janeiro 18, 2023

OS IRMÃOS INVISÍVEIS NA MAÇONARIA. - Orlei Figueiredo



A Maçonaria, entre as virtudes que valora, prega seus conhecimentos e os transmite através dos seus Ritos, Liturgias e dos exemplos de irmãos, maçons dedicados, através de suas obras construtoras do bem comum, tanto as traçadas em pranchas de arquitetura como em atitudes pessoais. 

Acredito que, - a defesa e a pregação da  liberdade do pensamento - é um dos princípios fundamentais que mantém nossa Ordem viva, atuante, sempre atual, capaz de conduzir o maçom pela infinita senda do estudo e do conhecimento das ciências humanas, perfeitamente ajustadas e obedientes, as Leis de Deus, o Grande Arquiteto do Universo.

Leis que sempre se revelam, de modo esotérico, oculto, ou filosófico, sem favores pessoais, aos que se dedicam adentrar com amor, humildade e boa fé nos Seus Augustos Mistérios.

Desta forma, as três Colunas do Templo, representando a Força, a Beleza e a Sabedoria, carecem sempre de uma perfeita interação, para que haja a paz, a harmonia e a concórdia. 

Para isto, deve prevalecer, da parte dos três irmãos que comandam uma Oficina de Trabalho, o desejo sincero, fraterno e adorável, da compreensão de que seus irmãos, presentes em Sessão, são diferentes em muitos aspectos, como o meio onde foram criados, o meio onde vivem na vida profana, as suas vivencias pessoais e, - as suas crenças, ou seja, o modo que creem em Deus. 

Porque a Maçonaria apenas exige que, - o homem profano, para que se torne um maçom, creia num Ente Espiritual Superior, Deus.

Faço estas considerações, para dizer que, temos irmãos maçons que acreditam na presença de espíritos desencarnados assistindo as Sessões, principalmente os irmãos maçons que partiram para o Oriente Eterno.

Temos irmãos maçons que acreditam que Irmãos Invisíveis são todos os irmãos maçons presentes em Sessão e na Cadeia de União, através dos seus pensamentos, pois muitos estão participando de outras milhares de Lojas espalhadas por todos os continentes do planeta Terra. 

E, quando em cada uma delas forma-se uma Egrégora, ou seja, uma energia igual, semelhante, a qual envolve os irmãos, unindo-os, não importando a distância que os separe.

Temos ainda, irmãos maçons que acreditam apenas no Grande Arquiteto do Universo, que se manifesta em Sessão através da Escada de Jacó, na qual os Anjos, - Mensageiros de Deus, sejam os Irmãos Invisíveis, que trazem as bênçãos prodigalizadas pelo Supremo Criador e levam até Ele, os rogos e os pedidos feitos, mentalmente pelos irmãos presentes, unidos fraternalmente na Cadeia de União.

O homem maçom é um livre pensador!

Precisamos convir que vivemos em Loja e fora dela, as influências das energias circulantes.

Somos individual e coletivamente, um somatório de energias.

Emitimos e captamos energias.

Lembremos das velas que iluminam o Templo!

Uma vela acesa permite que o número de velas necessárias para um determinado Grau que, acontece em Loja, sejam todas acesas em sua chama.

Mesmo, - cedendo a luz de sua chama, a vela que permite que sejam acessas as demais velas continua flamejante, não perde a intensidade de sua luz, até que termine sua composição formada por materiais orgânicos ou minerais, - velas de cera ou parafina, ou seja apagada ritualisticamente.

Desta forma, precisamos nos conscientizar da importância das nossas doações energéticas, pois, com a luz que emana, irradia de cada um de nós, irmãos maçons, é que contribuiremos positivamente para que a paz, o perfeito entendimento, a união e a concórdia se estabeleçam, para a formação da Egregora renovadora, encorajadora, moderadora, pacífica, prudente, fraterna e amorável,  continue permanecendo conosco, nos conduzindo de forma segura pelos caminhos do mundo.

Até que na próxima Sessão possamos repetir, todos estes procedimentos, capaz de nos tornar verdadeiramente irmãos, aptos ao trabalho de contribuirmos positivamente com nossos amados familiares, irmãos e amigos.

Também o de mantermos sempre o ideal de tonarmos feliz a humanidade.

Lembremos sempre que certas discussões apenas promovem vaidades!

Temos o direito de pensarmos diferente sobre vários temas e assuntos, porém não podemos jamais impor aos outros, aos demais irmãos maçons, as nossas próprias "verdades".



janeiro 17, 2023

EGO ESPIRITUAL X RELACIONAMENTOS




No filme "Eu não sou seu guru", Tony Robbins disse mais ou menos assim: 

_Você pode ter força espiritual, meditar todos os dias e ser o melhor nisso, mas se não sabe se relacionar, não evoluiu nada. 

Essa é a mais pura verdade! 

O que mais vemos por aí é uma galera grande se achando evoluído porque tem uma religião, porque faz caridade, porque faz Yoga, porque é vegetariano, porque medita... 

O que nos faz crescer e evoluir são as nossas relações.

São elas que nos mostram verdadeiramente quem somos. 

De nada adianta fazer tudo isso se ainda não sabemos nos relacionar e se não estivermos conscientes de que essa é a única forma de crescer. 

Porque meditar é fácil! Frequentar casas espirituais também!

Ser generoso dentro dos templos é mais fácil ainda! 

O difícil é trazer tudo isso pro dia a dia, nas relações.

Porque nelas experimentamos intimidade e na intimidade as nossas vulnerabilidades são expostas. 

É aí que mostramos mesmo quem somos. 

É aí que as nossas sombras aparecem.

E é aí, no dia a dia das relações, que podemos nos trabalhar para melhorar. 

