Bíblia São João Batista sempre condenou uma relação adúltera entre Herodes de Antipas e sua sobrinha Herodíades, a qual tinha uma filha de nome Salomé. Durante uma das festas da corte, Salomé dançou com tal graça que Herodes entusiasmado disse a ela que daria a ela o que ela pedisse. Ela instigada pela mãe, não teve dúvidas, pediu a cabeça de João Batista. O rei mandou então decapitar João trazendo o carrasco a cabeça num prato que foi entregue a jovem e esta entregou à sua mãe.

Segundo o historiador judeu Flavio Josephus, João Batista foi decapitado no cárcere de Mequeronte, perto do Mar Morto e de Qunran onde foram encontrados em 1947 os celebres pergaminhos que foram lá deixados pelos essênios.

São João Evangelista, o Apóstolo e Evangelizador

Foi um dos apóstolos de Jesus Cristo, que juntamente com seu irmão Tiago eram chamados de filhos do trovão, por causa de seus temperamentos exaltados. Após sua convivência com Jesus ficou conhecido como o apóstolo do amor e também como o discípulo que mais perto esteve do Mestre por ser aquele que mais o acompanhou. Em suas epístolas é constante a preocupação para que se pratique o amor fraternal. Nos vitrais da Idade Média é sempre representado com roupa verde. Seu evangelho tem relação com a Maçonaria. Suas visões apocalípticas quando João “recebeu de um anjo uma vara para medir o templo com exceção do átrio.” marcaram muito sendo uma das razões da Maçonaria adota-lo como um dos seus santos padroeiros cuja festa é celebrada em 27 de dezembro. O Apocalipse parece ser uma mensagem cabalística e esotérica deixada para um grupo seleto de iniciados.

 

OS DOIS SÃO JOÃO E SEU RELACIONAMENTO COM O DEUS ROMANO JANUS

O Cristianismo uma vez implantado tratou de extirpar toda a tradição pagã até então existente em Roma, que era ditada pelo mitraísmo, religião de origem persa existente há 2700 A.C. a qual confrontava com os novos princípios cristãos, que estavam sendo implantados.

Roma tinha entre seus deuses locais, um deus tipicamente romano Janus ou Joannes, que deu nome ao mês de Janeiro, e que era representado por duas faces (bi frons), uma olhando para frente, para o futuro, e outra olhando para trás, para o passado.


As festas solsticiais de Janus eram celebradas em 21 de junho e 21 de dezembro dias de entrada e saída do verão e inverno respectivamente, isto no hemisfério norte, no hemisfério sul é o contrario, e ainda comemoravam no dia 25 de dezembro o nascimento do menino Mitra.

Segundo vários autores houve uma adaptação de Janus, sendo o mesmo cristianizado sob o nome dos dois São João. Inclusive pela semelhança do nome Joannes ou Janus com João. Há quem diga que ambas são duas versões de um único ser. Janus aparece em muitas gravuras antigas, vitrais, moedas antigas sempre com as duas faces. A igreja Católica não concorda com esta interpretação.


O cristianismo aproveitou a religião, tradição e os costumes dos pagãos modificando de acordo com a conveniência cristã da época. É lógico que o cristianismo que estava sendo implantado não poderia manter a adoração ao deus-Sol.Por isso, substituíram-no por Jesus Cristo. Os antigos especialmente no hemisfério norte comemoravam a noite de 20 para 21 de dezembro o solstício de inverno até com sacrifícios humanos, o renascimento do Sol (Natalis invicti solis). No dia 20 para 21 de junho igualmente era comemorada uma festa solsticial de verão. Esta regra valia para o hemisfério norte, sendo no hemisfério sul, o contrário. As datas que os cristãos adotaram para os dois São foram uma em 24 de junho João Batista e a outra em 27 de dezembro para São João Evangelista estão muito próximas das datas solsticiais celebrada pelos pagãos. E ainda aproveitaram o nascimento de Mitra 2.700 a.C. que os pagãos adotavam no dia 25 de dezembro para ser o dia do nascimento de Cristo e ainda criaram um novo calendário iniciando o ano zero com o nascimento de Cristo.

