janeiro 14, 2023

AQUI COLOMBO INICIOU SUA VIAGEM



O pequeno porto fluvial de Palos na Espanha não é uma visão muito imponente, se considerarmos a mudança global na humanidade que ele proporcionou, pois foi de lá que em 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo partiu rumo ao desconhecido, acabando por chegar na incógnita América.

Porém, ao que parece, o genovês não foi o primeiro navegante a partir de Palos para o que havia além, e voltando para contar a história. De acordo com o grande geógrafo, explorador e historiador de Bagdá Ali al-Masudi, conhecido também como o ''O Heródoto dos Árabes'', 603 anos antes de Colombo, em 889, um outro navegante, porém afro-árabe de nome Khashkhash Ibn Said Ibn Aswad (''filho do Preto'') partiu de Palos, na época Delba no Emirado de Córdoba, rumo à ''ard majhula'', ''terra desconhecida''. Ele narra em seu Murūj aḏ-Ḏahab (''Prados de Ouro'') compilado em 947:

''No Oceano dos Nevoeiros (o Atlântico) existem muitas curiosidades que mencionamos detalhadamente em nosso Akhbar az-Zaman (Notícias de nossa Era), com base no que vimos lá, aventureiros que o penetram arriscando suas vida, alguns retornando em segurança, outros perecendo na tentativa. Assim, um certo habitante de Córdoba, chamado Khashkhash, reuniu um grupo de jovens, seus co-cidadãos, e partiu em uma viagem neste oceano. Depois de muito tempo, ele voltou com butim. Todos andaluzes conhece essa história.''

O relato de al-Masudi, entretanto, não é o único sobre a exploração árabe-ibérica do Atlântico, havendo também o, muito mais detalhado, registro de outro grande geografo muçulmano, o famoso Al-Idrisi do século XII, sobre árabes de Lisboa em Portugal que também se lançaram no Atlântico e descobriram terras novas, que os mais céticos especulam ser as Canárias, Madeira ou Açores.

AS ESPADAS MEDIEVAIS COM O AÇO DAMASCO - Mansur Peixoto



Ferreiro damasceno produzindo espadas da famosa liga metálica medieval conhecida como "aço damasco'', Síria, Império Otomano, inicio do século XX. 

As lâminas de Damasco eram fabricadas no Oriente Médio a partir de lingotes de aço wootz importados da Índia, bem como do Sri Lanka, vindas das distantes rotas de comércio em caravanas e navios.

Os árabes introduziram o aço wootz em Damasco, onde a indústria de armas prosperou durante todo período medieval e além, e por suas qualidades únicas, o aço damasco passou a ter uma fama quase lendária. 

A produção dessas espadas padronizadas diminuiu gradualmente no Oriente Médio islâmico, se extinguindo por volta de 1900, e o processo foi se perdendo para os ferreiros nas décadas seguintes. 

Várias teorias modernas se aventuraram a explicar esse declínio, incluindo a quebra de rotas das comércio para suprir os metais necessários, a falta de impurezas nos metais, a possível perda de conhecimento sobre as técnicas de fabricação por meio de sigilo e falta de transmissão, supressão da indústria na Índia pelo Raj britânico, ou uma combinação de todos estes. 

Recriar o aço de Damasco é um subcampo da arqueologia experimental. Muitos tentaram descobrir ou refazer engenharia reversa do processo pelo qual ela foi feita. Acredita-se que o aço damasco tenha sido a inspiração histórica real de George R. R. Martin para criação do "aço valiriano'' de seus contos em Game of Thrones.


Bibliografia:

-Pacey, Arnold (1991). Technology in World Civilization: A Thousand-year History. MIT Press. p. 80.

-"Early Islamic manufacture of crucible steel at Merv, Turkmenistan"

-Burton, Sir Richard Francis (1884). The Book of the Sword. London: Chatto and Windus. p. 111.

janeiro 13, 2023

SEXTA FEIRA 13 - LENDAS E CRENDICES - Newton Agrella


Algumas datas ou épocas do ano trazem consigo algum tipo de infortúnio, má sorte ou mau presságio.

Especialmente nas culturas ocidentais e sobretudo aquelas que herdaram consideráveis influências do Cristianismo encontram-se muitos exemplos disso.

O próprio cinema norte-americano incumbiu-se de imortalizar essa data ( Sexta Feira 13) com a produção de vários filmes de terror em que diversos acontecimentos macabros transcorrem na referida data.

