fevereiro 13, 2023

A LEI INICIÁTICA DO SILÊNCIO - Ir∴ Antônio Rocha Fadista



Platão chamado a ensinar a arte de conhecer os homens, assim se expressou: “os homens e os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se distinguem pelo seu modo de falar”.

O pensamento do filósofo Iniciado nos oferece uma excelente oportunidade para uma profunda reflexão, principalmente, para todos os que integram a Ordem Maçônica.

Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. As palavras são a expressão das nossas ideias, dos nossos sentimentos e de nossas emoções, e transmitem aos ouvintes a carga de energia, positiva ou negativa, que acumulamos em nossa mente.

A sociedade humana está cheia de palavras que magoam e que ofendem o próximo. Infelizmente, existem palavras em excesso, tanto no mundo profano quanto nos Templos Maçônicos.

Orientado que é para refletir sobre a realidade e sobre o significado oculto das palavras, o Maçom sabe que, em última análise, a palavra é o reflexo da essência interna do ser humano.

Não por acaso, a Doutrina Maçônica recomenda o silêncio a todos os Maçons durante o período de aprendizado, de acordo, aliás, com a Escola Pitagórica, da qual a Maçonaria extraiu alguns dos Princípios que compõem o seu acervo filosófico.

A Escola, fundada pelo Filósofo de Samos na cidade de Crotona, preconizava o aperfeiçoamento do ser humano pelo estudo e pela prática da meditação e tinha um sistema de três graus: Preparação, Purificação e Perfeição.

No Grau de Preparação, os neófitos eram só ouvintes e cumpriam um  período de observação, durante o qual o objetivo era, pela prática do silêncio, desenvolver a capacidade de análise e de interpretação sobre tudo que se passava ao seu redor. Para atingir o Mestrado, no Grau de Perfeição, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Sem dúvida, constitui grande prova de disciplina para todos nós, quando, no Primeiro Grau, ouvimos os Companheiros e os Mestres sem expressar as nossas próprias opiniões sobre os assuntos tratados em Loja.

Chilon, um dos sete sábios da Grécia Antiga, quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia laconicamente: calar. 

No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controle da palavra, cuja universalidade desafia os séculos.

Ao entrarmos em nossa Sublime Instituição, encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra, que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre dosada, moderada, e espelhar o equilíbrio interno do orador.

Como dizia o Irmão Dante Alighieri na Divina Comédia, exortando o seu personagem Metelo: “usa a tua palavra como um ornamento”.

Na realidade, o silêncio, a meditação e a análise, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus pensamentos. Não é por acaso que a maioria dos Ritos Maçônicos reserva aos Irmãos o silêncio durante o período de aprendizado. O Rito Adoniramita, mais radical nesse sentido, estabelece que só os Mestres podem usar livremente a palavra.

Inúmeras são as Peças de Arquitetura, escritas por Irmãos em muitos países do Mundo, sobre o uso da palavra em Loja e sobre a Lei Iniciática do Silêncio.

À primeira vista, o silêncio poderia parecer aos Irmãos Aprendizes um condicionamento e uma restrição à liberdade de expressão; ao exercitarem a autodisciplina, em seu silêncio, apreendem, com muito maior intensidade, tudo o que ouvem e tudo o que veem. Na realidade, dialogam consigo mesmos; nesse diálogo, analisam, criticam e tiram suas próprias conclusões. Em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula os Irmãos do Primeiro Grau a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real.

Isso não significa que os Irmãos Aprendizes estejam proibidos de usar a palavra em Loja. Existem mesmo ocasiões em que não só podem, como devem se manifestar, principalmente, para tratar de assunto relevante, como por exemplo, a apreciação das informações sobre os candidatos à Iniciação.

Ao cruzarem as portas de uma Loja Maçônica, trazendo consigo os conceitos de liberdade total, os Irmãos, paulatinamente, aprendem a controlar os seus impulsos, aprimorando seus caracteres e preparando-se para serem líderes na construção da sociedade do futuro, na qual prevalecerão a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária. Por isso mesmo, a prática do silêncio deve ser entendida como um exercício de auto-aperfeiçoamento e, jamais, como uma proibição ritualística.

Tudo se resume na prática da Lei do Amor. O amor se oferece; não se pede e não se exige. Certamente, o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que pensam mais e falam menos, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais diletos?

