janeiro 16, 2023

O PROTAGONISMO DO EMBURRECIMENTO - Newton Agrella



Algo que assusta e que causa uma apreensão desmedida é o contínuo processo de emburrecimento que as pessoas estão sofrendo em todo o mundo.

A despeito do emprego da chamada alta tecnologia, assistências online, dispositivos e aplicativos, bem como a instauração de uma linguagem virtual e propositadamente impessoal, somado ao prolífero uso de expressões da lingua inglesa - como se isso simbolizasse algum status -  o que se percebe sistematicamente é o  descompromisso incessante com o exercício intelectual. 

As imposições de ideias e o dogmatismo contido nas pressupostas linhas de raciocínio "express" , na realidade têm se constituído em agentes depauperados da capacidade de pensamento humano.

Deparamo-nos a cada pouco com imagens, vídeos e áudios em que a pseudo tentativa de nos levar a uma elevação cultural, ou prestar-nos algum tipo de contribuição filosófica, quanto a maneira de interpretar a nossa existência e os valores que nos cercam, simplesmente caem num vazio e numa inconsistência estéril sem igual.

O processo de emburrecimento, por exemplo, se torna algo evidente quando o próprio sistema educacional desestimula a leitura e principalmente o abandono da forma maior e consagrada da escrita; ou seja, a "escrita cursiva", na qual a experiência de escrever de próprio punho, sentir o lápis e a caneta, estabelecer uma real conexão com o cérebro, estimular a elaboração de uma frase e a sensação única da criação, ficam relegadas a um segundo plano.

Não se propõe aqui, retroceder no tempo. Em absoluto.

O que se evidencia sim, é o indisfarçável proselitismo da digitação em teclados de notebooks e smartphones. 

O que de algum modo, tem auxiliado no elevado índice de analfabetos funcionais, que mal conseguem ler e escrever, mas que pior que tudo isso, acham-se destituídos de toda e qualquer capacidade de "interpretar um texto", bem como alijados de qualquer poder de argumentação, quando se vêem diante de um livro ou de qualquer peça literária.

Seja em qualquer âmbito cultural, e inclua-se aí a própria Maçonaria, o que se observa é a escassez de textos e de propostas que legitimem a Arte de Pensar, Refletir, Ponderar e Elaborar o Espírito Crítico, com bases consistentes e intransferíveis, em favor da evolução humana.

É óbvio que a tecnologia é uma aliada do progresso da humanidade, porém a cultura e a intensidade do pensamento intelectual é o alimento que nutre a Alma e o Espírito em consonância com o aprimoramento da própria Consciência.

Evoluir demanda entrega, esforço e determinação, enquanto emburrecer é meramente uma questão de acomodação.



AS COLUNAS ZODIACAIS - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz



Nos Templos Maçônicos encontram-se 12 Colunas na parte Ocidental, seis no lado Norte e seis no lado Sul, simbolizando os 12 signos zodiacais, com diversas interpretações, inclusive relacionando-as aos quatro Elementos e aos sete Planetas da Antiguidade:

No lado Norte temos:

ÁRIES: Fogo, Marte

TOURO: Terra, Vênus

GÊMEOS: Ar, Mercúrio

CÂNCER: Água, Lua

LEÃO: Fogo, Sol

VIRGEM: Terra, Mercúrio

No lado Sul estão: 

LIBRA: Ar, Vênus

ESCORPIÃO: Água, Marte 

SAGITÁRIO: Fogo, Júpiter

CAPRICÓRNIO: Terra, Saturno 

AQUÁRIO: Ar, Saturno

PEIXES: Água, Júpiter


A disposição dessas Colunas, que seguem o aparente caminho do Sol, é que justificam a circulação em Loja, no sentido destrocêntrico, ou seja, no sentido dos ponteiros do relógio.

Como as Colunas estão dispostas apenas no Ocidente, não é correto haver circulação no Oriente, embora diversas Potências Maçônicas assim proceda.

Conquanto não se possa afirmar com segurança que os caldeus tenham sido os precursores da Astrologia, certamente foi na Caldéia que alcançou seu esplendor, misto de ciência e religião. 

Há registros de práticas astrológicas em regiões e povos completamente distintos: egípcios, persas, gregos, romanos, indianos, chineses, árabes, incas, maias e astecas, entre outros.

Se bem que os judeus estivessem proibidos por Deus, a classe sacerdotal praticou a Astrologia, influenciados durante o cativeiro em Babilônia, até que o profeta Isaías condenou tais práticas.

