março 03, 2023

O HOSPITALEIRO - Rui Bandeira


O Hospitaleiro é o elemento da Loja que tem o ofício, a tarefa, de detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio destas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando, através da Grande Loja e do Grande Oficial com esse específico encargo, o Grande Hospitaleiro ou Grande Esmoler, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos membros.


Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros. Solidariedade que não significa cumplicidade em ações ilícitas ou imorais, ou encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral. O maçom deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes, não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque autodeterminado e, portanto, responsável pelos seus atos, bons e maus. Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos afetam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem.


Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno daquele que, nesse momento, precisa do calor dos seus Irmãos. Este auxílio, este conforto, esta presença, são coordenados pelo Hospitaleiro. Note-se que a palavra utilizada é “coordenados”, não “efetuados” ou “realizados”. O Hospitaleiro não é o Oficial que efetua as ações de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja destas ações. O Hospitaleiro é aquele elemento a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita.


É claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efetuar a tarefa, ou a delegar a mesma noutro Irmão que seja mais conveniente que a efetue. Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria, isso já não seria auxílio, seria perturbação. O Hospitaleiro assume, assim, em primeira linha, a tarefa de se informar do estado do irmão, de o auxiliar e confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado, nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou constantemente assediado pelos contatos dos demais, prejudicando a sua recuperação e o seu descanso, maçando-o, mais do que confortando-o. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio é fundamental…


A solidariedade maçónica pode traduzir-se em atos (visitas, execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece confiança no inseguro), no simples acto de estar presente ou disponível para o que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa, mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível…) ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões…). A escolha, a combinação, o acionar das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do que os atos generosos, mas anárquicos e descoordenados…


O Hospitaleiro deve estar atento ao surgir de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e atuar em conformidade. Mas não é omnisciente. Portanto, qualquer maçom que detecte ou conheça uma dessas situações deve comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, atuar, coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça. Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia é que sejam “todos por um”, não “cada um pelo outro, todos ao molho e fé em Deus”…


A solidariedade maçónica é assegurada, em primeira linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue com a vida. Porque cada maçom, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente!


E a solidariedade é algo que não se esgota em circuito fechado. Para o maçom, a beneficência é um simples cumprimento de um dever. As ações de solidariedade ou beneficência em relação a quem – maçom ou profano – necessita, em auxílio das organizações ou ações que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo Hospitaleiro.


O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito importante em qualquer Loja maçónica. Deve, por isso, ser desempenhado por um maço experiente, se possível um Antigo Venerável.


O símbolo do Hospitaleiro é uma bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçom dá para o Tronco da Viúva. Mão segurando o saco, no modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o Tronco da Viúva, o Hospitaleiro exibe o saco contendo estes óbolos perante a Loja, demonstrando estar à disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material. Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu adequado e útil uso.



OLHO DA PROVIDÊNCIA - Luiz Castro M.'.M.'


Considerado por alguns um símbolo da onisciência divina e para outros uma influência sinistra, o olho da providência ou olho que tudo vê, como também é conhecido, é sem duvida um dos símbolos mais poderosos e utilizados do mundo. 

Entretanto, embora possua uma representação simples, devemos conhecer quais são os significados e história associados a este símbolo.

Acredita-se que o olho que tudo vê, nasceu há milhares de anos e se dispersou entre as antigas culturas, embora em quase todas elas com um significado semelhante, evocando uma força ou deidade vigilante que nos protege e ajuda; ou uma clara alusão ao despertar do espírito humano.

Não obstante, uma das primeiras referências conhecidas deste símbolo aparece no Rigveda, um dos mais antigos textos da humanidade, que data do ano 3000 antes de Cristo. 

Nele se faz referência a deidades oculares como Shiva, deus hindu que possui um terceiro olho no meio da testa em representação do conhecimento ilimitado, que ao se abrir, é capaz de destruir o mal. 

O terceiro olho também é relacionado com o despertar espiritual das pessoas

Conforme a cultura egípcia, sua origem é atribuída ao mito do olho de Hórus, o qual relata que depois de batalhar com o deus Seth, este haveria recebido um olho com poderes mágicos, com o que reviveria a seu pai, Osíris, se convertendo assim em um símbolo de vida e ressurreição. Embora uma interpretação mais atual, sugere que o olho de Hórus representa um mapa da certeza cerebral, onde representa o tálamo, a glândula pituitária e pineal. 

Esta última conhecida como o centro da consciência divina.

No oriente médio este símbolo pode encontrar-se na forma de uma mão, normalmente direita com um olho em seu interior, que é conhecida como Hamsa. 

Um talismã que protege do mau-olhado, cuja origem se encontra em outro símbolo da proteção divina, a mão da deusa Ishtar.

Para o cristianismo, o olho da providência data do século XVI e se compõe de um olho dentro de um triângulo, rodeado por raios de luz brilhantes. 

Figura geométrica que representa a Santíssima Trindade que em seu conjunto significa a omnipresença de Deus e sua observação constante da criação.

Do mesmo modo, embora não começou a ser usado desde 1797, este símbolo se tornou em um dos mais usados dentro da Maçonaria, onde por sua similitude com a letra grega delta, se conhece como delta luminoso e representa ao grande arquiteto do universo.



março 02, 2023

IRMÃO ADORMECIDO


Muitas vezes ouvimos alguém dizer assim: "aquele Irmão está adormecido", aquele ali é um Maçom adormecido", e outras palavras parecidas.


Mas afinal, o que é um "Irmão Adormecido"? Se tiver uma resposta como por exemplo, que é aquele Irmão que pediu seu Quite Placet e está há muito tempo sem frequentar uma Loja Maçônica, podemos até concordar em certo ponto, porém, há outra forma de intitular um verdadeiro "Irmão Adormecido", ou até mesmo num "Coma Induzido".


O Irmão adormecido por muito tempo, na verdade, é como um passarinho caído do ninho, que desaparecerá sem deixar vestígios, mas, temos também aquele que encontramos em "todas".


Num ponto de vista, o Irmão Adormecido é aquele que está Regular com sua Loja, que está em em dia com as suas mensalidades, com as mútuas, que vez ou outra participa do ágape, mas, quando participa, está presente em algumas Sessões apenas para cumprir com o número regular de presença.


O Irmão Adormecido é também aquele que quando comparece aos trabalhos, muitas vezes atrasado, não sabe o seu lugar na formação do cortejo de entrada, abre a sua pasta e não encontra seu ritual, quando o encontra não sabe a página em que deve abri-lo, não sabe o que deve ler ou falar quando ocupa um cargo e por aí vai.


Irmão Adormecido é também aquele que durante os trabalhos está de olhos fechados, acreditando que aqueles que o estão vendo, acha que está meditando sobre as instruções que estão sendo transmitidas, no entanto, com o pensamento lá fora, olhando para o relógio e contando os minutos para o encerramento da Sessão, muitas vezes já ansioso para saber o cardápio do ágape.


Irmão Adormecido é aquele que só retira o seu Ritual no dia da Sessão, que não lê, que não escreve ou apresenta uma Peça de Arquitetura, sempre com a desculpa de que não teve tempo para isso.


Irmão Adormecido é aquele que só é reconhecido como Maçom perante seus Irmãos em Loja, vestido com seu Avental mas, longe dali, se torna um simples mortal, um profano.


Portanto, não podemos esquecer aquele Irmão regularmente adormecido, ou seja, que está quite com sua Loja mas, nunca deixou de colocar em prática os ensinamentos que  obteve em Loja, que nunca deixou de ler livros e Peças de Arquitetura, que nunca deixou de estender suas mãos a um outro Irmão.


