novembro 12, 2022

A RELIGIÃO QUE ME HABITA - Newton Agrella



Minha religião não tem nome.

Ela é apenas resultado de causa e efeito.

Minha religião não impõe dogmas.

Ela é um instrumento de culto ao espírito e ao intelecto.

Minha religião não estabelece limites. 

Ela se ocupa de respeitar a fé e a razão como uma possibilidade real e necessária da minha sobrevivência.

Ela aponta o caminho que me instiga à contínua busca da minha consciência.

Minha religião ensina que todas as denominações são trilhas diversas para buscar fazer o bem e a ajudar a entender a razão da minha existência.

Não importa o nome, as práticas ritualísticas ou tampouco sua liturgia.

Basta que eu compreenda que sou fruto de um princípio criador e incriado e que me manifesto como resultado dessa referência.

Minha religião não obedece a uma doutrina nem invoca pra si a dona de uma verdade absoluta.

Minha religião é a essência humana que habita em mim e que se identifica através de infinitas emoções, sentimentos e sensações que consigo exprimir.

Minha religião sou eu. 

Simplesmente porque sou uma partícula de Deus.


novembro 11, 2022

A IMPORTÂNCIA DE UM PADRINHO NA FORMAÇÃO DE UM MAÇOM - Rui Bandeira









O texto de hoje vai abordar algo que, no meu entendimento, será bastante relevante para a Maçonaria: o papel que um padrinho deverá ter na formação do seu afilhado maçom.

Um padrinho deve ter a sensibilidade para poder analisar quem deve ou não fazer parte da Augusta Ordem Maçônica. E padrinho pode ser qualquer maçom exaltado à condição de Mestre. O Mestre é o maçom de pleno direito. Logo tem a responsabilidade de fazer respeitar os princípios da Ordem, auxiliar na formação dos seus Irmãos, detenham eles o grau que tiverem e, apesar de não fazer proselitismo, deve procurar no mundo profano quem tenha qualidades para ingressar na Maçonaria e, com essa admissão, possa desenvolver um trabalho correto, tanto pela Ordem Maçônica bem como pela sociedade civil na sua generalidade.

O padrinho não tem de ser um guru nem ser um visionário; o papel que ele deverá representar para o seu afilhado é o de um guia, de uma pessoa que o auxilie na sua integração na Loja, bem como de alguém que o ajude na sua formação maçônica, principalmente nos primeiros tempos, em complemento com a formação que é efetuada na loja, auxiliando também o Segundo Vigilante (cargo oficial desempenhado pelo terceiro elemento da hierarquia de uma loja maçônica) no cumprimento das suas funções, nomeadamente como formador dos Aprendizes Maçons.

Compete ao padrinho, após identificar no mundo profano alguém com as capacidades intelectuais e morais que são necessárias para ser reconhecido maçom, abordar o mesmo, da forma como achar que será melhor recebido pelo seu interlocutor. Na maioria das situações, a abordagem é feita pelo reverso, alguém que é profano e que se identifica com a Maçonaria intercede junto de um maçom para que lhe seja concedida a entrada na Ordem.

Independente da maneira de como é feita a proposição, cabe ao maçom que irá ser o padrinho efetuar algumas diligências, ou seja, conhecer os gostos e preferências do seu futuro afilhado bem como os hábitos e as rotinas que ele possa ter (se não os conhecer anteriormente), isto é, tudo aquilo que é habitual em um ser humano, ou seja, conhecê-lo!

E numa fase posterior, se concluir que o profano detém as qualidades necessárias para entrar na Maçonaria, deve abordar alguns temas de âmbito maçônico, retirando algumas das dúvidas que possam persistir na mente do seu futuro apadrinhado sobre o que a Ordem Maçônica é e qual o seu papel no mundo. 

Mas, mais do que isso, na minha opinião, o futuro padrinho deve fazer-se acompanhar pelo profano em eventos maçônicos de abertos (públicos) onde este poderá ter um contato mais próximo com o que é a Ordem, ou seja, frequentar eventos e palestras onde a Maçonaria seja o tema principal a ser abordado. 

Neste caso, admito que começará aqui, para mim, a formação maçônica do futuro iniciado. Pois, se o mesmo afinal decidir que não se identifica com o que encontra, observa e escuta, então o processo de indicação não terá início e o profano aproveitará apenas para aumentar a sua cultura geral sobre o que à Maçonaria e ter uma opinião mais concreta sobre essa Augusta Ordem. 

No entanto, caso o profano se identifique claramente com o que lhe é mostrado, deverá então ser iniciado o processo de indicação para a admissão numa loja maçônica; de preferência que seja na loja que é integrada pelo seu padrinho. Isso é de extrema importância. E porquê?!

Porque durante o desenrolar do processo de indicação, os membros da loja confiarão no zelo que o padrinho se propõe a cumprir ao apadrinhar o candidato em avaliação, porque o conhecem, e também estes, por sua vez, respeitarão quem vier a ser escolhido para ser acolhido pela loja. 

E depois, porque o padrinho deverá acompanhar o seu afilhado na assistência das sessões da loja a que estes pertencem, para que ele não se sinta sem apoio e desintegrado do grupo de pessoas que ainda não o conhece, mas que deverá conhecer com o passar do tempo.

Acontece também o contrário, por vezes quem chega a uma loja maçônica já é popular no mundo profano, ou poderá ter relações profanas com alguns membros da loja e assim a sua integração é mais facilmente consumada.

Mas, apesar de todo a fraternidade existente na Maçonaria em geral, os “primeiros tempos de vida” de um maçom podem-lhe parecer estranhos porque terá de ser relacionar inclusive com gente que talvez, no mundo profano, preferiria evitar. É verdade, que tal pode acontecer e ainda bem que tal assim acontece. Dessa forma, é possível um entendimento que de outra maneira não seria possível acontecer; porque os irmãos são “obrigados” a confraternizar; logo, encontrar "pontos de comunhão” e de “convergência”. 

Também, pelo fato de se terem de relacionar, isso obrigará que as pessoas se conheçam melhor e, com isso, desfazer eventuais preconceitos que poderiam ter anteriormente e que se assumirão posteriormente, como errados e descabidos. Outros quiçá, manterão a mesma opinião que anteriormente. Tal poderá acontecer, somos humanos e em relação a isso pouco se pode fazer… A não ser, tolerar e respeitar o próximo tal como outra pessoa qualquer o deve merecer.

Os maçons são como as outras pessoas, não são perfeitos; a forma de como combatem as suas paixões e evitam os seus vícios é que os difere das demais pessoas. 

E ter um padrinho que os guie corretamente nessas situações, que lhes dê a mão para os apoiar quando necessitarem disso e que, acima de tudo, os critique quando o deva fazer para os manter num bom caminho, marcará de todo a diferença. Isso é “meio caminho andado” para um crescimento maçónico correto e que não seja funesto para a Ordem no futuro. Os casos que normalmente vêm a público no mundo profano devem-se a erros de seleção, em que a pessoa não se identificou depois com os princípios morais que encontrou na Maçonaria. 

Por isto é que não basta a um padrinho convidar ou apadrinhar alguém apenas por ser seu amigo, por ser seu colega ou por essa pessoa ter alguma influência ou notoriedade no mundo profano. Esse “alguém” terá mesmo de se identificar com a Maçonaria, porque, caso contrário, será uma perda de tempo ao próprio Maçom e à loja maçónica que o acolher.

E nos casos em que os maçons “derrapam” ou se desviam do seu caminho na virtude, os padrinhos deveriam ser também responsabilizados, isto é, serem chamados à atenção por terem trazido para dentro da Instituição Maçónica quem agiu de forma errada e que levou a imagem da Augusta Ordem a ser questionada profanamente. Obviamente que não digo que fossem punidos, mas que fossem alertados do perigo que é apadrinhar gente com esse tipo de conduta, para que no futuro sejam mais zelosos nas suas indicações.