Nesse momento da intimidade, as mentiras que contamos pra nós e para o mundo, não se sustentam.

Não tem meditação, Yoga, ou Espiritualidade que sustente as nossas mentiras. 

É claro que tudo isso nos conduz a um lugar melhor de nós mesmos.

É maravilhoso fazer tudo isso. 

Mas não basta! 

Todas essas coisas são parte do caminho, parte do caminhar.

Todas essas formas de nos acessarmos fazem parte da teoria, mas a prática mesmo são os relacionamentos. 

_Não basta meditar todo dia e se aborrecer constantemente com o(a) companheiro(a), ou com os filhos, ou com os pais. 

_Não basta se espiritualizar, fazer caridade e tratar mal o porteiro, o garçom, o caixa do supermercado. 

_E não basta achar que somos maravilhosos e seres elevados se não conseguimos saber, de verdade, quem somos. 

_Não adianta fazer de conta que está se aprofundando, quando na verdade o olhar só fica na superfície, colocando a responsabilidade de tudo nos outros. 

O nome que se dá a todas essas pegadinhas é "Ego Espiritual".

E o mundo tá cheio deles. 

Pessoas que até têm uma boa intenção de transformação, mas que na maioria das vezes não conseguem reconhecer seus erros, suas falhas e vão colocando as responsabilidades daquilo que não deu certo, no outro. 

Então, é preciso estarmos atentos ao nosso ego espiritual. 

É preciso estarmos atentos a quem somos e o que lá no fundo desejamos. 

É preciso reconhecer que se nos julgamos melhores e/ou mais evoluídos porque não comemos carne, porque produzimos menos lixo, porque andamos de bicicleta ou por qualquer outra coisa, tudo o que não somos é evoluídos. 

Porque seres evoluídos não se comparam e não competem. 

Eles são o que são, sabem disso e não precisam provar pra ninguém. 

E se você descobriu que seu ego espiritual está gritando aí dentro, que bom! 

Fique feliz por estar se tornando consciente dele. 

Porque é só através dessa consciência que podemos melhorar. 

Seja bem-vindo ao mundo dos que são de verdade!!! 


O QUE POSSO FAZER ? - Adilson Zotovici



Indagou pedreiro inquieto

Por não entender a ventura

Desse canteiro o objeto

Nem antever semeadura


Lembrei-o com todo afeto

Que livrado da furna escura

Levado à Luz, vez que dileto

Da sua soturna clausura


Perguntou em tom discreto:

O que realizar  por ventura

A esse grupo tão seleto

Por essa sacra investidura ?...


Tens ferramental completo

À perfeição atém com candura

Na perenal trilha, discreto

Que brilha além da sepultura


Fez-nos o Grande Arquiteto

Rico bloco em pedra dura

A algo que medra, concreto

Uma lapidada criatura


Sem enganos, nada secreto:

Nos arcanos a propositura

“_Basta estudares o projeto_

_E lavrares tua própria escultura_” !!!



OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS E A PRETENDIDA ORIGEM DA MAÇONARIA - Pedro Juk



Em 19/06/2017 o Respeitável Irmão Demétrius Galego Davis, Loja José Caraver, 101, REAA, Grande Loja do Estado do Rio Grande do Sul, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta o seguinte:

Na atualidade, estou fazendo pesquisas para elaborar uma Peça sobre o tema "Cavaleiros Templários e as Origens da Maçonaria". Confesso ter recebido algumas dicas de pesquisa (Jacques De Molay, A Lenda do Santo Graal e a Arca da Aliança, etc.)... Mas, confesso que estou um pouco "perdido" para elaborar esse trabalho. Pelo exposto, gostaria de saber se o estimado Irmão teria alguma pesquisa já feita sobre esses temas, que poderiam ser úteis na elaboração da Peça de Arquitetura que ainda irei elaborar. Se o irmão tiver disponibilidade e aceitar compartilhar conhecimento comigo, serei muito grato.

CONSIDERAÇÕES:

De início devo mencionar que essa é daquelas bobagens que persistem em existir, devido à insistência de alguns autores que teimam em inescrupulosamente associar os Templários às origens da Maçonaria. 

Afirmativa temerária, querer associar a Ordem Templária com o florescimento da Maçonaria, pura e simplesmente, é mero elemento contraditório. 

É certo, porém que existem alguns graus dos chamados “Altos Graus e Graus Laterais” de alguns Ritos e Trabalhos maçônicos que mencionam práticas litúrgicas relacionadas aos costumes da Ordem da Milícia do Templo, todavia isso nunca teve nenhuma ligação com a autenticidade histórica, senão como um espécime estrutural e lendário para atender metodologicamente o aprimoramento dos iniciados. 

Ratifico: a Ordem da Milícia do Templo (Templários) não deve sob qualquer justificativa ser considerada como um elemento ancestral da Ordem Maçônica, salvo como um artifício alegórico de estudo para aplicação de uma doutrina. É o caso, por exemplo, do que acontece com o Templo de Jerusalém na Maçonaria que, mesmo sendo um dos principais ícones das suas alegorias doutrinárias, sob nenhuma hipótese se concebe, aos olhos da história autêntica, imaginar a existência de maçons construtores naquele período da História. 

O ideário do Templo surgiu não como um elemento histórico, mas sim como um método de estrutura doutrinária que se ocupou de construir a Lenda do Terceiro Grau. A fantástica Lenda é - como diz o sentido - apenas uma lenda.

Dados esses comentários seguem alguns apontamentos inerente à história dos Templários de Jacques De Molay.

A Ordem da Milícia do Templo, também conhecida entre os estudiosos como “Templários”, teve a sua fundação no ano de 1118 por Hughes de Payns e por um grupo de oito cavaleiros que tinham participado da cruzada de Godefroi de Bovilon. 

