julho 03, 2022

A LOJA É PERFEITA, OS HOMENS NÃO - Ir. Manoel Miguel



Parece-me que o sonho de qualquer Loja Maçonica é fazer valer o que diz o Salmo 133:

... “Oh quão bom e quão suave é, que os irmãos vivam em união!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

Como o orvalho de Hermon e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” ...

A elevação do grau de consciência da excelência do AMOR fraternal, descrito nas palavras acima, alcança a todos, não escapa ninguém dessa Lei Universal.

O que sair fora disso é desarmónico, prejudicial.

É a força cega que fere de morte a Loja, a filha de Sião.

A Loja unida é como um corpo: quando um padece, todos padecem; quando um chora, todos choram; quando um se alegra, todos se regozijam.

Porque nessa Loja o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre!

O óleo precioso do AMOR fraternal lubrifica as engrenagens, que deslizam sem desgaste em seu trabalho com Força e Vigor.

Como unir homens dotados de egos, vaidades, formações, conceitos, dogmas e valores tão diferentes?

É aí que começa a ficar interessante a arte de ser Maçom e viver em harmonia.

É um esforço comum a todos os membros, e que requer habilidade, comprometimento mútuo e vontade de formar um só corpo.

Antes de apreciarmos os preceitos maçônicos é importante nos conhecermos uns aos outros, trabalhar nossos pontos fortes, identificando os pontos fracos.

Como sempre digo, no mundo profano, o modelo de união se dá pela formação de grupos lapidados por terceiros, enquanto que, na Maçonaria, a lapidação é individual, contanto que cada Pedra lapidada se encaixe no corpo da Loja, antes de se encaixar no edifício social.

É preciso que cada um faça sua auto-análise e procure se conter diante daquele que lhe discorda a opinião.

Em um universo de vaidades por cargos e distinções, permita-se ser contradito com racionalidade para que o aperfeiçoamento intelectual e moral se realize.

... É na confiança de que seus irmãos lhe querem o mesmo bem que você deseja a eles que deve pairar a dúvida de se julgar sempre estar certo...

O maior prejuízo para uma Loja Maçónica chama-se “crítica”.

Criticar significa pegar o Malhete e sair trabalhando a Pedra do outro irmão. 

A força cega se aproveita disso e conduz a Loja à ruína.

O debate é saudável para a Loja.

A crítica é destrutiva.

O behaviorista B. F. Skinner, em seu livro “Science and Human Behavior”, diz que a crítica é fútil porque coloca um homem na defensiva, deixando-o em posição desconfortável, tentando justificar-se. 

Em momentos como esse, a essência do AMOR fraternal, também chamada de egrégora, se desfaz e a força cega assume o controle.

A crítica é perigosa porque fere o que o homem tem como precioso, seu orgulho, gerando ressentimentos.

É o começo do fim dos relacionamentos.

John Wanamaker, um psicólogo estudioso dos relacionamentos, também escreveu: “Eu aprendi em 30 anos que é uma loucura a crítica.

Já não são pequenos os meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”.

Os homens deveriam fazer autocrítica. 

Como não o fazem, criticá-los é desafiar a harmonia em Loja.

B. F. Skinnner costumava fazer experimentos com animais, buscando compreender o comportamento destes, para depois compará-lo com o das pessoas.

Ele demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. 

Estudos recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem.

O homem adora criticar.

Tem os que criticam erros de ritualística em plena sessão, atrapalhando a egrégora, criando constrangimentos, quebrando a sequência dos trabalhos, cruzando a palavra entre as CCol∴e o Or∴tudo pelo prazer de corrigir, criticar e fazer prevalecer seu potencial, seu ego e sua autoridade, quando na verdade, o que deveria prevalecer seria o AMOR.

Buscar a perfeição na ritualística é nosso dever.

Mas não é prudente fazer críticas e correções em pleno serviço.

É o começo do fim.             

Estudos têm mostrado que a crítica não constrói mudanças duradouras, mas promove o ressentimento.

Acaba deixando o rei no trono, mas sem súditos para os governar.

É o fim do reinado.

O combustível do AMOR e da união é o elogio.

Se algum irmão fez um trabalho e o mesmo precisa ser melhorado, seu consciente o está cobrando por melhora.

Ele sabe que precisa melhorar, não porque alguém o cobre melhoras, mas porque o seu interior, sua alma, pede por melhora.

Quando alguém o elogia após a leitura de um trabalho, gera uma crítica construtiva, pois elogiou quando dentro dele existe uma crítica.

Esse irmão se sentirá motivado a fazer mais e mais trabalhos, e, essa persistência o levará à perfeição sem que necessitasse críticas de terceiros.

Hans Selye, outro notável psicólogo que amava estudar o comportamento humano diz: “Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação”.

Na prática, não só tememos, como também não ficamos satisfeitos com críticas feitas por pessoas semelhantes a nós, com o mesmo grau de fragilidade.

A Loja perfeita elogia, sugere, estimula, confere recompensas com palavras: O VERBO. A PALAVRA. O AMOR.

Não quero com isso buscar unanimidade favorável a essa tese que defendo.

Mas tenho observado que em Lojas onde se pensa diferente, o AMOR esfriou, a harmonia desapareceu e as CCol∴da Loja estão em perigo.

Por quê então não mudar e Elogiar e AJUDAR ao invés de apenas sempre criticar???...

..."Todos somos Humanos e Falíveis, mas somos IRMÃOS e Juramos nos Socorrer"... 


julho 02, 2022

A POUCA FREQUÊNCIA NAS LOJAS - Ir. Osvaldo Ortega


Vez por outra, estudiosos da Maçonaria se perguntam o porquê da pequena frequência existente da atualidade em nossas Lojas. Baseado nos parcos registros da história, fica-nos a ideia de que sempre foi assim.

A diferença palpável que poderá ser encontrada é a de que existe hoje uma menor quantidade de membros dentro de uma maior quantidade de Lojas.

Presume-se que antigamente uma mesma quantidade de obreiros pertencia a um menor número de Lojas, o que aparentemente daria uma frequência maior. Se, no entanto, se pudesse ter das antigas lojas as suas atas a porcentagem de comparecimento, certamente não diferenciaria nem para mais nem para menos do número percentual de hoje.

Aliás, quanto maior fosse o número de obreiros que compusessem uma Loja em tempos atrás, menor seria a sua porcentagem de frequência.

Exemplificando: uma Loja de 300 Irmãos, tem hoje uma frequência aproximada de 60-70 membros, o que dá 20% mais ou menos. Outra com 30 ou 50 membros, comparecem 20-30 obreiros, ficando entre 70-60%.

Esta afirmação está baseada no fato de o autor da presente, ter frequentado uma das maiores Lojas do Brasil onde normalmente a quantidade de Irmãos em cada sessão não passava de 10 a 20%, ou seja, de 30 a 60 comparecimentos para um total de 300 obreiros, que era o número dos que compunham aquela Loja.

As informações que temos da Maçonaria americana são de que lá algumas Lojas chegam a ter 900 membros, cuja média em regra geral vai de 100 a 300 comparecimentos.

Acontece que lá, as sessões de aprendiz e companheiro, somente são realizadas para Elevações e Exaltações. Pelo número de seus membros, calculem o tamanho que teria que ter o Templo de cada uma dessas Lojas, se fosse frequentada por todos e a impressão de vazio que daria quando de uma reunião, em havendo no seu interior, um comparecimento de 10%.

Seria o mais provável a acontecer, se as suas reuniões fossem semanais como aqui. Pois bem, o referido vazio mostra que uma Loja, dentro da própria realidade em tamanho, não deve construir seu Templo igual ao de uma Grande Loja.

Em certa ocasião, assistimos a uma palestra de um famoso autor numa grande cidade do Estado de São Paulo e, para que se tenha uma ideia da capacidade do Templo e da realidade do comparecimento, a dita palestra foi realizada no Oriente onde tranquilamente sentaram-se umas 25 a 30 pessoas e ainda sobraram cadeiras, ficando as Colunas completamente vazias.