Naturalmente que um padrinho não pode ser culpado, a não ser que seja cúmplice, da atuação do seu afilhado, mas se puder prever que o mesmo possa se desviar e errar, deve alertar o mesmo dos riscos que este corre, seja de suspensão ou até mesmo de expulsão da Ordem, com tudo o que isso acarretará moralmente para ambos. Porque mesmo em surdina, as “orelhas” do padrinho sofrem sempre as consequências dos atos do seu afilhado. É habitual o ser humano criticar algo, todos somos “treinadores de bancada”, logo criticar-se algo que não correu bem é a consequência lógica de tal. Por isso até mesmo quem entra na Maçonaria deve refletir na sua conduta para que não ponha a imagem dos outros irmãos em questão.

Porém, e ainda no âmbito da instrução maçônica de seu afilhado, o padrinho deverá complementar a formação que será concedida pela loja ao seu apadrinhado; porque ao lhe demonstrar também que a Maçonaria vive de símbolos, metáforas e alegorias, mas fundamentalmente, da prática de rituais próprios, também ele (padrinho) ao instruir o seu afilhado, poderá refletir e por em prática os conhecimentos que já adquiriu até então - o que é sempre uma mais valia pessoal - e que lhe permitirá vivenciar o que também ele aprendeu durante a sua formação até atingir o mestrado.

Conhecer e ensinar outrem é o melhor que o ser humano poderá fazer pelo seu semelhante. Tanto que acredito que o Conhecimento somente é Sabedoria quando compartilhado.

Mais tarde, quando o seu afilhado já se encontrar na condição de mestre, já não será tão essencial ter aquela “especial” atenção que considero como importante na caminhada de um maçom, porque este já atingiu uma parte importante da sua formação maçônica e concluiu o seu percurso até à mestria. No entanto, nunca o poderá abandonar, pois apesar de ser um irmão seu, será sempre o seu afilhado, logo alguém que um dia reconheceu como tendo capacidades e qualidades maçônicas. E essa responsabilidade nunca desaparecerá. 

E isso é algo que por vezes acontece e que eu considero como sendo nefasto para a vida interna de uma Obediência. Não basta convidar alguém, se iniciar alguém, (mal) formar alguém e depois deixá-lo à mercê dos tempos e vontades; virar as costas a um irmão, mesmo que seja inconscientemente, nunca trará resultados frutuosos para ninguém e principalmente para a Ordem. É na nossa união que reside a nossa força, é com nosso apoio que conseguimos enfrentar o dia-a-dia. E se isto poderá parecer como demasiado simplista e inocente, não nos devemos esquecer que é no nosso espírito de corpo que se encontra a fonte da egrégora que é criada em loja e que é a impulsionadora da nossa fraternidade.

Assim, alguém que queira indicar a candidatura de um profano, terá de assumir que adquire uma responsabilidade tal, que nunca será irrelevante e que nos seus “ombros” suportará o “peso” de uma Ordem iniciática e de cunho fraternal como o é a Maçonaria. E que terá como seus deveres principais: reconhecer, informar, transmitir, formar e acompanhar quem ele considerar como sendo um válido (futuro) membro da Maçonaria. 

Não será uma tarefa fácil, essa de se apadrinhar alguém, mas este é um compromisso que os maçons assumem para com a Ordem e a bem da Ordem.

novembro 10, 2022

O SOL - Almir Sant’Anna Cruz







 Presente tanto na decoração do Templo quanto nos Painéis do Grau de Aprendiz de origem inglesa e francesa e no do Grau de Companheiro de origem francesa.

O homem primitivo sentia intenso terror diante dos crepúsculos que antecediam as noites frias, escuras e de perigos. Quando viam o Sol ressurgir, ao amanhecer, sentiam imensa satisfação, vendo nele um herói, sempre vencido e sempre vitorioso, uma sucessão interminável de derrotas, de ressurreições e de vitórias. Consideravam-no como símbolo máximo do poder, o poder supremo.

Todas as religiões, desde a mais alta antiguidade, tornaram o Sol como Símbolo mais constante e completo da divindade.

O culto dos corpos celestes, adorados como deuses, foi observado em um sem-número de culturas, envolvendo geralmente o medo reverente diante da beleza, da regularidade, do mistério e do poder dos astros, principalmente do Sol, seja no aspecto real ou no imaginário, que exercem sobre a vida. 

A astrolatria inicia-se com o homem pré-histórico, desenvolve-se tanto na Mesopotâmia quanto na América pré-colombiana, chegando à cultura greco-romana. 

Em Roma, o culto solar passou a religião de Estado, com o divino imperador se tornando o equivalente terrestre do Sol, como soberano do universo, ao mesmo tempo em que Mitra era adorado como deus solar.

Fonte de vida e de toda a ordem de nosso sistema solar, o Sol é como que a presença da divindade junto aos homens e, por isso, foi cultuado em todas as religiões.

Tornou-se o símbolo da majestade, da religião, da vida e da luz intelectual.

Para os místicos, o Sol simboliza a espiritualidade, o ponto central de todas as coisas, o centro da circunferência, o coração do ser humano.

Misticamente, o Sol é um inesgotável manancial de vida e luz, que dele flui sem cessar.

Generoso doador de vida, alimenta e sustenta todas as criaturas e é o coração de todo o sistema solar.

O Sol é o deus divino, o “Eu sou”, o Poder Criador, e toda a potencialidade do homem espiritual. É o reservatório central da vida, luz, amor, poder e sabedoria.

Para o Maçom o Sol representa a luz intelectual, da qual está em constante procura e também a autoridade soberana e a verdade divina

O Sol é o vitalizador essencial, a fonte de luz e vida, o princípio ativo, o Pai de generosa fecundidade que nasce no Oriente, de onde vieram a civilização e as ciências. 

Segundo o Ritual do Rito de York do Grande Oriente do Brasil, traduzido do Ritual de Emulação Inglês, “O Sol é a maior Glória do Senhor e o Universo é o Templo da Divindade a quem servimos. A Sabedoria, a Força e a Beleza rodeiam o Seu trono como pilares de Suas obras ...”


Verbete do *Dicionário de Símbolos Maçônicos: Gruas de Aprendiz, Companheiro e Mestre*

Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

novembro 09, 2022

O PODER DO SILÊNCIO - Augusto Cury


Pensar antes de reagir é uma das ferramentas mais nobres do ser humano nas relações interpessoais. 

Nos primeiros trinta segundos de tensão, cometemos os maiores erros de nossas vidas, falamos palavras e temos gestos diante das pessoas que amamos que jamais deveríamos expressar. 

Nesse rápido intervalo de tempo, somos controlados pelas zonas de conflitos, impedindo o acesso de informações que nos subsidiariam a serenidade, a coerência intelectual, o raciocínio crítico. 

Um médico pode ser muito paciente com as queixas de seus pacientes, mas muitíssimo impaciente com as reclamações de seus filhos. 

Pensa antes de reagir diante de estranhos, mas não diante de quem ama. 

Não sabe fazer a oração dos sábios, nos focos de tensão, o silêncio. 

Se vivermos debaixo da ditadura da resposta, da necessidade compulsiva de reagir quando pressionados, cometeremos erros, alguns muito graves. 

Só o silêncio preserva a sabedoria quando somos ameaçados, criticados, injustiçados. 

Cada vez as pessoas estão perdendo o prazer de silenciar, de se interiorizar, refletir, meditar. 

O dito popular de contar até dez antes de reagir é imaturo, não funciona. 

O silêncio não é se aguentar para não explodir, o silêncio é o respeito pela própria inteligência. 

Quem faz a oração dos sábios não é escravo do binômio do bateu-levou. 

