junho 13, 2022

CONJECTURAS SOBRE SER RECONHECIDO



Uns querem entrar na Ordem, porque acham que isto lhes confere um "status" social. 

Outros assim o fazem, porque ouvem dizer, que ao ingressar na Maçonaria ficarão ricos e poderosos. 

Há uma parcela que supõe que ser Admitido, seja um passaporte para fazer uma exitosa carreira política. 

Nem tão distante disto, há os que acreditam, que em sendo Iniciados, todas as portas do mundo ser-lhe-ão abertas. 

E finalmente, há um raquítico contingente de candidatos, que esperam, caso sejam admitidos, possam vir a desempenhar um trabalho de aprimoramento interior,  humanístico, ético, moral e intelectual, que possa torná-los mais consistentes como seres humanos. 

Por obra de fortuitas circunstâncias, o que se percebe, especialmente em tempos mais recentes, é um "descompasso" entre o que se jura ou se compromete durante a Iniciação e o comportamento após um breve período de convivência. 

Uns acabam simplesmente querendo contestar o que desconhecem. 

Outros, travestem-se de reinventares da história e buscam inócuas invencionices, como forma de querer deixar uma pretensa marca registrada. 

Há também a legião dos que decidem incorporar o espírito divinal e messiânico durante sua pseudo-jornada filosófica, evocando preces, orações e citações religiosas, como se a Arte Real se constituísse num permanente e extenuante encontro ecumênico. 

E para fechar com chave de ouro, existe aquele grupo de Iniciados, que prefere abdicar inclusive da crença num "Princípio Criador e Incriado" de tudo o que gira em torno de sua própria existência, como se isso fosse um sinal de consistência intelectual. 

A bem da verdade, não é assim que a banda toca... 

O mérito de toda essa história está na medida do equilíbrio, da ponderação e do bom senso. 

Aquiescer a ideia de que a busca da Verdade (leia-se : "Conhecimento") está no exercício do pensamento, da reflexão, do raciocínio e da especulação ilimitada em prol do aprimoramento da Consciência, muito provavelmente seja o primeiro passo para que de fato, o suposto Obreiro, possa vir a ser reconhecido como um verdadeiro maçom. 

Maçom é pedreiro, é construtor, é arquiteto de seu próprio templo interior, cuja missão é tornar-se cada vez melhor, assim como tornar a própria humanidade mais feliz, compartilhando e agregando os valores mais virtuosos do bem contidos na alma humana. 

A essência filosófica e moral da Maçonaria reside em sempre  lutar pela Liberdade, promover a Igualdade, e fazer da Fraternidade seu instrumento perene de diretos e obrigações. 

O Maçom é soberano juiz de seu tempo e de sua consciência. 

Autor desconhecido

junho 12, 2022

ESTUDOS SOBRE OS TRÊS PONTOS MAÇÔNICOS, ORIGEM DO SINAL



As abreviaturas eram tão comuns na Idade Antiga e Média, apareciam em todos os manuscritos e se multiplicavam de maneira extraordinária.

Os três pontos usados pelos Maçons em seus documentos e impressos têm, portanto, a sua origem nas abreviaturas, tradição antiguíssima que a Maçonaria trouxe até nós.

Entretanto, posteriormente os três pontos foram relacionados com outros símbolos Maçônicos, recebendo interpretações simbólicas e esotéricas e foram usadas na assinatura dos Maçons. Mas esta é uma prática que não foi adotada pela Maçonaria Inglesa.

Origem dos três pontos na Maçonaria

O uso dos três pontos teve início na França, onde foram utilizados como abreviaturas em documentos Maçônicos, e o costume foi geralmente adotado, espalhando-se gradativamente em muitos países, inclusive nos Estados Unidos.

Os três pontos foram utilizados pela primeira vez na Circular de 12 de agosto de 1772, onde se lia “G∴O∴ de France”, o Grande Oriente informava às Lojas de sua jurisdição que transferira sua sede (Ragon).

Todavia, uma corrente defendida por Chapuis contesta Ragon, afirmando que dez anos antes ao serem mencionadas eleições de 03 de dezembro de 1764, já estavam dispostas nos documentos de quatro maneiras diferentes:

1º - Triângulo repousando sobre a base (∴)

2º - Em ângulo reto: dois pontos sobre outro (:.)

3º - Em triângulo cujo vértice ficava à direita (:.)

4º - Em forma de reticências (...)

Há quem supõe que os três pontos também tenham sido uma herança deixada à Maçonaria pelos Rosa-Cruzes do século XVII. Nada porém apoia esta suposição.

A transformação da abreviatura em símbolo

Embora os três pontos fossem, no início, uma simples forma de abreviatura, não tardaram os simbolistas a se apoderarem deles, transformando-os em símbolo, ao qual foi dado as mais variadas interpretações.

Inicialmente, o emprego da abreviatura dos documentos Maçônicos deve ter sido sugerido pela preocupação do segredo.

Os três pontos tornaram-se pois um símbolo, o símbolo da discrição, o que constantemente é trazido à lembrança dos Maçons no momento em que o integram às suas assinaturas. Acredita-se, entretanto, que a idéia de transformar os três pontos em símbolo foi provavelmente sugerido pelo caráter sagrado com o número três, e foi revestido em todos os tempos.

Mas os três pontos, na forma do triângulo eqüilátero geralmente usado pelos Maçons nas abreviaturas, unido às linhas produzem o triângulo, a primeira figura das superfícies geométricas e origem da trigonometria, base de todas as medidas.

O triângulo

Daniel Ramée, antes da obra “História Geral da Maçonaria”, refere:

O triângulo composto de três linhas e três ângulos, forma um todo completo e indivisível.

Todos os outros polígonos se subdividem em triângulos e estes por sua vez são compostos de triângulos. Este é, pois, o tipo primitivo que serve de base à construção de todas as superfícies, é por esta razão ainda que a figura do triângulo é o símbolo da existência da divindade, bem como da sua potência produtiva e da evolução.

Por isto o triângulo, um dos mais antigos símbolos da humanidade, figurava pra os antigos a ideia de geração, de criação.

Os símbolos davam ao triângulo a ideia de eternidade ou Deus eterno. Os três ângulos significam pra eles Sabedoria, Força e Beleza, tributos de Deus e representam também, o Sol, o Enxofre e o Mercúrio, segundo os hermetistas os princípios da obra de Deus. Os três ângulos representam ainda os reinos da Natureza (animal, vegetal e mineral) e as três fases da revolução perpétua (nascimento, vida e morte).

Interpretação simbólica dos três pontos

Sendo o triângulo a mais simples das figuras geométricas, tornou-se a representação gráfica da ideia ternária à qual foi ligado como também os três pontos: Pai, mãe e filho; dia, noite e aurora; doce, amargo e neutro; quente, frio e morno; sentir, pensar e agir; vontade, sabedoria e inteligência.

Para muitos, os três pontos representam a divisão Maçônica: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Para Ragon, um dos grandes mestres do simbolismo, os três pontos representam e significam: Passado, Presente e Porvir.

Os três pontos são uma imagem que evoca a idéia de ponderação e consequentemente de tolerância; representa de fato os dois extremos e o justo meio. E este é o símbolo correspondente realmente às idéias Maçônicas.

Alguns comentários sobre os três pontos

A obra de Octaviano de Menezes Bastos tece o seguinte comentário:

“Estes três pontos, como o Delta Luminoso e Sagrado, são um dos nossos emblemas mais respeitáveis. Eles representam os ternários conhecidos e especialmente as três qualidades indispensáveis do Maçom: Vontade, Amor e Sabedoria, Inteligência”.

