setembro 22, 2022

THEODORE ROOSEVELT - Walter Celso de Lima




Walter Celso de Lima da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285, Florianópolis 

Membro da Academia Catarinense Maçônica de Letras 


  1. Introdução: 

Theodore Roosevelt Junior, de apelido Teddy e conhecido pelas suas 

iniciais T.R., foi um estadista norte-americano, conservacionista, naturalista e escritor. Serviu como o 26º Presidente dos EUA, de 1901 a 1909. Anteriormente, serviu como o 33º Governador do Estado de New York, de 1899 a 1900 e como o 25º Vice-Presidente dos EUA, de março a setembro de 1901. Nasceu em New York City, em 1858 e faleceu em Oyster Bay, NY, em 1919.  

Foi maçom, e este fato influenciou muito as suas decisões, especialmente, nos acordos e pactos nacionais e, principalmente, nas convenções internacionais.  

 

  1. Biografia: 

Roosevelt foi uma criança muito doente, portador de asma. Foi educado em casa e começou uma vocação naturalista ao longo da vida, antes de estudar em Harvard.  

Seu livro “The Naval War of 1812” (A Guerra Naval de 1812), publicado em 1882 (com 24 anos de idade) estabeleceu sua reputação como historiador erudito e escritor popular. Este seu primeiro livro foi um sucesso. 

A juventude de Roosevelt foi em grande parte moldada por sua saúde precária e sua asma debilitante. Viagens em família ao exterior, incluindo viagens à Europa em 1869 e 1870, e ao Egito em 1872, moldaram sua perspectiva cosmopolita. 

Em Harvard saiu-se bem nos cursos de ciências, filosofia e retórica. Aprendeu os idiomas latim e grego.  

Roosevelt herdou de seu pai US$ 65.000, uma fortuna na época. Decidiu cursar a Columbia Law School em NY. Abandonou a faculdade de direito. Em Harvard, iniciou um estudo sobre a Marinha dos EUA na guerra de 1812. 

Em 1880, Roosevelt casou-se com a socialite Alice Hathaway Lee (1861-1884). A filha deles, Alice Lee Roosevelt, nasceu em 12 de fevereiro de 1884 e faleceu em 1980. Dois dias depois de seu nascimento, a nova mãe morreu de um caso não diagnosticado de insuficiência renal, mascarado pela gravidez. Sua mãe, Mittie – Martha Bulloch Roosevelt (1835-1884), morrera de febre tifóide onze horas antes, às 3 da manhã, na mesma casa   Perturbado, Roosevelt deixou a bebê Alice aos cuidados de sua irmã Bamie – Anna Roosevelt Cowles (1855-1931), em New York, enquanto estava de luto. Roosevelt assumiu a custódia de sua filha quando ela tinha três anos. 

Eleito deputado estadual, em 1882, tornou-se o líder da facção reformista dos republicanos na legislatura estadual de New York. Sua esposa e sua mãe morreram em rápida sucessão e ele, como viúvo, começou a frequentar sua fazenda de gado em Dakota do Norte. Pelos próximos anos, ele viajou entre sua casa em New York e seu rancho em Dakota do Norte. Uma viagem entre New York e Dakota do Norte, na época, demorava mais de 30 horas. São mais de 3.000 Km.  

Realizou seu segundo casamento com Edith Kermit Carow (1861-1948), em Londres, em 1886. O casal teve cinco filhos: Theodore Roosevelt III – “Ted” (1887-1949), Kermit Roosevelt (1889- suicidou-se em 1943), Ethel Roosevelt Derby (1891-1977), Archibald Bulloch Roosevelt (1894-1979) e Quentin Roosevelt I (1897- morto em combate aéreo em 1918). O casal também criou a filha de Roosevelt de seu primeiro casamento, Alice, que sempre brigou com sua madrasta. 

Depois que o inverno americano excepcionalmente severo de 1886-87 eliminou seu rebanho de gado e o de seus concorrentes, e com isso mais da metade de seu investimento de US$ 80.000, Roosevelt voltou para New York. 

Em 1886, o Partido Republicano lançou Roosevelt como candidato a prefeito da cidade de New York. Roosevelt perdeu a eleição. 

Roosevelt voltou a escrever e lançou o livro “The Winning of the West“ (A Vitória do Oeste), uma obra histórica que conta a colonização norte-americana do Oeste dos EUA. O livro foi um grande sucesso. 

Serviu como Secretário Adjunto da Marinha dos EUA sob o presidente William McKinley (1843- assassinado em 1901), 25º Presidente dos EUA (de 1897 a 1901). Roosevelt renunciou para liderar os Rough Riders (alcunha dos s United States Volunteer Cavalry - Cavalaria Voluntária do Estados Unidos) durante a Guerra Hispano-Americana (entre abril e agosto de 1898), em Cuba, Porto Rico e Filipinas.  

Retornando um herói de guerra, foi eleito governador do estado de New York, em 1898.  

Theodore Roosevelt Junior foi iniciado na Maçonaria em 2 de janeiro de 1901, na Loja Martine-Cok, nº 806, Oriente de Oyster Bay, New York. Tornou-se Mestre Maçom em 24 de abril de 1901. Oyster Bay localiza-se na área metropolitana de New York, estendendo da costa norte até a costa sul de Long Island. Lá encontra-se a antiga residência e casa de verão da Casa Branca, agora um museu dedicado a Roosevelt. Roosevelt foi membro honorário de várias Lojas dos EUA. Participou de várias cerimônias maçônicas públicas e visitou várias Lojas, tanto nos EUA, quanto na Europa, África e América do Sul. Até sua morte ele manifestou um apego orgulhoso à Maçonaria. 

