março 05, 2023

O RITO MODERNO OU FRANCÊS - Fernando da Silva Magalhães





NOVAS CONCEPÇÕES ILUMINISTAS PARA UMA EPISTEMOLOGIA MAÇÔNICA

Introdução

O papel do crítico é ao mesmo tempo reduzido e ampliado. Ampliado na medida em que todo mundo se pode tornar crítico. Este foi o sonho das Luzes e, talvez o do fim do século XVII: Por que todo leitor não poderia ser capaz de criticar as obras, fora das instituições oficiais, das academias, dos sábios? É a querela dos Antigos e dos Modernos, na França, no fim do século XVII, que faz nascer a ideia segundo a qual cada leitor dispõe de uma legitimidade própria, do direito a um julgamento pessoal (CHARTIER, 1999, p. 17).

O Rito Moderno ou Francês foi criado em Paris no ano de 1761, instituído em 24 de Dezembro de 1772 e proclamado em 9 de Março de 1773, pelo Grande Oriente de França, sendo instalado solenemente em 22 de Outubro de 1773. Na sua fundação, adoptava as primeiras Constituições de Anderson, de 1723, e compunha-se apenas dos graus simbólicos de aprendiz, companheiro e mestre.

À época, a Maçonaria, em transição para o modelo especulativo, passava por um período de instabilidade. A cada instante, criavam-se novos ritos e graus, sob influência das monarquias e os seus múltiplos misticismos, que satisfaziam a vaidade dos que procuravam esta ordem e desfiguravam a sua essência. Desta forma, o Grande Oriente de França na sua génese, busca harmonizar as múltiplas doutrinas num único corpo filosófico; razão pela qual criou, em 1773, uma comissão de maçons para estudar os sistemas existentes e elaborar um rito composto do menor número possível de graus, mas que, ainda assim, contivesse no seu bojo a essência original dos ensinamentos maçónicos. Esta comissão, após três anos de estudos, recomendou manter apenas os três graus simbólicos, o que causou oposição. O Rito de Perfeição ou de Heredom, por exemplo, já contava à época, com 25 graus. Diante desta reacção, em 1776, cria-se uma nova comissão com o mesmo fim, também malsucedida. O Grande Oriente instala então, em 1782, uma Câmara de Graus, cujas conclusões são acolhidas. Assim, em 1784, sob a coordenação de Roettiers de Montaleau [1], criam-se os Regulamentos e os Estatutos do Grande Capítulo Geral de França. Este Grande Capítulo redige um Ritual próprio agrupando os diversos graus em sete, com a administração dos Capítulos que trabalhariam nos graus acima do terceiro ficando confiada a esta Câmara. Surge assim, em 1786, o original Rito Francês ou Moderno com sete graus, sendo os três primeiro simbólicos, também chamados de “azuis”, e os quatro graus (ou Ordens) subsequentes, filosóficos (GAGLIANONE, 2014).

Nascido do desejo de se criar uma unidade racional na diversidade de correntes de pensamento vigentes à época, o Rito Moderno é filho e herdeiro direto do pensamento iluminista, caracteristicamente anti-monarquista, anticlerical e libertário; corolário de ideias que, três anos depois, em 1789, ocasionariam a Queda da Bastilha, evento emblemático que dá início à Revolução Francesa, à derrocada do sistema monárquico e inaugura a Era Contemporânea.

Embora criado sob moldes racionais, pautou inicialmente as suas regras na primitiva Constituição de Anderson, deísta e tolerante no aspecto religioso.

Após a Revolução Francesa, em 21 de Maio de 1799, o Grande Oriente de França e a Grande Loja Unida da Inglaterra redigem um tratado de união que vigora até 1815, quando a GLUI altera a Constituição de Anderson, tornando-a dogmática e impositiva, como se pode perceber nas citações dirigidas aos “ateus estúpidos” e aos “libertinos irreligiosos”, características que bem poderiam designar muitos dos maiores filósofos e pensadores da humanidade.

Assim, em 1877 vem a ruptura definitiva entre as duas potências, quando o GODF exclui dos seus estatutos a obrigatoriedade da crença em Deus e na imortalidade da alma como reconhecimento de um homem como Maçom.

Coerente com esta linha de pensamento, e, talvez por causa disso, considerado o condutor da Maçonaria do 3° Milénio; o Rito Moderno dá ao Maçom o direito de pensar com irrestrita liberdade, o dever de trabalhar para o bem-estar social e económico do cidadão, e a capacidade de defender os direitos naturais e sociais do homem, seja de qualquer cultura ou nacionalidade ao redor do planeta. Este humanismo explícito, muitas vezes atrita-se com o status quo social, do qual a religião é um dos seus pináculos básicos.

O Rito Moderno não considera a Maçonaria como uma ordem mística, embora os seus três primeiros graus em parte o sejam, baseados que estão no pensamento judaico-cristão. Ainda assim, o Maçom do Rito Moderno é naturalmente cientificista, laico e, portanto, pedagogicamente mais afeito à forma da aprendizagem do que ao seu conteúdo. Entende que a busca da verdade se realiza no Grau de Aprendiz pela intuição, no Grau de Companheiro através da análise e culmina no Grau de Mestre pelo desenvolvimento da capacidade de síntese, num processo lógico-racional baseado no pensamento científico contemporâneo.

Os padrões de conduta do Rito Moderno são racionais e cartesianos, enriquecidos na contemporaneidade, por um Humanismo essencialmente democrático e plural; características fundamentais para a coexistência num mundo globalizado.

Em 1822, o Grande Oriente do Brasil é fundado sob a égide do Rito Moderno, visto que, em 1802, Hipólito José da Costa trouxe de Londres e de Paris a Carta-Patente regularizadora do funcionamento do Grande Oriente Lusitano na então colónia brasileira. Sendo este, como todo Grande Oriente, praticante do Rito Francês, o GOB herda o Rito Moderno da metrópole lusa, conduzindo e irradiando a chama iluminista, emancipadora e libertária até os dias atuais.

Novas concepções iluministas: uma epistemologia maçónica

O poeta, dramaturgo e ensaísta William Butler Yeats (1865-1939), foi o ícone de uma geração de poetas simbolistas que marcou a literatura mundial no início do século XX. Emblemático representante único de uma renascença irlandesa, nos seus escritos recheados de fadas e fantasmas expressou uma ideologia que marcou a sua época [2]. Na sua obra, “Ensaios e Introdução” (1961), arrolou os seus principais pressupostos, que moldaram o seu trabalho:

Eu creio na prática e na filosofia do que concordamos chamar de Magia, no que eu posso chamar de invocação de espíritos. Nas visões da verdade, jacentes nas profundezas da mente quando os olhos estão fechados; e eu acredito em três doutrinas:

Que as fronteiras da mente se estão sempre deslocando e que muitas mentes podem derramar-se dentro de uma outra, e criar ou revelar uma única mente, uma única energia;

Que as fronteiras das nossas memórias se deslocam e que as nossas memórias são parte de uma grande memória, a memória da própria natureza;

Que esta grande mente e esta grande memória podem ser evocadas por símbolos [3].

Muito semelhante ao pressuposto preconizado pela pedagogia maçónica do rito moderno, baseada na formação de um homem aproximado aos ideais iluministas de um culto à Natureza, à investigação e à Razão, e no estudo dos símbolos; Yeats é um dos muitos exemplos de como gerações de escritores, filósofos e pensadores reescreveram no século XX a aventura iluminista ao longo do tempo, oficialmente inaugurada nos séculos XVII e XVIII na Europa anglo-saxónica e francesa, principalmente.

O que pretendemos desenvolver neste estudo é a hipótese de que os ideais iluministas preconizados pelos maçons franceses de então transmutaram-se em novos pressupostos, ainda em intenso uso na contemporaneidade por novos pensadores como Gilles Deleuze (1925-1995), entre outros, na ampliação de um rizoma [4] histórico-filosófico de direções inesperadas, mas possíveis de serem mapeadas e interpretadas nas suas similitudes.

Para Deleuze, a filosofia é criação de conceitos. Menos do que platonicamente fazer perguntas, é propor alternativas, levantar questões, posicionar, no cenário filosófico, novas categorias.

Correntes minoritárias de pensamento oferecem-nos oportunidades de pensar em transformações inesperadas pelo senso comum. Ser um animal, por exemplo, segundo o pensamento deleuziano, significa ter e habitar uma natureza e um mundo unicamente seu, diferente da humanização simplificante da categoria humana. Na diversidade rizomática do universo, animais simples como o carrapato representam numa existência mínima, o que é uma vida de qualidade concentrada em poucos e profundos instintos básicos. Ter um mundo e viver num mundo construído todo em e por estímulos interessantes por serem muito reduzidos, básicos e simples na sua natureza. No animal, dois ou três atos geram um mundo todo e completo em si. O animal ilustrado deleuziano faz Arte e cria território [5].

Tais procedimentos caracterizam, por exemplo, um escritor como Yeats. Para além de posturas convencionais, as suas posturas animais de territorialização, a espreita enquanto arte, representa uma característica do Maçom-pensador do rito moderno, inspirado no mundo animalizado. Nas suas linhas de fuga do institucional, ao buscar a liberdade absoluta de pensamento, Deleuze, assim como Yeats, procura o que pode romper a dominação do óbvio, encontrando no inédito um outro mundo; um novo mundo que, apesar de avesso às teologias, vai além do racional.

Animais emitem símbolos e não param de fazer isso. Assim como os escritores que não escrevem exclusivamente para certos leitores. Eles escrevem no lugar de. Emitem códigos para uma posteridade de analfabetos, especialistas, técnicos, idiotas, génios e outros animais muito diferentes dele, expandindo o rizoma sem fim das representações.

É o caminho para a utopia da escrita de uma História Universal. Tudo é, basicamente, assim como a ânsia de sangue do carrapato, baseado em diferença e repetição, e como se pode dosar isso. “Repetir, repetir, até ficar diferente”, dizia o poeta Manoel de Barros [6]. A repetição, quando livre e complexa, gera a diferença. Uma nova maneira de se interpretar o livre -pensar iluminista. A leitura do ritual, pelo menos no que toca ao Rito Moderno, não pode se dar como mera aula de teoria; um cubo de pensamento jogado no espaço-tempo. Para Deleuze, assemelhando-se aos maçons iluministas, é preciso partear, gerar a aula, emprenhar-se dela; impregnar-se, ensaiá-la e exercitá-la para todo o tipo de público e de discurso. Universalizá-la. Pensamento e ação integrados. Ambição ilustrada. Deleuze, assim como os novos iluministas do século XXI, pensa em línguas de múltiplas tribos, e não apenas a filosófica ou a histórica.