O Cristianismo naquele momento histórico de sua existência teve que fazer apropriações das tradições e costumes dos pagãos e dar a sua forma de ser, para incorporar as inúmeras fileiras de pessoas convertidas à nova religião, que estavam ainda culturalmente programados pela religião antiga.


Ainda no simbolismo que foi transmitido pela Maçonaria Operativa nas figuras de São João Batista e São João Evangelista que estão representados nos painéis dos ritos em seus rituais por um círculo com duas paralelas tangenciais. Este círculo representa o ciclo anual ou ainda a trajetória do Sol correspondendo os pontos de contatos destas duas tangentes diametralmente opostas aos dois pontos solsticiais que correspondem ao Trópico de Câncer no hemisfério sul e ao Trópico de Capricórnio no hemisfério norte.

Para os maçons, círculo representa o Sol e as duas paralelas tangenciais representa os dois São João. Para os maçons apegados à corrente calcada no Antigo Testamento elas representariam Moisés e Salomão, mas está abandonada esta interpretação.

 

SÃO JOÃO DE JERUSALÉM, SÃO JOÃO ESMOLER OU HOSPITALEIRO

O Rito ou Maçonaria Adonhiramita adota como padroeiro São João de Jerusalém também conhecido como São João Esmoler ou São João Hospitaleiro. É um santo reconhecido pela Igreja. Teria nascido no ano de 550 D.C. e falecido em 619 em Amamonte-Chipre. Este São João não tem relação com os santos da Maçonaria Operativa.


Segundo Ragon, quem trouxe este santo para a Maçonaria, foi o Barão de Tschoudy e outros maçons da época que acreditavam que a Maçonaria era originada das Cruzadas. Segundo a lenda, este São João seria filho do rei de Chipre e teria deixado sua terra natal e abdicado de seus direitos como herdeiro do trono e teria partido para Jerusalém para dispensar socorros aos peregrinos e soldados cristãos feridos. Todavia segundo outros autores afirmam que ele seria o Patriarca de Alexandria e teria enviado recursos à Modesto de São Teodoro na Palestina para reconstruir as igrejas destruídas pelos árabes. Há também outra lenda que diz que ele fora grão-mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém no século VII. Ainda existem autores que o identificam com São João da Escócia, figura lendária na Maçonaria que jamais existiu.


SÃO JOÃO DA ESCÓCIA

Este “santo” jamais existiu. No entanto nos antigos rituais do Grande Oriente do Brasil ele era citado e mesmo nas paredes dos átrios ou Sala dos Passos Perdidos dos templos havia imagens deste “santo”. Também não está relacionado como santo da Igreja. Encontra-se citação com este nome como o nome de uma loja francesa fundada em Marselha em 1751 e que teria desempenhado papel importante na Revolução Francesa, mudando de nome após terminar a revolução.

Também citam alguns autores que ele teria este nome porque seria o santo de uma igreja construída na Escócia por franco-maçons.Fala-se também que seria o título de uma Ordem de Cavalheiros Espanhóis, bem como outra de São João da Palestina, que combateram em Jerusalém os chamados infiéis. Mas não se tem comprovação.


Enfim, há um grande número de “São João” que constam como santos do hagiológio da Igreja, a saber:


JOÃO BATISTA, JOÃO EVANGELISTA, JOÃO ESMOLER, João Batista Scalabrini, João Batista de La Salle, João Batista Piamarta, João Batista Berchmanns, João Bosco, João de Brito, João Crisóstomo, João Clímaco, João da Cruz, João de Deus, João Damasceno, João Ogilvie, João de Sahagum ou João Facundo, além do Papa João I e João II.


Não se pode negar que a Maçonaria tem um relacionamento profundo com o Cristianismo. A Maçonaria emprestou da Igreja Católica a cópia do próprio templo maçônico, muitos símbolos, objetos, muitos costumes que foram adaptados, vestes (vide os graus superiores do REAA). E também emprestou o Batista e o Evangelista.


Ressalte-se que quando começou a ser falar em Maçonaria Operativa, a Igreja Católica já existia há mais ou menos mil anos. Com relação aos santos protetores da Maçonaria eles não têm para a Ordem um valor religioso, e sim simbólico, Portanto os dois São João têm seu lugar dentro da Maçonaria, através de seus evangelhos com simbolismo esotérico profundo, e também diferente da interpretação religiosa e do público profano.