Em 1899, o candidato William McKinley (1843-1901), maçom, convenceu Roosevelt de aceitar a candidatura a vice-presidente, como seu companheiro de chapa na eleição de 1900. Este convencimento foi intermediado pela Maçonaria. O resultado foi a vitória da chapa McKinley-Roosevelt. Roosevelt assumiu o cargo de vice-presidente. Em 14 de setembro de 1901, o Presidente McKinley (25º Presidente dos EUA) foi assassinado e Roosevelt tornou-se o 26º Presidente dos EUA aos 43 anos de idade. Continua sendo, até hoje, a pessoa mais jovem a se tornar Presidente dos EUA.  Roosevelt foi um líder do movimento progressista. Priorizou a conservação e estabeleceu novos parques, florestas e monumentos nacionais destinados a preservar os recursos naturais do país.  

Seu projeto favorito foi a construção do Canal de Panamá. A busca por um local concentrou-se em duas rotas possíveis: Nicarágua e Panamá. Panamá era então um distrito rebelde da Colômbia. Roosevelt convenceu o Congresso a aprovar a alternativa panamenha. Foi aprovado um tratado que foi rejeitado pelo governo colombiano. Houve, então, uma rebelião no Panamá, apoiada por Roosevelt. Da rebelião resultou a independência do Panamá em 3 de novembro de 1903. Um novo tratado dos EUA com o novo governo do Panamá, visando a construção do canal, foi feito em 1903.   

O Canal do Panamá, inaugurado em 1914, permitiu que a Marinha dos EUA se movesse rapidamente do Pacífico ao Caribe e às águas europeias.  

Roosevelt expandiu e modernizou a Marinha dos EUA. Intermediou o fim da guerra Russo-Japonesa, em 1905, o que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz de 1906. Roosevelt foi a primeira pessoa de seu país a vencer um prêmio Nobel. Tanto a construção do Canal de Panamá quanto a intermediação Russo-Japonesa, contaram com a participação de diversos maçons, liderados pelo maçom Roosevelt.  

Roosevelt foi eleito para um mandato completo, em 1904, continuando a promover políticas progressistas. Roosevelt via os grandes negócios como parte necessária da economia norte-americana. Fez um governo com muita autoridade. Roosevelt foi o primeiro presidente a ajudar a resolver uma disputa trabalhista. Foi muito criticado por isto. A participação de maçons no governo Roosevelt foi fundamental para o bom funcionamento do governo.  

Em 1905, interveio militarmente na República Dominicana e, em 1906, na República de Cuba.  

Roosevelt combateu a corrupção quando o senador John H. Mitchell (1835-1905), senador republicano pelo Estado de Oregon, foi preso após julgamento no que se chamou “The Oregon Land Fraud Scandal“ (O Escândalo da Fraude de Terras no Oregon). Em toda história dos EUA, cinco senadores, durante seus mandatos, foram condenados e presos por corrupção. Mais corrupção foi encontrado no Departamento de Correios e Roosevelt combateu, condenando 44 agentes públicos à prisão.  

De todas as conquistas de Roosevelt, ele era o que mais se orgulhava de seu trabalho na conservação dos recursos naturais e na extensão da proteção federal à terra e à vida selvagem. Roosevelt estabeleceu o Serviço Florestal dos Estados Unidos, sancionou a criação de cinco Parques Nacionais e assinou a Lei de Antiguidades de 1906, segundo a qual proclamou 18 novos Monumentos Nacionais dos EUA. Ele também estabeleceu as primeiras 51 reservas de pássaros, quatro reservas de caça e 150 Florestas Nacionais. A participação de maçons em seu governo foi expressiva.  

Preparou seu companheiro maçom William Howard Taft (1857-1930), para sucedê-lo na eleição presidencial de 1908. Mas desentendeu-se com Taft, por este ser muito conservador.  

Entre 1909 e 1910, Roosevelt viajou pela África e Europa. 

Em 1910, foi eleito senador pelo Estado de New York, seu primo distante, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), pelo Partido Democrata. (Franklin e Theodore, primos, ambos foram presidente dos EUA e ambos os maçons ativos – Franklin foi Grão-Mestre  

Roosevelt concorreu à eleição de 1912, mas foi derrotado pelo candidato democrata Thomas Woodrow Wilson (1856-1924) – 28º Presidente dos EUA (de 1913 a 1921).  Após a derrota, Roosevelt liderou uma expedição de dois anos à bacia amazônica. O convite partiu do Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Lauro Severiano Müller (1863-1926), maçom, que fazia parte do governo Manuel Ferraz de Campos Salles (1841-1913), maçom. O Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958) convidou Roosevelt a participar de uma expedição no Rio das Dúvidas (hoje Rio Roosevelt), afluente do Rio Madeira. Roosevelt levou seu filho Kermit Roosevelt na expedição. Roosevelt e Rondon se comunicavam em francês. Roosevelt quase morreu de malária, contraída durante a expedição. A expedição foi descrita em detalhes no seu livro “Through the Brazilian Wilderness (Pelas Selvas Brasileiras) com várias edições brasileiras (Roosevelt, 1976). 

Em 14 de outubro de 1912, Roosevelt foi baleado por um taberneiro chamado John Flammang Schrank (1876-1943) que dizia que o fantasma do presidente assassinado William McKinley o havia mandado matar Roosevelt. A bala se alojou em seu peito depois de passar por uma caixa de óculos e por seu discurso de 50 páginas. Schrank foi desarmado e as pessoas presentes queriam lincha-lo, sendo impedido por Roosevelt. Como Roosevelt não tossia sangue, a bala não havia atingido o pulmão. Recusou-se ir a um hospital antes de fazer seu discurso de 50 páginas, com sangue escorrendo em sua camisa. 