Imanência-problema-conceito. Eis a fórmula do novo plano de pensamento iluminista.

Não existe conteúdo novo sem expressões novas. Filosofia é criação de conceitos. Para Deleuze, o conceito não é uma definição; é sim, imanente, inseparável do objecto. Criar imanentemente requer um plano conceitual arbóreo [7]. Conceito é criar e organizar um novo pensamento, associando acontecimentos para pensar novos problemas.

A epistemologia maçónica segundo Deleuze é rizoma ou árvore? A resposta seria, para além da análise da ordem maçónica, na sua conformação na actualidade, buscar entender a epistemologia que lhe dá fundamento. Os iluministas franceses, do rito moderno principalmente, assim como Deleuze, entendiam que na Natureza estariam os signos mais representativos do plano de pensar a categoria humana. Enfim, a transmutação do antigo para um novo Humanismo.

A questão que aqui se levanta agora é: Este novo humanismo é arbóreo ou rizomático?

Para Deleuze, é expansão e conectividade puras. A árvore, por outro lado, tem forma e sentido. Começa num ponto e prossegue linearmente até um ponto futuro. A Maçonaria enquanto práxis de uma sociedade de conhecimento expande-se pelo mundo em agenciamentos coletivos que criam inusitadas e imprevisíveis associações de relações humanas. Ao mesmo tempo em que a Ordem se expande no Brasil, ela retrai-se na Holanda, na Guiné ou no Haiti. Neste aspecto, é puramente rizomática. Signo e tese aliam-se num agenciamento único, que tem a capacidade de penetrar no pensamento universal, em todas as culturas do planeta; sem idealismos cerceantes arbóreos do tipo de conceito dentro-fora, por exemplo. A Maçonaria é uma e múltipla ao mesmo tempo; integrada à Humanidade e à parte, ao mesmo tempo, conquistando e desterritorializando espaços.

Curiosamente, penso que o cerne da epistemologia maçónica é arbóreo, ao estipular e tentar manter juramentos a Landmarks antigos e imutáveis ao longo dos séculos. Das multiplicidades humanas exalou o múltiplo regimento que caracteriza os estatutos que conformam os códigos de conduta da árvore maçónica.

As falsas multiplicidades arbóreas no entanto, são expostas pela real multiplicidade rizomática. A ocupação dos territórios dá-se pela expansão de linhas de fuga múltiplas. Desterritorialização e territorialização de novos espaços, configurados em pessoas de todas as raças, credos, lugares e culturas, a Maçonaria configura-se na sua expansão como máquina de guerra deleuziana, pois desterritorializa o Estado na sua macro política e se opõe às suas intenções imediatas, humanizando o que era meramente estatal.

O novo iluminismo do rito moderno, portanto, anuncia-se e caracteriza-se pela sua tolerância e uma forte crença no combate às ideias arbóreas fanatizantes, que vão contra a construção de uma sociedade global baseada na ilustração e avessa a tiranos, sejam do clero, sejam da política menor; não como foi no passado, mas a partir da ação sobre mecanismos sociais e mentais mais profundos e muito mais elaborados.

Como no pretérito, o novo iluminismo revive a crença no progresso, mas, a partir do pensamento deleuziano, perde a ilusão de que este se dê de forma linear e automática, passando a entendê-lo como contingente, e, a partir das ações do indivíduo consciente da sua significação; parte da filosofia maçónica que prega que o bem-estar de todos é o único modo de progresso humano e social relevante. Tal progresso neste caso, não é mera construção da técnica e da racionalidade puras, mas construção intencional e arbórea pela qual o homem decide o que se deve produzir na posteridade.

O iluminismo mantém a sua fé na ciência, mas percebe que ela deve ser socialmente controlada por meio de fins e valores emanados deste mesmo território humano esclarecido.

A epistemologia maçónica do rito moderno, ao resgatar um ideal de cosmopolitismo, carrega como bandeira mais cara a doutrina dos direitos humanos, pleiteando para a devida territorialização e incorporação social destes pressupostos, profundas reformas sociais e políticas ao longo dos tempos para seu efetivo fluxo.

O novo iluminismo conforme entendido pelo rito moderno continua a combater os ilegítimos poderes, que se caracterizam, por não se adequar ao projeto acima exposto; mas não se ilude em se perder num infrutífero combate a um leviatã tirânico e despótico, pois percebe que este combate se dá molecularmente, na difusa rede estrutural de indivíduos que compõem a sociedade.

O exercício de uma razão plena, mas permeada por uma consciência dos efeitos rizomáticos deste exercício é a tarefa deste novo iluminismo.

Uma nova razão crítica intenta fazer a própria crítica dos limites dentro-fora de uma racionalidade consciente da sua coexistência com esferas de irracionalidade. Deve ainda, estabelecer princípios éticos; território onde entra a ordem epistemológica maçónica em âmbito geral; que busca, ao manter a sua tradição de centro de união, vincular este constructo à contemporaneidade, em solo social prenhe de novos significados produzidos pela multiplicidade dos sujeitos sociais; elaboradores e consumidores de argumentos críticos baseados nas suas múltiplas motivações subjacentes que, arboreamente, devem ser adaptadas aos princípios maiores e generalizantes de uma sociedade que se pensa para todos; baseada na busca do esclarecimento, da justiça e da autonomia.

Para Deleuze, a filosofia não deve ser abstrata, exclusiva dos entendidos ou iniciados. Assim como os iniciados pela Maçonaria, ele entende que compete aos estudiosos de qualquer área pintar retratos que abordem com respeito os conceitos filosóficos após anos de preparação.

Considerações finais

Entender o iluminismo do rito moderno na atual Maçonaria, como é, mais do que pregado, praticado, requer longa preparação, que este estudo incipiente apenas arranha ainda. Como em tudo o que se faz, é preciso trabalhar-lapidar constantemente e com afinco a ideia, seja de um novo iluminismo, seja a de uma epistemologia maçónica ancorada na contemporaneidade. Entre estes pontos de fuga, ensaiamos encontrar algumas ligações com o pensamento filosófico deleuziano: Um filósofo não é alguém que contempla e reflete. Um filósofo é alguém que cria. Cria conceitos, novas ideias que desterritorializam conceitos anteriores. O conceito novo deve ser tratado como dúvida humilde por longo tempo, como um cachorro em quem não se confia inicialmente, colocado à prova frente a outros conceitos para testar o seu valor.

Quando se afirma: Há um novo iluminismo vigorando, deve-se questionar em relação aos que não o crêem, pois só assim o conceito hipotético se poderá transmutar em ideia estabelecida. É óptimo que o conceito de um novo iluminismo e de uma precisa epistemologia maçónica nele baseada levante questões, pois só assim, trazendo e amalgamando questões de outros, o conceito se fortalecerá pelos embates.

Problemas levantados fortalecem os novos conceitos. Ulisses não seria o que foi sem os pretendentes à sua Penélope (H de História da Filosofia. In: O Abecedário de Gilles Deleuze. Pp. 43-51 )

Por fim, existe um novo iluminismo? Há uma epistemologia maçónica a ser traduzida a partir do cabedal filosófico do rito moderno? Os problemas estão colocados. Espera-se que evoluam. Não há certezas, apenas questões; forças históricas e sociais encarregar-se-ão de tratá-los no devir. Os problemas estão constituídos. Busquemos-lhes os sentidos. Busquemos a transcendência. Libertemos os nossos pensamentos.

Notas

[1] Alexander-Louis Roettiers de Montaleau (1748-1807); ourives, medalhista e gravador de moedas do rei, auditor da Câmara contábil e director da casa da Moeda, em Paris. Presidiu a Câmara dos Graus do Grande Oriente de França entre 1799 e 1802. Herdeiro de considerável fortuna e um título de marquês concedido a seu pai, ainda assim, aderiu às novas ideias e demonstrou simpatia pela Revolução. Mesmo assim, foi preso durante o Terror, por esconder os arquivos da obediência. Por esta atitude, é personagem-chave da história da Maçonaria francesa.

[2] Yeats, mais do que meramente religioso, era um homem supersticioso, com um interesse acrítico por tudo que fosse mais ou menos esotérico, das grandes religiões orientais a histórias de fantasmas, passando pela teosofia de Blavatsky, alquimia e magia (foi membro, entre outras, da Sociedade Hermética de Dublin, da Ordem da Aurora Dourada e da Segunda Ordem da Rosa de Ouro; onde se praticavam o tarot, a “clarividência” e a projecção astral. Antecipa, de certa forma, o irracionalismo militante (incluindo o modismo dos vários orientalismos) que se tornaria uma tendência crescente na cultura ocidental a partir dos anos 60. O que o distingue, é o que faz com a matéria cultural de que se alimenta: alguns dos poemas mais sublimes da língua inglesa.

[3] YEATS, W.B. The autobiography of William Butler Yeats. N. York, Macmillam, 1957. apud. EBON, Martin. Eles conheceram o desconhecido. São Paulo: Pensamento, 1977.

[4] Rizoma é um modelo descritivo ou epistemológico na teoria filosófica de Gilles Deleuze e Félix Guattari. A noção de rizoma foi adoptada da estrutura de algumas plantas cujos brotos podem ramificar-se em qualquer ponto, assim como engrossar e transformar-se num bolbo ou tubérculo; o rizoma da botânica, que tanto pode funcionar como raiz, talo ou ramo, independente da sua localização na figura da planta, servindo para exemplificar um sistema epistemológico onde não há raízes; ou seja, proposições ou afirmações mais fundamentais do que outras; que se ramifiquem segundo dicotomias estritas. Deleuze e Guattari sustentam o que, na tradição anglo-saxã da filosofia da ciência, costumou-se chamar de anti fundacionalismo: a estrutura do conhecimento não deriva, por meios lógicos, de um conjunto de princípios primeiros, mas sim elabora-se simultaneamente, a partir de todos os pontos sob a influência de diferentes observações e conceitualizações. Isto não implica que uma estrutura rizomática seja necessariamente flexível ou instável, porém exige que qualquer modelo de ordem possa ser modificado.

[5] Ao utilizar o conceito deleuziano de Território e Desterritorialização, pretendemos concentrar-nos no sentido relacionado às questões físicas e antropológicas da humanidade. Não a um território geográfico, mas sim ao que tange ao próprio homem enquanto espécie, deixando o seu território natural, saindo da sua “floresta” e entrando na sua “cidade”. “O homem é um animal despojando-se da espécie” (DELEUZE, 1955). Se observarmos a natureza com um pouco de atenção, perceberemos que embora tenhamo-nos distanciado daquele território original, ainda estamos envolvidos com a nossa “essência” desta natureza. Este processo de desterritorialização e reterritorialização, quando mais lento, era provavelmente menos sofrido ou traumático, pois a lentidão milenar é algo totalmente diferente deste novo processo pelo qual passa a humanidade; um processo em aceleração progressiva, não mais milenar. Há algum tempo passou a ser secular e agora estamos “transformando-nos” em décadas e quem sabe apenas a cada novo ano.