Os antigos consideravam os signos zodiacais como a chave de todas as ciências humanas e naturais.

A Astrologia e a Astronomia eram estudadas nas antigas civilizações mesopotâmicas e, na Babilônia e Assíria, a Astrologia era utilizada pela classe sacerdotal para interpretar a vontade dos deuses, uma vez que se baseava na teoria do governo universal pela vontade divina.

Ao lado de todos os templos da mesopotâmia, há cerca de 4000 mil anos antes de Cristo, erguia-se uma torre, chamada Zigurate, e o alto dessa torre era pintada de amarelo, cor do Sol. Servia de observatório astronômico para a classe sacerdotal. 

Pesquisas recentes demonstraram que o fenômeno da precessão dos equinócios já era conhecido pelos astrônomos da Babilônia.

Através das posições dos corpos celestes predizia-se o futuro, interpretava-se os acontecimentos, as vidas humanas e o caráter das pessoas, baseando-se no conceito do homem como centro do universo. 

A partir daí, era lógico julgar-se que o universo girasse em torno de nossa espécie, influindo em nosso destino. Com o triunfo do Cristianismo, passou-se a admitir, no mundo ocidental, que os astros não eram agentes finais do destino. 

Se o futuro pode ser previsto, presume-se que esteja determinado; onde fica, então, o livre-arbítrio humano? Golpe mortal no determinismo religioso da Astrologia! 

Contudo, até o século XVIII, a Astrologia continuava sendo respeitada como ciência. Foi em época relativamente recente que a Astronomia se desvencilhou da Astrologia, assim como a Química da Alquimia e a Física da Metafísica natural. Todavia, não se pode negar a contribuição dessas pseudociências para com as ciências modernas.

Já de algum tempo, a Astrologia está fora do reino da respeitabilidade intelectual e, portanto, carece de valor.


Excerto do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber* do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

janeiro 15, 2023

PROFETAS E LOUCOS - Almir Sant’Anna Cruz


A religião de uns pode ser loucura, superstição, curandeirismo ou charlatanismo de outros. 

A Bíblia nos oferece inúmeros exemplos de profetas e ascetas, pessoas geralmente comuns, do povo, que desempenharam papel preponderante nas religiões Judaica e Cristã.

Pois modernamente, nos hospitais psiquiátricos, são comuns os casos de “loucos religiosos”, numa verdadeira demonstração de como os chamados mistérios da religião exercem forte fascínio sobre indivíduos emocionalmente perturbados. 

Em geral, são pessoas com poderosa inclinação messiânica, ou seja, que se acreditam incumbidas de desempenhar “missões de salvação” durante sua passagem pela Terra. 

Tal como os profetas dos primórdios da religião, têm visões, ouvem vozes e sonham; condenam o pecado, o desregramento moral e os vícios, pretendendo, assim, impor normas rígidas de comportamento, sempre calcadas em preceitos religiosos.

Um exemplo contemporâneo é o “Profeta Gentileza”, um lunático que no Rio de Janeiro, com uma longa barba branca e trajado como um beato, circulava entre os automóveis com “tábuas da lei” e escrevia frases nas colunas dos viadutos no centro da cidade.

 Após a sua morte, suas “escrituras sagradas” pintadas no Elevado da Perimetral, que foi parcialmente demolido, foram preservadas pela prefeitura. 

Foi ele quem cunhou a frase “Gentileza Gera Gentileza”, que atualmente é comercializada em adesivos para automóveis e camisetas. 

Será que lá pelos anos 4000, escavações arqueológicas ao encontrarem fragmentos de concreto com seus escritos, o considerarão um profeta ou até um deus das antigas civilizações do longínquo século XX? 

Pena que não estaremos vivos para saber!

BOM SENSO NA MAÇONARIA - Sidnei Godinho


Em um mundo que sufoca pela maldade galopante e pela falta de dignidade, aqueles integrantes de um seleto grupo, que se propuseram a encontrar a verdadeira luz, carecem de então proceder como verdadeiros iniciados.

Não se pode aceitar que interesses pessoais e políticos sobrepujem os princípios de Moral e Bons Costumes.

Não se pode aceitar que a minoria tente sempre dominar toda uma instituição (ou mesmo uma nação) com seus interesses escusos, como se senhores fossem da realidade, manipulando processos e pessoas, quando no íntimo são apenas escravos de suas vaidades de poder e brilho. 