Esse prédio enorme tem quase 100 anos de existência e a Loja mais de 110 anos da sua fundação. Pode se compreender que a sua construção foi uma obra para outra realidade que não a da presente. Essa Loja vive hoje das glórias passadas, nada havendo na atualidade que a leve a uma situação igual à antiga.

Seu número de membros não passa de 70 ou 80, o que seria bom para a realidade de hoje, não houvesse ali uma grande quantidade de irmãos em avançada idade, dispensados de frequência. Houve ainda uma descontinuidade nas iniciações. Pode ser esse outro motivo a justificar vazios para uma Loja que em tempos de antanho tinha mais do que o dobro da atual, além de também não ter existido naquela época a mesma rotatividade que hoje existe.

No início, ela era única na cidade onde agora já existem mais de 10 Lojas. Vislumbramos aqui alguns dos motivos da impressão de ausência existentes na Maçonaria Brasileira – O vazio fica só na impressão, mesmo porque na nossa visão a nossa Ordem está mais viva do que nunca.

Outro fator importante que precisa ser levado na devida consideração é que nos primórdios da Arte Real no Brasil, recebemos a influência da Maçonaria Francesa, profundamente política, tendo uma filosofia racionalista em cima do Positivismo, muito em voga na época, daí uma busca maior por parte daqueles que tinham ambições ao poder governamental.

A sua ingerência nos sistemas de governo de então, cuja atuação extrapolava o silêncio dos Templos, fazia com que ganhasse campo na imprensa, provocando debates públicos e inclusive um maior alarido nas rodas das intelectualidades de então.

Numa comparação à luz da história, a sensação é a de uma presença mais efetiva em tempos passados e a sua existência muito mais sentida exatamente devido à ocupação de um enorme espaço político e, consequentemente, havendo uma maior divulgação nesse sentido.

Assim, pois, é para se aceitar como coisa muito natural que houvesse naquela época uma porcentagem de presença em números mais elevados.

Só que, sendo político o motivo dessa maior presença, a atuação da Loja, comparada aos modelos de hoje em relação à História, à Linguagem Simbólica, à filantropia e ao Esoterismo, dentro desse campo, seria muitíssimo menor.

Com o quase total desaparecimento do colonialismo e seu conseqüente absolutismo governamental, deixou de existir o terreno propício a uma atuação política da maçonaria daquela tendência. Além do mais, com a ocorrência no Brasil de uma maior influência da vertente inglesa, cujo trabalho sempre foi e é discretamente realizado no interior dos Templos e sendo esta outra vertente (a inglesa) da política, fez-se com que não se receba mais como maçônico, o "oba-oba" das ruas, acontecimento natural da influencia francesa, e daí também, a impressão de um maior vazio hoje dentro da Ordem.

Ainda pela ação da Maçonaria Inglesa, existe na atualidade, outra visão da realidade sobre a nossa Ordem onde muitos são candidatos e poucos realmente escolhidos.

Entre estes, todos terão que passar pela iniciação, que é uma ação ritual peneiradora "ESOTÉRICA", o que resulta uma sobra minoritária dos que realmente possam vir a ser os, esotericamente, realmente "Iniciados".

A nossa angústia ante o desconhecido, quer pela vivência aqui na Terra enquanto um Ser material ou após a morte, como provável Ser espiritual, provocará dentro e fora do Templo, uma busca na solução do mistério.

Não sendo este encontrado aqui dentro, (não vamos entrar no mérito dos motivos) dará como resultado uma maior rotatividade no "entra e sai", da Ordem.

A pequena iniciação é por todos vista e sentida. A grande iniciação, porém, não é ele, o Filho da Luz, que se dá conta da metamorfose sofrida, pois foram os seus irmãos que vislumbraram nele um possível grande iniciado.

Foi então um reduzido, porém muito eficiente grupo, e é aí que repousa a grande força da Arte Real. O que resulta para olhos que só enxergam esotericamente é uma sensação de vazio, que pode e deve ser compreendida apenas na sua aparência.

Na realidade, aquilo que uns poucos esotericamente produzem, apesar de ínfima minoria, é incomparável e somente podem ser aquilatados, vistos e compreendidos por outros olhos também esotéricos.

Para esse vislumbre, seria bom não esquecermos uma das primeiras colocações do proceder maçônico: - "O que se faz com a mão direita, a esquerda não deve ver". A grandeza da Ordem e da Arte devem permanecer ocultadas a vistas profanas.

Assim, as obras maçônicas não são elaboradas para que o mundo lá fora delas tomem conhecimento, situação essa que é contrária aos seus fundamentos.


julho 01, 2022

DURA LEX, SED LEX - Ir. Heitor Rodrigues Freire





Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, Past GM da GLMMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande, MS

No começo dos tempos, quando o homem passou a viver em comunidade, não havia nada que regulasse o relacionamento entre as pessoas, o que prevalecia era a força. Quem fosse mais forte dominava os mais fracos e fazia valer a sua vontade.

Ao mesmo tempo em que o grupo tornava a sobrevivência mais fácil, a convivência tornava os conflitos mais frequentes e difíceis de administrar. Foi preciso criar regras para a vida comunitária. Assim, junto com o conforto das casas e a fartura das colheitas, surgiam as noções de propriedade privada e a guerra pela posse do que antes era considerado um bem comum.

O mais antigo conjunto de leis de que se tem notícia é o Código de Hamurabi, rei da Suméria e pertencente à primeira dinastia babilônica no século XVIII a.C, na Mesopotâmia.

O Código é baseado na lei do Talião (“Olho por olho, dente por dente), que representava um duro castigo para os que praticavam crimes. O rei Hamurabi foi responsável pela compilação dessas leis sob a forma escrita (em pedra), quando ainda prevalecia a tradição oral. Ao todo, o Código tinha 282 artigos a respeito de relações de trabalho, família, propriedade, crimes e escravidão.

Sua influência foi tão marcante que serviu de referência para outras leis antigas, como se pode observar no Antigo Testamento, nos livros do Êxodo, Levítico e Deuteronômio, antecedendo os livros de direito judeus por centenas de anos.

Aos poucos, foram criadas organizações sociais, religiosas, filosóficas e culturais que estabeleceram novos parâmetros para orientar o relacionamento entre as pessoas.

Pela importância e influência ao longo dos séculos, cito a voo de pássaro o Código Justiniano (Imperador romano de 527 a 565 d.C.), destacando uma de suas normas: “Ninguém sofrerá penalidade pelo que pensa”.

Napoleão Bonaparte, que reinou na França de 1799 a 1815, em 1804 criou um código civil, que ficaria conhecido como Código Napoleônico, que proclamava a igualdade perante a lei, a garantia do direito de propriedade e ratificava a reforma agrária conquistada na Revolução Francesa. Também assegurava a separação entre a Igreja e o Estado e eliminava os privilégios feudais.

Lei, por definição, é uma ordem geral e abstrata, emanada do poder competente e que obriga a todos. Em uma sociedade organizada, a função da lei é controlar o comportamento das pessoas de acordo com princípios estabelecidos naquela sociedade. 

As leis surgiram para que a comunidade pudesse continuar existindo e todos fossem capazes de desfrutar das vantagens que ela proporciona. Era importante determinar os direitos e deveres de todos os cidadãos, como, por exemplo, a proibição de roubar ou matar, ou a obrigação de pagar impostos, para que fosse possível construir bens de uso coletivo, como estradas, pontes, praças, mercados, escolas, hospitais etc.

Ser cidadão é, também, conhecer nossos direitos e cumprir nossos deveres. Para isso, as leis podem ajudar muito. Elas são as "regras do jogo" e existem para garantir que a democracia e os direitos de todos sejam respeitados. Ao obedecer às leis, contribuímos para um mundo mais justo para a coletividade.

