junho 25, 2022

O SOLSTÍCIO - Ir. Bruno Macedo



O solstício corresponde ao instante em que o Sol atinge a sua declinação máxima ou mínima, dependendo do hemisfério em questão.

No solstício de Verão o Polo Norte apresenta uma inclinação de 23,5º em direção ao Sol, enquanto no solstício de Inverno o Polo Norte fica afastado do Sol com uma inclinação de 23,5º. 

No hemisfério sul (onde se encontra o Brasil), o solstício de verão acontece nos dias 21 ou 23 de dezembro e o solstício de inverno nos dias 21 ou 23 de junho.

Inversamente, no hemisfério norte, o solstício de verão acontece nos dias 21 ou 23 de junho e o solstício de inverno nos dias 21 ou 23 de dezembro.

Por ser o dia de maior noite no ano, o solstício de Inverno (21 de Dezembro, no hemisfério Norte e 21 de Junho no hemisfério Sul) é associado à morte, ao desconhecido ou à escuridão, enquanto que o dia de maior claridade (21 de Junho, no hemisfério Norte e 21 de Dezembro no hemisfério Sul) é associado a Vida ou à Luz (solstício de Verão).

Na antiguidade, as iniciações eram feitas sempre no solstício de Inverno, porque sendo o ultimo dia de maior noite, significava a marca do inicio do ciclo de dias de luz cada vez maiores; significava ainda a saída do mundo dos mortos (a noite, a escuridão), ou a entrada no mundo dos vivos (o dia, a Luz).

As iniciações tinham assim o significado de renascer, ou nascer de novo para a Luz; o renascimento assume assim o significado simbólico da vida que se renova, após a grande noite (morte).

No Egito antigo, os Faraós eram reiniciados a cada novo solstício de inverno.

As Pirâmides foram construídas em alinhamento para receber o Sol de frente à porta de entrada, exatamente no dia do solstício de Inverno.

Em diversas outras civilizações, as grandes obras de arquitetura foram construídas com este alinhamento e com este objetivo.

Acredita-se que, assim como os Romanos observavam o Solstício de Inverno, em homenagem ao deus Saturno, posteriormente chamado de “Sol Invencível”, esse costume também era observado pelas Guildas Romanas, os antigos Colégios e Corporações de Artífices, que nada mais eram do que a Maçonaria Operativa.

Porém, há fortes indícios de que a Maçonaria Especulativa, formada por europeus de predominância cristã e preocupados com a imagem da Maçonaria perante a “Santa Inquisição”, aproveitou a feliz coincidência das datas comemorativas de São João Batista (24/06) e São João Evangelista (27/12) serem muito próximas dos Solstícios, para relacionarem a observância dos Solstícios com os Santos de nome João, e assim protegerem a instituição e sua observação dos Solstícios da ignorância, tirania e fanatismo.

João Batista é o profeta que anuncia e prepara, no sistema iniciático, a vinda da Luz.

Ele ensina a humildade, a renúncia ao ego, sem as quais a iniciação e o progresso espiritual são impossíveis: "É preciso que ele cresça e que eu diminua" (João 3:30). 

Haverá expressão mais profunda deste sentido do que esta?

Pobre do Mestre que não aspire a ser ultrapassado pelo seu discípulo! 

São João Batista simboliza, assim, o grande iniciador, o Mestre sábio que prepara, humildemente, o caminho ao Aprendiz.

São João Evangelista, em contrapartida, representa o Irmão que recebeu a Luz e que a dimana na sua sabedoria, identificando-a com o Verbo e com o Amor. 

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses.

Nesse sentido, na Inglaterra, onde a primeira Obediência Maçônica do mundo, como se sabe, foi fundada em 1717, no dia de São João Batista, o antigo símbolo maçônico de um círculo ladeado por duas linhas paralelas, talvez um dos símbolos mais antigos da humanidade ainda em uso, teve a simbologia das linhas paralelas dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, que possuem ligação direta com a observância dos Solstícios, transformados em São João Batista e São João Evangelista.

Ou seja, não são Lojas Solsticiais, mas sim e antes de tudo, Lojas de São João.

Bom dia de solstício meus irmãos. 


junho 24, 2022

IRMÃOS LIVRES E DE BONS COSTUMES, SERÁ QUE SOMOS? - Ir. Pedro Neves


O primeiro princípio exigido para ser maçom é que sejamos livres e de bons costumes. Infelizmente, isto não ocorre na maçonaria atual.

Segundo o dicionário Aurélio, Livre [Do Lat. Liber]:

1 – Que pode dispor de sua pessoa; que não está sujeito a algum senhor.

2 – Que tem o poder de decidir e de agir por si mesmo; independente

3 – Desprovido, privado, isento(livre de preconceito).

Com base nas definições acima, a maçonaria não segue os preceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que tanto divulga, uma grande parte de maçons, não entendem o que pregam e defendem, são preconceituosos.

Através de relatos cada vez mais constantes, tomamos ciência de irmãos impedidos de assistirem reuniões em lojas de outras potências e obediências, diferentes da que ele está filiado, sendo que, na maioria das vezes já estiveram juntos em uma mesma potência ou obediência, e hoje, por motivos diversos se encontram separados administrativamente, mas, continuam seguindo os mesmos princípios, leis e regulamentos maçônicos.

Quem é preconceituoso, não pratica os bons costumes.

Quem nega um irmão que muitas vezes já esteve lado a lado na luta contra a hipocrisia, o fanatismo e a ignorância, não pratica os bons costumes.

Quem acredita que uma potência ou obediência é dona da maçonaria, e que acredita que somente ele, é o dono da verdade e das virtudes, não pratica os bons costumes.

A Liberdade não existe.

Quem prega a Liberdade, mas, não aceita que outros irmãos sejam livres para procurarem e praticarem o seu direito de liberdade, não é um homem livre, é um vil escravo.

Quem defende a Liberdade, mas, não aceita que outros exerçam a busca constante da verdade, não é um homem livre.

A Igualdade não existe.

Quem não aceita como igual, um irmão que pratica a maçonaria como todos os outros praticam no mundo, não é um irmão que saiba o que seja Igualdade.

Quem acredita que Igualdade seja pertencer a uma mesma potência ou obediência, não sabe o que seja Igualdade.

Quem pensa que Igualdade seja ter tratados amizade ou reconhecimento, não sabe a diferença entre tais palavras.

Quem acredita que acredita que apenas duas ou três potências ou obediências sejam regulares, também é um analfabeto maçônico, não sabe o que é regularidade, mas, como é um termo muito usado hoje em dia, fala como um papagaio repete o que ouve, mas, não sabe o que diz.

A fraternidade não existe.

Quem acredita que Fraternidade é fazer o bem no mundo profano, não fazendo o mesmo com os irmãos espalhados pela superfície terrestre, não sabe o que seja a Fraternidade.              

Quem acredita que a Fraternidade deva ser praticada apenas entre duas ou três obediências ou potências, não sabe o que seja fraternidade, aliás, não deve saber qual é a diferença entre potência e obediência.

Quem não tem Liberdade para praticar a Igualdade e Fraternidade com quem queira, dependendo de autorização superior, deve abandonar a maçonaria, pois, não é um verdadeiro maçom.

O Venerável Mestre de uma loja maçônica que não tenha autonomia para receber quem quer, deve entregar o malhete, pois, não é um homem livre, não passa de um mero garoto de recados dos poderes superiores. Os maçons de uma Loja que assim age, não são homens livres.

Aliás, o maçom que não sabe praticar a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, deveria ser impedido de estar filiado em uma loja. Ele ainda não entendeu o princípio básico da maior oração do Cristianismo, que foi ensinada por Jesus, O Cristo, “O Pai Nosso”.

Pois, não entende que ao dizer – “Pai Nosso que estais no céu”, ele deve admitir que todos sejamos irmãos, que somos todos de uma mesma família, não devendo haver preconceitos de classe social, econômica ou política, cor, raça, religião. A Fraternidade que exercem é apenas para profanos, deixando de lado os seus irmãos.