De início, denominavam-se Os Pobres Cavaleiros de Cristo, protegidos por São Bernardo adotaram o nome de Templários na ocasião em que Balduíno II, rei de Jerusalém, instalou-os em um palácio contíguo ao antigo e lendário Templo de Jerusalém, também conhecido como o Templo de Salomão (sic). 

Confirmada como instituição em um concílio que estivera reunido em Troyes em 1128, foi dotada por regra monástica e militar, cujo regulamento severo e judicioso foi ditado pelo próprio São Bernardo.

Com o objetivo principal de proteger e escoltar os peregrinos que iam à Terra Santa, os Templários formavam a estrutura principal dos exércitos dos cruzados na Palestina. Adquiriram vultosas receitas advindas de grande número de doações e donativos, embora também contraíssem austeras despesas devido às costumeiras guerras que se envolviam (Cruzadas), bem como idealizadores da construção e manutenção de muitas fortalezas na Terra Santa.

Excelentes administradores, fiéis e organizados depositários de bens de natureza financeira, acabariam também, sob esse perfil, por se tornar banqueiros de papas, reis, príncipes e outros de situação abastada. Entretanto, devido ao acúmulo de riqueza, a Ordem Templária não demoraria a suscitar sobre si imensa cobiça por parte de muitos príncipes e governantes, os quais para justificar a cupidez, lhes atribuíam lendas malévolas e hediondas.

Organização dependente diretamente do Papa, os Templários logo excitariam também a malevolência dos bispos e demais autoridades que, no afã da cobiça, apelavam queixosamente com constância a Roma. Contudo, a Ordem era levada em alta conta pelo Papa e com isso o pontífice desviava-lhe os olhos dos seus defeitos naturais oriundos do perfil da dupla finalidade assumida pela Ordem, já que os seus integrantes eram ao mesmo tempo, monges e soberbos soldados.

Sob o perfil de valentia e temeridade, os Templários se tornariam homens orgulhosos e briguentos, embora também suscetíveis aos reveses sofridos pelos cristãos no Oriente o que acabaria por lhes proporcionar a diminuição de boa parte do seu prestígio.

Sob o estigma da cobiça muitas lendas caluniosas insidiam sobre os Templários a tal ponto de lhes comprometer a moralidade. Com isso era comum se ouvir, mesmo que velados, comentários embusteiros de que nos seus capítulos existia idolatria e devassidão. 

Foi assim que, sob a égide da cobiça e amargurado pela constante derrocada da economia do seu reino devido as incessantes guerras que movia contra os seus vizinhos e, temeroso pelo poderio circunstancial adquirido pelos Cavaleiros Templários; aconselhado pelos inescrupulosos que o rodeavam; o Rei Felipe, o Belo, conspirou para se apoderar dos bens da Ordem Templária. 

Em 14 de setembro de 1307, Filipe lançou ordem de captura de todos os Templários que se encontrassem em seu reino. Presos em 13 de outubro daquele ano por acusação de heresia e sodomia, perante a Inquisição, além de crimes de toda sorte, eles foram caluniados, espoliados, martirizados e condenados. Sob tortura, acabariam confessando tudo àquilo que era conveniente ao Rei, das quais, inclusive a renegação de Jesus Cristo e adoração a Baphomet, pretenso ídolo que chegou a ser relacionado com Maomé. 

Assim, em 1308 os Estados Gerais de Tours declaravam a condenação à morte dos integrantes da Ordem, enquanto o Concílio de Viena em 13 de abril de 1312, na França e com a conivência do Papa Clemente V, submisso ao Rei Felipe IV (o Belo), pronunciava a sua completa supressão.

Com toda a sorte de multiplicação de torturas os inquisidores conseguiram confissões de culpabilidade de alguns dos altos dignitários da Ordem, dentre os quais do seu último Grão-Mestre, Jacques De Molay. Não querendo, entretanto, confirmar as confissões que lhes foram arrancadas, sob tortura, miséria e falsas promessas, esses dignitários retrataram-se (desmentiram as confissões) perante o público o que deixou irado o rei devasso, condenando-os à morte como relapsos, os quais foram queimados vivos em 13 de março de 1314.

De qualquer maneira, pela organização, prestígio e riqueza da Ordem ela não seria completamente exterminada e muitos dos seus adeptos conseguiriam burlar os destinos condenatórios se refugiando no norte da Inglaterra até o fim dos seus dias, principalmente na Escócia. 

Conhecedores de muitos segredos relativos à arte e as ciências aprendidas com os árabes durante as suas perambulações pelo Oriente Médio, seria mais do que normal para os Templários, pelas suas habilidades e conhecimento, se integrarem às Guildas de Construtores Medievais que haviam florescido no norte da Inglaterra e distante do poderio eclesiástico de Roma.

Assim, sobre esses acontecimentos é que desafortunadamente muitos autores, uns por desatenção e outros por puro ufanismo, inverteram os acontecimentos sem observar as narrativas originais e notáveis dos fatos. Muitos pesquisadores desatentos acabariam por montar uma falácia na histórica “achando” que os maçons construtores da Idade Média teriam se originado na Ordem da Milícia do Templo.

Outro importante pormenor dessa história e que também merece muita atenção por parte do pesquisador é que antes da dispersão dos Templários para o norte da Europa, ainda nos tempos áureos da Ordem, muitos maçons operativos foram atraídos e contratados para construir e reparar, junto com as Compagnonnages, cidadelas e fortalezas idealizadas pela Milícia do Templo no caminho para a Palestina (vide a história das Cruzadas e das Compagnonnages francesas). 