Vê-se, pois, que todo o Maçom que quiser ser digno desse nome deve cultivar essas três qualidades, representadas pelos pontos que apõe ao seu nome, quais as três estrelas que brilham no OR∴ da Loja.

Conclusão aos aprendizes

O número três acha-se intimamente ligado ao Aprendiz, através do simbolismo das viagens, da marcha, da idade, etc. Ao induzir a colocar os três pontos após o nome, a Maçonaria pretende relembrar-lhes os compromissos assumidos no dia da iniciação e particularmente o guardar segredo sobre tudo que visse ou ouvisse.

Aos Mestres

A função dos símbolos Maçônicos é adestrar e disciplinar. O Maçom deve estudar com interesse a aplicação, pois nele encontrará inesgotável fonte de ensinamentos que servirão no constante aperfeiçoamento moral, e ao mesmo tempo exercerão influência genética na vida social e sobretudo na vida espiritual. É um constante aprendizado.

Autor desconhecido. Fonte: Estudos.

junho 11, 2022

A EUDAIMONIA DE ARISTÓTELES



Quando se trata de alcançar a felicidade, a maioria das pessoas se pergunta: “O que devo fazer?” Não é estranho, imbuído como estamos na cultura do fazer e da plena ocupação do tempo até que não haja mais um minuto. Os grandes filósofos, no entanto, se perguntavam: “Que tipo de pessoa devo ser?”

O segredo está no equilíbrio

Muitos grandes pensadores costumavam recorrer à ética da virtude em busca de respostas. Aristóteles, um dos filósofos mais influentes de todos os tempos, desenvolveu um sistema integral de virtude que podemos perfeitamente pôr em prática nos tempos modernos para alcançar um estado de equilíbrio emocional e paz interior no qual a felicidade naturalmente floresce.

De fato, seu sistema de ética da virtude é especialmente projetado para nos ajudar a alcançar a “eudaimonia”, uma palavra muito interessante que geralmente é traduzida como “felicidade” ou “bem-estar”, mas que na verdade significa “floração humana”.

Isso significa que Aristóteles pensava que a felicidade é o resultado de um modo de vida e um modo de ser, que surge quando somos capazes de desenvolver nosso potencial como pessoa e construir um sólido “eu”. O que é esse modo de viver?

Aristóteles pensava que o segredo estava em equilíbrio, uma ideia relacionada a outros sistemas filosóficos como o budismo. Este filósofo pensava que uma vida de abstinência, privação e repressão não leva à felicidade ou a um “eu” completo. Mas uma vida hedonista também não é o caminho, uma vez que os excessos geralmente geram uma forma de escravidão ao prazer, gerando no final um vazio existencial.

“A virtude é uma posição intermediária entre dois vícios, um por excesso e o outro por padrão”, escreveu ele. E para desenvolver a virtude, devemos simplesmente aproveitar todas as oportunidades que surgem, uma vez que não se trata de conceitos teóricos, mas de atitudes, decisões e comportamentos que devem guiar nossas vidas.

As 10 virtudes aristotélicas para alcançar eudaimonia

Em Nicomachean Ethics, o livro mais conhecido de Aristóteles escrito no século IV aC. C., elenca as virtudes que devemos desenvolver para alcançar eudaimonia:

1. Elegibilidade. É a capacidade de controlar nosso temperamento e as primeiras reações. A pessoa paciente não fica muito zangada, mas também não pára de ficar com raiva quando tem razões para isso.

2. Força. É o ponto intermediário entre a covardia e a imprudência. A pessoa forte é aquela que enfrenta perigos por estar ciente dos riscos e tomar as precauções necessárias. Trata-se de não correr riscos desnecessários, mas também de evitar os riscos necessários para crescer.

3. Tolerância. É o equilíbrio entre o excesso de indulgência e intransigência. Aristóteles pensava que é importante perdoar, mas sem cair no extremo de passar tudo, deixando que os outros atropelem nossos direitos ou deliberadamente nos machuquem sem responder. Tão negativo é ser extremamente tolerante como extremamente intolerante.

4. Generosidade. É o ponto intermediário entre a mesquinhez e a prodigalidade, trata-se de ajudar os outros, mas não de nos dar tanto que nosso “eu” seja diluído.

5. Modéstia. É a virtude que está no ponto intermediário entre não se dar crédito suficiente pelas conquistas feitas devido à baixa auto-estima e ter um ego excessivo que nos faz pensar que somos o centro do universo. Trata-se de reconhecer nossos erros e virtudes, assumindo as responsabilidades que nos correspondem, nem mais nem menos.

6. Veracidade. É a virtude da honestidade, que Aristóteles coloca em um ponto justo entre a mentira habitual e a falta de tato para dizer a verdade, para que a pessoa se torne um camicaze da verdade. Trata-se de avaliar o alcance de nossas palavras e dizer o que é necessário, nem mais nem menos.

7. Graça. É o ponto médio entre ser um palhaço e ser tão hostil que somos rudes. É um saber ser, para que outros gostem da nossa empresa.

8. Sociabilidade. Muito antes de os neurocientistas descobrirem que temos que escolher nossos amigos com cuidado, pois nossos cérebros acabarão se assemelhando aos seus, Aristóteles já nos advertiu do perigo de sermos sociáveis demais com muitas pessoas, bem como da incapacidade de fazer amigos. O filósofo acreditava que deveríamos escolher nossos amigos com cuidado, mas também cultivar esses relacionamentos.

9. Decoro. É o ponto médio entre ser muito tímido e ser sem vergonha. Uma pessoa decente respeita a si mesma e não tem medo de cometer erros, mas não cai em insolência ou impertinência tentando passar sobre os outros. Ele está ciente de que todos merecem ser tratados com respeito e exigem o mesmo respeito por si mesmos.

10. Justiça. É a virtude de lidar de forma justa com os outros, a meio caminho entre o egoísmo e o total desinteresse. Consiste em levar em conta tanto as necessidades dos outros quanto as próprias, para encontrar o meio termo que nos permita tomar decisões mais justas para todos.

A coisa mais interessante sobre a proposta de Aristóteles é que há espaço para erro, para cometer erros, aprender e melhorar sem sentir que somos pessoas más ou que não conseguiremos alcançá-lo. 

junho 10, 2022

O COBRIDOR EXTERNO - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz



O irmão Almir Sant'Anna Cruz é um dos mais prolíficos escritores maçônicos do Brasil.

*Joia:* Alfanje

O Alfanje, também denominado Gadanha, é um tipo de Foice com um cabo comprido e uma pega no meio, com uma lâmina na extremidade, utilizada para ceifar. Embora seja uma ferramenta agrícola, geralmente é associada a morte, ceifadora da vida humana.

Como joia do Cobridor Externo não há consenso quanto ao seu real significado, parecendo mais como um tipo de arma que preserva o Templo dos curiosos e indiscretos.

Talvez essa falta de consenso decorra do fato de haverem duas palavras com grafias e pronúncias semelhantes (homônimas e parônimas): Alfanje (com jota) e Alfange (com g). O Alfanje (com jota) é uma ferramenta agrícola semelhante à Foice e o Alfange (com g) é uma arma semelhante a uma espada.

A figura da joia do cargo é um Alfanje (com jota), mas como veremos na descrição a seguir, constante na Cerimônia de Investidura e Posse dos Oficiais da Loja, é grafado e descrito como um Alfange (com g). 

*Investidura e Posse:* 

Com a seguinte locução do Venerável Mestre eleito: “Irmão Cobridor, este Alfange, que é a Joia que vos confio, indica que vós devereis nos preservar da aproximação dos curiosos e dos indiscretos. Ele nos mostra que devemos impedir que se aproximem de nosso espírito os maus senti-mentos, tanto quanto a fraqueza e a traição”.

*Alfaias:* Avental de Mestre e Colar com a joia do cargo.

