março 08, 2023

MULHER, 8 de MARÇO, TEU DIA ! - Adilson Zotovici









Soneto clamor ora faço

A esse Ser transcendental

Feito de amor, forte qual aço

Obra do PAI CELESTIAL


Buscando seu justo espaço

Que não se atém ao maternal

Indo além, a cinzel e maço, 

Erigindo dossel sem igual


Sobejo e passo a passo,

Inda que ensejo desigual

Seu sucesso em bom compasso


Gratos Acácia, guia fulcral 

À *MULHER* com fraterno abraço  

Neste teu *DIA INTERNACIONAL*



março 07, 2023

A BALAUSTRADA - Kennyo Ismail



Muitos irmãos já divagaram sobre a origem e o simbolismo da balaustrada, também chamada em alguns rituais de “grade da razão”. A imaginação chega a tanto que há quem defenda que a balaustrada é uma espécie de portal pelo qual o maçom, ao atravessar, sai do mundo do si mesmo e conquista o terreno dos sonhos, do inconsciente, da espiritualidade, dos mistérios e da magia.

Deve ser por isso que de vez em quando nos deparamos com irmãos dormindo no Oriente! Mas voltemos à vida real.

A balaustrada é formada por uma sequência de balaústres que suspendem um corrimão. Suas primeiras aparições foram encontradas no que se sabe sobre os templos assírios. Balaustradas não estão presentes nas construções gregas e romanas, mas reapareceram a partir do Século XV, inicialmente em palácios de Veneza e Verona, provavelmente influência da cultura árabe, por conta da dominação muçulmana na península ibérica.

Seu uso mais amplo na Europa teve início no século seguinte, sendo adotado por artistas como Michelangelo. No século XVI, balaustradas foram largamente utilizadas na construção de basílicas e catedrais e, a partir daí, ganhou espaço na ornamentação de igrejas, servindo como delimitador entre a nave (ocidente) e o presbitério (oriente), num nível mais elevado.

É junto da balaustrada que os fiéis recebem a comunhão.

Para compreendermos a razão da presença da balaustrada nos templos maçônicos dos ritos de origem francesa e seus derivados (Escocês, Adonhiramita, Moderno, Brasileiro), precisamos, inicialmente, realizar algumas considerações pertinentes sobre “templos” maçônicos.

Como é do conhecimento de todo maçom, a Maçonaria não surgiu em templos. As primeiras Lojas que se tem notícia não se reuniam em locais sagrados, mas sim em aposentos nos fundos ou em cima de tavernas, botecos, hotéis, canteiros de obras, etc.

Enfim, locais não muito “sagrados”, bem distintos dos “templos” maçônicos que se tem hoje por aí, nos quais alguns maçons conservadores não deixam nem mesmo um (a) profano (a) realizar a limpeza, por risco de profanar o solo maçônico sagrado, colocando os Aprendizes para exercerem a tarefa da limpeza.

Foi por volta da década de 60 do Século XVIII que surgiram os primeiros imóveis construídos com objetivo exclusivo de funcionamento de Lojas Maçônicas, ainda na Inglaterra. A iniciativa de tal movimento é creditada aos líderes maçons William Preston, James Heseltine e Thomas Dunckerley. Mas esses imóveis não foram chamados de Templos, nem passaram por cerimônias de sagração. Aliás, até hoje não são chamados de Templos e não são sagrados, porque mantém o significado original dos locais de reuniões dos maçons.

São conhecidos por Lodge Room (Sala da Loja). Em outras palavras, são apenas aposentos de reuniões maçônicas, assim como eram quando em tavernas, por exemplo. A diferença é que, com as construções próprias, o local fica mais bem guardado dos não maçons e não precisa ser preparado e desmanchado a cada reunião.

Na mesma década, movimento similar teve início na Maçonaria francesa. 