Além dos postulados normativos, temos também a tradição oral, que emana dos usos e costumes. Por exemplo, o combinado não é caro. Meu pai me ensinou que não sou obrigado a cumprir nada, mas, se combinei, tenho a obrigação de cumprir.

Assim, na medida em que cada um seguir as regras mais elementares, a vida em sociedade transcorrerá de forma harmônica, proporcionando uma convivência satisfatória. 

A lei é dura, mas é a lei.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

junho 30, 2022

A Filosofia da Amizade de Aristóteles ainda é importante hoje


Aristóteles é amplamente considerado um dos mais brilhantes e prolíficos entre os filósofos ocidentais. 

É impossível dizer o quanto ele escreveu, mas a fração de seu trabalho ainda hoje é impressionante. 

Todos os campos, da astronomia e física à ética e economia, foram influenciados por seu pensamento. Por mais de 2.000 anos, ele continua sendo um dos pensadores mais lidos e citados da história.

Enquanto o impacto de Aristóteles ainda pode ser sentido em muitas disciplinas, uma de suas observações mais duradouras diz respeito à amizade. 

Ele via a amizade como uma das verdadeiras alegrias da vida e achava que uma vida bem vivida deveria incluir amizades realmente significativas e duradouras. Em suas palavras:

"Na pobreza, assim como em outros infortúnios, as pessoas supõem que os amigos são seu único refúgio." 

E a amizade é uma ajuda para os jovens, para salvá-los do erro, assim como é para os idosos, com vistas ao cuidado de que necessitam e à capacidade diminuída de ação decorrente de sua fraqueza; é uma ajuda também para aqueles em seu auge na realização de ações nobres, pois 'dois juntos' são mais capazes de pensar e agir."

As amizades acidentais

Aristóteles descreveu dois tipos comuns de amizades que são mais acidentais do que intencionais. 

Muitas vezes caímos nesse tipo de amizade sem perceber.

A primeira é uma amizade de utilidade. 

Nessa relação, duas partes não estão nela por afeição. 

Em vez disso, elas estão para o benefício que cada um recebe do outro. 

Essas relações são temporárias: sempre que o benefício termina, o mesmo acontece com o relacionamento. 

Aristóteles observou que essas relações de utilidade eram mais comuns entre os idosos.

Pense em uma relação comercial ou profissional, por exemplo. Você pode aproveitar o tempo que passa juntos, mas quando a situação muda, a natureza da sua conexão também muda.

O segundo tipo de amizade acidental de Aristóteles baseia-se no prazer. 

Esse tipo de relacionamento, ele descobriu, era mais comum entre pessoas mais jovens. 

Pense em seus amigos de faculdade ou pessoas que jogam na mesma liga esportiva. 

Seu relacionamento é fundamentado na emoção que sentem em um determinado momento ou durante uma determinada atividade.

Essas amizades são frequentemente as relações de vida mais curta de nossas vidas. 

E tudo bem, desde que as duas partes tenham prazer por meio de um interesse mútuo em algo externo.

Mas essas amizades terminam inevitavelmente quando os gostos ou preferências das pessoas mudam. 

Muitos jovens passam por fases do que gostam. 

Muitas vezes, seus amigos mudam ao longo do caminho.

A maioria das amizades se enquadra nessas duas categorias acidentais e, embora Aristóteles não as visse tão mal, sentia que sua falta limitava em muito sua qualidade. 

É bom, e até necessário, ter amizades acidentais - mas há muito mais por aí.

A amizade do bem

A forma final de amizade de Aristóteles parece ser a mais preferida. 

Em vez de utilidade ou prazer, esse tipo de relacionamento baseia-se em uma apreciação mútua das virtudes que a outra pessoa considera cara. 

Nesse tipo de amizade, as próprias pessoas e as qualidades que elas representam fornecem o incentivo para as duas partes estarem na vida umas das outras.

Amizades de virtude levam tempo e confiança para construir. 

Elas dependem do crescimento mútuo.

Ao invés de ser de curta duração, tal relacionamento perdura ao longo do tempo, e geralmente há um nível básico de bondade exigido em cada pessoa para que ela exista em primeiro lugar. 

As pessoas que não têm empatia e a capacidade de cuidar dos outros raramente desenvolvem esse tipo de relacionamento porque sua preferência tende ao prazer ou à utilidade. 

Além do mais, amizades de virtude levam tempo e confiança para construir. 

Eles dependem do crescimento mútuo.

É muito mais provável que nos conectemos a esse nível com alguém quando os vemos no pior e os observamos crescer - ou se enfrentamos dificuldades mútuas com eles.

Além de sua profundidade e intimidade, a beleza dessas relações está em como elas incluem as recompensas dos outros dois tipos. 

Eles são benéficos e prazerosos. 

Quando você respeita uma pessoa e cuida dela, você fica feliz em passar tempo com ela. 

Se eles são uma pessoa boa o suficiente para justificar tal relacionamento, também há utilidade. 

Eles ajudam a manter sua saúde mental e emocional.

Essas relações requerem tempo e intenção, mas quando elas florescem, elas o fazem com confiança e admiração. 

Eles trazem consigo algumas das alegrias mais doces que a vida tem para oferecer.

O legado de Aristóteles

Há uma boa razão para o trabalho de Aristóteles continuar a ser lido cerca de 2.000 anos após sua morte. 

Nem tudo o que ele escreveu é relevante hoje, é claro, e muitas de suas suposições foram contestadas. 

Ele nos ensinou a examinar o mundo empiricamente e inspirou gerações de pensadores e filósofos a considerar o papel e o valor da ética na conduta cotidiana de nossas vidas, incluindo nossos relacionamentos.

Enquanto ele via o valor de amizades acidentais baseadas no prazer e na utilidade, sentia que sua impermanência diminuía seu potencial. 

Eles não tinham profundidade e uma base sólida.

Em vez disso, ele defendeu o cultivo de amizades virtuosas construídas com intenção e baseadas em uma apreciação mútua de caráter e bondade. 

Ele sabia que essas amizades só poderiam ser fortalecidas com o tempo - e se elas prosperassem, elas durariam por toda a vida.

Nós somos, e nós vivemos, as pessoas com quem passamos tempo. 

Os laços que forjamos com aqueles que nos rodeiam moldam diretamente a qualidade de nossas vidas. 

A vida é muito curta para amizades superficiais.


junho 29, 2022

A LETRA "G" E O COMPANHEIRO - Ir.'. José Helio Otoboni







A letra “G”, dentro do triângulo, constitui um símbolo da sublime interpretação do “gênio do homem” subjugado pela força da vontade.

Simboliza o nome do Grande Geômetra, ou seja, do Grande Arquiteto do Universo.

Começamos a buscar algo sobre este assunto na Segunda Instrução do Grau de Companheiro. Segundo a instrução, o Companheiro “é o obreiro reconhecido apto para exercer a sua arte e consciente de sua energia de trabalho. Que tem por dever realizar, praticamente o plano teórico traçado pelos mestres”. 

Quanto à letra “G” diz a instrução, que significa geometria, geração, gravidade, gênio e gnose.

A geometria, tratada aplicável à construção universal; da que nos ensina a polir o homem e torná-lo digno de ocupar o seu lugar no edifício social.

A geometria, que é a ciência da medida das extensões, ou medida da terra, lembra as regras do Grande Geômetra para realizar a arquitetura do universo.

Na sabedoria dos gregos ela provou os diálogos sobre ordem, equilíbrio e harmonia do universo. A geometria ensina-nos a construir um mundo mais pacífico e menos arrogante.

A geração é a conservação da espécie, devendo esta ser bem estudada, para uma melhor produção futura, é a forma vital.

A gravidade para Newton é uma lei, que diz que a matéria atrai a matéria, já para os iniciados tem um sentido mais íntimo e profundo que para os profanos, já que não limita-se a considerar as relações entre os corpos físicos, mas sim o domínio moral e espiritual, sentindo e expressando constantemente a presença da vida.