As sondas e um raio-x mostraram que a bala se alojou no músculo do peito e não penetrou na pleura. Os médicos concluíram que seria menos perigoso deixa-la no lugar do que removê-la. Roosevelt carregou a bala consigo pelo resto da vida. Schrank foi considerado louco e internado no Hospital Estadual Central para Criminosos Insanos, em Waupun, Wisconsin, em 1914. Lá permaneceu por 29 anos, até sua morte. 

Durante a Primeira Guerra Mundial, Roosevelt criticou o Presidente Woodrow Wilson por manter os EUA fora da guerra.  

Seu filho Quentin Roosevelt I quando pilotava um avião da Força Aérea Americana foi abatido nas linhas alemãs, em França, em 1918. Diz-se que Roosevelt nunca se recuperou dessa perda.  

Roosevelt considerou concorrer à presidência dos EUA em 1920, mas sua saúde continuou a piorar. Roosevelt faleceu em 6 de janeiro de 1919, de embolia pulmonar.  

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.; 

 

- Do Klick Educação. Theodore RooseveltUol, 2015. 

Acessado em 23.mai.2021. 

- Larson, K. “Theodore Roosevelt”. Scouts on Stamps Society International 

  – SSSI, 2021. 

Acessado em 23.mai.2021.  

- Markham, L. “Grandes Líderes. Theodore Roosevelt“. São Paulo: Editora 

  Nova Cultural, 1988. 

- Roosevelt, T. “Theodore Roosevelt. An Autobiography. Londres: The 

  MacMillan Company, 1858, reprint 1913.  

- Roosevelt, T. “Nas Selvas do Brasil”. São Paulo: ed. USP, 1976. 

- Senado Federal. Nas selvas do Brasil (vol. 141)”. Conselho Editorial 

  CEDIT Senado Federal,  s/d 

Acessado em 23.mai.2021. 

The Nobel Prize. “The Nobel Peace Prize 1906”. The Nobel Prize, 2021. 

Acessado  em 23.mai.2021.  

 Theodore Roosevelt Association, 2021. 

Acessado em 23.mai.2021.  

A PERSONALIDADE DO MAÇOM - Sérgio Quirino



Sérgio Quirino é o Grão-Mestre do GLMMG 2021/2024

Sob a perspectiva acadêmica, personalidade é o conjunto de características do ser humano, que determina padrões do pensar, sentir e agir.

A partir da forma como a personalidade se organiza física, psicológica e moralmente, surgem, entre outras, as classificações: “personalidade marcante” ou “não tem personalidade”.

Sabemos, todavia, que ninguém nasce com a personalidade pronta. Formada durante a vida, ela é baseada nas relações sociais. Inicia no núcleo familiar, passa pelas instituições de ensino e permanece se formando em todos os ambientes do nosso entorno.

Como, então, entender a Personalidade do Maçom?

Traçamos um paralelo esclarecedor entre a Teoria da Personalidade desenvolvida por Sigmund Freud e os graus simbólicos da Maçonaria. Freud organiza o aparelho psíquico em três estruturas: Id, Ego e Superego, que os associamos aos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

O ID se vincula às pulsões, uma energia inconsciente, que nos remete aos desejos orgânicos, à dificuldade em articular labores mais complexos e nos apresenta como um piso dual da existência humana. Por um lado, a alvura da pulsão da vida; por outro, a escuridão da pulsão da morte. Assim é o Aprendiz e a constante dificuldade em vencer as paixões e submeter a vontade própria, mesmo tendo sido impactado pela reflexão: “se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte”, ancorada na expressão latina Memento Mori, muito utilizada na Maçonaria.

O EGO é o segundo nível da personalidade. Ele regula a força das pulsões e nos apresenta a beleza iluminada da razão. Sua racionalidade nos faz marchar na retidão e permite correções de direção apenas como uma possibilidade de ampliar o conhecimento, porém, sem se desviar da condição de razão. Quando bem formado, o Ego oferece o coração como complemento penitencial da razão e assim segue sua busca na elevação. Tal como o Companheiro que interage com os Aprendizes e Mestres, o Ego busca a harmonia entre a impulsividade do Id e a força repressora do Superego.

O SUPEREGO é a plenitude do processo da mente humana. Ele impõe limites salutares às impetuosas pulsões do Id, consolida a elevação do Ego acima dos interesses menores que atormentam o profano e regula os costumes pelos princípios da Moral. Em uma única palavra, ele representa o que, de fato, é necessário para o equilíbrio das relações sociais:​ A Moral.

De posse de um Superego bem formado, o Mestre Maçom, com sensibilidade e o necessário equilíbrio da força, cumpre a sua verdadeira missão: Tornar-se um Construtor Social.

ASSIM COMO A PERSONALIDADE HUMANA É COMPOSTA PELA CONJUNÇÃO DO ID + EGO + SUPEREGO, A EVOLUÇÃO DA PERSONALIDADE DO MAÇOM SE CONSOLIDA PELA

CONJUNÇÃO​ DOS GRAUS DE APRENDIZ + COMPANHEIRO + MESTRE.

Seguimos neste 16o ano de compartilhamento de instruções maçônicas, porque acreditamos fielmente que um mundo melhor se constrói pela qualificação do artífice. Precisamos nos reanimar permanentemente para o bom uso do malho e do cinzel.


setembro 21, 2022

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA MAÇONARIA - José Castellani


A abordagem de um assunto complexo exige algumas premissas que, embora verdades inconcussas podem ser esquecidas em benefício de interesses pessoais de momento. A primeira premissa esclarece que a Maçonaria é uma fraternidade. O substantivo feminino fraternidade designa o parentesco de irmãos, o amor ao próximo, a harmonia, a boa amizade, a união ou convivência como de irmãos. Isso leva à conclusão de que na organização designada genericamente como Maçonaria, ou Franco maçonaria, definida como uma fraternidade deve prevalecer a harmonia e reinar a união ou convivência como de irmãos.