[6] BARROS, Manoel de. O livro das Ignorãças. 2 ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993. pág. 13. Toda repetição é uma celebração das formas finitas e transitórias. Para cada aparição, a surpresa de um desvelamento, uma notação diferente que se dissolve no instante, de modo que não podemos afirmar que o objeto é sempre o mesmo, idêntico. A incompletude é o que determina o retorno para dar continuidade e recomeçar mais uma vez. Por ser inacabada, a acção de pensar, por exemplo, pode recomeçar de qualquer ponto, numa agitação aleatória sem tempo para terminar. Desta forma, expõe-se a precariedade dos pontos de referência: o início, o meio e o fim. O duplo rasura a ilusória coerência da unidade, esse pilar que sustenta nossas arrogâncias religiosas e filosóficas.

[7] Conceitualizado por Deleuze, o modelo de pensamento arbóreo é o oposto do rizoma. Num modelo arbóreo de organização do conhecimento, como as classificações das ciências, o que é afirmado dos elementos de maior nível é necessariamente verdadeiro também para os elementos subordinados, mas o contrário não é válido; já num modelo rizomático, qualquer afirmação que incida sobre algum elemento poderá também incidir sobre outros elementos da estrutura, sem importar a sua posição recíproca. O rizoma carece, portanto, de centro, característica que o torna particularmente interessante na filosofia da ciência, e também para a semiótica e as teorias da comunicação contemporâneas.

Bibliografia

ANTUNES, Álcio de Alencar. O Rito Moderno no Contexto da Maçonaria Universal. In: Supremo Conselho do Rito Moderno. O Rito Francês ou Moderno: A Maçonaria do Terceiro Milênio. Londrina, PR, Ed. Maçónica A Trolha, 1994

BAPTISTA, Antonio Samuel. Rito Moderno: Uma Interpretação. In: Supremo Conselho do Rito Moderno. O Rito Francês ou Moderno: A Maçonaria do Terceiro Milênio. Londrina, PR, Ed. Maçónica A Trolha, 1994.

BARROS, Manoel de. O livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2ª – Ed., 1993.

CASTELLANI, José. Manual do Rito Moderno. Editora A Gazeta Maçónica, 1991.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo, Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 1999.

DELEUZE, Gilles. Instintos e instituições. In: ESCOBAR, Carlos H (org.). Dossier Deleuze. Rio de Janeiro, Hólon, 1991.

EBON, Martin. Eles conheceram o desconhecido. SP, Pensamento, 1977.

GAGLIANONE, Paulo César. Graus filosóficos do rito moderno ou francês; considerações históricas. São Paulo, Gazeta Maçónica, 2ª – Ed., 2014.

WIKIPÉDIA. Rito Moderno. in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rito_Moderno

YEATS, W.B. The autobiography of William Butler Yeats. York, Macmillam, 1957.

Essays and introduction. New York, Macmillan, http://www.questia.com/library/643795/essays-and-introductions#/

NIVELANDO POR CIMA - Roberto Ribeiro Reis



Nivelando por cima,

Um dia eu me aprumo;

Preciso achar um rumo,

Para melhorar a estima.


O esquadro legitima

A retidão como insumo;

O compasso é suprassumo,

E a matéria subestima. 


A egrégora muda o clima,

E o escriba faz o resumo;

A oratória eu consumo,

Para que a paz se exprima.


Os Vvig.⛬ fazem a Obra Prima,

O Venerável é a Luz que presumo;

Fecha-se a Loja, eu me arrumo, 

E meu espírito se anima. 






março 04, 2023

A TOLERÂNCIA - Charles Evaldo Boller



Dentro daquilo que a Maçonaria preconiza como ideal, a mente do Maçom equilibrado não tolera tudo. É incentivado a ser inimigo figadal dos que tolhem a liberdade das massas e tentam agrilhoar a ele ou seus irmãos. Recebe treino para repudiar emoções desenfreadas, que induzem à tirania e conduzem ao despotismo. É intransigente com a intolerância desenfreada que conduz a perseguição ou a ignorância das massas conduzidas por homens inescrupulosos. A sua tolerância deve ser tal que não fique posando qual ingénuo, que confunde tolerância com licenciosidade.


A Maçonaria educa aqueles que são iniciados nos seus segredos porque é da sua crença que um povo desenvolvido não pode ser escravizado e um povo ignorante não pode ser libertado. O verdadeiro Maçom é um estudioso prático, um intelectual que age. Sem estudo não existe progresso. Sem discussão e exercício do pensar não existe evolução.


A história da Maçonaria tem cerca de dois séculos. Afirmar que seja mais velha é apenas vaidade de uns poucos que acreditam que quanto mais no passado estiver a origem de uma organização maior é a sua credibilidade e grandeza. E neste espaço de tempo ela já angariou miríades de inimigos implacáveis e vingativos, sempre movidos pela intolerância, ignorância e escravidão mental e espiritual. No Brasil, um grande exemplo de intolerância com a escravidão física, mental e espiritual proveio do homem Maçom Deodoro da Fonseca. São da sua iniciativa: institucionalizar o casamento civil, tornar sem efeito jurídico o matrimónio religioso; instituir o registo civil; proibir o ensino de religião em escolas públicas; tirar os cemitérios do domínio das igrejas, secularizando-os; promulgar o Código Penal que extinguiu a pena de morte em tempo de paz no Brasil. Mesmo que tenha dirigido o país por curto tempo sob ditadura, ele é um exemplo do homem Maçom que actuou na defesa das liberdades constitucionais e direitos inerentes ao povo. Usava da tolerância e da intolerância com equilíbrio.


É treinando os seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania, fanatismo, brutalidade e ignorância. O facto de desenvolver a tolerância, não significa que seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal orientados, mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento há bastante tempo. No exercício da tolerância e no seu treino a Maçonaria ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o Maçom filosofa, faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o outro Maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de morrer para defender o pensamento de seu irmão.


Ao Maçom é ensinado que o filosofar é pensar sem provas, isto exige tolerância, mas perseverar num erro é para ele uma falta que deve ser combatida, é a intolerância disparada pela ultrapassagem aos limites estabelecidos. É o limite do que é tolerável. Parte do princípio que ao intolerante imoral falta mesmo é inteligência, é desprovido de liberdade e não quer por isto dar liberdade aos outros. Para o Maçom a liberdade de espírito vem da experiência e da razão exercida com tolerância limitada, pois só assim ela é efectiva.


E como a necessidade de tolerância surge apenas em questões de opinião, então nas suas discussões ou estudos, normalmente é de praxe ao Maçom sábio fazer severos exercícios de dicotomia, apresentar as mais diversas linhas de pensamento para qualquer verdade que defenda; deixa-se para o irmão ouvinte tirar as suas próprias conclusões daquilo que postula no seu constante filosofar.


O Maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exactamente porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo alienante de uma pessoa ou instituição.


Com humildade aceita que não há tolerância quando nada se tem a perder, haja vista que tolerar é se responsabilizar, porque uma tolerância que responsabiliza o outro já não é mais tolerância. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que outros são vítimas, o horror que o poupa, já não é mais tolerância; é indiferença, egoísmo ou algo pior. Antes ódio, antes fúria, antes violência do que a passividade diante do horror, do que a aceitação vergonhosa do pior! Pela imposição de limites que o homem Maçom se impõe em resultado do seu treino, uma tolerância universal seria tolerância do atroz. E quando levada ao extremo, a tolerância acabaria por se negar a si mesma.


A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua própria salvaguarda e da preservação das suas condições e possibilidades. Se o Maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância. O treino maçónico revela que uma sociedade em que uma tolerância universal fosse possível, já não seria humana. As conclusões da ordem maçónica levam seus adeptos a verificar que a tolerância é essencialmente limitada, pois uma tolerância infinita seria a fim da própria tolerância. Não se deve tolerar tudo, pois destina a tolerância à sua perda. Também não se deve renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Aquele que só é justo com os justos, generoso com os generosos, misericordioso com os misericordiosos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo facto do injusto não poder se queixar.


Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade. Moralmente condenável e politicamente condenada, uma tolerância universal não seria nem virtuosa nem viável. A tolerância como força prática, como virtude, tem os seus fundamentos alicerçados no facto de que a fraqueza humana resulta da sua incapacidade de alcançar o absoluto.


A prática das oficinas maçónicas, naquelas aonde permanentemente é exercitada a capacidade de pensar, discutir, debater, ouvir e calar revela que a evidência é uma qualidade relativa. Mesmo que algo pareça exacto, verdade, correcto, pode no decurso de um debate mostrar que não é absoluto, daí nunca se admitir que uma verdade é absoluta e final. As discussões, longe de afastar um irmão do outro, aproxima-os quando praticam dentro dos limites impostos pela tolerância que todos os seres humanos, indistintamente, são constituídos de fraquezas e de erros. Com isto em vista, o verdadeiro homem Maçom, aquele que está desperto e activo, perdoa as tolices que o outro comete e aguarda que aquele irmão de pensamento equivocado acorde da sua inconsciência, dando cumprimento para com esta primeira lei da sua natureza: a falibilidade.


A grande salvaguarda do homem Maçom quando se contrapõe aos tiranos, é o conhecimento de que aquele, mesmo que possua nas suas mãos o poder absoluto, não tem condições de impô-lo a ninguém, porque não poderia forçar um indivíduo a pensar diferente do que pensa, nem a crer verdadeiro o que lhe parece falso. Esta a razão da Maçonaria ter sido hostilizada e proibida desde quando surgiu na França e Holanda, países onde foi proscrita logo no início da sua expansão. É no pensamento que o Maçom deve ser livre de forma absoluta, pois não há liberdade nem sociedade próspera sem inteligência.


A tolerância é tema fundamental da Maçonaria, inclusive a sua existência é devida a ela, pois nasceu em decorrência da intolerância entre facções políticas e religiosas. É uma tolerância calcada na definição de limites claros. Ultrapassou o limite definido pelas leis em vigor na sua linha de tempo, não tem comiseração, o castigo deve ser aplicado com todo o rigor ou a sociedade fenece.