Hipóteses aventadas para a ORIGEM da Sexta-feira 13 difundidas em diferentes culturas espalhadas ao redor do mundo:

01.) Uma das mais conhecidas justificativas dessa maldição conta que Jesus Cristo foi perseguido por esta data. Antes de ser crucificado em uma sexta-feira, o salvador das religiões cristãs celebrou uma ceia na Quinta Feira - que, ao todo, contava com treze (13) participantes. Entre eles estava Judas, o Traidor.

E Jesus morreu no dia seguinte, uma Sexta Feira.

02.) A tradição cristã relaciona o fato de seu líder ter morrido em uma sexta-feira ao fato de o livro do Apocalipse apontar o número 13 como a marca da besta, do anticristo.

03.) Analogia numerológica dá conta que a Imperfeição do número 13 também está ligada às várias referências ao número 12 na Bíblia (12 tribos de Israel e 12 discípulos), sendo assim, o número 13 destoaria do projeto de Deus.

04.) Outra explicação sobre essa data remonta à consolidação do poder monárquico na França, especificamente quando o *Rei Felipe IV*  sentia-se ameaçado pelo poder e influência exercidos pela Igreja dentro de seu país. Para contornar a situação, ele tentou se filiar à prestigiada ordem religiosa dos Cavaleiros Templários, que, por sua vez, recusou a entrada do monarca na corporação. Enfurecido, segundo relatos, teria ordenado a perseguição e morte aos templários na sexta-feira, 13 de outubro de 1307.  

05.) Na Mitologia Escandinava a maldição da *Sexta-Feira 13* tem a ver com o processo de cristianização dos povos bárbaros que invadiram a Europa no início do período medieval. Reza a lenda que antes de se converterem ao Cristianismo, os escandinavos eram politeístas e tinham grande estima por Friga, deusa do amor e da beleza.  Com o processo de conversão ao Cristianismo, passaram a amaldiçoá-la como uma bruxa que toda Sexta Feira, se reunia com onze feiticeiras e o demônio para rogar pragas contra a humanidade.

06.) Nos Estados Unidos, a *Sexta-Feira 13* é um dia de tradição e mitos sobre casas assombradas por fantasmas e todo tipo de imaginação.

Doze séculos depois dos Maus Agouros pela morte de Carlos Magno, os norte-americanos ainda continuam chamando o andar que vem depois do 12° de 14°. Menos de 10 por cento dos condomínios de Manhattan com 13 andares ou mais têm um andar com o número 13.

Um porta-voz da Otis Int'l, a fabricante de elevadores, estimou uma vez que 85 por cento dos prédios dos EUA com mais de 13 andares evitaram o número azarado. 

Diante dessas lendas e teorias, quando ocorre uma *Sexta-Feira 13* supersticiosos evitam cruzar com gato preto, passar debaixo de escadas, quebrar espelhos e outras crendices que podem trazer mau agouro.

Como se percebe a Superstição independentemente do nível sócio-econômico e intelectual dos povos é um dispositivo da alma humana arraigada à crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, e a depositar confiança em coisas 

EMBRIAGAI-V0S - Charles Baudelaire





Dedico aos poetas do Grupo Maçons em Reflexão.

Embriagai-vos!!!!!

Deveis andar constantemente embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.

E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntais que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: — É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!

Charles Baudelaire, In Poemas em Prosa

A CONTRIBUIÇÃO ÁRABE PARA A QUÍMICA - Mansur Peixoto


Muito mais que a matemática e a astronomia, a química foi sem sombra de dúvidas um dos maiores legados da civilização islâmica medieval. A própria palavra química é a ‘’al-kīmīya’’ árabe sem o artigo ‘’al’’ que acompanhava sua versão anterior, alquimia.

O fundador desta ciência dentre os muçulmanos foi o tataraneto do Profeta Muhammad, Jafar as-Sadiq (702-765), mestre alquimista de ninguém menos que o grande Jabir Ibn Hayyan ou ‘’Geber’’, pai da química, criador da classificação sistemática de substâncias químicas e as mais antigas instruções conhecidas sobre como derivar compostos inorgânicos de substâncias orgânicas por meios químicos. Suas obras também contêm uma das primeiras versões conhecidas da teoria dos metais enxofre-mercúrio, uma teoria mineralógica que permaneceria dominante até o século XVIII, além de ter sido o inventor da retorta e do alambique (do ár. ‘’al-anbiq’’), que ele utilizava para destilar o álcool (do ár. al-kohol). 