Na prática, o Irmão adormecido é aquele que está de posse do quite Placet, embora temos também o Maçom entorpecido, aquele que está regular porém inativo em relação aos trabalhos Maçônicos. Se movimenta como um ser sem vida e incapaz de olhar para os lados onde estão seus irmãos.


Então, antes de intitularmos um Irmão Adormecido, temos primeiro que avaliar sua conduta, sua inteligência, sua capacidade, suas qualidades e principalmente seu caráter e personalidade no mundo profano, muitas vezes melhor que um Irmão Regular.


(Desconheço autor)

CALENDÁRIO MAÇONICO

    


     O calendário maçônico é a maneira particular utilizada pelos maçons para numerar os anos e designar os meses.

    O ano um do calendário maçônico é o Ano da Verdadeira Luz – Anno Lucis em Latim. Ele marca o início da Era da Verdadeira Luz (VL). Antes que o Anno Lucis aparecesse a partir do século XVIIIe nos documentos ingleses, os temos Anno Masonry e depois Anno Latomorum , Anno Lithotomoru ou Anno Laotomiae(Era dos Cortadores de Pedra)1. A datação do Ano da Verdadeira Luz seria baseada nos cálculos de James Ussher, prelado anglicano nascido em 1580 em Dublin. Ele tinha desenvolvido uma cronologia começando com a criação do mundo segundo o Genesis que ele estimava em 4000 A.C. baseando se no texto Massorético ao invés da Septuaginta 2.

    O Pastor Anderson a defendeu em suas Constituições de 1723 para afirmar simbolicamente a universalidade da Maçonaria através da adoção de uma cronologia supostamente independente de particularidades religiosas, pelo menos no contexto britânico da época . A data escolhida para o início da Era maçônica é 4000 antes da Era Comum.

    O ano maçônico tem a mesma duração do ano gregoriano, mas começa em 1o de Março como o ano Juliano ainda em vigor na época da redação das Constituições de Anderson. Ela tomou o milésimo do ano gregoriano em andamento e aumentou 4000, os meses são designados apenas por seus números ordinais.

Exemplos: 29 de Fevereiro de 2004 era o 29o dia do 12o mês do ano 6004 da Verdadeira Luz

O ano maçônico tem duas festas: São João de Verão (João Batista, comemorado em 24 de junho) e São João de Inverno (João Evangelista, comemorado em 27 de Dezembro), coincidindo simbolicamente com os solstícios.

(Wikipedia)

março 01, 2023

MARÇO PEDE LICENÇA - Newton Agrella



O nome do mês de MARÇO, que abre suas portas na data de hoje na era vulgar do ano de 2023 do Calendário Gregoriano  tem sua origem advinda do substantivo "Martius" que era o primeiro mês do ano na Roma Antiga e no seu antigo calendário.

Esse nome fazia referência a MARTE, Deus da Guerra. 

Como em Roma o clima é mediterrâneo, Março é o mês que abre a Primavera, suscitando desse modo uma relação lógica para se dar o início de um novo ano, assim como para se empreender a temporada das campanhas militares de então.

Tudo isso, é claro, baseado nas circunstâncias históricas, sociais e culturais daquela época.

Cabe registrar que a partir do nome "Março", derivou-se por analogia e por extensão semântica, o adjetivo, "marcial", cuja ideia remete ao aspecto bélico, de guerra, de luta e de confrontos.

Por isso, o surgimento das expressões: : Corte Marcial,  Lei Marcial, Artes Marciais e por aí afora.

Feita esta brevíssima consideração histórica sobre o referido mês, cumpre destacar que na história contemporânea, a data mais marcante do mês de Março, comemorada em mais 100 países e institucionalizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) - a partir da década de 1970  -  é 08 de Março  - "DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES"  - como sendo um dia de protestos e manifestações legítimas na luta contínua pelos seus direitos em toda a sua plenitude. 

Uma luta não apenas contra a desigualdade salarial e profissional, mas sobretudo contra o machismo, a violência e o feminicídio.

O mês de Março portanto, traz consigo essa carga de responsabilidade histórica que impõe um permanente estado de vigília, de reflexão e principalmente de "consciência"  por parte da civilização humana.

Que Março continue bradando através da força de seu nome e de seu significado, a luta desmedida e ininterrupta pelo reconhecimento, respeito e valor inestimável que a Mulher possui e representa em todo o nosso universo.



A INFLUÊNCIA DA BÍBLIA NA MAÇONARIA - Márcio dos Santos Gomes


Vejam como é bom, como é agradável os irmãos viverem unidos…” (Sl 133)

Os trabalhos da Maçonaria Moderna [1] ocidental referenciada nos Ritos mais praticados têm início com uma exortação, invocando o auxílio (Publicado em freemason.pt) do Grande Arquiteto do Universo, o Deus que criou tudo o que existe, estando a Bíblia presente durante as reuniões, com foco na fraternidade, evocando espiritualidade e harmonia, assim como na valorização dos esforços e como fonte de ensinamentos de regras de conduta.

A Constituição da GLMMG, no seu artigo 22, dispõe:

§ 3°A Grande Loja adopta, na sua ação filosófica, ritualística e social, os Landmarks de Mackey e a Constituição de Anderson. O 21° Landmark exige “que um Livro da Lei seja parte indispensável dos utensílios de uma Loja”.

Os 25 Landmarks compilados pelo médico e historiador maçónico americano Albert Gallatin Mackey em 1858 são adoptados pelas Potências [2] Maçónicas latino-americanas e por algumas Grandes Lojas da América do Norte.

O número de Landmarks pode variar de acordo com o Rito e o País. São conhecidos ainda Landmarks de Findel, de Lecerff, de Pound, de Grant e outros. A Grande Loja Unida da Inglaterra reduziu a oito o número de Landmarks, constando do sexto a exigência da presença do “Livro da Lei Sagrada” durante os trabalhos.

Em maçonaria Landmark corresponde ao termo apropriado pela primeira vez na “Constituição de Anderson”, no ano de 1723, com o sentido de marcos, limites ou regras de conduta. Se uma só destas regras não for observada, a Potência rebelde é declarada “Irregular”.

James Anderson, escocês e pastor da Igreja Presbiteriana em Londres, escreveu a Constituição que leva o seu nome ou Constituição dos Maçons Livres, que foi reformada e republicada em 1738. Muitos autores atribuem a Anderson a criação da maçonaria simbólica, em função deste trabalho, mas há controvérsias. Segundo crítica de Castellani, “o imaginoso Anderson” tomou a Bíblia como modelo, considerando maçons todos os que nela apareciam, contribuindo para criação de patranhas e desencontros que ainda repercutem.

Tema recorrente na maçonaria, a Bíblia ou Livro da Lei [3] ou ainda Volume da Lei Sagrada (VLS) ou Livro das Sagradas Escrituras, representa a fé pessoal e alude a um código de moral e ética sobre o qual se presta um compromisso solene, não ensejando um ritual religioso. Dos seus membros a maçonaria exige a crença em Deus, na condição de que cada um livremente encontre conforto espiritual na sua crença. Já a questão envolvendo religiões é objecto de estudos históricos, filosóficos e de reflexão.

A revolucionária invenção de Gutenberg possibilitou que a Bíblia fosse o primeiro dos livros inteiros publicados pela técnica da imprensa, processo este que se iniciou cerca de 1450 e foi concluído em 1455. [4] A tradução para o alemão em 1522 (Novo Testamento) e a edição completa em 1534, baseada num trabalho coordenado pelo ex-frade agostiniano Martinho Lutero [5] (excomungado pelo Papa Leão X, em 1521), tornou-se um forte instrumento posteriormente usado pelos reformadores (João Calvino, na França, e Ulrico Zuínglio, na Suíça), permitindo a massificação das traduções sem a necessidade de aprovação eclesiástica.