Cada Maçom é estimulado de forma diferente pelo ensino da Maçonaria. O lastro que carrega mostra que o principal aspecto da ordem maçónica é o desenvolvimento de princípios morais calcados na espiritualidade. A simbologia, a ritualística e toda a filosofia envolvida, sempre no seu centro destaca a espiritualidade. O meio para desenvolver em espírito, apesar de ressaltado, não fica tão evidente. Apenas os mais sensíveis e aplicados a desenvolvem. Existem homens Maçons já bem antigos na ordem maçónica que sequer sabem de facto o que alguns símbolos representam. Um exemplo é o símbolo composto formado pelo esquadro, compasso e o livro da lei, onde o olho perspicaz visualiza um homem circunscrito por uma estrela de cinco pontas, significando a criatura religada ao Grande Arquitecto do Universo por laços de carne, pela espiritualidade encarnada. E disto se deduz a união com o Grande Arquitecto do Universo, a sua religação com a divindade.


A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia, onde esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquitecto do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre si.


Bibliografia

BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora Ltda., 368 páginas, São Paulo, 2004;

BENNETT, William John, O Livro das Virtudes, Antologia, título original: A Tresaury of Great Moral Stories, ISBN 85-209-0672-9, primeira edição, Editora Nova Fronteira S/A, 534 páginas, Rio de Janeiro, 1993;

CAPRA, Fritjof, A Teia da Vida, Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos, título original: The Web of Life, a New Scientific Understandding Ofliving Systems, tradução: Newton Roberval Eichemberg, ISBN 85-316-0556-3, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 256 páginas, São Paulo, 1996;

COMTE-SPONVILLE, André, O Espírito do Ateísmo, título original: L’esprit de L’théisme, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 978-85-60156-66-5, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 192 páginas, São Paulo, 2007;

COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 392 páginas, São Paulo, 1995;

GREGÓRIO, Fernando César, Chaves da Espiritualidade Maçónica, ISBN 978-85-7252-236-6, primeira edição, Editora Maçónica a Trolha Ltda., 184 páginas, Londrina, 2007;

ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, 140 páginas, São Paulo, 2007;

SOUTO, Élcio, O Iniciado, Drama Cósmico Maçónico, ISBN 85-7374-331-X, primeira edição, Madras Editora Ltda., 106 páginas, São Paulo, 2001.

SIMBOLISMO MAÇÔNICO NO VODU HAITIANO - Tony Kail



As práticas da religião tradicional africana se manifestaram como diversas culturas espirituais em todo o Caribe. À medida que os africanos eram tomados como escravos de suas terras natais, as tradições indígenas de cura e espirituais da religião africana entraram no solo da ilha de Hispaniola. As práticas espirituais sobreviventes da África podem ser vistas no Haiti e na República Dominicana de diferentes formas. No Haiti, a religião formou o que conhecemos como ‘Vodu’, um termo do povo Fon da região de Daomé, na África Ocidental, que significa ‘espírito’. A religião de Vodu concentra-se na adoração de espíritos conhecidos como ‘Loa’, que governam a natureza e a humanidade. O culto envolve vários rituais mágico-religiosos, a criação de santuários sagrados e a interação com deidades.

Ao olharmos para a religião do vodu de base haitiana, podemos ver uma estética maçônica familiar. O esquadro e o compasso, o uso da letra ‘G’ e várias ferramentas maçônicas podem ser vistos entre os diferentes rituais e santuários do Vodu. Ao olharmos mais profundamente para a cultura, também podemos ver várias práticas e símbolos encontrados na Maçonaria

História

O domínio francês da ilha de Hispaniola estabeleceu a colônia de São Domingos de 1659 a 1804 na área do que hoje conhecemos como Haiti. A Maçonaria foi oficialmente estabelecida na colônia quando duas lojas lá foram estabelecidas em 1749. Em 1778, uma Grande Loja Provincial também foi estabelecida sob a direção do Grande Oriente da França.

Os escravos eram inicialmente proibidos nas lojas porque eles eram obrigados a serem ‘nascidos livres’; no entanto, algumas pessoas livres de cor foram admitidas em lojas onde muitos alcançaram sabedoria maçônica. Alguns viajaram para a França e se tornaram membros de lojas. Escravos libertados de Saint Domingue eram registrados como membros da loja em Bordéus, França. Ao voltarem à ilha, alguns membros estabeleceriam lojas com base em sua familiaridade e associação com a maçonaria.

A historiadora Sally McKee observou que “a Maçonaria de Rito Escocês ligava a colônia de São Domingos e Bordéus. As lojas maçônicas estabelecidas no Caribe francês faziam parte de uma rede transatlântica, cuja loja mãe ficava em Bordéus. ” Stephen Morin, considerado por alguns como o fundador do Rito Escocês, estabeleceu várias Lojas Escocesas em Saint Domingue, assim como o fez Martinés de Pasqually, o fundador da ordem esotérica conhecida como ‘Eleitos de Cohën’. A ordem de Pasqually combinava operações angélicas, magia cerimonial e Maçonaria de Rito Escocês como um caminho para devolver o homem ao seu estado antes da queda Adâmica. Morin era membro da loja de Bordéus e em Saint Domingue iniciou uma loja ‘Escocesa’ ou ‘Scots Masters’ na cidade de Le Cap Francais.

O impacto da Maçonaria sobre a cultura Vodu pôde ser visto na vida de uma das figuras históricas mais reconhecidas do Vodu no Haiti. François-Dominique Toussaint Louverture, o líder da Revolução Haitiana, era um ex-escravo e, segundo alguns historiadores, era maçom. No entanto, muitos baseiam sua afiliação à Maçonaria com base no uso de uma possível assinatura maçônica que ele usava ao assinar documentos. Um dos outros líderes da revolução haitiana, Jean-Jacques Dessalines, que mais tarde se tornou o governante do Haiti sob a constituição de 1805, era um maçom conhecido e tinha grande influência na cultura haitiana local. O conhecimento maçônico também seria disseminado nas práticas de algumas das sociedades secretas da África que também operavam em segredo na ilha.

Reflexos da Maçonaria

Alguns dos reflexos sutis da Maçonaria no Vodu estão refletidas no uso de termos culturais como “Grão-Mestre”, um termo usado para descrever Deus ou “Grand Met Bondye”, o “bom Deus”. Práticas maçônicas, incluindo o uso de senhas, gestos e apertos de mão, podem ser vistos em rituais e várias iniciações na religião Vodu. Um exemplo disso pode ser visto como o sacerdote conhecido como ‘Houngan’ cumprimenta os sacerdotes com um aperto de mão sagrado. Isso acontece quando sacerdotes concorrentes se reúnem. Donald J. Cosentino, professor de inglês e artes e culturas mundiais da UCLA, observou que ‘quando os oungans concorrentes se encontram no início das cerimônias, eles se cumprimentam com apertos de mão maçônicos elaborados”.

O panteão de deuses e deusas da religião Vodu é composto por vários espíritos conhecidos como ‘Loa’. Os ensinamentos que cercam o Loa falam de muitos espíritos como sendo maçons. O guerreiro Loa de ferro conhecido como Ogou e o Loa da encruzilhada conhecido como Legba são frequentemente chamados de maçons. Ogou é representado e simbolizado pela espada, um símbolo militar e uma ferramenta encontrada também na cultura maçônica. O simbolismo maçônico é abundante nas imagens do maçônico Loa Baron Samedi. Barão Samedi, Barão Kriminel e Barão La Kwa são espíritos associadas ao cemitério. O Barão usa uma cartola familiar, muito parecida com os paramentos de loja, e muitas vezes é retratado com símbolos maçônicos familiares de caixões, esqueletos e várias ferramentas maçônicas. Algumas imagens dos Barões são retratadas usando aventais maçônicos. O Loa Agassu, Linglenso e Agau também são vistos como Loa Maçônicos.

Vévé são símbolos tradicionalmente usados para invocar o Loa. Sacerdotes (Houngans) e sacerdotisas (Mambos) criam diagramas sagrados de fubá e vários pós para invocar as energias de divindades específicas. O esquadro e o compasso são refletidos no Vévé do Loa Ayizan e no Véve dos espíritos dos mortos, conhecidos como ‘Ghede’. No Vodu, o esquadro e o compasso também assumem o significado de simbolizar o masculino e o feminino unidos. Um escritor apontou que o Vévé do Loa Ayizan Velekete não só parece muito semelhante ao esquadro e compasso com sua sobreposição das letras ‘a’ e v ‘, mas também possui um componente filosófico que fala também de conceitos maçônicos. Ayizan Velekete é o protetor do templo e da pureza ritual e atua como defensor da moralidade. Na prática maçônica, o esquadro e o compasso falam dos ideais de corrigir nossas ações à medida que buscamos pureza e moralidade (Robinson 2013).

O santo padroeiro maçônico de João Batista também assume um papel importante no Vodu haitiano. O lendário sacerdote e estudioso de Vodu, Max Beavior, afirmava que João Batista ensinou a Jesus os segredos de Vodu. Sua importância também se reflete em uma música tradicional de Vodu. Como o dia de São João é um feriado comemorado na cultura maçônica, ele também é comemorado no Vodu haitiano.

Sigilo mágico em Botanica haitiana

Legrace Benson no trabalho Nou La, Nós Aqui: Lembrança e Poder nas Artes do Vodu Haitiano fala de como o maçônico ‘Olho que tudo vê’ ma;cônico pode ser visto em algumas das elaboradas bandeiras de lantejoulas (Drapos) usadas no Vodu haitiano. Benson afirma que a imagem veio de jesuítas e maçons que vieram para o Haiti. (Uma sacerdotisa de Vodu em particular com quem falei afirma que a Maçonaria introduziu a Cabala e o uso de segredo no Vodu.) Existem alguns relatos históricos que falam de exemplos de imagens esotéricas, como o tetragrammaton e o olho que tudo vê encontrado na decoração ritual de templos de Vodu no Haiti.

Acredita-se que a tradição maçônica tenha afetado a maneira pela qual algumas cerimônias de Vodu são realizadas. Milo Rigaud, em seu livro Secrets of Voodoo, afirma: “O houngan mais velho solicita a assistência de dois outros houngans – o mais antigo que ele puder encontrar – em virtude da prescrição esotérica que sustenta que três maçons juntos formam uma loja regular”.

Sociedades Secretas

Há sociedades secretas que existem na cultura haitiana de Vodu, como as sociedades Bizango e Sanpwèl. Referências maçônicas abundam nessas culturas, com a participação em ambas as sociedades observando 33 graus como na Maçonaria do Rito Escocês.

Os membros dessas sociedades utilizam várias formas de reconhecimento codificado. O antropólogo Wade Davis observa que muitas das sociedades, tais como a sociedade Bizango, utilizam uma série de signos e sinais ao entrar e sair de espaços rituais e cumprimentar uns aos outros. Existe um uso interessante da “inversão” simbólica em dar e receber tais sinais. O etnólogo Andrew Aptar conclui que “muitas trocas de sinais são reproduzidas em símbolos maçônicos e até mesmo apertos de mão, sugerindo uma apropriação de sinais europeus ou crioulos de poder e valor por meio de codificação secundária”.

