Pinóquio é um mito e também uma alegoria esotérica de cunho estritamente espiritual. Infelizmente nos dias de hoje o arcano contido na história do Pinóquio passa despercebida aos olhos dos profanos e também da grande maioria dos iniciados. Pinóquio é uma história em forma de ensinamento que visa o despertar da consciência e trazer auto-conhecimento.
Creio que todos conhecem a história do Pinóquio, principalmente aqueles que já devem ter assistido ao desenho original da Disney.
O criador original do personagem Pinóquio foi o escritor e maçom italiano Carlo Lorenzini Collodi no ano de 1881.
Lorenzini era um maçom ligado aos Ritos Esotéricos de Misraim, sendo ativista político e escritor de vários jornais da época. Possuidor de um senso muito crítico, ele estava acostumado a criar personagens sátiros para expor a sua visão política daquele momento.
As aventuras de Pinóquio, criada em 1883, era uma fábula infantil sobre as aventuras e desventuras de uma marionete em sua ansiosa busca para se tornar um menino real de carne e osso (ou seja, o homem encarnado quer se tornar Deus, independente e autoconsciente).
O Mito Pinóquio, assim como a maioria das obras e símbolos esotéricos, tem duas maneiras de serem compreendidas, (assim como os mitos e símbolos maçônicos), possuindo o seu lado profano ou “eXotérico”, voltado exteriormente aos leigos, e a outra parte iniciática “eSotérica”, que possui toda uma simbologia com ensinamentos secretos (arcanos) importantes, os quais não passam desapercebidos pelos verdadeiros iniciados do esoterismo, que veem além da narrativa inocente e tola dos acontecimentos.
Em Pinóquio, Lorenzini tomou todos os cuidados ao criar uma narrativa que segue à risca uma antiga tradição dos textos esotéricos e místicos, com uma estória simples e direta que faz todo sentido para a grande massa e outra com um significado oculto e também direto aos místicos e esotéricos.
No desenho, Pinóquio é o boneco teimoso e mentiroso, de caráter duvidoso, que tem no velho ARTESÃO Gepeto o seu criador. É aqui que começam os ensinamentos ocultos, pois Gepeto deve ser visto como o Demiurgo (criador do universo), citado por Platão em suas sobras.
Gepeto (assim como Demiurgo), é o deus menor entre os deuses do mundo material. É uma entidade que cria os seres não evoluídos e imperfeitos, que por isto devem evoluir, passar pelos percalços da vida física até se tornarem perfeitos.
Após criar o boneco (humanidade) ,Gepeto (o Demiurgo) vibra feliz com a sua mais nova criação. Porém sente que o boneco (humanidade) não está completo, então pede ajuda ao Grande Deus para que insufla no Pinóquio (Adam) o fôlego da vida (Nefesh), que transformaria o boneco em uma pessoa de verdade, ou seja, traria a luz vivificante ao homem de barro ainda inerte.
A fada que aparece para dar ao boneco sua “centelha de luz universal” é a representação da “Mãe Divina” (Sophia), ou seja, a “Mente Universal” que concedeu a consciência a todos os seres vivos.
A fada concede a Pinóquio o dom da vida (Nefesh), do livre arbítrio (Ruach), porém ele ainda não é um menino de verdade, por que a vida real de um “homem autêntico” só tem início quando ele realmente se “ilumina” com Neshamah.
Na maçonaria esotérica (Rito Misraim) afirma-se que: “A iluminação espiritual humana é algo que se conquista através da utilização da força de vontade (malho) unida a inteligência (cinzel)”, ou seja, autodisciplina e autoconhecimento. Somente assim Sophia concede a gnose a alma humana.
Pinóquio começa então a sua grande jornada em busca da sua “iluminação”, processo que inicia a partir de um pedaço inerte de madeira bruta sem vida (Pedra Bruta), para se tornar num homem consciente e autêntico. Entretanto um processo de amadurecimento interior deve ocorrer para tal mudança, pois Pinóquio (homem caído ou imperfeito) deve lutar contra os desejos primitivos dos instintos e também contra todas as tentações carnais, colocando-se muitas vezes em luta contra a sua própria consciência (sua consciência é simbolizada pelo Grilo-Falante ). Quando Pinóquio mente ao grilo falante, é nosso ego inferior querendo argumentar e justificar algum erro, porém nossa consciência mais profunda sabe o que é certo e errado. Outro fato interessante, que tange a constituição oculta do homem, é que ao mentir, o nariz de Pinóquio cresce, da mesma forma como o homem, ao mentir, o sangue sempre se acumula no nariz, causando desconforto e até coceira.
Sendo o primeiro desafio da sua jornada, a de obter o conhecimento (simbolizado pela escola que Pinóquio iria frequentar), Pinóquio prossegue sua jornada de aperfeiçoamento humano e uma série de acontecimentos e tentações atravessam seu caminho.