TEATRAL, REAL ... - Adilson Zotovici



O grande dia é chegado

Ao vital plano e encenação

Real, cada ator preparado

Tal o profano cidadão


Assembleia, tudo planejado

Aviva a imaginação

Plateia, grupo incorporado

Morte e vida em ação


Fora os panos que vestia

Seu abismado coração

Sem enganos à travessia

Ora o cajado, sua visão


No algar desalumiado

Zetético, em forte comoção

Só com o “seu eu” deixado

A buscar um norte, direção


Percebeu que no passado

A vida antiga, em extinção,

E entendeu muro elevado

Ao futuro, à perfeição


E após tanto batalhado

E açorada atuação

Dos céus, o encanto legado

Prêmio pela obstinação


Renasceu  iluminado

Iniciado, neófito, irmão

Pela Arte Real Sagrado

Em teatral iniciação !



fevereiro 12, 2023

SER LIVRE E DE BONS COSTUMES - Newton Agrella


Muitas vezes amanhecemos com notícias que nos sobressaltam, e fazem-nos pensar quão enfurnados cada um de nós, vive seu mundinho de maneira tão pequena e egoísta.

Grande parte disso se deve ao orgulho, ou à vergonha de expormos nossas fraquezas, e limitações.

Quando não, nos defrontamos com o medo de sermos julgados e de alguma sorte, termos a cabeça colocada a prêmio.

Não raro, emoção e razão caminham desconexas e inibem a possibilidade de compartilharmos tristezas, angústias e frustrações, de maneira simples e natural, sem qualquer resquício de preconceitos.

O ser humano, grosso modo, entende que é maior que si mesmo e poucas são as vezes que consegue externar suas necessidades, senão por algum tipo de pressão, ou quando o coração parece que vai explodir.

A busca não é pela perfeição, até porque ela é inatingível.  

O trabalho sim, é pelo aprimoramento interior, e pela vontade de acertar e erigir um templo mais seguro, consistente, comprometido com uma qualidade de vida cada vez melhor e compartilhar com o semelhante o êxito, a felicidade e o bem estar como instrumentos legítimos da virtude.

Ser "humano", não é apenas uma condição de espécie, mas antes de tudo, estagiar pelos labirintos mais profundos da Consciência.

Esta perfeita imperfeição é a tradução mais exata do que se constitui a nossa natureza hominal e anímica.

O amplo conjunto de correntes filosóficas que compõe a dialética maçônica, propicia aos seus adeptos a chance de exercer a liberdade de pensamento, sem estar vinculado a visões esteriotipadas e muito menos subjugado a dogmas, que impõem a restrição ao direito da argumentação.

"Ser livre e de bons costumes", não é um mero slogan de uma peça publicitária, senão, um preceito ético e moral que estimula o homem a explorar os mistérios da consciência sob a égide espiritual, intelectual e sobejamente especulativa.



fevereiro 11, 2023

BENÇÃO E SUA PROPRIEDADES DIALÉTICAS - Newton Agrella



Para a língua portuguesa, o substantivo abstrato *benção* advém da locução  “bene dicere” - que é o equivalente à "bem dizer" ou seja; "dizer palavras de bom agouro", falar bem de alguém, elogiar, enaltecer...

Igualmente daí derivaram-se outros termos, tais como:  “bendizer”, “benzer”, "bendito", "benedito" e "bento".

Portanto, a *benção* na sua compleição etimológica e no âmbito filosófico refere-se à prática e ao exercício de falar bem sobre as coisas e exaltar o lado positivo e favorável das circunstâncias, seja no aspecto material ou espiritual.

Contudo, no transcurso da história, o alcance semântico da referida palavra, ultrapassou as fronteiras da filosofia e da própria gramática, tendo adquirido uma profunda identidade religiosa,  intimamente vinculada à figura divinal.

Ao proferi-la, a mesma investe-se de uma espécie de permissão de "Deus" para estar em contato com tudo aquilo que a Ele pertence.

Assim, a benção no sentido religioso cristão representa um reconhecimento de que nada nos pertence.

Porém, ainda nesta linha dialética a *benção* também  pode traduzir a idéia de recompensa.

Interessante registrar que na língua hebraica a palavra  "benção" transliterada como *baarah*, origina-se de uma raiz etimológica (barakeh, beirakheh) que significa ajoelhar, abençoar, exaltar, agradecer, exortar, saudar. . .. 

Curioso que, tanto no hebraico quanto no grego (eulogia), o vocábulo indica o sentido de concessão de algo material, a doação de um bem.

Como se percebe, há uma linha tênue entre o sentido filosófico e religioso deste termo - inúmeras vezes encontrado na bíblia -  como uma obra de narrativa histórica e cronológica.  

Algo como uma espécie de Ata que reproduz através de registros orais, escritos e testemunhais uma narrativa de um enorme contingente da civilização humana.

Sempre bom lembrar que nenhuma existência particular é mais do que uma pequena onda provisória no oceano ilimitado da vida, o que vale entender que a benção tem a propriedade de um presente. 

Ela se constitui na materialização humana como obra de um Princípio Criador e Incriado, que busca especular incessantemente sua origem, seu estado e seu destino.