*Instrumentos de trabalho:* Espada

*Correspondência na Abobada Celeste:*

É interessante notar que, em relação aos planetas, figurados na Abobada Celeste, temos Mercúrio, Vênus, Terra (o próprio Templo), Júpiter e Saturno. Além de Urano, Netuno e Plutão, que não são vistos a olho nu, faltou o planeta Marte. Esquecimento? Não! Ora, na mitologia grega, Marte é o deus da guerra e evidentemente não poderia comparecer na Abobada Celeste Maçônica, visto que não se coaduna com os objetivos da Ordem, que visa a paz, a harmonia e a concórdia universal. Então, pode-se dizer que, simbolicamente, Marte está do lado de fora do Templo, ambiente profano de incompreensões, lutas e tumultos e representa o Cobridor Externo. 

*Atributos do cargo:*

Armado de espada, o Cobridor Externo, pelo menos durante o início dos trabalhos litúrgicos fica no lado exterior do templo, em suas cercanias e, posteriormente, senta-se, dependendo da Potência Maçônica, à direita ou a esquerda da porta de entrada. 

É o responsável por fazer observar o mais rigoroso silêncio nas cercanias do templo, cuidar para que nada do que é dito em seu interior possa ser ouvido externamente e certificar-se quanto às condições de regularidade maçônica dos visitantes. 

Em razão de suas importantes funções, recomenda-se que o cargo seja confiado a um Mestre experimentado. 

Para a Escola Ocultista, corresponde ao princípio humano do corpo físico denso e ao plano físico inferior, atraindo, quando da abertura das sessões, devas (anjos) comandantes de seus respectivos espíritos da natureza e elementais. 



Excerto do livro *Manual dos Cargos em Loja do REAA*

Interessados no livro contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 09, 2022

DESENVOLVIMENTO DE ESTUDOS EM UMA LOJA MAÇÔNICA - Arabutan Alves Marinho



Modernamente, as Lojas Maçônicas carecem de um avanço na técnica e sistemática quanto à arte de ensinar com a finalidade de transmitir, com resultados mais promissores, sua Doutrina Filosófica comum a todas as Ordens Maçônicas.

Dizer da existência de uma filosofia especificamente maçônica é praticamente inviável, pois ela aglutina, numa espécie de sincretismo cultural e de conhecimentos, pensamentos de vários luminares, a maioria não maçons. Isto obriga a uma organização de estudos acurada e dialeticamente livres para discussões e para pesquisas além dos simples rituais que são oferecidos á guisa de orientação e que não passam de normas, algumas esotéricas, para procedimentos em Loja.

Entender a Maçonaria exige muito mais e registramos, aqui, alguns questionamentos:

A quem cabe essa tarefa? 

- Aos Mestres ou fica por conta do interesse do neófito, perdido em tantas informações desencontradas? 

- Aos instrutores capacitados, os quais enfrentam a “claque” de Maçons, divorciados da leitura e do conhecimento, que batem palmas para o “oba-oba” das dignidades com fixação em promover o não conhecimento maçônico? 

- Ou ao “bel prazer” da vontade de cada um em buscar esses conhecimentos e respectiva sabedoria, mesmo correndo o risco maior de deformações nos conceitos e erros de interpretações, para encontrar a “sua” verdade, por comodismo dos responsáveis que o induziram a ser maçom?

A resposta a estas questões dirá do destino da sinceridade em relação à Oficina quanto às responsabilidades impostas pelos Princípios Maçônicos.

A escolha é de cada uma, mesmo porque os impérios (não existe contexto maçônico republicano ou democrático e se a realidade é esta, é porque o apelido que achamos para estes impérios é de “ditadura democrática”) das administrações maçônicas não têm interesses em promover o neófito [quantos mestres maçons ainda continuam neófitos?] aos parâmetros de exigências que construam o verdadeiro conhecimento dos tão decantados princípios maçônicos. Dá muito trabalho...

“A construção do conhecimento fundado sobre o uso crítico da razão, vinculado a princípios éticos e a raízes sociais é tarefa que precisa ser retomada a cada momento, sem jamais ter fim” . (Prof. Vanderlei de Barros Rosas - Professor de Filosofia e Teologia. Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Além do que expomos vários são os pontos de estrangulamento para que se faça presente o verdadeiro estudo maçônico evitando a caricatura que aí existe:

1) o primeiro estrangulamento é período destinado ao estudo (tempo de estudos, de acordo com o ritual) onde se recomenda quinze minutos e, com muito custo e concessão estende-se para trinta minutos;

2)  o segundo estrangulamento está na disposição recomendada no estudo dos textos contidos nos rituais que não se sequenciam nas explicações, principalmente nas ênfases esotéricas dos simbolismos e respectivas ilações, ficando ao bel-prazer das fantasias e mitos de cada um;

3) o terceiro estrangulamento está na fixação psicológica da maioria dos Mestres em achar que aprender maçonaria é praticar, ritualisticamente, o ritual e desenvolvê-lo de uma forma militar;

4) finalmente, o quarto estrangulamento está no número bastante restrito de MM.'. MMaç.'. capazes de transmitir informações e conhecimentos  historicamente corretos e baseados na Razão Crítica.

Os que utilizam como argumentos para justificar os estrangulamentos descritos são, na mais simples dialética analítica de bom senso, quiçá de bom e firme conhecimento, infantis e desprovidos de alicerces que convençam!

Como fazer para atender, pelo menos, cinquenta minutos de estudo sério e sistematizado, é do esforço e intenso interesse da Loja, cauterizando os penduricalhos administrativos e com a criatividade necessária, erradicá-los...

Confeccionar um programa de estudos que privilegie as seguintes vertentes de conhecimento:

- Assuntos de interesses sociais, éticos e de relevância pública. (O Maçom não é um alienado social e nem membro especial da sociedade em que vive).

- Assuntos que contemplem os graus maçônicos em seus aspectos ritualísticos, simbólicos e de conteúdos formadores, das Lojas simbólicas.

- Assuntos sobre a Maçonaria baseados em pesquisas de autores de formação acadêmica em historiografia que agregue a filosofia da formação do homem maçom junto à sociedade atual. (O descompasso entre a participação da Maçonaria e os problemas da Nação é enorme e evidente).  

Exemplificamos, neste ponto, com uma questão: A Maçonaria prima e se auto elogia pelo valor de suas iniciações, onde cada grau tem seu esoterismo ou a finalidade de atingir a mente do candidato para que amplifique suas qualidades e combata seus vícios, porém, como base natural da necessidade de se conhecer para mudar fica a pergunta: Onde, historicamente, poderíamos buscar fontes esclarecedoras das raízes desses rituais e seu verdadeiro papel na mudança da intimidade do homem? Por que são necessários esses rituais de iniciações? Acredito que em tal conhecimento se finca (fundação) a primeira estrutura do conhecimento necessário, perfeito, sobre os já maçons.  – Aguardamos respostas...!

Voltando ao tópico dos assuntos a serem estudados, observa-se que todas as organizações de cunho formador ou doutrinador se atualizaram, ao longo do tempo, diante das proposições dos grandes pensadores e do avanço social e cultural da humanidade, modernizando seus ensinamentos e atualizando-os sem desfigurar suas ideias e conceitos. 

Utilizam-se de métodos modernos de debates e estudo, organizam sistematicamente os assuntos de relevância para o meio social impregnando suas ideias e o que é de vital importância: dão conhecimento ao mundo sobre o que pensam permitindo a avaliação pública dos enunciados que defendem.