Quem bate no peito e diz que não leva desaforo pra casa, não pensa nas consequências de seus atos. 

Quem se orgulha de vomitar para fora tudo que pensa, machuca quem mais deveria ser amado, não conhece a linguagem do autocontrole. 

Decepções fazem parte do cardápio das melhores relações. 

Nesse cardápio precisamos do tempero do silêncio para preparar o molho da tolerância. 

Para conviver com máquinas não precisamos de silêncio nem da tolerância, mas com seres humanos elas são fundamentais. 

Ambos são frutos nobres da arte de pensar antes de reagir. Preserva a saúde psíquica, a consciência, a tranquilidade. 

O silêncio e a tolerância são o vinho dos fortes, a reação impulsiva é a embriaguez dos fracos. 

O silêncio e a tolerância são as armas de quem pensa, a reação instintiva é a arma de quem não pensa. 

É muito melhor ser lento no pensar do que rápido em machucar, é preferível conviver com uma pessoa simples, sem cultura acadêmica, mas tolerante, do que com um ser humano de ilibada cultura saturada de radicalismo, egocentrismo, estrelismo. 

Sabedoria e tolerância não se aprendem nos bancos de uma escola, mas no traçado da existência.

Ninguém é digno de maturidade se não usar suas incoerências para produzi-la. 

Todo ser humano passa por turbulências na vida. 

Para alguns falta o pão na mesa; a outros a alegria na alma. Uns lutam para sobreviver, outros são ricos e abastados, mas mendigam o pão da tranquilidade e da felicidade. 

Os milionários quiseram comprar a felicidade com seu dinheiro, os políticos quiseram conquistá-la com seu poder, as celebridades quiseram seduzi-la com sua fama, mas ela não se deixou achar. 

Balbuciando aos ouvidos de todos, disse: “…Eu me escondo nas coisas simples e anônimas…”. 

Todos fecham os seus olhos quando morrem, mas nem todos enxergam quando estão vivos. 

...*Muitos cegam a Razão quando se empossam na Vaidade dos Cargos e Poucos reconhecem, a tempo, que esta cegueira pode ser curada com um simples pedido de Perdão*... 

Augusto Cury, em “Código da Inteligência"

novembro 08, 2022

O PARTIDO ANTIMAÇONICO - Jay Tolson (tradução de J. Filardo)




A década de 1820 parecia ser a melhor época para o relacionamento especial entre a ordem fraternal da Maçonaria e a jovem nação americana. Não era só porque muitos dos proeminentes membros da geração fundadora — George Washington, Benjamin Franklin e, na realidade, 13 dos 39 signatários da Constituição— tinham sido membros. Era também porque a república em rápido crescimento e a sociedade fraternal ainda tinha muitos ideais em comum. Os valores republicanos americanos pareciam-se com valores maçônicos expressos: atitude cívica honorável, alto apreço pelo aprendizado e o progresso, e o que poderia ser chamado de uma religiosidade ampla e tolerante. Na verdade, diz Steven Bullock, um historiador do Instituto Politécnico de Worcester, e um professor líder da fraternidade maçônica na América, os maçons “ajudaram a dar à nova nação um núcleo simbólico”.

Não é por nada que o compasso, o esquadro e outros emblemas associados à Maçonaria estampados por todos os lados, mesmo em joias, mobiliário e jogos de mesa pertencentes a maçons e também a não-maçons. Nem foi insignificante que um grande número de Americanos pensasse — erroneamente, mas justificadamente — que o Grande Selo dos Estados Unidos em si contivesse símbolos maçônicos. Era tanto um tributo e uma responsabilidade da irmandade que as pessoas vissem a influência da Maçonaria, mesmo onde ela não existia.

Desde a Revolução, os maçons se tornaram os celebrantes semioficiais da cultura cívica americana. Usando seus aventais distintivos e manejando as colheres de pedreiro — os Maçons originais eram de fato, pedreiros — eles rotineiramente lançavam pedras fundamentais de importantes edifícios governamentais e igrejas, e participavam destacadamente em paradas e outras cerimônias públicas. Quando o velho Lafayette retornou aos Estados Unidos em 1824-25, membros da “ordem” (como é chamada a maçonaria) saudaram publicamente seu companheiro maçom, convidando-o com frequência para ficar na loja local. Esta viagem incrementou a adesão à Maçonaria, que cresceu de 16.000 em 1800, para cerca de 80.000 em 1822, ou quase 5 por cento da população masculina elegível da América.

Como, então o que parecia ser a melhor época para a Maçonaria, rapidamente se tornou o pior dos tempos? Parte da resposta pode ser encontrada na reação dividida do público à viagem de Lafayette, sugere o historiador Mark Tabbert, curador de coleções maçônicas e fraternais no National Heritage Museum em Lexington, Mass., em seu novo livro, American Freemasons: Three Centuries of Building Communities (Maçons Americanos: Três Séculos Construindo Comunidades). Para muitos cidadãos, estas demonstrações públicas de afeição fraternal para com um nobre estrangeiro pareciam ter um cunho tanto elitista quanto conspiratória.  Muito simplesmente, escreve Tabbert, eles “levantaram a suspeita de que a ordem ser uma ordem internacional com segredos e um passado revolucionário radical”.

Não tão secreta. Não foi a primeira vez que a Maçonaria teria deparado com tal resposta. Desde seu nascimento como movimento fraternal organizado no início do século 18, em Londres até hoje, a Maçonaria tem sido objeto de ampla curiosidade e intensa suspeição ocasional. Com seus elaborados rituais secretos, seu envolvimento tanto com a sabedoria antiga quanto a ciência e a razão do Iluminismo moderno, e a relativa exclusividade de seus membros (os candidatos precisam pedir para entrar e, em seguida, são vetados ou aprovados por meio de voto), a irmandade maçônica provou ser na medida para os criadores de teorias de conspiração e autores oportunistas ansiosos para faturar “expondo” com imaginação as maneiras secretas e as ambições ainda mais secretas da ordem. Se o “grande segredo” dos Maçons, como disse uma vez Benjamin Franklin, “é que eles não têm nenhum segredo”, àqueles que sugerem o contrário — incluindo a fama do escritor Dan Brown do Código Da Vinci por sua próxima novela, A Chave de Salomão —  raramente falta público receptivo.

A verdadeira história da Maçonaria é, discutivelmente, mais interessante que todos os contos tecidos ao redor dela. Mas aquela história é pelo menos em parte, a história de muitas interpretações fantasiosas da irmandade. Na verdade as realizações substanciais dos Maçons –na formação de cidadãos sólidos, forjando redes sociais, fazendo a ponte entre certas divisões sociais, apoiando causas filantrópicas – são as mais admiráveis em face de esforços passados em difamar ou mesmo destruir a organização.

Um destes esforços surgiu em um amplo movimento social e político na América, menos de dois anos após o périplo triunfante de Lafayette, embora este esforço tivesse sido amplamente desencadeado pelos intrigantes, ou algo mais criminoso, de diversos membros nova-iorquinos excessivamente zelosos. No verão de 1826, na cidade de Batávia, no norte do estado, um irresponsável insatisfeito, alegando ser maçom, William Morgan declarou sua intenção de publicar um livro revelando os segredos da sociedade maçônica de alto grau, o Arco Real, que tinha, anteriormente vetado sua proposta de entrada na ordem. Preso duas vezes por acusações fabricadas por maçons locais, o pretenso expositor foi misteriosamente raptado e expulso do país ou morto. Foram levantadas acusações contra os prováveis suspeitos, todos Maçons, mas após cerca de 20 julgamentos, escreve Bullock em seu livro Irmandade Revolucionária: A Maçonaria e a Transformação da Ordem Social Americana, 1730-1840, “ somente um punhado de condenações resultaram, todas seguidas de curtos períodos de prisão”. Para um crescente número de Americanos, já precavidos contra o poder da ordem, pareceu que os Maçons tinham se safado com o assassinato. E para muitos destes mesmos americanos, tudo o que proeminentes ministros evangélicos tinham dito contra os Maçons – que eles eram deístas ou acreditavam em religião “natural” ou cultos necromânticos – parecia ser confirmado por este ato sinalizador de comportamento desonesto.