A segunda premissa afirma que a Maçonaria como Fraternidade deve ser instituição fundamentalmente ética. O substantivo feminino "ética" designa a reflexão filosófica sobre a moralidade, ou seja, sobre as regras e códigos morais que orientam a conduta humana; refere-se à parte da Filosofia que tem por objetivo a elaboração de um sistema de valores e o estabelecimento dos princípios normativos da conduta humana, segundo esse sistema de valores.

Sendo a maçonaria por definição organização ética, os códigos de moral e o alto sistema de valores devem ser rígidos já que orientam a conduta entre maçons. Todos os códigos maçônicos ressaltam a importância dos valores éticos entre maçons, ou seja, entre irmãos. Evidente em disposições inseridas em textos constitucionais, as quais, com pequenas variações de obediência para obediência, afirmam que, entre outros, são deveres do maçom: "reconhecer como irmão todo maçom e prestar-lhe, em quaisquer circunstâncias, a proteção e ajuda de que necessitar, principalmente contra as injustiças de que for alvo; haver-se sempre com probidade, praticando o bem, a tolerância e a fraternidade humana". E completam, destacando que: "não são permitidas polêmicas de caráter pessoal nem ataques prejudiciais à reputação de irmãos, nem se admite o anonimato".

A ética não fica restrita às relações entre maçons, mas também às destes com as obediências que os acolhem, principalmente nas referências a estas, ou aos seus dirigentes, em textos escritos. Isso está bem caracterizado no dispositivo legal, que admite ser direito do maçom: "publicar artigos, livros, ou periódicos que não violem o sigilo maçônico nem prejudiquem o bom conceito da obediência".

A par dessa ética de caráter interno há aquela reconhecida em todos os meios sociais e que considera atentatórias às regras e códigos morais das sociedades ditas civilizadas, atitudes como:

- Divulgar denúncia de fatos, sem a necessária comprovação, o que envolve difamação e calúnia;

- Difamar e atacar pessoas, em conversas e em reuniões, sem a presença dos atingidos pelos ataques;

- Divulgar, por qualquer veículo, o texto de cartas particulares e, portanto, confidenciais;

- Atacar pessoas e instituições, sem lhes dar o direito de resposta no mesmo veículo e no mesmo local em que foi publicado o ataque (e esse é um direito garantido por lei);

- Ter conhecimento de que alguém está incorrendo em atitudes antiéticas, como as citadas, e nada fazer, ou, o que é pior, ajudar a incrementá-las;

- Aproveitar uma situação de inimputabilidade penal - por qualquer motivo, inclusive senilidade - para produzir ataques, difamações e injúrias contra pessoas e ou instituições.

Atitudes antiéticas como as citadas ocorrem todos os dias na sociedade atual, principalmente em épocas de campanha eleitoral, de crises econômicas, de tumulto social; ocorrem também nos meios onde a intriga e os mexericos fazem parte do ofício e trazem dividendos financeiros, como é o caso das "colunas sociais" e da mídia especializada em futricas de rádio, televisão e teatro. É claro que ocorrem! A sociedade atual, graças ao esgarçamento de sua estrutura familiar e ao avanço avassalador da amoralidade, é hoje altamente antiética: a solidariedade é moeda em baixa; o respeito às demais pessoas é praticamente inexistente; o acatamento da lei e da ordem vai escorrendo pelo ralo; a deslealdade no sentido de auferir vantagens vai de vento em popa; quem está por cima, pisa na cara de quem está por baixo; e quem está por baixo tenta puxar o tapete de quem está por cima. A maçonaria, contudo, deveria dar o exemplo de moral e de ética. Afinal de contas, ela afirma, em todas as suas cartas magnas, que: "pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade; proclama que os homens são livres e iguais em direitos e que a tolerância constitui o princípio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um".

Nem sempre isso acontece. A instituição maçônica doutrinariamente é perfeita, mas os homens são apenas perfectíveis. Procuram se aperfeiçoar, mas muitos não conseguem seu intento, mesmo depois de muitos e muitos anos de vida maçônica, persistindo nas atitudes aéticas e antiéticas, que lhes embotam o espírito e assolam o ideal de solidariedade, de moral e de respeito à dignidade humana. Para aqueles que pretendem, realmente, se aperfeiçoar, valem os conselhos contidos numa mensagem encontrada na antiga igreja de Saint Paul, em Baltimore, datada de 1692:

"Vá plácido entre o barulho e a pressa lembre-se da paz que pode haver no silêncio. Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas. Fale a sua verdade, clara e calmamente; e escute os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes, pois também eles têm a sua história. Evite pessoas barulhentas e agressivas. Elas são tormento para o espírito. Se você se comparar a outros, pode se tornar vaidoso e amargo, porque sempre haverá pessoas superiores e inferiores a você. Desfrute suas conquistas, assim como seus planos. Mantenha-se interessado em sua própria carreira, ainda que humilde; é o que realmente se possui, na sorte incerta dos tempos. Exercite a cautela nos negócios, porque o mundo é cheio de artifícios. Mas não deixe que isso o torne cego à virtude que existe; muitas pessoas lutam por altos ideais e, por toda parte, a vida é cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Principalmente, não finja afeição, nem seja cínico sobre o amor, porque, em face de toda aridez e desencanto, ele é perene como a grama. Aceite, gentilmente, o conselho dos anos, renunciando, com benevolência, às coisas da juventude. Cultive a força do espírito, para proteger-se, num infortúnio inesperado. Mas não se desgaste com temores imaginários. Muitos medos nascem da fadiga e da solidão. Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo. Você é filho do Universo; não menos que as árvores e as estrelas, você tem o direito de estar aqui. E que seja claro, ou não, para você, sem dúvida o Universo se desenrola como deveria. Portanto, esteja em paz com Deus, qualquer que seja a sua forma de conhecê-lo, e, sejam quais forem sua lida e suas aspirações, na barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com sua alma. Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este ainda é um mundo maravilhoso. Esteja atento"!