Sem dúvida é inegável que a relação entre a Maçonaria Operativa e os Templários existiu, mas ela foi puramente profissional, estando, porém muito longe de se admitir que entre essas instituições houvesse uma afinidade de ancestralidade.

Do mesmo modo também nunca existiu nenhum vínculo de ascendência entre as Instituições quando as Guildas de Construtores Operativos da Idade Média na Escócia, precursores da Francomaçonaria, acolheram mais tarde, numa relação meramente econômica-profissional, os remanescentes dispersos da Ordem da Milícia do Templo.

A despeito desses comentários, ainda existem os tendenciosos e inescrupulosos “autores inventores” que procuraram associar intimamente a Ordem Templária com a Francomaçonaria. É o que se verá a seguir.

Quatro séculos mais tarde, em pleno século XVIII, já na Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, nasceu uma incrível fábula criada por fabricantes sem escrúpulos dos “Altos Graus” fantasiosos, a chamada “origem templária”, segundo a qual a Ordem do Templo, da qual alguns sobreviventes haviam se refugiado na Escócia, teria dado origem à Maçonaria!

Fantasia histórica, embora refutada várias vezes e até condenada na convenção de Wilhelmsbad[1] no ano de 1782 e desmontada pelo autêntico Albert Lantoine em La Franc-Maçonnerie chez elle (Francomaçonaria em casa), infelizmente essa falácia renasce periodicamente, apesar de contestada e contra atacada por inúmeros historiadores comprometidos com a verdade.

Allec Mellor in Dictionnaire des Franc-Maçons et de La Franc-Maçonnerie, 1979, Belfond, Paris, 1971-1979, citando o que escreveu Albert Lantoine em 1925, nos traz uma preciosa manifestação com autenticidade: “Essa reputação revolucionária adquirida pela Ordem – que lhe fez tanto mal e da qual a Franco-Maçonaria francesa se orgulhava – aconteceu simplesmente porque, em sua loucura de grandeza, um devoto dos Altos Graus quis assinar o avental maçônico com a cruz vermelha dos Templários”.

À bem da verdade a criação dessa fábula se deve ao Barão de Hundt, o criador do Rito da Estrita Observância que, no século XVIII inventou sem fundamento histórico algum, ter Jacques de Molay nomeado um sucessor para substituí-lo como dirigente da Ordem do Templo e que o mesmo teria se retirado para a Escócia onde “havia fundado a Maçonaria!”. Irresponsavelmente o Rito Estrita Observância então se propunha a reivindicar os bens deixados pelos Templários daqueles que dele tinham se apossado e que posteriormente seriam distribuídos aos membros do Rito e dos quais seriam cobradas elevadas quantias em bens e riquezas para servirem de sustento aos seus dirigentes. Pura cafajestada que simplesmente intencionava apropriação indébita - coisas que certos copistas e espalhadores de inverdades teimam ainda em não reconhecer.

Vale a pena também mencionar um dos documentos básicos do escocesismo; o Discurso de André Miguel de Ramsay que, mesmo proibido na França pelo cardeal Fleury, acabou sendo pronunciado em 1737 na Inglaterra. Ramsay querendo dar um significado aristocrata para a Maçonaria, falava sobre os “cruzados”, embora não sobre os Templários em particular. Assim havia lançado uma fábula segundo a qual os “cruzados” teriam dado origem à Maçonaria. 

Na verdade esse engodo era para satisfazer o orgulho aristocrático dos maçons franceses da época que não se satisfaziam apenas com o prestígio obscuro dos construtores medievais. Assim, ligar à Maçonaria aos Templários era a “varinha de condão” para satisfazer o pavonismo latino, embora ainda ficasse um hiato de quatro séculos que separava os “Cruzados” da Maçonaria Especulativa, essa como Instituição ainda recente.

A fantasia foi fácil suprir esse hiato, bastando para tal apenas inventar que os Templários haviam sobrevivido secretamente por todo esse tempo, o que imediatamente satisfez os espíritos crédulos que raramente possuíam uma formação crítica (como acontece ainda hoje).

É fato também que em pleno século XXI ainda existem adeptos que excessivamente imaginam essa pretensa vida secreta e até mesmo muitas vezes se fantasiam a moda medieval.

Em 1806 surgia em Paris uma nova Ordem do Templo baseada num documento falsificado chamado de a Carta de Transmissão de Larmenius. Era mais um de outros embustes que vinha acompanhado de uma suposta lista de Grãos-Mestres Templários estabelecendo a sucessão de Jacques De Molay até Fabré-Palaprat no ano de 1804.

Na realidade essas Ordens neotemplárias acabariam todas ligadas deixando seus traços na Moderna Maçonaria francesa e nos Ritos compostos por Altos Graus, principalmente no REAA com seus graus de Kadosh e outros baseados nessas lendas, bem como em alguns side degrees (graus laterais) da Maçonaria inglesa.

Embora inúmeros pesquisadores e escritores maçônicos do século XVIII e XIX tenham se esforçado para encontrar palpáveis relações não fantasiosas entre os Templários e a Maçonaria Operativa, desde o discurso de André Miguel de Ramsay e posteriormente adornada como lenda pelo Barão de Hundt, em cuja qual ele substituiu o termo “cruzados” por “templários” afirmando que “todo o verdadeiro maçom é um cavaleiro templário” (sic), nenhum deles conseguiu encontrar elemento plausível de crédito para essas e tantas outras afirmativas temerárias.

Embora a existência das Compagnonnages (braço construtor templário), também era natural que grandes empreendedores como foram os Templários tenham tido nos seus tempos áureos a necessidade de contratar mais mão de obra especializada para as suas edificações, tanto sacras como as militares. 

