julho 11, 2022

EM TORNO DE PITÁGORAS - Solange Sudarskis



Por volta do século 6 aC, no antigo Egito, os números ainda codificavam apenas impostos, comércio, salários.

A avaliação, pelos harpedonaptes (funcionários da realeza, agrimensores), da superfície dos campos cultiváveis ​​dos quais a enchente do Nilo apagou os marcos de fronteira, não geometriza, mas apenas procura encerrar as disputas entre vizinhos pela força. do Estado. Com o direito de propriedade, aqui está o direito civil e o direito privado. Mas também, ao delimitar os limites, o cadastro régio fixa a base tributária, ou seja, o direito público e fiscal. Os números, portanto, falam apenas das relações humanas.

E então um dia... Da gigantesca massa de pedras, do mausoléu do faraó Kéops, a geometria nascerá na areia ensolarada composta por sua sombra. Ao relacionar a sombra do túmulo à de um poste de referência, ou à medida de seu corpo, segundo a lenda, Tales afirma a invariância de uma forma apesar da variação de seu tamanho. De fato, seu teorema mostra a progressão ou regressão infinita da dimensão, na conservação da mesma relação, desde o colossal, a pirâmide, até a mais medíocre vara fincada no chão. Que apagamento de toda hierarquia no semelhante, já que cada estágio, do maior ao menor, mantém a mesma relação.

Tales faz-nos assim descobrir um mundo fora das sociedades onde as coisas se relacionam consigo mesmas. A proporção fala, sem boca humana, mostra uma ordem que não conhece nenhuma lei social, que escapa à onipotência. Liberdade sem igual, igualdade! O faraó morre pela segunda vez quando Tales, enquanto mede a pirâmide, a reduz a um simples poliedro na homotetia de sua sombra geométrica.

A proporção analógica, aqui é a grande conceituação grega, não a da simples razão a/b, mas aquela que interessa como mediação H, o que vai de uma relação para outra, como a/b = c/d e por substituição pode passar desta para uma terceira relação e assim por diante. Não se trata de desmembrar algo, portanto de dividir ou deduzir, o que todos, generosos ou leoninos, puderam fazer desde o início, mas de construir, passo a passo, uma cadeia, portanto, de encontrar o que, subjacente, estável e escorregadio, transita ao longo de sua seqüência e os gregos chamarão essa relação de analogia de “logos”. Como Platão e Aristóteles, os estóicos pensarão que o logos puro é a fala, a inteligência, um acesso direto e verdadeiro às coisas, que os números e suas razões podem finalmente fazer.

Nessa época, por volta do século VI a.C., viviam também Zaratustra, Lao-Tseu, Buda,  Confúcio, em outros lugares da Pérsia, China, Índia.

Aqui na Grécia por volta de 530 aC. JC, em Crotona, recém-regressado do Egipto, mas também da Pérsia, Índia, Caldéia, Trácia, um homem nascido 40 anos antes em Samos, traz consigo um saber ancestral, uma sabedoria do mundo que, suas viagens, seus prováveis ​​encontros com esses personagens mencionados, suas iniciações recebidas, sem dúvida, forjaram. É provável que tenha sido iniciado nos mistérios, os de Tebas, os dos magos caldeus, nas práticas órficas, teria recebido o batismo no Eufrates, teria sido ensinado pelo famoso Tales e purificado pelos próprios Zoroaste e Buda . ,

A partir dessa apreensão particular e mista do mundo da Ásia e da Ásia Menor, Pitágoras, porque se trata dele em questão, o “primeiro mestre universal”, como Hegel o chamou, fará disso uma filosofia. Como relata Cícero, foi Pitágoras quem teria cunhado a palavra filósofo para se definir diante do tirano Leão de Flionte que lhe perguntou quem ele era, e como ele explicou, o filósofo é aquele que busca descobrir os segredos da natureza desinteressadamente.

Ele teria então participado da mudança da Grécia de um modo de pensar religioso para um modo de pensar racional.

Como entendemos, nos condicionais usados ​​para evocar a viagem de Pitágoras, é difícil desembaraçar, na personalidade do filósofo, o que vem da lenda maravilhosa do que foi sua vida, pois não temos obra dele. , mas apenas alguns fragmentos de um de seus discípulos chamado Philolaos. Mesmo os famosos versos de ouro atribuídos a ele são duvidosos quanto à sua origem. É mesmo impossível para nós distinguir o ensino do mestre das teorias dos discípulos. Só podemos falar de pitagorismo, sem pretender saber o que pensava Pitágoras. Além disso, a maioria das informações que nos foram preservadas, espalhadas em um grande número de obras, merecem pouca confiança. A palavra Pitágoras nem designaria um homem, mas uma ciência.

Lemos no dicionário (galês, de Owen Pughes):

Pitágoras: Explicação do Universo, Cosmogonia.

Pitágoras: para explicar o sistema do Universo (palavra composta de pyt, período de tempo; agori, descobrir).

Python: Sistema do Universo.

Pythone: um cosmogonista, um Pythoness.

Pythoni: tratado sobre cosmogonia.

Pythonydd: aquele que sistematiza o mundo.

(Para Céline Renooz, a famosa misandre belga). E mais ainda, alguns pensam que as fábulas inventadas sobre a suposta vida de um homem chamado Pitágoras não teriam realidade, corroborada nisso pelo historiador das religiões Ernest Havet   que disse: "nada mais conhecido do que este nome, nada menos conhecido do que o próprio homem” e para acrescentar mais tarde: “Só considero Tales, Pitágoras, como nomes representativos de um sistema científico.

Isso não impedirá os autores clássicos modernos de fazer de Pitágoras um personagem histórico e inventarão uma biografia para ele . Existe algo mais verdadeiro do que a verdade pergunta a Nikos Kazantzakis e para responder: a lenda. É ela que dá imortalidade à verdade efêmera.

Pitágoras, portanto, cedo se tornou um personagem lendário. Deixarei, portanto, a sua história aos textos dos seus discípulos, a toda a literatura muito abundante que este extraordinário personagem não deixou de inspirar, às doxografias, estas compilações de textos gregos do início da era cristã, e podemos citar as   vidas de Pitágoras escritas, uma por Diógenes Laerce, outra por Porfírio e a mais conhecida por Jâmblico, por volta do século III .

O que me parece interessante relatar aqui é como o seu saber, o seu saber, os seus ensinamentos, que lhe são atribuídos, podem ter influenciado a Maçonaria.

Há duas coisas a distinguir no pitagorismo: uma filosofia, isto é, uma explicação do universo, e uma escola de virtudes. Reterei esses dois aspectos com números e geometria de um lado, a ordem pitagórica do outro.

1 - É em torno da soberania dos números que podemos pensar na contribuição de Pitágoras para o conhecimento universal e considerá-la como uma das fontes importantes da Maçonaria.

E, antes de mais nada, essa comparação me parece legítima porque, de fato, no antigo manuscrito maçônico que Cooke conserva na Biblioteca Britânica, pode-se ler nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Após o dilúvio de Noé, um deles foi descoberto por Pitágoras e o outro por Hermes, o Filósofo, que se dedicou a ensinar os textos ali gravados.

No frontispício das Constituições de Anderson encontramos o "teorema de Pitágoras" sobre triângulos retângulos, sem dúvida reconhecendo-o como o pai da geometria.

Os construtores medievais, por sua vez, transmitirão uma geometria sagrada que remontaria a Pitágoras, que permaneceu viva até o século XVI. século e cuja influência na Tradição Maçônica é conhecida.

E essa elaboração filosófica de objetos matemáticos e geométricos que permitem a contemplação de formas inteligíveis, essas realidades invisíveis que modelam o Universo?

Para os pitagóricos, as coisas são números, os números estão nas coisas, os números são a causa e os princípios das coisas ou as coisas são constituídos pelos números, como expressa Aristóteles. (Exemplo das flores das conchas, leis da física etc…)

Os pitagóricos foram sem dúvida os primeiros a pensar que o número é a estrutura de recepção. receber, analisar e buscar compreender o incompreensível e que o número, através da inteligência, fala, em símbolo, para descobrir a realidade ontológica. É, portanto, a dimensão simbólica, analógica e eu diria metafórica dos números que nos desafia.

Pitágoras estaria, assim, na origem de: O simbolismo do par e do ímpar

- o ímpar, limitado, Uno, certo, masculino, em repouso, retilíneo, leve, bem, quadrado, domina, equilibrando, com uma parte mediana , unidade, duas partes simétricas. No mundo, o ímpar será, portanto, o princípio da totalidade, pois tem começo, meio e fim.

- O par aparece, em oposição ao princípio da dualidade do existente, ilimitado, múltiplo, esquerdo, feminino, móvel, curvo, escuro, mau, oblongo.

Podemos dizer que nosso primeiro grau também se baseia nesse simbolismo da dualidade pitagórica.

° O famoso tetraktys.

Claro que sua forma triangular mostra claramente o 3, a reconciliação da dualidade em seu princípio que é a unidade, a harmonia universal. A tríade é o número, como reconhecido

Aristóteles, "é o número 3 que define tudo e todas as coisas, pois são os constituintes do começo, meio e fim". É por isso que 3 foi escolhido como o número base. É Zoroastro quem inspirou Pitágoras cuja doutrina foi exposta em seus Oráculos e cito: "o ternário brilha em todo o Universo e a Mônada é o seu princípio" e segundo Sérvio os pitagóricos atribuíram ao Deus supremo o três que é perfeito, pois tem um começo, um meio e um fim. Os pitagóricos naturalmente escolheram o triângulo para representar o número 3.

Sem ir mais longe, aqui está um dos primeiros símbolos maçônicos.