Somente quando algum irmão resolver processar outros por prática de Bullying, que é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder (Existem “irmãos” que gostam de fazer brincadeiras pejorativas com outras instituições maçônicas), é a prática da molecagem dentro da Sublime Instituição.

A prova maior da falta de Fraternidade ocorre em épocas de eleições, quando ocorrem fatos na mesma proporção que eleições no mundo profano, tais fatos jamais deveriam ocorrer dentro de uma instituição como a maçonaria, mas ocorrem.

Parafraseando o ilustre Francisco Octaviano no texto: “Quem passou pela vida em branca nuvem, e em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida, não viveu”, poderíamos dizer: “Quem passou pela maçonaria em branca nuvem, e em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça de seus irmãos, quem passou pela maçonaria e não sofreu, foi espectro de maçom, não foi maçom, só passou pela maçonaria, não foi irmão”.

 


SÃO JOÃO, PADROEIRO DA MAÇONARIA - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz


Excerto do livro *Personagens Bíblicos da Maçonaria Simbólica do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz

Inicialmente deve-se esclarecer que na Maçonaria Operativa, como consta em inúmeras Old Charges, os santos padroeiros eram os Quatro Santos Mártires Coroados. Na Maçonaria Especulativa passou a ser São João. Qual São João e por quê?

O Irmão Rizzardo da Camino em seu livro Lendas Maçônicas, relaciona 35 santos com o nome de João e ao final não indica conclusivamente nenhum.

 Tal como nas tradicionais Festas Juninas, nos Rituais Maçônicos geralmente diz-se apenas que é São João, conquanto nos primeiros rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito publicados no Brasil, dizia-se que era São João da Escócia e alguns Ritos e Potências Maçônicas nomeiam São João Evangelista ou São João de Jerusalém.

Em sites nacionais circulam as mais variadas hipóteses, a grande maioria sem o menor espírito crítico. Como uma espécie de conciliação, geralmente diz-se que os padroeiros são dois: São João Batista e São João Evangelista, correspondentes às festas dos solstícios de inverno e verão. Já em sites ingleses tal não ocorre, havendo unanimidade quanto ao João que é o padroeiro da Maçonaria. 

Ora, a Maçonaria na forma como a conhecemos atualmente, a Maçonaria Especulativa, foi sistematizada na Inglaterra, cujo padroeiro é São Jorge. 

Todavia, as 4 Lojas que fundaram a primeira Potência Maçônica, a Grande Loja de Londres, o fizeram em 24 de junho de 1717, data em que se comemora justamente o dia de São João Batista, tanto no Brasil quanto na Inglaterra e em outros países, tanto na Igreja Católica (predominante no Brasil) quanto na Anglicana (predominante na Inglaterra).

Então, não há como se ficar especulando quem é o patrono da Maçonaria. É São João Batista, sem nenhuma conotação mística, esotérica, religiosa ou de qualquer outra natureza. É simplesmente pelo fato da Grande Loja de Londres ter sido fundada na data em que se comemora o seu dia! 

Somente por isso e nada mais!

João Batista era filho de Zacarias e Isabel, que o tiveram já em idade avançada.

É considerado o último e o maior profeta do Antigo Testamento e o elo que une o Antigo ao Novo Testamento.

João Batista teve muitos seguidores entre o povo, pregando um batismo de penitência e exortando a todos que se preparassem para a vinda do Messias. Batizou Jesus no rio Jordão.

Viveu uma vida austera no deserto, alimentando-se de gafanhotos e de mel silvestre.

Herodes temia-o e os fariseus não ousavam falar contra ele.

Todavia, ao reprovar o pecado de Herodes, foi encarcerado. Herodiades, amante de Herodes, fez com que sua filha Salomé agradasse Herodes com suas danças e exigir dele a cabeça de João Batista, que foi então degolado. (Sinal de Aprendiz?)

Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 23, 2022

O TRABALHO MAÇÔNICO E A ESPIRITUALIDADE - José Eduardo Sousa



 José Eduardo Sousa é M:.M: da R:.L:. Alengarbe (G:.L:.L:.P:.), a O:. de Albufeira, Portugal

Uma Loja maçônica, que pode simbolizar o mundo, o universo em que vivemos, é uma plataforma que permite o crescimento do maçom, o seu desenvolvimento espiritual assim como a sua elevação ética e moral.

Uma plataforma, que quando utilizada de forma correta, de coração aberto e em verdade, permite ao indivíduo aperfeiçoar-se e crescer, em suma, tornar-se um homem melhor e mais apto, livremente responsável, que, partilhando um desígnio com os Irmãos, se aperfeiçoa e aperfeiçoa o meio onde se insere, á sua dimensão.

O trabalho maçônico, para mim, claro está, tem como objetivo tornar o mundo melhor. Isto parece um objetivo vago e inalcançável, que tudo permite dizer e nada diz. Porém, é minha convicção que é mesmo isto que fazemos todos os dias.

Uma L.’. maçônica tem por obrigação ser uma escola dos melhores de uma comunidade, mais capazes e mais aptos a fazer esse mesmo trabalho, o de potenciar o cumprimento dos homens, desbastando a pedra em bruto, aperfeiçoando-se e realizando-se na sua plenitude, contribuindo então para deixar o Mundo um sitio melhor do que era quando cá chegamos. Um primado da Razão e da Filosofia, da bondade Moral e Justeza das ações.

Com os pés no chão, com a certeza de que não resolveremos os problemas todos, nem mesmo muitos ou alguns, apenas aqueles que conseguirmos depois de a isso nos dispormos.

Esse trabalho faz-se mudando os homens, que através do crescimento espiritual e cultural, vão, a pouco e pouco, alterando a sua forma de interagir com a comunidade onde se inserem.

Crescendo e aperfeiçoando-se, o maçom muda para melhor, estou em crer, mesmo que inconscientemente, o mundo que o rodeia. Do somatório puro e simples do aperfeiçoamento dos maçons, observamos uma transformação na sociedade, quer tenhamos ou não disso noção. Um processo que se apresenta como profundamente individual assume então a sua generosidade.

O trabalho do maçom é aperfeiçoar-se em L.’.. E como é que isso acontece? Esse é o trabalho da L.’., há luz dos códigos de elevação moral e espiritual, onde o Ritual assume um papel preponderante, tornar homens bons melhores, dispostos a preparar o futuro e construir o presente á luz dos ideais maçônicos.

Para isso deve ter a L.’. um critério rigoroso de escolha dos seus candidatos, sob pena de se transformar num clube de amigos que transferimos do mundo profano, desprovido de sentido.

Os candidatos devem ser convidados á luz das características dos seus talentos, para que possam ser uma mais valia para o trabalho que está na gênese da Maçonaria e é a sua razão de existir.

E porque talentos per si não valem nada, é aqui que os potenciamos e aprendemos que o que conta é o que com eles realizamos, á luz de um código de moralidade e de valores que escolhemos livremente e em consciência para nós.

Estes homens que descrevo têm de ser capazes de conceber o Divino; o Indizível; de sonhar; de terem visão; de terem a Força, a Sabedoria e o desprendimento de se entregar a projetos aparentemente impossíveis, utópicos e belos; têm de conceber a fraternidade leal fruto da partilha do Desígnio.

Porque é disso que falamos, de uma escola de Cavaleiros, que foram Cavaleiros da Terra, depois Cavaleiros do Mar e hoje Cavaleiros do Mundo. Essa dimensão espiritual é a sua característica mais importante. Que passo a explicar como se me apresenta hoje.

Entendo que a espiritualidade é uma dimensão indissociável da condição humana, mais do que o bem exclusivo de Igrejas, Religiões ou Escolas de pensamento.

Na prática, fala-se de Espiritualidade para a parte da vida psíquica, fruto da inteligência humana, que nos parece mais elevada: aquela que nos confronta com Deus ou com o absoluto, com o infinito ou com o todo, com o sentido da vida ou a falta dele, com o tempo ou com a eternidade, com a oração ou o mistério.