O estudo e perfeita compreensão desta lei é, por consequência, de uma importância soberana para a Arte Real da construção individual e universal. 

Esta arte tem que ser praticamente uma constante elevação de idéias, pensamentos, palavras, propósitos e ações. Esta elevação não se consegue se não tiver sua base edificada sobre a lei do amor, que une todas as coisas pelos laços invisíveis de sua unidade original.

O gênio é a exaltação profunda de nossas faculdades intelectuais e imaginativas. No gênio, encontramos, pois, a mais elevada e sublime manifestação da geração; a criação ou produção do que pode haver de mais belo, atrativo e agradável. a ciência, a arte e a religião, em todos os seus aspectos, são igualmente obra do gênio interior do homem, que tende fazer do homem um mestre. Cultivar o gênio deve ser o objetivo fundamental do Comp.'..

 A gnose como ciência, está muito acima do “conhecimento vulgar”. é um processo muito utilizado pela Maçonaria, onde os maçons estudiosos aprofundam seu exame do “eu interior”, com a finalidade de aprimorar seu próprio espírito.

Não é uma religião, e sim uma ciência, toda de um processo dos mais naturais da consciência, do autoconhecimento, seu nome é de origem grega, e tem como sustentação a filosofia, a ciência, as artes e as religiões.

É filosofia, um conhecimento mais apurado em busca de uma elevada moral mais espiritualizada, a fim de ser procedida sua reforma intima, desde que haja realmente um esforçado interesse de encontrar os instintos inferiores ainda ativos, para dar-lhes combate e consequentemente fortificar os bons princípios que sempre existem em todos nós; arte pelas investigações do belo em seu interior; aprecia as religiões apoiando-as em tudo de bom que elas proporcionam aos fiéis, para uma formação mais bem espiritualizada; ciência por não aceitar dogmas, só aceitando o que seja concreto e possa ser provado cientificamente como real.

Podemos dizer, então, que a letra “G” é o espírito da genialidade que reflete no Comp.'.. 

Através desta genialidade, depois de buscar os conhecimentos e reconhecimentos interiores, poderá demonstrar na prática a qualidade de Comp.'., um obr.'. de inteligência construtora, que tem se convertido em tal, como resultado de um aprendizado fiel e perseverante.


Bibliografia:

Trabalho do Ir.'.Cloves de Sena - Or.'.de Curitiba/PR.-

Revista A Trolha – Janeiro/02-

Trabalho do Ir.'.Xisto P. Ezquerro

junho 28, 2022

O REPASTO FRATERNAL - Ir. Laurindo R. Gutierrez


Ir. Laurindo R Gutierrez. ARBBGBLS Regeneração 3ª - Loja de Pesq. Maç.´. Brasil - Loja Francisco X. Ferreira de Pesq. Maçônicas

O Ágape (ou repasto) fraternal era prática entre os cristãos primitivos e, foi abolido pela Igreja por volta do ano 400 de nossa era, sob alegação que se tornara grande demais, contrariando assim, pela comilança desenfreada, os princípios religiosos. Na Maçonaria, o ágape foi adotado desde a criação da Ordem, e com ela tem sobrevivido às crises, aos tempos de desânimo e todo tipo de mudança introduzidas. Pode-se dizer que ele é a continuação da sessão ritualística, transferida a confraternização no salão social, onde os assuntos debatidos em Loja, são depois, comentados sem a formalidade e a rigidez que impõe o ritual. 

Diz-se que alguns irmãos se preocupam mais com o ágape do que com a reunião, assertiva que não é verdadeira, tendo em vista que jamais alguém pediu para cobrir o Templo para jantar. E se alguém veio pedir, é antes sinal de que está com fome, necessitando se alimentar. Sendo o ágape, quase uma festa, nos atrai todos para aquele momento de descontração, e nessa hora é que conhecemos melhor o irmão, sua profissão, onde mora, os filhos tem, tudo em uma conversa amiga, franca e alegre. Fazer refeições em grupos é comum desde que o homem existe. Afinal, o alimento é fonte de vida, e, se, praticado entre irmãos, confere um prazer indescritível. Em praticamente todas as Lojas Maçônicas o jantar é importante para o congraçamento dos irmãos e quando por algum motivo o ágape não acontece, fica um indisfarçável vazio no semblante e no estômago de cada um. 

Na Jerusalém antiga, homens de todas as classes compareciam ao ágape dos domingos, com os ricos pagando a parte dos mais pobres, pois era direito de todos, partilhar com os amigos e irmãos da mesma refeição. Atente, ao passar numa obra em construção, a alegria dos operários reunidos, almoçando, e observe que em suas marmitas por vezes contam com apenas, farinha arroz e feijão, e, com sorte, um ovo. Pobre a comida, rica a união entre eles. Era assim também nos primórdios da Ordem quando os pedreiros livres se reuniam nos canteiros para comer nos intervalos e ao final do dia. Partilhar da mesa de refeição, alimentando também o sentimento fraterno, valorizando a convivência entre irmãos e familiares é uma atividade quase divina. Sem dúvida, a imagem mais emblemática do Ágape fraternal é a Santa Ceia, com Cristo reunido junto de seus discípulos para comer o cordeiro pascal, com pão e vinho. 

...

Bibliografia: Adaptado de “O Ágape” – L. Müller

Dicionário Maçônico – R. da Camino

junho 27, 2022

A NOBRE EUFORIA - Roberto Ribeiro Reis


Roberto Ribeiro Reis, inteelctual e poeta da ARLS Esᴘᴇʀᴀɴᴄ̧ᴀ ᴇ Uɴɪᴀ̃ᴏ ɴ.º 2358 do Oriente de Rio Casca, MG


A ɴᴏʙʀᴇ ᴇᴜғᴏʀɪᴀ

Dᴇ sᴇɴᴛɪʀ-sᴇ ᴍᴀᴄ̧ᴏᴍ,

Rᴇᴠᴇʟᴀ ᴏ ʟᴀᴅᴏ ʙᴏᴍ,

Tʀᴀᴅᴜᴢ-sᴇ ᴇᴍ ʜᴀʀᴍᴏɴɪᴀ.


Esᴛᴀʀ ʙᴇᴍ “ᴀʙᴏʙᴀᴅᴏ”,

Dᴇsʟᴜᴍʙʀᴀᴅᴏ ᴄᴏᴍ ᴏ ᴄᴇʟᴇsᴛᴇ,

Vɪᴠᴇʀ ᴀ ᴇᴘɪғᴀɴɪᴀ ɪɴᴄᴏɴᴛᴇsᴛᴇ

Aɴᴛᴇ ᴏ ᴄᴇ́ᴜ ᴛᴀ̃ᴏ ᴇsᴛʀᴇʟᴀᴅᴏ.


Exᴇʀᴄᴇʀ- ᴀɴᴏ̂ɴɪᴍᴀ- ᴇᴍᴘᴀᴛɪᴀ,

Oɴᴅᴇ ᴇsϙᴜᴇᴄɪᴅᴀ ᴇ́ ᴀ ᴄɪᴅᴀᴅᴇ,

Bᴜsᴄᴀʀ ᴅɪᴠɪᴅɪʀ - ᴀ ᴄᴀʀɪᴅᴀᴅᴇ-

Cᴏᴍ ᴘʀᴏғɪ́ᴄᴜᴀ ʜᴏsᴘɪᴛᴀʟᴀʀɪᴀ.


Sᴀʙᴇʀ ϙᴜᴇ ʙᴇʟᴀ ɴᴏs ᴇ́ ᴀ sɪɴᴀ,

E ᴀs ᴄᴜɴʜᴀᴅᴀs ᴍᴀʀᴀᴠɪʟʜᴏsᴀs,

Aʟᴍᴀs ᴀssɪᴍ ᴛᴀ̃ᴏ ᴠɪʀᴛᴜᴏsᴀs,

Dᴀ Fʀᴀᴛᴇʀɴɪᴅᴀᴅᴇ Fᴇᴍɪɴɪɴᴀ.