O TEMPO DE COMPANHEIRO - Rui Bandeira



O tempo de Companheiro é um tempo difícil. O obreiro já não é um Aprendiz rodeado, apoiado, apetece até dizer mimado, por todos os Mestres da Loja. Alcançado o seu aumento de salário, afinal o premio que obtém é apenas uma mudança do seu lugar na Loja, um pouco de cor no seu avental e... uma sensação de menor apoio.

Após uma Cerimônia de Passagem que é um verdadeiro anticlímax em relação à sua recordação do que experimentou quando foi iniciado, depara-se com um par de símbolos novos, metem-lhe uns regulamentos e um ritual e catecismo na mão e... parece que se desinteressaram dele, ele que se oriente...

Não é assim, embora pareça que seja assim. E é assim que deve ser.

A Iniciação foi o nascimento para a vida maçônica. O tempo de Aprendiz é a sua infância, em que se é guiado, educado, amparado, mimado. O tempo de Companheiro, esse, é o da adolescência. Já não se admite ser tratado como criança – como Aprendiz – pois já se cresceu – já se evoluiu – mas... sente-se a falta do apoio que se recebia em criança. Já não se quer, mas ainda afinal se tem a nostalgia do apoio do tempo de Aprendiz. 

O Companheiro, tal como o adolescente, sofre a sua crise de crescimento. É o preço que tem a pagar pelo seu trajeto em direção à idade adulta maçônica, em que será reconhecido como Mestre.

No entanto, só aparentemente o Companheiro é deixado só. Os Mestres permanecem atentos a ele e, de entre eles, em especial o Primeiro Vigilante responsável pelos Companheiros. Simplesmente já não tomam a iniciativa de sugerir caminhos, orientar trabalhos, avançar explicações, dar opiniões. 

Porque o Companheiro já não é Aprendiz, tal como o adolescente já não é criança. O tempo é de aprendizagem por si próprio, de exploração segundo os seus interesses. E só se houver grande desorientação no caminho se deve intervir.

Tal como em relação ao adolescente é contraproducente pretender-se guiá-lo, impor-lhe caminhos, pois ele ou não aceitará o que considerará indesejável intromissão ou tornar-se-á dependente de uma superproteção que muito dificultará a sua vida adulta, também os Mestres não devem abafar o Companheiro com recomendações, intromissões, solicitudes a destempo.

O tempo é de deixá-lo explorar, ele próprio, o que tiver a explorar. Se errar, aprenderá com o erro. Mas, no final, crescerá até à responsável maturidade da Mestria. É o que se pretende.

No início é – sabemo-lo bem! – confuso. Mas afinal as ferramentas foram fornecidas ao Companheiro logo no primeiro dia, tal como o guia de trabalho lhe foi apresentado. 

O Companheiro só tem de perceber isso, pegar nas ferramentas e seguir o trilho que, desde o início, lhe foi mostrado. Só não foi levado, empurrado, carregado, até ao seu início. Afinal, já não é criança...

A prancha de proficiência culmina o percurso do Companheiro. Mostra que ele entendeu o que escolheu entender, que trabalhou no que optou por trabalhar. A idade adulta está ao virar da esquina. O que implica virar essa esquina já é outra história...

fevereiro 10, 2023

A VENDA- Hercule Spoladore



Sim, conforme o amigo havia lhe prometido, naquele sábado, naquela hora da tarde, um senhor vestido de preto foi buscá-lo e levou-o ao templo onde ele seria iniciado na Maçonaria.

Não tinha a menor ideia do que lhe esperava. Os mesmos pensamentos da manhã lhe ardiam na mente, curiosidade à flor da pele. Estava calmo.

Durante o trajeto a pessoa que o estava conduzindo ao templo lhe adiantou que não se assustasse que tudo por mais esquisito, por mais bizarro que lhe parecesse era tão somente de caráter simbólico e que tivesse confiança nos homens que iriam guiá-lo.

Ao chegar ao templo foi induzido a se virar de costas para a porta do templo e foi vendado imediatamente sem saber por quem. Inicialmente ficou constrangido por ser assim tratado embora que delicadamente. Não havia sido avisado que seria assim. Aceitou passivamente a vendagem, porem um tanto chocado. Houve pelo menos um protesto mental, silencioso. Também não gostou quando embora que simbolicamente conforme lhe foi dito quando estava chegando ao templo quando pediram e ajudaram a retirar parte de suas vestes. Pensou que poderia estar se expondo ao ridículo, mas como foi avisado que tudo tinha um fundo simbólico, não se importou.

Daí um certo tempo sentado em uma cadeira com certa comodidade, num ambiente em que quase não havia ruídos, a não ser uns passos cuidadosos de alguém, e alguns sussurros que ouvia de vez em quando. Então se sentiu mais calmo. Interessante... Começou a sentir bem, sim bastante bem. Por quê? Nunca havia tido uma experiência como aquela. Vendado. Não via nada, mas estava assim estranhamente disposto, espírito aguçado, até contente e confiante, Ora nunca havia pensado nisso. Seria aquela privação da visão que estava lhe causando esta sensação? Fantástico. Que incrível!