Temos a felicidade de ter na nossa Ordem homens de religiões reveladas diferentes, de escolas de pensamento diferentes, sem opção por nenhuma das religiões reveladas, sem se reconhecerem em nenhuma escola de pensamento, homens de profundo esoterismo e outros que nem por isso.

Não temos porém nenhum despojado da assunção da sua espiritualidade.

O respeito por essas opções é a nossa riqueza, a base para a geração da harmonia. Isto exige uma reflexão profunda do que é a tolerância maçônica, sempre á Luz de um ideal maior que todas as religiões e escolas de pensamento.

Porque a Maçonaria está num patamar diferente. Não se preocupa com a forma como cada um vive a sua espiritualidade nem ambiciona ter voto nessa matéria.

A preocupação da Maçonaria é o Individuo e depois o Mundo, onde vivem os homens hoje e os de amanhã, a sua preocupação última é a vida dos homens na Terra, e não oferecer salvação ou condicionar a sua existência á salvação eterna. Para isso existem outras sedes, cujo sucesso e eficácia jamais se poderá questionar ou até medir.

A espiritualidade que aqui tratamos remete-se para a relação do homem com o divino em vida, aqui na Terra e como essa relação pode condicionar as suas ações com vista ao cumprimento de um ideal ou Desígnio.

E como os seus obreiros são homens plenos em todas as suas dimensões, a Maçonaria não se demite de aprofundar a relação dos homens com o divino, lutando para que isso os una e jamais os divida, porque a Maçonaria quer libertar os homens das grilhetas profanas e levar esses mesmos homens a realizar a sua dimensão espiritual em total liberdade e no pleno respeito pelas crenças alheias.

O que nos une será o sentir o Universo, o Todo, que nos contem e nos transporta, uma presença universal…Será possível uma espiritualidade universal? É minha convicção profunda que sim, mais do que uma espiritualidade clerical e redutora ou do que uma laicidade desprovida de espiritualidade!

Uma espiritualidade universal… Será uma “espiritualidade da imanência, mais do que da transcendência, da meditação mais do que da oração, da unidade mais do que do encontro, da lealdade mais do que da fé, do amor mais do que da esperança, e que será igualmente motivadora de uma mística, ou seja, de uma experiência da eternidade, da plenitude, da simplicidade, da unidade, do silêncio…”.

É a essa espiritualidade universal que ouso chamar Espiritualidade Maçônica. Mas antes de procurá-la definir, poderei por ventura afirmar que é apenas no trabalho maçônico que ela poderá ser verdadeiramente aprofundada. Não um conceito que se aprenda nos livros, tem de se sentir e de se viver, fruto de um percurso iniciático.

No entanto, a Maçonaria não revela nenhuma verdade superior nem dá respostas cabais ás questões que atormentam a nossa dimensão espiritual.

Pelo contrário, convida os II.’. a procurarem saber quem são, conhecerem-se a si mesmos, com o intuito de se cumprirem, o que é profundamente diferente, colocando-os na via dessa procura e dessa realização, situando-se aqui o verdadeiro significado da iniciação, o primeiro passo de um caminho a percorrer e trabalho para fazer na construção do nosso templo interior.

Assim, a tolerância apresenta-se como uma das principais virtudes da Maçonaria e do maçon. Trata-se de uma atitude interior que repousa no respeito pela individualidade espiritual do candidato, pela liberdade de pensamento e pelo percurso intelectual e espiritual que cada maçom depois de iniciado escolhe para si.

É neste pressuposto que assenta a minha afirmação de que a Espiritualidade Maçônica é uma Espiritualidade Livre: ao sugerir um caminho individual para a relação com o divino, constrói também um percurso libertador, é um processo livre. Para isso ser possível, precisa no seu seio de homens diferentes dos demais.

O nosso trabalho hoje ao escolher esses homens, é com a convicção plena de que hoje se podem encontrar em qualquer proveniência, podem ter estado ao nosso lado toda a vida, serem os nossos amigos de infância, familiares ou colegas de profissão, como podem estar por detrás de um e-mail manhoso sem rosto.

Temos é de estar certos de que estão á altura do desafio, é de critério que vos falo, não de forma de ingresso nem de sede de relação. Porque é lógico que apenas podemos indicar homens que conhecemos minimamente e por isso têm de vir das nossas relações pessoais, todos temos porém pessoas de quem gostamos muito que sabemos não terem os requisitos mínimos para poderem ser iniciados, por mais que de disso gostássemos, fosse porque razão fosse. O critério é tudo.

É tudo porque a eles vão ser exigidos sacrifícios, de tempo para dedicar ao trabalho, para comparecer ás sessões, para se despojarem de títulos e posições, para se disporem a aprender, a aceitar criticas quando para isso não estão preparados e cuja propriedade da origem questionam, a aguentar ouvir aquilo que não entendem sem julgar, a sentir que fazem parte de algo maior e viver com essa avassaladora responsabilidade sem ser esmagado, quando finalmente se torna clara a missão a que se propuseram.

Por mais capaz que qualquer um seja, tem um percurso a fazer, para poder identificar ferramentas, e então dedicar-se ao trabalho. Uma L.’. maçônica é uma elite dentro de uma comunidade, coisa que facilmente assumimos sem complexos e nem soberba.

Entre nós deverão estar os mais capazes nas suas áreas de intervenção, que podem ser profissionais ou não, têm apenas de ser úteis ao projeto, estar dispostos a aprender e a ensinar partilhando.

Ser maçom é uma vivência, uma forma de estar na vida e perante a vida, onde a Honra, a Ética Moral, o sentido de missão, o espírito cavalheiresco das suas ações, fruto da Responsabilidade de se ser e sentir Diferente, assumem um aspecto fundamental.

Não somos com certeza homens plenos de virtudes, todos temos as nossas arestas para desbastar. E este é o local para fazê-lo, a L.’., depois de responder ao chamamento e livremente bater á porta do Templo, para servir o Desígnio.

Com a orientação de todos os obreiros, tornar ferramentas capazes em ferramentas melhores. Porque somos ferramentas de trabalho, somos os que cumprem e efetivam o Desígnio, como outros o fizeram antes de nós.

Os desígnios dignos desse nome sempre tiveram um cunho marcadamente iniciático, porque não se prendem com objetivos de pedra, betão ou madeira, mas com a realização dos sonhos, sendo perpetuados no tempo indefinidos enquanto matéria, mas muito claros quando conceitualizados por homens que se dispuseram a um processo de transformação e crescimento como o nosso, essa ideia indizível transmite-se pela iniciação, pelos rituais, pela via iniciática.

E para isso, a dimensão espiritual do homem têm de ser a sua consciência maior, aquilo que lhe rege as ações e circunscreve as paixões e os sonhos á luz das suas capacidades e talentos.

E neste trabalho não há espaço para paternalismos com os menos capazes e aptos, para soberbas profanas ou para alimentar egos com comendas. Não se faz parte da Maçonaria, não se pertence á Maçonaria, é-se maçon.

Da sua relação com a L.’. e da sua condição de maçom só o individuo pode ser responsável, se não se sente capaz ou a tarefa assusta, mais vale arrepiar caminho. Sem jamais hipotecar a solidariedade inerente á fraternidade leal, todos temos momentos piores e felizes e para isso cá estamos todos e nessa altura dizemos presente.

Não estamos é aqui para tomar conta de ninguém, proporcionar benefícios ou oferecer a salvação, estamos aqui para trabalhar, o nosso tempo é curto e o trabalho imenso. Para que nos cumpramos á luz do que aqui nos trouxe, temos de ser objetivos, sob pena de se esvaziar o sentido da Ordem Maçônica e o trabalho ficar por fazer, comprometendo o Desígnio.