REFERÊNCIAS

ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Editora Artenova - S.A.- vol. IV - Rio de Janeiro, 1976

CASTELLANI,  José - Cadernos de Estudos Maçônicos - Consultório Maçônico II - Editora Maçônica  “A Trolha” Ltda. - Londrina, 1989

NAUDON, Paul - A Maçonaria - Edipe - Artes Gráficas - São Paulo, 1968

PALOU, Jean - A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática - Editora Pensamento - São Paulo, 1964

VAROLI, Theobaldo F. - Curso de Maçonaria Simbólica - Editora A Gazeta Maçônica S.A - São Paulo, 1970

abril 22, 2022

REFLEXÃO SOBRE O CARÁTER, A ÉTICA E A HONRA - Ir.’. Luciano A. Vianna


"Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres." (Albert Einstein)

Até que ponto o homem pode vender-se sem ser prejudicado e sem prejudicar os outros?

Até que ponto pode, impunemente, ferir sua coerência interior dizendo, publicamente, ora uma coisa, ora exatamente o contrário, dependendo da vantagem oferecida?

Quando digo “impunemente” não me refiro a sanções legais, multas ou coisas do gênero.

Isso é o de menos!

Um bom advogado resolve.

Ao dizer “impunemente” refiro-me ao interior da pessoa, à sua “inteireza” e paz, aquela qualidade das pessoas retas, sábias, coesas, coerentes, “inteiras” também por dentro.

Refiro-me, também, ao ônus social gerado por atitudes que sobrepõem a vaidade à verdade, à lealdade, à coerência, à reflexão, à nobreza de caráter.

O grande problema da humanidade, hoje em dia, é de caráter ético, pois socialmente, aprendemos que é preciso fazer o correto, mas na informalidade, criamos a idéia de que não há nada de errado, em levar vantagem em cima de nosso semelhante, e para todas as situações costumamos dar “o jeitinho brasileiro”. 

Uma vez que é muito comum, todos criticarem a corrupção brasileira, a política brasileira, e esquecerem-se dos pequenos delitos que cometem diariamente, usando a premissa de que os fins justificam os meios.

E é em meio a esta sociedade, mais preocupada em aparecer, do que ajudar o próximo, que surge o desejo exagerado de acumular poder e projeção.

E neste mesmo momento, o homem deixa a sua ambição falar mais alto que a ética.

Pois se a ética atrapalhar o objetivo de adquirir glória, poder e honras, a tendência é de reduzir o caráter ético, para não frustrar o propósito final.

É preciso ter consciência de que ser ético é tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados.

É procurar ajudar mais as pessoas a nossa volta, do que criticar, ou lesionar em momentos oportunos, só para atingir nossos objetivos.

Precisamos também entender que a atual crise ética originou-se em decorrência das atitudes do ser humano individual, e que por isso, é preciso antes de qualquer coisa, mudar nossas atitudes individuais, para depois podermos criticar e tentar consertar o mundo.

E é claro, é preciso ter ambições sim, mas é preciso usar a ética e a moral, antes de definir nossas metas, ideais e sonhos.

A tendência daqueles que por simples vaidade ou desejo de poder tem de criticar e lançar inverdades, bem como criar fatos e atos inexistentes, sobre àqueles que ocupam posições por eles desejadas reflete bem a pequenez de seu caráter e sua falta de ética, pois deveriam eles exaltarem seus feitos e seus atos em contraponto àqueles que se critica.

Confúcio já dizia que “Homem superior é aquele que começa por pôr em prática as suas palavras e em seguida fala de acordo com as suas ações”.

Creio que já é passado o momento de colocarmos nossas ambições no mesmo patamar de nossas realizações, pois se essas realizações forem realmente grandes nossas ambições serão satisfeitas por reconhecimento e natural consequência delas.




MAÇONARIA E SECULARISMO - Jean-Philippe Hubsch. Adaptado de tradução feita por José Filardo


O secularismo é um conjunto de princípios legais baseados no primado da liberdade de consciência; não é uma arma contra as religiões, nem uma religião civil. A universalidade da lei comum não deve referir-se a nenhuma das várias religiões para se impor a todos os cidadãos. Uma loja maçónica é um lugar de aceitação da diferença, de pacificação de intercâmbios. Isto porque a Maçonaria considera que o secularismo é um princípio universal de pacificação social.