Templos

O templo tradicional de Vodu é conhecido como Houmfort. A principal área ritual em que ocorre a maioria das cerimônias é conhecida como Peristilo e, muito parecido com as lojas maçônicas, possui peças de arquitetura específicas que simbolizam vários princípios espirituais.

Legrace Benson fala de uma cerimônia de Bizango onde o Olho Que Tudo Vê da Providência é pintado no poste central (Poto Mitan) no templo. Ela também documentou o líder de uma sociedade Sanpwèl que adornava seu templo com fotografias de si mesmo em paramentos maçônicos, além de vários símbolos de loja. Ela também observou o líder usando um avental maçônico branco enquanto criava um banho espiritual. Benson também observou caixões de madeira usados por muitas das sociedades secretas que são colocados ao lado de altares sagrados. O caixão é um símbolo da Maçonaria usado para representar a morte e a ressurreição.

Como maçom e estudante de estudos africanos, sou fascinado pelo encontro desses dois mundos. Lembro-me de que ambas as tradições contêm elementos que são mantidos em segredo para preservar sua sabedoria. Lembro-me de que ambas as tradições sobreviveram a anos de perseguição e demonização daqueles que vivem com medo e ignorância. Por fim, lembro-me que ambas as tradições mantiveram uma linhagem sagrada que fornecia comunidade, orientação e satisfação a milhares de iniciados.

Fontes

Vingadores do Novo Mundo, Laurent Dubois, Belknap Press, 2004

Cavaleiros Divinos: Os deuses vivos do Haiti Maya Deren, McPherson, 1983

Face dos deuses: Arte e altares da África e das Américas africanas, Robert F. Thompson, Museu de Arte Africana, 1993

Maçonaria e Vodu, Revista do Vodu, 2013

Hegel, Haiti e História Universal, Susan Buck Morss, Imprensa da Universidade de Pittsburgh, 2009

Instituto da Maison Impériale ď Haiti, http://www.imperialhaiti.fr/the-haitian-empire/freemasonry/

Placa do Livro de Morin Josef Wäges, The Plumbline: O Boletim Trimestral da Sociedade de Pesquisa do Rito Escocês, primavera de 2017, volume 24, №1

Sobre origem africana: Creolização e Conhecimento em Vodu haitiano Andrew Aptar, Etnólogo americano, Vol. 29, №2 (May, 2002), pp. 233–260

Artes Sagradas do Vodu haitiano, Donald J. Cosentino, Museu da Universidade da Califórnia, 1995

Segredos do vodu, Milo Rigaud, Editores das Luzes da Cidade, 2001

A Canção do Exílio: Edmond Dédé e as revoluções inacabadas do mundo atlântico, Sally McKee, Imprensa da Universidade de Yale, 2017

A máquina de plantação: Capitalismo atlântico em Saint Domingue francês e Jamaica britânica (Américas modernas) Trevor Burnard, University of Pennsylvania Press, 2018

Vodu no Haiti, Alfred Métraux, Pantheon, 1989

Tony Kail é escritor, Etnógrafo e Folclorista - Tradução: J. Filardo

Fonte: Bibliot3ca.

março 03, 2023

O HOSPITALEIRO - Rui Bandeira


O Hospitaleiro é o elemento da Loja que tem o ofício, a tarefa, de detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio destas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando, através da Grande Loja e do Grande Oficial com esse específico encargo, o Grande Hospitaleiro ou Grande Esmoler, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos membros.


Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros. Solidariedade que não significa cumplicidade em ações ilícitas ou imorais, ou encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral. O maçom deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes, não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque autodeterminado e, portanto, responsável pelos seus atos, bons e maus. Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos afetam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem.


Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno daquele que, nesse momento, precisa do calor dos seus Irmãos. Este auxílio, este conforto, esta presença, são coordenados pelo Hospitaleiro. Note-se que a palavra utilizada é “coordenados”, não “efetuados” ou “realizados”. O Hospitaleiro não é o Oficial que efetua as ações de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja destas ações. O Hospitaleiro é aquele elemento a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita.


É claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efetuar a tarefa, ou a delegar a mesma noutro Irmão que seja mais conveniente que a efetue. Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria, isso já não seria auxílio, seria perturbação. O Hospitaleiro assume, assim, em primeira linha, a tarefa de se informar do estado do irmão, de o auxiliar e confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado, nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou constantemente assediado pelos contatos dos demais, prejudicando a sua recuperação e o seu descanso, maçando-o, mais do que confortando-o. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio é fundamental…


A solidariedade maçónica pode traduzir-se em atos (visitas, execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece confiança no inseguro), no simples acto de estar presente ou disponível para o que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa, mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível…) ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões…). A escolha, a combinação, o acionar das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do que os atos generosos, mas anárquicos e descoordenados…


O Hospitaleiro deve estar atento ao surgir de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e atuar em conformidade. Mas não é omnisciente. Portanto, qualquer maçom que detecte ou conheça uma dessas situações deve comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, atuar, coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça. Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia é que sejam “todos por um”, não “cada um pelo outro, todos ao molho e fé em Deus”…


A solidariedade maçónica é assegurada, em primeira linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue com a vida. Porque cada maçom, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente!


E a solidariedade é algo que não se esgota em circuito fechado. Para o maçom, a beneficência é um simples cumprimento de um dever. As ações de solidariedade ou beneficência em relação a quem – maçom ou profano – necessita, em auxílio das organizações ou ações que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo Hospitaleiro.


O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito importante em qualquer Loja maçónica. Deve, por isso, ser desempenhado por um maço experiente, se possível um Antigo Venerável.


O símbolo do Hospitaleiro é uma bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçom dá para o Tronco da Viúva. Mão segurando o saco, no modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o Tronco da Viúva, o Hospitaleiro exibe o saco contendo estes óbolos perante a Loja, demonstrando estar à disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material. Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu adequado e útil uso.



OLHO DA PROVIDÊNCIA - Luiz Castro M.'.M.'


Considerado por alguns um símbolo da onisciência divina e para outros uma influência sinistra, o olho da providência ou olho que tudo vê, como também é conhecido, é sem duvida um dos símbolos mais poderosos e utilizados do mundo. 

Entretanto, embora possua uma representação simples, devemos conhecer quais são os significados e história associados a este símbolo.

Acredita-se que o olho que tudo vê, nasceu há milhares de anos e se dispersou entre as antigas culturas, embora em quase todas elas com um significado semelhante, evocando uma força ou deidade vigilante que nos protege e ajuda; ou uma clara alusão ao despertar do espírito humano.

Não obstante, uma das primeiras referências conhecidas deste símbolo aparece no Rigveda, um dos mais antigos textos da humanidade, que data do ano 3000 antes de Cristo. 

Nele se faz referência a deidades oculares como Shiva, deus hindu que possui um terceiro olho no meio da testa em representação do conhecimento ilimitado, que ao se abrir, é capaz de destruir o mal. 

O terceiro olho também é relacionado com o despertar espiritual das pessoas

Conforme a cultura egípcia, sua origem é atribuída ao mito do olho de Hórus, o qual relata que depois de batalhar com o deus Seth, este haveria recebido um olho com poderes mágicos, com o que reviveria a seu pai, Osíris, se convertendo assim em um símbolo de vida e ressurreição. Embora uma interpretação mais atual, sugere que o olho de Hórus representa um mapa da certeza cerebral, onde representa o tálamo, a glândula pituitária e pineal. 

Esta última conhecida como o centro da consciência divina.

No oriente médio este símbolo pode encontrar-se na forma de uma mão, normalmente direita com um olho em seu interior, que é conhecida como Hamsa. 

Um talismã que protege do mau-olhado, cuja origem se encontra em outro símbolo da proteção divina, a mão da deusa Ishtar.

Para o cristianismo, o olho da providência data do século XVI e se compõe de um olho dentro de um triângulo, rodeado por raios de luz brilhantes. 

Figura geométrica que representa a Santíssima Trindade que em seu conjunto significa a omnipresença de Deus e sua observação constante da criação.

Do mesmo modo, embora não começou a ser usado desde 1797, este símbolo se tornou em um dos mais usados dentro da Maçonaria, onde por sua similitude com a letra grega delta, se conhece como delta luminoso e representa ao grande arquiteto do universo.



março 02, 2023

IRMÃO ADORMECIDO


Muitas vezes ouvimos alguém dizer assim: "aquele Irmão está adormecido", aquele ali é um Maçom adormecido", e outras palavras parecidas.


Mas afinal, o que é um "Irmão Adormecido"? Se tiver uma resposta como por exemplo, que é aquele Irmão que pediu seu Quite Placet e está há muito tempo sem frequentar uma Loja Maçônica, podemos até concordar em certo ponto, porém, há outra forma de intitular um verdadeiro "Irmão Adormecido", ou até mesmo num "Coma Induzido".


O Irmão adormecido por muito tempo, na verdade, é como um passarinho caído do ninho, que desaparecerá sem deixar vestígios, mas, temos também aquele que encontramos em "todas".


Num ponto de vista, o Irmão Adormecido é aquele que está Regular com sua Loja, que está em em dia com as suas mensalidades, com as mútuas, que vez ou outra participa do ágape, mas, quando participa, está presente em algumas Sessões apenas para cumprir com o número regular de presença.


O Irmão Adormecido é também aquele que quando comparece aos trabalhos, muitas vezes atrasado, não sabe o seu lugar na formação do cortejo de entrada, abre a sua pasta e não encontra seu ritual, quando o encontra não sabe a página em que deve abri-lo, não sabe o que deve ler ou falar quando ocupa um cargo e por aí vai.


Irmão Adormecido é também aquele que durante os trabalhos está de olhos fechados, acreditando que aqueles que o estão vendo, acha que está meditando sobre as instruções que estão sendo transmitidas, no entanto, com o pensamento lá fora, olhando para o relógio e contando os minutos para o encerramento da Sessão, muitas vezes já ansioso para saber o cardápio do ágape.


Irmão Adormecido é aquele que só retira o seu Ritual no dia da Sessão, que não lê, que não escreve ou apresenta uma Peça de Arquitetura, sempre com a desculpa de que não teve tempo para isso.


Irmão Adormecido é aquele que só é reconhecido como Maçom perante seus Irmãos em Loja, vestido com seu Avental mas, longe dali, se torna um simples mortal, um profano.


Portanto, não podemos esquecer aquele Irmão regularmente adormecido, ou seja, que está quite com sua Loja mas, nunca deixou de colocar em prática os ensinamentos que  obteve em Loja, que nunca deixou de ler livros e Peças de Arquitetura, que nunca deixou de estender suas mãos a um outro Irmão.