Aparentemente, o primeiro local construído para uso exclusivamente maçônico na França foi em Marselha, a cidade mais antiga daquele país, em 1765. A diferença entre o movimento de construções maçônicas na Inglaterra e EUA para a França no Século XVIII foi a de que a França é um país predominantemente católico e a influência religiosa teve papel fundamental na concepção e ornamentação das construções.

A influência católica na Maçonaria francesa pode ser observada, por exemplo, no uso da nomenclatura “templo” e seu processo de inauguração. Baseado na Igreja, o local de reuniões maçônicas passou a ser considerado um templo, necessitando, portanto, de passar por uma sagração, costume esse comum à Igreja Católica Apostólica Romana, mas inexistente em muitas outras igrejas. Reforçando, não se trata de uma prática originalmente maçônica, mas sim religiosa.

Tal influência também é explícita na arquitetura da Loja.

Tradicionalmente, as portas que dão acesso à Sala da Loja (templo) devem ser angulares, pois uma entrada reta (no eixo da Loja, de frente ao Oriente) “não é maçônica e não pode ser tolerada”. Assim é nas Lojas inglesas e norte-americanas, por exemplo.

Porém, a Maçonaria francesa adotou uma porta central, assim como nas igrejas. Outra característica é quanto ao piso da Loja, originalmente com o Oriente e o Ocidente no mesmo nível, tendo apenas as estações do Venerável, 1º e 2º Vigilantes contendo degraus. Entretanto, a Maçonaria francesa, também copiando a arquitetura de igrejas, adotou oriente mais elevado, com balaustradas delimitando.

Outras influências católicas menos perceptíveis são evidenciadas no uso de incenso, ao denominar o posto do Venerável Mestre de “altar”, na presença do “mar de bronze” para purificação, entre outras. 

E a partir da presença física de tais influências em Loja, iniciou-se o “brainstorming” permanente dos ritualistas, um exercício eterno de imaginação para conferir interpretações aos mesmos.



RECEBENDO PREMIO DA UNIVEN







        Neste dia 7 de março, em cerimônia realizada em sessão conjunta das ARLS Tríplice Aliança 341 de Mongagua e ARLS XI de Agosto de Itanhaém, fui agraciado com o diploma e um relógio referentes ao terceiro lugar obtido em Concurso realizado pela UNIVEN - União dos Veneráveis da Baixada Santista, com o tema da Proclamação da República;
        O prêmio foi entregue pelo presidente da UNIVEN, irmão Roberto Taboada. 
        O texto premiado já foi publicado neste blog.
 

março 06, 2023

O QUE OS MAÇONS FAZEM EM LOJA



Minha vizinha queria saber muito o que nós maçons fazíamos em loja.

Me enchia a paciência sempre perguntando.

Um dia estava chateado e lhe falei ríspido que cada maçom criava galinhas em loja, desde o chocar dos ovos até a entrega de uma galinha pronta pro abate!

E isto era segredo e ela deveria guardar esta informação para sempre, ela jurou e concordou, deu sua palavra.

No outro dia fui pela manhã no mercado fazer compras e no açougue já me perguntaram o que fazíamos com a carne e ovos das galinhas.

Ao andar pelo mercado um atendente falou que a ração para galinhas estava em promoção.

No caixa a menina me pergunta porque estava comprando ovos se era produtor.

No estacionamento quando arrumava as compras deixei cair o pacote de biscoito que quebrou alguns dentro, uma senhora que não via há tempos, ao passar me dá uma dica: farelo de biscoito é ótimo pra engordar pintinhos !!!!

Ai lembrei de nossos landmarks e dei razão ao silêncio!!!