A oportunidade que nos é oferecida de questionar aqui as ligações entre a Maçonaria e o secularismo é particularmente bem-vinda.

Princípio emblemático da tradição republicana francesa, sacralizado pela Terceira República e considerado “intangível” até 1940, o secularismo é hoje o lugar de um profundo esquecimento e, no momento em que ele é perigosamente desafiado pelos “fanatismos” e intolerâncias, sejam eles culturais, políticos, económicos, religiosos, raciais, não é mais propriamente defendido e a pior das confusões reina em torno da noção…

Às vezes, o secularismo é confiscado a favor de um projeto identitário e usado como uma arma contra o Islão. Outras vezes, e ao contrário, pode dizer-se, ele é reduzido a um simples princípio de tolerância a serviço de um projeto multicultural de organização de designações identitárias. Ele é também apresentado como uma espécie de religião civil – aquela daqueles que não teriam nenhuma religião – quando não é visto como uma mera máquina de guerra contra convicções e sentimentos religiosos!… Cada um à sua maneira, todos estes discursos constituem tantas desnaturações do secularismo republicano.

É verdade que no nosso país a Maçonaria é sempre associada ao secularismo. Com as suas tomadas de posição vigilantes a cada suposta ameaça, ela seria até vista – sem trocadilho – como “guardiã do templo”! …

A inspiração das lojas

Desde os seus primeiros passos, a moderna Maçonaria desenvolve um pensamento universalista.  As Constituições de Anderson – o seu texto fundador – anunciam que ela se pretende tornar o “Centro da União, [permitindo] uma amizade sincera entre pessoas que poderiam ter permanecido a uma distância perpétua”, seja por razões políticas, religiosas ou nacionais.

A loja que trabalha neste “centro da união” é uma comunidade que implementa uma “fraternidade eletiva” em busca do pluralismo social, político e religioso. Ela só pode existir e durar porque é soldada por rituais rigorosos e eficazes.

A Loja Maçónica em trabalho é também um método, uma disciplina que contraria toda a espontaneidade e se opõe a todas as inclinações naturais, para realizar uma mudança de estrutura mental para assegurar a superação de intercâmbios interpessoais em benefício da unidade da loja. É uma contracultura tradicional na qual os Maçons, protegidos pelo segredo dos seus intercâmbios, se tornam tantos “contrabandistas” heterodoxos.

O que esta contracultura propõe é, antes de tudo, o trabalho sobre si mesmo – os Maçons falam do seu “templo interior” que torna possível encontrar a unidade interior, reconciliar-se consigo mesmo, a condição primeira para poder para realmente abrir para os outros que eles aprenderam a ver como irmãos e, ao fazê-lo, trabalhar para a melhoria da humanidade – no “templo da humanidade” – Esta contracultura afirma-se como um continuidade espiritual, uma tomada de consciência da solidariedade universal.

Ela é o lugar de uma certa igualdade, marca de tolerância e de abertura. Em loja, aceitar a diferença do outro, aceitar a sua palavra e a respeitar é, para todo Maçom, um requisito absoluto. Mas a tomada em consideração desta alteridade é feita no âmbito de referências comuns que não podem ser transgredidas.

Com as suas ferramentas tradicionais de pacificação progressiva das relações, a Maçonaria é, portanto, uma espécie de laboratório de sociedade, laboratório do laço social que faz germinar naturalmente o princípio do secularismo.

Embora supervisionadas de perto, as lojas maçónicas foram, na sociedade política muito fechada do século XIX francês, as únicas associações ativas toleradas e, portanto, naturalmente, os lares subterrâneos do essencial da vida intelectual e política do país. É por isto que, desde a capitulação de Sedan, a República surgirá toda armada de lojas. Léon Gambetta, e todos os Jules, Simon, Grévy, Favre e especialmente Ferry, para citar apenas estas eminentes personalidades da primeira geração republicana, todos vieram diretamente das lojas.

A construção republicana do secularismo

A República tem por ambição uma construção permanente do laço cívico além das designações identitárias de cada um, na busca e preservação do que é comum a todos. No final do século XIX e início do século XX, a Maçonaria será participará verdadeiramente dos combates políticos para a construção do secularismo do Estado e as concepções que ela defenderá não serão diferentes daquelas que a República se vai dedicar a implementar.