As regalias que desfrutavam em seus domínios francos serviam perfeitamente para atrair com certa facilidade os operários das guildas construtoras garantindo-lhes subsistência em tempos difíceis de conseguir trabalho contínuo. Essa relação puramente profissional é o único elo existente na época das Cruzadas entre os Templários e a Francomaçonaria operativa, mas não ao ponto de se achar que uma pudesse ter dado origem a outra.

Já bem mais tarde, como já comentado, a outra relação que aparece entre ambas, reporta-se ao tempo do exílio dos Templários em fuga das perseguições na decadência da sua Ordem. Nessa oportunidade, ao contrário, foram as Guildas Operativas da Francomaçonaria que os acolheram dispersamente, inclusive valendo-se do seu prestígio e conhecimento. Mais uma vez o fato não nos dá o direito de afirmar “origens” entre uma e outra Instituição.

É desse período que podem ser encontradas inúmeras evidências de símbolos templários (espada) unidos a símbolos maçônicos operativos (letra G), todavia isso nunca autorizou afirmativas de origem ou influência, senão um momento da história em que muitos Templários se tornaram maçons na Escócia, ainda medieval, pelas próprias circunstâncias.

Dizer que a Maçonaria é filha dos Templários é proferir uma afirmativa temerária, já que isso nunca existiu. Ambas as Ordens, uma sacra e militar e a outra composta por canteiros medievais que trabalhavam na pedra calcária, podem ter caminhado juntas por conjunturas de momento, porém nunca existindo entre elas quaisquer ligações que possam sugerir “origens”.

Por fim, é certo que a Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, pelo seu ecletismo e na profusão dos seus ritos e rituais a partir do século XVIII, sobretudo no que concernem as doutrinas dos seus Altos Graus, possui na sua liturgia inúmeras passagens ritualísticas e lendárias que mencionam concepções hauridas de costumes templários, todavia esse não é um fato que possa leva a especulações temerárias como a de que a Maçonaria tenha se originado dos rudes monges militares da Ordem Templária.

Embora muitos autores ainda queiram encontrar na Ordem dos Templários os primórdios da Maçonaria, a realidade histórica tem mostrado que isso é mera fantasia, pois no seu auge, a Ordem dos Templários era muito mais dedicada ao belicismo religioso e às operações financeiras, embora nela até existisse um braço construtor, ou pelas Campagnonnage, ou circunstancialmente pela contratação de Francomaçons medievais. Já na sua decadência muitos Templários encontraram abrigo nas Guildas de Construtores, principalmente na Escócia. 


janeiro 16, 2023

O PROTAGONISMO DO EMBURRECIMENTO - Newton Agrella



Algo que assusta e que causa uma apreensão desmedida é o contínuo processo de emburrecimento que as pessoas estão sofrendo em todo o mundo.

A despeito do emprego da chamada alta tecnologia, assistências online, dispositivos e aplicativos, bem como a instauração de uma linguagem virtual e propositadamente impessoal, somado ao prolífero uso de expressões da lingua inglesa - como se isso simbolizasse algum status -  o que se percebe sistematicamente é o  descompromisso incessante com o exercício intelectual. 

As imposições de ideias e o dogmatismo contido nas pressupostas linhas de raciocínio "express" , na realidade têm se constituído em agentes depauperados da capacidade de pensamento humano.

Deparamo-nos a cada pouco com imagens, vídeos e áudios em que a pseudo tentativa de nos levar a uma elevação cultural, ou prestar-nos algum tipo de contribuição filosófica, quanto a maneira de interpretar a nossa existência e os valores que nos cercam, simplesmente caem num vazio e numa inconsistência estéril sem igual.

O processo de emburrecimento, por exemplo, se torna algo evidente quando o próprio sistema educacional desestimula a leitura e principalmente o abandono da forma maior e consagrada da escrita; ou seja, a "escrita cursiva", na qual a experiência de escrever de próprio punho, sentir o lápis e a caneta, estabelecer uma real conexão com o cérebro, estimular a elaboração de uma frase e a sensação única da criação, ficam relegadas a um segundo plano.

Não se propõe aqui, retroceder no tempo. Em absoluto.

O que se evidencia sim, é o indisfarçável proselitismo da digitação em teclados de notebooks e smartphones. 

O que de algum modo, tem auxiliado no elevado índice de analfabetos funcionais, que mal conseguem ler e escrever, mas que pior que tudo isso, acham-se destituídos de toda e qualquer capacidade de "interpretar um texto", bem como alijados de qualquer poder de argumentação, quando se vêem diante de um livro ou de qualquer peça literária.

Seja em qualquer âmbito cultural, e inclua-se aí a própria Maçonaria, o que se observa é a escassez de textos e de propostas que legitimem a Arte de Pensar, Refletir, Ponderar e Elaborar o Espírito Crítico, com bases consistentes e intransferíveis, em favor da evolução humana.

É óbvio que a tecnologia é uma aliada do progresso da humanidade, porém a cultura e a intensidade do pensamento intelectual é o alimento que nutre a Alma e o Espírito em consonância com o aprimoramento da própria Consciência.

Evoluir demanda entrega, esforço e determinação, enquanto emburrecer é meramente uma questão de acomodação.