No caminho para a escola (busca do conhecimento – Gnose), Pinóquio encontra uma raposa e um gato (Mente inquiridora e Egoísmo), os quais tentam desviar Pinóquio para “um caminho mais fácil”, que na história é o caminho da fama e do sucesso. Entretanto a sua consciência (Grilo Falante) o adverte a todo instante, sem êxito, pois Pinóquio sucumbe às faculdades do seu ego (astúcia da mente inquiridora representada pela raposa e egoísmo do eu inferior representado pelo gato) aceitando ser vendido a um Circo de fantoches (mundo repleto de seres humanos alienados e iludidos).
Logo Pinóquio já estará acostumado com todos os gozos e benefícios do caminho mais fácil, que são: - fama, fortuna e a companhia das lindas marionetes.
Durante este caminho escolhido, Pinóquio descobre dolorosamente que não poderá mais ver o seu criador novamente, pois todos os bens e dinheiro que ele ganha no circo (mundo material) somente permite enriquecer o dono do circo (Satã, o Opositor, o Rei desse mundo material), e que no final do caminho, quando ele não for mais de utilidade ao circo (mundo material), ele terá um destino triste pouco glorioso.
Só então ele se dá conta de que “vendeu sua alma” ao dono do Circo (Satã, Deus desse mundo inferior) que representa o mundo cheio de desejos carnais mais vulgares.
Pinóquio então recorda a sua consciência e passa então, a tentar escapar daquela prisão em que se tornou o circo (mundo material), porém agora, somente uma intervenção divina poderia salvá-lo.
Somente quando se arrepende e reconhece a sua fraqueza, os seus erros e falhas, que a fada (a Mãe Divina) o liberta.
Ao tentar voltar ao caminho da escola (busca do conhecimento) ele novamente é interrompido pela figura da raposa (mente questionadora), que dessa vez atrai Pinóquio para a “Ilha dos Prazeres ”, um lugar onde não existem escolas e nem leis, onde as crianças podem fazer o que quiserem, tudo sob olhar atento da sinistra figura do “Cocheiro”, que representa o guardião do Umbral.
A iIha do prazeres simboliza nossa “vida profana” no mundo, cujas principais características são a ignorância da verdade e a busca vagabunda pela satisfação imediata das necessidades corporais, ou seja, o profano (vulgo ou homem comum) vive somente e tão somente em busca da realização dos desejos e impulsos mais superficiais e baixos.
O Cocheiro (Guardião do Umbral) obviamente incentiva esse comportamento vagabundo, pois sabe que isso é perfeito para seus objetivos de obter mais escravos para seus propósitos deste mundo inferior. Na história isto é representado pelas crianças que logo começam a se transformar em burros, os quais são utilizados pelo Cocheiro para trabalhar como animais escravos em uma mina de ouro.
Pinóquio logo começa a também se transformar em um burro, ou seja, ele é um ser totalmente material dominado pelo seu ego (eu inferior), ele é alguém que já abandonou quase que completamente o seu contato com seu Eu divino superior, a sua consciência espiritual.
Novamente Pinóquio toma consciência de ter tomado o caminho errado, e consegue escapar da vida profana, recuperando sua consciência.
Assim Pinóquio retoma ao seu caminho devido de volta para casa, para reintegrar e estar junto de seu pai, o seu Criador – O Demiurgo Gepeto.
O próprio nome Gepeto é simbólico, pois deriva do italiano Giusepe, ou seja, José, Pai de Jesus.
Voltando ao mito Pinóquio, quando ele enfim chega em casa, Pinóquio percebe que a casa está vazia, e que Gepeto havia saído e ido ao seu encontro, porém no caminho, Gepeto havia sido engolido por uma baleia.
Pinóquio então salta na água e ele é engolido pela baleia também, e por fim encontra seu criador dentro da Baleia (o homem encontra a pedra oculta – VITRIOL).
Essa é uma parte muito interessante, pois nos revela que a iniciação final do boneco Pinóquio (o homem) que deseja se tornar um menino de verdade (ser iluminado) está chegando ao seu fim, pois o ventre escuro do animal baleia representa que a verdadeira busca está dentro de si e não fora. Quando Pinóquio se encontra na escuridão e procura a luz que dá acesso a saída daquele local, isto representa a busca humana pela luz espiritual, a luz da consciência plena e sem obscuridades que liberta o humano da sua condição animal.
É importante notar que essa parte do desenho tem um grande significado oculto e esotérico, baseado no “Livro bíblico de Jonas” que é uma leitura obrigatória ao iniciado maçom esotérico. (falaremos sobre Jonas mais adiante).