Essᴀ ғᴀᴍɪ́ʟɪᴀ sᴇᴍ ɪɢᴜᴀʟ,

Uɴɪᴅᴀ ᴘᴏʀ ᴜᴍ ᴅɪᴠɪɴᴏ ᴍᴏsᴀɪᴄᴏ,

Dᴇᴍᴏɴsᴛʀᴀ sᴇᴜ ᴄᴀʀᴀ́ᴛᴇʀ ʟᴀɪᴄᴏ,

Tᴀ̃ᴏ ʟᴏɢᴏ ᴀʙʀɪᴍᴏs ᴏ Rɪᴛᴜᴀʟ.


Essᴀ Iɴsᴛɪᴛᴜɪᴄ̧ᴀ̃ᴏ Sᴜʙʟɪᴍᴇ,

Oғɪᴄɪɴᴀ ᴅᴇ ʜᴏᴍᴇɴs ᴅᴇ ᴇsᴄᴏʟ,

É ᴘʀᴏᴛᴇɢɪᴅᴀ ᴘᴇʟᴏ ᴍᴇsᴍᴏ sᴏʟ,

Qᴜᴇ ᴀʙᴇɴᴄ̧ᴏᴀ, ʀᴇɴᴏᴠᴀ ᴇ ʀᴇᴅɪᴍᴇ!


 



junho 26, 2022

PACIÊNCIA, UM CULTO MAÇÔNICO - Ir. Nivaldo de Melo



A Maçonaria cultiva a paciência porque, sendo irmã gêmea da tolerância, é uma virtude que consiste na capacidade constante em suportar as adversidades, as dores, os infortúnios, com resignação subordinada à fortaleza da alma. 

Diz-se que o tempo, a paciência e a perseverança nos conferem a integridade e habilitam a realizar todas as coisas.

A paciência significa equilíbrio e o controle do dualismo, o freio para o instinto, o fruto da meditação, o caminho da sabedoria. 

A paciência conduz à perseverança, e esta à conquista do alvo planejado.

O maçom, para alcançar o conhecimento, buscar o progresso interior e exterior, deve plantar a sua conduta dentro da Loja com exemplar paciência. 

Os impacientes e os que, na Maçonaria, apenas procuram interesses espúrios ou tolas vaidades, não conseguem realizar esse objetivo.

As precipitações, o afoitamento, a pressa são meios conturbadores. 

A paciência é o caminho mais curto para alcançar-se a paz.

Perdoar àqueles que conosco caminham para colocarem nossa paciência à prova é a caridade mais meritória. 

La Fontaine ensina que “A paciência e o tempo dão mais resultado que a força e a raiva”.

Como sabem os Irmãos, o culto à paciência, na Maçonaria, ainda que alguns entendam diferentemente o seu significado, tem cunho espiritualizado.

Joseph Anderson, um dos organizadores da Maçonaria Especulativa, era pastor protestante e muito do que nos é ensinado veio para a Ordem com a finalidade de, mesmo não sendo um dogma, não deixa de ser um aprendizado espiritual. 

Margaret Thatcher uma vez disse: “Eu sou extremamente paciente contando que consiga o que queira no final”. Este é um péssimo exemplo.

Quando tudo está indo do jeito que queremos, é fácil demonstrar paciência. 

O verdadeiro teste de paciência aparece quando um de nossos Irmãos age de forma inadequada, ou mesmo quando na vida profana, nossos direitos são violados; quando alguém, por atos ou palavras, procura nos irritar; quando somos ridicularizados por nossas crenças.

A Bíblia, no entanto, fala de paciência como um fruto do Espírito (Gálatas 5:22). 

Apesar de a maioria das pessoas considerarem paciência como uma espera passiva ou tolerância gentil, a maioria das palavras gregas traduzidas como “paciência” no Novo Testamento são palavras ativas e saudáveis. Considere, por exemplo, Hebreus 12:1.

É claro que paciência não acontece da noite para o dia na nossa vida. 

Para o desenvolvimento da paciência é preciso que a mesma seja exercitada diariamente.

Nossa paciência se desenvolve e fortalece ainda mais quando procuramos a íntima ligação com o nosso mundo interior que é o GADU, nosso Deus.

O Rei Salomão ensina: “Descansa no SENHOR, e espera nele: não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos” (Salmo 37:7). 

Jó foi exemplo de paciência e perseverança (Tiago 5:11). 

Tenhamos em mente que este ensinamento religioso e também Maçônico é para nos lembrar que seu propósito é para o nosso crescimento moral.

Agora, da próxima vez que for posta à prova a sua paciência, por ter sido magoado por um Irmão desavisado ou mesmo no mundo profano, não haja com impaciência, a qual acaba levando a mais estresse, raiva e frustração. 

Saiba ser um verdadeiro Maçom, procurando compreender os prós e os contras de cada situação.


junho 25, 2022

MAÇONARIA, SOLSTÍCIOS E PADROEIROS - Ir. Newton Agrella



A Simbologia que a Maçonaria traz consigo está intimamente relacionada aos próprios Usos e Costumes  do comportamento humano ao longo da História.

A relação e a adoção de um Santo Padroeiro na Maçonaria deve-se à questão da comemoração dos Solstícios, e ao período das Colheitas.  

Além disso, a uma analogia aos Romanos, que faziam suas adorações e agradecimentos ao deus Saturno pela safra exitosa.

Da mesma forma, indícios e relatos históricos dão conta de que esta prática era igualmente promovida pelas antigas guildas e corporações de ofício que já se constituíam nas primeiras levas da Maçonaria Operativa na Europa.

Cabe registrar que nesse período da história, chamado de Idade Média - também conhecido como Período Obscurantista - o Pensamento se constituía basicamente na Religião, sobretudo nos preceitos doutrinários e dogmáticos do cristianismo.

Há fortes indícios de que a Maçonaria Especulativa - que ganhou corpo a partir do chamado "Período Iluminista", que se  constituiu no movimento intelectual caracterizado pela racionalidade crítica do questionamento filosófico no século XVIII -  como forma de preservar as datas comemorativas dos Solstícios e de São João Batista (24/06) e de São João Evangelista (27/12) e ao mesmo tempo não viesse a se indispor contra a Igreja -  tenha adotado a figura do padroeiro, até como um meio de proteger a Sublime Ordem, num período em que a Inquisição, o Fanatismo e a Tirania ainda guardavam fortes influências na Europa.

Esse expediente interpretativo portanto, pode nos levar à compreensão de que se trata mais do que uma mera casualidade do porquê os Santos de nome João permaneceram no universo literário maçônico, e se instalaram inclusive no seu âmbito ritualístico na maior parte da Maçonaria.

Adaptar-se às circunstâncias é também um exercício de perspicácia e inteligência que sem dúvida alguma, a Maçonaria Especulativa nos deixou como legítimo legado.


O SOLSTÍCIO - Ir. Bruno Macedo



O solstício corresponde ao instante em que o Sol atinge a sua declinação máxima ou mínima, dependendo do hemisfério em questão.

No solstício de Verão o Polo Norte apresenta uma inclinação de 23,5º em direção ao Sol, enquanto no solstício de Inverno o Polo Norte fica afastado do Sol com uma inclinação de 23,5º. 

No hemisfério sul (onde se encontra o Brasil), o solstício de verão acontece nos dias 21 ou 23 de dezembro e o solstício de inverno nos dias 21 ou 23 de junho.

Inversamente, no hemisfério norte, o solstício de verão acontece nos dias 21 ou 23 de junho e o solstício de inverno nos dias 21 ou 23 de dezembro.

Por ser o dia de maior noite no ano, o solstício de Inverno (21 de Dezembro, no hemisfério Norte e 21 de Junho no hemisfério Sul) é associado à morte, ao desconhecido ou à escuridão, enquanto que o dia de maior claridade (21 de Junho, no hemisfério Norte e 21 de Dezembro no hemisfério Sul) é associado a Vida ou à Luz (solstício de Verão).