A Maçonaria viveu, durante um bom tempo, a fase do secretismo – o que teve suas justificativas pelos tempos turbulentos que atravessou e sobreviveu – porém, hoje, tendo em vista a vasta literatura exposta sobre a Ordem, não tem sentido vivermos a ilusão de colocar o Maçom acima da exposição pública em seu comportamento e adoção das ideias maçônicas. 

O julgamento público faz parte inalienável da democracia e da justeza dos próprios princípios maçônicos. O que temos e tememos para esconder?

Vamos melhorar o nosso conhecimento... vamos utilizá-lo para formular soluções efetivas numa sociedade que, atualmente, precisa de lideranças bem formadas nos princípios qualificativos do caráter humano e, isto, a Maçonaria pode, perfeitamente, preparar e atuar!

junho 08, 2022

DECORAIS E ABRILHANTAIS - Pedro Juk



O Ir. Pedro Juk é o Secretário Geral de Orientação Ritualística do GOB - Poder Central

O respeitável Irmão Antonio Raia, Mestre Maçom, sem declinar a Loja, Rito e Oriente, apresenta a seguinte questão:

Desde já, gostaria de agradecer o sempre de Pé e a Ordem com que o Eminente Irmão nos responde. E, mais uma vez vou com outra consulta; “Irmãos que decorais a Coluna do Norte e Irmãos que abrilhantais a Coluna do Sul”. Qual o verdadeiro SIGNIFICADO de decorais, e abrilhantais? Pois dei recentemente a explicação que recebi outrora e fui indagado por um Mestre Instalado, Grau 33, (Inspetor Litúrgico) aonde eu li, pois não estava explicando como devia. Não discuti, pois estava em Loja com Aprendizes e Companheiros e respeitando a sua AUTORIDADE garanti que iria pesquisar e quando tivesse a certeza voltaria àquela Loja para responder a mesma coisa, ou responder e pedir desculpas se errei.

CONSIDERAÇÕES:

No caso do Primeiro Vigilante e a locução “(...) decorais a Coluna do Norte” existem dois aspectos para serem considerados: Primeiro, DECORAR, como verbo transitivo direto que menciona o ato de guarnecer com adorno, ornamentar, realçar, avivar, etc. Nesse sentido o significado está diretamente ligado à Meia-Noite que em linhas gerais representa de forma figurada a maturidade e a aproximação do fim da vida.

A Obra, nessa definição, é o elemento construído ao longo da vida que, se bem aplicada e bem produzida decora a passagem do Homem pela efêmera vida terrena. Em síntese é a moldura do quadro da vida. 

No segundo aspecto e de caráter exteriorizado seria do verbo “decorar” com transitivo direto e indireto que exprime dentre outros o caráter de “honrar, enobrecer”. Assim o significado está diretamente ligado àqueles que se posicionam na Coluna do Norte, cujo intuito é também o de honrar e enobrecer aquele espaço de trabalho, ou seja: os que honram e enobrecem Setentrião.

No caso do Segundo Vigilante e a locução “(...) abrilhantais a Coluna do Sul”, ABRILHANTAR concerne ao Meio-Dia e a ação da Luz que abrilhanta a elevação da Obra. Nesse sentido o Meio-Dia, ou Sul está representado pelo quadrante por onde a Luz se desloca, ou a passagem do Sol (ponto de vista do Hemisfério Norte).

No próprio Painel da Loja, há que se notar a existência de três janelas – uma no Oriente, uma no Sul e a outra no Ocidente. Isso implica a marcha da Luz. Daí, nessa relação não existir janela na banda Norte.

Por assim ser o verbo “abrilhantar” tido como verbo transitivo direto menciona dar brilho, ou luz viva para alguma coisa. Também tornar brilhante, luzente e reluzente. Isso implica que o Obreiro dá Luz ao trabalho, tornando-o brilhante, reluzente.

Esse trabalho é a obra elevada, ou a Obra da Vida. ABRILHANTAR, ainda como verbo transitivo direto, implica em dar brilho, realçar, etc. 

Também completa a explicação se tomado como verbo pronominal que exara a tornar-se brilhante, reluzente, adquirir maior brilho, maior realce; realçar-se. 

Assim o verbo “abrilhantar” sugere uma ligação direta, em termos de Maçonaria, com os ocupantes da Coluna do Sul, donde o Segundo Vigilante observa a passagem no Sol no meridiano do Meio-Dia, tendo sobre si, no caso do Rito Escocês Antigo e Aceito a Estrela Flamejante, apresentada como a Estrela Hominal (objeto de estudo do Companheiro) que recebe o brilho, posto que ela, a Estrela, representa o Homem e a sua Obra (letra G=geometria) na fase intermediária da vida – entre a infância e a maturidade.

Agora quanto ao Mestre Instalado, Grau 33 e Inspetor litúrgico eu gostaria de deixar aqui uma pequena observação. Qualquer questionamento, desde que seja feito nos moldes maçônicos, pode ser feito por um Obreiro, porém como Irmão do simbolismo. 

A despeito de que Mestre Instalado não é grau, porém uma distinção, este se coaduna perfeitamente com os Graus Simbólicos, portanto lhe é de direito, todavia Inspetor Litúrgico do Rito são arte e ofício daqueles que pertencem aos chamados “altos graus” do escocesismo, assim nunca é demais lembrar que não existe e não pode haver qualquer interferência desses “altos graus” no simbolismo, sobretudo discutindo ritualística do universal franco básico maçônico (Aprendiz, Companheiro e Mestre). 

É obvio que qualquer Obreiro pertencente aos “altos graus”, por extensão é um Mestre Maçom e como Mestre Maçom ele deverá se pronunciar os Graus Simbólicos.


junho 07, 2022

O LAÇO E O ABRAÇO - Mário Quintana



O gaúcho Mario Quintana foi tradutor, jornalista e um dos maiores poetas do Brasil.


Meu Deus! Como é engraçado! Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...

Uma fita dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.

É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.

É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.

E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.

Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.

Ah! Então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.

Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço.

Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.

E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.

Então o amor e a amizade são isso...

Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.

Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

junho 06, 2022

O QUE APRENDI COMO APRENDIZ MAÇOM - Ir.’. José Marcos Paula Theodoro


Quando entre colunas, ouvi muito, falei pouco, observei bastante; li muito, tudo o que pude, e sempre tirei algum ensinamento para a minha vida maçônica ou profana. Mas afinal, o que eu aprendi? 

Aprendi que um homem de bem deve manter a posição nas fileiras do bem, sustentando a própria fé, abraçando o trabalho do bem e aos outros com alegria, evitando relacionamentos inconvenientes ou inúteis, procurando sempre o lado melhor da situação e as pessoas para qualquer referência, não sonegando, entretanto, auxílio e compreensão aos semelhantes; e se cair em erro, buscar a retificação, sem qualquer desculpismo. 

Conheci instrumentos de trabalho, como o Malhete, o bastão, as espadas, a régua, o maço e o cinzel, a bolsa de PProp.’. e IInf.’., a bolsa de Beneficência, livros, documentos e o próprio Pavilhão Nacional; alguns até comuns da vida profana, mas que, através do ensinamento maçônico, cada um com seu significado, transformam-se em verdadeiras ferramentas de vida, de fé, de coragem, de esperança e de trabalho. 

Aprendi que a caridade do maçom não tem limites, mas este deve sempre agir com os ditames da prudência. Compreendi que a maior caridade é a que fazemos para nós mesmos, cuidando de nossa mente e de nossa família, renovando constantemente nossos pensamentos, simplesmente dizendo a si mesmo que quer pensar corretamente e procurando eliminar as impurezas mentais, substituindo-as pelas potencialidades mais sublimes, nossas virtudes, pois todos nós a temos em nosso coração, basta que procuremos. 