(Schônnel)

setembro 20, 2022

SABEDORIA INDÍGENA CHEROKEE


Há uma bela lenda dos índios Cherokee sobre o "ritual de passagem" que diz isto:

“O pai leva o filho para a floresta, coloca uma venda nos olhos e o deixa lá, sozinho.

O jovem deve permanecer sentado em um tronco a noite toda, sem remover a venda até que os raios do sol o avisem que é de manhã. 

Ele não pode e não deve pedir ajuda a ninguém.

Se ele sobreviver à noite, sem se desmoronar, será um homem.

Não pode contar a sua experiência aos amigos ou a ninguém, porque cada jovem tem que se tornar um homem sozinho.

O jovem está claramente aterrorizado ... ele ouve muitos barulhos estranhos ao seu redor. 

Certamente existem feras ferozes ao seu redor. Talvez até homens perigosos que o machuquem.

O vento sopra forte a noite toda balançando as árvores, mas ele continua corajosamente, sem tirar a venda dos olhos. Afinal, é a única maneira de se tornar um homem!

Finalmente, depois de uma noite assustadora, o sol sai e ele tira a venda dos olhos.

E é nesse momento que ele percebe que o pai está sentado no tronco, ao lado dele. 

Esteve de guarda toda a noite protegendo o filho de qualquer perigo. 

O pai estava lá, embora o filho não soubesse.”

Nós também nunca estamos sozinhos. 

Na noite mais assustadora, no escuro mais profundo, na solidão mais completa, mesmo quando não nos damos conta disso, Deus nunca nos abandona, e nos guarda... sentado no tronco ao nosso lado.

Autor desconhecido



setembro 19, 2022

O AMOR ESTÁ NO AR - Heitor Rodrigues Freire

 

Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado, past GM da GLMMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande. 

Não é por acaso que nós estamos encarnados, nesta vida, neste momento. Há um propósito para isso. É comum não nos darmos conta disso e vivermos de forma aleatória e automática, mas agora, mais do que nunca, é preciso ter consciência do nosso compromisso com Deus. 

Vamos fazer de nossas vidas um cântico de louvor ao Criador, cumprindo o ensinamento que Jesus ensinou: “Amar a Deus sobre todas as coisas do céu e da terra e ao nosso semelhante como a nós mesmos”. Vamos viver intensamente, fazendo de cada instante um momento supremo, pleno, eterno enquanto dure, pois como filhos de Deus podemos fazer em escala menor tudo o que Ele pode infinitamente.

Vamos orar pedindo força e coragem, mas sem esperar que caiam do céu, não permitindo que o manancial da fé se transforme em água estagnada. Não deixemos que o medo neutralize a nossa força. O medo decorre do desconhecimento da verdade fundamental: somos filhos de Deus, dotados dos predicados e atributos que Ele nos proporcionou. Vamos fazer com que essas virtudes se manifestem intensamente. 

O amor, essa energia infinita que se encontra imanente no coração do ser humano, permanece, muitas vezes, recolhido no recôndito do ser, encolhido, escondido, sem vontade de se manifestar, tantas são as situações que o homem cria com sua ignorância edesconhecimento deixando passar a oportunidade de se mostrar em plenitude em vez de transformar o que está ao nosso alcance. 

Mas nem tudo é desatino. E aqui vai uma sugestão. Nestes tempos conturbados, em que só se fala de conflito, limpemos a mente passemos a valorizar o que está bem debaixo do nosso nariz. Ou melhor, ao alcance dos nossos ouvidos. Com a chegada da primavera, temos o privilégio, aqui em Campo Grande, de ouvir o lindo canto do sabiá, em qualquer ponto da cidade. Ele nos inspira beleza, suavidade e enleva a alma.

Eu sempre presto muita atenção no canto do sabiá, que me desperta logo cedo, alegrando o meu dia. Esse canto pode ser ouvido ao amanhecer ou ao entardecer, e lembra o som de uma flauta. Com ele, o sabiá demarca seu território e serve para atrair a fêmea. Ele canta com a alma, fazendo tremer todo o seu corpo. Quem já viu um sabiá cantar sabe bem do que estou falando.

O sabiá-laranjeira é muito comum aqui na América do Sul, tem a plumagem cinza no alto do peito que vai se transformando em cor de ferrugem, e pode ser visto em qualquer árvore da cidade, desde que se tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir. É preciso estar sereno e atento a essa pequena delicadeza.  

O nome do sabiá deriva do tupi haabi'á, que significa “aquele que reza muito”, como se o seu canto fosse uma forma de oração. Esse belo passarinho é bastante lembrado em muitas letras do nosso cancioneiro tradicional, e há uma lenda indígena que diz que quando uma criança ouve o canto do sabiá-laranjeira ela é abençoada com amor, felicidade e paz.

E já que estamos na estação do amor e o amor está no ar, vamos fazer como “aquele que reza muito”, e espalhar o amor como se fosse o perfume da primavera e o belo canto do sabiá.


setembro 18, 2022

VALE A PENA SER MAÇOM? - Carl Sagan




Estou ligado à Maçonaria há cerca de três anos. Será, pois, oportuno perguntar a mim mesmo se, nos dias que correm, vale a pena ser maçom.