(Desconheço autor)

ONZE CONDUTAS MAÇÔNICAS DESEJÁVEIS - Essência maçonica



Onze condutas maçônicas que, certamente, contribuem positivamente e protegem a nossa ordem das ações e das influências dos infiltrados:


1) Sirva à instituição e não à pessoas;


2) Quando for divergir, seja de ideias, propostas e condutas, mantenha-se imparcial e com honestidade, deixando de lado simpatias ou antipatias pessoais;


3) Chame sempre para você a responsabilidade de proteger e defender a instituição, não esquecendo que os nossos maiores inimigos, infelizmente, vestem avental;


4) Não se venda por medalhas, títulos, cargos, alfaias e elogios;


5) Quando for indicar um candidato, não seja um corretor de avental, que seja pessoa que se amanhã for à bancarrota e você tenha necessidade de levá-la para dentro de tua casa, ela não ocasione problemas à tua família;


6) Seja parceiro fiel e leal da verdade e da justiça, assumindo a inteira responsabilidade do que falar, escrever ou fazer;


7) Nunca se esqueça que os exemplos falam mais do que palavras e que os Aprendizes, Companheiros e Mestres mais novos precisam de referências;


8) Não seja Maçom oportunista ou inconsequente, pois baixaria, truculência e contestação infundada e mentirosa não são compatíveis com as nossas virtudes e princípios, maculando os Templos Maçônicos;


9) Não olhe para um Irmão como se fosse seu superior hierárquico, porém respeite as autoridades maçônicas legalmente constituídas, bem como, se for necessário, exija delas, usando os caminhos e meios legais maçônicos, que desempenhem os seus cargos com dignidade, probidade, humildade e competência, pois não estarão fazendo mais do que sua obrigação;


10) Seja um obreiro útil, humilde, dedicado, competente, de atitude e instruído nos augustos mistérios da Arte Real, pois, caso contrário, poderá ser manipulado e inconscientemente prestar serviços para aqueles pseudo maçons que representam a antimaçonaria.


11) Mas nunca se esqueça que vc faz parte integrante da Instituição e é no conjunto de Irmãos que a Maçonaria vive e pulsa e só poderá alcançar seus altivos interesses quando todos de mãos dadas seremos um só corpo pensante.


março 05, 2023

O RITO MODERNO OU FRANCÊS - Fernando da Silva Magalhães





NOVAS CONCEPÇÕES ILUMINISTAS PARA UMA EPISTEMOLOGIA MAÇÔNICA

Introdução

O papel do crítico é ao mesmo tempo reduzido e ampliado. Ampliado na medida em que todo mundo se pode tornar crítico. Este foi o sonho das Luzes e, talvez o do fim do século XVII: Por que todo leitor não poderia ser capaz de criticar as obras, fora das instituições oficiais, das academias, dos sábios? É a querela dos Antigos e dos Modernos, na França, no fim do século XVII, que faz nascer a ideia segundo a qual cada leitor dispõe de uma legitimidade própria, do direito a um julgamento pessoal (CHARTIER, 1999, p. 17).

O Rito Moderno ou Francês foi criado em Paris no ano de 1761, instituído em 24 de Dezembro de 1772 e proclamado em 9 de Março de 1773, pelo Grande Oriente de França, sendo instalado solenemente em 22 de Outubro de 1773. Na sua fundação, adoptava as primeiras Constituições de Anderson, de 1723, e compunha-se apenas dos graus simbólicos de aprendiz, companheiro e mestre.

À época, a Maçonaria, em transição para o modelo especulativo, passava por um período de instabilidade. A cada instante, criavam-se novos ritos e graus, sob influência das monarquias e os seus múltiplos misticismos, que satisfaziam a vaidade dos que procuravam esta ordem e desfiguravam a sua essência. Desta forma, o Grande Oriente de França na sua génese, busca harmonizar as múltiplas doutrinas num único corpo filosófico; razão pela qual criou, em 1773, uma comissão de maçons para estudar os sistemas existentes e elaborar um rito composto do menor número possível de graus, mas que, ainda assim, contivesse no seu bojo a essência original dos ensinamentos maçónicos. Esta comissão, após três anos de estudos, recomendou manter apenas os três graus simbólicos, o que causou oposição. O Rito de Perfeição ou de Heredom, por exemplo, já contava à época, com 25 graus. Diante desta reacção, em 1776, cria-se uma nova comissão com o mesmo fim, também malsucedida. O Grande Oriente instala então, em 1782, uma Câmara de Graus, cujas conclusões são acolhidas. Assim, em 1784, sob a coordenação de Roettiers de Montaleau [1], criam-se os Regulamentos e os Estatutos do Grande Capítulo Geral de França. Este Grande Capítulo redige um Ritual próprio agrupando os diversos graus em sete, com a administração dos Capítulos que trabalhariam nos graus acima do terceiro ficando confiada a esta Câmara. Surge assim, em 1786, o original Rito Francês ou Moderno com sete graus, sendo os três primeiro simbólicos, também chamados de “azuis”, e os quatro graus (ou Ordens) subsequentes, filosóficos (GAGLIANONE, 2014).

