fevereiro 15, 2023

A CORDA DE 81 NÓS

 




   Inicialmente, vamos definir a corda. 

    Esta é um elemento que pode ser composto pelos mais diferentes materiais e que tem a finalidade de prender, separar, demarcar ou unir. A sua resistência, salvo casos especiais, está diretamente ligada ao número de fios de que é composta e de como é feito o seu entrelaçamento. 

     Já na antiga Grécia, os cabelos longos das mulheres eram usados para fazerem as cordas necessárias para utilização na defesa das cidades. Encontramos no Antigo Testamento, em Eclesiastes 4:12: “Se alguém prevalecer contra um, dois lhe resistirão: o cordão de três dobras não se arrebenta com facilidade“.

     Os agrimensores egípcios usavam cordas com nós para delinearem os terrenos a serem edificados, sendo que os nós demarcavam pontos específicos das construções, onde deveriam ser necessárias aplicações de travas, colunas, encaixes, etc. Na Idade Média, os construtores da Maçonaria Operativa usavam uma corda com alguns nós feitos a determinadas distâncias uns dos outros, amarrando esta corda entre dois pilares com distância estudada, deixando-a formar uma “barriga” em ângulo desejado. Feito isto, era colocada uma luz (velas) a distância e altura calculadas, ocasião em que a “barriga” mostrava no extremo oposto, através da sua sombra, as dimensões exatas da cúpula que se desejava construir, mercê da figura invertida e aumentada nas proporções.

     Como exemplo, citamos Thales de Mileto, que instado pelo Faraó a medir a altura de uma pirâmide sem o uso de instrumentos e sem tocar na construção, colocou uma vara fincada no chão, na vertical, com 2m de altura. Quando o sol levou a sombra desta vara a ser projetada com um comprimento exato de 2m, ele mediu a sombra da pirâmide projetada no solo, que era a própria altura da pirâmide.  

       Avançando mais no tempo, encontramos na Sociedade dos Construtores, embrião da Maçonaria atual, a herança da corda com nós, não necessariamente 81, mas 3, 5, 7 ou 12, que era desenhada no chão com giz ou carvão, alegoricamente fazendo parte de um Painel representativo dos instrumentos usados pelos Pedreiros Livres.

     Uma das possíveis origens da corda de 81 é-nos datada de 23 de Agosto de 1773, por ocasião da instituição da primeira palavra semestral em cadeia da união, quando, na casa “Folie-Titon” em Paris, tomou posse Louis Phillipe de Orleans, como Grão-mestre da Ordem Maçónica na França. Naquela solenidade estavam presentes 81 irmãos, e a decoração da abóbada celeste apresentava 81 estrelas.

     Quando queremos fazer uma reunião importante, tomamos cuidado para que não haja interrupção ou intromissão de estranhos no recinto. Fazemos isto, colocando vigias e fechando as portas. Em resumo, cercamos o local e estabelecemos o que podemos chamar de cordão de isolamento. Quando fazemos uma “sessão espírita”, antes de se iniciarem os trabalhos, é feita uma preparação na parte externa do local, ocasião em que “sentinelas espirituais” estabelecem um “cordão fluídico”, que impede a entrada de entidades que possam perturbar os trabalhos com a sua baixa vibração, provocando quadros de obsessão ou de discórdia. 

     Nas reuniões maçónicas, seguindo o ritual, é pedido ao Irmão Guarda do Templo que verifique se o Templo está “a coberto” das indiscrições profanas, somente iniciando os trabalhos após a sua confirmação. A protetora Corda Maçónica, inicialmente riscada do chão, elevou-se depois para junto dos textos dos Templos, significando a elevação espiritual dos Irmãos, que deixaram de trabalhar no chão com o cimento físico e passaram a trabalhar no plano superior com o cimento místico, que é a argamassa da Espiritualidade.

     Esta corda oferece-nos a proteção pela “Emanação Fluídica” que abriga e sustenta a “Egrégora” formada durante os trabalhos em Templo, através da concentração mental dos Irmãos, evitando que nenhuma energia negativa esteja presente no recinto. As borlas separadas na entrada do Templo funcionam como captores da energia pesada dos Irmãos que entram, devolvendo-lhes esta energia sob forma leve e sutil quando da sua saída. 

  É como a camada de OzonIo impedindo a passagem dos raios ultravioleta, favorecendo apenas a penetração do fluído vital para a energização dos nossos chakras, que giram com os seus elétrons em torno do núcleo, como microuniversos internos. 

    Encontramos ainda, na estrutura dos laços (não chamamos de nós) o símbolo do infinito e a perpetuação da espécie, simbolizada na penetração macho / fêmea, determinando que a obra de renovação é duradoura e infinita. Este é um dos motivos pelos quais os laços são chamados “Laços de Amor”, para demonstrar a dinâmica Universal do Amor na continuidade da vida. Os laços da corda, em forma de oito deitado, ou infinito, lembram ao Maçom que estes laços não podem ser apertados, pois isto significaria a interrupção e o estrangulamento da fraternidade que deve existir entre os Irmãos. 

     Os 81 laços, por serem em forma de infinito, simbolizam também, cada um deles, o Grande Arquiteto do Universo. A expressão algébrica ∞ x 0 = 1 – o infinito multiplicado pelo zero é igual a um – significa que Deus, na sua forma dinâmica, o Infinito, agindo sobre si mesmo, o Zero – isto é, Deus no seu estado de inércia – produziu o Um, ou seja, o Universo. 

     Nos Templos maçónicos, o número 81 simboliza também os princípios místicos de todas as tradições esotéricas, por ser o 81 o quadrado de 9, que por sua vez é o quadrado de 3, número perfeito e símbolo da Divindade. No Oriente, a corda é colocada de modo a que fiquem 40 laços à direita e outros tantos à esquerda do dossel, ficando o laço central exatamente sobre o dossel, representando o número UM, a unidade indivisível. 