Não sou sociólogo, pelo que a análise que faço do mundo que me rodeia é a de um leigo na matéria. No entanto, a sensação que tenho é de que a nossa sociedade está a atravessar uma fase em que impera o egoísmo e o vazio das ideias. E não me refiro apenas ao nosso país, mas à generalidade das nações. Proliferam as guerras, os atentados com bombistas suicidas e os fundamentalismos. Verifico com horror que a pedofilia é um monstro muito maior e mais poderoso do que alguma vez imaginei.

Fala-se muito em globalização, mas torna-se cada vez mais evidente que esta não inclui valores éticos ou de diálogo amigável entre os povos. Pelo contrário, é de puro materialismo em que o que conta é apenas o lucro. Valores como a solidariedade ou as preocupações sociais nada valem para as multinacionais que são quem mais fomenta essa globalização. “Deslocaliza-se” para onde a mão-de-obra seja mais barata e despedem-se milhares de trabalhadores com a maior das naturalidades.

No que se refere à religião, talvez eu andasse distraído, mas parece-me que nunca houve tantas seitas e religiões “alternativas”, como nos nossos dias. As pessoas buscam respostas para uma faceta muito importante das suas vidas: a espiritualidade. E há sempre quem esteja pronto para se servir dessa carência para apresentar as suas “verdades”. Pelo menos nalguns casos, tais seitas geram receitas milionárias e tornam-se elas mesmas multinacionais. Vendem milagres, prometem o céu, mas não esquecem o seu verdadeiro objetivo: o dinheiro.

Não me lembro de alguma vez haver como hoje tantos astrólogos, numerólogos, videntes, e afins. Claro que nem com todos os seus “conhecimentos” juntos conseguem descobrir uma qualquer criança raptada. Mesmo assim, os seus negócios prosperam.

Por outro lado, também acho que nunca houve tantas revistas dedicadas a temas a que chamamos “cor-de-rosa”. Até as rádios, mas em especial as televisões não fogem à moda, pelo contrário, aproveitam-na.

Nos órgãos de informação, o espaço dedicado à cultura, ao estudo ou à divulgação das ciências e das artes é cada vez menor.

Perante este quadro, sinto ser absolutamente necessária uma força que, de uma forma empenhada e a nível mundial, promova a paz e a liberdade, a tolerância e a justiça social, assim como a cultura e o combate à ignorância.

Durante a minha caminhada desde o grau de Aprendiz, fui formando a minha própria ideia do que é Maçonaria. No meu entender, ela é uma extraordinária instituição iniciática, onde cada um de nós sente cada vez mais como indispensável o seu aperfeiçoamento pessoal nas suas diversas vertentes: moral, intelectual, social e familiar. Mas a Maçonaria não poderia ser apenas uma escola de aperfeiçoamento dos seus membros, pois é também uma instituição filantrópica, onde a prática desinteressada da beneficência deverá ser uma constante.

Por outro lado, compreendi que a filosofia que lhe está subjacente proclama com clareza a prevalência do espírito sobre a matéria, pugna pelos mais altos valores da humanidade, enaltece o trabalho, recusa qualquer tipo de intolerância política, religiosa, sexual ou racial, considera a liberdade de pensamento e de expressão como direitos fundamentais do ser humano, assim como estimula o estudo e a educação para eliminar a ignorância e a superstição.

Ou seja, uma vez que entendo a Maçonaria como uma instituição defensora da paz, da justiça, da tolerância e do bem-estar para todos os seres humanos, estou profundamente convencido de que ela pode ser a força que a humanidade necessita para enveredar pelo rumo que a conduza à paz em liberdade, que afinal as pessoas de boa vontade do mundo inteiro tanto desejam.

Poderão dizer que a Maçonaria é apenas um sonho, talvez mesmo uma utopia, mas vale a pena lutar por ela, pois quem não sonha não vive…

Ser maçom implica um esforço permanente e até alguns sacrifícios tanto materiais como dos escassos tempos livres. Mas depois de ter aprendido o que é de fato ser maçom, a minha resposta à pergunta inicial só pode ser uma: sim, vale a pena.

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setembro 17, 2022

MAÇONARIA NÃO É REFORMATÓRIO - Sérgio Quirino



O irmão Sérgio Quirino é Grão-Mestre da GLMMG 2021/2024

O título pode soar estranho e até mesmo desvinculado da Ordem Maçônica, o que, de certa forma, deve ser.

Porém é preciso salientar um equívoco na propositura “DA Pedra Bruta” ser transformada EM “Pedra Cúbica”, inclusive a interpretação comum do Maçom SER a pedra. O Maçom não é a pedra.

A ideia errônea de que somos uma pedra bruta se passa quase como um dogma. Mas, se realmente o fôssemos, haveria contradições balizares que antecedem à iniciação.

Então, o padrinho não conhecia a “brutalidade” do candidato? Os documentos apresentados, que atestam a polidez do candidato não seriam legítimos? Os sindicantes teriam sido superficiais no desenvolvimento da lavra? Houve falta de compromisso no escrutínio?⁹

Por isso, afirmamos que a Maçonaria não é um reformatório, uma vez que não somos um estabelecimento de reeducação para delinquentes ou em perigo de delinquência. Desculpem a forma incisiva, mas precisamos esclarecer que:

MAÇONARIA É UMA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO!

As instruções maçônicas servem para aprimorar O QUE EU SOU, a fim de me tornar melhor DO QUE SOU. Os labores maçônicos sobre O QUE EU SOU são o arremate para completar O QUE EU SOU. E, finalmente, os valores maçônicos me aprofundam no MEU EU, para me tomar exímio na minha essência, no MEU verdadeiro EU.