Para que a Maçonaria seja perene ela intima que se vençam as paixões e se sujeitem suas vontades.

É somente através desta infindável luta do bem contra o mal que o homem consegue purificar sua natureza e alcançar a pureza de um novo ser.

A Perfeição e a Justiça são objetivos a serem buscados diuturnamente e não há como alcançá-los sem o Bom Senso nas ações do dia-a-dia.

O maçom jamais pode ser" inocente " em suas decisões, pois o que se ensina na Ordem é a alcançar o Conhecimento; e *A Sabedoria é oposta à ingenuidade.*

Alegar desconhecer alguns de nossos princípios nem mesmo caracteriza excludente de ilicitude, mas ao contrário evidencia a falta de preparo e o descaso do irmão que ao longo de sua jornada demonstra não ter abandonado suas vaidades.

É preciso estudar e se preparar até para usar a voz em uma sessão e não se tornar um monólogo infrutífero de alguém despreparado.

Que a inspiração para o tão necessário Bom Senso venha daquele que o primeiro exemplo deixou:

... Nem tudo o que "Eu Posso fazer eu *DEVO* fazer...

Que assim seja.'.





janeiro 14, 2023

AQUI COLOMBO INICIOU SUA VIAGEM



O pequeno porto fluvial de Palos na Espanha não é uma visão muito imponente, se considerarmos a mudança global na humanidade que ele proporcionou, pois foi de lá que em 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo partiu rumo ao desconhecido, acabando por chegar na incógnita América.

Porém, ao que parece, o genovês não foi o primeiro navegante a partir de Palos para o que havia além, e voltando para contar a história. De acordo com o grande geógrafo, explorador e historiador de Bagdá Ali al-Masudi, conhecido também como o ''O Heródoto dos Árabes'', 603 anos antes de Colombo, em 889, um outro navegante, porém afro-árabe de nome Khashkhash Ibn Said Ibn Aswad (''filho do Preto'') partiu de Palos, na época Delba no Emirado de Córdoba, rumo à ''ard majhula'', ''terra desconhecida''. Ele narra em seu Murūj aḏ-Ḏahab (''Prados de Ouro'') compilado em 947:

''No Oceano dos Nevoeiros (o Atlântico) existem muitas curiosidades que mencionamos detalhadamente em nosso Akhbar az-Zaman (Notícias de nossa Era), com base no que vimos lá, aventureiros que o penetram arriscando suas vida, alguns retornando em segurança, outros perecendo na tentativa. Assim, um certo habitante de Córdoba, chamado Khashkhash, reuniu um grupo de jovens, seus co-cidadãos, e partiu em uma viagem neste oceano. Depois de muito tempo, ele voltou com butim. Todos andaluzes conhece essa história.''

O relato de al-Masudi, entretanto, não é o único sobre a exploração árabe-ibérica do Atlântico, havendo também o, muito mais detalhado, registro de outro grande geografo muçulmano, o famoso Al-Idrisi do século XII, sobre árabes de Lisboa em Portugal que também se lançaram no Atlântico e descobriram terras novas, que os mais céticos especulam ser as Canárias, Madeira ou Açores.

AS ESPADAS MEDIEVAIS COM O AÇO DAMASCO - Mansur Peixoto



Ferreiro damasceno produzindo espadas da famosa liga metálica medieval conhecida como "aço damasco'', Síria, Império Otomano, inicio do século XX. 

As lâminas de Damasco eram fabricadas no Oriente Médio a partir de lingotes de aço wootz importados da Índia, bem como do Sri Lanka, vindas das distantes rotas de comércio em caravanas e navios.

Os árabes introduziram o aço wootz em Damasco, onde a indústria de armas prosperou durante todo período medieval e além, e por suas qualidades únicas, o aço damasco passou a ter uma fama quase lendária. 

A produção dessas espadas padronizadas diminuiu gradualmente no Oriente Médio islâmico, se extinguindo por volta de 1900, e o processo foi se perdendo para os ferreiros nas décadas seguintes. 

Várias teorias modernas se aventuraram a explicar esse declínio, incluindo a quebra de rotas das comércio para suprir os metais necessários, a falta de impurezas nos metais, a possível perda de conhecimento sobre as técnicas de fabricação por meio de sigilo e falta de transmissão, supressão da indústria na Índia pelo Raj britânico, ou uma combinação de todos estes. 