Outros grandes químicos muçulmanos medievais foram al-Razi, descobridor do ácido sulfúrico e do etanol. Al-Kindi, que refutou no século IX a ideia da transformação de metais pobres em ouro e é considerado o pai da perfumaria moderna através do seu "Livro da Química dos Perfumes e Destilações", onde criou 107 fragrâncias.

Maslama al-Majriti, o primeiro a observar o princípio da conservação da massa, que realizou ao descobrir o óxido de mercúrio, 700 anos antes do francês Lavoisier. E Al-Biruni, que desenvolveu métodos experimentais para determinar a densidade, usando um tipo particular de equilíbrio hidrostático e descobriu o ácido inoxidável. 

Até hoje alguns elementos químicos e substancias carregam nomes de origem árabe, como o boro do árabe buraq, zircônio, do árabe zarkun, antimônio, do árabe ʾiṯmid, ou azote, antigo nome do nitrogênio, por sua vez derivado do árabe al-zuq, e os que tiveram seus nomes árabes substituídos por ‘’latinos cientificos’’ na química moderna, mas ainda carregam o árabe em suas letras da tabela periódica, como o sódio, cuja sigla é NA, do latim moderno natrium, por sua vez do árabe natrun (نطرون ), ou o potássio, K, do latim medieval kalium, do árabe al-qaly (القلي), de onde deriva também termos como ‘’alcalino’’.

janeiro 12, 2023

A AÇÃO PROVÊ OS MEIOS - Heitor Rodrigues Freire

 

Deus, em sua infinita sabedoria, ao criar o ser humano dotou-o de todo o instrumental necessário para o seu desenvolvimento físico, mental e espiritual, para que pudesse, por si só, dar conta de sua vida, sem distinção de etnia, classe, status social, religião, profissão ou cor, tornando-o único.

Essa consciência precisa ser alcançada para que cada pessoa possa fazer sua parte de forma adequada e responsável, porque cada um é o único responsável por sua vida, por seus atos, sucessos e fracassos.

O homem, dependendo de seus atos, constrói ou destrói seu destino. Sua colheita vai depender unicamente da sua semeadura. A colheita, tanto de uma forma como de outra, vai acontecer, no tempo adequado. O tempo de Deus é diferente do nosso. Ele é quem sabe quando e onde vai acontecer. Mas que vai acontecer, vai.

O homem que espera acontecer perde seu tempo, fica reclamando, gerando energia negativa em seu redor, e não resolve nada. Na medida em que cada um se voltar para o seu interior de forma autêntica e consciente, vai encontrar sempre a orientação correta para o seu agir.

“A palavra é o princípio de qualquer obra, e antes de agir é preciso refletir” (Eclesiástico 37,16).

Cada ato consciente, com finalidade objetiva, cria por suas próprias ações os meios que irão contribuir para sua realização. Naturalmente. Basta observar e agir, estar presente. 

Eu tenho um exemplo que vem bem a calhar. Em 1993, eu era chanceler da Funlec, a Fundação Lowtons de Educação e Cultura, instituição criada pela Maçonaria para ser seu braço educativo e cultural.

Tínhamos a intenção de criar mais uma escola. Reunimos um grupo de maçons e apresentei a intenção. 

Primeira pergunta: Temos um terreno? Resposta: Não.

Segunda pergunta: Temos dinheiro para comprar um terreno e construir uma escola? Resposta: Não.

Mas tínhamos o indispensável: a vontade de fazer, a fé na intenção e a confiança no poder de Deus.

Assim, conversa daqui, conversa dali, começaram a surgir as possibilidades. Resumo da ópera: conseguimos por comodato com a Prefeitura – prefeito Lúdio Coelho –, um terreno de dimensões adequadas no Bairro Cachoeirinha, e começamos a vender as matrículas por antecipação. Em um ano, estava construído o Colégio Oswaldo Tognini, com 6 mil metros quadrados de área construída, oito quadras esportivas, uma piscina semiolímpica e um ginásio coberto, com mais de 2 mil alunos matriculados.  

Milagre? Não. Ação direta e objetiva.

Afirma o dito popular: Poderíamos comparar o vigor humano à força das águas correntes tanto dos pequenos riachos quanto dos grandes rios.

À medida que as águas dos riachos seguem seu curso rumo ao rio, e este rumo ao mar, elas passam por diversos obstáculos naturais, mas o vigor das águas possibilita contornar e vencer tudo, sempre buscando a meta.

As águas que se cansam se represam, tornam-se águas paradas, se deterioram e não realizam no seu trajeto as belezas das lindas corredeiras e belas cachoeiras. Ganham em tranquilidade, mas perdem em vigor.