    O número 40 é apresentado inúmeras vezes no Antigo Testamento, em Génesis 7:4; Êxodo 34:28; Mateus 4:2; Atos dos Apóstolos 1:3, etc. O laço central, por simbolizar também o Criador, é duplamente sagrado. Voltando ainda às laterais com 40 laços, lembramos que este número marca a realização de um ciclo que leva a mudanças radicais. A Quaresma dura 40 dias. Ainda hoje temos o hábito medicinal de colocar pessoas ou locais sob “quarentena” com se nela estivesse a purificação dos males antes existentes. Jesus jejuou por 40 dias no deserto, e permaneceu na Terra 40 dias após a sua Ressurreição. Os Hebreus vagaram 40 anos no deserto. Na Cosmogonia dos Druidas, as Tríades dos antigos Bardos eram em número de 81 e os três círculos fundamentais de que trata esta doutrina têm como valor numérico o 9, o 27 e o 81, todos múltiplos de 3.

     Ragon, no seu livro “A Maçonaria Hermética”, no rodapé da página 37, diz numa nota, que segundo o Escocês Trinitário, o 81 é o número misterioso de adoração dos anjos. Segundo Oswaldo Ortega, à luz do Esoterismo, os 81 laços que estão no tecto, portanto, próximos do céu, têm ligação com os 81 anjos que visitam diariamente a Terra, como mostram as Clavículas de Salomão, e baseiam-se nos 72 pontos existenciais (os 72 nomes de Deus), da Cabala Hebraica modificada. A cada 20 minutos, um anjo desce à Terra e dá a sua mensagem aos homens. São 72 visitas no curso do dia, se levarmos em conta que a cada hora teremos 3 anjos, em 24 horas, teremos 72 anjos. Agora, somando 72 anjos aos nove planetas conhecidos na antiguidade, e que nos influenciam diariamente, chegamos ao número 81. Sabemos que estes anjos podem ajudar-nos se os chamarmos pelos nomes no espaço de tempo que nos visitam. E eles estão representados no teto do Templo, através dos 81 laços.

     No Centro Esotérico da Comunhão do Pensamento é apresentada esta corda, mas sem delimitação do número de laços, já que é considerada sem começo e nem fim, envolvendo o Planeta Terra. Ali ela chama-se Cadeia Áurea de Amor.   

   Jules Boucher referiu-se assim à Corda de 81 Laços: Pode-se pensar, razoavelmente, que os Maçons especulativos, tendo substituído o “cordel operativo por um cordão ornamental, deram muito naturalmente a este cordão nós em forma de “laços de amor”. Esta espécie de laços, figurando nos brasões o Painel ou Tapete da Loja, enfeixa os símbolos essenciais da Maçonaria, e podem ser considerados como o armorial maçónico”. 

 Autor desconhecido

fevereiro 14, 2023

A VERDADE

 



A “VERDADE ” dentro da Maçonaria possui papel de destaque.

A Quarta Instrução para Aprendiz Maçom afirma que a Maçonaria é “uma associação de homens escolhidos, cuja doutrina tem por base o G:.A:.D:.U:.; como regra , a Lei Natural; por causa, a Verdade, a Liberdade e a Lei Moral...”.

Mas, o que seria a Verdade, na visão maçônica?

Vejamos o que afirmou o Ir:. Castellani ao explicar as diferentes posições do Esquadro e do Compasso:

_“há, porém, uma interpretação racional, não mística: no início da caminhada, as hastes do Compasso, presas sob os ramos do Esquadro, simbolizam a mente humana, ainda subjugada pelas paixões, pelos preconceitos e pelas convenções sociais, sem a necessária liberdade para pesquisar e procurar a Verdade.

Conforme o crescimento filosófico, libertam-se, gradativamente, as hastes do Compasso dando ao Iniciado uma certa liberdade de raciocínio e que está no caminho certo da Verdade.

A Verdade, aí simbolizada, pode, também, ser interpretada do ponto de vista místico, ou do ponto de vista material, físico.

Na interpretação mística, transcendental, a Verdade simbolizada pelas hastes livres do Compasso, é a Verdade Divina, o atributo da mais alta espiritualidade, só reconhecido na divindade.

Enquanto que a Verdade simbolizada pelas hastes presas do Compasso, é a Verdade humana, demonstrada como imperfeita, rústica, instável e subjugada pelos preconceitos.

Na interpretação racional, a Verdade contida nas hastes livres do Compasso é a Verdade sempre renovada da evolução científica, do raciocínio livre e do espírito crítico, que dá, ao homem, a liberdade de escolher os seus padrões morais e espirituais, sem um paternalismo, que lhe mostre uma Verdade, imutável e estática, transformada em transcendental e que, por isso mesmo, é enigmática e inacessível”.

Portanto, a Verdade maçônica possui “duas pernas” interligadas.

Uma é a Verdade Divina.

A outra, do que pude tirar da explicação de Castellani, é a Verdade obtida da pesquisa, do conhecimento, da liberdade de expressão, do livre pensamento, da livre opinião e do espírito crítico.

Esta última Verdade é dinâmica e sempre renovada. 

Mas, como buscá-La sem antes confrontarmo-nos com os sistemas filosóficos e religiosos que nos apresentam como um pacote pronto?

Como buscá-la sem antes passarmos por cima de dogmas, religiosos ou não?

Como nos mostra nossa Quarta Instrução, “embora concebidos com sinceridade, esses sistemas são errôneos e falíveis, porque se originam de convicções e concepções humanas”. 