Mas acho que essa forma, destacada no templo, por sua posição geográfica, como ponto focal, a leste dos primórdios da luz, um delta luminoso, um daleth hebraico e, portanto, uma porta para um outro lugar, é um desenho de todas as tétrades pitagóricas, um pleroma, uma forma imaginal da progressão dinâmica do ilimitado e do limitante e cito Filolao, que no tempo de Sócrates transcreveu a memória do mestre, "o ilimitado e o limitante, harmonizando, constituem, dentro do mundo, a natureza, assim como o mundo inteiro e o que ele contém”. Em suma, a triangulação é o envelope que mostra os mistérios da natureza.

Os pitagóricos distinguiram, de fato, 11 tétrades e vou me dar ao trabalho de mencioná-las a vocês porque se trata do pensamento analógico e gnóstico que Pitágoras sincretizou, sem dúvida, do que aprendeu ou concebeu e que ensinou.

Veremos que cada tétrade não é uma coleção, um inventário, mas uma progressão que leva do ponto ao volume, do homem à cidade, do nascimento ao declínio. Cada elemento gera e limita o seguinte, pois o ponto é a origem e o limite da linha, a linha a da superfície, a superfície a do sólido. A tétrade é para mim uma metalinguagem, uma forma de dizer como o mundo da realidade vem da unidade primordial, através dos princípios expressos pelos números.

1 - A primeira tétrade é o triângulo que envolve o número perfeito 10, representado por 10 pontos distribuídos em um triângulo de 4 linhas. Esta é a tétrade original que é a soma dos 4 primeiros números e conduz gradualmente ao princípio do número 10, ao mesmo tempo que gera as 4 consonâncias da escala (primeira, quarta, quinta, oitava). Segundo a tradição,

Pitágoras, por observação e experiência, descobriu que as relações entre o comprimento das 4 cordas do tetracorde em relação à primeira eram expressas pelas relações numéricas 4/3, 3/2,

2/1. Os tetractys deram a chave para os mistérios da acústica e os pitagóricos estenderam as conclusões dessa descoberta a todas as áreas da física. A fórmula do juramento de Pitágoras, transmitida por diversos autores e encontrada nos versos áureos, santifica a tetractys: Juro por aquele que transmitiu à nossa alma a tetractys na qual são a fonte e a raiz do Eterno Tipo .

Um número não é um valor abstrato, é uma “virtude intrínseca e ativa do supremo UM, de

Deus, fonte de harmonia universal” nos lembra Edouard Schuré, em “Les grands iniciados”).

2 - 3 passo rapidamente na segunda e terceira tétrade abraçando, em uma dupla progressão geométrica de razão 2 e 3, a natureza de todos os tamanhos: o ponto, a linha reta, a linha circular, a superfície plana, a superfície curva, o sólido com superfícies curvas, o sólido com superfícies planas.

4 - A quarta tétrade é física com 1 = fogo, 2 = ar, 3 = água, 4 = terra que são nossas purificações durante as jornadas de iniciação.

5 - A quinta, as de figuras geométricas com os 4 primeiros poliedros.

6 - O sexto, o das coisas geradas, ao qual Aristóteles concede a geração dos vivos a partir da semente e seu aumento nas três direções, largura, comprimento, altura.

7 - A sétima diz respeito ao desenvolvimento da sociedade. Homem, família, cidade, sociedade.

8 - A oitava apresenta as faculdades cognitivas que asseguram o conhecimento das tétrades anteriores; pensamento, ciência, opinião, sensação.

9 - A nona distingue as quatro dimensões do ser animado.

10 - A décima do tempo com suas 4 estações

11 - A última das idades da vida; infância, adolescência, maturidade, velhice.

Assim, as tétrades revelam a Unidade genética de todas as coisas no processo de realização de sua conclusão, como as sefirot na árvore da vida que assumirá a ideia dela.

Poderíamos levantar a hipótese de que Pitágoras trouxe de volta de sua estada de quase 20 anos no Egito, o entendimento do mistério das pirâmides: A pirâmide de Keops, que parece nunca ter escondido nenhuma múmia de faraó, não seria uma forma santificada do divino? Suas dimensões representando a compreensão do desdobramento divino, e esta encarnação da inteligência divina teria sido reformulada pela tetractys? O que é Deus, perguntou São Bernardo: ele é comprimento, largura, altura, profundidade.A pirâmide seria o símbolo de toda a criação, uma representação matemática do funcionamento do Universo. Dentro de suas dimensões estariam codificadas as verdades fundamentais de nosso mundo.

Nesse conservatório de números se expressa a atualização da possibilidade, ou seja, o Ser, a certeza de que tudo é vivo, de que o Presente é eterno, a simultaneidade do Tempo, a noção de Tri-unidade do Uno e Único.

Essa visão é muito importante porque é a possibilidade de sair da visão do Deus pessoal, leva a um conceito abstrato. O mundo vem da tradução “o que não tem limite” do que a Cabala chama de “ein soph”.

A este respeito podemos deduzir que Pitágoras inscreveu em sua figura triangular:

Monismo: Tudo o que é, é Um. Isso se opõe ao monoteísmo; não há separação natural entre o divino e o homem ou a natureza.

Holismo: Tudo forma um todo, nós, natureza, Deus incluído. É um imenso organismo que vive, uma entidade orgânica que vive sua vida de forma totalmente interligada.

Naturalismo: não há nada fora. Natureza e Deus incluindo dois olhares fixos no grande Todo, como no taoísmo

panteísmo: o livro da existência, como os livros sagrados, é a natureza. Tudo é divino, o que implica uma profunda ética de respeito.

Emanacionismo: Nenhuma criação, mas emanação, portanto, nenhuma separação. Tudo está em movimento, tudo está se tornando. Não se trata mais de uma metafísica do ser, mas de uma metafísica do devir e então a questão se coloca em direção ao quê. Deus não sendo completo, o mundo sendo sua realização, a perfeição do ser torna-se a realização do Todo.

O delta luminoso seria, portanto, também uma tétrade, um pleroma, uma representação sistemática que responde à pergunta de onde vem o mundo e como ele se desenvolve.

A importância da Tetraktys pitagórica em qualquer tipo de conhecimento metafísico e cosmogônico é óbvia. Por outro lado, a relação das harmonias musicais com os números é também um tema pitagórico que a Maçonaria e o Corpus Hermeticum assumem na forma de graus e chaves de reconhecimento ligados às esferas planetárias e aos

Regentes que as governam. Seria necessário acrescentar-lhe os vários teoremas de Pitágoras, sabendo da importância que a arte e a ciência da construção têm para a Maçonaria.

Entre eles, bastaria destacar o do triângulo retângulo, que se formou com os números da tríade "3, 4, 5" e se diz egípcio com sua hipotenusa (tradução, cordão esticado entre os opostos) assemelhando-se tanto a corda dos harpedonaptos marcada por nós em 3, 4, 5.

° A proporção áurea. Essa proporção de harmonia, também chamada de áurea, é derivada da proporção da analogia a/b=c/d quando os quatro termos são reduzidos a dois mantendo a mesma proporção. Devemos dizer os números de ouro, que Pitágoras e sua amada esposa Theano recusaram de todas as maneiras possíveis, em todas as suas formas possíveis de retângulo, pentáculo, estrela ou pentágono, rastreando-os e destacando assim os teoremas de Tales. Nessa irracionalidade matemática, de Pi e Phi, que não pode ser medida, mas se mostra nas leis da diagonal e do círculo e na infinidade de seus decimais, eles sem dúvida viram essa parte inacabada do mundo em processo de atualização em tempo e forma, e isso me parece ser a beleza divina dos próprios números.

° A fisionomia dos números: que serão chamados de perfeitos (soma dos divisores do número dá novamente o número, 6, 28), amigável (a soma dos divisores de um dá o outro, 220 e 284), par ou ímpar , triangular (3, 6, 10, 15), quadrados (1, 4, 9,16), cúbico (1, 8, 27), racional, irracional, imensurável. Que vertigem, que fonte para a gematria dos cabalistas e, portanto, para nós maçons.

° O alfabeto secreto, segundo Oswald Wirth,   inspirado nos pitgóricos, como formulado por Teão de Esmirna ( século II a.C.), seria a fonte de nossa tabuada também chamada de tábua tripartida com 2 paralelas verticais e 2 paralelas horizontais delimitando 9 caixas cujos limites simbolizam as letras que lhes são atribuídas. Para Arturo Reghini (“ Números Sagrados na Tradição Maçônica Pitagórica  ”), parece fora de dúvida que a origem da tabuada remonta à mesa de Theon. Indica aos maçons que suas construções devem ser baseadas nas propriedades dos números ou da geometria e, simbolicamente, que os trabalhos maçônicos devem ser realizados levando em consideração as propriedades dos números sagrados.

° Não mencionarei aqui como a observação e a escuta do céu por Pitágoras, através dos harmônicos das razões matemáticas, nos permite ouvir os planetas farfalharem as notas da escala enquanto giram sobre si mesmos ao redor do sol.

A arte geométrica da Maçonaria deriva da geometria e aritmética pitagóricas porque, de acordo com os atestados de Proclo "além de algumas propriedades geométricas atribuídas, sem dúvida erroneamente, a Tales, os pitagóricos foram os primeiros a estudar geometria e números . Compreender os números pitagóricos torna mais fácil entender os números sagrados maçônicos.

Concluindo esta primeira parte: ainda que Pitágoras não tenha "inventado" nada, ele reconheceu o número 10 como o mais perfeito dos números, porque contém a Unidade que se atualiza pelo existir, e o zero, símbolo da matéria e do Caos, de onde tudo veio.   Este número, portanto, inclui em sua figura o “ordo ab chao”.

2 - Mas é nessa outra parte de seu ensinamento, o aperfeiçoamento do ser, que Pitágoras também inspirará as fontes maçônicas.