Nós somos como as águas, temos muitos desafios na vida a serem vencidos, uns menos, outros mais, e cada dia significa uma nova surpresa em nossa jornada rumo ao mar. Nossas virtudes e habilidades são desenvolvidas quando acatamos com entusiasmo nossa missão terrena vencendo os obstáculos.

Buscar refúgio em águas paradas é uma opção que limita nossas possibilidades. A vida só tem valor na ação, ou seja, no vigor que acolhe todas as manifestações, caso contrário ela própria perde seu sentido.

Periodicamente devemos avaliar a forma como estamos conduzindo nossa vida. Será que estamos agindo como água corrente para construir caminhos ante quaisquer dificuldades? O mar da glória eterna é a nossa meta.

“Alguns abandonam os seus objetivos justamente quando estão a ponto de atingi-los enquanto outros, pelo contrário, conseguem a vitória esforçando-se com um último impulso, sem se renderem” (Políbio -203 a.C.- 120 a.C.)

As forças astrais, mentais e espirituais de todo o Universo, estão à espera de serem acionadas. Depende da ação de cada um. Depende das muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo de cada um, que alie perseverança, inteligência e senso de observação.

“O acaso só favorece a mente preparada” – Louis Pasteur. 

Desta forma, constatamos que se cada um se desenvolver de forma integral e sistêmica naturalmente a sorte vai lhe favorecer, sempre. 


A ORIGEM DA PALAVRA AZAR - Mansur Peixoto

 


A palavra azar vem do árabe azhar, “flores” – termo derivado de um jogo árabe trazido pelos cavaleiros franceses do Oriente Médio na Terceira Cruzada, que o afrancesaram como ‘’hazard’’, imortalizado no clássico medieval Contos da Cantuária de Geoffrey Chaucer .

 A associação do dado com a flor se deu porque uma das faces da peça, a desfavorável, tinha o símbolo de uma flor, ou ''azhar'', em árabe. Pela ligação óbvia do dado com a ideia de probabilidade, o termo arábico passou a indicar o elemento do imprevisto nos acontecimentos. 

Hazard no francês é tanto a boa quanto a má sorte, simplesmente ''chance'', enquanto no inglês atual é somente risco. Já no português moderno passou a indicar principalmente sorte contrária, simplesmente o significado que atribuímos hoje, o de ''azar''.

janeiro 11, 2023

A CONQUISTA DE ÓBIDOS

 


Há 875 anos, a 11 de janeiro de 1148, D. Afonso Henriques conquista a vila de Óbidos aos mouros.

 Em novembro de 1147, e após a conquista de Lisboa e de Santarém aos mouros, o primeiro rei de Portugal decide-se pela conquista de Óbidos por saber que esta era uma praça mais forte do que outras como Torres Vedras ou Alenquer. Liderado por Gonçalo Mendes da Maia, o ‘Lidador’, um grupo de cavaleiros investiu durante a noite pela parte nascente da terra enquanto os restantes militares portugueses chamavam a atenção dos árabes na porta do castelo a poente, hoje chamada Porta da Vila.

De acordo com a história, foi valente esta batalha que é uma das menos recordadas por alegadamente ter sido “abafada” pela conquista das importantes Lisboa e Santarém. Esta “tomada” surge após a reconquista de Santarém, considerada uma das mais bem defendidas cidades sob domínio muçulmano. Tendo a conquista de Portugal aos mouros sido feita de norte para sul, Óbidos era a “cabeça” ou castelo de um território de grandes dimensões, tendo tido um papel importante no povoamento do reino para sul.

D. Afonso Henriques considerava a conquista de Óbidos como uma dificílima empresa, e só desalojou as hostes agarenas que aguerridamente defenderam o castelo graças a um estratagema que permitiu tomar a vila. Enquanto o grosso do exército atacava a Porta da Vila e as muralhas a poente, um grupo de cavaleiros dirigia-se a nascente, entrando pela hoje designada Porta da Traição.

#Óbidos #HistóriadePortugal #Antena1RTP

SERENDIPITIA - Heitor Rodrigues Freire


Outro dia, lendo um texto de fim de ano escrito pela professora Lucilene Machado, de quem sou admirador e leitor assíduo, me deparei com uma palavra estranha na qual ela dizia concentrar seus desejos para seus inúmeros leitores e amigos: serendipitia.

Aí, como sou curioso, fui pesquisar.