O Partido Anti Maçônico

Os “comitês Morgan” que originalmente se propuseram a estabelecer a verdade sobre o crime logo tornaram-se a ponta de lança de um movimento em nível de estado e, em seguida, um Partido Antimaçônico nacional dedicado a eliminar os Maçons. Pennsylvania e Vermont elegeram governadores Antimaçônicos, e o ex Procurador Geral dos EUA, William Wirt candidatou-se a presidente pelo partido em 1832, vencendo a votação em Vermont e obtendo cerca de 8 por cento do voto popular nacional.

O partido logo desapareceu à medida que os partidos Democrático e novo Whig aumentaram seus esforços organizacionais para dominar a cena política Nacional. Mas além de fornecer um modelo para futuros movimentos americanos de questão única, desde o abolicionismo à temperança, até o Partido Verde atual, o movimento anti-maçônico quase eliminou a fraternidade. O Estado de New York abrigava cerca de 500 lojas locais em meados de 1820, mas somente 26 lojas reuniam representantes para comparecer às reuniões da grande loja estadual em 1837. Quase dois terços das lojas de Indiana foram fechadas no mesmo ano. Até o final da década de 1830, a Maçonaria estava começando um lento retorno, mas como escreve Bullock, “ela nunca mais recuperaria a posição exaltada que a Maçonaria já tinha justamente merecido”.

Como a Maçonaria tinha chegado a tal posição exaltada na vida pública americana, brevemente, para perdê-la antes de recuperar um manto menos importante de respeitabilidade, é uma história que começa na Escócia e Inglaterra. Descendentes de guildas medievais de pedreiros, as lojas do século 17 na Inglaterra ainda eram dominadas por maçons reais (ou “operativos”) que gradualmente acolheram em suas fileiras, geralmente como patronos, cavalheiros selecionados, desde que eles jurassem lealdade à coroa e fé em Deus. Estes membros “aceitos” eram atraídos pelo caráter sociável das fraternidades (que tipicamente se reuniam em bares e tavernas), e também por rituais particulares e sinais que tinham, anteriormente, ajudado os artesão a proteger segredos de sua arte. Os vínculos da Maçonaria com a arquitetura antiga, a geometria e outras artes e ciências racionais aumentou sua atratividade para homens que participavam de, ou acompanhavam de perto o desenvolvimento da moderna ciência experimental.

Buscadores da Sabedoria. À medida que membros aceitos vieram a dominar as diferentes lojas, muitos dos quais também eram membros da Sociedade Científica Real da Inglaterra, o foco da vida fraternal mudou para considerações filosóficas (ou “especulativas”) e a exploração de conexões entre novas leis da natureza descobertas e a sabedoria de civilizações antigas. “Eles estudavam arquitetura Grega e Romana, e o Templo do Rei Salomão”, escreve Tabbert, “buscando as chaves para desvendar as verdades perdidas de civilizações antigas.” Na verdade, as genealogias altamente mitologizadas da Maçonaria, davam, com freqüência, ao templo que Salomão construiu em Jerusalém em 967 a.C, um lugar proeminente na tradição Maçônica. As diferentes características arquiteturais do templo e a história de seu pretenso chefe construtor, Hiram Abiff, se tornaria o centro da sabedoria simbólica e rituais de iniciação da fraternidade.

Na América, a Maçonaria foi avidamente abraçada tanto pelo estabelecimento cavalheiresco quanto por membros das classes comerciais e de artesãos que aspiravam àquele estabelecimento. Na verdade, a Maçonaria encorajou movimento social e uma elite mais inclusiva através da educação, o cultivo de polidez e honra, assistência mútua, rede social de contatos e tolerância com diferenças no delicado assunto da religião. (Esperava-se que os irmãos honrassem “aquela religião em que todos os homens concordam [isto é, acreditar em um “Deus beneficente”], deixando suas opiniões particulares para si mesmos”, escreveu o escocês James Anderson, um ministro Presbiteriano que, em 1723, publicou as Constituições dos Maçons, o primeiro registro oficial da Grande Loja).

Alpinistas sociais.

Até a Revolução, homens de caráter, talento e ambição usaram a Maçonaria para subir na escada social. Antes de sua famosa viagem, Paul Revere era conhecido como proeminente prateiro e Maçom. Um amigo de Boston, um afro-americano livre e um dono de selaria chamado Prince Hall, astutamente  avaliaram  os benefícios da fraternidade. Em 1775, ele e 14 outros afro-americanos foram iniciados em uma loja militar Inglesa. Hall e diversos outros irmãos fundaram sua própria loja durante a Revolução. A Maçonaria Prince Hall, como foi chamada após a morte de Hall em 1807, espalhou-se para Rhode Island, Pennsylvania, e mais além, para tornar-se um poderoso crisol de liderança afro-americana, mesmo enquanto oferecia caridade e outro suporte à comunidade negra. Embora afro-americanos possam ingressar em qualquer loja, a Maçonaria Prince Hall permanece uma parte vital – e ainda separada – da tradição maçônica americana.

Após a Revolução, relutantemente rompendo os laços com as grandes lojas de Londres (Os maçons realmente acreditavam que seus laços fraternais transcenderiam a política), as lojas americanas se reorganizaram sob grandes lojas estaduais. A Maçonaria também começou a mover-se para o interior do país, promovendo conexões comerciais e outras entre cidades costeiras e a fronteira que avançava continuamente.

A Maçonaria na América é uma história de sucessivas reinvenções, diz S.Brent Morris, um estudioso de Maçonaria e editor do Scottish Rite Journal. De 1790 até 1820, maçons americanos mais jovens importaram dois novos sistemas de altos graus da Maçonaria, o Rito York, seguindo as tradições inglesas, e o Rito Escocês, seguindo práticas francesas. O Rito Escocês e o Rito York encorajaram mais instruções rituais em moralidade, embora promovessem algumas idéias fantasiosas sobre as origens da fraternidade. (Talvez a mais influente fosse a lenda de que os Maços descendiam dos Cavaleiros Templários medievais, uma ordem que caiu em desgraça com a Igreja Católica Romana antes de desaparecer substancialmente por volta de 1300). Os novos ritos secretos e elaborados atraíram membros, mas também acrescentou às suspeitas dos críticos que já consideravam os Maçons elitistas com segredos demais para serem confiáveis.

À medida que a Maçonaria reviveu após a campanha anti-maçônica, os Maçons cultivaram um estilo mais modesto. Lá se foram as festanças em tavernas e brindes que incomodavam os evangélicos. A própria ordem “assumiu uma coloração mais evangélica”, diz William Moore, um historiador da Universidade da Carolina do Norte-Wilmington e autor do inédito “Templos Maçônicos: Maçonaria, Arquitetura Ritual, e Arquétipos Masculinos”. “Os livros que os maçons produziram”, nota Moore, “pareciam manuais de catecismo de domingo com ilustrações que pareciam iluminuras de Bíblias Vitorianas”. Os maçons também começaram a direcionar esforços caritativos para comunidades maiores, e não apenas aos companheiros maçons e suas famílias.  E parcialmente para acalmar a crítica  das mulheres, os Maçons criaram a Ordem da Estrela do Oriente e outras filiais para que as mulheres participassem. Mesmo hoje, “a maçonaria mais ampla é somente masculina”, diz Morris, embora lojas estaduais  definam suas próprias regras até certo ponto, e existam alguns grupos mistos.