O secularismo é um conjunto de princípios jurídicos baseados no primado da liberdade de consciência. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de Agosto de 1789, tem a religião por uma “opinião” como qualquer outra (Artigo 1.0), que surge, portanto, exclusivamente da liberdade de cada um. Isto necessariamente decorre da igualdade de todas estas opções espirituais aos olhos da lei e, portanto, a igualdade de todos os cidadãos, independentemente das suas opiniões ou religião. A universalidade da lei comum que não se deve referir a nenhuma das diferentes religiões para se impor ao conjunto dos cidadãos é indispensável.

O secularismo torna-se, assim, um princípio de organização social.  O poder público e a esfera a ele associada, com vistas a constituir, estabelecer e garantir os direitos e liberdades que beneficiarão a universalidade dos cidadãos, deve estar sujeitos a uma reserva absoluta em matéria de opções espirituais.

A esfera privada é a dos indivíduos e das comunidades, livre no respeito a lei.  Cada cidadão devem poder exercer estas liberdades individuais e privadas, que são as liberdades de consciência, de opinião religiosa ou outras – e da expressão, fora do domicilio privado, ao nível do espaço civil aberto a todos, no respeito ao direito comum e à ordem pública.

Ao mesmo tempo, o Estado garante a independência destas duas esferas e da unidade da comunidade política dos cidadãos em torno de valores comuns compartilhados.

Numa sociedade secular, o reconhecimento do direito de cada um construir e expressar a sua diferença é, portanto, sempre concebida num espaço de relacionamento, confronto e diálogo com os outros. Este comportamento representa, obviamente, um ideal difícil de construir e alcançar, que produziu no nosso país um modo de vida que é objeto de um consenso duradouro.

Ninguém precisa conhecer as escolhas filosóficas ou religiosas uns dos outros, elas pertencem-lhes. Ninguém precisa de as conhecer, especialmente o Estado, que se proíbe de os recensear. Aqui, novamente, a religião é entendida como uma escolha individual, uma opinião – que se pode mudar – e não como um pertencimento. O culto público, que é legítimo, é praticado em lugares que lhe são normalmente reservados  e isto traduz-se no nosso país pelo surgir gradual de uma cultura compartilhada da discrição das expressões religiosas na sociedade civil.

É a própria essência da tradição histórica e jurídica francesa que vê nessa discrição compartilhada a melhor maneira de garantir que todos tenham a oportunidade de viver juntos numa convivência serena e pacífica, baseada no respeito aos diferentes pensamentos.

Fundamentalmente, se o secularismo francês respeita todas as opções espirituais, é antes de tudo na medida em que elas são expressões da liberdade de consciência dos cidadãos. Assim, a República estará, sem dúvida, menos preocupada expressamente com o indivíduo cuja afiliação a uma comunidade é adquirida do que com o ateu, o agnóstico ou o crente individualista que rompe com o seu grupo, porque eles estão sozinhos e a sua liberdade precisa da protecção do Estado, que também deve ser capaz de proteger o direito de acreditar e de blasfemar.

Os desafios do presente

A construção republicana define-se pelo seu carácter universalista, do qual o secularismo é uma ferramenta essencial. Atualmente, assistimos a um ressurgir de manifestações de afirmação identitária inspiradas na religião, mas que vão muito além das questões de culto, desafiando abertamente o secularismo e os princípios republicanos. E também observamos que a liberdade de consciência e a igualdade de todos recuam e não são mais garantidas em certos espaços privados.

No exato momento em que, portanto, parece que o nosso secularismo constitucional devia, sem dúvida, ser exercido, além dos serviços públicos, na proteção do espaço social, “um lugar de compartilhamento sob o olhar dos outros”, em face de demandas urgentes de expressão religiosa, percebemos que o secularismo perdeu muito da sua força simbólica. O Estado republicano tem o dever de se envolver na defesa de projetos universalistas diante  ataques comunitaristas de certos grupos de pressão.

Como as lojas sabem fazer, a República deve esforçar-se para criar públicos comuns.  Ela deve saber lutar contra as discriminações com base na igualdade, apresentando o que é comum aos indivíduos e grupos sociais, e não através do reconhecimento identitário, que se fechará como uma armadilha implacável sobre o cidadão e os seus direitos.