Pensando bem, não é esdrúxula essa palavra? Esdrúxula é a característica de alguém ou daquilo que se encontra fora das regras usuais, que se apresenta de modo incomum, causando admiração ou espanto; excêntrico. Um comportamento ou uma situação esdrúxula, por ser incomum, costuma causar reações de surpresa e de espanto.

Existe algo mais esdrúxulo do que a palavra esdrúxulo?

Mas deixando de lado a esdruxulice, vamos ao nosso tema.

Serendipitia, serendipidade ou serendipismo é uma palavra de origem inglesa que se refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso. Coisa descoberta por acaso. 

Pois então trata-se de um desejo muito afortunado e bem utilizado pela professora Lucilene. O conceito original de serendipismo foi muito usado em sua origem. Nos dias de hoje, é considerado uma forma especial de criatividade ou uma das muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo de uma pessoa adulta, que alia perseverança, inteligência e senso de observação.

Inovações apresentadas como exemplo de serendipidade apresentam uma característica importante: foram feitas por indivíduos capazes de “ver pontes onde outros viam buracos” e ligar eventos de modo criativo com base na percepção de um vínculo significativo.

A serendipidade é tipicamente usada de forma incorreta como sinônimo de oportunidade, coincidência, sorte ou providência, conceitos que prejudicam a apreciação do termo em relação à sua contribuição para o processo de inovação. Na realidade, eu já aprendi que nada acontece por acaso. O acaso não existe.

A serendipidade é uma qualidade muitas vezes incompreendida para a descoberta e a inovação, que pode se constituir numa ferramenta poderosa na contribuição de percepções inovadoras que conduzem à realização de visões empreendedoras. Ao entender o processo de seu desenvolvimento e utilização, os gestores e pesquisadores podem usar a serindipidade como importante contribuição para o sucesso competitivo de uma empresa.

A história da ciência está repleta de casos que podem ser classificados como serendipismo, como as descobertas de Arquimedes (que postulou princípios elementares como o conceito da impulsão e da alavanca, entre outras descobertas importantes para a física), Alexander Fleming (descobridor da penicilina) e Nikola Tesla (cujo trabalho fundamentou o sistema elétrico utilizado globalmente), casos típicos de serendipidade, pois todos estavam preparados para o que supostamente “descobriram”.

“O acaso só favorece a mente preparada” – Louis Pasteur. Ou seja, de acordo com essa  sábia frase de Pasteur, a boa sorte depende do quanto  uma mente está preparada, e neste contexto podemos considerar tanto a parte cognitiva e racional quanto a emocional. 

Desta forma, constatamos que se você se desenvolver de forma integral e sistêmica, naturalmente sua sorte vai lhe favorecer. 

Essa ideia deu origem a um outro dito famoso: 

“Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho” – Thomas Jefferson.

Parafraseando então a professora Lucilene: serendipitia para todos!


janeiro 10, 2023

O AVENTAL DE APRENDIZ - Ir.’. Eder Avallone



A Maçonaria é uma Instituição de homens sábios e virtuosos que se consideram Irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita Igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se, uns aos outros, na prática das virtudes. 

O Avental é um legado que a maçonaria moderna recebeu da maçonaria operativa. Esta peça, que foi de tanta utilidade para o Maçom operativo, já que lhe protegia a roupa, transformou-se para o Maçom moderno numa alfaia simbolizando o trabalho do Maçom.    

Até a sua regulamentação, pela Grande Loja Unida da Inglaterra, os aventais da maçonaria inglesa assumiram os mais variados aspectos e formas. Simples peles desalinhadas de cordeiro, no princípio, os aventais sofreram uma evolução constante nos países que adotaram a instituição maçônica.

Em fins do século XVIII era grande moda enfeitar os aventais com pinturas e bordados à mão, que reproduziam a riqueza emblemática da maçonaria.

É lógico que, com a transformação da Maçonaria, de Operativa em Especulativa, os Aventais foram diminuindo de tamanho, ganhando couros mais macios e, finalmente, cores e enfeites.  

O Avental tem dimensões variadas de 30 a 35 cm por 40 a 45 cm.  O Avental do Aprendiz Maçom é branco, originalmente de pele de carneiro, com abeta triangular levantada e sem nenhum enfeite.  

O Avental do Companheiro Maçom é branco, com a abeta triangular abaixada em alguns ritos, podendo ter uma orla vermelha, significando o zelo e constância com que o Maçom prossegue no caminho do seu aperfeiçoamento.  

O Avental do Mestre Maçom é branco, com a abeta triangular abaixada, orlado e forrado de azul ou vermelho, podendo ter no meio as letras M e B também nas cores citadas.