Recriar o aço de Damasco é um subcampo da arqueologia experimental. Muitos tentaram descobrir ou refazer engenharia reversa do processo pelo qual ela foi feita. Acredita-se que o aço damasco tenha sido a inspiração histórica real de George R. R. Martin para criação do "aço valiriano'' de seus contos em Game of Thrones.


Bibliografia:

-Pacey, Arnold (1991). Technology in World Civilization: A Thousand-year History. MIT Press. p. 80.

-"Early Islamic manufacture of crucible steel at Merv, Turkmenistan"

-Burton, Sir Richard Francis (1884). The Book of the Sword. London: Chatto and Windus. p. 111.

janeiro 13, 2023

SEXTA FEIRA 13 - LENDAS E CRENDICES - Newton Agrella


Algumas datas ou épocas do ano trazem consigo algum tipo de infortúnio, má sorte ou mau presságio.

Especialmente nas culturas ocidentais e sobretudo aquelas que herdaram consideráveis influências do Cristianismo encontram-se muitos exemplos disso.

O próprio cinema norte-americano incumbiu-se de imortalizar essa data ( Sexta Feira 13) com a produção de vários filmes de terror em que diversos acontecimentos macabros transcorrem na referida data.

Hipóteses aventadas para a ORIGEM da Sexta-feira 13 difundidas em diferentes culturas espalhadas ao redor do mundo:

01.) Uma das mais conhecidas justificativas dessa maldição conta que Jesus Cristo foi perseguido por esta data. Antes de ser crucificado em uma sexta-feira, o salvador das religiões cristãs celebrou uma ceia na Quinta Feira - que, ao todo, contava com treze (13) participantes. Entre eles estava Judas, o Traidor.

E Jesus morreu no dia seguinte, uma Sexta Feira.

02.) A tradição cristã relaciona o fato de seu líder ter morrido em uma sexta-feira ao fato de o livro do Apocalipse apontar o número 13 como a marca da besta, do anticristo.

03.) Analogia numerológica dá conta que a Imperfeição do número 13 também está ligada às várias referências ao número 12 na Bíblia (12 tribos de Israel e 12 discípulos), sendo assim, o número 13 destoaria do projeto de Deus.

04.) Outra explicação sobre essa data remonta à consolidação do poder monárquico na França, especificamente quando o *Rei Felipe IV*  sentia-se ameaçado pelo poder e influência exercidos pela Igreja dentro de seu país. Para contornar a situação, ele tentou se filiar à prestigiada ordem religiosa dos Cavaleiros Templários, que, por sua vez, recusou a entrada do monarca na corporação. Enfurecido, segundo relatos, teria ordenado a perseguição e morte aos templários na sexta-feira, 13 de outubro de 1307.  

05.) Na Mitologia Escandinava a maldição da *Sexta-Feira 13* tem a ver com o processo de cristianização dos povos bárbaros que invadiram a Europa no início do período medieval. Reza a lenda que antes de se converterem ao Cristianismo, os escandinavos eram politeístas e tinham grande estima por Friga, deusa do amor e da beleza.  Com o processo de conversão ao Cristianismo, passaram a amaldiçoá-la como uma bruxa que toda Sexta Feira, se reunia com onze feiticeiras e o demônio para rogar pragas contra a humanidade.

06.) Nos Estados Unidos, a *Sexta-Feira 13* é um dia de tradição e mitos sobre casas assombradas por fantasmas e todo tipo de imaginação.

Doze séculos depois dos Maus Agouros pela morte de Carlos Magno, os norte-americanos ainda continuam chamando o andar que vem depois do 12° de 14°. Menos de 10 por cento dos condomínios de Manhattan com 13 andares ou mais têm um andar com o número 13.

Um porta-voz da Otis Int'l, a fabricante de elevadores, estimou uma vez que 85 por cento dos prédios dos EUA com mais de 13 andares evitaram o número azarado. 

Diante dessas lendas e teorias, quando ocorre uma *Sexta-Feira 13* supersticiosos evitam cruzar com gato preto, passar debaixo de escadas, quebrar espelhos e outras crendices que podem trazer mau agouro.

Como se percebe a Superstição independentemente do nível sócio-econômico e intelectual dos povos é um dispositivo da alma humana arraigada à crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, e a depositar confiança em coisas 

EMBRIAGAI-V0S - Charles Baudelaire





Dedico aos poetas do Grupo Maçons em Reflexão.