Aprendi que o Maçom deve se alicerçar na virtude da Fidelidade, pois a Maçonaria busca instilar em seus membros as virtudes da tolerância, honestidade, caridade e lealdade. O laço invisível que liga todos os maçons é parte da experiência deles nas culturas, não somente o trabalho dentro da Loja, mas também no mundo. 

A qualquer parte aonde ele vá, qualquer posição dele na vida, o maçom sabe que quando ele encontra um irmão, ele estará encontrando alguém que oferecerá a amizade, suporte moral e qualquer ajuda prática que possa necessitar. A Maçonaria é uma sociedade baseada na verdade: a verdade que é enfatizada no fechamento de todos os encontros maçônicos, quando os presentes se unem para expressar a fidelidade mútua. 

Aprendi que ser Maçom é despertar o sentido de compreensão do indivíduo e estar preparado para assisti-lo nos momentos de dificuldades. No aprendizado inicial aprendemos que além dos SS.’. TT.’. e PP.’. o Maçom deve ser reconhecido pelos atos e posturas dentro da sociedade e no meio onde vive. 

Do ponto de vista maçônico, encontramos na terceira Instrução do Ritual de Aprendiz Maçom a assertiva de que a inteligência, quando dirigida por uma sã Moral, é suficiente para discernir o Bem do Mal. A Moral ensinada pela Maçonaria baseia-se no amor ao próximo, não só dentro das Lojas, mas também na vida profana, para exercitar aquilo que foi aprendido nos nossos templos; do contrário seremos apenas acadêmicos bem formados. 

A cada ensinamento, cada lição e conversa com os irmãos, aprendi palavras novas, sinais de comunicação não compreensíveis no mundo profano, que só o verdadeiro maçom pode decifrar, jurando sempre ao final de cada sessão, o mais profundo silêncio de tudo que vi e ouvi, sem nada revelar. Mais uma vez, estaria praticando a fidelidade. 

Com meu avental aprendi que esta é a mais honrosa insígnia do maçom, emblemático do trabalho e indicativo de que sempre temos que ser ativos e laboriosos na construção de um mundo melhor, cujo simbolismo é a pedra bruta, que é o objeto do trabalho inicial de qualquer construção. 

Cada pedra é única e liberta-se da sua forma tosca através de um árduo trabalho de aperfeiçoamento, polindo as suas faces, alisando as suas arestas, para que possa ser uma das peças do edifício, que é o nosso próprio aperfeiçoamento moral que sendo construído. 

junho 05, 2022

UM COMPANHEIRO NUMA SESSÃO DE GRAUS SUPERIORES* (baseado num acontecimento real) = Ademar Valsechi



O Ir.’. Ademar Valsechi, de Sta. Catarina é médico, intelectual maçônico, expert em música e excelente escritor.

- O Companheiro (grau 2) M.S., já de certa idade (mais de 70 anos), maravilhou-se pela maçonaria e além de sua Loja, frequentava tudo que vinha ao seu conhecimento, sejam reuniões virtuais ou presenciais.

Um dia, seu conhecido, o Ir.’.  E.M. o convidou para uma sessão com palestra, num determinado sábado pela manhã, com início às 09:00 horas. O Ir.’. enviou a localização e combinaram chegar mais cedo, com o traje usual: Terno, sapatos e gravata pretos com camisa branca, não esquecendo os paramentos do grau.

O Ir.’. M.S. colocou seu avental branco na bolsa de sempre e se dirigiu ao endereço. 

Lá chegando, o Ir.’. E.M. o aguardava e foi apresentado aos outros, mas o Ir.’. M.S. já conhecia muitos deles. 

À medida que outros Irmãos chegavam, além dos cumprimentos, iam colocando os paramento. O Ir.’. M. percebeu muitos aventais e faixas diferentes. 

Perguntou ao Ir.’. E.M. por que o paramento diferente, ele falou que estava no grau 21. Chegou um conhecido, médico que foi seu professor na Faculdade de Medicina, que o cumprimentou efusivamente e além de avental e faixa também colocou um chapeuzinho na cabeça. - Ele é grau 33, soprou alguém ao seu lado.

Após os abraços, foi convidado a assinar o livro de visitantes. Colocou o nome e onde citava o grau, colocou em número romano II.

O Ir.’. que estava coletando a assinatura, que demonstrava idade avançada perguntou ao Ir.’. M.: 

- Grau 11?

O Ir.’. M. respondeu: - Dois, mas o seu sotaque manezinho soou “Dox”. O Ir.’. Chanceler, um tanto surdo falou: - Doze? e comentou: - Parabéns, está subindo a escada com galhardia.

- Não, respondeu: Grau dois, monstrando com a mão, dois dedos erguidos.

O Ir.’. E.M. nada percebeu, pois estava do outro lado conversando.

Alguns Irmãos como o grau 33, outro com paramentos parecendo do time de futebol Vasco da Gama e outros de cores parecendo arco-íris, sumiram.

Mais tarde contaram o que aconteceu: 

- Sabendo do fato, o presidente da Loja de Perfeição, que iria dirigir aquela sessão, convocou rapidamente os responsáveis pelos outros Corpos Filosóficos presentes e apresentou o problema: 

- Temos aqui um Irmão dos Graus Simbólicos, que sem perceber foi convidado para uma sessão dos Graus Superiores.

O Ir.’. Grau 33, ponderou:

- Conheço este Ir.’. M.S., meu colega médico e altamente interessado. Se Ir.’. palestrante chegou, podemos conversar com ele?

- Sim, vamos fazer isto, respondeu um deles.

Sabendo do que se tratava, o Ir.’. palestrante comentou que o assunto versaria ao nível do grau 4, dando conhecimento aos novos iniciados, o que se propõe os Graus Superiores.

O Ir.’. Grau 33, propôs:

- Poderia apenas alterar levemente o foco e fazer uma palestra promocional, para todos nós, de como poderemos motivar os novos Irmãos grau 3, a assumirem os Graus Superiores?

- Sem problemas, respondeu o experiente palestrante.

Neste momento entra o Ir.’. E.M. preocupadíssimo, explicando que o Ir.’. M.S. pela idade e conhecimentos demostrados, lhe deu a impressão de estar nos Graus Filosóficos.

- Fique tranquilo, respondeu o Presidente da Loja de Perfeição. Está tudo sob controle.

O Mestre de Cerimônias solicitou que todos se preparassem para o cortejo e pediu ao Ir.’. M. que ficasse fora, um pouco distante da porta. Com certeza para nada ouvir. Iriam fazer a abertura da sessão normal para o grau 4 e ao se colocar a Loja em recreação, ele seria convidado a assistir a palestra.

Assim foi feito. Depois de alguns minutos, o Mestre de Cerimônias o conduziu para dentro do Templo, indicando o local para sentar. Foi uma bela palestra motivacional. Logo foi conduzido novamente para fora, aguardando o fechamento da Loja e a saída de todos.

Depois foram para o ágape e a brincadeira reinante foi a “goteira”, que colocou em “saias justas” os Presidentes dos Corpos Filosóficos.

Agora o Ir.’. M.S. já é Mestre, grau 3 e, apesar de ainda não ter o tempo suficiente de Mestrado, está louco para entrar nos Graus Superiores, querendo ser iniciado no Grau 4.

junho 04, 2022

AS SETE ARTES LIBERAIS - Ir.’. Mauro Tavares




Ao começar meus estudos sobre a Arte Real, especificamente sobre o Painel de Aprendiz, fiquei maravilhado frente ao oceano de significados que um simples ponto pode representar. Fato este que deixaria, sem sombras de dúvidas, qualquer grande autor dos tratados de semiótica, como por exemplo o afamado Humberto Eco (autor do renomado livro “O Nome da Rosa”), estimulado.