Na antiguidade, as iniciações eram feitas sempre no solstício de Inverno, porque sendo o ultimo dia de maior noite, significava a marca do inicio do ciclo de dias de luz cada vez maiores; significava ainda a saída do mundo dos mortos (a noite, a escuridão), ou a entrada no mundo dos vivos (o dia, a Luz).

As iniciações tinham assim o significado de renascer, ou nascer de novo para a Luz; o renascimento assume assim o significado simbólico da vida que se renova, após a grande noite (morte).

No Egito antigo, os Faraós eram reiniciados a cada novo solstício de inverno.

As Pirâmides foram construídas em alinhamento para receber o Sol de frente à porta de entrada, exatamente no dia do solstício de Inverno.

Em diversas outras civilizações, as grandes obras de arquitetura foram construídas com este alinhamento e com este objetivo.

Acredita-se que, assim como os Romanos observavam o Solstício de Inverno, em homenagem ao deus Saturno, posteriormente chamado de “Sol Invencível”, esse costume também era observado pelas Guildas Romanas, os antigos Colégios e Corporações de Artífices, que nada mais eram do que a Maçonaria Operativa.

Porém, há fortes indícios de que a Maçonaria Especulativa, formada por europeus de predominância cristã e preocupados com a imagem da Maçonaria perante a “Santa Inquisição”, aproveitou a feliz coincidência das datas comemorativas de São João Batista (24/06) e São João Evangelista (27/12) serem muito próximas dos Solstícios, para relacionarem a observância dos Solstícios com os Santos de nome João, e assim protegerem a instituição e sua observação dos Solstícios da ignorância, tirania e fanatismo.

João Batista é o profeta que anuncia e prepara, no sistema iniciático, a vinda da Luz.

Ele ensina a humildade, a renúncia ao ego, sem as quais a iniciação e o progresso espiritual são impossíveis: "É preciso que ele cresça e que eu diminua" (João 3:30). 

Haverá expressão mais profunda deste sentido do que esta?

Pobre do Mestre que não aspire a ser ultrapassado pelo seu discípulo! 

São João Batista simboliza, assim, o grande iniciador, o Mestre sábio que prepara, humildemente, o caminho ao Aprendiz.

São João Evangelista, em contrapartida, representa o Irmão que recebeu a Luz e que a dimana na sua sabedoria, identificando-a com o Verbo e com o Amor. 

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses.

Nesse sentido, na Inglaterra, onde a primeira Obediência Maçônica do mundo, como se sabe, foi fundada em 1717, no dia de São João Batista, o antigo símbolo maçônico de um círculo ladeado por duas linhas paralelas, talvez um dos símbolos mais antigos da humanidade ainda em uso, teve a simbologia das linhas paralelas dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, que possuem ligação direta com a observância dos Solstícios, transformados em São João Batista e São João Evangelista.

Ou seja, não são Lojas Solsticiais, mas sim e antes de tudo, Lojas de São João.

Bom dia de solstício meus irmãos. 


junho 24, 2022

IRMÃOS LIVRES E DE BONS COSTUMES, SERÁ QUE SOMOS? - Ir. Pedro Neves


O primeiro princípio exigido para ser maçom é que sejamos livres e de bons costumes. Infelizmente, isto não ocorre na maçonaria atual.

Segundo o dicionário Aurélio, Livre [Do Lat. Liber]:

1 – Que pode dispor de sua pessoa; que não está sujeito a algum senhor.

2 – Que tem o poder de decidir e de agir por si mesmo; independente

3 – Desprovido, privado, isento(livre de preconceito).

Com base nas definições acima, a maçonaria não segue os preceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que tanto divulga, uma grande parte de maçons, não entendem o que pregam e defendem, são preconceituosos.

Através de relatos cada vez mais constantes, tomamos ciência de irmãos impedidos de assistirem reuniões em lojas de outras potências e obediências, diferentes da que ele está filiado, sendo que, na maioria das vezes já estiveram juntos em uma mesma potência ou obediência, e hoje, por motivos diversos se encontram separados administrativamente, mas, continuam seguindo os mesmos princípios, leis e regulamentos maçônicos.

Quem é preconceituoso, não pratica os bons costumes.

Quem nega um irmão que muitas vezes já esteve lado a lado na luta contra a hipocrisia, o fanatismo e a ignorância, não pratica os bons costumes.

Quem acredita que uma potência ou obediência é dona da maçonaria, e que acredita que somente ele, é o dono da verdade e das virtudes, não pratica os bons costumes.

A Liberdade não existe.

Quem prega a Liberdade, mas, não aceita que outros irmãos sejam livres para procurarem e praticarem o seu direito de liberdade, não é um homem livre, é um vil escravo.

Quem defende a Liberdade, mas, não aceita que outros exerçam a busca constante da verdade, não é um homem livre.

A Igualdade não existe.

Quem não aceita como igual, um irmão que pratica a maçonaria como todos os outros praticam no mundo, não é um irmão que saiba o que seja Igualdade.

Quem acredita que Igualdade seja pertencer a uma mesma potência ou obediência, não sabe o que seja Igualdade.

Quem pensa que Igualdade seja ter tratados amizade ou reconhecimento, não sabe a diferença entre tais palavras.

Quem acredita que acredita que apenas duas ou três potências ou obediências sejam regulares, também é um analfabeto maçônico, não sabe o que é regularidade, mas, como é um termo muito usado hoje em dia, fala como um papagaio repete o que ouve, mas, não sabe o que diz.

A fraternidade não existe.

Quem acredita que Fraternidade é fazer o bem no mundo profano, não fazendo o mesmo com os irmãos espalhados pela superfície terrestre, não sabe o que seja a Fraternidade.              

Quem acredita que a Fraternidade deva ser praticada apenas entre duas ou três obediências ou potências, não sabe o que seja fraternidade, aliás, não deve saber qual é a diferença entre potência e obediência.

Quem não tem Liberdade para praticar a Igualdade e Fraternidade com quem queira, dependendo de autorização superior, deve abandonar a maçonaria, pois, não é um verdadeiro maçom.

O Venerável Mestre de uma loja maçônica que não tenha autonomia para receber quem quer, deve entregar o malhete, pois, não é um homem livre, não passa de um mero garoto de recados dos poderes superiores. Os maçons de uma Loja que assim age, não são homens livres.

Aliás, o maçom que não sabe praticar a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, deveria ser impedido de estar filiado em uma loja. Ele ainda não entendeu o princípio básico da maior oração do Cristianismo, que foi ensinada por Jesus, O Cristo, “O Pai Nosso”.

Pois, não entende que ao dizer – “Pai Nosso que estais no céu”, ele deve admitir que todos sejamos irmãos, que somos todos de uma mesma família, não devendo haver preconceitos de classe social, econômica ou política, cor, raça, religião. A Fraternidade que exercem é apenas para profanos, deixando de lado os seus irmãos.

Somente quando algum irmão resolver processar outros por prática de Bullying, que é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder (Existem “irmãos” que gostam de fazer brincadeiras pejorativas com outras instituições maçônicas), é a prática da molecagem dentro da Sublime Instituição.

A prova maior da falta de Fraternidade ocorre em épocas de eleições, quando ocorrem fatos na mesma proporção que eleições no mundo profano, tais fatos jamais deveriam ocorrer dentro de uma instituição como a maçonaria, mas ocorrem.

Parafraseando o ilustre Francisco Octaviano no texto: “Quem passou pela vida em branca nuvem, e em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida, não viveu”, poderíamos dizer: “Quem passou pela maçonaria em branca nuvem, e em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça de seus irmãos, quem passou pela maçonaria e não sofreu, foi espectro de maçom, não foi maçom, só passou pela maçonaria, não foi irmão”.