Segundo Céline Renooz, em seu livro "  Era da verdade, história do pensamento humano e evolução moral da humanidade através dos tempos e entre todos os povos"  : em meio às lutas religiosas, a 6ª século viu uma reação contra o novo helenismo, isto é, contra a desordem moral dos novos cultos; houve um retorno momentâneo às grandes idéias do passado. Foi fundada uma escola na qual se ensinavam as leis da Natureza tal como haviam sido formuladas na época brilhante da primitiva religião pelásica (os ancestrais etruscos). Era a chamada escola pitagórica, na qual o ensino da ciência era dado às sacerdotisas gregas, as Pítias.

Mas, segundo a lenda, foi em Crotona, no sul da Itália (que na época fazia parte da Grécia), que Pitágoras, encontrando refúgio, recebeu o apoio do homem mais rico da cidade, Milo, cuja filha Theano casou ( a quem Renooz atribui a realidade do estabelecimento da escola como sacerdotisa da Pítia). Ainda assim, nesse desejo de masculinização, a História lembrará que foi Pitágoras, porém, com sua esposa, quem fundou a escola mista pitagórica, também conhecida como Irmandade Pitagórica. As mulheres foram capazes de compartilhar o ensino, elas eram cerca de 15% dos iniciados.

Tomemos isso como um dos sinais da grande tolerância exigida no comportamento dos iniciados da escola pitagórica.

Muitas disciplinas eram ensinadas lá, como matemática e filosofia. Pode-se dizer que era uma espécie de instituto, uma espécie de mosteiro que me lembra a

Castália do "jogo de contas de vidro" de Hermann Hess, uma associação científica, filosófica, política e religiosa com regras de vida e ética.

A Escola Pitagórica era uma verdadeira escola iniciática e o conhecimento matemático estava sujeito ao sigilo. O recrutamento dos membros da ordem foi feito com escrupuloso cuidado. Pitágoras, diz-se, estudou rigorosamente a vocação dos jovens que se apresentaram a ele, antes de admiti-los nas primeiras iniciações desta nova vida; ele tentou ler em seu rosto, adivinhar em seu andar, em suas atitudes, em todos os hábitos de sua pessoa, as inclinações de sua alma, a verdadeira base de seu caráter, as aptidões próprias de sua mente. »

Este é o princípio de nossas investigações, não é?

Os membros da Escola foram separados em dois grupos. Uma cortina foi fechada no meio da sala onde Pitágoras estava ensinando. Os alunos devem OUVIR. Eles não tinham permissão para falar na aula. O silêncio do aprendiz é como o do aluno. Os exotéricos estavam do outro lado da cortina e só podiam ouvi-lo. Os esotéricos estavam do mesmo lado de

Pitágoras. Isso teve uma extrema importância na vida da Escola. Pitágoras queria saber se os membros eram capazes de silenciar e manter em segredo o que tinham ouvido. Depois de cinco anos, um exotérico foi permitido através da cortina. Isso marcou uma etapa importante na vida da Escola. Chamaríamos isso de aumento de salário?

Os textos dos pitagóricos também estavam sujeitos a sigilo. Escritos em uma linguagem de mão dupla, operavam em dois níveis de interpretação; uma compreendida por todos, a outra reservada apenas aos iniciados. Os pitagóricos falavam de sumbola e ainigmata. Para eles também, tudo era um símbolo. .

Cumprido este trabalho preparatório, houve uma seleção severa para um ensino gradual dos mistérios revelados aos poucos. Assim, os Mystes do 1º grau (Acusmática) aprenderam psicologia, fisiologia, exercícios litúrgicos, meditação, os segredos do simbolismo. Na 2ª série do Mathematikoï, estudamos física, astronomia, geometria, matemática e a ciência dos números. Então, no dia 3 grau do Sebastikoï (ou venerável), os alunos foram instruídos nos vários Mistérios da Ordem como a Origem da Alma, sua encarnação, seu destino póstumo. Foi só depois de ter sido formado em ciência secular e ciência secreta, e instruído nos mistérios do mundo e no que escapa aos nossos sentidos vulgares, que o Politikoï (4º ano ) recebeu um ensinamento sobre os segredos da harmonia social e a prática da justiça.

Tudo isso lembra a organização de nossas fileiras, não é?

Todos os membros da Escola tiveram que exercitar a memória, sendo a maior parte do conhecimento transmitido de boca em boca. Todas as manhãs tinham de relembrar à velha o que tinham feito, o que tinham visto, o que tinham ouvido, o que tinham dito.

Ao apresentar-se na Escola, cada pretendente devia entregar todos os seus bens à comunidade. A decapagem de metais não seria uma retomada simbólica dessa regra?

Aquele que foi demitido, porém, recebeu em sua partida o dobro dos bens que havia depositado. Ele recebeu em dinheiro o que ele não conseguiu aprender. A expressão "receber o próprio salário" corresponde também na Maçonaria a um conhecimento-valor.

Mas, assim que sua exclusão foi pronunciada, uma tumba foi cavada para ele. Foi uma morte simbólica.

O que é indiscutível é que Pitágoras tinha um objetivo moral e religioso em mente. Ele queria, diz o historiador Zeller, fundar uma escola de piedade, bons costumes, temperança, coragem, ordem, obediência à lei, fidelidade na amizade. Há muitas semelhanças com o espírito dos primeiros textos maçônicos para que seja uma coincidência, a influência parece inegável.

Phytagora contou sua teoria e deixou que seus alunos o contradissessem. Isso o informava se seus alunos eram capazes de pensar por si mesmos e os convidava a deixar a escola se não fossem satisfatórios, recusando o conhecimento de um papagaio. A Maçonaria não é uma ciência mas uma arte, a de despertar consciências, este esforço é inicialmente individual.

Mas isso era, acima de tudo, para oferecer uma grande liberdade individual de pensamento e até de consciência. Você tem que ter uma religião, manter sua fé jurada . Há aqui, neste verso dourado, uma relação entre o universal e o particular, uma exigência de tolerância. Todas as nossas constituições evocam, como imperativo essencial, a liberdade de consciência de cada um.

Os versos de ouro são uma das primeiras tentativas de um corpus moral teórico e prático, filosófico, espiritual e ecumênico. Querer dar conta de Pitágoras equivale, na verdade, a tentar retomar as escavações dos vestígios textuais deixados por seus anjos ou pelos historiadores da época e narrar cada um dos momentos de sua vida exemplar porque sua palavra era fraterna e sua experiência se conformava com sua educação. As biografias de Pitágoras escritas por Porfírio e Jâmblico fixavam definitivamente os traços característicos do sábio ideal, modelo de virtude, piedade e sabedoria, que qualquer seguidor de um platonismo nascido do pitagorismo devia imitar para reivindicar pertencimento a essa família espiritual e que inspirou, provavelmente, os primeiros textos maçônicos.

 A Maçonaria é também a mediadora entre a teoria e a prática através da instrução, não do conhecimento desencarnado, mas do exemplo.

O maçom pratica a ética que é o que acontece livremente, sem constrangimento externo por um sentimento de obrigação moral interna.

A ligação entre a Maçonaria e a Ordem Pitagórica, não uma derivação histórica ininterrupta, mas apenas uma filiação espiritual, parece óbvia, não é?

Para plagiar São Tomás que disse que a palavra é como um espelho no qual vemos a coisa, não poderíamos dizer, enquanto o maçom é como um espelho no qual vemos Pitágoras?


Referencia:

H Meditações. Paul-Henri Michel ,  Revisão da história das ciências e suas aplicações  Ano 1949   

julho 10, 2022

TUBALCAIM E A DESCENDÊNCIA LENDÁRIA DOS MAÇONS - Ir. Almir Sant’Anna Cruz



Na maioria dos Ritos, Tubalcaim só é mencionado no Grau de Mestre, mas em outros já é mencionado desde o Grau de Aprendiz (Ritos Adonhirmita e Moderno)

Segundo uma lenda pouco conhecida pelos próprios Maçons, Tubalcaim certa vez surgiu diante de seu descendente Hiram Abif para informar-lhe sua genealogia, a genealogia dos descendentes de Caim. Essa lenda maçônica absorve a tradição talmúdica judaica e a do Sepher-ha-Zohar, e coincide em muitos pontos com o relato bíblico de Gênesis, dele diferindo em outros.

Conta a lenda, que Tubalcaim leva Hiram Abif até o centro da Terra e relata-lhe a tradição dos ferreiros mestres do fogo, dos descendentes de Caim, os cainitas:

Para melhorar as condições de vida de sua família, expulsa do Éden e entregue à própria sorte, Caim, sozinho, dedicava-se à agricultura, trabalhava a terra, semeava, cultivava, colhia e realizava penosamente todas as demais tarefas decorrentes. 

Enquanto isso, seu irmão Abel, indolentemente deitado sob a sombra de uma árvore, contentava-se em vigiar os rebanhos que apascentavam e se reproduziam livremente.

Caim oferecia a Deus sacrifícios de frutas, trigo e outros produtos resultantes de seu penoso trabalho. Abel, ao contrário, oferecia em holocausto sacrifícios cruentos dos “primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura” (Gênesis 4:4). 

Enquanto a fumaça dos sacrifícios de Abel elevava-se em rolos aos céus, a de Caim espalhava-se pela terra, revelando a preferência de Deus pelos sacrifícios de sangue, pelas oferendas docilmente  obtidas sem qualquer esforço de Abel, desdenhando os sacrifícios não cruentos, mas obtidos do trabalho penoso e do instinto criador de Caim.

Inconformado com tal preferência, pondo em dúvida a autoridade e o senso de justiça de Deus, Caim matou seu irmão.