E se este mesmo autor analisasse as colunas B e J? As características arquitetônicas, filosóficas e maçônicas de cada parte destas colunas? Pois é, foi com esta curiosidade que me deparei com a corda de 7 nós, também presente no painel de aprendiz. Daí a primeira pergunta: por quê sete nós? Comecei a pesquisar. Daí a minha primeira dificuldade, pois a maioria dos autores compulsados não falavam tudo, sempre deixando alguma coisa no ar como se nos induzisse a procurar mais. 

Procurei em outros, mais um pouco de respostas, mas, ainda, com dúvidas. Isso não é bonito? Pensei, como é perfeita a maçonaria, mesmo nos respondendo nos estimula a procurar mais, por que as respostas nem sempre estão juntas. Mas por que sete nós e não quatro, dois, nove ou outro número? Assim, nesta odisseia de pesquisa, enviei um e-mail ao Ir.’. José Castellani indagando sobre os sete nós. E como não poderia ser diferente, o mesmo deu-me pistas para eu mesmo procurar as respostas. 

O sete por ser um número cabalístico, nos induz a pensar em muitos significados... Foi na obra “ Curso de Maçonaria Simbólica”, do Ir.’. Theobaldo Varoli Filho, que pude encontrar uma adequada explicação, no que se refere aos sete nós. Tudo teve início nas ordens monásticas medievais, ou seja, o ensino era gratuito ( como ainda hoje é preconizado pela nossa Or.’. ) e a disseminação da cultura era muito estimulada entre os mesmos, sendo esta última enfatizada pelos Beneditinos. 

Cassiodoro (468-561), após ter sido primeiro ministro do rei Ostrogodo Teodorico, fundou um convento e agregou monges, cujas principais obrigações eram a de reproduzir manuscritos e a praticar algumas artes ditas como liberais. Liberais por ser dignas de um homem livre e totalizavam sete, ou seja, gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, música e astronomia. 

Todavia coube a Boécio, um filósofo, poeta e estadista contemporâneo de Cassiodoro, a distinção das sete artes liberais em TRIVIUM (gramática, lógica e retórica) e QUADRIVIUM (aritmética, geometria, música e astronomia), o que correspondia a uma divisão de estudos em dois ciclos. 

Estas sete artes representavam, em razão direta, as artes que o Aprendiz tinha que dominar para ascender na Esc.’. de Jacó, ou seja, era necessários sete anos de estudos, uma arte por ano, para que um Apr.’.M.’. passasse a Comp.’.M.’. Isto ainda ocorria nos primórdios da maçonaria especulativa. Ainda hoje, encontramos no ritual do grau 1o. do REAA, que o Apr.’. deve procurar dominar as Sete Artes Liberais. 

E por gramática entende-se que é a sistematização dos fatos da linguagem, por retórica a arte de bem dizer e de exprimir, lógica a ciência da verdade e do método ( aqui cabe um parêntesis: ainda no referido ritual do Grau 1o., cabe ao maçom, discípulo de liderança, o dever de falar e escrever com correção e verdade, e, acima de tudo, falar pouco e dizer muito ); por aritmética a ciência dos números, geometria é o estudo das medidas e extensões, e além dos ensinamentos simbólicos e filosóficos que proporciona, a geometria ensina, aos obreiros da Arte Real, a contar e medir seus próprios atos; por música, além de demonstrar a exatidão dos números de vibrações por segundo (frequência) dos sons realmente afinados, inspira a grandes emoções e a harmonia, haja vista a presença desta importante coluna representada pelo M.’. de Harm.’., que, inclusive, é o propósito de outro trabalho já concluído; e, por último, a astronomia – que além de seus ensinamentos científicos, mostra ao Maçom a sua insignificância diante da obra do GADU, e que o maçom, sendo o microcosmo, procura inteirar-se da grandeza do macrocosmo. Para aqueles IIr.’ que queiram aprofunda-se no conhecimento destas artes, cito a tese do Ir.’. Carvalho Nunes, publicada pela Ed. A Trolha, intitulada “ As artes liberais e a Maçonaria”.

Por fim, espero, que, com este simples trabalho, eu tenha contribuído ao enriquecimento dos conhecimentos maçônicos dos IIr.’. participantes desta Lista, especificamente no que se refere à corda de sete nós que adorna o painel do grau de Apr.’.M.’..

junho 03, 2022

A POSSE DE DEUS - Charles Evaldo Boller



A oposição maçônica contra a ignorância acontece naturalmente e sem demandas sangrentas, como no caso das cisões da Reforma.

Mesmo a contragosto de maçons operativos, cujo fervor religioso era intenso, as mudanças foram ocorrendo em resultado da iluminação (Aufklärung, Kant) dos homens que se reuniam às escondidas do fanatismo da religião.

Aos poucos os grilhões da ditadura religiosa foram despedaçados pelo poder do pensamento.

A Maçonaria Especulativa adota a filosofia deísta e cunha a ideia Grande Arquiteto do Universo para solucionar os problemas de consciência religiosa, sustar o temor da vida após a morte usada despoticamente pelas religiões. Isto possibilita um forro de debate onde se discutem assuntos ligados à evolução do homem em sentido lato: longe de debates sobre religião e política militante, assuntos que sempre trazem consequências desastrosas ao convívio pacífico das pessoas.

Todo maçom sabe que na ordem maçônica ele alcança livremente à realidade última de si quando entende o significado do conceito Grande Arquiteto do Universo. Este significa a liberdade absoluta pelo poder do pensamento baseado num conceito de fé prática. É assemelhado ao proposto na filosofia moral de Kant, onde se reconhece nesta fé uma atitude comprometida com a moral, uma ação com objetivos necessários, práticos.

Todo maçom iluminado (Aufgeklärt, Kant) é profundamente religioso porque disso depende sua fé num Princípio Criador.

A Ordem Maçônica inspira profunda espiritualidade usufruindo de liberdade em sentido amplo, onde a principal liberdade reside no fato de partirem-se os grilhões que o tentam subjugar pelo medo às ameaças proferidas pelos religiosos com respeito à vida após a morte.

A Maçonaria prepara o adepto para o enfrentamento da angústia existencial. Na Maçonaria cada grau implica num relacionamento cada vez mais íntimo com a morte, onde esta é aceita como passagem de uma condição imperfeita para outra melhorada. E para que tal aconteça, não há necessidade de morrer de fato, isto é realizado simbolicamente — o maçom evolui a cada passo em direção à Luz (Aufklärung, Kant) que veio buscar na porta do templo maçônico.

junho 02, 2022

A REFLEXÃO FILOSÓFICA



Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.

A reflexão filosófica é tida como radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.

A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações. A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões:

- Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?

- O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?

- Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?

Essas três questões podem ser resumidas em: o que é pensar, falar e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento? A atitude filosófica inicia-se indagando: o que é?, como é?, por que é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. 

São perguntas sobre a essência, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.

A reflexão filosófica, por sua vez, indaga: por quê?, o quê?, para quê?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.

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Bibliografia

PRÉ-SOCRÁTICOS, Col. “Os Pensadores”, vol. 1, seleção de textos e supervisão do prof. Dr. José Cavalcante de Souza, São Paulo, Abril Cultural, 1978.

junho 01, 2022

O SEGREDO MAÇÔNICO - Ir. Antonio Aguiar de Sales


Ir.: ANTONIO AGUIAR DE SALES  Venerável Mestre da A.:R.:B.:L.:S.: LIBERDADE n. 1 da Grande Loja Maçônica da Bahia, Brasil.