Em 1534, no Ato de Supremacia em que Henrique VIII consolidou a Reforma Anglicana, com o rompimento entre a Inglaterra e o Papa Clemente VII, autoproclamando-se o chefe da Igreja do seu país, dentre outras medidas, pregou-se a popularização da leitura da Bíblia. [6]

A primeira versão bíblica autorizada na Inglaterra, traduzida do original hebraico e grego para o inglês, a pedido do rei James I da Inglaterra, foi publicada em 1611, conhecida como a Bíblia do Rei James. Até então era utilizada a versão em inglês da Bíblia de Genebra de 1560.

A introdução da Bíblia nas reuniões maçónicas foi sugerida por George Payne, em 1740, como bajulação à Igreja Anglicana, e não à Católica, pois naquela época era a primeira que predominava na Inglaterra, conforme ensina Castellani. Embora citada em vários documentos, não se (Publicado em freemason.pt) tem notícias da Bíblia permanecendo sobre o Altar dos Juramentos durante as sessões de trabalho. Há autores que registam o seu uso em 1670. Nos rituais de cerca de 1760 é referenciada como uma das três grandes luzes, com lugar de honra nas Lojas.

Os “Antigos Deveres” ou “Old Charges” [7] não permitem comprovar que a Bíblia fosse empregada nas lojas operativas inglesas antes da Reforma. O banir dos judeus de toda a Grã-Bretanha – e com eles, todos os seus costumes, as suas leis, as suas tradições – pelo Édito do rei Eduardo I, em 1290, foi motivo para o sumiço do Velho Testamento. A anulação deu-se por ato de Oliver Cromwell mais de 350 anos depois, em 1656.

O que se sabe é que os novatos juravam ser fieis às confrarias estendendo a mão direita sobre o Livro dos Evangelhos, sendo o preferido o de São João, festejado por ocasião das colheitas. Consta que no manuscrito “Harleim”, de cerca de 1600, a Obrigação de um iniciado fecha com as palavras: “Me ajude Deus e o conteúdo deste livro sagrado”.

Segundo Assis Carvalho (1997), não se tem notícias do uso da Bíblia antes de 1600. Aduz que os Estatutos de Schaw, datados de 1598, não a mencionam, mas fazem referência a contos bíblicos e lendas contadas aos obreiros. O documento de William Schaw estabelecia os deveres de todos os Mestres Maçons dentro do reino da Escócia, de onde se especula tenha a moderna maçonaria sido criada, de acordo com argumentação defendida por David Stevenson, no livro “As Origens da Maçonaria – O Século da Escócia – 1590-1710”.

O juramento sobre a Bíblia é uma tradição da herança cristã inglesa e não tem valor a não ser que ele tenha um significado sagrado, sendo visto por muitos como resultado da forte influência eclesiástica no ocidente, ratificando o poder da religião nos usos e costumes. É praxe nos tribunais ou nas solenidades de posse de presidentes americanos. George Washington ao ser empossado como primeiro Presidente da República, em 30 de Abril de 1789, prestou o seu juramento sobre uma Bíblia pertencente à Loja St John, n° 1, filiada na Grande Loja de Nova York.

O Livro da Lei ou o Livro Sagrado utilizado em determinadas sessões é aquele representativo da orientação religiosa do obreiro, podendo optar-se, nos casos de juramentos iniciáticos, quando o candidato faz a promessa da sua Obrigação, pelo uso do Alcorão ou da Torá, quando se tratar de muçulmanos ou judeus, respectivamente, dentre outros livros básicos de natureza religiosa. Não oferecer esta alternativa seria negar a universalidade da Maçonaria.

Existem ainda ritos ditos racionalistas ou adogmáticos que dispensam este procedimento, sob o argumento de que as concepções metafísicas dos maçons são consideradas de foro íntimo e ainda como sinal de respeito à liberdade de consciência e sem imposição de padrão religioso, com os compromissos de honra sendo assumidos sobre a Constituição de Anderson ou sobre a Constituição das Potências às quais pertença a Loja, como é o caso do Rito Moderno ou Francês.

No Rito Moderno “não se pergunta aos candidatos qual a religião que professam por ser, isso, da consciência individual de cada um, e não caber, a quem quer que seja, o direito de devassá-la” (Castellani, 1987). Citando Oswald Wirth, Boucher (2015) afirma: “Os anglo-saxões, ao exigir a Bíblia, e somente a Bíblia, negam a universalidade da Maçonaria e, se encararmos o problema desse ponto de vista, a “irregularidade” está do lado deles, e não do nosso”.

Os ritos representam um conjunto de regras e preceitos com os quais se desenvolvem os trabalhos, e entre os mais praticados sobressaem os de orientação latina e os anglo- saxões. O Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) [8], de inspiração católica e teísta, é o mais praticado e tem a sua origem em França, em 1756, sendo posteriormente alterado nos Estados Unidos, em 1801, com o aumento dos seus graus de 25 para 33 [9], por norte-americanos de origem judaica. Em 1855, o advogado, militar, escritor e Maçom norte-americano Albert Pike iniciou revisão do REAA, que culminou com a publicação em 1872 da obra “Moral e Dogma”, considerada um clássico da maçonaria moderna.

Os três primeiros graus, de Aprendiz, Companheiro e Mestre, chamados Simbólicos, são comuns em todos os ritos, com pequenas diferenças. Foram reorganizados entre os anos de 1700 e 1725. [10] Novos elementos, sob a forma de (Publicado em freemason.pt) alegorias e lendas foram inseridos entre 1730 e 1745. Os superiores ao 3° compõem os chamados Altos Graus, conhecidos genericamente como Graus Filosóficos.

Em todos estes graus os trabalhos são realizados com a Bíblia Sagrada aberta e lida em passagens diferenciadas, variando do Genesis ao Apocalipse, não como um culto religioso, “mas como ensinamentos práticos e uma das formas de se estabelecer sempre uma boa fraternidade e uma maior solidariedade.” (Vasconcellos, 1999). Há ritos que regulamentam apenas a sua presença sem o procedimento de abertura e/ou leitura. [11]

O local das atividades maçónicas comumente denominado Oficina, Loja ou Templo tem como modelo o Parlamento britânico e as Catedrais, de onde foram copiadas a orientação e a divisão. As lendas que ilustram a maçonaria não têm nenhum compromisso com verdades históricas, mas compõem as bases dos seus ensinamentos. Já os símbolos da arte de construir representam ideias e mensagens que são restritos aos iniciados e funcionam como veículos para que cada um descubra as suas próprias verdades por meio de pesquisas e estudos.

A influência da Bíblia reflete-se em várias situações e tem inspiração por analogia simbólica no Tabernáculo Hebreu e no Templo de Jerusalém, mesmo que indiretamente, conforme assinala José Castellani. E esta associação de imagens tem reflexos das raízes operativas da maçonaria agrupadas na visão dos construtores de catedrais da Idade Média, cuja corporação era uma das mais organizadas e fechadas da época.