Embriagai-vos!!!!!

Deveis andar constantemente embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.

E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntais que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: — É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!

Charles Baudelaire, In Poemas em Prosa

A CONTRIBUIÇÃO ÁRABE PARA A QUÍMICA - Mansur Peixoto


Muito mais que a matemática e a astronomia, a química foi sem sombra de dúvidas um dos maiores legados da civilização islâmica medieval. A própria palavra química é a ‘’al-kīmīya’’ árabe sem o artigo ‘’al’’ que acompanhava sua versão anterior, alquimia.

O fundador desta ciência dentre os muçulmanos foi o tataraneto do Profeta Muhammad, Jafar as-Sadiq (702-765), mestre alquimista de ninguém menos que o grande Jabir Ibn Hayyan ou ‘’Geber’’, pai da química, criador da classificação sistemática de substâncias químicas e as mais antigas instruções conhecidas sobre como derivar compostos inorgânicos de substâncias orgânicas por meios químicos. Suas obras também contêm uma das primeiras versões conhecidas da teoria dos metais enxofre-mercúrio, uma teoria mineralógica que permaneceria dominante até o século XVIII, além de ter sido o inventor da retorta e do alambique (do ár. ‘’al-anbiq’’), que ele utilizava para destilar o álcool (do ár. al-kohol). 

Outros grandes químicos muçulmanos medievais foram al-Razi, descobridor do ácido sulfúrico e do etanol. Al-Kindi, que refutou no século IX a ideia da transformação de metais pobres em ouro e é considerado o pai da perfumaria moderna através do seu "Livro da Química dos Perfumes e Destilações", onde criou 107 fragrâncias.

Maslama al-Majriti, o primeiro a observar o princípio da conservação da massa, que realizou ao descobrir o óxido de mercúrio, 700 anos antes do francês Lavoisier. E Al-Biruni, que desenvolveu métodos experimentais para determinar a densidade, usando um tipo particular de equilíbrio hidrostático e descobriu o ácido inoxidável. 

Até hoje alguns elementos químicos e substancias carregam nomes de origem árabe, como o boro do árabe buraq, zircônio, do árabe zarkun, antimônio, do árabe ʾiṯmid, ou azote, antigo nome do nitrogênio, por sua vez derivado do árabe al-zuq, e os que tiveram seus nomes árabes substituídos por ‘’latinos cientificos’’ na química moderna, mas ainda carregam o árabe em suas letras da tabela periódica, como o sódio, cuja sigla é NA, do latim moderno natrium, por sua vez do árabe natrun (نطرون ), ou o potássio, K, do latim medieval kalium, do árabe al-qaly (القلي), de onde deriva também termos como ‘’alcalino’’.

janeiro 12, 2023

A AÇÃO PROVÊ OS MEIOS - Heitor Rodrigues Freire

 

Deus, em sua infinita sabedoria, ao criar o ser humano dotou-o de todo o instrumental necessário para o seu desenvolvimento físico, mental e espiritual, para que pudesse, por si só, dar conta de sua vida, sem distinção de etnia, classe, status social, religião, profissão ou cor, tornando-o único.

Essa consciência precisa ser alcançada para que cada pessoa possa fazer sua parte de forma adequada e responsável, porque cada um é o único responsável por sua vida, por seus atos, sucessos e fracassos.

O homem, dependendo de seus atos, constrói ou destrói seu destino. Sua colheita vai depender unicamente da sua semeadura. A colheita, tanto de uma forma como de outra, vai acontecer, no tempo adequado. O tempo de Deus é diferente do nosso. Ele é quem sabe quando e onde vai acontecer. Mas que vai acontecer, vai.

O homem que espera acontecer perde seu tempo, fica reclamando, gerando energia negativa em seu redor, e não resolve nada. Na medida em que cada um se voltar para o seu interior de forma autêntica e consciente, vai encontrar sempre a orientação correta para o seu agir.

“A palavra é o princípio de qualquer obra, e antes de agir é preciso refletir” (Eclesiástico 37,16).

Cada ato consciente, com finalidade objetiva, cria por suas próprias ações os meios que irão contribuir para sua realização. Naturalmente. Basta observar e agir, estar presente. 

Eu tenho um exemplo que vem bem a calhar. Em 1993, eu era chanceler da Funlec, a Fundação Lowtons de Educação e Cultura, instituição criada pela Maçonaria para ser seu braço educativo e cultural.