Depois de um certo tempo começou a não perceber e nem se importar com mais nada exterior, já não ligava para os passos ou qualquer ruído externo. Fez uma introspecção. Lembrou-se do seu velho Pai, de sua Mãe, de sua infância sofrida que desde menino, trabalhava de dia e estudava a noite. Lembrou da educação que seus Pais lhe deram. Firme e disciplinada. Lembrou-se de sua adolescência de seus questionamentos a respeito do fenômeno vida, qual a razão de ser de tudo isto, da religião que absolutamente não lhe trouxera respostas e também se lembrou das injustiças sociais. Lembrou-se de sua esposa, agora recém casados, a mesma que quando noivos havia questionado de inicio, sua entrada para a Maçonaria. Quando se apercebeu viu que aqueles momentos de introspecção, havia rodado o filme de sua vida.

Que fato extraordinário, questionou-se porque não iria doravante fazer isso sempre? De agora em diante poderia em sua casa colocar uma venda e fazer uma reciclagem de sua vida periodicamente. Tão simples e tão eficaz. Na pior das hipóteses, seria ótimo para livrar-se da depressão e do estresse.

A cerimônia continuava lenta, como costuma parecer aos iniciandos. Fisicamente se sentia um autômato, não opunha resistência quando lhe guiavam de um lado para outro. Não tinha com o que se preocupar. Num determinado momento ouviu alguém falar em viagens, ouviu ruídos estranhos. Quando lhe fizeram algumas perguntas, preferia não respondê-las, respondeu-as monossilabicamente, pois queria mesmo era dialogar consigo mesmo.

Mesmo lúcido algo maravilhoso ocorreu várias vezes. Teve a percepção para dentro, teve o encontro com o seu próprio Eu. Estranha sensação que nem todos os iniciandos a atingem no dia de sua iniciação onde quem entra em ondas alfa se sente como se tivesse se a mente estivesse num vácuo, num vazio, onde o espaço tempo não faz sentido. Aí onde se situa a fonte do pensamento, onde o iniciando se identifica com o Todo onde a harmonia, evolução e vibração se sintonizam com todo o universo.

Ficou indignado quando lhe tiraram a venda e lhe deram a Luz, pois sentiu que na escuridão que a venda lhe trouxe ele havia encontrado uma verdadeira Luz, uma luz resplandecente que ele tinha dentro de si e não sabia.

IRMÃOS EM GUERRA




A tradição maçônica abunda em exemplos dos fortes laços que unem os maçons uns aos outros. 

Uma dessas histórias fala do coronel
John Mckinstry, um oficial americano capturado por índios aliados aos ingleses na Revolução Americana. Como mostra na gravura francesa do século XIX, ao lado, Mckinstry estava amarrado a 
uma árvore, prestes a ser queimado vivo, quando fez o sinal secreto de pedido de socorro de um irmão maçom. Para sua surpresa, um de seus captores adiantou-se  e mandou interromper a execução.

O salvador era Joseph Brant, um chefe mohawk educado na Europa e iniciado no ofício em Londres. Brant retornara à tribo, mas mantivera sua lealdade maçônica. Entregou Mckinstry aos maçons ingleses, que o levaram a um posto americano – a fidelidade à ordem transcendia a lealdade a seu próprio país. 

Fonte: livro “Mistérios do Desconhecido – Seitas Secretas”Editores de Time-Life Livros e publicado no Brasil pela Abril Livros – Rio de Janeiro, 1992.

fevereiro 09, 2023

LEVE PINCELADA NA TRI PONTUAÇÃO - Newton Agrella

Sem recorrer a explanações fantasiosas, mas baseadas em relatos e registros históricos, cabe esclarecer, sobretudo aos  Irmãos Aprendizes, que a tri pontuação não ocorre na Maçonaria Universal. 

Trata-se de fato, de uma prerrogativa adotada pelos Ritos de origem francesa. 

No Brasil, em razão da predominância do R.'.E.'.A.'.A.'. (Rito Escocês Antigo e Aceito) que apesar do nome é um rito maçônico de origem francesa, tal expediente é recorrente e plenamente obedecido.

No obra “Ortodoxia Maçônica”, consta que a tri pontuação passou a ser oficialmente adotada em 1774 por ordem do Grande Oriente da França.

Cabe destacar que o costume de abreviar as palavras surgiu com os gregos e em especial em algumas escolas filosóficas como forma de resguardar seus princípios e fundamentos dialéticos.

Posteriormente, os romanos  também passaram a adotar esta medida, extensamente explorada  através das chamadas "notas tironianas” que consistia numa linguagem escrita de Sinais para preservar a confidencialidade de assuntos do governo imperial.  Algo que mais tarde deu origem à  chamada taquigrafia.