É grande o número de nomes e símbolos tomados da Bíblia pela maçonaria, que adaptadas e aplicadas em alguns graus e à cultura maçónica, têm como objetivo transmitir didaticamente uma lição simbólica ou moral, como já assinalado. Importa ressaltar que a maçonaria não é de origem judaica e não faz nenhum vínculo de continuidade com a construção liderada pelo Rei Salomão, a ponto de dizer que naquela época haveria uma instituição maçónica. Alegoricamente, sob o simbolismo da arquitetura, a obra que se deve edificar é o Templo Interior, no sentido esotérico representado pela moral, carácter e personalidade, com inspiração na narrativa bíblica contida em 1Cor 3,16. [12]

Como suporte lendário, na concepção da Loja é marcante a figura emblemática do arquiteto que dirigiu as obras da construção do Templo de Jerusalém, o Mestre Hiram de Tiro (1Rs 7,13 – 2Cr 2,13), que personifica a Virtude. Destacam-se, inicialmente, as duas colunas ornamentais situadas à entrada, citadas em 1Rs 7,21 e em 2Cr 3,17, [13] significando força e beleza. Neste contexto, aceito que o templo maçónico pode ainda simular a terra, essas colunas representam os solstícios de Inverno, presidido por João Batista, e o de Verão, por João Evangelista, ambos os patronos da Maçonaria.

Da mesma fonte, quase todos os ornamentos e nomenclatura foram copiados, como o altar para os juramentos (Altar dos Sacrifícios), a mesa para queimar incensos (Altar dos Perfumes), a pia para as abluções (Mar de Bronze), o candelabro de sete braços (Menorá), a Estrela de Davi (Selo de Salomão), dentre outros suportes relativos à tradição judaico-cristã ou acontecimentos históricos e míticos.

Apropriou-se também do valor significativo da Acácia, [14] árvore mencionada em Ex 35,24 e sagrada entre os hebreus, cuja madeira foi utilizada na construção do Tabernáculo, pela sua resistência e reputação de incorruptível, devido às suas resinas. Da mesma forma foi também incorporado o simbolismo do trigo, cereal nobre, que na Bíblia representa o alimento espiritual, o pão da vida, a comunhão entre irmãos, etc.

Do 28° Capitulo do Livro do Génesis, foi introduzida a alegoria da visão da Escada de Jacob, fazendo alusão ao ciclo evolutivo da vida, representado pelo progresso moral (Publicado em freemason.pt) e intelectual, vez que a maçonaria vislumbra na escada um símbolo de progresso que cada Maçom deverá galgar para atingir um estado de consciência plena, com Fé (determinação), alimentado pela Esperança e no exercício da Caridade para com os seus semelhantes. O número de degraus é indeterminado conforme as virtudes necessárias ao aperfeiçoamento do Maçom.

Os ritos maçónicos seguem um calendário onde se adiciona o número simbólico 4.000 à era vulgar, baseado na história bíblica da criação do mundo. A maçonaria moderna buscou ainda na Bíblia os mistérios relativos às “Palavras de Passe“ e às “Palavras Sagradas”, além de acontecimentos históricos e nomes sagrados emprestados aos Graus Filosóficos, de forma que o Maçom possa inspirar-se, juntamente com cada objeto, utensílio e adorno, transferindo a filosofia destes elementos para o terreno espiritual, a fim de erigir dentro de si mesmo um Templo da Virtude, um local de comunhão íntima dedicado ao culto ao Criador.

Enfim, como observa Jules Boucher:

“Os Maçons não tentam reconstruir materialmente o Templo de Jerusalém; é um símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada Maçom é uma Pedra, preparada sem machado nem martelo no silêncio da meditação”.

Notas

[1] Conhecida também como Maçonaria Especulativa, organizada a partir de 1717, teve como precursora a Maçonaria Operativa à qual pertenceram os profissionais ligados à arte de construir na Idade Média.

[2] Chama-se Obediência, ou Potência Maçónica, uma aliança de Lojas subordinadas à mesma orientação superior. São Obediências: as Grandes Lojas e os Grandes Orientes (Castellani, 1987).

[3] Simbolismo apropriado de 2Rs 22,8.

[4] Até então, a Bíblia era um livro raro e manuscrita, contando com o trabalho dos monges copistas, de difícil acesso e com o predomínio do Latim, sendo um privilégio do alto clero. Há fontes que afirmam que aos católicos comuns era proibida a sua leitura, porque eles não dispunham de capacidade para entendê-la.

[5] O privilégio atribuído a Lutero de ter traduzido, pela primeira vez, a Bíblia para uma língua moderna, é contestado por vários autores.

[6] O estudo sobre a Bíblia pelos protestantes vem de longa data, ao passo que entre os católicos tal prática somente se manifestou a partir dos anos de 1960, em decorrência do Concílio Vaticano II.

[7] O “Poema Regius” ou “Manuscrito Halliwell”, provavelmente de 1390, e o “Manuscrito de Cook”, estimado de 1450, são silenciosos a respeito.

[8] Embora nascido na França, o titulo “Escocês” é vinculado aos Stuarts ingleses, destituídos do trono da Inglaterra e refugiados na França, em duas oportunidades, durante os anos de 1649 e 1688. Epíteto aplicado aos partidários da dinastia Stuart (jacobitas), originários da Escócia, com quem começou a surgir e de onde o rito adquiriu o título.

[9] Segundo Castellani (1987), os irmãos Drake, que moravam em Charleston, por onde passa o paralelo 33, elevaram os graus para 33, em homenagem ao paralelo. Outras hipóteses sobre este número abundam.

[10] A Maçonaria só passou a ser iniciática a partir da criação do 3° Grau (1725). Até então não havia “Iniciação” e sim uma “Recepção de um novo membro ou sócio” que consistia de um compromisso prestado sobre o Livro de Registro da Confraria e, tempos mais tarde, sobre o Evangelho de São João (Carvalho, 1997). Outras fontes registam a criação deste grau em 1723 e efectiva implantação em 1738.

[11] No Rito de York e no Ritual de Emulação é aberta para os trabalhos, mas não é lida. No Rito de Schroeder permanece fechado. No Rito Adonhiramita é aberta e lida uma passagem.

[12] “Vocês não sabem que são templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?”

[13] “À coluna da direita deu o nome de Firme, e à da esquerda o nome de Forte” (Edição Pastoral). Na tradução de João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (1994), consta: “… e chamou o nome da que estava à direita de Jaquim, e o nome da que estava à esquerda Boaz”.

[14] De algumas espécies extrai-se a goma arábica. Para a maçonaria, cujo significado de um simples ramo faz a diferença, é símbolo da imortalidade, da vida eterna e da pureza.

Bibliografia

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral: São Paulo: Paulus, 1990; Tradução de João Ferreira de Almeida, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004;

BARROS, Zilmar de Paula. A Maçonaria e o Livro Sagrado. Rio de Janeiro: Ed. Mandarino, n/d;

BLOG O Ponto Dentro do Círculo

BLOG do Pedro Juk

BLOG da Revista Bibliot3ca,

BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçónica. São Paulo: Pensamento, 2015;

CARVALHO, Assis. A Descristianização da Maçonaria. Londrina: Ed. “A Trolha”, 1997;

CASTELLANI, José. A Maçonaria e a sua Herança Hebraica. Maringá: Ed. “A Trolha”, 1993;

CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História, Doutrina e Prática. Londrina: Ed. “A Trolha”, 1996;

CASTELLANI, José. A Maçonaria Moderna. São Paulo: A Gazeta Maçónica, 1987;

SALOMÃO, Lutfala. Igreja Católica e Maçonaria: as causas do conflito. Londrina, Ed. “A Trolha”, 1998;

VASCONCELLOS, Jairo Boy. A Fantástica História da Maçonaria. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1999

fevereiro 28, 2023

A ÉTICA E O VALOR MORAL NA MAÇONARIA - José Airton de Carvalho M.'.M.'.


A Ética, denominada de Filosofia Moral ou Ciência Moral, trata da análise e a reflexão sobre as condutas humanas, tanto individuais, quanto coletivas, e as normas morais como princípios dos comportamentos. 