Um estado neutro, sensível apenas à liberdade do cidadão individual é um modelo moderno e portador de progresso para o futuro. O seu instrumento fundamental é o secularismo, que por si só é capaz de impregnar um pensamento universalista da diversidade, livre da vulgata culturalista que atualmente se está a espalhar sem restrições alguma no debate político e na Comunicação Social. Ela aparecerá então como um princípio universal de pacificação social.



abril 21, 2022

TIRADENTES, HERÓI e HISTÓRIA - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Considerado um dos maiores intelectuais da maçonaria no país.

Eleger e reverenciar heróis faz parte da cultura de cada povo.

Trata-se de uma espécie de valorização da própria natureza humana e da identidade de cada sociedade.

Ao herói se lhe é dado um salvo-conduto, como instrumento de representatividade de um povo.

Como não poderia ser diferente, nós brasileiros, também elegemos nossos heróis.

Há aqueles que dizem respeito notadamente aos ideais de Liberdade e Soberania, como é o caso de Tiradentes, cuja consagração ao status de mártir, faz com que do ponto de vista histórico-social, seja aquele que melhor se identifique com as aspirações e  com o sentimento de orgulho de nosso povo. 

A data de 21 de Abril de 1792 que diz respeito à sua morte por enforcamento, que o diga.

Ainda que marcada por traços obscuros de sua trajetória de vida, bem como das interpretações imprecisas que historiadores conferem a ele, e que se explicam em função das  inevitáveis distorções que a transmissão oral dos fatos e a carência de registros documentais produzem, não há contudo, como desvirtuar a relevância de seu papel no tocante à Inconfidência Mineira, em que seu protagonismo foi inquestionável num dos episódios embrionários na luta pela independência do Brasil em relação à coroa portuguesa.

A data de 21 Abril parece até, que ganhou um certo estigma, fruto inclusive da própria mídia nacional, que na História mais recente de nosso país, registrou  a morte do então eleito presidente, Tancredo Neves, que tomado por uma grave doença não conseguiu ser empossado e assumir a presidência da República, provocando uma verdadeira comoção nacional.

Cabe lembrar, que sua figura dócil, paternal e conciliadora contribuíram de forma inequívoca para que o mesmo fosse igualmente alçado à condição de herói.

E assim a História vai sendo contada, com requintes de beleza, sofrimento, amor e ódio, de tal sorte, que o que permanece na mente das pessoas, é o que o imaginário registra e guarda na memória.

Aliás, para um povo que habitualmente tropeça em sua própria memória histórica, nada melhor do que preservar seus heróis, inobstante algumas inconsistências que possam haver em todo esse processo.


VINTE E UM DE ABRIL - Adilson Zotovici



Adilson Zotovici  poeta e intelectual, da Confraria Maçons em Reflexão e da ARLS Chequer Nachif de S. Bernardo do Campo


Sem se conter, por Liberdade, 

Conjuração com pertinência 

A defender sua propriedade 

Com obstinação, resistência


Inflama a arbitrariedade, 

A exploração, a truculência  

E clama a sociedade 

Contra a Derrama, inclemência  


Homens da fraternidade 

Quiseram igualdade, decência, 

Para si e à posteridade 

Tiveram a intransigência 


E a traição persuade  

À punição em essência !

Contra o Alferes...atrocidade

Degredo a outros em sequência


Travos de insídia, ambiguidade 

Timbravam de Inconfidência

Aos bravos heróis, que em verdade, 

Ansiavam a Independência ! 



abril 20, 2022

QUEM FOI ALBERT MACKEY? -


Alguns autores e obras são citados constantemente na maioria dos livros pela sua importância cronológica e, mais ainda, pela contribuição imprescindível que deram para a organização da nossa instituição. Poderíamos mencionar os trabalhos eternos de Joseph Paul Oswald Wirth, Robert Freke Gould, George Kloss, William Hutchinson, René Guénon,Wilhelm Begemann, Eliphas Levy, Alec Mellor e tantos outros não menos importantes. Trataremos aqui, de maneira breve, da obra de Albert Gallatin Mackey, possivelmente, o mais citado de todos os autores, facto este que se deve a especificamente um dos seus legados.