AS COLUNAS ZODIACAIS - Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz



Nos Templos Maçônicos encontram-se 12 Colunas na parte Ocidental, seis no lado Norte e seis no lado Sul, simbolizando os 12 signos zodiacais, com diversas interpretações, inclusive relacionando-as aos quatro Elementos e aos sete Planetas da Antiguidade:

No lado Norte temos:

ÁRIES: Fogo, Marte

TOURO: Terra, Vênus

GÊMEOS: Ar, Mercúrio

CÂNCER: Água, Lua

LEÃO: Fogo, Sol

VIRGEM: Terra, Mercúrio

No lado Sul estão: 

LIBRA: Ar, Vênus

ESCORPIÃO: Água, Marte 

SAGITÁRIO: Fogo, Júpiter

CAPRICÓRNIO: Terra, Saturno 

AQUÁRIO: Ar, Saturno

PEIXES: Água, Júpiter


A disposição dessas Colunas, que seguem o aparente caminho do Sol, é que justificam a circulação em Loja, no sentido destrocêntrico, ou seja, no sentido dos ponteiros do relógio.

Como as Colunas estão dispostas apenas no Ocidente, não é correto haver circulação no Oriente, embora diversas Potências Maçônicas assim proceda.

Conquanto não se possa afirmar com segurança que os caldeus tenham sido os precursores da Astrologia, certamente foi na Caldéia que alcançou seu esplendor, misto de ciência e religião. 

Há registros de práticas astrológicas em regiões e povos completamente distintos: egípcios, persas, gregos, romanos, indianos, chineses, árabes, incas, maias e astecas, entre outros.

Se bem que os judeus estivessem proibidos por Deus, a classe sacerdotal praticou a Astrologia, influenciados durante o cativeiro em Babilônia, até que o profeta Isaías condenou tais práticas.

Os antigos consideravam os signos zodiacais como a chave de todas as ciências humanas e naturais.

A Astrologia e a Astronomia eram estudadas nas antigas civilizações mesopotâmicas e, na Babilônia e Assíria, a Astrologia era utilizada pela classe sacerdotal para interpretar a vontade dos deuses, uma vez que se baseava na teoria do governo universal pela vontade divina.

Ao lado de todos os templos da mesopotâmia, há cerca de 4000 mil anos antes de Cristo, erguia-se uma torre, chamada Zigurate, e o alto dessa torre era pintada de amarelo, cor do Sol. Servia de observatório astronômico para a classe sacerdotal. 

Pesquisas recentes demonstraram que o fenômeno da precessão dos equinócios já era conhecido pelos astrônomos da Babilônia.

Através das posições dos corpos celestes predizia-se o futuro, interpretava-se os acontecimentos, as vidas humanas e o caráter das pessoas, baseando-se no conceito do homem como centro do universo. 

A partir daí, era lógico julgar-se que o universo girasse em torno de nossa espécie, influindo em nosso destino. Com o triunfo do Cristianismo, passou-se a admitir, no mundo ocidental, que os astros não eram agentes finais do destino. 

Se o futuro pode ser previsto, presume-se que esteja determinado; onde fica, então, o livre-arbítrio humano? Golpe mortal no determinismo religioso da Astrologia! 

Contudo, até o século XVIII, a Astrologia continuava sendo respeitada como ciência. Foi em época relativamente recente que a Astronomia se desvencilhou da Astrologia, assim como a Química da Alquimia e a Física da Metafísica natural. Todavia, não se pode negar a contribuição dessas pseudociências para com as ciências modernas.

Já de algum tempo, a Astrologia está fora do reino da respeitabilidade intelectual e, portanto, carece de valor.


Excerto do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber* do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

janeiro 15, 2023

PROFETAS E LOUCOS - Almir Sant’Anna Cruz


A religião de uns pode ser loucura, superstição, curandeirismo ou charlatanismo de outros. 

A Bíblia nos oferece inúmeros exemplos de profetas e ascetas, pessoas geralmente comuns, do povo, que desempenharam papel preponderante nas religiões Judaica e Cristã.

Pois modernamente, nos hospitais psiquiátricos, são comuns os casos de “loucos religiosos”, numa verdadeira demonstração de como os chamados mistérios da religião exercem forte fascínio sobre indivíduos emocionalmente perturbados. 

Em geral, são pessoas com poderosa inclinação messiânica, ou seja, que se acreditam incumbidas de desempenhar “missões de salvação” durante sua passagem pela Terra. 

Tal como os profetas dos primórdios da religião, têm visões, ouvem vozes e sonham; condenam o pecado, o desregramento moral e os vícios, pretendendo, assim, impor normas rígidas de comportamento, sempre calcadas em preceitos religiosos.

Um exemplo contemporâneo é o “Profeta Gentileza”, um lunático que no Rio de Janeiro, com uma longa barba branca e trajado como um beato, circulava entre os automóveis com “tábuas da lei” e escrevia frases nas colunas dos viadutos no centro da cidade.

 Após a sua morte, suas “escrituras sagradas” pintadas no Elevado da Perimetral, que foi parcialmente demolido, foram preservadas pela prefeitura. 

Foi ele quem cunhou a frase “Gentileza Gera Gentileza”, que atualmente é comercializada em adesivos para automóveis e camisetas. 

Será que lá pelos anos 4000, escavações arqueológicas ao encontrarem fragmentos de concreto com seus escritos, o considerarão um profeta ou até um deus das antigas civilizações do longínquo século XX? 

Pena que não estaremos vivos para saber!

BOM SENSO NA MAÇONARIA - Sidnei Godinho


Em um mundo que sufoca pela maldade galopante e pela falta de dignidade, aqueles integrantes de um seleto grupo, que se propuseram a encontrar a verdadeira luz, carecem de então proceder como verdadeiros iniciados.

Não se pode aceitar que interesses pessoais e políticos sobrepujem os princípios de Moral e Bons Costumes.

Não se pode aceitar que a minoria tente sempre dominar toda uma instituição (ou mesmo uma nação) com seus interesses escusos, como se senhores fossem da realidade, manipulando processos e pessoas, quando no íntimo são apenas escravos de suas vaidades de poder e brilho. 