Reconhecendo os méritos e as virtudes dos nossos II.’., não potenciando e exacerbando os seus defeitos, que desses não precisamos, usando o fole com cautela na forja para que a ferramenta que lá se aperfeiçoa não enfraqueça por falta de atenção ou derreta por excesso dela.

Desbastando a pedra em bruto, com a lealdade que a critica exige, com a fraternidade que o sacrifício cultiva, com a generosidade a que partilhar o desígnio não é alheia, com o reconhecimento da força e inteligência para fazê-lo cumprir.

Dessa partilha nasce a riqueza da Irmandade, do respeito pelo trabalho e pela forma como é executado. Não sendo santos nem isentos de virtude, temos toda a consciência do Desígnio.

Assumamos o objetivo que aqui nos trouxe e não deixemos que nada perturbe a caminhada para a realização desse mesmo Desígnio, que não assume forma material, mas é apenas uma ideia que todos partilhamos… Uma ideia de Homem e de Mundo.

José Eduardo Sousa, M:.M:.

R:.L:. Alengarbe (G:.L:.L:.P:.), a O:. de Albufeira, Portugal

junho 22, 2022

NOVO VENERALATO- Adilson Zotovici



Adilson Zotovici, intelectual e poeta maçônico da Confraria Maçons em Reflexão


Posse de direito, de fato 

Após Sublime Instalação 

A um perfeito veneralato 

Junto ao trono do Rei Salomão 


Que chamo atenção a um fato 

Quão inesquecível estação 

Que ao livre pedreiro é nato 

A alguns, plausível, “reassunção“ 


O Sucesso, depende do trato !

O Segredo, labor à exaustão... 

Com erudição, amor, sensato 


Ao Grande Arquiteto a missão 

Que o conduz, intimorato, 

A levar Luz...onde 


O MALHETE DO VENERÁVEL 


O Venerável é soberano

E dessa forma foi eleito

Com a força de antigo arcano

Pelo qual se deve respeito 


Quiçá paire algum engano

Sobre esse pródigo preito

Que se vê no cotidiano

Dalgum código a despeito 


Nem a igual ou a profano

Facultar malhete é aceito

Inda que emocional, ufano 


Encargo inconteste, perfeito,

Exceção feita, sem dano,

Ao seu Grão Mestre com efeito ! 


Adilson Zotovici

Confraria Maçons em Reflexão

junho 21, 2022

O EQUILÍBRIO - Ronaldo Fernandes





Texto do Sereníssimo Grão Mestre Ronaldo Fernandes da GLESP(à época) - Revista A Verdade nº 504

A dualidade existe em todo o ser humano: o Eu Superior e o Inferior, Anjo e Demônio, Positivo e Negativo, Luz e Trevas, Certo e Errado, Bem e Mal.

Temos de aprender a dominar estas forças antagônicas, essas posições extremadas e radicais que possuímos e que nos fazem questionar sobre conceitos e valores que não se medem por recursos materiais.

E isso só é possível quando mergulhamos em nossos ensinamentos, aperfeiçoando-nos em nossa ritualística e exercitamos esse aprendizado, também no mundo profano, transcendendo as paredes do Templo.

O maçom deve buscar no seu interior, no seu “Eu Íntimo”, o Mestre que nele habita, atingindo o equilíbrio necessário para tornar-se digno da Maçonaria e perante o Grande Construtor dos Mundos, o Grande Arquiteto do Universo.

Este caminho nem sempre é fácil, mas a escolha é fruto do nosso coração.

O ponto de equilíbrio é saber lidar com esta dualidade.

É isto que nos torna seres especiais, verdadeiros lideres e grandes construtores sociais.

Somos energia cósmica.

Deus criou o Universo e o Homem á sua imagem e semelhança, mas nos permitiu a capacidade de escolha, deu-nos o livre arbítrio para decidirmos o caminho a seguir.

E encontramos esse caminho mais facilmente, sem nos perdermos em estradas tortuosas, quando buscamos, internamente a harmonia em nossas ações, fazendo prevalecer a compaixão e nos colocando no lugar do próximo, antes de qualquer decisão ou julgamento.

Somente assim permaneceremos justos e perfeitos, atingindo objetivos benéficos a nós mesmos, mas principalmente a toda a humanidade.




junho 20, 2022

ABSTENÇÃO NA VOTAÇÃO - RETIDÃO. O ESQUADRO E O PRUMO - Pedro Juk




Em 29/10/2021 o Respeitável Irmão, Robson Lopes, Loja Mestre Hiram, 1.427, sem mencionar o Rito, GOB-RJ, Estado do Rio de Janeiro, apresenta a dúvida seguinte

ABSTENÇÃO NA VOTAÇÃO

Acompanho seu blog, que muito me instrui, e instiga a buscar os fundamentos de nossas Augustas práticas.

As vezes em sessão vejo alguns irmãos visitantes ficarem em pé e a ordem em momentos de votação da oficina. Essa prática é hábito consolidado entre os irmãos é alguma determinação do GOB, ou não há uma palavra final nesse sentido?

Outra dúvida que tenho é sobre o simbolismo do esquadro e do prumo, que em nossas instruções ambos são tratados como retidão, mas não consigo conceber a diferença conceitual, ou ambos simbolizam exatamente o mesmo princípio sem distinção

CONSIDERAÇÕES:

Ficar à Ordem para demonstrar abstenção em uma votação, é um costume consagrado em muitos ritos maçônicos que são aqui praticados.

É bom que se diga que esse não é um costume universal, pois alguns ritos possuem características próprias nesse particular. Alguns ritos até adotam uma espécie de sinal não iniciático, como é o caso do Rito Adonhiramita, para identificar aquele que quer se abster de votar. Em outros ainda, o obreiro permanece como está (sem estender o braço à frente

Em linhas gerais, o que tem prevalecido em boa parte dos ritos, como é o caso do  REAA, é o de se ficar à Ordem para demostrar abstenção numa votação.

No tocante ao simbolismo do Esquadro e do Prumo, instrumentos imprescindíveis nas edificações perfeitas e duráveis, o Esquadro, objeto constituído por dois segmentos de retas (ramos) que proporcionam o canto perfeito (90º).

Esse canto perfeito é construído nas edificações a partir da aplicação da 47ª Proposição de Euclides, ou o Teorema de Pitágoras. Graças a essas propriedades, encontradas no triângulo retângulo, o aspecto dos cantos elevados sobre uma base esquadrejada tem o caráter de retidão. É o ponto de partida da pedra angular.

Sob o ponto de vista iniciático essa alegoria sugere o homem de caráter, justo nas suas ações. Em síntese o Esquadro representa o caminho da retidão a ser seguido pelo iniciado.

Quanto ao Prumo, por este não pender como as oblíquas, dá o sentido aprumado para os cantos esquadrejados. Nesse sentido ele representa uma edificação elevada a prumo. Esse elemento, por não pender como as oblíquas, representa o direito igual (equidade) de cada um. É o critério de moderação e igualdade. Enfim, o prumo simboliza o que é conforme com o direito. Todas essas virtuosas aplicações devem fazer parte do cotidiano do iniciado – um homem de ações justas.


junho 19, 2022

ABERTURA DO LIVRO DA LEI





Não são todos os Ritos que abrem o Livro da Lei, pois, em alguns deles, o Livro permanece fechado, bastando a sua presença. Dos seis Ritos praticados no Brasil temos: 

Escocês: faz a abertura e leitura dos versículos;

York: faz a abertura, mas não há leitura dos versículos;

Adonhiramita: faz a abertura e a leitura dos versículos;

Schroeder: o Livro permanece fechado;

Brasileiro: faz a abertura e leitura dos versículos; 

Moderno: o Livro permanece fechado (nesse caso, rigorosamente, o Livro é a primitiva Constituição de Anderson de 1723, se for seguida à reforma francesa de 1877).