Adaptado ao ensino das verdades de ordem superior, religiosas e metafísicas, ou seja, de tudo que é repelido ou descuidado pelo espírito moderno. “É inteiramente o oposto do que convém ao racionalismo, e todos os seus adversários comportam-se, sem saber, como verdadeiros racionalistas”, acrescenta René Guénon ao pregar uma reforma da mentalidade moderna – restauração da verdadeira intelectualidade e das tradições doutrinárias. Muitos são os que continuam mergulhados nas trevas, mesmo após lhes serem retiradas as vendas, pois em suas retinas não penetrou o fulgor das Luzes da Iniciação Maçônica.

Os segredos nunca lhes serão revelados. Estes segredos só serão descobertos por si próprio, através de seus estudos, observações e compreensão dos símbolos e uma clara interpretação da Ritualística Maçônica. A porta foi aberta, os segredos gradativamente mostrados e, no entanto, não os viram, pois a pedra bruta do “eu interior” não foi desbastada e o espírito não foi burilado.

A Maçonaria não é secreta, todavia possui um segredo básico e é justamente por causa da existência desse segredo que temos certeza que existe a segurança da imutabilidade de sua doutrina. Se procurarmos olhar os símbolos através da ótica filosófica, iremos verificar que eles são segredo básico da Instituição Maçônica. Quando alguém procede à análise de um símbolo, encontra algo que repercute exclusivamente na sua consciência e essa repercussão é absolutamente intransferível. Quando afirmamos que os símbolos são o grande segredo maçônico, fazemo-lo com convicção, uma vez que sabemos que só o iniciado, depois de muito esforço e estudo, será capaz de fazer a exegese perfeita de um símbolo.

A Maçonaria adota o símbolo como uma das maneiras de se alcançar um determinado tipo de conhecimento e reside aí o grande segredo a revelar as razões por que a doutrina maçônica permanece intacta apesar de lugares e épocas completamente diferentes.

Concluímos com um pensamento do Irmão. “O simbolismo é a síntese da sabedoria humana no caminho transcendental da procura da VERDADE única e absoluta; sem ele a Maçonaria torna-se um corpo sem cérebro, robotizado e sem faculdades intuitivas.

Meditemos sobre isso.

Executava milagres;

Foi perseguido por um tirano em sua infância;

Subiu ao Céu.

• Buda:

Nasceu também de uma virgem, Maya;

É chamado de Pastor Bom;

Executava milagres;

Atingiu a Iluminação.

• Hórus:

Nasceu de uma virgem, no dia 25 de dezembro;

É considerado o Messias, a Luz e a Verdade;

É chamado de Pastor Bom e de KRST — O Filho Ungido de Deus;

Executava milagres;

Tinha 12 discípulos;

Foi enterrado e, no terceiro dia, ressuscitou um homem.

• Mitra:

Os (algumas vezes chamados de Cavaleiros de Cristo, Cavaleiros do Templo, Pobres Cavaleiros, Ordem do Templo, O Templo, etc.).

No outono de 1127, Hugues e mais cinco cavaleiros foram à Roma pedir o reconhecimento do Papa e buscar novos cavaleiros. Lá entraram em contato com Bernard de Clairveaux, que se interessou pela Ordem. Ele era líder da Ordem Cisterciense (ou monges-brancos, uma dissidência dos monges beneditinos). Em 13 de janeiro de 1128, foi realizado, então, o Conselho de Troyes, presidido pelo legado do Papa Mathieu d’Albano, os bispos de Troyes e de Auxetrre e muitos abades, entre eles o abade de Citeaux e, provavelmente, Bernard. Quando se uniu à Ordem, Bernard foi imbuído pelos ideais e convicções dos Cavaleiros de Borgonha. Ele era contra os cavaleiros que usavam cabelos longos, jóias, sedas e plumas. Bernard, então, foi chamado pelo Conselho de Troyes para criar as regras da Ordem. Ele levantou a bandeira e pediu suporte contra as Ordens que possuíam terras e dinheiro, exortando assim os homens de boa família a largarem a vida de pecados e entrarem para a Sua Ordem. Resumindo, o último Mestre da Ordem foi Jacques de Molay.

Arrogante e iletrado, fez duas coisas para chegar ao poder: republicou a antiga regra da Ordem do Templo, a qual dizia que eles não podiam possuir livros, por achar que isso os mantinha distraídos da arte da guerra; e preparou outra cruzada para reconquistar a Terra Santa. O motivo mais plausível para tais atitudes seria que, sem a Terra Santa para defender, a Ordem do Templo poderia ser extinta. Outras Ordens coirmãs também haviam se estabelecido em principados próprios. Os Hospitalários, na Ilha de Malta, e os Cavaleiros Teotônicos, em Ondersland. Os Templários, por sua vez, tinham suas vistas para a área do Languedoc. Eles receberam várias doações, privilégios especiais e adquiriram inúmeras posses, tornando-se ricos e poderosos.

Por isso, diante da necessidade da Coroa Francesa, fizeram-lhe um empréstimo considerável. Em 1306, o rei Filipe IV — também conhecido como Filipe, o Belo — estava desesperadamente quebrado. Tinha previamente quitado seus débitos com os judeus e os lombardos da França, prendendo-os e exilando-os. Tramou, então, um audacioso plano para conseguir o lendário tesouro templário. Só um crime poderia condenar os Pobres Cavaleiros: a heresia, visto que eles deviam obediência somente ao Papa. Filipe teve ajuda de um ex-cavaleiro templário, Esequieu de Floryan, que, pessoalmente, queria a desmoralização da Ordem, e de um perito em criação de heresias, chamado Guillaume de Nogaret. Filipe, então, arranjou um “papa-fantoche”. Numa sexta-feira, 13 de outubro de 1307, todos os Templários foram presos na França(daí a crença de que sextas-feiras 13 dão azar), e o Papa de Filipe enviou ordens de prisão a todos os Cavaleiros de Cristo, pedindo aos reis cristãos que fizessem o mesmo.

Os cavaleiros foram torturados, cada um de uma maneira, e forçados a confessar coisas absurdas, tais como: Cultuar um ídolo de nome Bafomé; Cuspir e pisar na cruz e até mesmo, negá-la; Não praticar sacramentos; Conspirar; Praticar sodomia e homossexualismo. Os três últimos Templários foram queimados na estaca. Eram eles, Hugo de Pairaud, Godofredo de Charney e o Grão-Mestre da Ordem, Jacques de Molay. “Non Nobis Domine. Non Nobis, sed Nomini Tuo da Gloriam”. (“Não por nós, Senhor, não por nós, mas para que teu nome tenha a glória”). Uma pesquisa recente revela-nos que os Templários acolheram vários refugiados cátaros. Bertrand Blanchefort, por exemplo, foi Grão-Mestre da Ordem e era descendente de família cátara. Há uma evidência documentada de que muitos Cavaleiros Templários ajudavam os cátaros nas lutas contra a Cruzada.

Quem afirma isso são os Abraxas, um grupo que é dirigido por Charles Bywaters e Nicole Dawe, residentes em Rennes-les-Bains-Aude, França, uma região templária. Eles descobriram sítios arqueológicos, até agora intocados, com valiosa e sólida documentação. Para os Abraxas, a perseguição da Inquisição — o genocídio bárbaro (originado pela crueldade dos que se intitulam representantes de Deus e, o que é pior, “Obreiros” fiéis de sua “Obra Divina”) ocorrido no Languedoc, no sul da França, onde mais de 30 mil homens dizimaram colheitas, destruíram cidades, exterminando CRIANÇAS, MULHERES E HOMENS — deve ter tido um motivo muito forte, um “segredo monumental” e, ao mesmo tempo, muito perigoso, que deveria ser silenciado para sempre.