Para frequentar o Templo nas Sessões da Loja, torna-se necessário e imperativo que ali se esteja "maçonicamente trajado", ou seja, revestidos de seu Avental. 

Insígnias e medalhas distintivas podem ser dispensados, nunca o Avental, pois o traje do Maçom é o Avental. Sem ele, é impossível a qualquer Maçom tomar parte nos Trabalhos. 

Na Maçonaria Especulativa, o uso do Avental independe da posição ou cargo exercido pelo Maçom. Além do Cinzel e do Malho, o Aprendiz recebe o Avental, sempre presente no traje maçônico. 

Esta peça tem a forma quadrada com uma abeta triangular voltada para cima, simbolizando a sua falta de conhecimento do ofício. A cor é branca para traduzir a inocência do Aprendiz. Uma vez trajando o seu Avental, o Aprendiz não é mais aquela pessoa de antes.

Tem agora gestos solenes, postura serena, porém disciplinada; e suas palavras, estando à ordem devem ser calmas e cuidadosamente pronunciadas ao defender suas ideias e posicionamentos.

As origens do Avental Maçônico podem ser encontradas dentro das antigas corporações de ofício, em especial dos "Talhadores de Pedra", que possuíam aventais de diversos formatos; em geral, feitos por um tipo de couro bastante grosso, pois sua finalidade principal era proteger aqueles que os usavam.

No simbolismo do Avental, apesar de inúmeras associações que possam ser feitas, dois aspectos são de fundamental importância e devem ser ressaltados. 

O primeiro, é que a cor branca de seu fundo só pode significar a pureza da alma e das boas intenções de um Maçom, como sendo ele o último depositário da Moral, dentro da Sociedade Moderna.  

O Avental tem que ser entendido como o Símbolo maior do trabalho, lição primeira que nos é ensinada desde o contato inicial que temos com a Ordem. Não devemos esquecer, jamais, as palavras de um Venerável Mestre, quando nos apresenta o Avental do Aprendiz!

A nossa sagrada Ordem tem sempre nos conduzido ao entendimento de que o Avental é peça fundamental dos paramentos e um símbolo tradicional do trabalho, desde os mais distantes tempos, característica daqueles que participam na construção social nas mais diversificadas atividades humanas. 

A faixa - ou "fita", também usada na Maçonaria, denota em sua simbologia a investidura da autoridade.

Sendo a Maçonaria uma ciência de moralidade e, consequentemente, de moralização social, permanentemente velada por alegorias e ilustrada por símbolos, o Avental e a Faixa, principalmente o primeiro, contemplam grande significado milenar que nos conduz aos primórdios do trabalho do homem.

Segundo o Ir.’. Gervásio de Figueiredo, em seu Dicionário de Maçonaria (Editora Pensamento), O Avental é, não apenas uma das mais antigas vestimentas simbólicas da Maçonaria, oriunda possivelmente do antigo Egito, mas uma das mais significativas peças, indispensável em qualquer ato litúrgico maçônico.

Suas diversas formas de apresentação, quando ainda no período de Aprendiz, nos mostram um somatório de cinco ângulos, em função de sua abeta levantada, indicando os cinco sentidos, através dos quais nos ligamos ao mundo material. 

Quanto às cores desse paramento e seus diversos símbolos ali presentes, nos indicarão importantes significados - um exemplo dos mais simples, embora guardando imenso valor esotérico, é o Avental do Aprendiz, representando a pureza do espírito -, supostamente atingida nesta importantíssima fase da formação maçônica.

O Avental de Aprendiz é o único adorno que lhe é permitido.  Tem a abeta levantada. Suas dimensões devem ser as mesmas do Avental dos Mestres, diz Boucher, porque na realidade, nos dois primeiros graus, o operário, ainda inábil, deve proteger-se mais ainda que o Mestre.

Oswald Wirth observa que: “encarado como insígnia honrosa, o Avental adorna o Maçom mais honrosamente que as distinções profanas”.

O Maçom deve apreciar a nobreza que implica o porte do Avental, o qual não poderia ser revestido com indiferença, sem relembrar ao portador suas obrigações de iniciado.

O Maçom não escapa, todavia, às fraquezas humanas: falta-lhe muitas vezes a instrução iniciática e não é quase informado sobre o alcance dos símbolos. 

O uso impede-lhe, no entanto, de penetrar na Loja sem estar ornamentado com o Avental, para afirmar sua renúncia momentânea aos hábitos profanos. 