Tínhamos a intenção de criar mais uma escola. Reunimos um grupo de maçons e apresentei a intenção. 

Primeira pergunta: Temos um terreno? Resposta: Não.

Segunda pergunta: Temos dinheiro para comprar um terreno e construir uma escola? Resposta: Não.

Mas tínhamos o indispensável: a vontade de fazer, a fé na intenção e a confiança no poder de Deus.

Assim, conversa daqui, conversa dali, começaram a surgir as possibilidades. Resumo da ópera: conseguimos por comodato com a Prefeitura – prefeito Lúdio Coelho –, um terreno de dimensões adequadas no Bairro Cachoeirinha, e começamos a vender as matrículas por antecipação. Em um ano, estava construído o Colégio Oswaldo Tognini, com 6 mil metros quadrados de área construída, oito quadras esportivas, uma piscina semiolímpica e um ginásio coberto, com mais de 2 mil alunos matriculados.  

Milagre? Não. Ação direta e objetiva.

Afirma o dito popular: Poderíamos comparar o vigor humano à força das águas correntes tanto dos pequenos riachos quanto dos grandes rios.

À medida que as águas dos riachos seguem seu curso rumo ao rio, e este rumo ao mar, elas passam por diversos obstáculos naturais, mas o vigor das águas possibilita contornar e vencer tudo, sempre buscando a meta.

As águas que se cansam se represam, tornam-se águas paradas, se deterioram e não realizam no seu trajeto as belezas das lindas corredeiras e belas cachoeiras. Ganham em tranquilidade, mas perdem em vigor.

Nós somos como as águas, temos muitos desafios na vida a serem vencidos, uns menos, outros mais, e cada dia significa uma nova surpresa em nossa jornada rumo ao mar. Nossas virtudes e habilidades são desenvolvidas quando acatamos com entusiasmo nossa missão terrena vencendo os obstáculos.

Buscar refúgio em águas paradas é uma opção que limita nossas possibilidades. A vida só tem valor na ação, ou seja, no vigor que acolhe todas as manifestações, caso contrário ela própria perde seu sentido.

Periodicamente devemos avaliar a forma como estamos conduzindo nossa vida. Será que estamos agindo como água corrente para construir caminhos ante quaisquer dificuldades? O mar da glória eterna é a nossa meta.

“Alguns abandonam os seus objetivos justamente quando estão a ponto de atingi-los enquanto outros, pelo contrário, conseguem a vitória esforçando-se com um último impulso, sem se renderem” (Políbio -203 a.C.- 120 a.C.)

As forças astrais, mentais e espirituais de todo o Universo, estão à espera de serem acionadas. Depende da ação de cada um. Depende das muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo de cada um, que alie perseverança, inteligência e senso de observação.

“O acaso só favorece a mente preparada” – Louis Pasteur. 

Desta forma, constatamos que se cada um se desenvolver de forma integral e sistêmica naturalmente a sorte vai lhe favorecer, sempre. 


A ORIGEM DA PALAVRA AZAR - Mansur Peixoto

 


A palavra azar vem do árabe azhar, “flores” – termo derivado de um jogo árabe trazido pelos cavaleiros franceses do Oriente Médio na Terceira Cruzada, que o afrancesaram como ‘’hazard’’, imortalizado no clássico medieval Contos da Cantuária de Geoffrey Chaucer .

 A associação do dado com a flor se deu porque uma das faces da peça, a desfavorável, tinha o símbolo de uma flor, ou ''azhar'', em árabe. Pela ligação óbvia do dado com a ideia de probabilidade, o termo arábico passou a indicar o elemento do imprevisto nos acontecimentos. 

Hazard no francês é tanto a boa quanto a má sorte, simplesmente ''chance'', enquanto no inglês atual é somente risco. Já no português moderno passou a indicar principalmente sorte contrária, simplesmente o significado que atribuímos hoje, o de ''azar''.

janeiro 11, 2023

A CONQUISTA DE ÓBIDOS

 


Há 875 anos, a 11 de janeiro de 1148, D. Afonso Henriques conquista a vila de Óbidos aos mouros.

 Em novembro de 1147, e após a conquista de Lisboa e de Santarém aos mouros, o primeiro rei de Portugal decide-se pela conquista de Óbidos por saber que esta era uma praça mais forte do que outras como Torres Vedras ou Alenquer. Liderado por Gonçalo Mendes da Maia, o ‘Lidador’, um grupo de cavaleiros investiu durante a noite pela parte nascente da terra enquanto os restantes militares portugueses chamavam a atenção dos árabes na porta do castelo a poente, hoje chamada Porta da Vila.