Esse sistema de abreviação do latim ganhou vida na Europa pós romana.  

Como ilustração histórica  cabe destacar que a utilização de abreviaturas na França tornou-se tão abusiva, que o Rei Felipe IV,  publicou lei proibindo abreviações nas atas jurídicas.

A "Sublime Ordem", contudo acabou  adotando a tri pontuação em forma de um triângulo, remetendo ao símbolo geométrico maçônico, como mais um meio de resguardar sua linguagem e conteúdo em seus textos, documentos e rituais.

Analogicamente, os maçons passaram até como uma forma de identificação e reconhecimento a incorporarem os três pontos às suas assinaturas.

Reiterando que este é um expediente cursivo basicamente para a Maçonaria Latina - cujos idiomas provém do Latim.

Inúmeras são as publicações sobre a tri pontuação, cujas convenções acabam inclusive suscitando variações no seu emprego, dificultando assim uma padronização.

A tri pontuação não é adotada por Ingleses e Americanos, até inclusive por conta da própria estrutura do idioma e em razão de especificações culturais que obedecem outra origem.



VENERANÇA / VENERALATO - Ir. G. Paschoal



Em intenso período de Posses de Veneráveis é comum ouvirmos em Loja: “Que o eleito seja feliz em sua Venerança” ou “Que seu Veneralato seja próspero”. Você certamente já ouviu. 

Notadamente os que chegam à Ordem, vão ouvindo os veteranos e seguem repetindo. E na verdade raros são os que poderiam explicar o uso deste ou daquele termo. 

Lidar com nossa Língua é algo desafiador mesmo para os que são profissionais da área. 

Visitamos Lojas com frequência e pudemos notar que pessoas das mais diversas graduações e das três Potências Regulares, mesmo membros da alta administração, usam costumeiramente ambos e sem muita suspeita de que um deles pode não estar sendo corretamente empregado. 

Na internet, em rápida pesquisa por blogs e sites de estudiosos e até nas páginas oficiais vamos também nos deparar com tais palavras, o que confirma a grande confusão que ainda reina em nosso meio.

Fiquei curioso... Seriam palavras sinônimas? Já que eu mesmo só fui conhecê-las depois de iniciado e ao participar da primeira Sessão de Posse; utilizava sem preocupação uma e outra. Certa vez escrevi singelo texto, sendo alertado por sábio Irmão, que me perguntou: “Venerança?” Sem muito me detalhar, já tinha feito o brilhante papel do instrutor – aguçar minha a vontade de pesquisar. E foi o que eu, grato, fui fazer.

Em nossa Língua temos como referência o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa; não se trata de um dicionário, mas sim um catálogo oficial composto de um pouco mais de 380.000 palavras que são utilizadas na nossa língua. Nesta fonte, por incrível que pareça, não encontramos a palavra “Venerança”. Já a palavra “Veneralato”, sim, é encontrada. Este seguro referencial já poderia encerrar a celeuma.

Mas, vamos um pouco mais além:

A palavra Venerança seria composta de seu radical “Vener” + a vogal temática “a” e o sufixo nominal “nça”; este sufixo serve para indicar estado, ação ou qualidade. Portanto o significado da palavra seria ato ou qualidade de venerar. Notamos que não é bem o que pretendemos indicar ao usá-la em nosso meio.

Já na palavra Veneralato, seguindo o mesmo raciocínio acima, temos o sufixo “ato” significando posse ou grau relacionado a dignidades.

Embora a raiz etimológica seja a mesma, serão os sufixos que denotarão os diferentes significados.

A pessoa do Venerável é, de fato, digna de ser venerada, pois foi escolhido, eleito e será a grande Coluna de sua Loja. Pensando dessa forma, é evidente que a ação de venerá-lo poderia dar lugar ao neologismo “Venerança”; entretanto o ato de venerar, ou seja, a venerança seria nosso em relação ao Venerável e não dele próprio, como costumamos utilizar.

Concluímos, dessa forma, que Venerança é um termo inapropriado, que inclusive não existe no VOLP e nos principais dicionários que consultamos, embora tenha caído no gosto popular dentro da Ordem Maçônica. O termo correto, embora pouquíssimo utilizado é, portanto, Veneralato.

Nossos sistemas e ritos são repletos de “usos e costumes”. Esta breve, despretensiosa e singela pesquisa busca apenas trazer luz a este tema, ainda que saibamos, só o tempo depurará seu bom emprego em nossa língua.



fevereiro 08, 2023

A FILOSOFIA DEÍSTA - Ney Gonçalves de Oliveira e Almir Sant’Anna Cruz


Muitas pessoas são Deístas sem o saberem. Veja aqui se você também é um Deísta.

O Deísmo se opõe tanto ao Teísmo das religiões denominacionais quanto ao Ateísmo.