Na edição de 20/12/1988, o jornal O Globo veiculou a notícia, sob o título O Primeiro Crime da História, de que no dia 18 daquele mês, em Veneza, Itália, fora realizado um tribunal simulado – integrado por 9 membros, entre os quais um padre e um rabino, além de estudiosos da Bíblia, historiadores, magistrados e criminalistas – que, após 10 horas de julgamento, resolveu absolver por 5 votos contra 4, Caim da acusação de crime premeditado contra seu irmão Abel.

Segundo o juiz, “Caim era um rapaz impulsivo, dono de caráter muito forte, e matou Abel por uma questão de emotividade humana”.    

Voltemos à Lenda:

Após a morte de Abel, Adão e Eva tiveram outro filho, por nome Sete (Gênesis 4:26), de mesma índole contemplativa e dócil de seu falecido irmão. 

A partir daí, a humanidade se dividiu em duas distintas linhagens: a dos setitas, descendentes de Sete, e a dos cainitas, descendentes de Caim.

E Caim então se uniu a Lebuda e gerou Enoque (Gênesis 4:17), que ensinou os homens a talhar a pedra, reunir-se em sociedade e construir seus edifícios.

E Enoque gerou Irade (Gênesis 4:18), que conseguiu aprisionar as fontes e conduzir as águas fecundas.

E Irade gerou Meujael (Gênesis 4:18), que ensinou os homens a arte de trabalhar o cedro e todas as madeiras.

E Meujael gerou Metusael (Gênesis 4:18), que inventou a escrita.

E Metusael gerou Lameque (Gênesis 4:19), que se uniu a Ada e a Zila. 

Com Ada, Lameque teve dois filhos: Jabal e Jubal.

Jabal foi o pai de todos os que habitam em tendas e têm gado (Gênesis 4:20), pois foi quem ergueu a primeira tenda e ensinou os homens a coser a pele dos camelos.

Jubal foi o pai de todos os músicos, pois foi quem primeiro produziu sons harmoniosos da harpa e do cinor (Gênesis 4:21).

Com Zila, Lameque também teve dois filhos (Gênesis 4:22): Tubalcaim e Naama.

Naama, que significa doçura, idealizou a arte da fiação.

Tubalcaim foi quem ensinou aos homens as artes da paz e da guerra e a ciência de transformar os metais; foi o mestre de toda a obra de cobre e de ferro (Gênesis 4:22), de acender as forjas e soprar os fornos.

Tal como Noé salvou a si e a sua descendência setita das águas do Dilúvio construindo uma arca, Tubalcaim construiu galerias subterrâneas na montanha de Kaf, salvando a si e a sua linhagem cainita. 

Escoadas as águas, Tubalcaim uniu-se à mulher de Cão, filho de Noé, gerando Cuse.

E Cuse gerou Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá, Sabtecá e Ninrode (Gênesis 10:7-8), sendo que este último tornou-se mestre da caça e poderoso na terra, reinando sobre Babel, Ereque, Acade e Calne, na terra de Sinear; e em Nínive, Reobote-Ir, Calá e Résen, na terra Assíria (Gênesis 10:8-12).

Hiram Abif, descendente de Tubalcaim e, tal como ele, um metalúrgico hábil em trabalhos com todos os metais, é apresentado a Salomão por Hiram, Rei de Tiro, como um “filho da viúva” (I Reis 7:13).

Tubalcaim conta ainda a Hiram Abif que Balkis, a Rainha de Sabá, com quem se unira secretamente durante sua estada em Israel, é igualmente uma cainita. Com a morte de Hiram Abif, o fruto de sua união com Balkis, a Rainha de Sabá, será também um “filho da viúva”. 

Salomão, como seu pai David, era descendente de Sete e dotado de grande sabedoria. Contudo, foi incapaz de realizar o projeto do templo, pedindo o auxílio de Hiram, Rei de Tiro, da linhagem de Caim, que com sua força e iniciativa, possibilitou a concretização do projeto, nomeando Hiram Abif, de sua confiança, e, como ele, cainita, como executor e responsável por todas as obras do templo. 

A Sabedoria não realiza obras sem a Força. A Força não realiza obras sem a Sabedoria. A Sabedoria planeja e a Força executa. A Sabedoria e a Força, o planejamento e a execução, realizam obras, mas dependem da Beleza, da moral, da ética, para que o trabalho possa ser considerado Perfeito. 

O Templo de Salomão, portanto, não era tão-somente um edifício erguido para se cultuar a Deus, como pretendiam os setitas. Para os cainitas, o Templo de Salomão era o paradigma de uma obra Perfeita, de um grande ideal, a representação do Universo e do Homem. 

Assim, cainitas e setitas, durante a construção do templo, se uniram, cada qual em torno de seu objetivo, e encobriram suas inconciliáveis diferenças. 

As duas linhagens sempre viveram e continuarão a viver em oposição. Seus arquétipos são perfeitamente identificáveis:

Os setitas constituíram o sacerdócio e tornaram-se os guias espirituais da Sabedoria Divina.  Vivem pela Fé e não pelas obras. 

São dóceis, disciplinados, conservadores, desprovidos de ambição, contemplativos e sugestionáveis. 

Pregam o abandono do mundo perverso e a busca do consolo divino. Como Mestres da Magia, tornaram-se hábeis no uso da linguagem, sobretudo para invocações, rogando aos céus pelos trabalhadores, a fim de deles obter o seu sustento.

Os cainitas desenvolveram as ciências, as artes, o comércio e a indústria. Com sua força e energia, transformaram o mundo e alcançaram a Sabedoria Terrena. Vivem pela Razão e pelas obras que realizam.

 São agressivos, indisciplinados, progressistas, ambiciosos, criativos, dotados de grande iniciativa e rebeldes a qualquer tipo de sujeição, humana ou divina. Como Mestres da Razão, formaram operários hábeis na consecução das obras que lhes permite sustentar a si e aos que deles dependem e adquiriram o poder temporal, promovendo o bem-estar da humanidade pela conquista do mundo material.

Todavia, os descendentes de Caim ficaram presos ao corpo físico e perderam a visão espiritual.

Um dia, esses “filhos da viúva”, condenados a vagar na semi-obscuridade do mundo material, baterão à porta de um templo maçônico. 

Serão desprovidos dos metais que representem luxo ou riqueza. 

Ficarão seminus e totalmente cegos. 

Viajarão ao centro da Terra onde conhecerão a si próprios. 

Morrerão para a sua antiga existência profana e renascerão para uma nova vida, regenerados e purificados pelos quatro elementos. 

Lhes será perguntado o que procuram e responderão “a Luz”. 

E a Luz lhes será dada. 

E se transformarão em filhos da Luz. 


🌿


Do livro *Personagens Bíblicos da Maçonaria Simbólica* do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz


julho 09, 2022

DOIS VÍCIOS - Ir. Adilson Zotovici

 



O que é pior em verdade, 

vaidade ou arrogância ❔

Uma é falta de humildade

Outra é falta de elegância!


São vícios da sociedade

Dizem que por circunstancia

Incabíveis na irmandade

Propícios à vigilância


Quais ferem a igualdade

Desafiam a tolerância

Em resposta... a paridade


Pois, eles tem consonância:

Arrogância traz vaidade

Vaidade traz arrogância!




julho 08, 2022

TENHA ORGULHO DE SER MAÇOM!




O candidato quando é Iniciado, Elevado e Exaltado, fica enlevado com as “histórias” mostradas nos Rituais, baseadas na Bíblia. Fica encantado com os fatos enevoados ligando a Maçonaria com os acontecimentos Bíblicos. Fica convencido e soberbo de saber que, como Maçom, é um descendente direto dos construtores do Templo do Rei Salomão!

De Aprendiz passa para Companheiro e depois para Mestre e, raramente, pergunta quem planejou o Templo ou quem acompanhou todos os trabalhos feitos em ouro, prata e pedras preciosas. Quem esculpiu, quem decorou as obras de arte. Fica plenamente satisfeito em saber que tudo foi feito por Hiram , que era o filho de uma viúva da tribo de Naftali.

Com o passar do tempo, ele lê alguns livros maçonicos idôneos, e fica assombrado e chocado ao aprender que, sem dúvida alguma, os atuais Maçons são descendentes dos construtores das catedrais, na Idade Média, da Inglaterra, Alemanha, França, etc, etc.

Seu panorama mental sobre a Maçonaria fica nublado, seu orgulho fica abalado e sua admiração, contentamento no seu curto sonho maçônico fica minimizado.

Isto é um retrato real e frequentemente ocorre!

O que deve ficar claro para todos nós é que os Maçons não são descendentes de simples trabalhadores. Nossos ancestrais não eram simples talhadores de pedras, pedreiros, escultores, etc. Eles eram os maiores artistas, especialistas em trabalhar e construir em pedras na Idade Média.

Poucos homens podem construir um galpão usando serrote, martelo e pregos. Mas, a maioria deles não consegue construir a sua própria moradia. Eles não sabem como ler uma planta. Eles nada sabem sobre resistência dos materiais. Eles nada sabem sobre códigos de construções. Para obter sua casa eles precisam empregar um arquiteto e um construtor, os quais tenham o conhecimento especializado requerido.

Hoje em dia nós temos a eletrônica e os computadores, mas na Idade Média, todo esculpido era obra da experiência e da habilidade manual. Não havia livros e desenhos especializados.

Mesmo hoje, as modernas construções dificilmente se igualam na beleza das proporções, no vigor, na suntuosidade e na magnificência das Catedrais, dos Castelos, dos Mosteiros, das Abadias feitas pelos Mestres Construtores dos quais a Maçonaria é descendente. 

Pessoas simples não fariam esse tipo de construção, cuja estrutura, grandeza, resistência e beleza, desafiam os séculos, nas intempéries e nas guerras.