Sua finalidade é fazer com que o desenvolvimento humano atinja a plenitude, respeitando as diferenças individuais.

Segundo Aristóteles, “a Ética estabelece o que se deve ou se pode fazer, e o que não se deve ou não se pode fazer”.

É evidente que quando se estuda o procedimento do homem no meio social, deve-se levar em conta que o homem é um ser moral, justamente por ser ele um se político. 

É um ser político porque a isso o obriga a sua natureza humana.

Mais do que nunca o homem tem que se adaptar à vida em comunidade, mormente nos tempos de globalização, quando o mundo virou uma “aldeota”, onde a aviação e os meios de comunicação acabaram com as distâncias.

O homem vive em sociedade e o Estado onde ele vive precisa dele, como ele precisa do Estado. 

Na sua larga visão, Aristóteles em “A Política” assinala:

“Está claro que o Estado é produto da natureza e superior ao indivíduo; quem não fosse capaz de viver na comunidade civil ou dela não tivesse necessidade para bastar-se a si mesmo, não se tornaria nenhuma parte do Estado…”.

Tenhamos em mira que a teoria aristotélica da moral é o fundamento dessa corrente do pensamento chamado Ética.

É interessante verificar que a palavra ética, em português, é derivada do vocábulo grego ethos que significa hábito, costume.

Os romanos traduziram o ethos grego por moralis. 

Cícero diz em uma das suas obras, referindo-se ao vocábulo grego, que “Aquilo que tem a ver com os costumes, que eles (os gregos) chamam ethos, nós, nesta parte da filosofia referente aos hábitos, costumamos chamar de moral”.

O dicionário esclarece que Moral é a parte da filosofia que trata dos costumes ou deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo mesmo.

Aristóteles não separa a Ética da Virtude, porque, para ele, toda a virtude se gera e perece dos mesmos atos, e mediante os mesmos atos; e exemplifica dizendo que “de tocar cítara surgem os bons e os maus citaredos”. Isto significa que, pelos atos, se conhece se o indivíduo é virtuoso ou não.

Mais adiante ele enfatiza: “É necessário, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porque consoante a sua diferença resulta a diferença dos hábitos.”

Se o homem considerar que a prática dos deveres para com os outros e para consigo mesmo é o único caminho que leva à perfeita harmonia social, estará, pois, procedendo corretamente e pode considerar-se feliz.

Analisemos o que Aristóteles estabelece de fundamental na sua “Ética”:

“Os atos morais são livres, motivo por que o indivíduo assume a sua responsabilidade. Em assim sendo, torna-se, para quem os pratica, causa de mérito ou demérito. 

A responsabilidade supõe, com certeza, o que denominamos de imputabilidade, pelo qual o ato é atribuído a um indivíduo como seu autor”.

“Existem duas espécies de responsabilidade: aquela pela qual o indivíduo responde por seus atos diante da própria consciência, ou seja, a responsabilidade moral, e a responsabilidade social que faz com que o indivíduo responda por seus atos, às vezes, perante a justiça, quando violar as leis civis”.

Aristóteles ensina que “A virtude é um hábito não só diante da reta razão, mas a ela conjunta. 

E a reta razão nada mais é que sabedoria”.

Resumindo, Virtude é o hábito de praticar o Bem, e vício, o hábito de praticar o mal.

Voltemos a Aristóteles e vejamos o que ele tem para nos ensinar:

“A Virtude, diz ele, se distingue segundo esta diferença: das virtudes, algumas chamo dianoéticas, a sapiência, a inteligência e a prudência; éticas, a liberalidade e a temperança. 

Quando, de fato, falamos dos costumes de alguém, não dizemos ser sapiente ou inteligente, mas sim, brando de ânimo ou temperante; e louvamos também, referindo-nos ao hábito: que nós chamamos virtudes aqueles hábitos que merecem ser louvados.”

Aristóteles procura estabelecer diferença entre aquilo que ele chama de virtudes dianoéticas e virtudes éticas:

“As primeiras são inatas no homem e podem crescer através do estudo, do ensinamento, razão por que têm necessidade de experiência e de tempo

Já as virtudes éticas são frutos do hábito, o que vale dizer que nenhuma delas se gera no homem por natureza, são as chamadas virtudes adquiridas. 

Elas não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em nós que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito”.

O estagirita conceitua a natureza humana como sendo equilibrada. 

Para ele, todo ideal tem base natural e todo natural tem desenvolvimento ideal. 

Reconhece, e o faz objetivamente, que a meta da vida não é o Bem por si mesmo, mas a felicidade. 

Assegura que a felicidade aparece como um bem perfeito, sendo a meta de todas as ações.

A Maçonaria é por excelência, uma Entidade de Moral, pois, seus princípios alcançam, em suas ações, os níveis mais elevados da Ética Universal. Sua obra, tanto material quanto espiritual advém de um passado remoto. 

Educando e disciplinando, prepara seus membros para que participem na busca da verdade, elevando-os em sua dignidade, fazendo com que ajam com justiça, desfrutando da liberdade, praticando a fraternidade e dedicando-se com amor à Humanidade.

Diante da evolução por que passa o mundo é necessário que visualizemos, à luz maçônica, os grandes desafios. 

O rigor moral e a força da autêntica solidariedade social se fazem necessários para que corrijamos os deslizes individuais, as más instituições políticas, econômicas e sociais, com o intuito de que o relacionamento humano seja mais fraterno.

A resposta não é simples, mas, podemos assegurar que sem ela enveredamos os mais tristes e funestos destinos. 

A Moral permite o cultivo de todas as virtudes, o que garante uma promissora convivência com nossos pares.

O imoral e o amoral, hoje ou amanhã, pagarão alto preço de uma conduta desmedida, destruindo, assim, suas vidas.

“A História, mestra da vida”, testemunha a decadência dos que se distanciam da moral.

Nenhuma nação, nenhum povo e nenhum homem poderão concretizar seus sonhos, se não estiverem embasados nos conceitos da Moral. 

Seria como construir castelos ao vento, ainda que a aparência pareça estável.

Portanto, a cada um, a concepção do dever, do bem, da justiça, das virtudes e, sobretudo, da verdade, pois aí está a formatação da moral, revelando-nos os valores que norteiam o homem e os povos, prestigiando suas instituições e reafirmando na fé, a verdadeira perfectibilidade humana.

A Maçonaria nos chama ao cultivo da Moral e à sua nobre prática, para que sejamos cada dia, mais virtuosos.


(Zé Airton é Mestre Instalado, membro da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, presidente da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida e membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda)

LIVRO - Newton Agrella




Sem querer entrar no conceito estético, formal e nem de seus primeiros indícios materiais é imprescindível que se faça uma breve referência histórica sobre o surgimento do Livro, cuja origem está intima e contemporaneamente ligada à escrita. 

A primeira versão do que se conhece por Livro, diz respeito aos Sumérios, que o criaram há cerca de 3200 anos A.C.  na Mesopotâmia, com seus escritos sobre "tabletes de argila".  

Posteriormente desenvolvido pelos gregos na cidade de Pergos, de onde surgiu a expressão pergaminho, que nada mais eram do que peles de vaca, ovelhas ou carneiros através do que se faziam as transcrições.

Inúmeros relatos históricos dão conta de que no início da Idade Média, os Judeus e os Muçulmanos foram os responsáveis por trazerem o "papel"  para a Europa, e que com o tempo deu origem à versão clássica do livro confeccionado  através deste elemento.

Mais recentemente, o Livro ganhou uma versão "high-tech", os chamados  e-books, diminutivo em Inglês para (Electronic  Books) ou seja; um arquivo configurado em forma de um livro, que funciona num computador.