 


SÃO JOÃO, PADROEIRO DA MAÇONARIA - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz


Excerto do livro *Personagens Bíblicos da Maçonaria Simbólica do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz

Inicialmente deve-se esclarecer que na Maçonaria Operativa, como consta em inúmeras Old Charges, os santos padroeiros eram os Quatro Santos Mártires Coroados. Na Maçonaria Especulativa passou a ser São João. Qual São João e por quê?

O Irmão Rizzardo da Camino em seu livro Lendas Maçônicas, relaciona 35 santos com o nome de João e ao final não indica conclusivamente nenhum.

 Tal como nas tradicionais Festas Juninas, nos Rituais Maçônicos geralmente diz-se apenas que é São João, conquanto nos primeiros rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito publicados no Brasil, dizia-se que era São João da Escócia e alguns Ritos e Potências Maçônicas nomeiam São João Evangelista ou São João de Jerusalém.

Em sites nacionais circulam as mais variadas hipóteses, a grande maioria sem o menor espírito crítico. Como uma espécie de conciliação, geralmente diz-se que os padroeiros são dois: São João Batista e São João Evangelista, correspondentes às festas dos solstícios de inverno e verão. Já em sites ingleses tal não ocorre, havendo unanimidade quanto ao João que é o padroeiro da Maçonaria. 

Ora, a Maçonaria na forma como a conhecemos atualmente, a Maçonaria Especulativa, foi sistematizada na Inglaterra, cujo padroeiro é São Jorge. 

Todavia, as 4 Lojas que fundaram a primeira Potência Maçônica, a Grande Loja de Londres, o fizeram em 24 de junho de 1717, data em que se comemora justamente o dia de São João Batista, tanto no Brasil quanto na Inglaterra e em outros países, tanto na Igreja Católica (predominante no Brasil) quanto na Anglicana (predominante na Inglaterra).

Então, não há como se ficar especulando quem é o patrono da Maçonaria. É São João Batista, sem nenhuma conotação mística, esotérica, religiosa ou de qualquer outra natureza. É simplesmente pelo fato da Grande Loja de Londres ter sido fundada na data em que se comemora o seu dia! 

Somente por isso e nada mais!

João Batista era filho de Zacarias e Isabel, que o tiveram já em idade avançada.

É considerado o último e o maior profeta do Antigo Testamento e o elo que une o Antigo ao Novo Testamento.

João Batista teve muitos seguidores entre o povo, pregando um batismo de penitência e exortando a todos que se preparassem para a vinda do Messias. Batizou Jesus no rio Jordão.

Viveu uma vida austera no deserto, alimentando-se de gafanhotos e de mel silvestre.

Herodes temia-o e os fariseus não ousavam falar contra ele.

Todavia, ao reprovar o pecado de Herodes, foi encarcerado. Herodiades, amante de Herodes, fez com que sua filha Salomé agradasse Herodes com suas danças e exigir dele a cabeça de João Batista, que foi então degolado. (Sinal de Aprendiz?)

Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 23, 2022

O TRABALHO MAÇÔNICO E A ESPIRITUALIDADE - José Eduardo Sousa



 José Eduardo Sousa é M:.M: da R:.L:. Alengarbe (G:.L:.L:.P:.), a O:. de Albufeira, Portugal

Uma Loja maçônica, que pode simbolizar o mundo, o universo em que vivemos, é uma plataforma que permite o crescimento do maçom, o seu desenvolvimento espiritual assim como a sua elevação ética e moral.

Uma plataforma, que quando utilizada de forma correta, de coração aberto e em verdade, permite ao indivíduo aperfeiçoar-se e crescer, em suma, tornar-se um homem melhor e mais apto, livremente responsável, que, partilhando um desígnio com os Irmãos, se aperfeiçoa e aperfeiçoa o meio onde se insere, á sua dimensão.

O trabalho maçônico, para mim, claro está, tem como objetivo tornar o mundo melhor. Isto parece um objetivo vago e inalcançável, que tudo permite dizer e nada diz. Porém, é minha convicção que é mesmo isto que fazemos todos os dias.

Uma L.’. maçônica tem por obrigação ser uma escola dos melhores de uma comunidade, mais capazes e mais aptos a fazer esse mesmo trabalho, o de potenciar o cumprimento dos homens, desbastando a pedra em bruto, aperfeiçoando-se e realizando-se na sua plenitude, contribuindo então para deixar o Mundo um sitio melhor do que era quando cá chegamos. Um primado da Razão e da Filosofia, da bondade Moral e Justeza das ações.

Com os pés no chão, com a certeza de que não resolveremos os problemas todos, nem mesmo muitos ou alguns, apenas aqueles que conseguirmos depois de a isso nos dispormos.

Esse trabalho faz-se mudando os homens, que através do crescimento espiritual e cultural, vão, a pouco e pouco, alterando a sua forma de interagir com a comunidade onde se inserem.

Crescendo e aperfeiçoando-se, o maçom muda para melhor, estou em crer, mesmo que inconscientemente, o mundo que o rodeia. Do somatório puro e simples do aperfeiçoamento dos maçons, observamos uma transformação na sociedade, quer tenhamos ou não disso noção. Um processo que se apresenta como profundamente individual assume então a sua generosidade.

O trabalho do maçom é aperfeiçoar-se em L.’.. E como é que isso acontece? Esse é o trabalho da L.’., há luz dos códigos de elevação moral e espiritual, onde o Ritual assume um papel preponderante, tornar homens bons melhores, dispostos a preparar o futuro e construir o presente á luz dos ideais maçônicos.

Para isso deve ter a L.’. um critério rigoroso de escolha dos seus candidatos, sob pena de se transformar num clube de amigos que transferimos do mundo profano, desprovido de sentido.

Os candidatos devem ser convidados á luz das características dos seus talentos, para que possam ser uma mais valia para o trabalho que está na gênese da Maçonaria e é a sua razão de existir.

E porque talentos per si não valem nada, é aqui que os potenciamos e aprendemos que o que conta é o que com eles realizamos, á luz de um código de moralidade e de valores que escolhemos livremente e em consciência para nós.

Estes homens que descrevo têm de ser capazes de conceber o Divino; o Indizível; de sonhar; de terem visão; de terem a Força, a Sabedoria e o desprendimento de se entregar a projetos aparentemente impossíveis, utópicos e belos; têm de conceber a fraternidade leal fruto da partilha do Desígnio.

Porque é disso que falamos, de uma escola de Cavaleiros, que foram Cavaleiros da Terra, depois Cavaleiros do Mar e hoje Cavaleiros do Mundo. Essa dimensão espiritual é a sua característica mais importante. Que passo a explicar como se me apresenta hoje.

Entendo que a espiritualidade é uma dimensão indissociável da condição humana, mais do que o bem exclusivo de Igrejas, Religiões ou Escolas de pensamento.

Na prática, fala-se de Espiritualidade para a parte da vida psíquica, fruto da inteligência humana, que nos parece mais elevada: aquela que nos confronta com Deus ou com o absoluto, com o infinito ou com o todo, com o sentido da vida ou a falta dele, com o tempo ou com a eternidade, com a oração ou o mistério.

Temos a felicidade de ter na nossa Ordem homens de religiões reveladas diferentes, de escolas de pensamento diferentes, sem opção por nenhuma das religiões reveladas, sem se reconhecerem em nenhuma escola de pensamento, homens de profundo esoterismo e outros que nem por isso.

Não temos porém nenhum despojado da assunção da sua espiritualidade.

O respeito por essas opções é a nossa riqueza, a base para a geração da harmonia. Isto exige uma reflexão profunda do que é a tolerância maçônica, sempre á Luz de um ideal maior que todas as religiões e escolas de pensamento.

Porque a Maçonaria está num patamar diferente. Não se preocupa com a forma como cada um vive a sua espiritualidade nem ambiciona ter voto nessa matéria.