Então, que estória é esta de Pedra Bruta e Pedra Cúbica?

NÓS NÃO SOMOS PEDRA BRUTA E NUNCA NOS TORNAREMOS PEDRA CÚBICA.

VIVER SIGNIFICA UM PROCESSO DE ETERNO APRENDIZADO.

SE HOUVESSE PERFEIÇÃO, NÃO ESTARÍAMOS NESTE PLANO.

Há algo de negativo em cada ser humano, uma brutalidade inerente à nossa condição primária de animal. Encontramos o personagem de “coração de pedra” não apenas, nas estórias infantis. Esta é nossa alegoria. Não somos a pedra. Porém há dentro de nós uma pedra desforme, pesada e bruta.

A lapidação na Maçonaria se dá internamente; e não externamente. Como provocação para reflexões, visualizemos este processo: Fácil imaginar que pensarão em um homem com uma pedra cúbica dentro do peito, após a lapidação.

Mas, o que é uma Pedra Cúbica? Resposta imediata: Uma pedra em forma de cubo.

Mas, o que é um cubo? Na geometria, é um sólido composto de seis faces quadradas de igual tamanho.

Mas, e se o cubo em questão não for de geometria, mas sim de álgebra?

Em álgebra, o cubo é a terceira potência de um número, ou seja, um valor multiplicado por si três vezes. Por exemplo: 3X3X3.

ENTÃO, ATRÁVES DE SÍMBOLOS E ALEGORIAS, A MAÇONARIA POTÊNCIALIZA AO CUBO OS VALORES QUE JÁ POSSUÍMOS PROMOVENDO NOSSO APERFEIÇOAMENTO, O QUE NOS TORNA MENOS BRUTOS.

Seguimos neste ­16o ano de compartilhamento de instruções maçônicas, porque acreditamos fielmente que um mundo melhor se constrói pela qualificação do artífice. Precisamos nos reanimar permanentemente para o bom uso do malho e do cinzel.

 


Sérgio Quirino

Grão-Mestre - GLMMG 2021/2024

setembro 16, 2022

A AVENTALITE - Rui Bandeira



A aventalite é uma afeção que assola alguns maçons, geralmente de forma aguda, passageira e facilmente curável, mas podendo evoluir para uma forma crônica, essa necessariamente mais séria e com um tratamento mais demorado e cura mais problemática.

Manifesta-se por uma despropositada inflação do ego, injustificada sensação de superioridade, perturbador sentimento de poder e, nos casos menos ligeiros, inadequado comportamento em relação aos seus iguais, vistos pelo afetado como inferiores ou subordinados, por não usarem aventais XPTO.

A aventalite é suscetível de atacar Grandes Oficiais e dignitários de Altos Graus, independentemente da Obediência, seja Grande Loja ou Grande Oriente, assuma orientação mais anglo-saxónica ou mais francesa, e pode atacar tanto homens como mulheres, embora empiricamente pareça ser mais frequente naqueles. 

O tratamento da sua forma aguda é fácil e geralmente eficaz, se aplicado na fase inicial da doença. Consiste numa severa e sonora censura, com solene declaração de que se não tem paciência para aturar maneirices de armados em mete-nojo, acompanhada de expressa chamada de atenção para a Igualdade que obrigatoriamente reina entre os maçons e uma injeção de recordatória de que o exercício de ofícios em Grande Loja ou Grande Oriente ou funções em Altos Graus são meros serviços, tarefas, ofícios a serem desempenhados com zelo e humildade e não honrarias ou reconhecimentos de inexistentes superioridades.

Nos casos mais graves, pode ser necessário um reforço de tratamento com recurso a expressões vernáculas, envios para determinados sítios não propriamente prestigiados e solenes avisos de que, ou o afetado atina e deixa de se continuar a armar ao pingarelho, ou é melhor continuar a enganar-se dando voltas ao bilhar grande, que junto dos seus iguais (quer ele queira, quer não) não vai ter grande sorte.

Nas formas mais leves da afeção, e sobretudo quando o doente é de boa índole, o tratamento mais suave chega para debelar a afeção, sem sequelas. Podem, no entanto, ocasionalmente observar-se recaídas, em regra facilmente tratáveis com uma observação chocarreira e bem-humorada, como, por exemplo, Lá estás tu outra vez a deixar o aventaleco janota subir-te à cabeça. Deixa-o lá sossegadinho e não te estiques, que és melhor que isso...

Nas formas mais severas, afeção prolongada ou doentes com obtusidade cerebral, é indispensável o tratamento reforçado, repetido as vezes que forem necessários até o doente ir ao sítio. No entanto, quer a índole mais difícil do doente, quer a maior agressividade do tratamento podem dar origem a efeitos secundários ou sequelas desagradáveis, designadamente amuos e afastamentos. Nas situações verdadeiramente graves e reincidentes pode mesmo ser necessário aplicar quarentena.

A aventalite é uma afeção oportunista que se manifesta com mais frequência em ambientes poluídos por regras, expressas, implícitas ou consuetudinárias, que favoreçam, ou mesmo imponham, o uso com demasiada frequência e em locais inapropriados de aventais XPTO. O oportunismo da aventalite aproveita qualquer desatenção que permita ou propicie o uso desadequado e fora do seu ambiente próprio dos ditos aventais XPTO.

Para além do tratamento dos casos concretos dos afetados pela doença, é importante que se faça adequada prevenção, para evitar novas infeções, recidivas e recaídas.