Após a Guerra Civil, e à medida que a Gilded Age prosseguiu até o início da década de 1870, os maçons mais uma vez modificaram seu papel, tornando-se o modelo para mais de 300 grupos fraternais que apareceram durante os próximos 50 anos. Durante esta “era dourada” de ordens fraternais, a Maçonaria e sociedades tais como Odd Fellows e Knights of Pythias ofereceram uma proteção contra a economia dinâmica e, com freqüência, mortal e uma sociedade cada vez mais diversificada. Reforçando seus bons trabalhos, incluindo o apoio a escolas e hospitais, os Maçons até mesmo encontraram uma maneira de misturar o convívio fraternal com a filantropia, criando os Nobles of the Mystic Shrine em 1870. Aberto somente a Maçons que tivessem completado os graus do Rito Escocês ou York, esta ordem voltada para festividades celebrou a personalidade bem formada em uma época que estava começando a valorizar a personalidade em detrimento de ideais mais antigos de honra e caráter. Os Schriners aprenderam a se divertir enquanto levantavam dinheiro para hospitais e ambiciosos templos Shrine.

Boato Satânico

A despeito dos bons trabalhos da fraternidade, mitos de fatos obscuros continuaram a assombrar a Maçonaria. No final da década de 1880, um malicioso escritor francês e ex-maçom, conhecido por seu pseudônimo literário de Leo Taxil, começou a jogar com os medos dos católicos em relação à ordem. Ele alegava expor os maiores segredos da ordem, conhecidos apenas dos maçons dos mais altos graus: que a religião secreta da maçonaria era a adoração de Lúcifer. Mesmo depois que Taxil confessou ser um boato em 1897, o mito serviu como um princípio de material anti-maçônico, empurrado em livros como o New World Order de Pat Robertson.

Mas, o maior desafio da Maçonaria não foi sua susceptibilidade ao uso em fantasias de conspiração. Pois todos os maçons se integraram na sociedade mais ampla, e apesar de ter um número de membros na casa dos milhões, a Maçonaria parecia menos central para a América nos Anos Vinte, e seus “candidatos” no estilo Babbitt, criavam grupos como os Kiwanis e o Rotary, que eram mais abertamente amigáveis e tinham muito menos demanda por rituais. Ainda assim a velha ordem fraternal viu mais um crescimento. Após o final da guerra, “a fraternidade maçônica realizou os lucros de seu trabalho duro entre a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial”, escreve Tabbert. “A ordem era mais aceita e apreciada que…. antes de 1929”. Entre 1945 e 1960, o número de membros cresceu de 2,8 milhões até um pico de 4 milhões.

Daquele píncaro, a ordem perdeu lentamente mais de metade de seus membros. Para um número crescente de americanos que gastam seu tempo livre em buscas particulares – incluindo assistir muita televisão – as reuniões mensais e compromissos voluntários de vida fraternal parecem excessivos. Mas, recentemente, diz Morris, a taxa de declínio estabilizou-se. O historiador Moore sugere um motivo: “Muitos homens estão entrando na aposentadoria.”

Com o envelhecimento rápido da população dos EUA, as lojas começam a se encher de pessoas que tem mais tempo livre que a maior parte dos trabalhadores americanos. E quem sabe?  Estes idosos, nascidos depois da Segunda Guerra, possam mesmo descobrir como trazer os americanos mais jovens de volta para a Ordem.

novembro 07, 2022

ALEGORIAS (no enredo da Sublime Ordem) - NEWTON AGRELLA




Apesar do Símbolo representar a essência da filosofia maçônica e expressar os conceitos mais profundos de seu arcabouço dialético, esotérico, espiritual e intelectual, não há como deixarmos de registrar o protagonismo da *"Alegoria"* como instrumento que dialoga com os Símbolos, porém de maneira sutil, através de figuras de linguagem e de imagem, que se traduzem como legitima expressão filosófica.

A Alegoria pode ser definida como uma imagem literária ou uma forma de interpretação utilizada pelos pensadores gregos aos textos onde se buscava descobrir os conceitos filosóficos contidos nas narrativas mitológicas.

As Alegorias além do significado literal, podem ser representadas através de abstrações, personagens, situações, enredos, porém invariavelmente por meio de uma linguagem figurada.

Na Maçonaria, as Alegorias envolvem principalmente, ensinamentos de ordem moral. 

Lendas maçônicas utilizadas em seus vários graus, são verdadeiras alegorias.

A Alegoria na Sublime Ordem é perceptível nos rituais quando expressamos um pensamento sob forma figurada, dando significado aos Símbolos.

*Exemplos de "Alegorias "*:

*1. Jovem desbastando a pedra bruta.*

Representa o Início do trabalho de aperfeiçoamento do homem, em que o desbaste da pedra simboliza o exercício de combate à ignorância, aos vícios, aos preconceitos e ao erro e ao mesmo tempo o burilamento do interior humano

*2. Templo Interior*

É o conjunto de disposições da alma e do espírito humano que cada um possui e que precisa ser trabalhado incansavelmente através da prática da Virtude.

É um estado de consciência.

*3. A Lenda de Hiram Abiff*  

Consiste numa narrativa de cunho psicológico que traduz os processos de morte, ressurreição e o segredo de um Mestre Maçom.

*4. O Mito da Escada de Jacó*

É uma Alegoria que diz respeito à elevação moral do homem.

*5. Grande Arquiteto do Universo*  

Figura de linguagem que traduz o nome de Deus, e que representa metaforicamente a ideia de um Princípio Criador e Incriado de todo o Universo.

Cabe registrar que o próprio *Ser Humano* constitui-se na maior expressão alegórica da Natureza, uma vez que reflete todos os mistérios do Universo.

Para breve conclusão desse episódio vale notar que a origem da palavra ALEGORIA advém da língua "grega" com a composição dos termos: *allos*, "outro", e *agoreuein*, "falar em público". Ou seja: "dizer algo diferente do sentido literal".  (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa).



novembro 06, 2022

ACEITAR O QUE É - (Diário Estoico - Ryan Holiday e Sthephen Hansalman.)


 ACEITAR O QUE É

"Não queiras que tudo aconteça como desejas, mas deseja que tudo aconteça como realmente acontecerá - então tua vida fluirá bem."

(Epicteto, ENCHEIRIDION, 8)

"É fácil louvar a Previdência por qualquer coisa que pode acontecer se tiveres duas qualidades: uma visão completa do que realmente aconteceu em cada caso e um sentimento de gratidão. Sem gratidão, qual é o sentido de ver, e sem ver, qual é o objetivo da gratidão?"

(Epicteto, Discursos, 1.6.1-2)

Aconteceu algo que desejaríamos que não tivesse acontecido. Qual dos dois é mais fácil mudar: nossa opinião ou o acontecimento passado?

A resposta é óbvia. Aceite o que aconteceu e mude seu desejo que isso não tivesse acontecido. O estoicismo chama isso de " arte da aquiescência", aceitar em vez de se opor a cada pequena coisa.

E os estoicos mais experientes dão um passo adiante. Em vez de simplesmente aceitar o que acontece, eles nos exortam a realmente gostar do que aconteceu - seja o que for. Nietzsche, muitos séculos depois, cunhou a expressão perfeita para capturar essa ideia: amor fati (amor ao destino). Não é apenas aceitar, é amar tudo o que acontece.

O desejo pelo que calhou de acontecer é uma maneira engenhosa de evitar decepção, porque nada é contrário aos seus desejos. Mas sentir realmente gratidão pelo que acontece? Amá-lo?

Essa é uma receita de felicidade e alegria.


novembro 05, 2022

O REI HIRAM E HIRAM ABIF EREM FENÍCIOS DE TIRO - Almir Sant’Anna Cruz



QUEM ERAM OS FENÍCIOS?