Nossa Ordem escolhe hoje em dia, os futuros Aprendizes, com bastante critério. Os construtores de Catedrais da Idade Média também procuravam e escolhiam aqueles que tinham conhecimento, caráter e habilidade para aprender. Quando se tornavam Companheiros, tinham orgulho de seu trabalho. Sabiam que não podia falhar e davam o melhor de si, por toda sua vida.

Não é este, para todos nós, o maior motivo de orgulho, em sermos descendentes desses homens especiais?

...

Fonte: Pílulas maçônicas

julho 07, 2022

A RAZÃO - Ir. Sidnei Netto Godinho



             

                     

Razão é a capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. 

É, entre outros, um dos meios pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito. 

A razão é particularmente associada à natureza humana, ao que é único e definidor do ser humano.

A Razão é o meio utilizado pelo ser humano para resolver os problemas que a inteligência causa.

Com este conceito descrito por Rizzardo da Camino, navega a mente mortal em um oceano de explicações possíveis para se justificar dos atos insanos cometidos ao longo desta jornada na terra.

Tomando-se por plataforma que a Razão se opõe à emoção e que como tal age por consciência e não por instinto, subentende-se que nossos atos são julgados pelo nível de consciência como foram executados, o que implica dizer que a ignorância e os sentimentos aflorados podem induzir a uma parcial de culpa, mas não se pode excluir por total a capacidade cognitiva inata em cada ação.

Dentro da Ordem Maçônica, os conhecimentos são gradativos e a cada grau desvendam-se mistérios e princípios a serem aplicados, contudo a coluna basilar de todos eles é a Razão. 

Nada se faz se não houver compreensão, consciência da responsabilidade que cada ação traz no corpo da loja e consequentemente na manutenção da egrégora entre os irmãos.

A Razão é a forma que o Criador encontrou para conduzir o homem à Verdade. 

Não pode haver Justiça se não houver Verdade e não há verdade irracional.

Uma pergunta que se faz desde a criação é o Por que se eleva o Homem sobre os outros animais?

A Resposta é instintiva: Porquê é a imagem e semelhança de DEUS e consequentemente Por seu intelecto.

A Razão sobrepuja o ser humano dos demais animais, pois lhe permite ser Instintivo, Emotivo e Racional, sendo esta maior que as demais, permitindo assim que tome decisões ainda que contrárias ao que pede seu instinto ou lhe sensibiliza a emoção.

Somente através da Razão a Justiça se faz Distinta da Vingança.

Quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós foi como Deus intencionou revelar a todos que não basta apenas a Fé cega e devota, mas sim a Fé aliada à Razão de que aos homens também compete o arbítrio racional de crer em um ser supremo e de ser dele originado.

Quando o ser humano investe contra outro, tirando-lhe a vida e descumprindo uma ordem divina de amarem-se uns aos outros e de não matar seu semelhante, é um ato irracional onde a emoção comanda os instintos predadores e sobrepujam, em um momento, a consciência.

Contudo, tão logo a adrenalina é expulsa do organismo e a endorfina toma seu corpo, dá-se conta do mal que se causara e o retorno da consciência situacional o coloca agora como réu perante a divindade, o que leva ao provável arrependimento eficaz e a submissão com as devidas desculpas.

A verdade sempre há de prevalecer entre os racionais e, ainda que contrariando os ordenamentos primários estabelecidos, DEUS há de exortar seu servo pela fraqueza de sua natureza e perdoar por sua impulsividade e perda da razão.

Observa-se nesta atitude a sabedoria divina ao discernir um ato criminoso impulsivo de um ato premeditado como também de não deixá-lo impune, ainda que irracional.

Ratifica-se o pensamento de que a Razão é a Inteligência, aplicada como Consciência, para dirigir nossas ações diárias, no intuito de obter a Verdade plena, Justa e Perfeita.

Assim devem os verdadeiros escolhidos pautarem suas vidas maçônicas 

Boas reflexões meus Racionais Irmãos. 

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julho 06, 2022

ASSOCIAÇÕES DE PEDREIROS DA ANTIGUIDADE - Ir∴ Gilberto Ferreira Vieira – Rio Branco



Na procura das origens da Maçonaria, os historiadores têm analisado as associações que existem desde os mais tempos mais longínquos e encontrado que os pedreiros ou outros ofícios relacionados com a arte de construir tem-se destacado por serem eles os que mais tem criado este tipo de associações, em certa forma similares das conhecidas nos tempos da Idade Média.

Na antiga Caldéia existiriam confrarias de construtores 4.500 anos ac e têm-se encontrado certos monumentos acádicos em que aparece um triângulo como símbolo da letra Rou (construir).

No Egito a arquitetura foi ciência sacerdotal, iniciática, hermética, com segredos que eram mantidos fora do alcance da sociedade comum.

Na China, existiam livros sagrados que conheciam o simbolismo do esquadro e do compasso, que eram a insígnia do sábio diretor dos trabalhos.

Na Grécia encontramos a confraria de Dionísio, que era uma divindade originaria da Tracia e que construiu templos e palácios tanto na Grécia como na Síria e na Pérsia. Seus membros eram homens de ciência que não somente se distinguiam pelo seu saber como também porque se reconheciam por sinais e toques. Mantiveram um colégio em Theos, lugar que lhes fora designado como residência e onde eram iniciados os novos membros. Reconheciam-se por médio de toques e palavras; estavam divididos em lojas que eles denominavam colégios; cada colégio era dirigido por um Mestre secundado por inspetores que eram eleitos pelo período de um ano; celebravam assembléias e banquetes; os mais ricos ajudavam aos que se encontravam em má situação ou doentes e relacionavam a arte de construir com o estudo de mistérios.

Numa Pompilio, segundo rei de Roma (715–672 ac) fundou ou somente autorizou e consagrou os Collegia de artesãos. O povo foi dividido em ofícios agrupados em confrarias com culto. Plutarco menciona 9 collegias; eram mutualidades que as vezes adotavam caráter religioso recebendo o nome de Sodalitates. Entre os Collegia Fabrorum (de Faber = pessoa que trabalha um material), nos colégios funerários e as confrarias religiosas existia ritual iniciático, cerimônias, eleições, decisões pela maioria de votos, patronos honorários; estima-se que o mesmo ritual teria sido transmitido através de 6 séculos, os membros estavam divididos em 3 classes, compostos unicamente por homens, podiam ser de diferentes países, adotaram uma fórmula similar ao Grande Arquiteto do Universo para simbolizar a Deus, tem sido encontrados sarcófagos romanos com compassos, esquadros, prumos e níveis. Nas escavações realizadas em 1878, foi encontrado o Collegia de Pompéia (79 dc) que tinha duas colunas na entrada e esquadros unidos nas paredes. Os Colllegia acompanharam as legiões romanas em todas as suas conquistas onde tiveram a oportunidade de difundir sua arte da construção, podendo ser a semente das fraternidades da Idade Média, mas não existe nenhum documento ou outro fato concreto que demonstre esta possibilidade. Os Collegia terminam quando começam a serem usados como instrumentos políticos sendo abolidos pela Lex Julia (64 ac), voltam mas César baniu-os; Augusto dissolve-os, preservando somente os de utilidade pública; Trajano insiste na proibição mas Aurélio tolera e ajuda-os. Com o fim do Império Romano desaparecem definitivamente deixando poucas lembranças em alguns países.

Durante as escavações do antigo porto de Roma foi descoberta uma inscrição do ano 152 dc com os nomes dos membros da corporação dos bateleiros de Ostia.

Em 286 dc, São Albano obteve autorização de Carausius, imperador britânico, que facultava aos maçons para efetuar um Conselho Geral denominado Assembléia. São Albano participou da Reunião iniciando a novos irmãos. (Relatado nas Constituições Góticas de 926).

O rei lombardo Rotaris (governou entre 636-652), confirma por édito aos Magistri Comacini, privilégios especiais. Os Mestres Comacinos são considerados o elo perdido da maçonaria, o laço de união que une os clássicos Collegia com as guildas de pedreiros da Idade Média, mas não existe nenhuma evidencia documental. A Ordem foi fundada nas ruínas do Colegio Romano de Arquitetos e, na queda do Imperio Romano (478), refugiaram-se na ilha fortificada de Comacino, no Lago Como. Os Comacinos eram arquitetos livres, celebravam contratos e não estavam submetidos a tutela nem da Igreja e nem dos senhores feudais. O nome de Mestres Comacinos nao derivaria do nome da cidade Como, porque seus habitantes são chamados Comensis ou Comanus; o nome de comacinos significaria Companheiro Maçom e também, existe o nome de comanachus (companheiro monge) sem referencia a cidade de Como.

Na inauguração em 674 dc da Igreja de Wearmouth, nas Ilhas Britânicas, construída pêlos Comacinos, foi emitido um documento de apresentação com palavras e frases do edito de 643 do rei lombardo Rotaris.

Por uma pedra gravada entre 712 e 817 dc, sabe-se que a Guilda Comacina estava constituída por Mestres e Discípulos, obedeciam um Grão Mestre ou Gastaldo, chamavam Loja os locais de reunião, tinham juramentos, toques e palavras de passe, usavam aventais brancos e luvas, seus emblemas tinham esquadro, compasso, nível, prumo, arco, nó de Salomão e corda sem fim e reverenciavam os Quatro Mártires Coroados.

Durante o reinado progressista e cultural de Alfredo O Grande na Inglaterra (849-899) a corporação maçônica se estabelece sob normas mais regulares. Divide-se em reuniões parciais denominadas lojas, dependendo todas de um poder central regulador, hoje conhecido como Grande Loja, com sede em York, sendo o objetivo principal a construção de edifícios públicos e catedrais.

A ABERTURA DA LOJA - Ir.: Antonio J. Velásquez,



O Ritual de Abertura, assim com o de Encerramento dos trabalhos em Loja é, talvez, um dos mais importantes dentro do simbolismo maçônico. 