O Livro das Sagradas Escrituras é o Livro da Lei Moral, para os Ritos teístas, representando, portanto o caminho da retidão, a ser seguida pelo maçom; não é o símbolo da presença divina, pois esta é representada pelo Delta e não pelo Livro. Os agrupamentos maçônicos primitivos, tanto os de ofício (ou operativos), quanto os dos primeiros aceitos (especulativos), não utilizavam a Bíblia, que só seria introduzida nos Trabalhos em 1740, pela Primeira Grande Loja, a de Londres, fundada em 1717. 

No Grau de Aprendiz, tanto no G.O.B., como também nas Grandes Lojas influenciadas por algumas Grandes Lojas Norte-Americanas, que trabalham no Rito de York, adotaram a abertura do Livro da Lei no Salmo 133. A leitura desse Salmo surgiu na Inglaterra por volta de 1753, quando não havia, ainda, um Rito inglês plenamente estabelecido. 

Essa leitura foi abandonada depois e o Rito passou a preconizar a abertura do Livro em qualquer lugar e sem necessidade de qualquer leitura; algumas Grandes Lojas Norte-Americanas, contudo, passaram a utilizar o Salmo, influenciando as Grandes Lojas brasileiras. Hoje, só os Grandes Orientes Independentes - é que usa o Evangelho de S. João cap. I, 1 a 5, que é tradicional no R.E.A.A., pois mostra o triunfo da Luz sobre as trevas, que é o lema do Grau de Aprendiz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por ele; e nada do que foi feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens: e a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreenderam”.

O Rito Adoniramita também homenageia o Evangelista, abrindo o Livro no Evangelho de S. João, cap. 1: 6-9: 'Houve um homem enviado por Deus, que se chamava João. Este veio por testemunho da Luz, a fim de que todos cressem por meio dela. Ele não era a Luz, mas veio para que desse testemunho da Luz. Era a Luz verdadeira, que alumia a todos os homens, que vêm a este mundo'.

No R.E.A.A. a abertura do Livro da Lei se dá (Bíblia de Jerusalém), no Grau de Aprendiz: (Salmo 133) “Vede: Como é bom, como é agradável habitar todos juntos, como irmãos. É como óleo fino sobre a cabeça, descendo a barba, a barba de Aarão, descendo sobre a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermon, descendo sobre os montes de Sião, porque ali manda Iaweh a bênção, a vida para sempre”.

junho 18, 2022

A VERDADE REAL – O MEU CONCEITO DE MAÇONARIA - Pedro Silva




Não é possível falar da história da maçonaria sem falar da história do homem, da sua evolução natural e espiritual, da sua necessidade de um Deus compatível com os seus anseios investigativos e da sua constante busca pela verdade  –  da sua particular verdade.

Daí não ser razoável, entendo, neste momento e oportunidade falar da história da maçonaria em sentido “strictu”. 

Deixa-se isto para os historiadores, que sobram em número, premissas e controvérsias, que a datem e cronologicamente a coloquem no espaço e tempo, discutam a sua paternidade e os seus heróis, que de facto existem.

O homem, ainda nas cavernas, descobriu a necessidade de dispor de seres superiores em auxílio no seu quotidiano, para fazer frente aos inimigos naturais que lhe ceifavam a vida. 

Frágil, estava na base da cadeia alimentar e era a vítima perfeita para todos os predadores, de menor ou maior grau de letalidade.

Cansado das catástrofes naturais, deixou a vida nómada de caçador/coletor – a seguir as manadas de caça e as estações das frutas – estabeleceu-se nas cavernas, criou a agricultura e domesticou o animais para a sua alimentação.

Frustrado de tantos deuses, um para cada situação que lhe afligia, ao custo de severos sacrifícios ritualísticos e oferendas, depois de milhares de anos passados, concebe a divindade num Deus único: Eis que nasce, pelas mãos dos homens as religiões, e com elas o monoteísmo.

Ocorre que pelas mesmas mãos que nasce o culto a um Deus de bondade, nasce também, na contramão deste mesmo princípio, o poder discricionário quando estado e religião se juntam para coibir o conhecimento, o livre pensar e a liberdade daqueles que se opunham a estas barbáries. 

E à simples manifestação de um ideia, como a afirmação da esfera terrestre, resta a estes investigadores da verdade, a tortura e a morte; a guilhotina, a fogueira, o esquartejamento.

Concluem, então, aqueles providos do pensar, que não conseguiriam, pela linguagem das religiões criadas pelos homens, manter acesa a chama divina nas suas vidas: Nasce a filosofia, mas que em si mesma não se bastava, pois ausente estava o Construtor – o Arquiteto de todo o Universo – permanecendo tão somente a razão, sem par, sozinha no mundo das ideias.

Outros homens, entretanto, em minoria ainda mais acentuada, concluíram – criada a filosofia – que tão somente a razão filosófica não preenchia o vazio milenar da sua existência; era preciso agregar a Razão Filosófica a um Deus de Liberdade e Justiça: Eis que se concebem os pressupostos de uma instituição que viria ser a Maçonaria que hoje congregamos; uma instituição que se confunde em regra geral com a própria idade do homem, pois, desde sempre houve um espírito maçónico em gestação na mente humana, dada a liberdade natural que o impulsiona,  mesmo que a instituição ainda não existisse na forma que em breve se apresentaria.

Para tal, para que ninguém fosse afastado do seu seio, não importando a religião que seguisse, constitui-se uma expressão sem nome, dada a sua inefável condição – O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO – para que nesta linguagem, todos os iniciados, concebessem este Ser superior que os criou a todos, sem linhas limítrofes territoriais e conceituais que os dividisse: nasce uma instituição universal, disposta livremente por todo o Planeta Terra.

Agregado está, pois, no seu meio, todos os credos dos homens de todas as cores, sem distinção, tendo como único e exclusivo objetivo a construção de um homem melhor, espiritualmente em paz e sem perder o domínio da razão, pois encontrado estava o meio termo que as torna compatíveis, coexistentes e coabitáveis no templo maior que é a consciência do próprio homem.

Elege-se e aprimora-se, então, ao longo dos séculos, pela necessidade do formação gradual do espírito humano, uma Escola Filosófica,  num conteúdo programático de 33 graus. Esta escola, entretanto, diferentemente das outras correntes didáticas, sempre deixa, lado a lado, ombro a ombro, de mãos dadas, Deus – O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO – e a Razão.

Passado o obscurantismo que marcou a idade média, mesmo tendo acabado a perseguição formal aos LIVRES PENSADORES, outras são as batalhas: e vieram o fascismo, o nazismo, a escravatura nas suas diversas, antigas e presentes formas, os governos totalitários – presentes até hoje – enfim, todas estas formas escabrosas de cerceamento da liberdade humana, lamentavelmente ainda presentes no Século XXI, que são, e continuarão sendo, para a maçonaria, o objectivo final da luta para o seu absoluto extermínio.

Este é o meu conceito de maçonaria. 

Não poderia ser diferente, em face da liberdade de pensar a que estamos constitucionalmente protegidos, neste diuturno tecer de conceitos e de investigação da verdade que nos satisfaça, que nos faça bastar-nos a nós mesmos e na coexistência entre os nossos; que nos permita o repouso das nossas consciências.

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junho 17, 2022

O SENTIDO SIMBÓLICO DAS LUVAS BRANCAS - Eurípides Neves de Oliveira





Eurípides Neves de Oliveira, Loja Simbólica Força e União nº 120. Goiânia - GO


Inúmeros são os símbolos da Liturgia Maçônica e, dentre eles, destaca-se o da entrega aos neófitos das luvas brancas quando, nos últimos momentos da Iniciação, o Venerável anuncia, então, que aquelas luvas brancas constituem o símbolo de sua admissão nas fileiras dos homens livres e de bons costumes.

Os homens distintos e elegantes, as damas da sociedade fina e os militares galonados deitaram a moda das luvas brancas. Estas chegaram a fazer parte dos ornamentes que recebiam os bispos no ato da sua sagração, com a designação de “luvas litúrgicas”, simbolizando a castidade e a pureza.