Do livro Personagens Bíblicos da Maçonaria Simbólica 

Fenício é proveniente do latim Phoenicios, resultante do grego Phoinikeíoi, que vem de phoînix, cor vermelha, púrpura. 

Os fenícios pertenciam ao ramo cananeu do grupo semita. Chamavam-se a si próprios cananeus e à sua terra Canaã. Sua língua, semelhante à hebraica, inclui-se no grupo norte-semítico.

A Fenícia era uma estreita faixa de terra de cerca de 200 quilômetros, que ia do Mediterrâneo às encostas do Monte Líbano, limitada ao sul pelo Monte Carmelo e ao norte pela cidade de Antarados.

A Fenícia compreendia diversas cidades independentes:

- No atual território de Israel: Acre ou Acro (a mais ao sul); 

- No Líbano atual: Tiro (atual Sur), Sarepta, Sidom (atual Saida), Porfirrina, Berito (atual Beirute), Biblos ou Gebal (atual Gebeil) e Tripoli; 

- Na atual Síria: Simira, Ugarit (atual Rasshamra), Mareros, Arados e Antarados (a mais ao norte); e

- Na Tunísia atual: Cartago (inicialmente um entreposto comercial no norte da África, atual Túnis). 


Os fenícios, como a grande maioria dos povos da época, eram politeístas. Primitivamente foram adoradores de árvores, rochedos e de certas pedras negras de forma oval, os bétilos. Mais tarde passaram a adorar os astros e as forças da natureza, considerando como divindade maior o Sol. 

O culto fazia-se em templos construídos em lugares elevados ou junto à nascente dos rios. Compreendia um conjunto de práticas grosseiras, licenciosas e cruéis, com prostituição sagrada e com sacrifícios humanos, sobretudo de crianças, que se lançavam vivas aos braços incandescentes da estátua de bronze representativa da divindade, aquecida por uma fornalha. 

Suas divindades celestes chamavam-se Baal (senhor, marido, dono) e havia praticamente um deus para cada cidade: Biblos ou Gebal, Sidom e Tiro adoravam um Baal feminino (Baalat), Astartéia ou Astarte; Cartago venerava Tanit; Dagon era o protetor do litoral; Melcart, o deus das cidades, era também o Baal de Tiro. Inúmeros outros eram cultuados: Adôn (Adônis), Amom, Moloc, etc. 


Alguns nomes próprios semíticos têm Baal como origem: Aníbal, Asdrúbal, Narbal, etc.

Primeiramente os judeus usavam o nome Baal para designar o seu Deus. Mais tarde, em razão das recordações idólatras do termo, Baal deixou de ser a palavra aplicada ao Deus dos judeus, sendo comum utilizá-la para designar quaisquer das divindades pagãs.

Na Bíblia, frequentemente encontra-se o nome Baal em sua forma plural Baalim.


Além dos deuses celestes, haviam os deuses agrários. O mito da oposição entre Mot e Alein, deuses ligados à colheita e aos frutos, conta suas mortes alternadas: um no inverno, ressuscitando na primavera, e o outro percorrendo o caminho oposto.

Astartéia ou Astarte surgiu inicialmente como deusa dos pastores. Com o aumento de seus seguidores, suas virtudes foram se ampliando, vindo a se tornar a grande deusa da Natureza e da fecundidade animal e humana. 

Na Bíblia, Astartéia é referida como Astarote.

Era adorada nas cidades fenícias de Biblos, Sidon e Tiro e por outros povos sob distintos nomes: Istar na Assíria e na Babilônia; Ísis pelos egípcios; Afrodite (Vênus), a deusa do amor e Artemisa (Diana) a deusa da caça e da lua por gregos e romanos.

Como o culto de Astartéia era de natureza licenciosa, os judeus constantemente eram por ele atraídos. O próprio Salomão rendeu-lhe homenagens, edificando-lhe um templo em Jerusalém. 


‘Vivendo entre as montanhas e o mar, num litoral recortado, verdadeiros ancoradouros naturais, onde se erguiam as cidades-estado, os Fenícios inclinaram-se à navegação e ao comércio.

Seu conhecimento naval foi adquirido inicialmente com os egípcios, para quem pilotavam embarcações ao longo do Nilo e no Mediterrâneo. Posteriormente, os fenícios começaram a descobrir e eliminar os defeitos que os modelos fluviais egípcios apresentavam na navegação marítima e passaram a construir embarcações para uso específico em alto mar.

Tinham a seu favor a proximidade da floresta do Líbano, onde havia uma excelente madeira e em grande quantidade para a construção naval: o cedro do Líbano.

Como navegadores, guardavam judiciosamente o segredo de suas rotas marítimas e de seus descobrimentos, assim como os seus conhecimentos sobre astronomia, rotas migratórias de certos peixes, vôo das aves, ventos e correntes marítimas. 

Extremamente zelosos na preservação do segredo de suas rotas, havia uma exigência de caráter comercial, válida para todos os marinheiros fenícios, que os obrigavam a afundar suas embarcações se fossem seguidas e estivessem em desvantagem.

Chegaram a circunavegar a África, façanha comprovada em razão de o historiador grego Heródoto ter considerado um absurdo o relato dos marinheiros fenícios de que, em um determinado momento, o Sol começava a nascer à direita, contrariando todo o conhecimento dos povos de então. Pois esse detalhe é justamente o que comprova que os fenícios contornaram o cabo da Boa Esperança, no sul da África, retomando o rumo norte.


Pode-se dizer que os fenícios foram os primeiros a realizar uma política colonizadora de envergadura, expandindo sua influência pelas ilhas do Mar Egeu, Malta, Sardenha, Sicília, Mar Negro, Cáucaso e costa da África, onde fundaram Hipo, Útica e Cartago. Chegaram até a Espanha, à França e às ilhas britânicas.


Como comerciantes, os Fenícios distribuíam produtos provenientes principalmente do Egito, Babilônia, Pérsia, Índia, Arábia e Israel. De Chipre traziam cobre; da Trácia prata; das ilhas do Mediterrâneo mármores, alúmen e enxofre; da Espanha estanho e prata; da Índia especiarias; do mar Negro ao Cáucaso buscavam ouro, prata, cobre e escravos.

Suas indústrias produziam tecidos, inclusive de lã, utensílios de cobre e bronze, perfumes, incenso, joias e artigos de cerâmica e de vidro, cuja fabricação melhoraram descobrindo o meio de fazê-los transparentes e imitando pedras preciosas.

A púrpura era a maior riqueza dos fenícios, que detinham o monopólio da fabricação do corante extraído da concha do murex, utilizado para dar cor às luxuosas vestimentas usadas pelas aristocracias da época.

Além de negociantes, eram também piratas. Quando em pequeno número, desembarcavam num lugar, expunham suas mercadorias e contentavam-se com os lucros; mas, se eram numerosos e mais fortes que os da terra em que aportavam, muitas vezes saqueavam as casas, incendiavam os povoados e arrebatavam mulheres e crianças para vendê-las como escravos.

Voltados para o comércio marítimo, os fenícios não se interessaram pelas artes, conquanto, para satisfazer os seus clientes, copiavam com perfeição os produtos artísticos de outros povos.

Provavelmente em razão da necessidade de escriturarem seu comércio, simplificaram o complicado modo de escrever então existente, inventando o primeiro alfabeto.

Os fenícios prestaram um grande serviço à civilização, propagando entre os povos ainda incultos da Europa a cultura do Oriente. 

A CIDADE DE TIRO

Tiro, ao norte da costa da Palestina e às margens do Mar Mediterrâneo, foi um importante centro comercial fenício, uma das mais ricas cidades da Antiguidade e o maior porto do mundo conhecido na época de Davi e Salomão.