Nascido do desejo de se criar uma unidade racional na diversidade de correntes de pensamento vigentes à época, o Rito Moderno é filho e herdeiro direto do pensamento iluminista, caracteristicamente anti-monarquista, anticlerical e libertário; corolário de ideias que, três anos depois, em 1789, ocasionariam a Queda da Bastilha, evento emblemático que dá início à Revolução Francesa, à derrocada do sistema monárquico e inaugura a Era Contemporânea.

Embora criado sob moldes racionais, pautou inicialmente as suas regras na primitiva Constituição de Anderson, deísta e tolerante no aspecto religioso.

Após a Revolução Francesa, em 21 de Maio de 1799, o Grande Oriente de França e a Grande Loja Unida da Inglaterra redigem um tratado de união que vigora até 1815, quando a GLUI altera a Constituição de Anderson, tornando-a dogmática e impositiva, como se pode perceber nas citações dirigidas aos “ateus estúpidos” e aos “libertinos irreligiosos”, características que bem poderiam designar muitos dos maiores filósofos e pensadores da humanidade.

Assim, em 1877 vem a ruptura definitiva entre as duas potências, quando o GODF exclui dos seus estatutos a obrigatoriedade da crença em Deus e na imortalidade da alma como reconhecimento de um homem como Maçom.

Coerente com esta linha de pensamento, e, talvez por causa disso, considerado o condutor da Maçonaria do 3° Milénio; o Rito Moderno dá ao Maçom o direito de pensar com irrestrita liberdade, o dever de trabalhar para o bem-estar social e económico do cidadão, e a capacidade de defender os direitos naturais e sociais do homem, seja de qualquer cultura ou nacionalidade ao redor do planeta. Este humanismo explícito, muitas vezes atrita-se com o status quo social, do qual a religião é um dos seus pináculos básicos.

O Rito Moderno não considera a Maçonaria como uma ordem mística, embora os seus três primeiros graus em parte o sejam, baseados que estão no pensamento judaico-cristão. Ainda assim, o Maçom do Rito Moderno é naturalmente cientificista, laico e, portanto, pedagogicamente mais afeito à forma da aprendizagem do que ao seu conteúdo. Entende que a busca da verdade se realiza no Grau de Aprendiz pela intuição, no Grau de Companheiro através da análise e culmina no Grau de Mestre pelo desenvolvimento da capacidade de síntese, num processo lógico-racional baseado no pensamento científico contemporâneo.

Os padrões de conduta do Rito Moderno são racionais e cartesianos, enriquecidos na contemporaneidade, por um Humanismo essencialmente democrático e plural; características fundamentais para a coexistência num mundo globalizado.

Em 1822, o Grande Oriente do Brasil é fundado sob a égide do Rito Moderno, visto que, em 1802, Hipólito José da Costa trouxe de Londres e de Paris a Carta-Patente regularizadora do funcionamento do Grande Oriente Lusitano na então colónia brasileira. Sendo este, como todo Grande Oriente, praticante do Rito Francês, o GOB herda o Rito Moderno da metrópole lusa, conduzindo e irradiando a chama iluminista, emancipadora e libertária até os dias atuais.