Mais a frente podemos ler nessa Instrução, quando ela fala sobre a ainda não atingida posse integral da verdade:

_“Seu domínio alarga-se e recua cada vez mais, à proporção que a humanidade avança no caminho da ciência e à medida que os investigadores se aproximam para desvendá-lo. Iludir-se quanto a isso com o propósito de dogmatizar, crente de saber o que se afirma, são as características peculiares dos espíritos tacanhos.

O sábio, o pensador e o verdadeiro Iniciado, humilham-se sempre, quando em presença de uma verdade que reconhecem superior à sua compreensão”.

Nossas Instruções tratam, portanto, da eterna busca de uma Verdade enigmática, inatingível e inacessível.

Lembro-me aqui das palavras do escritor e crítico alemão, Gotthold Ephraim Lessing, que escreveu:

_“Se Deus tivesse em sua mão direita toda a verdade e na mão esquerda unicamente o impulso sempre ativo da busca da verdade e, ainda com o aviso de eu me enganar sempre e eternamente, se Ele me dissesse: escolhe!, eu lhe cairia humildemente na mão esquerda, dizendo: Pai, dá-me isto, pois a pura verdade é, contudo, para ti somente!“.

Muitos dirão que os ensinamentos e a filosofia maçônica estão carregados de relativismo.

Relativismo associado a algo negativo, lembrando o pó e o mofo de que estão carregadas as condenações da Igreja à nossa Ordem.

É aí que me pergunto: e qual é o problema com esta concepção de mundo?

Qual o problema com esta concepção de Verdade, seja ela divina ou não?

Confesso que não vejo argumentos razoáveis para condenar estas concepções. 

Cada um é livre para escolher a sua visão da Verdade ou da verdade dos fatos.

Só um dogmatismo atroz, mofado e contrário a evolução do mundo poderia me afastar de tal liberdade.

A Maçonaria é relativista? Sim.

Nega a possibilidade de um conhecimento objetivo da Verdade? Sim.

Refuta os dogmas de qualquer espécie? Sim.

O conceito de G:.A:.D:.U:. é neutro e indefinido ? Sim.

Mas, muito mais importante, é que nossa Ordem respeita todas as convicções (religiosas ou não).

Muito mais importante é que a cada um de nós é ensinado que é sagrado o direito a livre investigação da Verdade.

A cada um de nós é dada a possibilidade de, através da meditação e do estudo, construirmos o nosso caminho de buscá-la, mesmo que esta seja, em última instância, inatingível, inacessível e enigmática. 

Somente a busca e a construção deste caminho já serão suficientes para nos tornarmos mais justos e perfeitos.

Não podemos nos dar o direito de querer impor as nossas verdades.

O que nos cabe é ajudar aqueles que combatem e revoltam-se contra os sistemas paternalistas, tirânicos e arbitrários, que querem nos impor uma verdade imutável e estática, transformada em transcendental; e que, por isso mesmo, é enigmática e inacessível.

Cabe a nós, ainda, a eterna busca da Verdade. A leitura, a pesquisa, o espírito crítico; a filosofia e a História nos indicarão o caminho para alcançá-lo.

E se, para isso, tivermos que derrubar alguns dogmas, que estes sejam derrubados, ainda que somente em nossas consciências.

Bom dia meus irmãos buscadores da "VERDADE"...





BULA PAPAL DE CLEMENTE XII EM 1738



IN EMINENTI APOSTOLATUS SPECULA SOBRE A MAÇONARIA

BULA PAPAL DE CLEMENTE XII

28 DE ABRIL DE 1738

CLEMENTE, bispo, servo dos servos de Deus a todos os fiéis, Saudações e Bênçãos Apostólicas.

Uma vez que a divina clemência colocou-Nos, mesmo nossos méritos não estando à altura de tal  tarefa, no alto da torre do relógio do Apostolado com o dever de cuidado pastoral confiando em Nós, e tendo sido chamada a Nossa atenção, na medida em que foi concedida a Nós vinda do alto, com incessantes cuidados a todas essas coisas através do qual a integridade da religião ortodoxa é mantida a partir de erros e vícios, impedindo a sua entrada, e pelos quais os perigos de perturbação da maior parte dos tempos são repelidos de todo o mundo católico.

Agora, chegou a Nossos ouvidos, e o tema geral deixou claro, que certas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções chamadas popularmente de Liberi Muratori ou Franco Maçons ou por outros nomes, de acordo com as várias línguas, estão se difundindo e crescendo diariamente em força; e que homens de quaisquer religiões ou seitas, satisfeito com a aparência de probidade natural, estão reunidos, de acordo com seus estatutos e leis estabelecidas por eles, através de um rigoroso e inquebrantável vínculo que os obriga, tanto por um juramento sobre a Bíblia Sagrada quanto por uma variedade de severos castigos, a um inviolável silêncio sobre tudo o que eles fazem em segredo em conjunto.

Mas é parte da natureza do crime trair a si própria e para mostrar ao seu próprio clamor. Assim, estas citadas Sociedades ou Convenções têm causado na mente dos fiéis a maior suspeita, e todos os homens prudentes e íntegros tem apresentado o mesmo juízo sobre eles como sendo pervertidos e depravados. Pois se eles não estão fazendo mal, então não deveriam ter  um ódio tão grande da luz. De fato, este rumor tem crescido a tais proporções que, em vários países estas sociedades têm sido proibidas pelas autoridades civis como sendo contra a segurança pública, e por algum tempo pareceu terem sido prudentes eliminados.