Com certeza, o hábito não faz o monge e o Avental não é suficiente para disciplinar o Maçom: se o militar em uniforme não é mais o simples cidadão que era com roupas de civil, o Maçom ornamentado não é mais que no mundo profano.

O Avental não deve ser revestido levianamente. Não está prescrito, antes de cingi-lo, que se deva invocar o G.’.A.’.D.’.U.’.. Mas um exame de consciência é recomendado ao Maçom escrupuloso, já que, em presença de um irmão que lhe inspire animosidade, não deveria permitir-se usar o Avental: Não se deve entrar em loja sem nela trazer sentimentos depurados e fraternos, sem restrição.

Estritamente falando, um Maçom sem Avental não é concebível.  A expressão está, contudo em uso para designar um homem que se comporta como Maçom sem ter sido iniciado nos mistérios da Maçonaria. Trata-se apenas de insígnia que se usa em loja, não do Avental iniciático real.

O Avental de construtor espiritual não é revestido convencionalmente. É simbolizado pelo corpo que recebemos para cumprir a nossa tarefa terrestre; é o envelope de nossa personalidade, uma espécie de segundo corpo, mais misterioso que o primeiro.  

O seu papel consiste em proteger-nos durante o nosso trabalho, pois não devemos ser feridos pelos estilhaços que se despregam de nossa Pedra Bruta.

No Grau de Aprendiz, o Avental tem sido considerado como representando o quaternário tendo sobreposto o ternário.  Outros veem no triângulo formado pela abeta do Avental, a alma plantando sobre o corpo inferior.  

E quando esta abeta é baixada, posteriormente, quando o Maçom atinge o grau de companheiro, ela mostra que a alma se encontra dentro do corpo, dele fazendo o seu instrumento.

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BIBLIOGRAFIA:

CASTELLANI, José - O Rito Escocês Antigo e Aceito - História, Doutrina e Prática" - Editora A Trolha.

ASLAN, Nicola – Comentários ao Ritual de Aprendiz – Vade-Mécum Iniciático – Editora Maçônica.

CHARLIER, René Joseph – Pequeno Ensaio de Simbólica Maçônica – Edições Futuro.

janeiro 09, 2023

DIFERENÇA EXTREMA -Adilson Zotovici



Mesmo que já desgastado

Volto a esse antigo tema

Qual distingue um “iniciado”

De quem não viu a Luz Suprema


Tenho há muito propalado

Seja em prosa ou poema

Que na treva é aclarado

Quem viverá em dilema


Bruta ou polida alcunhado

Que já se tornou emblema

De pedra sempre chamado


Mas, há diferença extrema ;

Dum seixo que cinzelado

Duma bruta e rara gema !



PROSELITISMO - Newton Agrella


Do grego "prosélytus"  este substantivo quer dizer: intento, empenho de converter ou convencer pessoas, ou grupos, a uma causa, ideia, doutrina ou religião.

A Maçonaria encerra dentre seus postulados o firme combate a esse expediente.

A tentativa persistente de persuadir outras pessoas a aceitar suas crenças, em geral relativas à política ou religião, constitui-se por si só, numa atitude dogmática e de certa forma impositiva, que desvirtua a essência propositiva da Sublime Ordem, a qual garante e estimula o Obreiro a agir na liberdade plena de sua consciência para o aperfeiçoamento de sua construção interior.

O livre arbítrio das crenças, das idéias políticas e do próprio bem estar, é algo subjetivo e que deve ser respeitado em qualquer circunstância.

É de competência do Maçom, garantir essa individualidade e evitar toda e qualquer espécie de "manipulação intelectual"  no sentido de angariar obreiros para compactuar com ideologias insufladas sub-repticiamente.

É inegável que na Ordem Maçônica, invariavelmente, deparamo-nos com Irmãos, que  de maneira equivocada alimentam o proselitismo em razão do limitado entendimento da filosofia e do simbolismo contidos em sua essência e buscam disseminar essa tosca convicção, como que uma estéril "pièce de résistance".

A fé remove montanhas, mas não remove a razão. 

Numa instituição iniciática que pugna antes de tudo pela liberdade de expressão, cercear ou impor dogmas, equivale ao jugo das correntes do obscurantismo medieval.



janeiro 08, 2023

A LOJA PERFEITA - Manoel Miguel M.'.M.'.



Parece-me que o sonho de qualquer Loja Maçônica é fazer valer o que diz o Salmo 133:... “Oh quão bom e quão suave é, que os irmãos vivam em união!

É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” ...

A elevação do grau de consciência da excelência do AMOR fraternal, descrito nas palavras acima, alcança a todos, não escapa ninguém dessa Lei Universal.