Novas concepções iluministas: uma epistemologia maçónica

O poeta, dramaturgo e ensaísta William Butler Yeats (1865-1939), foi o ícone de uma geração de poetas simbolistas que marcou a literatura mundial no início do século XX. Emblemático representante único de uma renascença irlandesa, nos seus escritos recheados de fadas e fantasmas expressou uma ideologia que marcou a sua época [2]. Na sua obra, “Ensaios e Introdução” (1961), arrolou os seus principais pressupostos, que moldaram o seu trabalho:

Eu creio na prática e na filosofia do que concordamos chamar de Magia, no que eu posso chamar de invocação de espíritos. Nas visões da verdade, jacentes nas profundezas da mente quando os olhos estão fechados; e eu acredito em três doutrinas:

Que as fronteiras da mente se estão sempre deslocando e que muitas mentes podem derramar-se dentro de uma outra, e criar ou revelar uma única mente, uma única energia;

Que as fronteiras das nossas memórias se deslocam e que as nossas memórias são parte de uma grande memória, a memória da própria natureza;

Que esta grande mente e esta grande memória podem ser evocadas por símbolos [3].

Muito semelhante ao pressuposto preconizado pela pedagogia maçónica do rito moderno, baseada na formação de um homem aproximado aos ideais iluministas de um culto à Natureza, à investigação e à Razão, e no estudo dos símbolos; Yeats é um dos muitos exemplos de como gerações de escritores, filósofos e pensadores reescreveram no século XX a aventura iluminista ao longo do tempo, oficialmente inaugurada nos séculos XVII e XVIII na Europa anglo-saxónica e francesa, principalmente.

O que pretendemos desenvolver neste estudo é a hipótese de que os ideais iluministas preconizados pelos maçons franceses de então transmutaram-se em novos pressupostos, ainda em intenso uso na contemporaneidade por novos pensadores como Gilles Deleuze (1925-1995), entre outros, na ampliação de um rizoma [4] histórico-filosófico de direções inesperadas, mas possíveis de serem mapeadas e interpretadas nas suas similitudes.

Para Deleuze, a filosofia é criação de conceitos. Menos do que platonicamente fazer perguntas, é propor alternativas, levantar questões, posicionar, no cenário filosófico, novas categorias.

Correntes minoritárias de pensamento oferecem-nos oportunidades de pensar em transformações inesperadas pelo senso comum. Ser um animal, por exemplo, segundo o pensamento deleuziano, significa ter e habitar uma natureza e um mundo unicamente seu, diferente da humanização simplificante da categoria humana. Na diversidade rizomática do universo, animais simples como o carrapato representam numa existência mínima, o que é uma vida de qualidade concentrada em poucos e profundos instintos básicos. Ter um mundo e viver num mundo construído todo em e por estímulos interessantes por serem muito reduzidos, básicos e simples na sua natureza. No animal, dois ou três atos geram um mundo todo e completo em si. O animal ilustrado deleuziano faz Arte e cria território [5].

Tais procedimentos caracterizam, por exemplo, um escritor como Yeats. Para além de posturas convencionais, as suas posturas animais de territorialização, a espreita enquanto arte, representa uma característica do Maçom-pensador do rito moderno, inspirado no mundo animalizado. Nas suas linhas de fuga do institucional, ao buscar a liberdade absoluta de pensamento, Deleuze, assim como Yeats, procura o que pode romper a dominação do óbvio, encontrando no inédito um outro mundo; um novo mundo que, apesar de avesso às teologias, vai além do racional.

Animais emitem símbolos e não param de fazer isso. Assim como os escritores que não escrevem exclusivamente para certos leitores. Eles escrevem no lugar de. Emitem códigos para uma posteridade de analfabetos, especialistas, técnicos, idiotas, génios e outros animais muito diferentes dele, expandindo o rizoma sem fim das representações.