Por conseguinte, tendo em mente o grande prejuízo que é muitas vezes causado por essas Sociedades ou Convenções não só para a paz do Estado temporal, mas também para o bem-estar das almas, e percebendo que eles não possuem, por qualquer das sanções civis ou canônica; e uma vez que Nós somos inspirados pela palavra divina que é a parte do fiel servo e do comandante da casa do Senhor para assistir dia e noite o açoite de tais homens contra o lar agindo como ladrões e, como raposas que procuram destruir a vinha; de fato, para evitar que os corações dos simples sejam pervertidos e os inocentes sejam feridos secretamente por suas flechas e para bloquear a ampla estrada que poderia ser aberta para a ação de pecado e pelas justas e razoáveis motivações conhecidas por Nós; e por isso, depois de ter tomado conselho de alguns de nossos Veneráveis Irmãos entre os Cardeais da Santa Igreja Romana, e também de nossa própria reflexão a partir de certos conhecimentos e de madura deliberação, com a plenitude do poder apostólico, que decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações, ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proi

Deste modo, Nós ordenamos precisamente, em virtude da santa obediência, que todos os fiéis de qualquer estado, grau, condição, ordem, dignidade ou preeminência, seja esta clerical ou laica, secular ou regular, mesmo aqueles que têm direito a menção específica e individual, sob qualquer pretexto ou por qualquer motivo, devam ousar ou presumir o ingresso, propagar ou apoiar estas sociedades dos citados Liberi Muratori ou Franco maçons, ou de qualquer outra forma como sejam chamados, recebê-los em suas casas ou habitações ou escondê-los, associar-se a eles, juntar-se a eles, estar presente com eles ou dar-lhes permissão para se reunirem em outros locais, para auxiliá-los de qualquer forma, dar-lhes, de forma alguma, aconselhamento, apoio ou incentivo, quer abertamente ou em segredo, direta ou indiretamente, sobre os seus próprios ou através de terceiros; nem a exortar outros ou dizer a outros,  incitar ou persuadir a serem inscritos em tais sociedades ou a serem contados entre o seu número, ou apresentar ou a ajudá-los de qualquer forma; devem todos (os fiéis) permanecerem totalmente à parte de tais Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções, sob pena de excomunhão para todas as pessoas acima mencionadas, apoiadas por qualquer manifestação, ou qualquer declaração necessária, e a partir da qual ninguém poderá obter o benefício da absolvição, mesmo na hora da morte, salvo através de Nós mesmos ou o Pontífice Romano da época.

Além disso, Nós desejamos  e ordenamos que todos os bispos e prelados, e outras autoridades locais, bem como os inquisidores de heresia, investiguem e procedam contra os transgressores, independentemente da situação, grau, condição, ordem de dignidade ou preeminência que venham a ter; e que venham a perseguir e punir a todos com as sanções competentes da mais alta suspeição de heresia. Para cada um destes e a todos destes Nós concedemos e garantimos a livre faculdade de solicitar o auxílio do braço secular, em caso de necessidade, para investigar e proceder contra aqueles mesmo transgressores e para persegui-los e puni-los de acordo com as competentes sanções.

Dada e traçada em Roma, em Santa Maria Maior, no ano de 1738 de Nosso Senhor.

DESCALÇAMENTO & MAÇONARIA - Kennyo Ismail



Pra começar, esse negócio de chinelo é coisa relativamente nova, apenas para os candidatos não pegarem um resfriado, machucarem o pé ou mesmo se sujarem em demasia. 

Preocupações que não existiam anteriormente, mas passaram a fazer parte da sociedade. 

Afinal de contas, pé com chinelo não é pé descalço!

Os rituais e livros são extremamente omissos quanto ao motivo do descalçamento, muitas vezes informando apenas que se trata de uma questão de respeito. 

Há ainda os “achistas” de plantão, para viajarem em teorias tendenciosas e sem embasamento como Jesus lavando os pés de um discípulo, ou que o caminho do candidato é ao Oriente e no Oriente (Japão) as pessoas tiram os calçados para entrar em casa. 

Se neles falta pesquisa, sobra imaginação. 

Não me assustará se uns desses quiserem um dia lavar o pé do candidato no Mar de Bronze!

Para demonstrarmos a antiguidade e a importância do costume do descalçamento, podemos recorrer a vários povos e épocas. 

Entre os exemplos, há no livro “Êxodos”, 3:5, quando Deus fala com Moisés por meio de uma “sarça ardente”: “não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.” 

Outro exemplo interessante, dum personagem muitas vezes ligado à Maçonaria, é uma instrução de Pitágoras aos seus discípulos: “Ofereça sacrifício e adoração descalço” e “Devemos nos sacrificar e entrar nos templos sem sapatos”.

Tal costume, existente entre judeus e gregos, também é observado entre muçulmanos, hinduístas, e várias religiões orientais, o que comprova seu caráter universal. 

Tão antigo e presente em tão diferentes povos e culturas, é impossível e desnecessário determinar seu início e origem. 

Parece fruto de um senso comum, assim como a própria existência de um Ser Superior. 

Trata-se de um óbvio reflexo do simbolismo dos templos: um local sagrado é um local puro, portanto, livre do que é sujo. 

Dessa forma, o pé descalço simboliza o respeito e a deferência da pessoa para com aquele lugar, seu reconhecimento de que aquele solo é realmente sagrado.

Mas, como sempre, alguns ritualistas fizeram o favor de desconsiderar a história e o motivo de existir do rito de descalçamento, tornando os rituais, no mínimo, incoerentes: os candidatos descalçam o pé para pisarem num lugar puro, mas colocam sandália para não sujarem o pé. 

Uma verdadeira distorção do símbolo e de sua simbologia. 

Será que é preguiça de limpar a Loja? 

Espero que não.


fevereiro 13, 2023

A LEI INICIÁTICA DO SILÊNCIO - Ir∴ Antônio Rocha Fadista



Platão chamado a ensinar a arte de conhecer os homens, assim se expressou: “os homens e os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se distinguem pelo seu modo de falar”.

O pensamento do filósofo Iniciado nos oferece uma excelente oportunidade para uma profunda reflexão, principalmente, para todos os que integram a Ordem Maçônica.

Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. As palavras são a expressão das nossas ideias, dos nossos sentimentos e de nossas emoções, e transmitem aos ouvintes a carga de energia, positiva ou negativa, que acumulamos em nossa mente.

A sociedade humana está cheia de palavras que magoam e que ofendem o próximo. Infelizmente, existem palavras em excesso, tanto no mundo profano quanto nos Templos Maçônicos.

Orientado que é para refletir sobre a realidade e sobre o significado oculto das palavras, o Maçom sabe que, em última análise, a palavra é o reflexo da essência interna do ser humano.

Não por acaso, a Doutrina Maçônica recomenda o silêncio a todos os Maçons durante o período de aprendizado, de acordo, aliás, com a Escola Pitagórica, da qual a Maçonaria extraiu alguns dos Princípios que compõem o seu acervo filosófico.

A Escola, fundada pelo Filósofo de Samos na cidade de Crotona, preconizava o aperfeiçoamento do ser humano pelo estudo e pela prática da meditação e tinha um sistema de três graus: Preparação, Purificação e Perfeição.

No Grau de Preparação, os neófitos eram só ouvintes e cumpriam um  período de observação, durante o qual o objetivo era, pela prática do silêncio, desenvolver a capacidade de análise e de interpretação sobre tudo que se passava ao seu redor. Para atingir o Mestrado, no Grau de Perfeição, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Sem dúvida, constitui grande prova de disciplina para todos nós, quando, no Primeiro Grau, ouvimos os Companheiros e os Mestres sem expressar as nossas próprias opiniões sobre os assuntos tratados em Loja.

Chilon, um dos sete sábios da Grécia Antiga, quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia laconicamente: calar. 

No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controle da palavra, cuja universalidade desafia os séculos.

Ao entrarmos em nossa Sublime Instituição, encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra, que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre dosada, moderada, e espelhar o equilíbrio interno do orador.

Como dizia o Irmão Dante Alighieri na Divina Comédia, exortando o seu personagem Metelo: “usa a tua palavra como um ornamento”.

Na realidade, o silêncio, a meditação e a análise, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus pensamentos. Não é por acaso que a maioria dos Ritos Maçônicos reserva aos Irmãos o silêncio durante o período de aprendizado. O Rito Adoniramita, mais radical nesse sentido, estabelece que só os Mestres podem usar livremente a palavra.

Inúmeras são as Peças de Arquitetura, escritas por Irmãos em muitos países do Mundo, sobre o uso da palavra em Loja e sobre a Lei Iniciática do Silêncio.

À primeira vista, o silêncio poderia parecer aos Irmãos Aprendizes um condicionamento e uma restrição à liberdade de expressão; ao exercitarem a autodisciplina, em seu silêncio, apreendem, com muito maior intensidade, tudo o que ouvem e tudo o que veem. Na realidade, dialogam consigo mesmos; nesse diálogo, analisam, criticam e tiram suas próprias conclusões. Em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula os Irmãos do Primeiro Grau a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real.

Isso não significa que os Irmãos Aprendizes estejam proibidos de usar a palavra em Loja. Existem mesmo ocasiões em que não só podem, como devem se manifestar, principalmente, para tratar de assunto relevante, como por exemplo, a apreciação das informações sobre os candidatos à Iniciação.

Ao cruzarem as portas de uma Loja Maçônica, trazendo consigo os conceitos de liberdade total, os Irmãos, paulatinamente, aprendem a controlar os seus impulsos, aprimorando seus caracteres e preparando-se para serem líderes na construção da sociedade do futuro, na qual prevalecerão a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária. Por isso mesmo, a prática do silêncio deve ser entendida como um exercício de auto-aperfeiçoamento e, jamais, como uma proibição ritualística.

Tudo se resume na prática da Lei do Amor. O amor se oferece; não se pede e não se exige. Certamente, o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que pensam mais e falam menos, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais diletos?

TEATRAL, REAL ... - Adilson Zotovici



O grande dia é chegado

Ao vital plano e encenação

Real, cada ator preparado

Tal o profano cidadão


Assembleia, tudo planejado

Aviva a imaginação

Plateia, grupo incorporado

Morte e vida em ação


Fora os panos que vestia

Seu abismado coração

Sem enganos à travessia

Ora o cajado, sua visão


No algar desalumiado

Zetético, em forte comoção

Só com o “seu eu” deixado

A buscar um norte, direção


Percebeu que no passado

A vida antiga, em extinção,

E entendeu muro elevado

Ao futuro, à perfeição


E após tanto batalhado

E açorada atuação

Dos céus, o encanto legado

Prêmio pela obstinação


Renasceu  iluminado

Iniciado, neófito, irmão

Pela Arte Real Sagrado

Em teatral iniciação !



fevereiro 12, 2023

SER LIVRE E DE BONS COSTUMES - Newton Agrella


Muitas vezes amanhecemos com notícias que nos sobressaltam, e fazem-nos pensar quão enfurnados cada um de nós, vive seu mundinho de maneira tão pequena e egoísta.

Grande parte disso se deve ao orgulho, ou à vergonha de expormos nossas fraquezas, e limitações.

Quando não, nos defrontamos com o medo de sermos julgados e de alguma sorte, termos a cabeça colocada a prêmio.

Não raro, emoção e razão caminham desconexas e inibem a possibilidade de compartilharmos tristezas, angústias e frustrações, de maneira simples e natural, sem qualquer resquício de preconceitos.

O ser humano, grosso modo, entende que é maior que si mesmo e poucas são as vezes que consegue externar suas necessidades, senão por algum tipo de pressão, ou quando o coração parece que vai explodir.

A busca não é pela perfeição, até porque ela é inatingível.  

O trabalho sim, é pelo aprimoramento interior, e pela vontade de acertar e erigir um templo mais seguro, consistente, comprometido com uma qualidade de vida cada vez melhor e compartilhar com o semelhante o êxito, a felicidade e o bem estar como instrumentos legítimos da virtude.