Para que a Maçonaria seja perene ela intima que se vençam as paixões e se sujeitem suas vontades.

É somente através desta infindável luta do bem contra o mal que o homem consegue purificar sua natureza e alcançar a pureza de um novo ser.

A Perfeição e a Justiça são objetivos a serem buscados diuturnamente e não há como alcançá-los sem o Bom Senso nas ações do dia-a-dia.

O maçom jamais pode ser" inocente " em suas decisões, pois o que se ensina na Ordem é a alcançar o Conhecimento; e *A Sabedoria é oposta à ingenuidade.*

Alegar desconhecer alguns de nossos princípios nem mesmo caracteriza excludente de ilicitude, mas ao contrário evidencia a falta de preparo e o descaso do irmão que ao longo de sua jornada demonstra não ter abandonado suas vaidades.

É preciso estudar e se preparar até para usar a voz em uma sessão e não se tornar um monólogo infrutífero de alguém despreparado.

Que a inspiração para o tão necessário Bom Senso venha daquele que o primeiro exemplo deixou:

... Nem tudo o que "Eu Posso fazer eu *DEVO* fazer...

Que assim seja.'.





janeiro 14, 2023

AQUI COLOMBO INICIOU SUA VIAGEM



O pequeno porto fluvial de Palos na Espanha não é uma visão muito imponente, se considerarmos a mudança global na humanidade que ele proporcionou, pois foi de lá que em 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo partiu rumo ao desconhecido, acabando por chegar na incógnita América.

Porém, ao que parece, o genovês não foi o primeiro navegante a partir de Palos para o que havia além, e voltando para contar a história. De acordo com o grande geógrafo, explorador e historiador de Bagdá Ali al-Masudi, conhecido também como o ''O Heródoto dos Árabes'', 603 anos antes de Colombo, em 889, um outro navegante, porém afro-árabe de nome Khashkhash Ibn Said Ibn Aswad (''filho do Preto'') partiu de Palos, na época Delba no Emirado de Córdoba, rumo à ''ard majhula'', ''terra desconhecida''. Ele narra em seu Murūj aḏ-Ḏahab (''Prados de Ouro'') compilado em 947:

''No Oceano dos Nevoeiros (o Atlântico) existem muitas curiosidades que mencionamos detalhadamente em nosso Akhbar az-Zaman (Notícias de nossa Era), com base no que vimos lá, aventureiros que o penetram arriscando suas vida, alguns retornando em segurança, outros perecendo na tentativa. Assim, um certo habitante de Córdoba, chamado Khashkhash, reuniu um grupo de jovens, seus co-cidadãos, e partiu em uma viagem neste oceano. Depois de muito tempo, ele voltou com butim. Todos andaluzes conhece essa história.''

O relato de al-Masudi, entretanto, não é o único sobre a exploração árabe-ibérica do Atlântico, havendo também o, muito mais detalhado, registro de outro grande geografo muçulmano, o famoso Al-Idrisi do século XII, sobre árabes de Lisboa em Portugal que também se lançaram no Atlântico e descobriram terras novas, que os mais céticos especulam ser as Canárias, Madeira ou Açores.

AS ESPADAS MEDIEVAIS COM O AÇO DAMASCO - Mansur Peixoto



Ferreiro damasceno produzindo espadas da famosa liga metálica medieval conhecida como "aço damasco'', Síria, Império Otomano, inicio do século XX. 

As lâminas de Damasco eram fabricadas no Oriente Médio a partir de lingotes de aço wootz importados da Índia, bem como do Sri Lanka, vindas das distantes rotas de comércio em caravanas e navios.

Os árabes introduziram o aço wootz em Damasco, onde a indústria de armas prosperou durante todo período medieval e além, e por suas qualidades únicas, o aço damasco passou a ter uma fama quase lendária. 

A produção dessas espadas padronizadas diminuiu gradualmente no Oriente Médio islâmico, se extinguindo por volta de 1900, e o processo foi se perdendo para os ferreiros nas décadas seguintes. 

Várias teorias modernas se aventuraram a explicar esse declínio, incluindo a quebra de rotas das comércio para suprir os metais necessários, a falta de impurezas nos metais, a possível perda de conhecimento sobre as técnicas de fabricação por meio de sigilo e falta de transmissão, supressão da indústria na Índia pelo Raj britânico, ou uma combinação de todos estes. 

Recriar o aço de Damasco é um subcampo da arqueologia experimental. Muitos tentaram descobrir ou refazer engenharia reversa do processo pelo qual ela foi feita. Acredita-se que o aço damasco tenha sido a inspiração histórica real de George R. R. Martin para criação do "aço valiriano'' de seus contos em Game of Thrones.


Bibliografia:

-Pacey, Arnold (1991). Technology in World Civilization: A Thousand-year History. MIT Press. p. 80.

-"Early Islamic manufacture of crucible steel at Merv, Turkmenistan"

-Burton, Sir Richard Francis (1884). The Book of the Sword. London: Chatto and Windus. p. 111.

janeiro 13, 2023

SEXTA FEIRA 13 - LENDAS E CRENDICES - Newton Agrella


Algumas datas ou épocas do ano trazem consigo algum tipo de infortúnio, má sorte ou mau presságio.

Especialmente nas culturas ocidentais e sobretudo aquelas que herdaram consideráveis influências do Cristianismo encontram-se muitos exemplos disso.

O próprio cinema norte-americano incumbiu-se de imortalizar essa data ( Sexta Feira 13) com a produção de vários filmes de terror em que diversos acontecimentos macabros transcorrem na referida data.