A preocupação da Maçonaria é o Individuo e depois o Mundo, onde vivem os homens hoje e os de amanhã, a sua preocupação última é a vida dos homens na Terra, e não oferecer salvação ou condicionar a sua existência á salvação eterna. Para isso existem outras sedes, cujo sucesso e eficácia jamais se poderá questionar ou até medir.

A espiritualidade que aqui tratamos remete-se para a relação do homem com o divino em vida, aqui na Terra e como essa relação pode condicionar as suas ações com vista ao cumprimento de um ideal ou Desígnio.

E como os seus obreiros são homens plenos em todas as suas dimensões, a Maçonaria não se demite de aprofundar a relação dos homens com o divino, lutando para que isso os una e jamais os divida, porque a Maçonaria quer libertar os homens das grilhetas profanas e levar esses mesmos homens a realizar a sua dimensão espiritual em total liberdade e no pleno respeito pelas crenças alheias.

O que nos une será o sentir o Universo, o Todo, que nos contem e nos transporta, uma presença universal…Será possível uma espiritualidade universal? É minha convicção profunda que sim, mais do que uma espiritualidade clerical e redutora ou do que uma laicidade desprovida de espiritualidade!

Uma espiritualidade universal… Será uma “espiritualidade da imanência, mais do que da transcendência, da meditação mais do que da oração, da unidade mais do que do encontro, da lealdade mais do que da fé, do amor mais do que da esperança, e que será igualmente motivadora de uma mística, ou seja, de uma experiência da eternidade, da plenitude, da simplicidade, da unidade, do silêncio…”.

É a essa espiritualidade universal que ouso chamar Espiritualidade Maçônica. Mas antes de procurá-la definir, poderei por ventura afirmar que é apenas no trabalho maçônico que ela poderá ser verdadeiramente aprofundada. Não um conceito que se aprenda nos livros, tem de se sentir e de se viver, fruto de um percurso iniciático.

No entanto, a Maçonaria não revela nenhuma verdade superior nem dá respostas cabais ás questões que atormentam a nossa dimensão espiritual.

Pelo contrário, convida os II.’. a procurarem saber quem são, conhecerem-se a si mesmos, com o intuito de se cumprirem, o que é profundamente diferente, colocando-os na via dessa procura e dessa realização, situando-se aqui o verdadeiro significado da iniciação, o primeiro passo de um caminho a percorrer e trabalho para fazer na construção do nosso templo interior.

Assim, a tolerância apresenta-se como uma das principais virtudes da Maçonaria e do maçon. Trata-se de uma atitude interior que repousa no respeito pela individualidade espiritual do candidato, pela liberdade de pensamento e pelo percurso intelectual e espiritual que cada maçom depois de iniciado escolhe para si.

É neste pressuposto que assenta a minha afirmação de que a Espiritualidade Maçônica é uma Espiritualidade Livre: ao sugerir um caminho individual para a relação com o divino, constrói também um percurso libertador, é um processo livre. Para isso ser possível, precisa no seu seio de homens diferentes dos demais.

O nosso trabalho hoje ao escolher esses homens, é com a convicção plena de que hoje se podem encontrar em qualquer proveniência, podem ter estado ao nosso lado toda a vida, serem os nossos amigos de infância, familiares ou colegas de profissão, como podem estar por detrás de um e-mail manhoso sem rosto.

Temos é de estar certos de que estão á altura do desafio, é de critério que vos falo, não de forma de ingresso nem de sede de relação. Porque é lógico que apenas podemos indicar homens que conhecemos minimamente e por isso têm de vir das nossas relações pessoais, todos temos porém pessoas de quem gostamos muito que sabemos não terem os requisitos mínimos para poderem ser iniciados, por mais que de disso gostássemos, fosse porque razão fosse. O critério é tudo.

É tudo porque a eles vão ser exigidos sacrifícios, de tempo para dedicar ao trabalho, para comparecer ás sessões, para se despojarem de títulos e posições, para se disporem a aprender, a aceitar criticas quando para isso não estão preparados e cuja propriedade da origem questionam, a aguentar ouvir aquilo que não entendem sem julgar, a sentir que fazem parte de algo maior e viver com essa avassaladora responsabilidade sem ser esmagado, quando finalmente se torna clara a missão a que se propuseram.

Por mais capaz que qualquer um seja, tem um percurso a fazer, para poder identificar ferramentas, e então dedicar-se ao trabalho. Uma L.’. maçônica é uma elite dentro de uma comunidade, coisa que facilmente assumimos sem complexos e nem soberba.

Entre nós deverão estar os mais capazes nas suas áreas de intervenção, que podem ser profissionais ou não, têm apenas de ser úteis ao projeto, estar dispostos a aprender e a ensinar partilhando.

Ser maçom é uma vivência, uma forma de estar na vida e perante a vida, onde a Honra, a Ética Moral, o sentido de missão, o espírito cavalheiresco das suas ações, fruto da Responsabilidade de se ser e sentir Diferente, assumem um aspecto fundamental.

Não somos com certeza homens plenos de virtudes, todos temos as nossas arestas para desbastar. E este é o local para fazê-lo, a L.’., depois de responder ao chamamento e livremente bater á porta do Templo, para servir o Desígnio.

Com a orientação de todos os obreiros, tornar ferramentas capazes em ferramentas melhores. Porque somos ferramentas de trabalho, somos os que cumprem e efetivam o Desígnio, como outros o fizeram antes de nós.

Os desígnios dignos desse nome sempre tiveram um cunho marcadamente iniciático, porque não se prendem com objetivos de pedra, betão ou madeira, mas com a realização dos sonhos, sendo perpetuados no tempo indefinidos enquanto matéria, mas muito claros quando conceitualizados por homens que se dispuseram a um processo de transformação e crescimento como o nosso, essa ideia indizível transmite-se pela iniciação, pelos rituais, pela via iniciática.

E para isso, a dimensão espiritual do homem têm de ser a sua consciência maior, aquilo que lhe rege as ações e circunscreve as paixões e os sonhos á luz das suas capacidades e talentos.

E neste trabalho não há espaço para paternalismos com os menos capazes e aptos, para soberbas profanas ou para alimentar egos com comendas. Não se faz parte da Maçonaria, não se pertence á Maçonaria, é-se maçon.

Da sua relação com a L.’. e da sua condição de maçom só o individuo pode ser responsável, se não se sente capaz ou a tarefa assusta, mais vale arrepiar caminho. Sem jamais hipotecar a solidariedade inerente á fraternidade leal, todos temos momentos piores e felizes e para isso cá estamos todos e nessa altura dizemos presente.

Não estamos é aqui para tomar conta de ninguém, proporcionar benefícios ou oferecer a salvação, estamos aqui para trabalhar, o nosso tempo é curto e o trabalho imenso. Para que nos cumpramos á luz do que aqui nos trouxe, temos de ser objetivos, sob pena de se esvaziar o sentido da Ordem Maçônica e o trabalho ficar por fazer, comprometendo o Desígnio.

Reconhecendo os méritos e as virtudes dos nossos II.’., não potenciando e exacerbando os seus defeitos, que desses não precisamos, usando o fole com cautela na forja para que a ferramenta que lá se aperfeiçoa não enfraqueça por falta de atenção ou derreta por excesso dela.

Desbastando a pedra em bruto, com a lealdade que a critica exige, com a fraternidade que o sacrifício cultiva, com a generosidade a que partilhar o desígnio não é alheia, com o reconhecimento da força e inteligência para fazê-lo cumprir.

Dessa partilha nasce a riqueza da Irmandade, do respeito pelo trabalho e pela forma como é executado. Não sendo santos nem isentos de virtude, temos toda a consciência do Desígnio.

Assumamos o objetivo que aqui nos trouxe e não deixemos que nada perturbe a caminhada para a realização desse mesmo Desígnio, que não assume forma material, mas é apenas uma ideia que todos partilhamos… Uma ideia de Homem e de Mundo.

José Eduardo Sousa, M:.M:.

R:.L:. Alengarbe (G:.L:.L:.P:.), a O:. de Albufeira, Portugal