Ele dá os passos necessários para passar do mundo profano para um estado superior de existência ou, em outras palavras, passar da aparência à realidade, sempre e quando cumpramos com uma série de atitudes e disposições. 

É por isso que a palavra ritual significa "DE ACORDO COM UMA ORDEM". 

É penetrar em um plano supra espacial e atemporal, o qual vai sendo criado e desenvolvido no interior de cada um dos irmãos presentes à sessão, proporcionalmente ao grau de concentração que se tenha para esse momento.

Abrir os trabalhos é abrir nossa Loja Interior, é fazer uso das primeiras palavras do axioma hermético "Visita Interiora Terrae... (Visita o Interior da Terra...), mas para que isso seja possível devemos obter a calma interior, abstraindo-nos das preocupações profanas e fazendo Silêncio, para que o Venerável, então, possa dizer: Em Loja, meus Irmãos. 

O verdadeiro silêncio é o que permite alcançar o estado de atenção aberto à voz interior, ao conhecimento do Mistério (no sentido daquilo que não está acessível aos não iniciados), por isso se diz que a atenção provoca a lucidez. 

Não se trata aqui de uma atenção forçada, mas, sim, espontânea e voluntária, sobre algo que realmente nos interessa. 

É um estado de alerta em uma direção definida, o que o converte de fato em concentração (ir para o centro de si mesmo), é o que encaminha para o conhecimento e a tomada de consciência da atemporalidade, quer dizer, do conhecimento Espiritual surgido da profundidade e que desvela a Verdade. 

Em resumo, SILÊNCIO é a via para a Contemplação Espiritual (e em Loja).

Renè Guénon, em suas "Percepções sobre a Iniciação", nos diz que o Símbolo pode ser visual, sonoro ou estar em ritos e alegorias. 

É somente por meio de sua meditação, e especulação, que poderemos conseguir chegar ao Despertar do Homem Interior e ao alinhamento deste com os Poderes do Universo que o rodeia, de maneira consciente e efetiva. 

Devemos viver e sentir com intensidade o que está se passando durante a Abertura dos Trabalhos, porque nessa ocasião está sendo levado a cabo um momento sagrado de expansão das nossas potencialidades, mediante forças cósmicas que nos permitirão aceder às instalações do nosso Templo Interior, e estar em contato com o mestre condutor que nos guiou e protegeu durante nossa iniciação. 

A criação da verdadeira Egrégora coletiva se dará na medida em que todos os Irmãos estejam conscientes de que essas coisas estão realmente se passando, não sendo um simples formalismo necessário para poder começar a Sessão.

O que se disse até agora? Que a Abertura não é mais que um estado de Meditação especial, que nos levará a uma Concentração tal que podemos nos colocar em contato com nosso Eu interno e sentir as vibrações energéticas que permitirão obter a Grande Obra hermética: a transmutação da matéria. Aqui entra em jogo a segunda parte do axioma.... "Invenies Ocultum Lapidem" (Encontrarás a Pedra Oculta). 

Para tanto, é de grande importância nos despojarmos de todos aqueles pensamentos e preocupações que podem desviar nossa atenção e só deixar entrar pensamentos que possam servir-nos de obreiros, no mais íntimo de nossa consciência. 

Nenhum pensamento se acha sem influência sobre o caráter e a existência, senão que exerce segundo sua qualidade, uma obra construtora ou destruidora, tanto em uma como em outra.

A educação maçônica, bem como toda a educação individual, começa precisamente com o controle e a seleção inteligente dos pensamentos que se admitem em nossa mente. 

Como diz Aldo Lavagnini, não podemos evitar que aves voem sobre nossa cabeça, mas sim evitar que elas pousem e façam seu ninho sobre a mesma. 

Da mesma forma, temos que evitar que em nossa mente repousem aqueles pensamentos que não recebem a aprovação do nosso melhor critério e de nossa consciência mais elevada; isto corresponde à ordem que dá o Ven.’. M.’. ao 1º Vig.’., para assegurar-se se estamos A COBERTO DAS INDISCRIÇÕES PROFANAS. 

Ritualisticamente, o G.’. do Temp.’. informa ao 1º Vig.’., e este ao Vem.’. M.’., que se está cumprindo esta condição, mas aqui salta uma dúvida que deixamos no ar: Será que, realmente, estamos a coberto, quando vemos irmãos falando ou consultando seus relógios? 

Pitágoras dizia que, para obter a verdadeira iniciação, teríamos que passar por um processo de formação que permitisse ao iniciado ir desenvolvendo certas qualidades especiais. 

Assim podendo passar do virtual ao real, com isso querendo dizer que, para obter o Despertar da Consciência, deve-se contar com certas qualificações.

É por isso que o Ven.’. M.’. se certifica, por intermédio dos VVig.’., se todos os presentes são Maçons e estão à Ordem. 

Essa condição é necessária, mas não suficiente, já que se deve cumprir, ainda, com uma condição temporal (que Pitágoras denominava as Três P: Preparação, Purificação e Perfeição). 

Essa é a razão do Ven.’. M.’. perguntar o tempo necessário para terminar a Obra, que começa no momento em que se obtém o contato com nosso Mestre Interior, em Silêncio e em Loja, para que possamos receber a maior Iluminação Espiritual possível: que é ao Meio-Dia. 

O diálogo que se segue, entre o Ven.’. M.’., os VVig.’. e os DDiác.’., nos leva a especular sobre o ato cósmico que se está levando a cabo, onde se passa do tempo profano para um tempo sagrado, como já se disse anteriormente. 

Em outras palavras, é fazer a correspondência entre o Micro e o Macrocosmo, necessária para a Criação e a Recreação do nosso Templo Interior, como o diz o 2º Vig.’.. 

Isso fica corroborado quando o Ven.’. M.’., em virtude dos PODERES DE QUE ESTÁ INVESTIDO, evoca o nome do G.’. A.’. D.’. U.’., a Egrégora da Loja, gerada pela concentração dos irmãos presentes e as forças superiores e transcendentais, representadas por todos os irmãos ausentes, desde a noite dos tempos, os quais têm perpetuado a CADEIA INICIÁTICA, onde o Ven.’. M.’. é só um ente transmissor. 

Depois de conseguir essas correspondências atemporais é que podem ser declarados ABERTOS OS TRABALHOS.

O M.’. de CCerim.’. representa a ligação entre nós e o Princípio Superior e Divino que mora no nosso interior. 

É por meio dele que poderemos nos desenvolver DE ACORDO COM UMA ORDEM, pois é ele quem vigia para que tudo esteja de acordo, colocando a ORDEM NO CAOS. 

É com a ajuda desse Princípio, unido à prática do V.’. I.’. T.’. R.’. I.’. O.’. L.’., que se conseguirá a Iluminação (o acendimento das Luzes), que nos permitirá entender o Plano traçado pelo G.’. A.’. D.’. U.’. (leitura do Livro da Lei) e obter o equilíbrio entre a Matéria e o Espírito (o Esquadro e o Compasso). 

Abrir a Loja é escutar o nosso Mestre Interior, que é a nossa Consciência, e isso pode levar muito ou pouco tempo, dependendo de conseguirmos entender quais os passos necessários a serem dados para chegar a esta meta, os quais deverão ser cumpridos conforme formos subindo na escada do Simbolismo. 

Bibliografia:

- GONZÁLEZ, Federico. Introducción a la Ciencia Sagrada.

- LAVAGNINI, Aldo. El Secreto Masónico.

- VALE AMESTI, Fermín. Cuadernos Masónicos Nº 1.

** Traduzido do espanhol pelo Ir.: José Carlos Michel Bonato

Trabalho de Autoria do Ir.: Antonio J. Velásquez, Membro da A.’.R.’.L.’.S.’. Hans Hauschildt, 175 - Or.’. de Ciudad Guayana, abril de 2009.

julho 05, 2022

MODERNIDADE NÃO É SUBSTITUIR O ANTIGO PELO NOVO. É ADICIONAR O NOVO AO ANTIGO - Ir. José Prado


A Maçonaria, herdeira das tradições dos construtores de catedrais da Idade Média, soube, no século das Luzes, reinventar-se, evoluir para a sua atual forma de Maçonaria Especulativa, assumindo a modernidade do Iluminismo sem deixar cair o acervo das tradições, da ética, dos costumes, dos maçons operativos.

Neste dealbar de novo século e milénio, no findar da sua primeira década, importa refletir sobre o papel da Maçonaria num Mundo que evolui e se transforma a um ritmo nunca dantes visto, um avanço tecnológico ímpar na História da Humanidade, mas também com riscos e desequilíbrios de uma dimensão global, também novos, em tão ampla escala.

Importa refletir sobre a melhor forma de bem utilizar as Novas Tecnologias de Informação. 

Importa refletir sobre como integrar os novos conhecimentos, os avanços científicos, as evoluções sociais, no paradigma maçónico. Importa refletir sobre o papel, o interesse, a contribuição, da Maçonaria nas sociedades de hoje e do amanhã. 

Importa refletir, em suma, sobre como adicionar o novo ao antigo.

A Maçonaria é uma contínua sucessão de atos de construção de cada um de nós, em que cada um de nós é simultaneamente a obra, a ferramenta e o construtor. 

Nesta permanente tarefa, o uso, a prática, a execução, da Tradição, a repetição de palavras, gestos e atos que a nós chegam vindos de tempos para nós imemoriais, é-nos confortável e reconfortante, dá-nos segurança, um ponto de apoio e de equilíbrio. 

Fazemos o mesmo que muitos outros antes de nós, em muitos tempos e diversos lugares, fizeram, que muitos outros além de nós no mesmo dia em que nós o fazemos também o fazem, esperamos fazer o mesmo que muitos muito depois de nós continuarão a fazer. 