De acordo com a história, foi valente esta batalha que é uma das menos recordadas por alegadamente ter sido “abafada” pela conquista das importantes Lisboa e Santarém. Esta “tomada” surge após a reconquista de Santarém, considerada uma das mais bem defendidas cidades sob domínio muçulmano. Tendo a conquista de Portugal aos mouros sido feita de norte para sul, Óbidos era a “cabeça” ou castelo de um território de grandes dimensões, tendo tido um papel importante no povoamento do reino para sul.

D. Afonso Henriques considerava a conquista de Óbidos como uma dificílima empresa, e só desalojou as hostes agarenas que aguerridamente defenderam o castelo graças a um estratagema que permitiu tomar a vila. Enquanto o grosso do exército atacava a Porta da Vila e as muralhas a poente, um grupo de cavaleiros dirigia-se a nascente, entrando pela hoje designada Porta da Traição.

#Óbidos #HistóriadePortugal #Antena1RTP

SERENDIPITIA - Heitor Rodrigues Freire


Outro dia, lendo um texto de fim de ano escrito pela professora Lucilene Machado, de quem sou admirador e leitor assíduo, me deparei com uma palavra estranha na qual ela dizia concentrar seus desejos para seus inúmeros leitores e amigos: serendipitia.

Aí, como sou curioso, fui pesquisar.

Pensando bem, não é esdrúxula essa palavra? Esdrúxula é a característica de alguém ou daquilo que se encontra fora das regras usuais, que se apresenta de modo incomum, causando admiração ou espanto; excêntrico. Um comportamento ou uma situação esdrúxula, por ser incomum, costuma causar reações de surpresa e de espanto.

Existe algo mais esdrúxulo do que a palavra esdrúxulo?

Mas deixando de lado a esdruxulice, vamos ao nosso tema.

Serendipitia, serendipidade ou serendipismo é uma palavra de origem inglesa que se refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso. Coisa descoberta por acaso. 

Pois então trata-se de um desejo muito afortunado e bem utilizado pela professora Lucilene. O conceito original de serendipismo foi muito usado em sua origem. Nos dias de hoje, é considerado uma forma especial de criatividade ou uma das muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo de uma pessoa adulta, que alia perseverança, inteligência e senso de observação.

Inovações apresentadas como exemplo de serendipidade apresentam uma característica importante: foram feitas por indivíduos capazes de “ver pontes onde outros viam buracos” e ligar eventos de modo criativo com base na percepção de um vínculo significativo.

A serendipidade é tipicamente usada de forma incorreta como sinônimo de oportunidade, coincidência, sorte ou providência, conceitos que prejudicam a apreciação do termo em relação à sua contribuição para o processo de inovação. Na realidade, eu já aprendi que nada acontece por acaso. O acaso não existe.

A serendipidade é uma qualidade muitas vezes incompreendida para a descoberta e a inovação, que pode se constituir numa ferramenta poderosa na contribuição de percepções inovadoras que conduzem à realização de visões empreendedoras. Ao entender o processo de seu desenvolvimento e utilização, os gestores e pesquisadores podem usar a serindipidade como importante contribuição para o sucesso competitivo de uma empresa.

A história da ciência está repleta de casos que podem ser classificados como serendipismo, como as descobertas de Arquimedes (que postulou princípios elementares como o conceito da impulsão e da alavanca, entre outras descobertas importantes para a física), Alexander Fleming (descobridor da penicilina) e Nikola Tesla (cujo trabalho fundamentou o sistema elétrico utilizado globalmente), casos típicos de serendipidade, pois todos estavam preparados para o que supostamente “descobriram”.

“O acaso só favorece a mente preparada” – Louis Pasteur. Ou seja, de acordo com essa  sábia frase de Pasteur, a boa sorte depende do quanto  uma mente está preparada, e neste contexto podemos considerar tanto a parte cognitiva e racional quanto a emocional. 

Desta forma, constatamos que se você se desenvolver de forma integral e sistêmica, naturalmente sua sorte vai lhe favorecer. 

Essa ideia deu origem a um outro dito famoso: 

“Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho” – Thomas Jefferson.

Parafraseando então a professora Lucilene: serendipitia para todos!