O que sair fora disso é desarmônico, prejudicial.

É a força cega que fere de morte a Loja, a filha de Sião.

A Loja unida é como um corpo: quando um padece, todos padecem; quando um chora, todos choram; quando um se alegra, todos se regozijam.

Porque nessa Loja o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre!

O óleo precioso do AMOR fraternal lubrifica as engrenagens, que deslizam sem desgaste em seu trabalho com Força e Vigor.

Como unir homens dotados de egos, vaidades, formações, conceitos, dogmas e valores tão diferentes?

É aí que começa a ficar interessante a arte de ser Maçom e viver em harmonia.

É um esforço comum a todos os membros, e que requer habilidade, comprometimento mútuo e vontade de formar um só corpo.

Antes de apreciarmos os preceitos maçônicos é importante nos conhecermos uns aos outros, trabalhar nossos pontos fortes, identificando os pontos fracos.

Como sempre digo, no mundo profano, o modelo de união se dá pela formação de grupos lapidados por terceiros, enquanto que, na Maçonaria, a lapidação é individual, contanto que cada Pedra lapidada se encaixe no corpo da Loja, antes de se encaixar no edifício social.

O maior prejuízo para uma Loja Maçônica chama-se “crítica”.

Criticar significa pegar o Malhete e sair trabalhando a Pedra do outro irmão. 

A força cega se aproveita disso e conduz a Loja à ruína. O debate é saudável para a Loja. A crítica é destrutiva.

O behaviorista B. F. Skinner, em seu livro “Science and Human Behavior”, diz que a crítica é fútil porque coloca um homem na defensiva, deixando-o em posição desconfortável, tentando justificar-se. 

Em momentos como esse, a essência do AMOR fraternal, também chamada de egrégora, se desfaz e a força cega assume o controle.

A crítica é perigosa porque fere o que o homem tem como precioso, seu orgulho, gerando ressentimentos. É o começo do fim dos relacionamentos.

John Wanamaker, um psicólogo estudioso dos relacionamentos, também escreveu: “Eu aprendi em 30 anos que é uma loucura a crítica.

Já não são pequenos os meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”.

Os homens deveriam fazer autocrítica. Como não o fazem, criticá-los é desafiar a harmonia em Loja.

B. F. Skinnner costumava fazer experimentos com animais, buscando compreender o comportamento destes, para depois compará-lo com o das pessoas.

Ele demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. 

Estudos recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem. O homem adora criticar.

Tem os que criticam erros de ritualística em plena sessão, atrapalhando a egrégora, criando constrangimentos, quebrando a sequência dos trabalhos, cruzando a palavra entre as CCol∴e o Or∴tudo pelo prazer de corrigir, criticar e fazer prevalecer seu potencial, seu ego e sua autoridade, quando na verdade, o que deveria prevalecer seria o AMOR.

Buscar a perfeição na ritualística é nosso dever. Mas não é prudente fazer críticas e correções em pleno serviço. É o começo do fim.             

Estudos têm mostrado que a crítica não constrói mudanças duradouras, mas promove o ressentimento.

E o que se dirá então da Denúncia Vazia??? 🤔 

Acaba deixando "outro" rei 🤴 no trono, mas sem súditos para os governar.

*É o fim do reinado.*

O combustível do AMOR e da união é o elogio.

Se algum irmão fez um trabalho e o mesmo precisa ser melhorado, seu consciente o está cobrando por melhora.

Ele sabe que precisa melhorar, não porque alguém o cobre melhoras, mas porque o seu interior, sua alma, pede por melhora.

Quando alguém o elogia após a leitura de um trabalho, gera uma crítica construtiva, pois elogiou quando dentro dele existe uma crítica.

Esse irmão se sentirá motivado a fazer mais e mais trabalhos, e, essa persistência o levará à perfeição sem que necessitasse críticas de terceiros.

Hans Selye, outro notável psicólogo que amava estudar o comportamento humano diz: “Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação”.

Na prática, não só tememos, como também não ficamos satisfeitos com críticas feitas por pessoas semelhantes a nós, com o mesmo grau de fragilidade.

A Loja perfeita elogia, sugere, estimula, confere recompensas com palavras: O VERBO. A PALAVRA. O AMOR.

Não quero com isso buscar unanimidade favorável a essa tese que defendo.

Mas tenho observado que em Lojas onde se pensa diferente, o AMOR esfriou, a harmonia desapareceu e as CCol∴da Loja estão em perigo, pois estão VAZIAS...