As raízes do Deísmo estão ligadas aos antigos filósofos gregos e sobretudo à filosofia aristotélica. 

Mais tarde o movimento floresceu durante o Iluminismo, com o apoio de cientistas italianos e britânicos como Galileu Galilei e o Maçom Isaac Newton. 

Na época do Iluminismo, no final do século XVII, o Deísmo atingiu o seu apogeu. 

O mais famoso Deísta francês foi o Maçom Voltaire. 

Com a imigração de Deístas ingleses e a difusão das ideias iluministas, o Deísmo se popularizou nos Estados Unidos e a independência americana foi fomentada por Maçons de filosofia Deísta, tais como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, George Washington, entre outros. 

Os princípios Maçônicos e Deístas tiveram efeito sobre as estruturas política e religiosa dos Estados Unidos, tais como a separação entre Igreja e Estado e a liberdade religiosa.

Modernamente vários fatores contribuíram para um certo declínio da crença Deísta, sobretudo com o surgimento de filosofias Ateístas e a propaganda de clérigos cristãos equiparando de má-fé o Deísmo ao Ateísmo.

O Deísmo é uma postura filosófica oposta tanto ao Ateísmo quanto ao Teísmo. Admite a existência de um Deus Criador, mas não interferente - como apregoam as religiões - nos assuntos naturais e humanos, que são regidos por leis naturais e científicas e pelas ações ou inações do Homem. 

Os Deístas também não acreditam que as religiões possam estar certas quanto a se dizerem conhecedoras da Palavra de Deus, ou da maneira como Deus quer que nós ajamos moralmente. 

O Alcorão, a Bíblia e outros textos ditos divinos, foram escritos por Homens e não há como se comprovar que são a palavra de Deus. 

A crença nessas ditas Escrituras Sagradas é de natureza metafísica, não requerendo comprovação, como se dá nas verdades científicas.

Portanto, para o Deísmo, as religiões são apenas invenções humanas, entre si competitivas de enunciar a “verdade divina”.

O Deísta acredita que a própria estrutura do universo, tão complexa como é, prova que existe um Deus Criador, que tanto pode ser um Ser transcendental criador das coisas, como pode ser uma força completamente científica, não pensante, não sobrenatural, que gera e mantém o universo.

O Deísmo analisa a existência de Deus através da Razão, em lugar dos elementos comuns das religiões Teístas, tais como a tradição, a "revelação divina" e os dogmas, que são crenças sem comprovação científica. 

Os Deístas geralmente questionam as religiões denominacionais e seus deuses ditos "revelados", argumentando que Deus é o Criador do universo, mas que não intervém nos afazeres do mesmo, embora esta posição não seja estritamente parte da filosofia Deísta. 

Para os Deístas, Deus se revela através da ciência e das leis da natureza. 

Os Deístas não necessariamente descreem de milagres. Podem ser fenômenos completamente naturais com causas puramente científicas, para os quais a ciência ainda não encontrou explicações, mas que no futuro vai encontrar, como aliás já encontrou para alguns desses ditos milagres. 

Quanto a questões metafísicas, como a existência ou não de vida após a morte, cada Deísta é livre para formar a sua opinião sobre isso. Podem crer, encontrando para si mesmo alguma explicação científica; não crer, por não encontrarem para si uma explicação científica; ou podem não ter opinião sobre tal assunto, considerando que não dá para saber ou que ainda não foram encontradas provas científicas que comprovassem ou desmentissem essa ideia.

Para o Deísmo não existem anjos ou demônios. Anjos e principalmente demônios são apenas fraquezas da mente humana que podem ser vencidas pelo raciocínio lógico. 

Deístas não acreditam num Deus que castigue ou premie as pessoas pelos seus atos, acreditando que cada um é responsável pelas atitudes que toma e suas consequências. 

O mais próximo da ideia de um Deus interferente em que um Deísta pode acreditar é a ideia de uma “providência geral” como o Maçom Voltaire disse certa vez a uma senhora: “Minha senhora, acredito em uma providência geral, mas não numa providência particular que salvou o seu pássaro que estava machucado”. 

Quanto à oração, que a grande maioria dos Deístas não acredita em sua eficácia e, portanto, não oram, os Deístas que oram o fazem por agradecimento a Deus por tudo, e para que a já mencionada “providência geral”, na qual nem todos os Deístas acreditam, continue e proteja o transcorrer natural das coisas.

Além dos já citados Maçons Isaac Newton, Voltaire, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e George Washington, muitos outros afamados Maçons eram de filosofia Deísta e a própria concepção de Deus na Maçonaria, o Grande Arquiteto do Universo, é uma visão Deísta, ou seja, é um "ser" neutro, indefinido e aberto a toda compreensão possível.