O comércio de todo o mundo estava reunido nos armazéns de Tiro. Seus mercadores foram os primeiros a se aventurarem na navegação do Mar Mediterrâneo, fundando colônias na costa e nas ilhas vizinhas do Mar Egeu, na Grécia, na costa do norte da África, em Cartago, na Sicília, na Córsega e na península Ibérica.

Tiro estava dividida em duas distintas partes: uma fortaleza rochosa chamada “Antiga Tiro”, e a cidade, construída numa pequena ilha rochosa, a cerca de 700 metros da costa. Estrategicamente, era um local muito bem-posicionado.


Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

novembro 04, 2022

Obstáculos Meramente Profanos - Roberto Ribeiro Reis




O caminho pode ser tortuoso,

Cheio de espinhos e infausto;

Tu podes estar bem exausto,

Mas desistir há de ser perigoso.


Basta apoiar-te no Ir⛬ virtuoso,

Decerto, ele te dará a mão;

Fazendo-o  com enorme devoção,

Verás o quanto ele é generoso!


Caminharás o rumo dificultoso,

Embora jamais ficarás só;

Ascenderás à Escada de Jacó,

Experenciando o que é glorioso.


Amarás até ao próximo desditoso,

Mesmo se com ele travares lutas;

Deparar-te-ás com almas impolutas

Que te ensinarão a ser caridoso.


Serás abençoado por fogo vultoso,

O que só aumentará tua proteção;

Sentirás a força de intenso clarão,

E do quão isso é muito maravilhoso!


Desapegar-te-ás dos bens terrenos,

Deslumbrado pela riqueza celeste;

Viverás pleno, de maneira inconteste,

Imune aos males, vícios e venenos.



novembro 03, 2022

POR QUÊ SE VAI À LOJA? - Sérgio Quirino




Provavelmente, a esta pergunta virão respostas, cujo cerne está no individualismo. 

Por um lado, as ritualísticas (vencer minhas paixões); por outro, as sociais (ágapes após as reuniões).

Há um imensurável equivoco quando acreditamos que o tamanho de uma Loja se dá pela estrutura física ou pelo número de Irmãos, o que a torna “Grande” ou “Poderosa” é o comprometimento dos Obreiros.

Observe que há uma diferença sutil entre Irmãos e Obreiros. 

Irmãos são todos os que, por condutas maçônicas, são reconhecidos como tal, Obreiros são aqueles, que nos instruem e inspiram, por suas condutas maçônicas, a nos tornarmos Irmãos.

Sendo um trabalho coletivo, as sessões só alcançam a plenitude nas três esferas (física, mental, espiritual) se cada um dos presentes mudar a atitude passiva de participante para a conduta ativa de participe.

A mudança está na troca do que “vou ganhar ao ir à Loja”, para o que “vou oferecer à Loja”.

Condutas simples, apenas o cumprimento da missão! 

Como, por exemplo: O Irmão Mestre de Harmonia deve ir com o propósito de colocar as músicas adequadas, no momento certo, na altura correta.

O Mestre de Cerimônias deve organizar o cortejo, ficar atento a estruturação dos Cargos, conhecer suas falas, circular no Templo somente nos momentos necessários.

Os Diáconos devem ser realmente portadores da palavra com a devida ritualística. 

O Chanceler deve receber e observar os Irmãos visitantes. 

Enfim, cada um deve incorporar seu cargo.

No caso das Luzes, a conduta é muito mais sutil. 

Vigilantes devem estar vigilantes quanto ao comportamento e principalmente, ao semblante de seus “comandados”. 

Ocupar uma das vigilâncias é pré-requisito para ser o líder maior da Loja, portanto, é com esta preocupação que ele vai se formando e conhecendo seus Irmãos e futuros colabores diretos.

Da mesma forma, ao se preparar para ir a Loja, o Venerável Mestre deve compreender que o mínimo, e provavelmente, com menor valor é o de dirigir os trabalhos, no sentido de ler o ritual. 

Sentar-se na cadeira mais alta do Templo é a alegoria que a ele cabe ver tudo que se passa e exercer ações que resultem no sucesso do grupo.

Aos Ex-Veneráveis, a missão não acabou.  

Possuem apenas duas grandes obrigações de moral maçônica:

Primeira, se já dirigiram os trabalhos das Lojas, conhecem bem os Rituais e as demais funções, sendo assim, devem estar sempre à disposição do atual Venerável Mestre para ocuparem cargos, afinal, eles continuam sendo Obreiros da Oficina. (E não ficarem lotando o Oriente enquanto há cargos vagos no Ocidente) 

A segunda é trabalhar para a manutenção da harmonia dos trabalhos. 

Eles devem ir para a Loja vibrando positivamente. 

Sendo o esteio do Venerável, devem aconselhar, não intervir, evitar comparações e ,principalmente, auto-elogio, incompatíveis com princípios de humildade e do propósito de “vencer minhas paixões”.(E jamais agredirem o atual VM com constantes denúncias de que não está fazendo o que "ELES" querem que se faça) 

Se todos nós, formos para a Loja com o propósito de servir, sairemos todos bem servidos.

O TODO É SEMPRE MAIOR QUE A SOMA DAS PARTES.

Precisamos incentivar os Obreiros da Arte Real ao salutar hábito da leitura como ferramenta de enlevo cultural, moral, ético e de formação maçônico.



novembro 02, 2022

DESBASTAR A PEDRA BRUTA DO CONHECIMENTO - Charles Boller




A gigantesca e verdadeira obra da Maçonaria é propiciar ao seu iniciado um lugar adequado para a modificação da personalidade, a moderação de paixões e desejos e o desenvolvimento de virtudes; numa escalada que inicia numa operação denominada: desbastar a pedra bruta. 

Esta atividade consiste no trabalho, básico e rústico, de arrancar da pedra, arestas, deformidades e protuberâncias, de modo que ela possa vir a adaptar-se ao seu lugar reservado numa importante construção. 

Traduzindo significa: o aprendiz recebe instrução, é dotado de ferramentas, de conhecimentos elementares, é assistido por método e simbologia próprios que, manipulados por seu intelecto, culminam em desenvolver suas capacidades racionais, intelectuais, lógicas e filosóficas nos assuntos da Maçonaria. 

E estas, por sua vez, o auxiliam a subir uma escada que parte de um ambiente onde domina a matéria, e o eleva até um estágio onde ocorre a predominância do espírito sobre a matéria. 

O interessante é que, o potencial adquirido com o uso da sua própria intelectualidade, dependendo de suas raízes culturais, não o precipita na geração de dogmas que possam torná-lo fanático; ao contrário, o treinamento o leva ao suave equilíbrio entre racionalidade e espiritualidade. 

Gradativamente, o processo "abre portas inefáveis" até então invisíveis. 

Sua sensibilidade lhe revela, a cada reunião, no templo especialmente preparado para o seu desenvolvimento pessoal, onde, sob efeito de sons e incenso, ocorre sua integração com a força do maçom, um campo energético gerado pelo seu grupo de companheiros. 

A vida mística e profunda da essência dos símbolos vai gradativamente revelando o que até então não enxergava. 

Desvelando apenas uma parte onde ele mesmo é material de construção, uma pedra que depois de trabalhada, constituirá parte integrante do grande templo moral da humanidade.





novembro 01, 2022

TODOS OS SANTOS! - Adilson Zotovici




Hoje, como ontem ou amanhã,

É um belo dia também 

De ao levantar-se de manhã

Orar sem olhar a quem 


Entre os tantos Santos

Que a Fé cada qual tem,

Pra dissipar quebrantos

Que se pode ser refém 


Expedito, Rita, João...

Igualmente benditos porém,

Que tem sempre a devoção

Ou simpatia de alguém 


A “Todos os Santos”  afeto ,

E gratidão muito além 

Com a graça do “Grande Arquiteto”

A quem rogamos...Amém !