Ser "humano", não é apenas uma condição de espécie, mas antes de tudo, estagiar pelos labirintos mais profundos da Consciência.

Esta perfeita imperfeição é a tradução mais exata do que se constitui a nossa natureza hominal e anímica.

O amplo conjunto de correntes filosóficas que compõe a dialética maçônica, propicia aos seus adeptos a chance de exercer a liberdade de pensamento, sem estar vinculado a visões esteriotipadas e muito menos subjugado a dogmas, que impõem a restrição ao direito da argumentação.

"Ser livre e de bons costumes", não é um mero slogan de uma peça publicitária, senão, um preceito ético e moral que estimula o homem a explorar os mistérios da consciência sob a égide espiritual, intelectual e sobejamente especulativa.



fevereiro 11, 2023

BENÇÃO E SUA PROPRIEDADES DIALÉTICAS - Newton Agrella



Para a língua portuguesa, o substantivo abstrato *benção* advém da locução  “bene dicere” - que é o equivalente à "bem dizer" ou seja; "dizer palavras de bom agouro", falar bem de alguém, elogiar, enaltecer...

Igualmente daí derivaram-se outros termos, tais como:  “bendizer”, “benzer”, "bendito", "benedito" e "bento".

Portanto, a *benção* na sua compleição etimológica e no âmbito filosófico refere-se à prática e ao exercício de falar bem sobre as coisas e exaltar o lado positivo e favorável das circunstâncias, seja no aspecto material ou espiritual.

Contudo, no transcurso da história, o alcance semântico da referida palavra, ultrapassou as fronteiras da filosofia e da própria gramática, tendo adquirido uma profunda identidade religiosa,  intimamente vinculada à figura divinal.

Ao proferi-la, a mesma investe-se de uma espécie de permissão de "Deus" para estar em contato com tudo aquilo que a Ele pertence.

Assim, a benção no sentido religioso cristão representa um reconhecimento de que nada nos pertence.

Porém, ainda nesta linha dialética a *benção* também  pode traduzir a idéia de recompensa.

Interessante registrar que na língua hebraica a palavra  "benção" transliterada como *baarah*, origina-se de uma raiz etimológica (barakeh, beirakheh) que significa ajoelhar, abençoar, exaltar, agradecer, exortar, saudar. . .. 

Curioso que, tanto no hebraico quanto no grego (eulogia), o vocábulo indica o sentido de concessão de algo material, a doação de um bem.

Como se percebe, há uma linha tênue entre o sentido filosófico e religioso deste termo - inúmeras vezes encontrado na bíblia -  como uma obra de narrativa histórica e cronológica.  

Algo como uma espécie de Ata que reproduz através de registros orais, escritos e testemunhais uma narrativa de um enorme contingente da civilização humana.

Sempre bom lembrar que nenhuma existência particular é mais do que uma pequena onda provisória no oceano ilimitado da vida, o que vale entender que a benção tem a propriedade de um presente. 

Ela se constitui na materialização humana como obra de um Princípio Criador e Incriado, que busca especular incessantemente sua origem, seu estado e seu destino.



O TEMPO DE COMPANHEIRO - Rui Bandeira



O tempo de Companheiro é um tempo difícil. O obreiro já não é um Aprendiz rodeado, apoiado, apetece até dizer mimado, por todos os Mestres da Loja. Alcançado o seu aumento de salário, afinal o premio que obtém é apenas uma mudança do seu lugar na Loja, um pouco de cor no seu avental e... uma sensação de menor apoio.

Após uma Cerimônia de Passagem que é um verdadeiro anticlímax em relação à sua recordação do que experimentou quando foi iniciado, depara-se com um par de símbolos novos, metem-lhe uns regulamentos e um ritual e catecismo na mão e... parece que se desinteressaram dele, ele que se oriente...

Não é assim, embora pareça que seja assim. E é assim que deve ser.

A Iniciação foi o nascimento para a vida maçônica. O tempo de Aprendiz é a sua infância, em que se é guiado, educado, amparado, mimado. O tempo de Companheiro, esse, é o da adolescência. Já não se admite ser tratado como criança – como Aprendiz – pois já se cresceu – já se evoluiu – mas... sente-se a falta do apoio que se recebia em criança. Já não se quer, mas ainda afinal se tem a nostalgia do apoio do tempo de Aprendiz. 

O Companheiro, tal como o adolescente, sofre a sua crise de crescimento. É o preço que tem a pagar pelo seu trajeto em direção à idade adulta maçônica, em que será reconhecido como Mestre.

No entanto, só aparentemente o Companheiro é deixado só. Os Mestres permanecem atentos a ele e, de entre eles, em especial o Primeiro Vigilante responsável pelos Companheiros. Simplesmente já não tomam a iniciativa de sugerir caminhos, orientar trabalhos, avançar explicações, dar opiniões. 

Porque o Companheiro já não é Aprendiz, tal como o adolescente já não é criança. O tempo é de aprendizagem por si próprio, de exploração segundo os seus interesses. E só se houver grande desorientação no caminho se deve intervir.

Tal como em relação ao adolescente é contraproducente pretender-se guiá-lo, impor-lhe caminhos, pois ele ou não aceitará o que considerará indesejável intromissão ou tornar-se-á dependente de uma superproteção que muito dificultará a sua vida adulta, também os Mestres não devem abafar o Companheiro com recomendações, intromissões, solicitudes a destempo.

O tempo é de deixá-lo explorar, ele próprio, o que tiver a explorar. Se errar, aprenderá com o erro. Mas, no final, crescerá até à responsável maturidade da Mestria. É o que se pretende.

No início é – sabemo-lo bem! – confuso. Mas afinal as ferramentas foram fornecidas ao Companheiro logo no primeiro dia, tal como o guia de trabalho lhe foi apresentado. 