Do livro *Deus, Criador ou Criatura? Do Big Bang ao Pensamento Humano* de Ney Gonçalves de Oliveira e  Almir Sant’Anna Cruz

TABUADA MAÇONICA - Roberto Ribeiro Reis


Nos saudosos idos de nossa infância, éramos compelidos a "dar a tabuada" aos nossos professores. Passávamos a semana inteira ensaiando com nossos pais, e aquele rito de passagem era permeado de muita ansiedade, pois havia o desejo de recebermos a aprovação de nossos genitores.

Com o passar dos anos, passamos pelo crivo de outros testes, gradativamente mais difíceis e aflitivos; afinal, tudo isso sempre fez parte de nosso processo de amadurecimento.

Mas Lojas Maçônicas também deveríamos aplicar teste semelhante, o da tabuada maçônica, com vistas a aquilatar o nível de estudo e conhecimento por parte daqueles que se destacam por terem a fama de "obreiros úteis e dedicados".

Não é demasiado frisar a importância de se explorar o vasto arcabouço simbólico, alegórico e espiritual contido em nossos rituais e em toda a literatura maçônica existente.

Com efeito, infelizmente, temos percebido em nossos trabalhos uma mecânica sistêmica e reiterada - por vezes enfadonha - consistente em repetição de palavras e frases sem que, contudo, se dê a devida explicação de seu motivo e o porquê de estarem ali inseridas.

Não raro, somos surpreendidos com situações pitorescas, onde irmãos jurássicos - e até mesmo os de menor tempo de Maçonaria - não sabem, ou esqueceram, o significado de determinados símbolos, de como proceder com as marchas dos graus, e até mesmo qual é a postura devida para estarem à ordem, ou o simples fato de como permanecerem sentados. Imaginem então ter a ciência do que é mais profundo...

Se se considera que o objetivo de um Pedreiro Livre é o de estar em constante aprimoramento/lapidação moral e intelectual, é imprescindível que estudemos mais, e que coloquemos em prática todos os instrumentos e ensinamentos necessários para a consecução da verdadeira Arte Real, tão preconizada em nossos Augustos Trabalhos.

Afinal, ser Maçom não consiste tão somente em gravar um pequeno telhamento,  um modesto questionário, ou saber de cor todos os rituais.

É muito mais do que isso: é saber que nosso Templo representa o universo e o próprio edifício humano. E que, assim o sendo, existe toda uma mística especulativa, que remonta às nossas origens criacionais, o que demanda um estudo mais acurado e minucioso da vida, do homem e do próprio Sagrado, o que, com o devido respeito, exige um tempo um pouco maior do que o gasto para aprender a basilar tabuada maçônica.





fevereiro 07, 2023

O QI MÉDIO DA POPULAÇÃO MUNDIAL - Christophe Clavé



O QI médio da população mundial, que sempre aumentou desde o pós-guerra até ao final dos anos 90, diminuiu nos últimos vinte anos. É a inversão do efeito Flynn.

Parece que o nível de inteligência, medido pelos testes, diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para este fenómeno. Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem.

Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as subtilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos.

O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projeções no tempo.

A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de "golpes mortais" na precisão e variedade de expressão.

Apenas um exemplo: eliminar a palavra "signorina/senhorita/mademoiselle" (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias.

Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.

Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível.

Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece.

A história está cheia de exemplos e muitos livros (George Orwell - "1984"; Ray Bradbury - "Fahrenheit 451") contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.

Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro? Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e a sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?

Caros pais e professores: Façamos com que os nossos filhos, os nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinemos e pratiquemos o idioma nas suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.

Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem dos seus "defeitos", abolir géneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana.

Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza.


fevereiro 06, 2023

O PROCESSO INICIÁTICO MAÇÔNICO - Rui Bandeira


Os maçons não discutem Religião em Loja. No entanto, na Maçonaria Regular, apenas são admitidos maçons homens livres e de bons costumes, sendo um desses, obrigatoriamente, a crença num Criador.

Para a Maçonaria e para os maçons, é absolutamente indiferente que nome cada um dá à Divindade em que crê: Deus, Jeovah, Alá (aliás, consabidamente, três nomes para a mesma Entidade), Brahma ou Tao. O que importa é a real existência da crença, porquanto só a partir dela e com ela se pode percorrer o caminho esotérico que leva ao aperfeiçoamento espiritual individual, segundo o método maçónico de confrontação, percepção e estudo dos símbolos e utilização da sua compreensão como bases ou patamares sucessivos para a compreensão de realidades e conceitos sucessivamente mais complexos, na busca da Luz, ou seja, a compreensão do Divino e, assim, do significado da Vida e da Morte física, do nosso papel no Mundo e na Criação, da nossa relação com o Criador.

O processo iniciático maçónico aglutina, assim, a Crença e a Razão, o Conhecimento Empírico e a Experimentação, a Observação e a Especulação, e é um processo sempre individualmente realizado, pelos caminhos e pela forma de cada um, segundo as suas capacidades, necessidades e disponibilidade, mas também sempre com o auxílio, a força, a cumplicidade, a disponibilidade do grupo em que se insere, a Loja.