O substantivo "livro" na língua portuguesa tem sua etimologia proveniente do latim "liber", termo relacionado à cortiça da árvore.

Porém, o conceito filosófico e semanticamente o que guarda melhor definição para o Livro, é o que traduz seu significado como uma obra de cunho literário, artístico, filosófico, lendário, científico ou de qualquer outra natureza fruto do conhecimento e da experiência humana..

Metaforicamente  o livro é um ser vivo, cuja família real se constitui de Autor e Leitor, e seu habitat pode ser uma editora, uma livraria, uma biblioteca, ou a casa de cada um de nós.

São sob os nossos olhos e debaixo de nossos braços que o sentimos, compartilhamos de seu conteúdo e discutimos ou debatemos livremente sobre seu teor, tal qual "um livro aberto".

O livro traduz fórmulas, experimentos, contos, prosas e poesias que se tornam referências e objeto de desejo, mas que concomitantemente são capazes de provocar dualismo,  alternâncias e pontos de divergências e convergências, tal qual ocorre no seio de qualquer família.

O livro é em si, um pedaço de vida que seu autor delega à história, e dele se esperam as mais profundas e diferentes reações.

Manusear suas páginas é um nobre exercício físico, mas sobretudo mental, em que a intelectualidade promove um conflito íntimo e inquietante de cada folha superada e diante de cada novo capítulo que se pronuncia.

O livro é antes de tudo, um guardião de pensamentos e reflexões, de lógica e de raciocínio que constrói uma ponte de interação entre o autor e o leitor.

O mérito de um livro não se julga pelo seu conteúdo, sua estética, suas ilustrações, sinais ou imagens, mas sim pelo simples fato de existir.



fevereiro 27, 2023

MAÇONARIA E OS ANTIGOS MISTÉRIOS EGÍPCIOS



Muitas vezes nós lemos ou ouvimos afirmativas que a Maçonaria atual teve origem nos antigos Mistérios Egípcios.

A Maçonaria Especulativa derivou das Lojas dos Maçons Operativos da Idade Média. Não será possível aqui rever toda a História, mas a opinião Maçônica refutável é que não há fundamento para a alegação que nós tivemos nossa origem nos antigos Mistérios Egípcios. É sabido que não muitos anos atrás esta versão de nossa origem era largamente mantida entre experimentados e zelosas Maçons.

Entretanto, na certeza pode ser declarado que, para autênticos historiadores, não há nenhuma evidencia direta conhecida que possa ser aceita, fazendo a conexão.

Vejam o que nos diz Mestre Euletério Nicolau da Conceição:

“Da mesma forma como os antigos construtores procuravam suas origens fazendo-as remontar primeiro ao construtor da Torre de Babel e depois a Salomão e seu templo, alguns dos novos maçons queriam vincular sua instituição às antigas filosofias religiosas dos Orientes próximo e distante. As interpretações de origem mística acrescentadas compõem uma verdadeira colcha de retalhos simbólico/filosófica que podemos chamar de sincretismo maçônico e que foi penetrando, sendo aceito e incorporado em diferentes graus nos países para onde a Maçonaria se expandiu. O que a maioria dos autores que abordam este tema parece não compreender é que, quando descrevem os ritos egípcios, estão falando de específicas manifestações filosófico/religiosas dos egípcios, não da Maçonaria. O que existe de comum entre a Ordem Maçônica e aquelas antigas manifestações religiosas é, em certa proporção, o método iniciático e alguns elementos simbólicos, mas a Maçonaria não constitui, de maneira alguma, uma versão atualizada daquelas organizações”.

Nicola Aslan, abordando o mesmo tema, acrescenta:

“Dentro da vasta bibliografia... constam as obras de escritores que foram buscar o berço da Maçonaria nas mais variadas e inesperadas sociedades da antiguidade, do Egito, da Grécia e de Roma. Nela encontramos obras vinculadas as hipóteses mais espetaculares, tornando a Ordem Maçônica a herdeira e sucessora dos pitagóricos, essênios, iniciados nos mistérios, albigenses, maniqueus e até mesmo templários. Contudo, são meras hipóteses que não conseguem resistir a um exame mais sério.”

Brethren, depois do exposto, que cada um tire suas conclusões.

Fonte: Pilulasmaconicas.

fevereiro 26, 2023

NÃO GOSTA DA SUA LOJA? PROCURE OUTRA - Robert E. Jackson






“Já tenho o suficiente. Terminou. Eu não posso acreditar que eles votaram desta forma. Eu trabalhei duramente para este projeto, mas a Loja não se parece importar. Eu sinto-me tão interessado por este assunto, mas a Loja simplesmente não o irá apoiar“.

Eu conversei com um irmão recentemente que declarou que em determinado momento tinha considerado demitir-se da Ordem. E eu que pensava que era o único! Não é preciso muito para se querer abandonar a participação em algo, especialmente quando se não tem muita capacidade de decisão.

Se estiver em desacordo com a sua Loja, fale com o seu Venerável Mestre. Certifique-se de que ele entende as suas preocupações. Ofereça soluções, porque acredite em mim, quando o Venerável Mestre ouve problemas, na maioria das vezes, não vai querer envolver-se nisso. Se não apresentar uma possível solução, as suas declarações podem ser recebidas como uma simples reclamação que é facilmente descartada. Uma solução proposta, no entanto, oferece um ponto de partida a partir do qual se pode construir algo.

Se sentir que o Venerável Mestre não o está a ouvir, certifique-se de que ele o perceba. Estas conversas são difíceis de se ter, mas a coragem é sempre necessária para se possa progredir. Se ainda assim, continuar a sentir que não tem mais nada para construir neste seu edifício moral e Maçónico, então é hora de seguir em frente. Mas não se demita, nem pare de pagar as suas quotas. Mas também não continue a apoiar uma Loja se não acredita no seu rumo.

Eu tenho a sorte de morar no estado de Massachusetts. Nós temos certamente os nossos problemas, mas na minha opinião (e as estatísticas assim mostram) a Maçonaria é forte dentro deste estado. Se eu ficar frustrado com a minha Loja, há uma dúzia (ou mais) a uma hora de carro, para eu ir visitar e ver se me sinto em casa.

Sim, é uma Loja e somos todos Irmãos, mas algumas vezes os irmãos não se dão bem. Encontre um grupo onde se sinta bem-vindo, apreciado e amado. Pode-se contra argumentar sobre sugerir que um Irmão encontre outra Loja, mas com toda a honestidade, se um Irmão não se sentir bem-vindo, apreciado ou amado na sua Loja, não ajuda a ninguém, fazê-lo continuar. Isto não significa que devam parar de construir. Existem outros recursos que podem certamente ser usados para ajudar.



Robert E. Jackson – Midnight Freemason Contributor - Tradução de António Jorge

HÁ 201 ANOS D. PEDRO 1 INICIAVA SUA POLÍTICA

 



A data de hoje marca a entrada de D. Pedro I na cena política brasileira. Exatos 201 anos atrás, em 26 de fevereiro de 1821, coube ao então jovem príncipe apaziguar os ânimos da multidão que, reunida no centro do Rio de Janeiro, ameaçava o trono do pai, D. João VI, ainda refugiado no Brasil.

D. Pedro chegara ao Brasil com nove anos de idade, em 1808, e desde então envolvera-se com amigos de reputação duvidosa. Mesmo depois de casado com a princesa Leopoldina, levara uma vida descompromissada no Rio de Janeiro. Tudo mudaria de forma repentina na manhã de 26 de fevereiro de 1821.