O Companheiro só tem de perceber isso, pegar nas ferramentas e seguir o trilho que, desde o início, lhe foi mostrado. Só não foi levado, empurrado, carregado, até ao seu início. Afinal, já não é criança...

A prancha de proficiência culmina o percurso do Companheiro. Mostra que ele entendeu o que escolheu entender, que trabalhou no que optou por trabalhar. A idade adulta está ao virar da esquina. O que implica virar essa esquina já é outra história...

fevereiro 10, 2023

A VENDA- Hercule Spoladore



Sim, conforme o amigo havia lhe prometido, naquele sábado, naquela hora da tarde, um senhor vestido de preto foi buscá-lo e levou-o ao templo onde ele seria iniciado na Maçonaria.

Não tinha a menor ideia do que lhe esperava. Os mesmos pensamentos da manhã lhe ardiam na mente, curiosidade à flor da pele. Estava calmo.

Durante o trajeto a pessoa que o estava conduzindo ao templo lhe adiantou que não se assustasse que tudo por mais esquisito, por mais bizarro que lhe parecesse era tão somente de caráter simbólico e que tivesse confiança nos homens que iriam guiá-lo.

Ao chegar ao templo foi induzido a se virar de costas para a porta do templo e foi vendado imediatamente sem saber por quem. Inicialmente ficou constrangido por ser assim tratado embora que delicadamente. Não havia sido avisado que seria assim. Aceitou passivamente a vendagem, porem um tanto chocado. Houve pelo menos um protesto mental, silencioso. Também não gostou quando embora que simbolicamente conforme lhe foi dito quando estava chegando ao templo quando pediram e ajudaram a retirar parte de suas vestes. Pensou que poderia estar se expondo ao ridículo, mas como foi avisado que tudo tinha um fundo simbólico, não se importou.

Daí um certo tempo sentado em uma cadeira com certa comodidade, num ambiente em que quase não havia ruídos, a não ser uns passos cuidadosos de alguém, e alguns sussurros que ouvia de vez em quando. Então se sentiu mais calmo. Interessante... Começou a sentir bem, sim bastante bem. Por quê? Nunca havia tido uma experiência como aquela. Vendado. Não via nada, mas estava assim estranhamente disposto, espírito aguçado, até contente e confiante, Ora nunca havia pensado nisso. Seria aquela privação da visão que estava lhe causando esta sensação? Fantástico. Que incrível!

Depois de um certo tempo começou a não perceber e nem se importar com mais nada exterior, já não ligava para os passos ou qualquer ruído externo. Fez uma introspecção. Lembrou-se do seu velho Pai, de sua Mãe, de sua infância sofrida que desde menino, trabalhava de dia e estudava a noite. Lembrou da educação que seus Pais lhe deram. Firme e disciplinada. Lembrou-se de sua adolescência de seus questionamentos a respeito do fenômeno vida, qual a razão de ser de tudo isto, da religião que absolutamente não lhe trouxera respostas e também se lembrou das injustiças sociais. Lembrou-se de sua esposa, agora recém casados, a mesma que quando noivos havia questionado de inicio, sua entrada para a Maçonaria. Quando se apercebeu viu que aqueles momentos de introspecção, havia rodado o filme de sua vida.

Que fato extraordinário, questionou-se porque não iria doravante fazer isso sempre? De agora em diante poderia em sua casa colocar uma venda e fazer uma reciclagem de sua vida periodicamente. Tão simples e tão eficaz. Na pior das hipóteses, seria ótimo para livrar-se da depressão e do estresse.

A cerimônia continuava lenta, como costuma parecer aos iniciandos. Fisicamente se sentia um autômato, não opunha resistência quando lhe guiavam de um lado para outro. Não tinha com o que se preocupar. Num determinado momento ouviu alguém falar em viagens, ouviu ruídos estranhos. Quando lhe fizeram algumas perguntas, preferia não respondê-las, respondeu-as monossilabicamente, pois queria mesmo era dialogar consigo mesmo.

Mesmo lúcido algo maravilhoso ocorreu várias vezes. Teve a percepção para dentro, teve o encontro com o seu próprio Eu. Estranha sensação que nem todos os iniciandos a atingem no dia de sua iniciação onde quem entra em ondas alfa se sente como se tivesse se a mente estivesse num vácuo, num vazio, onde o espaço tempo não faz sentido. Aí onde se situa a fonte do pensamento, onde o iniciando se identifica com o Todo onde a harmonia, evolução e vibração se sintonizam com todo o universo.

Ficou indignado quando lhe tiraram a venda e lhe deram a Luz, pois sentiu que na escuridão que a venda lhe trouxe ele havia encontrado uma verdadeira Luz, uma luz resplandecente que ele tinha dentro de si e não sabia.

IRMÃOS EM GUERRA




A tradição maçônica abunda em exemplos dos fortes laços que unem os maçons uns aos outros. 

Uma dessas histórias fala do coronel
John Mckinstry, um oficial americano capturado por índios aliados aos ingleses na Revolução Americana. Como mostra na gravura francesa do século XIX, ao lado, Mckinstry estava amarrado a 
uma árvore, prestes a ser queimado vivo, quando fez o sinal secreto de pedido de socorro de um irmão maçom. Para sua surpresa, um de seus captores adiantou-se  e mandou interromper a execução.

O salvador era Joseph Brant, um chefe mohawk educado na Europa e iniciado no ofício em Londres. Brant retornara à tribo, mas mantivera sua lealdade maçônica. Entregou Mckinstry aos maçons ingleses, que o levaram a um posto americano – a fidelidade à ordem transcendia a lealdade a seu próprio país. 