MODERNIDADE NÃO É SUBSTITUIR O ANTIGO PELO NOVO. É ADICIONAR O NOVO AO ANTIGO - Jose Osvaldo Prado



A Maçonaria, herdeira das tradições dos construtores de catedrais da Idade Média, soube, no século das Luzes, reinventar-se, evoluir para a sua atual forma de Maçonaria Especulativa, assumindo a modernidade do Iluminismo sem deixar cair o acervo das tradições, da ética, dos costumes, dos maçons operativos.

Neste dealbar de novo século e milénio, no findar da sua primeira década, importa refletir sobre o papel da Maçonaria num Mundo que evolui e se transforma a um ritmo nunca dantes visto, um avanço tecnológico ímpar na História da Humanidade, mas também com riscos e desequilíbrios de uma dimensão global, também novos, em tão ampla escala.

Importa refletir sobre a melhor forma de bem utilizar as Novas Tecnologias de Informação. Importa refletir sobre como integrar os novos conhecimentos, os avanços científicos, as evoluções sociais, no paradigma maçónico. Importa refletir sobre o papel, o interesse, a contribuição, da Maçonaria nas sociedades de hoje e do amanhã. Importa refletir, em suma, sobre como adicionar o novo ao antigo.

A Maçonaria é uma contínua sucessão de atos de construção de cada um de nós, em que cada um de nós é simultaneamente a obra, a ferramenta e o construtor. Nesta permanente tarefa, o uso, a prática, a execução, da Tradição, a repetição de palavras, gestos e atos que a nós chegam vindos de tempos para nós imemoriais, é-nos confortável e reconfortante, dá-nos segurança, um ponto de apoio e de equilíbrio. Fazemos o mesmo que muitos outros antes de nós, em muitos tempos e diversos lugares, fizeram, que muitos outros além de nós no mesmo dia em que nós o fazemos também o fazem, esperamos fazer o mesmo que muitos muito depois de nós continuarão a fazer. É-nos confortável, dá-nos segurança, estabilidade, paz de espírito, sabermos que somos individualmente elos de uma imensa cadeia que nos chega de um profundo passado, continua num tranquilo presente e prossegue num risonho futuro…

Nós, maçons, somos os cultores por excelência da Tradição!

No entanto, não recusamos, nunca recusamos, a Modernidade! A nossa história mostra mesmo que, em algumas épocas, nós fomos a Modernidade: muitas das Luzes que iluminaram o século das ditas foram de maçons, espíritos científicos avançados para a sua época, que cultivaram, divulgaram e fizeram avançar a Ciência e a Técnica. Os princípios hoje quase universalmente aceites (e ansiamos pelo dia em que o “quase” desapareça) dos Direitos Humanos foram acarinhados, cinzelados (é o termo), divulgados e defendidos, antes de mais e antes de todos, por maçons. Nós, maçons, orgulhamo-nos de, ao longo da nossa já apreciável história, sabermos aliar a Tradição à Modernidade.

Nós, maçons, procuramos nunca substituir o antigo pelo novo, porque isso seria deitar fora, desprezar, desaproveitar, tudo o que de bom o antigo continua a ter para nos ensinar, ilustrar, proporcionar, antes integramos o novo no antigo, cultivando a Tradição, mas utilizando tudo o que a Ciência, a Técnica e a própria evolução do Homem nos proporcionam.

Quando e onde começou a franco-maçonaria? Onde postular as origens da maçonaria? Como surgiu? Qual o momento criador/fundador? Como foi feita a transmissão?

Donde vimos nós, que gostamos de nos proclamar filhos do Progresso?

Herdeiros (as) dos construtores de catedrais? Fonte mítica da nossa tradição ou do Século das Luzes? Século em que se desenvolveram um pouco por toda a parte, os espaços denominados Lojas.

A maçonaria moderna não tem ainda três séculos. Nasceu em Inglaterra em 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres. Herdeira direta dos construtores medievais, denomina-se “especulativa” por oposição aos “operativos” que trabalhavam nas catedrais. Desde 1723, as Constituições do pastor James Anderson, estabelecem esta filiação mítica, outros maçons recuando ainda mais no tempo, procuraram, mais fundo, as raízes desta tradição.

Contudo, é através da utilização dos mesmos instrumentos operativos que os maçons especulativos balizam as suas reflexões –a colher de pedreiro, o esquadro, o compasso, o cinzel….- , assim como, recorrendo a outros elementos pedidos emprestados à Bíblia, à geometria e à construção, símbolos que ao longo de gerações apelam ao maçom para trabalhar sobre si mesmo. Não é fácil determinar a origem de cada símbolo, pois não podem ser entendidos isoladamente, fazem parte de um todo e de uma tradição, cuja interpretação é distinta para um (a) Iniciado(a), que não deseja construir um edifício de pedra, mas uma obra espiritual, ou intelectual, um “Templo da Humanidade”, pela transformação real do ser humano. Este ideal só é possível através de uma tradição e de um método que une os maçons  de todo o mundo e que passa de geração em geração.

E o que significa Tradição? Significa Transmissão e esta é o elemento de coesão – o cimento- “ A Maçonaria é uma Ordem Iniciática Tradicional….” e se essa transmissão for oral, ao longo dos séculos, onde os livros eram desconhecidos? As crenças, os contos de fadas, os mitos…. não são mais do que transmissões orais, cujas personagens mudaram segundo a geografia e a cultura, mas a componente moral essa permaneceu e transmitiu-se, inscrevendo-se na consciência. A tradição não são regras, estatutos, são usos e costumes que regulam a vida das pessoas através das experiências. É aos mais antigos, aos mais sábios, que compete transmitir esta sabedoria, através de processos que assegurem a continuidade de uma cadeia ininterrupta; é uma sabedoria que se transmite através da observação, da meditação e da imitação, para isso o silêncio impõe-se, para que a memória retenha o essencial a fim de que possa ser transmitido, como uma herança.

No caso da maçonaria a tradição herdada confere-lhe legitimidade e está ratificada pela Maçonaria Universal, é um ponto de referência. A multiplicação das Obediências com as suas próprias especificidades, têm presentes a aquisição da tradição, os significados que dela emanam e que ligam o passado ao presente, através da prática de um mesmo ritual e de um mesmo método que coloca o ser humano na sua dimensão cósmica.

E que lugar tem a maçonaria no século XXI? Que lugar tem esta instituição nas sociedades modernas onde a necessidade de inovar surge diariamente? O tempo não a fraturou, percorre o seu caminho mais procurado do que nunca, não obstante as mudanças verificadas na história coeva.

Hoje, as Lojas são uma mistura de ideias, de personalidades, de origens sociais e também de gerações, onde somos obrigadas a eliminar as aparências para que o essencial do ser seja revelado, para ordenar não só à própria existência, mas também o relacionamento com os outros e com o Universo.

A confrontação das ideias e o sentido crítico fazem também parte dos nossos instrumentos que nos ajudam a traçar o projeto de um todo que nos esforçamos por ligar aos grandes movimentos dos tempos modernos.

O método maçónico, vindo das profundezas do tempo, surpreende pela sua modernidade, é o instrumento fundamental para o ser humano conhecer-se a si próprio e construir uma Sociedade mais justa e esclarecida. Com efeito, o trabalho maçónico é uma progressão contínua, cujos diferentes graus marcam as etapas, como um jogo de espelhos em que cada iniciado possa prosseguir a sua viagem, na procura de uma dimensão moral e espiritual, dada pela tradição e pela forma tradicional da Iniciação.

No tempo conturbado em que vivemos, cercadas pelas as injustiças, pelos fundamentalismos, em suma, pela desordem, nós maçons acreditamos que graças aos princípios que defendemos e aos nossos valores humanistas temos o dever de “continuar no exterior a obra começada no Templo".