Na prática, o Irmão adormecido é aquele que está de posse do quite Placet, embora temos também o Maçom entorpecido, aquele que está regular porém inativo em relação aos trabalhos Maçônicos. Se movimenta como um ser sem vida e incapaz de olhar para os lados onde estão seus irmãos.


Então, antes de intitularmos um Irmão Adormecido, temos primeiro que avaliar sua conduta, sua inteligência, sua capacidade, suas qualidades e principalmente seu caráter e personalidade no mundo profano, muitas vezes melhor que um Irmão Regular.


(Desconheço autor)

CALENDÁRIO MAÇONICO

    


     O calendário maçônico é a maneira particular utilizada pelos maçons para numerar os anos e designar os meses.

    O ano um do calendário maçônico é o Ano da Verdadeira Luz – Anno Lucis em Latim. Ele marca o início da Era da Verdadeira Luz (VL). Antes que o Anno Lucis aparecesse a partir do século XVIIIe nos documentos ingleses, os temos Anno Masonry e depois Anno Latomorum , Anno Lithotomoru ou Anno Laotomiae(Era dos Cortadores de Pedra)1. A datação do Ano da Verdadeira Luz seria baseada nos cálculos de James Ussher, prelado anglicano nascido em 1580 em Dublin. Ele tinha desenvolvido uma cronologia começando com a criação do mundo segundo o Genesis que ele estimava em 4000 A.C. baseando se no texto Massorético ao invés da Septuaginta 2.

    O Pastor Anderson a defendeu em suas Constituições de 1723 para afirmar simbolicamente a universalidade da Maçonaria através da adoção de uma cronologia supostamente independente de particularidades religiosas, pelo menos no contexto britânico da época . A data escolhida para o início da Era maçônica é 4000 antes da Era Comum.

    O ano maçônico tem a mesma duração do ano gregoriano, mas começa em 1o de Março como o ano Juliano ainda em vigor na época da redação das Constituições de Anderson. Ela tomou o milésimo do ano gregoriano em andamento e aumentou 4000, os meses são designados apenas por seus números ordinais.

Exemplos: 29 de Fevereiro de 2004 era o 29o dia do 12o mês do ano 6004 da Verdadeira Luz

O ano maçônico tem duas festas: São João de Verão (João Batista, comemorado em 24 de junho) e São João de Inverno (João Evangelista, comemorado em 27 de Dezembro), coincidindo simbolicamente com os solstícios.

(Wikipedia)

março 01, 2023

MARÇO PEDE LICENÇA - Newton Agrella



O nome do mês de MARÇO, que abre suas portas na data de hoje na era vulgar do ano de 2023 do Calendário Gregoriano  tem sua origem advinda do substantivo "Martius" que era o primeiro mês do ano na Roma Antiga e no seu antigo calendário.

Esse nome fazia referência a MARTE, Deus da Guerra. 

Como em Roma o clima é mediterrâneo, Março é o mês que abre a Primavera, suscitando desse modo uma relação lógica para se dar o início de um novo ano, assim como para se empreender a temporada das campanhas militares de então.

Tudo isso, é claro, baseado nas circunstâncias históricas, sociais e culturais daquela época.

Cabe registrar que a partir do nome "Março", derivou-se por analogia e por extensão semântica, o adjetivo, "marcial", cuja ideia remete ao aspecto bélico, de guerra, de luta e de confrontos.

Por isso, o surgimento das expressões: : Corte Marcial,  Lei Marcial, Artes Marciais e por aí afora.

Feita esta brevíssima consideração histórica sobre o referido mês, cumpre destacar que na história contemporânea, a data mais marcante do mês de Março, comemorada em mais 100 países e institucionalizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) - a partir da década de 1970  -  é 08 de Março  - "DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES"  - como sendo um dia de protestos e manifestações legítimas na luta contínua pelos seus direitos em toda a sua plenitude. 

Uma luta não apenas contra a desigualdade salarial e profissional, mas sobretudo contra o machismo, a violência e o feminicídio.

O mês de Março portanto, traz consigo essa carga de responsabilidade histórica que impõe um permanente estado de vigília, de reflexão e principalmente de "consciência"  por parte da civilização humana.

Que Março continue bradando através da força de seu nome e de seu significado, a luta desmedida e ininterrupta pelo reconhecimento, respeito e valor inestimável que a Mulher possui e representa em todo o nosso universo.



A INFLUÊNCIA DA BÍBLIA NA MAÇONARIA - Márcio dos Santos Gomes


Vejam como é bom, como é agradável os irmãos viverem unidos…” (Sl 133)

Os trabalhos da Maçonaria Moderna [1] ocidental referenciada nos Ritos mais praticados têm início com uma exortação, invocando o auxílio (Publicado em freemason.pt) do Grande Arquiteto do Universo, o Deus que criou tudo o que existe, estando a Bíblia presente durante as reuniões, com foco na fraternidade, evocando espiritualidade e harmonia, assim como na valorização dos esforços e como fonte de ensinamentos de regras de conduta.

A Constituição da GLMMG, no seu artigo 22, dispõe:

§ 3°A Grande Loja adopta, na sua ação filosófica, ritualística e social, os Landmarks de Mackey e a Constituição de Anderson. O 21° Landmark exige “que um Livro da Lei seja parte indispensável dos utensílios de uma Loja”.

Os 25 Landmarks compilados pelo médico e historiador maçónico americano Albert Gallatin Mackey em 1858 são adoptados pelas Potências [2] Maçónicas latino-americanas e por algumas Grandes Lojas da América do Norte.

O número de Landmarks pode variar de acordo com o Rito e o País. São conhecidos ainda Landmarks de Findel, de Lecerff, de Pound, de Grant e outros. A Grande Loja Unida da Inglaterra reduziu a oito o número de Landmarks, constando do sexto a exigência da presença do “Livro da Lei Sagrada” durante os trabalhos.

Em maçonaria Landmark corresponde ao termo apropriado pela primeira vez na “Constituição de Anderson”, no ano de 1723, com o sentido de marcos, limites ou regras de conduta. Se uma só destas regras não for observada, a Potência rebelde é declarada “Irregular”.

James Anderson, escocês e pastor da Igreja Presbiteriana em Londres, escreveu a Constituição que leva o seu nome ou Constituição dos Maçons Livres, que foi reformada e republicada em 1738. Muitos autores atribuem a Anderson a criação da maçonaria simbólica, em função deste trabalho, mas há controvérsias. Segundo crítica de Castellani, “o imaginoso Anderson” tomou a Bíblia como modelo, considerando maçons todos os que nela apareciam, contribuindo para criação de patranhas e desencontros que ainda repercutem.

Tema recorrente na maçonaria, a Bíblia ou Livro da Lei [3] ou ainda Volume da Lei Sagrada (VLS) ou Livro das Sagradas Escrituras, representa a fé pessoal e alude a um código de moral e ética sobre o qual se presta um compromisso solene, não ensejando um ritual religioso. Dos seus membros a maçonaria exige a crença em Deus, na condição de que cada um livremente encontre conforto espiritual na sua crença. Já a questão envolvendo religiões é objecto de estudos históricos, filosóficos e de reflexão.

A revolucionária invenção de Gutenberg possibilitou que a Bíblia fosse o primeiro dos livros inteiros publicados pela técnica da imprensa, processo este que se iniciou cerca de 1450 e foi concluído em 1455. [4] A tradução para o alemão em 1522 (Novo Testamento) e a edição completa em 1534, baseada num trabalho coordenado pelo ex-frade agostiniano Martinho Lutero [5] (excomungado pelo Papa Leão X, em 1521), tornou-se um forte instrumento posteriormente usado pelos reformadores (João Calvino, na França, e Ulrico Zuínglio, na Suíça), permitindo a massificação das traduções sem a necessidade de aprovação eclesiástica.

Em 1534, no Ato de Supremacia em que Henrique VIII consolidou a Reforma Anglicana, com o rompimento entre a Inglaterra e o Papa Clemente VII, autoproclamando-se o chefe da Igreja do seu país, dentre outras medidas, pregou-se a popularização da leitura da Bíblia. [6]

A primeira versão bíblica autorizada na Inglaterra, traduzida do original hebraico e grego para o inglês, a pedido do rei James I da Inglaterra, foi publicada em 1611, conhecida como a Bíblia do Rei James. Até então era utilizada a versão em inglês da Bíblia de Genebra de 1560.

A introdução da Bíblia nas reuniões maçónicas foi sugerida por George Payne, em 1740, como bajulação à Igreja Anglicana, e não à Católica, pois naquela época era a primeira que predominava na Inglaterra, conforme ensina Castellani. Embora citada em vários documentos, não se (Publicado em freemason.pt) tem notícias da Bíblia permanecendo sobre o Altar dos Juramentos durante as sessões de trabalho. Há autores que registam o seu uso em 1670. Nos rituais de cerca de 1760 é referenciada como uma das três grandes luzes, com lugar de honra nas Lojas.

Os “Antigos Deveres” ou “Old Charges” [7] não permitem comprovar que a Bíblia fosse empregada nas lojas operativas inglesas antes da Reforma. O banir dos judeus de toda a Grã-Bretanha – e com eles, todos os seus costumes, as suas leis, as suas tradições – pelo Édito do rei Eduardo I, em 1290, foi motivo para o sumiço do Velho Testamento. A anulação deu-se por ato de Oliver Cromwell mais de 350 anos depois, em 1656.

O que se sabe é que os novatos juravam ser fieis às confrarias estendendo a mão direita sobre o Livro dos Evangelhos, sendo o preferido o de São João, festejado por ocasião das colheitas. Consta que no manuscrito “Harleim”, de cerca de 1600, a Obrigação de um iniciado fecha com as palavras: “Me ajude Deus e o conteúdo deste livro sagrado”.

Segundo Assis Carvalho (1997), não se tem notícias do uso da Bíblia antes de 1600. Aduz que os Estatutos de Schaw, datados de 1598, não a mencionam, mas fazem referência a contos bíblicos e lendas contadas aos obreiros. O documento de William Schaw estabelecia os deveres de todos os Mestres Maçons dentro do reino da Escócia, de onde se especula tenha a moderna maçonaria sido criada, de acordo com argumentação defendida por David Stevenson, no livro “As Origens da Maçonaria – O Século da Escócia – 1590-1710”.

O juramento sobre a Bíblia é uma tradição da herança cristã inglesa e não tem valor a não ser que ele tenha um significado sagrado, sendo visto por muitos como resultado da forte influência eclesiástica no ocidente, ratificando o poder da religião nos usos e costumes. É praxe nos tribunais ou nas solenidades de posse de presidentes americanos. George Washington ao ser empossado como primeiro Presidente da República, em 30 de Abril de 1789, prestou o seu juramento sobre uma Bíblia pertencente à Loja St John, n° 1, filiada na Grande Loja de Nova York.