A entrega das luvas brancas aos neófitos da Maçonaria ficou justificada na mesma intenção deferida aos bispos de antanho. Cobrindo suas mãos com elas, o maçom é levado a compreender, primeiramente, que sua mão direita nunca deverá saber o que faz a esquerda. Também o Venerável lhe explica que são o “símbolo de sua admissão no Templo da virtude, indicando, por sua brancura, que ele nunca deverá mancha-las nas águas lodosas do vício”.

A posse das luvas brancas não revela nenhuma interpretação mística, mas sim o que possa haver de mais ativo e fecundo para a orientação no cumprimento do dever. Alcança tanto a destinação da própria personalidade do iniciado como a de sua família

Pelo que ficou esclarecido, a Ordem dos homens livres não se restringe a entregar somente um par de luvas a cada um dos iniciados. Entrega um outro par que são destinadas àquelas que mais direito tiver a vossa estima e ao vosso afeto.

Vê-se, pois, que a Maçonaria, no grande momento da recepção de seus convidados, lembra-se da mulher, numa homenagem justa e sincera. Não se esquece de que a mulher esposa tem por sua vez os direitos sustentados desde os dias do chamado “Pontificado Romano”.

Mas, esposa, irmã, filha ou mãe é sempre a mulher que distribui consolação, promove alentos e distribui conforto, tanto nas horas felizes da família como nas atribulações e nos desfalecimentos da vida e de seu esposo. Portanto, tal homenagem da Maçonaria é, sob todos os aspectos, mais do que procedente.

Um provérbio persa diz: “Não firas a mulher nem com a pétala de uma rosa”. A Maçonaria reforça este ditado ainda mais: e nunca firas mulher com um lampejo de pensamento. Seja ela moça ou idosa, formosa ou feia, má ou bondosa, delicada ou áspera, sabe ser sempre o segredo do Grande Arquiteto do Universo. É a incansável colaboradora de Deus no seio da humanidade. À margem de todas as filosofias está a vida. E a perpetuação da vida foi confiada pelo ser dos seres: à mulher.

O nível de igualdade em que a Maçonaria coloca o homem e a mulher, destinando a cada um o par de luvas brancas cimenta a certeza dos nobres exemplos transportados aos seus obreiros cônscios das responsabilidades assumidas perante as assembleias de maçons que o recepcionaram.

Tais luvas são símbolos da admissão dos recém-iniciados como caráter evidente da pureza das intenções que deve observar sempre o maçom em suas ações. Portanto, recebendo-as, ele deve cuidar com toda atenção para não mancha-las com o egoísmo e com a subserviência às paixões que embrutecem o homem.

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junho 16, 2022

A ACÁCIA - Ir.'. Antonio Luiz Morais



Ir.'. Antonio Luiz Morais, M.'. M.'., ARLS Theobaldo Varoli Filho, n° 2699, G.'.O.'.S.'.P.'. - Brasil.


A acácia é uma árvore que possui cerca de 500 variedades distintas, todas produzem flores perfumadas brancas ou amarelas, é presente em todos os continentes, no Brasil a acácia negra é uma das riquezas do Rio Grande do Sul. Ela é Maçonicamente universal.

A acácia do Egito tem a particularidade de ser uma árvore espinhosa e autores maçônicos acreditam que a coroa de espinhos colocada na cabeça de Jesus, bem como a cruz onde foi pregado era deste tipo de acácia. Em hebraico, o termo shittah (sita - cetim) é usado para a acácia, sendo o plural shittin. No texto original grego do Novo Testamento, o termo usado é akanqwn (akanthon), que foi traduzido ao português tanto como acácia ou como acanto, e que também pode significar espinho, espinhoso, etc. 

Era tratada com reverência pelos povos antigos, pois a acácia era considerada um símbolo solar, já que suas folhas se abrem com a luz do sol do amanhecer no oriente e se fecham ao desaparecer o sol no ocidente no final do dia e sua flor imita o disco radiado do sol. Era utilizada para amortalhar os defuntos em diversos países do oriente.

Sua madeira é tida como incorruptível, inatacável por predadores de qualquer espécie, simboliza perenidade, imortalidade, transcendência, etc.; a certeza da indestrutibilidade da vida, reconhecida como landmark é representado pelo ramo de acácia. Entre os árabes, seu nome é Houza e se acredita ser a origem de nossa palavra “Huzé”, o viva escocês “houzé”, que se escreve “huzza”, prova de que na Inglaterra, como na França, o grito de alegria popular tira seu nome  do ramo dos iniciados.

Pela característica de imputrescibilidade (símbolo da imortalidade) da acácia, os israelitas, a começar por Moisés, a utilizam na construção dos elementos mais sagrados (Arca, Mesa, Altar). 

“Também farão a arca de madeira de cetim (acácia)...” Êxodo 25:10

“Também farás uma mesa (a mesa dos pães da proposição) de madeira de cetim (acácia)...” Êxodo 25:23

“Farás também as tábuas para o tabernáculo de madeira de cetim (acácia)...” Êxodo 26:15

“Farás também o altar de madeira de cetim (acácia)...” Êxodo 27:1

Abel-Sitim no hebraico significa Vale das Acácias, Bete-Sita no hebraico significa Lugar da Acácia. A acácia simbolicamente representa a alma ou o espírito emanado de Deus, nosso Eu Superior, o Rei que É Majestade no nosso templo interior.

O grego “akakia”  também é usado para definir qualidade moral, inocência ou pureza de vida.

A Maçonaria tem incorporado nos seus Rituais a Robinia ou Robinier, mais conhecida como falsa acácia, mas qualquer variedade que for usada não tira em absoluto o valor imbólico do Ritual que a Ordem lhe atribui assim: Inocência = nascimento, Iniciação = conhecimento de si mesmo e Imortalidade = a ligação do Finito com o Infinito “DEUS”, isto é, os três I. I. I. ou o número 3, e ainda por suas flores simboliza beleza, pureza e sobretudo a irradiação de luz.

Acácia é a árvore da vida. Suas flores cegam, suas sementes matam e suas raízes curam. A semente é o veneno e a raiz o antídoto. “Akakia” significa  a inocência, a ingenuidade, como o prefixo a indica negação, Kakia será o vício, a desonra, a disposição para o mal. Portanto, Akakia significa ao mesmo tempo acácia e inocência, ela é o antídoto do vício e da disposição para o mal; por suas virtudes ela protege o homem.

Tenho em meu humilde entendimento que: Jesus, que simboliza o templo vivo, humano, o ego ou eu inferior, foi coroado com a acácia que representa os espinhos de fora para dentro, como as provas na vida, as dores e sofrimentos são as oportunidades de purificação; e os espinhos de dentro para fora, como nossas armas de defesa e proteção, ou seja, nossas ferramentas, ou melhor, talentos que possuímos para cumprir nossa missão de construir um templo sólido e justo (a cor verde das folhas, símbolo da esperança de realização), o corpo físico, profano, para que seja realizada a instalação do Cristo interior, o Eu Superior, a Luz Interna (a cor amarela das flores agrupadas em espigas ou capítulos, símbolo da beleza irradiante, a realização), tornar-se uno com o Pai, e perfeito.

A acácia, como símbolo da feminilidade, tem por representação Maria Madalena, a prostituta servindo a muitos senhores, ou seja, o dinheiro, a luxúria, a vaidade, a promiscuidade, os vícios em geral, o orgulho, a soberba, etc., vivendo nas trevas da ignorância, subjugada pelas paixões do eu inferior ou ego, ao receber a Luz = contato com Cristo, iniciação, pelo perdão no julgamento “atire a primeira pedra quem estiver sem pecado” João 8:7. “Vá e não peques mais” João 8:11.

Constato em Lucas 7:36 a 50, a correlação das lágrimas = espinhos = sal = terra = matéria = ego = justiça, utilizadas para lavar os pés = semente = raiz para uma nova vida, de Jesus, transformada pela iniciação ou exaltação = cabelos = coroa que enxuga os pés (curvar-se = mergulho ou batismo = introjetar-se) em ato de renascimento pela instalação do único Senhor, o Eu Superior = Cristo = o Perfeito no comando de sua vida.