É-nos confortável, dá-nos segurança, estabilidade, paz de espírito, sabermos que somos individualmente elos de uma imensa cadeia que nos chega de um profundo passado, continua num tranquilo presente e prossegue num risonho futuro…

Nós, maçons, somos os cultores por excelência da Tradição!

No entanto, não recusamos, nunca recusamos, a Modernidade! 

A nossa história mostra mesmo que, em algumas épocas, nós fomos a Modernidade: muitas das Luzes que iluminaram o século das ditas foram de maçons, espíritos científicos avançados para a sua época, que cultivaram, divulgaram e fizeram avançar a Ciência e a Técnica. 

Os princípios hoje quase universalmente aceites (e ansiamos pelo dia em que o “quase” desapareça) dos Direitos Humanos foram acarinhados, cinzelados (é o termo), divulgados e defendidos, antes de mais e antes de todos, por maçons. 

Nós, maçons, orgulhamo-nos de, ao longo da nossa já apreciável história, sabermos aliar a Tradição à Modernidade.

Nós, maçons, procuramos nunca substituir o antigo pelo novo, porque isso seria deitar fora, desprezar, desaproveitar, tudo o que de bom o antigo continua a ter para nos ensinar, ilustrar, proporcionar, antes integramos o novo no antigo, cultivando a Tradição, mas utilizando tudo o que a Ciência, a Técnica e a própria evolução do Homem nos proporciona.

Quando e onde começou a franco-maçonaria? 

Onde postular as origens da maçonaria? 

Como surgiu? 

Qual o momento criador/fundador? 

Como foi feita a transmissão?

Donde vimos nós, que gostamos de nos proclamar filhos do Progresso?

Herdeiros (as) dos construtores de catedrais? 

Fonte mítica da nossa tradição ou do Século das Luzes ? 

Século em que se desenvolveram um pouco por toda a parte, os espaços denominados Lojas.

A maçonaria moderna tem ainda pouco mais de três séculos. 

Nasceu em Inglaterra em 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres. 

Herdeira direta dos construtores medievais, denomina-se “especulativa” por oposição aos “operativos” que trabalhavam nas catedrais. 

Desde 1723, as Constituições do pastor James Anderson, estabelecem esta filiação mítica, outros maçons  recuando ainda mais no tempo, procuraram, mais fundo, as raízes desta tradição.

Contudo, é através da utilização dos mesmos instrumentos operativos que os maçons especulativos balizam as suas reflexões –a colher de pedreiro, o esquadro, o compasso, o cinzel….- , assim como, recorrendo a outros elementos pedidos emprestados à Bíblia, à geometria e à construção, símbolos que ao longo de gerações apelam ao maçom  para trabalhar sobre si mesmo. 

Não é fácil determinar a origem de cada símbolo, pois não podem ser entendidos isoladamente, fazem parte de um todo e de uma tradição, cuja interpretação é distinta para um (a) Iniciado(a), que não deseja construir um edifício de pedra, mas uma obra espiritual, ou intelectual, um “Templo da Humanidade”, pela transformação real do ser humano. 

Este ideal só é possível através de uma tradição e de um método que une os maçons  de todo o mundo e que passa de geração em geração.

E o que significa Tradição? 

Significa Transmissão e esta é o elemento de coesão – o cimento- “ 

A Maçonaria é uma Ordem Iniciática Tradicional….” e se essa transmissão for oral, ao longo dos séculos, onde os livros eram desconhecidos? 

As crenças, os contos de fadas, os mitos…. não são mais do que transmissões orais, cujas personagens mudaram segundo a geografia e a cultura, mas a componente moral essa permaneceu e transmitiu-se, inscrevendo-se na consciência. 

A tradição não são regras, estatutos, são usos e costumes que regulam a vida das pessoas através das experiências. 

É aos mais antigos, aos mais sábios, que compete transmitir esta sabedoria, através de processos que assegurem a continuidade de uma cadeia ininterrupta; é uma sabedoria que se transmite através da observação, da meditação e da imitação, para isso o silêncio impõem-se, para que a memória retenha o essencial a fim de que possa ser transmitido, como uma herança.

No caso da maçonaria a tradição herdada confere-lhe legitimidade e está ratificada pela Maçonaria Universal, é um ponto de referência. 

A multiplicação das Obediências com as suas próprias especificidades, têm presentes a aquisição da tradição, os significados que dela emanam e que ligam o passado ao presente, através da prática de um mesmo ritual e de um mesmo método que coloca o ser humano na sua dimensão cósmica.

E que lugar tem a maçonaria no século XXI? 

Que lugar tem esta instituição nas sociedades modernas onde a necessidade de inovar surge diariamente? 

O tempo não a fraturou, percorre o seu caminho mais procurada do que nunca, não obstante as mudanças verificadas na história coeva.

Hoje, as Lojas são uma mistura de idéias, de personalidades, de origens sociais e também de gerações, onde somos obrigadas a eliminar as aparências para que o essencial do ser seja revelado, para ordenar não só à própria existência mas também o relacionamento com os outros e com o Universo.

A confrontação das ideias e o sentido crítico fazem também parte dos nossos instrumentos que nos ajudam a traçar o projeto de um todo que nos esforçamos por ligar aos grandes movimentos dos tempos modernos.

O método maçónico , vindo das profundezas do tempo, surpreende pela sua modernidade, é o instrumento fundamental para o ser humano conhecer-se a si próprio e construir uma Sociedade mais justa e esclarecida. 

Com efeito, o trabalho maçónico é uma progressão contínua, cujos diferentes graus marcam as etapas, como um jogo de espelhos em que cada Iniciada possa prosseguir a sua viagem, na procura de uma dimensão moral e espiritual, dada pela tradição e pela forma tradicional da Iniciação.

No tempo conturbado em que vivemos, cercadas pelas as injustiças, pelos fundamentalismos….. em suma, pela desordem, nós maçons acreditamos que graças aos princípios que defendemos e aos nossos valores humanistas temos o dever de “continuar no exterior a obra começada no Templo".


julho 04, 2022

A RELIGIÃO QUE ME HABITA (reminder) - Ir. Newton Agrella





 Minha religião não tem nome.

Ela é apenas resultado de causa e efeito.

Minha religião não impõe dogmas.

Ela é um instrumento de culto ao espírito e ao intelecto.

Minha religião não estabelece limites. 

Ela se ocupa de respeitar a fé e a razão como uma possibilidade real e necessária da minha sobrevivência.

Ela aponta o caminho que me instiga à contínua busca da minha consciência.

Minha religião ensina que todas as denominações são trilhas diversas para buscar fazer o bem e a ajudar a entender a razão da minha existência.

Não importa o nome, as práticas ritualísticas ou tampouco sua liturgia.

Basta que e compreenda que sou fruto de um princípio criador e incriado e que me manifesto como resultado dessa referência.

Minha religião não obedece uma doutrina nem invoca para si a dona de uma verdade absoluta.

Minha religião é a essência humana que habita em mim e que se identifica através de infinitas emoções, sentimentos e sensações que consigo exprimir.

Minha religião sou eu. 

Simplesmente porque sou uma partícula de Deus.



julho 03, 2022

A LOJA É PERFEITA, OS HOMENS NÃO - Ir. Manoel Miguel



Parece-me que o sonho de qualquer Loja Maçonica é fazer valer o que diz o Salmo 133:

... “Oh quão bom e quão suave é, que os irmãos vivam em união!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

Como o orvalho de Hermon e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” ...

A elevação do grau de consciência da excelência do AMOR fraternal, descrito nas palavras acima, alcança a todos, não escapa ninguém dessa Lei Universal.

O que sair fora disso é desarmónico, prejudicial.

É a força cega que fere de morte a Loja, a filha de Sião.

A Loja unida é como um corpo: quando um padece, todos padecem; quando um chora, todos choram; quando um se alegra, todos se regozijam.

Porque nessa Loja o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre!

O óleo precioso do AMOR fraternal lubrifica as engrenagens, que deslizam sem desgaste em seu trabalho com Força e Vigor.

Como unir homens dotados de egos, vaidades, formações, conceitos, dogmas e valores tão diferentes?

É aí que começa a ficar interessante a arte de ser Maçom e viver em harmonia.

É um esforço comum a todos os membros, e que requer habilidade, comprometimento mútuo e vontade de formar um só corpo.

Antes de apreciarmos os preceitos maçônicos é importante nos conhecermos uns aos outros, trabalhar nossos pontos fortes, identificando os pontos fracos.

Como sempre digo, no mundo profano, o modelo de união se dá pela formação de grupos lapidados por terceiros, enquanto que, na Maçonaria, a lapidação é individual, contanto que cada Pedra lapidada se encaixe no corpo da Loja, antes de se encaixar no edifício social.

É preciso que cada um faça sua auto-análise e procure se conter diante daquele que lhe discorda a opinião.

Em um universo de vaidades por cargos e distinções, permita-se ser contradito com racionalidade para que o aperfeiçoamento intelectual e moral se realize.

... É na confiança de que seus irmãos lhe querem o mesmo bem que você deseja a eles que deve pairar a dúvida de se julgar sempre estar certo...

O maior prejuízo para uma Loja Maçónica chama-se “crítica”.

Criticar significa pegar o Malhete e sair trabalhando a Pedra do outro irmão. 

A força cega se aproveita disso e conduz a Loja à ruína.

O debate é saudável para a Loja.

A crítica é destrutiva.

O behaviorista B. F. Skinner, em seu livro “Science and Human Behavior”, diz que a crítica é fútil porque coloca um homem na defensiva, deixando-o em posição desconfortável, tentando justificar-se. 

Em momentos como esse, a essência do AMOR fraternal, também chamada de egrégora, se desfaz e a força cega assume o controle.

A crítica é perigosa porque fere o que o homem tem como precioso, seu orgulho, gerando ressentimentos.