O Livro da Lei ou o Livro Sagrado utilizado em determinadas sessões é aquele representativo da orientação religiosa do obreiro, podendo optar-se, nos casos de juramentos iniciáticos, quando o candidato faz a promessa da sua Obrigação, pelo uso do Alcorão ou da Torá, quando se tratar de muçulmanos ou judeus, respectivamente, dentre outros livros básicos de natureza religiosa. Não oferecer esta alternativa seria negar a universalidade da Maçonaria.

Existem ainda ritos ditos racionalistas ou adogmáticos que dispensam este procedimento, sob o argumento de que as concepções metafísicas dos maçons são consideradas de foro íntimo e ainda como sinal de respeito à liberdade de consciência e sem imposição de padrão religioso, com os compromissos de honra sendo assumidos sobre a Constituição de Anderson ou sobre a Constituição das Potências às quais pertença a Loja, como é o caso do Rito Moderno ou Francês.

No Rito Moderno “não se pergunta aos candidatos qual a religião que professam por ser, isso, da consciência individual de cada um, e não caber, a quem quer que seja, o direito de devassá-la” (Castellani, 1987). Citando Oswald Wirth, Boucher (2015) afirma: “Os anglo-saxões, ao exigir a Bíblia, e somente a Bíblia, negam a universalidade da Maçonaria e, se encararmos o problema desse ponto de vista, a “irregularidade” está do lado deles, e não do nosso”.

Os ritos representam um conjunto de regras e preceitos com os quais se desenvolvem os trabalhos, e entre os mais praticados sobressaem os de orientação latina e os anglo- saxões. O Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) [8], de inspiração católica e teísta, é o mais praticado e tem a sua origem em França, em 1756, sendo posteriormente alterado nos Estados Unidos, em 1801, com o aumento dos seus graus de 25 para 33 [9], por norte-americanos de origem judaica. Em 1855, o advogado, militar, escritor e Maçom norte-americano Albert Pike iniciou revisão do REAA, que culminou com a publicação em 1872 da obra “Moral e Dogma”, considerada um clássico da maçonaria moderna.

Os três primeiros graus, de Aprendiz, Companheiro e Mestre, chamados Simbólicos, são comuns em todos os ritos, com pequenas diferenças. Foram reorganizados entre os anos de 1700 e 1725. [10] Novos elementos, sob a forma de (Publicado em freemason.pt) alegorias e lendas foram inseridos entre 1730 e 1745. Os superiores ao 3° compõem os chamados Altos Graus, conhecidos genericamente como Graus Filosóficos.

Em todos estes graus os trabalhos são realizados com a Bíblia Sagrada aberta e lida em passagens diferenciadas, variando do Genesis ao Apocalipse, não como um culto religioso, “mas como ensinamentos práticos e uma das formas de se estabelecer sempre uma boa fraternidade e uma maior solidariedade.” (Vasconcellos, 1999). Há ritos que regulamentam apenas a sua presença sem o procedimento de abertura e/ou leitura. [11]

O local das atividades maçónicas comumente denominado Oficina, Loja ou Templo tem como modelo o Parlamento britânico e as Catedrais, de onde foram copiadas a orientação e a divisão. As lendas que ilustram a maçonaria não têm nenhum compromisso com verdades históricas, mas compõem as bases dos seus ensinamentos. Já os símbolos da arte de construir representam ideias e mensagens que são restritos aos iniciados e funcionam como veículos para que cada um descubra as suas próprias verdades por meio de pesquisas e estudos.

A influência da Bíblia reflete-se em várias situações e tem inspiração por analogia simbólica no Tabernáculo Hebreu e no Templo de Jerusalém, mesmo que indiretamente, conforme assinala José Castellani. E esta associação de imagens tem reflexos das raízes operativas da maçonaria agrupadas na visão dos construtores de catedrais da Idade Média, cuja corporação era uma das mais organizadas e fechadas da época.

É grande o número de nomes e símbolos tomados da Bíblia pela maçonaria, que adaptadas e aplicadas em alguns graus e à cultura maçónica, têm como objetivo transmitir didaticamente uma lição simbólica ou moral, como já assinalado. Importa ressaltar que a maçonaria não é de origem judaica e não faz nenhum vínculo de continuidade com a construção liderada pelo Rei Salomão, a ponto de dizer que naquela época haveria uma instituição maçónica. Alegoricamente, sob o simbolismo da arquitetura, a obra que se deve edificar é o Templo Interior, no sentido esotérico representado pela moral, carácter e personalidade, com inspiração na narrativa bíblica contida em 1Cor 3,16. [12]

Como suporte lendário, na concepção da Loja é marcante a figura emblemática do arquiteto que dirigiu as obras da construção do Templo de Jerusalém, o Mestre Hiram de Tiro (1Rs 7,13 – 2Cr 2,13), que personifica a Virtude. Destacam-se, inicialmente, as duas colunas ornamentais situadas à entrada, citadas em 1Rs 7,21 e em 2Cr 3,17, [13] significando força e beleza. Neste contexto, aceito que o templo maçónico pode ainda simular a terra, essas colunas representam os solstícios de Inverno, presidido por João Batista, e o de Verão, por João Evangelista, ambos os patronos da Maçonaria.

Da mesma fonte, quase todos os ornamentos e nomenclatura foram copiados, como o altar para os juramentos (Altar dos Sacrifícios), a mesa para queimar incensos (Altar dos Perfumes), a pia para as abluções (Mar de Bronze), o candelabro de sete braços (Menorá), a Estrela de Davi (Selo de Salomão), dentre outros suportes relativos à tradição judaico-cristã ou acontecimentos históricos e míticos.

Apropriou-se também do valor significativo da Acácia, [14] árvore mencionada em Ex 35,24 e sagrada entre os hebreus, cuja madeira foi utilizada na construção do Tabernáculo, pela sua resistência e reputação de incorruptível, devido às suas resinas. Da mesma forma foi também incorporado o simbolismo do trigo, cereal nobre, que na Bíblia representa o alimento espiritual, o pão da vida, a comunhão entre irmãos, etc.

Do 28° Capitulo do Livro do Génesis, foi introduzida a alegoria da visão da Escada de Jacob, fazendo alusão ao ciclo evolutivo da vida, representado pelo progresso moral (Publicado em freemason.pt) e intelectual, vez que a maçonaria vislumbra na escada um símbolo de progresso que cada Maçom deverá galgar para atingir um estado de consciência plena, com Fé (determinação), alimentado pela Esperança e no exercício da Caridade para com os seus semelhantes. O número de degraus é indeterminado conforme as virtudes necessárias ao aperfeiçoamento do Maçom.

Os ritos maçónicos seguem um calendário onde se adiciona o número simbólico 4.000 à era vulgar, baseado na história bíblica da criação do mundo. A maçonaria moderna buscou ainda na Bíblia os mistérios relativos às “Palavras de Passe“ e às “Palavras Sagradas”, além de acontecimentos históricos e nomes sagrados emprestados aos Graus Filosóficos, de forma que o Maçom possa inspirar-se, juntamente com cada objeto, utensílio e adorno, transferindo a filosofia destes elementos para o terreno espiritual, a fim de erigir dentro de si mesmo um Templo da Virtude, um local de comunhão íntima dedicado ao culto ao Criador.

Enfim, como observa Jules Boucher:

“Os Maçons não tentam reconstruir materialmente o Templo de Jerusalém; é um símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada Maçom é uma Pedra, preparada sem machado nem martelo no silêncio da meditação”.

Notas

[1] Conhecida também como Maçonaria Especulativa, organizada a partir de 1717, teve como precursora a Maçonaria Operativa à qual pertenceram os profissionais ligados à arte de construir na Idade Média.

[2] Chama-se Obediência, ou Potência Maçónica, uma aliança de Lojas subordinadas à mesma orientação superior. São Obediências: as Grandes Lojas e os Grandes Orientes (Castellani, 1987).

[3] Simbolismo apropriado de 2Rs 22,8.

[4] Até então, a Bíblia era um livro raro e manuscrita, contando com o trabalho dos monges copistas, de difícil acesso e com o predomínio do Latim, sendo um privilégio do alto clero. Há fontes que afirmam que aos católicos comuns era proibida a sua leitura, porque eles não dispunham de capacidade para entendê-la.

[5] O privilégio atribuído a Lutero de ter traduzido, pela primeira vez, a Bíblia para uma língua moderna, é contestado por vários autores.

[6] O estudo sobre a Bíblia pelos protestantes vem de longa data, ao passo que entre os católicos tal prática somente se manifestou a partir dos anos de 1960, em decorrência do Concílio Vaticano II.

[7] O “Poema Regius” ou “Manuscrito Halliwell”, provavelmente de 1390, e o “Manuscrito de Cook”, estimado de 1450, são silenciosos a respeito.

[8] Embora nascido na França, o titulo “Escocês” é vinculado aos Stuarts ingleses, destituídos do trono da Inglaterra e refugiados na França, em duas oportunidades, durante os anos de 1649 e 1688. Epíteto aplicado aos partidários da dinastia Stuart (jacobitas), originários da Escócia, com quem começou a surgir e de onde o rito adquiriu o título.

[9] Segundo Castellani (1987), os irmãos Drake, que moravam em Charleston, por onde passa o paralelo 33, elevaram os graus para 33, em homenagem ao paralelo. Outras hipóteses sobre este número abundam.

[10] A Maçonaria só passou a ser iniciática a partir da criação do 3° Grau (1725). Até então não havia “Iniciação” e sim uma “Recepção de um novo membro ou sócio” que consistia de um compromisso prestado sobre o Livro de Registro da Confraria e, tempos mais tarde, sobre o Evangelho de São João (Carvalho, 1997). Outras fontes registam a criação deste grau em 1723 e efectiva implantação em 1738.

[11] No Rito de York e no Ritual de Emulação é aberta para os trabalhos, mas não é lida. No Rito de Schroeder permanece fechado. No Rito Adonhiramita é aberta e lida uma passagem.

[12] “Vocês não sabem que são templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?”

[13] “À coluna da direita deu o nome de Firme, e à da esquerda o nome de Forte” (Edição Pastoral). Na tradução de João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (1994), consta: “… e chamou o nome da que estava à direita de Jaquim, e o nome da que estava à esquerda Boaz”.

[14] De algumas espécies extrai-se a goma arábica. Para a maçonaria, cujo significado de um simples ramo faz a diferença, é símbolo da imortalidade, da vida eterna e da pureza.