Finalmente, Pinóquio conseguiu superar as dificuldades e obter o seu aprendizado. Ele se livrou da escuridão da ignorância (o interior da baleia), emerge da tumba ressuscitado (assim como a conhecida história de Jesus) e agora ele é o menino de verdade, ou seja, um homem iluminado com Neshamah, liberto da vida material.
Pinóquio agora consegue abraçar o seu Grilo-Falante (o eu interior, eu superior e divino), ganhando da sua fada um distintivo de OURO, perfeito simbolismo do seu sucesso “alquímico” interior de transformar madeira bruta em ouro, ou seja, a consciência inferior do boneco de madeira em uma mente iluminada do menino de verdade.
Pinóquio é uma fábula espiritual riquíssima, descrevendo a busca interior pela consciência do EU superior e o seu verdadeiro lugar no universo perante a consciência de Deus.
Pinóquio é uma fábula de conteúdo iniciático místico e esotérico inspirado no clássico “Jonas e a Baleia” que conforme veremos a seguir, é uma poderosa e importante obra do conhecimento para se alcançar a “iluminação”.
Jonas é um personagem bíblico que recebe a ordem dada por Deus (Demiurgo) para ir para a cidade de Nínive profetizar, porém Jonas o desobedece e foge, tomando um barco que ia para o lado oposto (ou seja, o profano busca os bens materiais e não os espirituais).
Então sobrevém uma forte tempestade. O capitão desesperado, decide procurar Jonas que havia descido para o porão e encontra-o deitado, dormindo em um sono profundo.
O Capitão do navio lhe diz: “Como podes dormir tão profundamente? Como podes dormir no meio deste desespero que nos faz sucumbir? Porque não és capaz de nos ajudar a tentar sobreviver?”
Jonas então revela ao capitão do navio que havia desobedecido a Deus, e pede que lhe joguem ao mar.
Logo que Jonas cai ao mar a Tempestade cessa. Dentro do mar, Jonas é engolido por uma enorme baleia, dentro da qual ele passa 3 dias e 3 noites orando a Deus e pedindo que lhe dê uma segunda chance. Assim Deus lhe perdoa e Jonas é liberto do interior da baleia, seguindo doravante o seu destino.
A história de Jonas é realmente uma lenda da iniciação nos grandes mistérios, pois a baleia ou o “grande peixe” representa a escuridão da ignorância que domina o homem quando ele é jogado para o fora do navio (ou seja sai do seguro reino celestial para aqui nascer) no mar (vida terrena).
Quando usado como um símbolo do mal, o peixe representa a natureza animal e inferior do homem em seu próprio túmulo (corpo físico).
Assim Jonas passou três dias e três noites no ventre do “grande peixe”, da mesma forma como Cristo passou três dias e três noites no seu sepulcro.
Assim como Pinóquio, Jonas é o arquétipo do homem caído ou deitado, que está adormecido na matéria, do homem que não quer se levantar e não quer cumprir sua missão.
Jonas é o arquétipo do homem que foge da sua missão, que foge da sua verdadeira natureza ou identidade divina, que foge do verbo interior, que foge da sua vocação, da sua realização.
Quando Jonas dentro da baleia decide retomar seu caminho, ele não teme mais nada. É a fênix que renasce das cinzas. É Osíris que morto, renasce em Hórus (Ouros). É Jesus, morto crucificado, renasce como Cristo ressuscitado.
Há momentos em nossas vidas que não podemos mais mentir para nossa própria consciência. Chega uma hora em nossa vida que nós somos obrigados a ser autênticos conosco mesmos, não podemos mais fugir.
Assim como no mito Pinóquio, o arquétipo da história de Jonas é um convite para que nós mergulhemos nas profundezas de nosso inconsciente, para passarmos através das nossas próprias sombras (raposa e o gato no mito Pinóquio), para após passarmos pela experiência da morte, aceitarmos nossa missão, nossa condição como humanos mortais e descobrirmos, em nós mesmos, a nossa essência imortal (alma espiritual).
Ir de encontro ao destino é realizar plenamente o potencial que está desde a eternidade dentro de nós.
É ouvir o chamado, atentar e responder à ele. É desabrochar todas as nossas potencialidades e seguir nossa vocação pré-escolhida antes de nascer neste mundo.
Saibam que estranhamente o mundo costuma nos corresponder quando agirmos assim, sem covardia.
Uma das formas de saber se realmente estamos indo no bom caminho e que estamos fazendo aquilo para o qual nascemos, é parar e perceber se o mundo está nos abrindo as portas e que, se mesmo nós nos negando a usufruir dos seus benefícios, nós continuaremos os tendo a disposição.
Como sempre, deixo que cada um tire suas próprias conclusões, pois todo iniciado deve compreender que não existe uma verdade absoluta, mas apenas parcial, fruto da pesquisa pessoal, da opinião própria e consciente.
.•.FILÓSOFO VELADO