Assim posso dizer com fé, amor e plena consciência: “Mais radiante que o sol, mais puro que a neve, mais sutil que o éter é o EU, o Espírito dentro de meu coração, eu sou esse EU, esse EU sou eu”.


Bibliografia:

Ritual de Mestre  -  R.E.A.A.

Bíblia Sagrada, traduzida por João Ferreira de Almeida

A Simbólica Maçônica – Jules Boucher

Grau do Mestre Maçom e Seus Mistérios –  Esta é a Maçonaria - Jorge Adoum.

junho 15, 2022

A INDUMENTÁRIA MAÇÔNICA - Pedro Juchem

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Pedro *Juchem,* M.'.M.'. - Loja Venâncio Aires II, nº 2369, GOB RS , Or.'. Venâncio Aires, RS, Brasil.

Basicamente, a uniformização da indumentária visa a harmonização do ambiente e das pessoas, gerando um clima psicológico favorável à integração e ao controle. As diversas organizações uniformizam as pessoas na busca da disciplina, do controle e da integração. É o caso das Forças Armadas, dos Estudantes, das Polícias Militares, das grandes corporações de operários, etc.

No caso da Maçonaria, a uniformização tem os mesmos benefícios já citados, além de naturalmente, os aspectos que se somam e que dizem respeito ao uso da cor preta. Na prática dos trabalhos em nossos Templos, buscamos dentre outras coisas, esotericamente, captar energias cósmicas ou fluidos positivos ou forças astrais superiores para nosso fortalecimento espiritual. Da física temos o conceito de que o preto não é cor, mas sim um estado de ausência de cores. As superfícies pretas são as mais absorventes de energias de qualquer natureza.

Então, a indumentária preta nos tornará um receptor mais receptivo e mais que isso, nos tornará também um acumulador, uma espécie de condensador deste tipo de energia. Por outro lado, a couraça formada pela nossa roupa preta, faz com que as eventuais energias negativas que eventualmente possam entrar no Templo conosco, não sejam transmitidas aos nossos Irmãos. Por isso o Maçom veste-se de roupas pretas para participar dos trabalhos em Loja.

A indumentária recomendada para as Sessões Magnas é o terno preto, com camisa branca e gravata preta ou branca. Para as Sessões Econômicas, admite-se o uso do Balandrau, que deve ser comprido e preto, complementado pelo uso obrigatório de calças, meias e sapatos pretos.

A comodidade que oferece ao usuário fez com que o Balandrau se difundisse rapidamente, mas é preciso salientar, ele deve ser comprido e ficar a um palmo do chão, pois é uma veste talar, ou seja, que vai até ao calcanhar. Desta forma, também não são indumentárias maçônicas as "mini-saias" que alguns Irmãos usam como se fosse um Balandrau.

Importante observar que, tanto do ponto de vista linguístico como do ponto de vista maçônico, preto e escuro não são sinônimos, conforme muitos querem. E, em assim sendo, toda indumentária que não seja preta, embora escura, não é maçonicamente adequada.

Alguns autores são de opinião de que o rigor do traje preto deve ser exigência para as Sessões Magnas, podendo ser livre quanto à cor nas Sessões Econômicas, mas mesmo assim todos são unânimes de que é indispensável o uso do paletó e da gravata.

Cabe ao Venerável Mestre decidir, dentro dos princípios do bom senso e da tolerância em torno das exceções, caso algum Irmão visitante em viagem ou mesmo de algum Irmão do quadro, que por alguma razão plenamente justificável, se apresentar ao trabalho com roupa de uma outra cor.


junho 14, 2022

A ESTRELA FLAMEJANTE OU RUTILANTE - José Castellani



A Estrela Flamejante poderá ser de cinco pontas, pentagonal, ou de seis pontas, hexagonal.

A estrela-símbolo tem sua origem entre os sumerianos --- na antiga Mesopotâmia --- onde três estrelas, disposta em triângulo, representavam a trindade divina : Shamash, Sin e Ichtar (Sol, Lua e Vênus). Entre os antigos hebreus, toda estrela pressupõe um anjo guardião ; e, segundo a concepção chinesa, cada ser humano possui uma estrela no céu.

A estrela Polar, em torno da qual gira o firmamento, sempre foi considerada como o primeiro motor, símbolo da proeminência; na China era o pilar solar, o entro do mundo.

A Estrela de Cinco Pontas, o tríplice triângulo cruzado é, originariamente, um símbolo da magia, o qual sempre aparece, em seus diversos ritos. Comum a todas as civilizações tradicionais, o desenho de uma estrela de cinco pontas --- estrela dos magos --- ou pentagrama, é a matriz do homem cósmico, o esquema simbólico do homem nas medidas do universo, braços e pernas esticados, do microcosmo humano. É a estrela flamejante dos herméticos, cujas cinco pontas correspondem a cabeça e aos quatro membros do Homem. E, como os membros executam o que a cabeça comanda, a estrela pentagonal é também o símbolo da vontade soberana à qual nada poderia resistir, de poder inquebrantável, desinteressado e judicioso.

Este é um conceito que procura refletir, em termos de estado de consciência, um equilíbrio ativo e a capacidade de compreensão, que deve possuir cada ser humano, para transformar a si mesmo num centro irradiante de vida, como uma estrela no firmamento. Esse cânone foi aplicado nas mais importantes obras de artes plásticas e de arquitetura, durante a Antiguidade clássica, principalmente na Grécia pitagórica --- o pentagrama corresponde ao Número de Ouro dos pitagóricos --- e no Renascimento, com Leonardo da Vinci, para o qual o pentagrama correspondia à divina proporção e o qual definia o cânone ideal do Homem, "cujo umbigo divide o corpo na mesma proporção, comanda a espiral logarítmica do crescimento, segundo a qual se desenvolvem os seres vivos, sem modificação de suas formas".

De acordo com a colocação de suas pontas, na magia, ela significa uma operação de magia branca, ou teurgia --- com uma ponta isolada, voltada para cima e duas para baixo --- ou de magia negra, goécia, nigromancia, ou feitiçaria --- com inversão, em relação à posição anterior. No primeiro caso, ela atrai as influências celestiais, que, por seu poder mágico, virão em apoio ao mago. No segundo caso, atrai as influências astrais maléficas.

Nesse caso, obrigatoriamente, a estrela deve ser composta por todos os metais e, em sua consagração, deve-se soprar cinco vezes, uma em cada ponta, aspergindo água lustral outras cinco vezes. Seca-se na fumaça dos cinco perfumes ---incenso, mirra, aloés, enxofre e flor de cânfora --- soprando mais cinco vezes, pronunciando, a cada vez, um dos nomes dos cinco gênios : Gabriel, Rafael, Anael, Samael e Orifiel (2). A seguir, a estrela é colocada no chão, virando-se as pontas, sucessivamente, para o norte, o sul, o leste e o oeste, pronunciando, ao mesmo tempo, em voz alta, as letras iôd, hé, va e hé --- do nome hebraico de Deus --- e, em voz baixa, as letras aleph e tav (ou tau), primeira e última do alfabeto hebraico (similares a alfa e omega). Depois disso, a estrela deve ser colocada sobre o altar das invocações, sendo rezadas as preces dos silfos, das ondinas, salamandras e gnomos (3).

No caso da magia, a missão principal do uso do pentagrama é testemunhar a obra que se está fazendo : sendo uma obra de luz, a ponta única da estrela estará voltada para cima ; se for uma ação das trevas, a posição estará invertida.

Para os ocultistas, todos os mistérios da magia e da alquimia oculta, todos os símbolos da gnose e todas as chaves cabalísticas da profecia resumem-se no pentagrama, que Paracelso --- cujo verdadeiro nome era Aurelius Teophrastus Bombastus von Hohenhein --- alquimista do século XVI, proclamava como o maior e o mais poderoso de todos os signos.