Aglomerados no Largo do Rocio, atual Praça Tiradentes, revolucionários liberais exigiam a presença do rei e o juramento de uma constituição ainda a ser votada em Portugal. Ao ouvir as notícias, D. João ficou muito assustado e mandou fechar todas as janelas no palácio São Cristóvão, como fazia em noites de trovoadas.

Caberia a D. Pedro, que passara a madrugada em conversas com os rebeldes, buscar o rei. D. João seguiu para o centro da cidade, como exigia a multidão, mas no caminho percebeu que, em lugar de ofensas, as pessoas aclamavam seu nome. O rei do Brasil era amado e querido pelo povo carioca.

Depois de uma viagem de meia hora, D. João apareceu trêmulo na sacada do Paço Real. Mal conseguiu balbuciar as palavras que lhe ditaram e que tiveram de ser repetidas por D. Pedro em alta voz: o rei de Portugal e do Brasil, aceitava, sim, jurar a Constituição que lhe tirava parte de seus poderes.

D. João partiria de volta para Lisboa exatos dois meses depois, em 26 de abril de 1821. Deixou em seu lugar, no Rio de Janeiro o jovem e ousado do D. Pedro - que apenas 17 meses mais tarde estaria nas margens do Ipiranga, em São Paulo, para o grito da independência do Brasil.

fevereiro 25, 2023

VESTÍGIOS DE AURORA - Roberto Ribeiro Reis





Desde pequeno, meu pai saía de casa,

Rumo à casa bonita da região central;

Ia com belo terno, na mala o avental, 

Pontualidade de quem não se atrasa.


Levava consigo “caderno pequeno”

Muito embora ele o soubesse de cór;

Meu tio o chamava de Bode-Mor,

Eu só sabia que o local era ameno.


Me levava aos jantares, muito embora

Lá embaixo eu não tivesse o acesso;

Sempre tive curiosidade, e confesso

Que chateado ficava do lado de fora.


Seria aquilo uma caixa de pandora?

Por que havia ali tantos mistérios?

Para ali estar quais eram os critérios?

Hoje, já não tenho a dúvida de outrora.


Antes, havia a curiosidade de menino,

Somada ao encantamento por seu pai;

É algo forte, duradouro e não se esvai

Nem agora, que sou Pedreiro peregrino.


Vejo que a paz do Templo ainda aflora,

Desde a época de pai, tempo bom!

Hoje sei disso porque sou Maçom, 

Sinto a força da Luz que me revigora!





MAÇONS QUE LEEM E MAÇONS QUE NÇAO LEEM - Albert G. Mackey


Eu acredito que existam muitos maçons que são desconhecedores dos princípios da maçonaria, assim como há homens de todas as classes que estão sujeitos a ignorância da sua própria profissão. 

Não existe um relojoeiro que não saiba sobre os elementos de relojoaria, nem um ferreiro que não esteja totalmente familiarizado com as propriedades do ferro em brasa. Subindo para os mais altos caminhos da ciência, eu ficaria muito surpreendido se encontrasse um advogado que fosse ignorante dos elementos de jurisprudência, ou um médico que nunca tenha lido um tratamento sobre uma patologia, ou um clérigo que não saiba absolutamente nada de teologia.

 Entretanto, nada é tão comum quanto encontrarmos maçons que estão na completa escuridão a respeito de tudo que se refere a Maçonaria. Eles são ignorantes da sua história, não sabem se uma produção é atual ou se ela vem de eras remotas na sua origem. 

Eles não têm compreensão do significado esotérico de seus símbolos ou suas cerimônias e dificilmente entendem seus modos de reconhecimento. No entanto é muito comum encontrar esses socialistas na posse de graus elevados e, por vezes, sendo homenageados por altos membros da Ordem, presente nas reuniões de lojas e capítulos, se intrometendo nos procedimentos, tomando parte ativa em todas as discussões e persistindo na manutenção de opiniões heterodoxas em oposição ao julgamento dos irmãos de muito maior conhecimento.

Por que razão acontecem tais coisas? Por que, só na maçonaria, deve haver tanta ignorância e tanta presunção?

Se eu pedir um sapateiro para me fazer um par de botas, ele me diz que só corrige e remenda, e que ele não aprendeu os ramos mais altos de seu ofício, e então honestamente nega o trabalho oferecido. Se eu pedir um relojoeiro para construir um motor para o meu cronometro, ele responde que não pode fazê-lo, que ele nunca aprendeu a fazer motores, que pertence a um ramo mais elevado do negócio, mas que, se eu trouxer uma mola pronta, ele pode inseri-la no meu relógio, porque ele sabe como fazer. Se eu for a um artista com uma ordem para me pintar um quadro histórico, ele irá me dizer que está além de sua capacidade, que ele nunca estudou ou praticou este tipo de detalhes, mas limitou-se à pintura de retratos. Se ele fosse desonesto e presunçoso, iria pegar o meu pedido e em vez de uma imagem, me daria uma pintura tosca.

É exclusivo do maçom a falta desta modéstia. Ele está muito apto a pensar que o compromisso não só faz dele um maçom, mas um maçom sábio, ao mesmo tempo. Ele também muitas vezes imagina que as cerimônias místicas que ocorrem na ordem são todo o necessário para torná-lo conhecedor de seus princípios. Há algumas seitas cristãs que acreditam que a água do batismo de uma só vez lava todos os pecados, do passado e do futuro. Portanto, há alguns maçons que pensam que o simples ato de iniciação é de uma só vez seguido por um fluxo de todo o conhecimento maçônico. Eles não precisam de mais estudo ou pesquisa. Tudo o que eles exigem conhecer já foi recebido por um tipo de processo intuitivo.

A grande sociedade dos maçons pode ser dividida em três classes. A primeira é composta por aqueles que não iniciaram com um desejo de conhecimento, mas de algum motivo acidental, nem sempre honrado. Tais homens foram levados a buscar a admissão ou porque era provável, em sua opinião, para facilitar suas operações de negócios, ou para avançar suas perspectivas políticas, ou de alguma outra maneira de beneficia-los pessoalmente. No início de uma guerra, centenas migram para as lojas na esperança de obter o “sinal místico”, que vai ajudá-lo na hora do perigo. Tendo seu objetivo alcançado ou não, estes homens se tornam indiferentes e, com o tempo, se enquadram na categoria de irregulares. Desses maçons não há esperança. Eles são árvores mortas com nenhuma promessa de frutas. Deixe que eles passem como totalmente inútil e incapaz de melhoria.

Há uma segunda classe que consiste de homens que são a moral maçônica e totalmente oposta da primeira classe. Estes fazem o seu pedido de admissão, acompanhado, como o ritual requer, “de um parecer favorável da Instituição e um desejo de conhecimento”. Assim que eles são iniciados, eles conseguem ver através das cerimônias do qual eles passaram, um significado filosófico digno do trabalho de pesquisa. Elas se dedicam a esta pesquisa. Eles obtêm livros maçônicos, leem jornais maçônicos e eles conversam com irmãos bem informados. Se familiarizam com a história da maçonaria. Eles investigam sua origem e seu formato atual. Eles exploram o sentido oculto dos seus símbolos e absorvem a interpretação. Tais maçons são sempre membros úteis e honrados da ordem e frequentemente tornam-se suas luzes brilhantes. Sua lâmpada queima para a iluminação dos outros e para eles, estão em dívida com a Instituição por qualquer que seja a posição elevada que tenha alcançado. Não é para eles que este artigo é escrito.

Mas entre estas duas classes que acabamos de descrever existe um intermediário, não tão ruim quanto o primeiro, mas muito abaixo do segundo, que infelizmente, está incluído no conjunto da Fraternidade.