Fonte: livro “Mistérios do Desconhecido – Seitas Secretas”Editores de Time-Life Livros e publicado no Brasil pela Abril Livros – Rio de Janeiro, 1992.

fevereiro 09, 2023

LEVE PINCELADA NA TRI PONTUAÇÃO - Newton Agrella

Sem recorrer a explanações fantasiosas, mas baseadas em relatos e registros históricos, cabe esclarecer, sobretudo aos  Irmãos Aprendizes, que a tri pontuação não ocorre na Maçonaria Universal. 

Trata-se de fato, de uma prerrogativa adotada pelos Ritos de origem francesa. 

No Brasil, em razão da predominância do R.'.E.'.A.'.A.'. (Rito Escocês Antigo e Aceito) que apesar do nome é um rito maçônico de origem francesa, tal expediente é recorrente e plenamente obedecido.

No obra “Ortodoxia Maçônica”, consta que a tri pontuação passou a ser oficialmente adotada em 1774 por ordem do Grande Oriente da França.

Cabe destacar que o costume de abreviar as palavras surgiu com os gregos e em especial em algumas escolas filosóficas como forma de resguardar seus princípios e fundamentos dialéticos.

Posteriormente, os romanos  também passaram a adotar esta medida, extensamente explorada  através das chamadas "notas tironianas” que consistia numa linguagem escrita de Sinais para preservar a confidencialidade de assuntos do governo imperial.  Algo que mais tarde deu origem à  chamada taquigrafia.

Esse sistema de abreviação do latim ganhou vida na Europa pós romana.  

Como ilustração histórica  cabe destacar que a utilização de abreviaturas na França tornou-se tão abusiva, que o Rei Felipe IV,  publicou lei proibindo abreviações nas atas jurídicas.

A "Sublime Ordem", contudo acabou  adotando a tri pontuação em forma de um triângulo, remetendo ao símbolo geométrico maçônico, como mais um meio de resguardar sua linguagem e conteúdo em seus textos, documentos e rituais.

Analogicamente, os maçons passaram até como uma forma de identificação e reconhecimento a incorporarem os três pontos às suas assinaturas.

Reiterando que este é um expediente cursivo basicamente para a Maçonaria Latina - cujos idiomas provém do Latim.

Inúmeras são as publicações sobre a tri pontuação, cujas convenções acabam inclusive suscitando variações no seu emprego, dificultando assim uma padronização.

A tri pontuação não é adotada por Ingleses e Americanos, até inclusive por conta da própria estrutura do idioma e em razão de especificações culturais que obedecem outra origem.



VENERANÇA / VENERALATO - Ir. G. Paschoal



Em intenso período de Posses de Veneráveis é comum ouvirmos em Loja: “Que o eleito seja feliz em sua Venerança” ou “Que seu Veneralato seja próspero”. Você certamente já ouviu. 

Notadamente os que chegam à Ordem, vão ouvindo os veteranos e seguem repetindo. E na verdade raros são os que poderiam explicar o uso deste ou daquele termo. 

Lidar com nossa Língua é algo desafiador mesmo para os que são profissionais da área. 

Visitamos Lojas com frequência e pudemos notar que pessoas das mais diversas graduações e das três Potências Regulares, mesmo membros da alta administração, usam costumeiramente ambos e sem muita suspeita de que um deles pode não estar sendo corretamente empregado. 

Na internet, em rápida pesquisa por blogs e sites de estudiosos e até nas páginas oficiais vamos também nos deparar com tais palavras, o que confirma a grande confusão que ainda reina em nosso meio.

Fiquei curioso... Seriam palavras sinônimas? Já que eu mesmo só fui conhecê-las depois de iniciado e ao participar da primeira Sessão de Posse; utilizava sem preocupação uma e outra. Certa vez escrevi singelo texto, sendo alertado por sábio Irmão, que me perguntou: “Venerança?” Sem muito me detalhar, já tinha feito o brilhante papel do instrutor – aguçar minha a vontade de pesquisar. E foi o que eu, grato, fui fazer.

Em nossa Língua temos como referência o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa; não se trata de um dicionário, mas sim um catálogo oficial composto de um pouco mais de 380.000 palavras que são utilizadas na nossa língua. Nesta fonte, por incrível que pareça, não encontramos a palavra “Venerança”. Já a palavra “Veneralato”, sim, é encontrada. Este seguro referencial já poderia encerrar a celeuma.

Mas, vamos um pouco mais além:

A palavra Venerança seria composta de seu radical “Vener” + a vogal temática “a” e o sufixo nominal “nça”; este sufixo serve para indicar estado, ação ou qualidade. Portanto o significado da palavra seria ato ou qualidade de venerar. Notamos que não é bem o que pretendemos indicar ao usá-la em nosso meio.

Já na palavra Veneralato, seguindo o mesmo raciocínio acima, temos o sufixo “ato” significando posse ou grau relacionado a dignidades.

Embora a raiz etimológica seja a mesma, serão os sufixos que denotarão os diferentes significados.

A pessoa do Venerável é, de fato, digna de ser venerada, pois foi escolhido, eleito e será a grande Coluna de sua Loja. Pensando dessa forma, é evidente que a ação de venerá-lo poderia dar lugar ao neologismo “Venerança”; entretanto o ato de venerar, ou seja, a venerança seria nosso em relação ao Venerável e não dele próprio, como costumamos utilizar.

Concluímos, dessa forma, que Venerança é um termo inapropriado, que inclusive não existe no VOLP e nos principais dicionários que consultamos, embora tenha caído no gosto popular dentro da Ordem Maçônica. O termo correto, embora pouquíssimo utilizado é, portanto, Veneralato.

Nossos sistemas e ritos são repletos de “usos e costumes”. Esta breve, despretensiosa e singela pesquisa busca apenas trazer luz a este tema, ainda que saibamos, só o tempo depurará seu bom emprego em nossa língua.