Hipóteses aventadas para a ORIGEM da Sexta-feira 13 difundidas em diferentes culturas espalhadas ao redor do mundo:

01.) Uma das mais conhecidas justificativas dessa maldição conta que Jesus Cristo foi perseguido por esta data. Antes de ser crucificado em uma sexta-feira, o salvador das religiões cristãs celebrou uma ceia na Quinta Feira - que, ao todo, contava com treze (13) participantes. Entre eles estava Judas, o Traidor.

E Jesus morreu no dia seguinte, uma Sexta Feira.

02.) A tradição cristã relaciona o fato de seu líder ter morrido em uma sexta-feira ao fato de o livro do Apocalipse apontar o número 13 como a marca da besta, do anticristo.

03.) Analogia numerológica dá conta que a Imperfeição do número 13 também está ligada às várias referências ao número 12 na Bíblia (12 tribos de Israel e 12 discípulos), sendo assim, o número 13 destoaria do projeto de Deus.

04.) Outra explicação sobre essa data remonta à consolidação do poder monárquico na França, especificamente quando o *Rei Felipe IV*  sentia-se ameaçado pelo poder e influência exercidos pela Igreja dentro de seu país. Para contornar a situação, ele tentou se filiar à prestigiada ordem religiosa dos Cavaleiros Templários, que, por sua vez, recusou a entrada do monarca na corporação. Enfurecido, segundo relatos, teria ordenado a perseguição e morte aos templários na sexta-feira, 13 de outubro de 1307.  

05.) Na Mitologia Escandinava a maldição da *Sexta-Feira 13* tem a ver com o processo de cristianização dos povos bárbaros que invadiram a Europa no início do período medieval. Reza a lenda que antes de se converterem ao Cristianismo, os escandinavos eram politeístas e tinham grande estima por Friga, deusa do amor e da beleza.  Com o processo de conversão ao Cristianismo, passaram a amaldiçoá-la como uma bruxa que toda Sexta Feira, se reunia com onze feiticeiras e o demônio para rogar pragas contra a humanidade.

06.) Nos Estados Unidos, a *Sexta-Feira 13* é um dia de tradição e mitos sobre casas assombradas por fantasmas e todo tipo de imaginação.

Doze séculos depois dos Maus Agouros pela morte de Carlos Magno, os norte-americanos ainda continuam chamando o andar que vem depois do 12° de 14°. Menos de 10 por cento dos condomínios de Manhattan com 13 andares ou mais têm um andar com o número 13.

Um porta-voz da Otis Int'l, a fabricante de elevadores, estimou uma vez que 85 por cento dos prédios dos EUA com mais de 13 andares evitaram o número azarado. 

Diante dessas lendas e teorias, quando ocorre uma *Sexta-Feira 13* supersticiosos evitam cruzar com gato preto, passar debaixo de escadas, quebrar espelhos e outras crendices que podem trazer mau agouro.

Como se percebe a Superstição independentemente do nível sócio-econômico e intelectual dos povos é um dispositivo da alma humana arraigada à crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, e a depositar confiança em coisas 

EMBRIAGAI-V0S - Charles Baudelaire





Dedico aos poetas do Grupo Maçons em Reflexão.

Embriagai-vos!!!!!

Deveis andar constantemente embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.

E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntais que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: — É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!

Charles Baudelaire, In Poemas em Prosa

A CONTRIBUIÇÃO ÁRABE PARA A QUÍMICA - Mansur Peixoto


Muito mais que a matemática e a astronomia, a química foi sem sombra de dúvidas um dos maiores legados da civilização islâmica medieval. A própria palavra química é a ‘’al-kīmīya’’ árabe sem o artigo ‘’al’’ que acompanhava sua versão anterior, alquimia.

O fundador desta ciência dentre os muçulmanos foi o tataraneto do Profeta Muhammad, Jafar as-Sadiq (702-765), mestre alquimista de ninguém menos que o grande Jabir Ibn Hayyan ou ‘’Geber’’, pai da química, criador da classificação sistemática de substâncias químicas e as mais antigas instruções conhecidas sobre como derivar compostos inorgânicos de substâncias orgânicas por meios químicos. Suas obras também contêm uma das primeiras versões conhecidas da teoria dos metais enxofre-mercúrio, uma teoria mineralógica que permaneceria dominante até o século XVIII, além de ter sido o inventor da retorta e do alambique (do ár. ‘’al-anbiq’’), que ele utilizava para destilar o álcool (do ár. al-kohol). 

Outros grandes químicos muçulmanos medievais foram al-Razi, descobridor do ácido sulfúrico e do etanol. Al-Kindi, que refutou no século IX a ideia da transformação de metais pobres em ouro e é considerado o pai da perfumaria moderna através do seu "Livro da Química dos Perfumes e Destilações", onde criou 107 fragrâncias.

Maslama al-Majriti, o primeiro a observar o princípio da conservação da massa, que realizou ao descobrir o óxido de mercúrio, 700 anos antes do francês Lavoisier. E Al-Biruni, que desenvolveu métodos experimentais para determinar a densidade, usando um tipo particular de equilíbrio hidrostático e descobriu o ácido inoxidável. 

Até hoje alguns elementos químicos e substancias carregam nomes de origem árabe, como o boro do árabe buraq, zircônio, do árabe zarkun, antimônio, do árabe ʾiṯmid, ou azote, antigo nome do nitrogênio, por sua vez derivado do árabe al-zuq, e os que tiveram seus nomes árabes substituídos por ‘’latinos cientificos’’ na química moderna, mas ainda carregam o árabe em suas letras da tabela periódica, como o sódio, cuja sigla é NA, do latim moderno natrium, por sua vez do árabe natrun (نطرون ), ou o potássio, K, do latim medieval kalium, do árabe al-qaly (القلي), de onde deriva também termos como ‘’alcalino’’.