Esta terceira classe consiste de maçons que se juntaram a maçonaria sem objetivos e com, talvez, a melhor das intenções. Mas eles não conseguiram realizar estas intenções.

Eles cometeram um erro grave. Eles supõem que a iniciação é todo o necessário para torná-los maçons e que um novo estudo é totalmente desnecessário. Sendo assim, eles nunca leram um livro maçônico. Traga ao seu conhecimento as publicações dos autores maçônicos mais famosos e seu comentário será que eles não têm tempo para ler. Mostre-lhes uma revista maçônica de reputação reconhecida e peça para ele se inscrever. A resposta é que eles não podem pagar, os tempos são difíceis e o dinheiro é escasso.

E, no entanto, o que não falta é ambição maçônica em muitos destes homens. Mas sua ambição não é na direção certa. Eles não têm sede de conhecimento, mas eles têm uma grande sede para cargos e graus. Eles não podem gastar dinheiro ou tempo para a compra ou leitura de livros maçônicos, mas eles têm o suficiente de ambos para gastar na aquisição de graus maçônicos.

É surpreendente como alguns maçons que não entendem as mais simples noções da arte, e que falharam completamente para compreender o alcance e o significado da Maçonaria simbólica, empunham as honras vazias dos altos graus. O Mestre Maçom que sabe muito pouco do grau de aprendiz maçom, deseja ser um Cavaleiro Templário. Ele não sabe nada e não espera saber qualquer coisa da história dos templários ou como e por que estes cruzados foram incorporados na irmandade maçônica. A altura da sua ambição é usar a cruz templária sobre o peito. Se ele entrou no Rito Escocês, a Loja de Perfeição não vai dar conteúdo a ele, embora este grau forneça material para meses de estudo. Ele sobe com prazer, mais alto na escala de classificação e por esforços perseverantes, ele pode alcançar o cume do rito e ser investido com o grau 33, mas pouco absorveu de qualquer conhecimento da organização do Rito ou das lições sublimes que ele ensina. Ele atingiu o auge de sua ambição e está autorizado a usar a águia de duas cabeças.

Tais maçons não são distinguidos pela quantidade de conhecimento que eles possuem, mas pelo número das joias que eles usam. Eles vão dar cinquenta dólares para uma decoração, mas não dão cinquenta centavos para um livro.

Estes homens são um grande prejuízo para a Maçonaria. Eles são chamados de zumbidos. Mas eles são mais do que isso. Eles são as vespas, o inimigo mortal de abelhas laboriosas. Eles dão um mau exemplo para os maçons mais jovens, eles desencorajam o crescimento da literatura maçônica, eles distanciam homens intelectuais, que estariam dispostos a cultivar a ciência maçônica, para outros campos, que deprimem as energias de nossos escritores, e eles rebaixam o caráter da Maçonaria especulativa como um ramo da filosofia mental e moral. Quando profanos veem homens que possuem altos graus e cargos na Ordem, que são quase tão ignorantes como a eles mesmos sobre os princípios da Maçonaria e que, se solicitado, diriam que eles encaram apenas como uma instituição social, esses profanos naturalmente concluiriam que há não qualquer coisa de grande valor em um sistema cujas posições mais altas são realizadas por homens que professam não ter conhecimento do seu desenvolvimento.

Não se deve supor que todos os maçons sejam maçons instruídos ou que a todo homem que é iniciado, seja obrigatório a se dedicar ao estudo da ciência e literatura maçônica. Tal expectativa seria insensata e irracional. Todos os homens não são igualmente competentes para captar e reter a mesma quantidade de conhecimento. Ordem é a primeira lei do paraíso e este reconhecimento é de que alguns são, e devem ser, maiores do que o restante, mais ricos e mais sábios.

Tudo o que eu afirmo é que, quando um candidato entra na Maçonaria, ele deve sentir que há algo melhor do que seus meros toques e sinais, e que ele deve esforçar-se com toda a sua capacidade de atingir algum conhecimento e este é o melhor objetivo. Ele não deve procurar avançar para graus mais elevados até que ele sabia alguma coisa do inferior, nem se agarrar a cargos, a menos que ele já tenha adquirido algum conhecimento maçônico, uma obrigação particular. Certa vez conheci um irmão cuja ganância para cargos o levou a ocupar os cargos da administração de sua loja, depois foi Grão-Mestre da jurisdição e que durante todo esse período nunca lei um livro maçônico nem tentou compreender o significado de um único símbolo. No ano que foi presidente da sua loja, ele sempre achou oportuno ter uma desculpa para a sua ausência da loja nas noites em que eram para conferir graus. No entanto, por suas influências pessoais e sociais, ele tinha conseguido elevar-se na hierarquia, acima daqueles que estavam acima dele no conhecimento maçônico. Eles estavam realmente muito acima dele, porque todos sabiam alguma coisa, e ele não sabia nada. Se tivesse permanecido no fundo, ninguém poderia se queixar. Mas, onde ele estava, e valendo-se da posição, ele não tinha o direito de ser ignorante. A sua presunção constituía uma ofensa.

Um exemplo mais marcante é o seguinte: Alguns anos atrás, durante a edição de um periódico maçônico, recebi uma carta de um assinante que era o Grande Conferencista de uma certa Grande Loja, mas desejava interromper sua assinatura. Ao atribuir a sua razão, ele disse “embora o trabalho contenha muita informação valiosa, não terei tempo para ler, pois dedicarei todo o presente ano para o ensino”. Não posso deixar de imaginar o que um professor como este homem, deve ensinar, e que alunos ele deve instruir.

Este artigo é maior do que eu pretendia que fosse. Mas eu sinto a importância do assunto. Existem nos Estados Unidos mais de quatrocentos mil maçons ativos. Quantos deles são leitores? Metade ou um décimo? Apenas um quarto dos homens que estão na ordem leem um pouco e não dependem de que todos saibam disso em visitas a suas lojas, eles tem as noções mais elevadas de seu caráter. Através deles, simpáticos estudiosos são encorajados a discutir os seus princípios e dar ao público os resultados dos seus pensamentos e boas revistas maçônicas desfrutam de uma existência próspera.

Agora, pela razão de existirem tão poucos maçons que leem livros maçônicos, dificilmente fazem mais do que pagar as editoras e a despesa de impressão, enquanto que os autores não recebem nada e as revistas maçônicas estão sendo ano após ano, levadas para a Academia literária, onde os cadáveres de periódicos defuntos são depositados, e pior de tudo, a Maçonaria resiste a golpes deprimentes.

Um Maçom que lê, porém pouco, não apenas as páginas da revista mensal de que é assinante, irá entreter vistas superiores da Instituição e desfrutar de novos prazeres na posse desses pontos de vista. Os maçons que não leem, nunca vão saber nada da beleza interior da Maçonaria especulativa, mas terão a capacidade de ingressar em algo como Odd Fellowship, ou a Ordem dos Cavaleiros de Pítias. Tal maçom deve ser um indiferente. Ele não tem paixão estabelecida.

Se essa indiferença, em vez de ser decretada, vir a ser mais amplamente difundida, o resultado é muito aparente. A Maçonaria deve passar a uma posição mais elevada, como tem duramente tentado, através dos esforços de seus estudiosos, a se manter, e as nossas lojas, ao invés de deixar de lado o pensamento especulativo e filosófico, deteriorando-se em clubes sociais ou sociedades de simples benefício. Com tantos rivais nesse campo, sua luta por uma vida próspera será muito dura.

O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência de seus discípulos.


Escrito por Albert G. Mackey - Publicado em 1875 e reimpresso no “The Master Mason” em Outubro de 1924 - Traduzido por Luciano R. Rodrigues