Trata-se, assim, de um processo simultaneamente baseado na Crença e na Razão, no individual e no coletivo, que conduz ao aperfeiçoamento espiritual e, por via dele, ao aperfeiçoamento moral e social.

Pela sua natureza e pela complexidade dos conceitos a intuir, muitas vezes mais do que compreender, é um processo demorado e, sobretudo, em que não é realmente possível queimar etapas. Cada passo é essencial para pisar terreno que permita o passo seguinte. Pretender saltar ou efetuar acrobacias, ainda que vistosas, só tem como resultado a queda no abismo do Erro, conducente ao vale da Ignorância.

Em Maçonaria nada se diz, nada se ensina, tudo se sugere, tudo se simboliza, assim tudo se aprende, cada um segundo a sua real necessidade e através das suas capacidades. E assim cada um segue o seu caminho, este intuindo isto, aquele algo de diverso, como peregrinos que vão fazendo cada um o seu caminho, embora todos desejando chegar ao mesmo santuário. O grupo, a Loja, fornece a cada um a escolha dos meios de transporte, aponta a direcção, ajuda a organizar a jornada, mas é exclusivamente a cada um que cabe escolher o seu caminho - se é que porventura não será o Caminho que se abre a cada um...

Cada um estará no seu estágio de aperfeiçoamento e seguirá no seu ritmo. Simbolicamente (cá está, em Maçonaria o símbolo é - quase - tudo!), cada um se situa em graus de evolução diferentes, uns ainda Aprendizes, outros Companheiros, outros já Mestres. Os Aprendizes ainda dependem, quase totalmente, do apoio e suporte da Loja, pois ainda estão a procurar reconhecer o mapa, a procurar descobrir a direção, a aprender a ler os sinais indicadores e a reconhecer os enganos. Os Companheiros já sabem para onde querem ir, que direção seguir, mas dependem do auxílio dos mais experientes para decidir quais os percursos que mais lhes convêm e como os percorrer. Os Mestres, esses, já conseguem saber, por si, como e quando e por onde devem prosseguir sua caminhada, já conseguirão corrigir erro na determinação da via e têm capacidade para retomar sua orientação. Mas sempre verão com satisfação o auxílio de seus Irmãos na busca que realizam, ao mesmo tempo que cumprem seu dever de auxiliar e orientar todos os seus Irmãos, qualquer que seja o seu Grau ou Qualidade.

Não nos enganemos, porém: o grau "administrativo" que cada Loja atribui a cada um de seus Obreiros é apenas simbólico, ilustrativo. Por se ser Mestre de uma Loja, não se quer dizer que se seja realmente Mestre no Caminho Iniciático Maçónico. E alguns Aprendizes ou Companheiros de Loja sinto que percorrem bem mais seguramente seu caminho do que alguns Mestres como tal definidos na Loja...

Grande erro seria confundir o Grau que ao maçom é "administrativamente" atribuído em Loja (afinal dependendo do decurso do tempo, temperado com alguma assiduidade e a execução de alguns trabalhos não demasiadamente exigentes...) com o grau de evolução que realmente esse maçom apresenta: afinal seria cometer o erro mais básico que o mais jovem Aprendiz pode cometer (e que, naturalmente, é normal e expectável que cometa), o de confundir o Símbolo com a Realidade que esse símbolo simultaneamente oculta e revela!

Resumindo: ser maçom não é só reunir em Loja, usar avental e luvas brancas, ter preocupações sociais e tratar os demais como e por Irmãos; é, claro, também tudo isso, mas é muito mais do que isso, é percorrer o tal caminho, buscar, pelo seu modo e a seu jeito, a sua Luz, assim, a pouco e pouco, se reconciliando com a Vida e, sobretudo, com a inevitabilidade da Morte física. Não será exactamente, como escreveu Camões, se ir "das leis da Morte libertando", mas talvez esse percurso permita, em paz conosco e com tudo o que nos rodeia, libertarmo-nos do medo da dita.

A cada um que foi iniciado maçom foi reconhecido por uma Loja maçónica a capacidade, a virtualidade, a potencialidade, para seguir esta via iniciática, através do método maçónico.

Se o fará ou não, é com cada um. Se o quiser fazer, quando o fará, ainda é com cada qual. Uma Loja maçónica é, antes do mais, um espaço de liberdade ("um Maçom livre, numa Loja livre" é um inalienável princípio básico na Maçonaria) e apenas disponibiliza o seu auxílio, nada impõe, a ninguém critica.

Mas, pelo menos, vai sempre lembrando, para que cada um possa ouvir quando quiser ouvir, entender quando puder entender, aceitar quando lhe apetecer aceitar, que (sempre!) o Caminho faz-se caminhando.

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