É o começo do fim dos relacionamentos.

John Wanamaker, um psicólogo estudioso dos relacionamentos, também escreveu: “Eu aprendi em 30 anos que é uma loucura a crítica.

Já não são pequenos os meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”.

Os homens deveriam fazer autocrítica. 

Como não o fazem, criticá-los é desafiar a harmonia em Loja.

B. F. Skinnner costumava fazer experimentos com animais, buscando compreender o comportamento destes, para depois compará-lo com o das pessoas.

Ele demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. 

Estudos recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem.

O homem adora criticar.

Tem os que criticam erros de ritualística em plena sessão, atrapalhando a egrégora, criando constrangimentos, quebrando a sequência dos trabalhos, cruzando a palavra entre as CCol∴e o Or∴tudo pelo prazer de corrigir, criticar e fazer prevalecer seu potencial, seu ego e sua autoridade, quando na verdade, o que deveria prevalecer seria o AMOR.

Buscar a perfeição na ritualística é nosso dever.

Mas não é prudente fazer críticas e correções em pleno serviço.

É o começo do fim.             

Estudos têm mostrado que a crítica não constrói mudanças duradouras, mas promove o ressentimento.

Acaba deixando o rei no trono, mas sem súditos para os governar.

É o fim do reinado.

O combustível do AMOR e da união é o elogio.

Se algum irmão fez um trabalho e o mesmo precisa ser melhorado, seu consciente o está cobrando por melhora.

Ele sabe que precisa melhorar, não porque alguém o cobre melhoras, mas porque o seu interior, sua alma, pede por melhora.

Quando alguém o elogia após a leitura de um trabalho, gera uma crítica construtiva, pois elogiou quando dentro dele existe uma crítica.

Esse irmão se sentirá motivado a fazer mais e mais trabalhos, e, essa persistência o levará à perfeição sem que necessitasse críticas de terceiros.

Hans Selye, outro notável psicólogo que amava estudar o comportamento humano diz: “Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação”.

Na prática, não só tememos, como também não ficamos satisfeitos com críticas feitas por pessoas semelhantes a nós, com o mesmo grau de fragilidade.

A Loja perfeita elogia, sugere, estimula, confere recompensas com palavras: O VERBO. A PALAVRA. O AMOR.

Não quero com isso buscar unanimidade favorável a essa tese que defendo.

Mas tenho observado que em Lojas onde se pensa diferente, o AMOR esfriou, a harmonia desapareceu e as CCol∴da Loja estão em perigo.

Por quê então não mudar e Elogiar e AJUDAR ao invés de apenas sempre criticar???...

..."Todos somos Humanos e Falíveis, mas somos IRMÃOS e Juramos nos Socorrer"... 


julho 02, 2022

A POUCA FREQUÊNCIA NAS LOJAS - Ir. Osvaldo Ortega


Vez por outra, estudiosos da Maçonaria se perguntam o porquê da pequena frequência existente da atualidade em nossas Lojas. Baseado nos parcos registros da história, fica-nos a ideia de que sempre foi assim.

A diferença palpável que poderá ser encontrada é a de que existe hoje uma menor quantidade de membros dentro de uma maior quantidade de Lojas.

Presume-se que antigamente uma mesma quantidade de obreiros pertencia a um menor número de Lojas, o que aparentemente daria uma frequência maior. Se, no entanto, se pudesse ter das antigas lojas as suas atas a porcentagem de comparecimento, certamente não diferenciaria nem para mais nem para menos do número percentual de hoje.

Aliás, quanto maior fosse o número de obreiros que compusessem uma Loja em tempos atrás, menor seria a sua porcentagem de frequência.

Exemplificando: uma Loja de 300 Irmãos, tem hoje uma frequência aproximada de 60-70 membros, o que dá 20% mais ou menos. Outra com 30 ou 50 membros, comparecem 20-30 obreiros, ficando entre 70-60%.

Esta afirmação está baseada no fato de o autor da presente, ter frequentado uma das maiores Lojas do Brasil onde normalmente a quantidade de Irmãos em cada sessão não passava de 10 a 20%, ou seja, de 30 a 60 comparecimentos para um total de 300 obreiros, que era o número dos que compunham aquela Loja.

As informações que temos da Maçonaria americana são de que lá algumas Lojas chegam a ter 900 membros, cuja média em regra geral vai de 100 a 300 comparecimentos.

Acontece que lá, as sessões de aprendiz e companheiro, somente são realizadas para Elevações e Exaltações. Pelo número de seus membros, calculem o tamanho que teria que ter o Templo de cada uma dessas Lojas, se fosse frequentada por todos e a impressão de vazio que daria quando de uma reunião, em havendo no seu interior, um comparecimento de 10%.

Seria o mais provável a acontecer, se as suas reuniões fossem semanais como aqui. Pois bem, o referido vazio mostra que uma Loja, dentro da própria realidade em tamanho, não deve construir seu Templo igual ao de uma Grande Loja.

Em certa ocasião, assistimos a uma palestra de um famoso autor numa grande cidade do Estado de São Paulo e, para que se tenha uma ideia da capacidade do Templo e da realidade do comparecimento, a dita palestra foi realizada no Oriente onde tranquilamente sentaram-se umas 25 a 30 pessoas e ainda sobraram cadeiras, ficando as Colunas completamente vazias.

Esse prédio enorme tem quase 100 anos de existência e a Loja mais de 110 anos da sua fundação. Pode se compreender que a sua construção foi uma obra para outra realidade que não a da presente. Essa Loja vive hoje das glórias passadas, nada havendo na atualidade que a leve a uma situação igual à antiga.

Seu número de membros não passa de 70 ou 80, o que seria bom para a realidade de hoje, não houvesse ali uma grande quantidade de irmãos em avançada idade, dispensados de frequência. Houve ainda uma descontinuidade nas iniciações. Pode ser esse outro motivo a justificar vazios para uma Loja que em tempos de antanho tinha mais do que o dobro da atual, além de também não ter existido naquela época a mesma rotatividade que hoje existe.

No início, ela era única na cidade onde agora já existem mais de 10 Lojas. Vislumbramos aqui alguns dos motivos da impressão de ausência existentes na Maçonaria Brasileira – O vazio fica só na impressão, mesmo porque na nossa visão a nossa Ordem está mais viva do que nunca.

Outro fator importante que precisa ser levado na devida consideração é que nos primórdios da Arte Real no Brasil, recebemos a influência da Maçonaria Francesa, profundamente política, tendo uma filosofia racionalista em cima do Positivismo, muito em voga na época, daí uma busca maior por parte daqueles que tinham ambições ao poder governamental.

A sua ingerência nos sistemas de governo de então, cuja atuação extrapolava o silêncio dos Templos, fazia com que ganhasse campo na imprensa, provocando debates públicos e inclusive um maior alarido nas rodas das intelectualidades de então.

Numa comparação à luz da história, a sensação é a de uma presença mais efetiva em tempos passados e a sua existência muito mais sentida exatamente devido à ocupação de um enorme espaço político e, consequentemente, havendo uma maior divulgação nesse sentido.

Assim, pois, é para se aceitar como coisa muito natural que houvesse naquela época uma porcentagem de presença em números mais elevados.

Só que, sendo político o motivo dessa maior presença, a atuação da Loja, comparada aos modelos de hoje em relação à História, à Linguagem Simbólica, à filantropia e ao Esoterismo, dentro desse campo, seria muitíssimo menor.

Com o quase total desaparecimento do colonialismo e seu conseqüente absolutismo governamental, deixou de existir o terreno propício a uma atuação política da maçonaria daquela tendência. Além do mais, com a ocorrência no Brasil de uma maior influência da vertente inglesa, cujo trabalho sempre foi e é discretamente realizado no interior dos Templos e sendo esta outra vertente (a inglesa) da política, fez-se com que não se receba mais como maçônico, o "oba-oba" das ruas, acontecimento natural da influencia francesa, e daí também, a impressão de um maior vazio hoje dentro da Ordem.

Ainda pela ação da Maçonaria Inglesa, existe na atualidade, outra visão da realidade sobre a nossa Ordem onde muitos são candidatos e poucos realmente escolhidos.

Entre estes, todos terão que passar pela iniciação, que é uma ação ritual peneiradora "ESOTÉRICA", o que resulta uma sobra minoritária dos que realmente possam vir a ser os, esotericamente, realmente "Iniciados".

A nossa angústia ante o desconhecido, quer pela vivência aqui na Terra enquanto um Ser material ou após a morte, como provável Ser espiritual, provocará dentro e fora do Templo, uma busca na solução do mistério.

Não sendo este encontrado aqui dentro, (não vamos entrar no mérito dos motivos) dará como resultado uma maior rotatividade no "entra e sai", da Ordem.

A pequena iniciação é por todos vista e sentida. A grande iniciação, porém, não é ele, o Filho da Luz, que se dá conta da metamorfose sofrida, pois foram os seus irmãos que vislumbraram nele um possível grande iniciado.

Foi então um reduzido, porém muito eficiente grupo, e é aí que repousa a grande força da Arte Real. O que resulta para olhos que só enxergam esotericamente é uma sensação de vazio, que pode e deve ser compreendida apenas na sua aparência.

Na realidade, aquilo que uns poucos esotericamente produzem, apesar de ínfima minoria, é incomparável e somente podem ser aquilatados, vistos e compreendidos por outros olhos também esotéricos.

Para esse vislumbre, seria bom não esquecermos uma das primeiras colocações do proceder maçônico: - "O que se faz com a mão direita, a esquerda não deve ver". A grandeza da Ordem e da Arte devem permanecer ocultadas a vistas profanas.

Assim, as obras maçônicas não são elaboradas para que o mundo lá fora delas tomem conhecimento, situação essa que é contrária aos seus fundamentos.