Bibliografia

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral: São Paulo: Paulus, 1990; Tradução de João Ferreira de Almeida, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004;

BARROS, Zilmar de Paula. A Maçonaria e o Livro Sagrado. Rio de Janeiro: Ed. Mandarino, n/d;

BLOG O Ponto Dentro do Círculo

BLOG do Pedro Juk

BLOG da Revista Bibliot3ca,

BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçónica. São Paulo: Pensamento, 2015;

CARVALHO, Assis. A Descristianização da Maçonaria. Londrina: Ed. “A Trolha”, 1997;

CASTELLANI, José. A Maçonaria e a sua Herança Hebraica. Maringá: Ed. “A Trolha”, 1993;

CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito: História, Doutrina e Prática. Londrina: Ed. “A Trolha”, 1996;

CASTELLANI, José. A Maçonaria Moderna. São Paulo: A Gazeta Maçónica, 1987;

SALOMÃO, Lutfala. Igreja Católica e Maçonaria: as causas do conflito. Londrina, Ed. “A Trolha”, 1998;

VASCONCELLOS, Jairo Boy. A Fantástica História da Maçonaria. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1999

fevereiro 28, 2023

A ÉTICA E O VALOR MORAL NA MAÇONARIA - José Airton de Carvalho M.'.M.'.


A Ética, denominada de Filosofia Moral ou Ciência Moral, trata da análise e a reflexão sobre as condutas humanas, tanto individuais, quanto coletivas, e as normas morais como princípios dos comportamentos. 

Sua finalidade é fazer com que o desenvolvimento humano atinja a plenitude, respeitando as diferenças individuais.

Segundo Aristóteles, “a Ética estabelece o que se deve ou se pode fazer, e o que não se deve ou não se pode fazer”.

É evidente que quando se estuda o procedimento do homem no meio social, deve-se levar em conta que o homem é um ser moral, justamente por ser ele um se político. 

É um ser político porque a isso o obriga a sua natureza humana.

Mais do que nunca o homem tem que se adaptar à vida em comunidade, mormente nos tempos de globalização, quando o mundo virou uma “aldeota”, onde a aviação e os meios de comunicação acabaram com as distâncias.

O homem vive em sociedade e o Estado onde ele vive precisa dele, como ele precisa do Estado. 

Na sua larga visão, Aristóteles em “A Política” assinala:

“Está claro que o Estado é produto da natureza e superior ao indivíduo; quem não fosse capaz de viver na comunidade civil ou dela não tivesse necessidade para bastar-se a si mesmo, não se tornaria nenhuma parte do Estado…”.

Tenhamos em mira que a teoria aristotélica da moral é o fundamento dessa corrente do pensamento chamado Ética.

É interessante verificar que a palavra ética, em português, é derivada do vocábulo grego ethos que significa hábito, costume.

Os romanos traduziram o ethos grego por moralis. 

Cícero diz em uma das suas obras, referindo-se ao vocábulo grego, que “Aquilo que tem a ver com os costumes, que eles (os gregos) chamam ethos, nós, nesta parte da filosofia referente aos hábitos, costumamos chamar de moral”.

O dicionário esclarece que Moral é a parte da filosofia que trata dos costumes ou deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo mesmo.

Aristóteles não separa a Ética da Virtude, porque, para ele, toda a virtude se gera e perece dos mesmos atos, e mediante os mesmos atos; e exemplifica dizendo que “de tocar cítara surgem os bons e os maus citaredos”. Isto significa que, pelos atos, se conhece se o indivíduo é virtuoso ou não.

Mais adiante ele enfatiza: “É necessário, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porque consoante a sua diferença resulta a diferença dos hábitos.”

Se o homem considerar que a prática dos deveres para com os outros e para consigo mesmo é o único caminho que leva à perfeita harmonia social, estará, pois, procedendo corretamente e pode considerar-se feliz.

Analisemos o que Aristóteles estabelece de fundamental na sua “Ética”:

“Os atos morais são livres, motivo por que o indivíduo assume a sua responsabilidade. Em assim sendo, torna-se, para quem os pratica, causa de mérito ou demérito. 

A responsabilidade supõe, com certeza, o que denominamos de imputabilidade, pelo qual o ato é atribuído a um indivíduo como seu autor”.

“Existem duas espécies de responsabilidade: aquela pela qual o indivíduo responde por seus atos diante da própria consciência, ou seja, a responsabilidade moral, e a responsabilidade social que faz com que o indivíduo responda por seus atos, às vezes, perante a justiça, quando violar as leis civis”.

Aristóteles ensina que “A virtude é um hábito não só diante da reta razão, mas a ela conjunta. 

E a reta razão nada mais é que sabedoria”.

Resumindo, Virtude é o hábito de praticar o Bem, e vício, o hábito de praticar o mal.

Voltemos a Aristóteles e vejamos o que ele tem para nos ensinar:

“A Virtude, diz ele, se distingue segundo esta diferença: das virtudes, algumas chamo dianoéticas, a sapiência, a inteligência e a prudência; éticas, a liberalidade e a temperança. 

Quando, de fato, falamos dos costumes de alguém, não dizemos ser sapiente ou inteligente, mas sim, brando de ânimo ou temperante; e louvamos também, referindo-nos ao hábito: que nós chamamos virtudes aqueles hábitos que merecem ser louvados.”

Aristóteles procura estabelecer diferença entre aquilo que ele chama de virtudes dianoéticas e virtudes éticas:

“As primeiras são inatas no homem e podem crescer através do estudo, do ensinamento, razão por que têm necessidade de experiência e de tempo

Já as virtudes éticas são frutos do hábito, o que vale dizer que nenhuma delas se gera no homem por natureza, são as chamadas virtudes adquiridas. 

Elas não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em nós que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito”.

O estagirita conceitua a natureza humana como sendo equilibrada. 

Para ele, todo ideal tem base natural e todo natural tem desenvolvimento ideal. 

Reconhece, e o faz objetivamente, que a meta da vida não é o Bem por si mesmo, mas a felicidade. 

Assegura que a felicidade aparece como um bem perfeito, sendo a meta de todas as ações.

A Maçonaria é por excelência, uma Entidade de Moral, pois, seus princípios alcançam, em suas ações, os níveis mais elevados da Ética Universal. Sua obra, tanto material quanto espiritual advém de um passado remoto. 

Educando e disciplinando, prepara seus membros para que participem na busca da verdade, elevando-os em sua dignidade, fazendo com que ajam com justiça, desfrutando da liberdade, praticando a fraternidade e dedicando-se com amor à Humanidade.

Diante da evolução por que passa o mundo é necessário que visualizemos, à luz maçônica, os grandes desafios. 

O rigor moral e a força da autêntica solidariedade social se fazem necessários para que corrijamos os deslizes individuais, as más instituições políticas, econômicas e sociais, com o intuito de que o relacionamento humano seja mais fraterno.

A resposta não é simples, mas, podemos assegurar que sem ela enveredamos os mais tristes e funestos destinos. 

A Moral permite o cultivo de todas as virtudes, o que garante uma promissora convivência com nossos pares.

O imoral e o amoral, hoje ou amanhã, pagarão alto preço de uma conduta desmedida, destruindo, assim, suas vidas.

“A História, mestra da vida”, testemunha a decadência dos que se distanciam da moral.

Nenhuma nação, nenhum povo e nenhum homem poderão concretizar seus sonhos, se não estiverem embasados nos conceitos da Moral. 

Seria como construir castelos ao vento, ainda que a aparência pareça estável.

Portanto, a cada um, a concepção do dever, do bem, da justiça, das virtudes e, sobretudo, da verdade, pois aí está a formatação da moral, revelando-nos os valores que norteiam o homem e os povos, prestigiando suas instituições e reafirmando na fé, a verdadeira perfectibilidade humana.

A Maçonaria nos chama ao cultivo da Moral e à sua nobre prática, para que sejamos cada dia, mais virtuosos.


(Zé Airton é Mestre Instalado, membro da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, presidente da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida e membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda)

LIVRO - Newton Agrella




Sem querer entrar no conceito estético, formal e nem de seus primeiros indícios materiais é imprescindível que se faça uma breve referência histórica sobre o surgimento do Livro, cuja origem está intima e contemporaneamente ligada à escrita. 

A primeira versão do que se conhece por Livro, diz respeito aos Sumérios, que o criaram há cerca de 3200 anos A.C.  na Mesopotâmia, com seus escritos sobre "tabletes de argila".  

Posteriormente desenvolvido pelos gregos na cidade de Pergos, de onde surgiu a expressão pergaminho, que nada mais eram do que peles de vaca, ovelhas ou carneiros através do que se faziam as transcrições.

Inúmeros relatos históricos dão conta de que no início da Idade Média, os Judeus e os Muçulmanos foram os responsáveis por trazerem o "papel"  para a Europa, e que com o tempo deu origem à versão clássica do livro confeccionado  através deste elemento.

Mais recentemente, o Livro ganhou uma versão "high-tech", os chamados  e-books, diminutivo em Inglês para (Electronic  Books) ou seja; um arquivo configurado em forma de um livro, que funciona num computador.

O substantivo "livro" na língua portuguesa tem sua etimologia proveniente do latim "liber", termo relacionado à cortiça da árvore.

Porém, o conceito filosófico e semanticamente o que guarda melhor definição para o Livro, é o que traduz seu significado como uma obra de cunho literário, artístico, filosófico, lendário, científico ou de qualquer outra natureza fruto do conhecimento e da experiência humana..

Metaforicamente  o livro é um ser vivo, cuja família real se constitui de Autor e Leitor, e seu habitat pode ser uma editora, uma livraria, uma biblioteca, ou a casa de cada um de nós.

São sob os nossos olhos e debaixo de nossos braços que o sentimos, compartilhamos de seu conteúdo e discutimos ou debatemos livremente sobre seu teor, tal qual "um livro aberto".

O livro traduz fórmulas, experimentos, contos, prosas e poesias que se tornam referências e objeto de desejo, mas que concomitantemente são capazes de provocar dualismo,  alternâncias e pontos de divergências e convergências, tal qual ocorre no seio de qualquer família.

O livro é em si, um pedaço de vida que seu autor delega à história, e dele se esperam as mais profundas e diferentes reações.

Manusear suas páginas é um nobre exercício físico, mas sobretudo mental, em que a intelectualidade promove um conflito íntimo e inquietante de cada folha superada e diante de cada novo capítulo que se pronuncia.

O livro é antes de tudo, um guardião de pensamentos e reflexões, de lógica e de raciocínio que constrói uma ponte de interação entre o autor e o leitor.

O mérito de um livro não se julga pelo seu conteúdo, sua estética, suas ilustrações, sinais ou imagens, mas sim pelo simples fato de existir.