O americano Albert Gallatin Mackey talvez tenha sido o mais importante historiador e jurista maçónico que aquela nação já produziu. Segundo os seus próprios compatriotas, até hoje não se avaliou adequadamente as consequências que os seus trabalhos tiveram sobre a maçonaria, não só americana, mas também de todo o mundo.

Dos Irmãos Americanos que conquistaram fama internacional no mundo maçónico, vários foram escritores cujos trabalhos ajudaram na formação e na extensão da luz maçónica, dentre estes nenhum escreveu tão volumosamente como o fez Mackey.

Nascido em 12 de Março de 1807 na cidade de Charleston no estado americano da Carolina do Sul, Albert Mackey graduou-se com honras na faculdade de medicina daquela cidade em 1834. Praticou a sua profissão durante vinte anos, após o que dedicou quase por completo a sua vida à obra maçónica.

Recebeu o grau 33, o último grau do Rito Escocês Antigo e Aceite, e tornou-se membro do Supremo Conselho onde serviu como Secretário-geral durante anos. Foi nesta época que ele manteve uma estreita associação com outro famoso Maçon americano, Albert Pike.

Participou como membro ativo de muitas lojas, inclusive a lendária “Solomon’s Lodge nº 1”, fundada em 1734, que é, ainda hoje, a mais famosa e mais antiga loja operando continuamente na América do Norte. Ocupou inúmeros cargos de destaque nos mais altos postos da hierarquia maçónica do seu país.

Pessoalmente o Dr. Mackey foi considerado encantador por um círculo grande de amigos íntimos. O seu comportamento representava bem o que, entre os americanos, é chamado de cortesia sulista. Sempre que se interessava por um assunto era muito animado na sua discussão, até mesmo eloquente. Generoso, honesto, leal, sincero, ele mereceu bem os elogios e qualificações que recebeu de inúmeros maçons de destaque.

Um revisor da obra de Mackey disse que, como autor de literatura e ciência maçónica, ele trabalhou mais que qualquer outro na América ou na Europa. Em 1845 ele publicou o seu primeiro trabalho, intitulado Um Léxico de Maçonaria, depois disto seguiram-se:

“The True Mystic Tie” 1851;

The Ahiman Rezon of South Carolina,1852;

Principles of Masonic Law, 1856;

Book of the Chapter, 1858;

TextBook of Masonic Jurisprudence, 1859;

History of Freemasonry in South Carolina, 1861;

Manual of the Lodge, 1862;

Cryptic Masonry, 1867;

Symbolism of Freemasonry, and Masonic Ritual, 1869;

Encyclopedia of Freemasonry, 1874;

Masonic Parliamentary Law 1875.

Mackey esteve até o fim da vida envolvido com a produção de conhecimento maçónico. Além dos livros citados ele contribuiu com frequência para diversos periódicos e também foi editor de alguns. Por fim, publicou uma monumental “History of Freemasonry”, que possui sete volumes. Um testemunho da importância e popularidade que os livros escritos por Mackey têm é o facto de que muitos deles são editados até hoje e estão à venda em livrarias, inclusive pela Internet. No site da livraria Amazon, tida como a maior da Internet, é possível adquirir 26 edições diferentes quando se procura livros usando como referência as palavras Albert Mackey. Para quem tem habilidade de leitura em inglês, é possível ler um livro inteiro de Mackey disponível na internet. O título “Symbolism of Freemasonry” ou o Simbolismo na Maçonaria, de 364 páginas.

Dos muitos trabalhos que o Dr. Mackey legou à posteridade, um julgamento quase universal identifica a “Encyclopedia of Freemasonry” como a obra de maior importância. Anteriormente à publicação deste livro não havia nenhum de igual teor e extensão em qualquer parte do mundo. Esta obra teve muitas edições e foi revista várias vezes por outros autores maçónicos.

A contribuição de Mackey para o pensamento e leis maçónicas, produto da sua mente clara e precisa, é tida como de fundamental importância. Praticamente toda a legislação maçónica fundamental é hoje interpretada com base em alguns dos seus escritos. É verdade que algumas das suas obras contêm enganos, mas o conjunto é de extremo valor e, em particular, um trabalho tem especial destaque no mundo todo. A compilação feita por ele dos marcos ou referenciais básicos da maçonaria é adoptada como fundamento em vários ritos e obediências. Estamos a falar dos tão mencionados e conhecidos “Landmarks”.