Recomenda-se assim revisão das normas regulamentares e das práticas que não limitem o uso dos aventais XPTO aos locais e ocasiões adequados. Designadamente, é de toda a conveniência que se tenha presente que, na sua Loja, o obreiro é um elemento do Quadro desta, absolutamente igual aos demais, nem mais, nem menos que qualquer dos outros e, que, consequentemente, fique inquestionavelmente assente que nenhum obreiro, na sua Loja, usa avental XPTO, antes devendo usar o avental do seu grau e, se for caso disso, a insígnia da sua qualidade na Loja, sendo absolutamente indiferente posição ou ofício que porventura tenha na Grande Loja, Grande Oriente ou nos Altos Graus. A Loja é independente e livre e em nada inferior à Grande Loja ou Grande Oriente (pelo contrário, é a Loja que, juntamente com as outras, determina a regulamentação essencial da Grande Loja ou Grande Oriente e elege o seu responsável máximo). Esta regra deve ter como única exceção - certamente ocasional - a situação em que o obreiro se apresente na Loja, não na sua qualidade de obreiro dela, mas no efetivo exercício da sua função de Grande Oficial ou em representação expressa do Grão-Mestre.

Este princípio deve ser extensivo à visita a outras Lojas. Se o obreiro faz visita a título pessoal, não faz sentido, e propicia a aventalite, que use outro avental que não o do seu grau. Se a deslocação, porém, se fizer no exercício das suas funções de Grande Oficial ou em representação do Grão-Mestre, então, e só então, justifica-se que use o seu avental XPTO.

Claro que, em Assembleias de Grande Loja ou Grande Oriente, aí sim, está-se em pleno espaço e tempo em que é justificado e adequado o uso de aventais XPTO. Aí e nessas ocasiões, não há qualquer inconveniente. Trata-se de um uso moderado e adequado de avental XPTO, que, por regra, não propicia nem aumenta o risco de contágio pela irritante aventalite.

A bem da saúde dos maçons, exorto a que esta atividade de prevenção seja feita. É saudável. é amiga do ambiente e, sobretudo, é... maçônica!

setembro 15, 2022

NÃO PODEMOS ESQUECER NOSSO PASSADO GLORIOSO... - Carlos Freitas M.'.M.'.



NÃO PODEMOS ESQUECER NOSSO PASSADO GLORIOSO, MAS NÃO PODEMOS VIVER ETERNAMENTE DELE!

Nossa ordem anda, nas últimas décadas, tão carente de realizações dignas de nota na história do Brasil que, quando queremos citar nomes de grandes maçons, temos de recorrer a personagens da época do império ou do início da república velha, fatos ocorridos há mais de 100 anos.

Não podemos esquecer nosso passado glorioso, mas não podemos viver eternamente dele.

Independência, Abolição e República tiveram a participação direta e fundamental de maçons, mas fazem parte dos livros de história.

Dia desses, minha esposa perguntou o motivo de tudo na maçonaria ter tratamento superlativo:

Potência, Soberano, Sapientíssimo, Supremo, Eminente, Poderoso, Grande, Venerável, Ilustre, Respeitável, Excelso, Colendo, Egrégio, e por aí vai.

Confesso que fiquei sem resposta.

Daí comecei a matutar. E isso nem sempre é bom...

Diagnostiquei como sendo complexo de superioridade, vangloriar-se , gabar-se de ser o que não é para tentar impressionar e manter viva uma importância que faz parte do passado.

O gosto por comendas é outro sintoma.

De vez em quando cruzamos com Irmãos portando tal número de medalhas que nos perguntamos se não seria o próprio Grande Arquiteto do Universo que resolveu dar o ar da sua graça no plano terreno. 

O Relatório de Pesquisa “CMI – Maçonaria no Século XXI” analisou dados coletados no período de 21/02 a 18/03/2018 com a participação de 7.817 Irmãos das três potências (GOB, Grandes Lojas e COMAB).

O relatório é rico em dados e traz uma série de conclusões.

Mas a que mais chama a atenção é a de que “menos de 5% dos maçons brasileiros sabem o que é maçonaria, conforme os conceitos e definições mais utilizados no mundo.”

Sendo o conceito mais comum o de que maçonaria é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos” (Zeldis, Leon).

Conclui o relatório que “o legítimo objetivo maçônico, de ensino de moralidade, de transformar bons homens em melhores, vai sendo preterido, ignorado, esquecido...” e “se não se sabe o que é, não se sabe o que realmente se deve fazer... distanciando-a (a maçonaria) de seus legítimos objetivos e de sua própria razão de existir enquanto instituição”.

Parece que chegamos ao cerne do problema da atual situação de nossa Ordem.

Ao invés de querer que a nossa sublime instituição tome as rédeas da política, beneficência, ação social, etc., devemos preparar o homem maçom, através do ensinamento da moralidade, para que este o faça.

Não é a maçonaria enquanto instituição, mas sim os maçons devidamente preparados que agirão, conforme os preceitos de moralidade e ética, nas empresas, órgãos públicos, escolas, lares, associações, etc., difundindo e aplicando os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

O foco principal da maçonaria deve ser a formação do maçom.

A continuarmos do jeito que está, iremos nos tornar, se é que já não nos tornamos, um clube de serviços onde nos reunimos para troca de favores e obtenção de vantagens pessoais.

Sem esquecer, é claro, das medalhas, paramentos, etc. 

Vamos a todo custo e nunca a qualquer custo!!!

Há irmãos que foram ícones quando Aprendiz, mas bastou a primeira medalha 🥉 para deixar de cavar masmorras e passar a edificar um templo único à vaidade.

E por fim, aquele que foi referência passa a ser questionado, até que um dia seu castelo de vaidades se esvai em ruínas.

Surge então uma derradeira oportunidade de reconciliação com a JUSTIÇA e PERFEIÇÃO...

Basta apenas o querer servir e não mais ser servido...