Será que esse segredo era a respeito do Papa, ou da religião cristã, ou da Coroa Francesa? O que seria tão grave para que a Inquisição tomasse uma atitude tão drástica como aquela? Há muitas evidências de que não era apenas pelo simples fato de os cátaros serem pagãos. Há, inclusive, algumas lendas descrevem os catáros como possuidores de algo muito valioso, ligado ao Santo Graal, talvez um dos objetos preciosos que estavam sob seu poder. Um fato narrado na história refere-se a um dos oficiais daquele maldito exército que, ao perguntar ao Papa como conseguiria distinguir os cristãos dos hereges, recebeu a seguinte resposta: “Mate-os todos, Deus reconhecerá os seus”. A Cruzada Albigense foi, seguramente, uma guerra sangrenta e inominável.

Para que o leitor tenha uma noção do assunto, vamos tentar explicar melhor, em poucas linhas, o que foi essa tormenta: Estamos nos tempos das Cruzadas, na França, no Languedoc (o Midi Francês), no início do século XIII, quando a riqueza e a opulência floresciam nessa região. Sua política torna-se afim com os reinos de Leon, Aragon e Castela (Espanha). O Languedoc era governado por várias famílias nobres, que se submetiam aos condes de Tolouse e à sua poderosa casa de Trencavel.

Um principado que se tornara a mais fiel representação da Cultura, do Progresso e da Sofisticação, despertando, assim, a inveja dos potentados de todo o continente europeu cristão que, diga-se de passagem, enfrentava um verdadeiro colapso cultural de sua civilização greco-romana. Apesar dos rígidos padrões de controle do pensamento e da reflexão pela estrutura eclesiástica, surgiam vozes que se levantavam contra o abuso e a arrogância da Santa Madre Igreja. Embora fosse cristão, o Languedoc não era fanático. Seus habitantes valorizavam a educação, a filosofia, as artes e a ciência, assim como eram conhecedores de boa parte da tradição espiritual do Ocidente, ecos do pensamento de Heráclito, Pitágoras e Platão. Em 1165, lançou-se um grito de guerra sobre o Languedoc.

A Igreja de Roma atacou seus pontos fracos. Os que foram sido julgados como hereges já tinham sido condenados pelo conselho eclesiástico, na cidade de Albi-Languedoc (no sul na França). Daí o motivo pela a qual a população local tenha sido denominada por Roma de albigense. Muitos podem indagar: quem eram, afinal, os heréticos? A heresia albigense ou cátara não seguia teologia e doutrinas fixas, codificadas e definitivas. Levando-se em conta os poucos documentos que escaparam da destruição da Inquisição, podemos verificar que a prática dos cátaros, em relação ao Cristianismo, era mais antiga e pura. Eles rezavam ao ar livre, eram em sua grande maioria vegetarianos (embora comessem carne de peixes) e exaltavam a vida simples e a humildade. Para os cátaros-albigenses, a fé não era apenas uma doutrina a ser pregada, e sim um sistema de vida a ser seguido.

Eles se denominavam cristãos e chamavam o diabo de “Príncipe do Mundo”. Chamavam sua igreja de “Igreja do Amor” (Roma de trás para a frente). Os cátaros diziam que Jesus era seu profeta, sacerdote, rei e messias, um agente ungido. Conheciam todos os pontos tidos como esotéricos, místicos e mitológicos pregados pelo Cristo enquanto era rechaçado pela Igreja de Roma, o princípio feminino florescia em Languedoc. As mulheres podiam exercer funções e ser proprietárias de seus próprios bens em igualdade com os homens.

Para os cátaros, Maria Madalena significava esse “Princípio Feminino” e era parte integrante da lenda do Santo Graal. E aqui surge um outro motivo, talvez a principal razão, para a perseguição e para os tormentos que a Inquisição arregimentou contra os cátaros. E mais um motivo, talvez a verdade oculta dessa lenda (ou heresia) não esteja contida dentro de um cálice miraculoso, e sim no ventre de Maria Madalena, como mulher de Jesus, ou seja, um herdeiro do sangue real azul, ou sangue real da dinastia de David, um filho de Jesus e de Maria Madalena — a criança do Santo Graal, na Europa. Os Cavaleiros Templários também eram excessivamente preocupados com o “Princípio Feminino”. Os Abraxas descobriram documentos da Ordem do Templo que relatam um número expressivo de mulheres pertencentes àOrdem e a inclusão delas nos trabalhos.

Outros pontos de relevância: o Preceptório Templário estava construído em Troyes (cidade de onde Chrètrien de Troyes, o primeiro a escrever a respeito do Santo Graal, retirou o nome literário), e a mais famosa igreja de Troyes é dedicada à Maria Madalena. Nesse ponto, podemos fazer uma ligação com o início do texto, quando falamos a respeito dos Manuscritos do Mar Morto.

Hugh Schonfield, um dos acadêmicos mais respeitados em relação ao Novo Testamento, demonstrou que os Templários usavam um código conhecido como “Atsbash Cipher”, que está cifrado em diversos pergaminhos. Se fizermos a aplicação desse código no nome do ídolo venerado pelos Templários (Bafomé), ele se transformará na palavra grega Sophia, cuja tradução é sabedoria. Vejamos: Sophia também pode ser traduzida para o hebraico como Choknah, uma figura feminina que surge no livro Provérbios, do Antigo Testamento. Para os gnósticos de Nag Hammadi, Madalena é a encarnação idealizada da Atena grega e da Ísis egípcia, chamada, às vezes, de Sophia. Choknah é a chave para a compreensão da Cabala.

Segundo Lawrence Gardner, em sua obra A Linhagem do Santo Graal (lançada pela Madras Editora), a genealogia de Jesus é investigada até hoje. Gardner também compara o Novo Testamento com os arquivos romanos e judaicos. Nessa consideração, ele detalha como a Igreja corrompeu e manipulou os registros para que servissem a seus propósitos políticos. Apesar de a doutrina católica informar que Jesus era filho de uma virgem e filho de Deus, Lucas e Mateus enfatizam a linhagem e a descendência de Jesus, de David, de Israel, e dos reis de Judá.

O que nos soa mais estranho é o fato de a Cruzada Albigense ter punido tão cruelmente por heresia a comunidade cátara, visitada por São Domingos e São Francisco de Assis, que ficaram impressionados com os métodos de evangelização cátaros e passaram a empregá-los por meio de seus frades mendicantes, juntamente com os votos feitos pelo “parfaits”: pobreza e caridade. Outro que ficou impressionado foi São Bernardo, que disse: “Nenhum sermão é mais cristão que o deles, e sua moral é pura”. Quero aproveitar e abrir um parêntese para relatar, em poucas linhas, a lenda na qual o Graal não é uma taça (objeto), mas sim uma pedra preciosa com muitos poderes, que foi trazida para o planeta Terra pelos anjos. Essa pedra* representava a terceira visão de Lúcifer, o Anjo da Luz, filho primogênito de Deus . Quando Lúcifer se rebelou e desceu aos mundos inferiores, essa pedra, também chamada de lápis exillis (pedra caída do céu), se dividiu em três partes.

Uma dessas partes permanece entre as sobrancelhas do Senhor Lúcifer; outra é conhecida como a Pedra Filosofal, aquela que transforma metais em ouro, homens em reis, iniciados em adeptos. Essa pedra lembra muito a esmeralda de cor verde (sinônimo de esperança e vitalidade). E a terceira parte seria o próprio Graal. O que na Verdade nós quisemos demonstrar aqui foi que nem sempre a documentação é suficiente para reconstruir os fatos com fidelidade, deixando permanecer ainda muitos dos enigmas históricos. Mas, em O Pergaminho Secreto, o autor Andrew Sinclair revela documentos baseados em fatos, em vez de especulações. Essa revelação está fundamentada em um documento inédito - o “Pergaminho de Kirkwall”, achado em uma Loja Maçônica, em uma ilha do Norte do Oceano Atlântico.