A primeira vez em que se fez menção à palavra Landmark em Maçonaria foi nos Regulamentos Gerais compilados em 1720 por George Payne, durante o seu segundo mandato como Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, e adoptados em 1721, como lei orgânica e terceira parte integrante das Constituições dos Maçons Livres, a conhecida Constituição de Anderson, que, na sua prescrição 39, estabelecia assim:

“XXXIX – Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks…”

A tradução da palavra Landmark do inglês para o português resulta no substantivo “marco”, que, caso consultemos o dicionário Aurélio, tem o seguinte significado: marco [De marca.] S. m. 1. Sinal de demarcação, ordinariamente de pedra ou de granito oblongo, que se põe nos limites territoriais. [Cf. baliza (1).] 2. Coluna, pirâmide, cilindro, etc., de granito ou mármore, para assinalar um local ou acontecimento: o marco da fundação da cidade. 3. Qualquer acidente natural que se aproveita para sinal de demarcação. 4. Fig. Fronteira, limite: os marcos do conhecimento.

Estas definições exemplificam bem o contexto no qual o termo Landmark é utilizado, além de fazer uma referência quase explícita às origens operativas da maçonaria, quem já construiu algo em alvenaria sabe que a fixação dos marcos é um dos primeiros momentos da obra e um passo fundamental para a sua execução. Sem marcos bem estabelecidos fica muito difícil a obra ser bem executada.

Os Landmarks, que podem ser considerados uma “constituição maçónica não escrita”, longe de serem uma questão pacífica, constituem-se numa das mais controversas discussões da Maçonaria, um problema de difícil solução para a Maçonaria Especulativa. Há grandes divergências entre os estudiosos e pesquisadores maçónicos acerca das definições e nomenclatura dos Landmarks. Existem várias e várias classificações de Landmarks, cada uma com um número variado deles, que vai de 3 até 54. Virgilio A. Lasca, em “Princípios Fundamentales de la Orden e los Verdaderos Landmarks”, menciona uma relação de quinze compilações.

As Potências Maçónicas latino-americanas, via de regra, adoptam a classificação de vinte e cinco Landmarks compilada por Albert Gallatin Mackey. Deve-se a isto a frequência com que o Mackey é mencionado também entre nós.

Segundo estudiosos do assunto, a compilação de Mackey teve sucesso por que conseguiu ir ao passado e trazer as tradições e costumes imemoriais à prática maçónica moderna. Este trabalho estabeleceu a ordem no meio do caos, fornecendo um ponto de partida para os juristas e legisladores maçónicos que o seguiram.

Fato é que o grande trabalho de Mackey em jurisprudência, e mesmo o que se estende além dos Landmarks ou da jurisprudência, sobreviveu ao teste do tempo. Ainda hoje ele é frequentemente citado como uma autoridade final. As suas contribuições tiveram, e ainda tem, um efeito profundo e permeiam grande parte do pensamento maçónico moderno. Ao criar a sua obra, este autor, estava na realidade criando os marcos sobre os quais foi possível edificar grande parte do conhecimento maçónico que se produziu posteriormente.

Albert Gallatin Mackey passou ao oriente eterno em Fortress Monroe, Virgínia, em 20 de Junho de 1881, aos 74 anos. Foi enterrado em Washington em 26 de Junho, tendo recebido as mais altas honras por parte de diversos Ritos e Ordens. Hoje existe nos Estados Unidos uma condecoração, a “Albert Gallatin Mackey Medal” , que é a mais alta condecoração concedida a alguém que muito tenha contribuído para a causa maçónica.

Adaptado de Autor desconhecido

Bibliografia:

Este trabalho foi elaborado tendo como base a bibliografia listada abaixo, sendo que dela foram retirados as ideias centrais, referências e inclusive transcrições literais.

Publicação da Aug∴ Resp∴ Loj∴ Simb∴ São Paulo n° 43.

Publicação da Gran∴ Loj∴ Maç∴ do Estado da Paraíba.

The Grand Lodge of Free and Accepted Masons of the State of California.

Fonte: Freemason.