O nome de Estrela Flamejante, foi dado, à Estrela de Cinco Pontas, pelo teólogo, médico e alquimista alemão, Enrique Cornélio Agrippa de Neteshein, nascido em Colônia, no final do século XV e que também se dedicava à magia, à alquimia e à cabala.

Em maçonaria, a Estrela Flamejante só foi introduzida na metade do século XVIII, na França --- consta que a iniciativa foi do barão de Tshoudy --- sendo um símbolo totalmente desconhecido das organizações medievais de ofício e dos primeiros maçons aceitos. Esclareça-se que, no Craft inglês, a Estrela Flamejante (Blazing Star) é a de seis pontas.

No âmbito maçônico ela tem sido mais associada às escolas pitagóricas (4). Mas convém lembrar que Pitágoras também era dedicado à magia, não sendo estranha, portanto, a adoção da estrela pentagonal como símbolo distintivo de sua comunidade. Com a sua ponta única voltada para cima, nela se inscreve a figura de um homem --- daí ser chamada de estrela hominal --- como símbolo das qualidades espirituais humanas; em posição invertida, com a ponta isolada voltada para baixo, nela se inscreve a figura de um homem, com a cabeça para baixo, ou a de uma cabeça de bode, representando, em ambos os casos, os atributos da materialidade e da animalidade. Encontrada entre o esquadro, que serve para medir a terra, e o compasso, que serve para medir o céu, a estrela simboliza o homem regenerado, o Companheiro, em sua integridade.

Em Loja, a Estrela Flamejante fica colocada ao Sul, pendente do teto, ou nele pintada --- também pode ser colocada na parede Sul --- ocupando posição intermediária entre o Sol, no Oriente, e a Lua, no Ocidente, como representação do planeta Vênus. Há, também, uma explicação mística, para essa posição: o 2º Vigilante da Loja, que fica na Coluna do Sul --- a da Beleza ---- ou do Meio-Dia (5), é, na correspondência das Dignidades e Oficiais da Loja com os deuses do panteão greco-romano, assimilado a Afrodite (Vênus romana), deusa da beleza, do amor e do casamento. Para o Rito Moderno, a Estrela é a estrela Polar, guia dos navegantes, simbolizada como guia dos Companheiros Maçons.

A associação --- escola, ou escolas pitagóricas --- sobreviveu a ele, mas, na metade do século V a.C., novas perseguições obrigaram os pitagóricos a se dispersar por várias regiões da Grécia. Porém, tudo, em relação a Pitágoras, é incerto, até mesmo as suas crenças, pois ele não escreveu nenhum livro e os seus seguidores guardavam, zelosamente, os seus segredos. Diversas lendas, em torno de Pitágoras e do pitagorismo, cresceram, rapidamente, ao passo que os pitagóricos posteriores a ele, assim como os membros de outras sociedades, atribuíam-lhe as suas próprias teorias, para dar-lhes um cunho de autoridade. Em sua época, Pitágoras não era muito acatado, chegando, o seu contemporâneo, Xenófanes, poeta e filósofo, nascido na Jônia, a zombar dele, devido à sua crença na transmigração das almas.

A Estrela de Seis Pontas, ou Hexagonal, ou Hexagrama, é a Estrela Flamejante (Blazing Star) do rito inglês, estando presente no Painel Alegórico do grau de Companheiro Maçom, embora algumas instruções do rito façam diferença entre a estrela flamejante (pentagonal) e o hexagrama .

Composto por dois triângulos equiláteros superpostos, um de ápice superior e um de ápice inferior, o hexagrama é um símbolo universal. Para os hindus, ele representava a energia primordial, fonte de toda a criação, exprimindo a penetração do yoni pelo lingam, ou união dos princípios feminino e masculino. Yoni é uma palavra sânscrita, que designa o símbolo do órgão sexual feminino, no hinduísmo ; é representado, geralmente, por um triângulo invertido, com uma pequena depressão na superfície, a qual permite a inserção do lingam. Yoni simboliza, também, o princípio feminino, ou o aspecto passivo da natureza. Lingam também é um termo sânscrito e não é apenas o sinônimo do falo, mas, sim, a representação da integração entre os dois sexos, simbolizando o poder generativo do universo.

Os sessenta e quatro hexagramas chineses, ou Koua, derivados dos oito trigramas, são figuras geométricas compostas pela combinação dos traços de Yang e Ying, que compõem o I-Ching, ou Livro das Mutações, cujo ponto de partida é o segundo mês do solstício de inverno, onde o Yang sucede ao Ying:o hexagrama Fou.

Todavia, desde a mais remota Antiguidade, a estrela hexagonal era o símbolo do matrimônio perfeito, porque as duas naturezas --- os dois triângulos --- a masculina e a feminina, interpenetram-se e se harmonizam, para formar uma figura inteiramente nova (a estrela). Todavia, apesar da perfeita interação, ambos os princípios originais conservam a sua individualidade. Como no matrimônio, ou conúbio : um macho e uma fêmea, que se juntam, para criar uma nova figura (uma nova vida), sem que cada um deles perca a sua individualidade. 

Algumas instruções do rito inglês, altamente místicas, afirmam : Cinco nasceu de quatro; Seis é formado pelo ambiente sintético, emanado de Cinco. A atmosfera psíquica, que envolve nossa personalidade, compõe-se, sob o ponto de vista hermético, da água vaporizada pelo fogo, ou de água ígnea, ou seja, do fluido vital , carregado de energias ativas. Essa união do Fogo e da Água é representada, graficamente, pela figura muito conhecida do Signo de Salomão. Dos dois triângulos entrelaçados, um é masculino-ativo e o outro é feminino-passivo. O primeiro simboliza a energia individual, o ardor que emana da própria personalidade ; o segundo, representado por um triângulo invertido, em forma de taça, destina-se a receber o orvalho depositado pela umidade, através do espaço. A Estrela Flamejante corresponde ao microcosmo humano, ou seja, ao homem, considerado como um mundo em miniatura, enquanto os dois triângulos entrelaçados designam a estrela do macrocosmo, ou seja, do mundo, em toda a sua infinita extensão.

...

Notas:

2. Esses são todos nomes de anjos da mais alta hierarquia.

3. Silfo, do latim : sylfi, orum, é o ser macho sobrenatural, o qual, segundo crenças celtas e germânicas, ocupava, no mundo invisível, posto intermediário entre o gnomo e a fada. Gnomo (neologismo criado pelo alquimista Paracelso) é a designação dada aos seres sobrenaturais, os quais, segundo os cabalistas, habitavam o interior da terra, guardando os seus tesouros e riquezas naturais. Ondina (do francês : ondine), na mitologia germânica e nórdica, é o gênio do amor, o qual vive nas águas. Salamandra (do grego: salamándra, pelo latim: salamandra), símbolo mitológico do fogo, é um animal fantástico, constituído de energia ígnea, com a aparência aproximada de um lagarto, o qual vive em meio às chamas; na alquimia, é um signo gráfico, representativo do elemento fogo. Na natureza, salamandra é o nome genérico de anfíbios urodelos da família dos da família dos Salamandrídeos.

4. Pitágoras (Pythagoras, ou Puthagoras), nasceu em Samos e por volta de 513 a.C. , fixou-se em Crotona, no sul da Itália, certamente para escapara da tirania de Polícrates, governante de Samos. Em Crotona, ele fundou uma sociedade religiosa, a qual conseguiu grande influência política ; todavia, uma rebelião ocorrida na região o forçou a se mudar para Metaponto, onde faleceu.

5. Meio-dia, substantivo masculino, designa a hora, ou o momento em que o Sol está no zênite --- a pino --- e que divide o dia em duas partes iguais. Designa, também, o Sul, os países meridionais e a região sul de um país. Assim, tanto é correta a referência, à Coluna, como do Sul quanto a referência como Coluna do Meio-dia.