É o caminho para a utopia da escrita de uma História Universal. Tudo é, basicamente, assim como a ânsia de sangue do carrapato, baseado em diferença e repetição, e como se pode dosar isso. “Repetir, repetir, até ficar diferente”, dizia o poeta Manoel de Barros [6]. A repetição, quando livre e complexa, gera a diferença. Uma nova maneira de se interpretar o livre -pensar iluminista. A leitura do ritual, pelo menos no que toca ao Rito Moderno, não pode se dar como mera aula de teoria; um cubo de pensamento jogado no espaço-tempo. Para Deleuze, assemelhando-se aos maçons iluministas, é preciso partear, gerar a aula, emprenhar-se dela; impregnar-se, ensaiá-la e exercitá-la para todo o tipo de público e de discurso. Universalizá-la. Pensamento e ação integrados. Ambição ilustrada. Deleuze, assim como os novos iluministas do século XXI, pensa em línguas de múltiplas tribos, e não apenas a filosófica ou a histórica.

Imanência-problema-conceito. Eis a fórmula do novo plano de pensamento iluminista.

Não existe conteúdo novo sem expressões novas. Filosofia é criação de conceitos. Para Deleuze, o conceito não é uma definição; é sim, imanente, inseparável do objecto. Criar imanentemente requer um plano conceitual arbóreo [7]. Conceito é criar e organizar um novo pensamento, associando acontecimentos para pensar novos problemas.

A epistemologia maçónica segundo Deleuze é rizoma ou árvore? A resposta seria, para além da análise da ordem maçónica, na sua conformação na actualidade, buscar entender a epistemologia que lhe dá fundamento. Os iluministas franceses, do rito moderno principalmente, assim como Deleuze, entendiam que na Natureza estariam os signos mais representativos do plano de pensar a categoria humana. Enfim, a transmutação do antigo para um novo Humanismo.

A questão que aqui se levanta agora é: Este novo humanismo é arbóreo ou rizomático?

Para Deleuze, é expansão e conectividade puras. A árvore, por outro lado, tem forma e sentido. Começa num ponto e prossegue linearmente até um ponto futuro. A Maçonaria enquanto práxis de uma sociedade de conhecimento expande-se pelo mundo em agenciamentos coletivos que criam inusitadas e imprevisíveis associações de relações humanas. Ao mesmo tempo em que a Ordem se expande no Brasil, ela retrai-se na Holanda, na Guiné ou no Haiti. Neste aspecto, é puramente rizomática. Signo e tese aliam-se num agenciamento único, que tem a capacidade de penetrar no pensamento universal, em todas as culturas do planeta; sem idealismos cerceantes arbóreos do tipo de conceito dentro-fora, por exemplo. A Maçonaria é uma e múltipla ao mesmo tempo; integrada à Humanidade e à parte, ao mesmo tempo, conquistando e desterritorializando espaços.

Curiosamente, penso que o cerne da epistemologia maçónica é arbóreo, ao estipular e tentar manter juramentos a Landmarks antigos e imutáveis ao longo dos séculos. Das multiplicidades humanas exalou o múltiplo regimento que caracteriza os estatutos que conformam os códigos de conduta da árvore maçónica.

As falsas multiplicidades arbóreas no entanto, são expostas pela real multiplicidade rizomática. A ocupação dos territórios dá-se pela expansão de linhas de fuga múltiplas. Desterritorialização e territorialização de novos espaços, configurados em pessoas de todas as raças, credos, lugares e culturas, a Maçonaria configura-se na sua expansão como máquina de guerra deleuziana, pois desterritorializa o Estado na sua macro política e se opõe às suas intenções imediatas, humanizando o que era meramente estatal.

O novo iluminismo do rito moderno, portanto, anuncia-se e caracteriza-se pela sua tolerância e uma forte crença no combate às ideias arbóreas fanatizantes, que vão contra a construção de uma sociedade global baseada na ilustração e avessa a tiranos, sejam do clero, sejam da política menor; não como foi no passado, mas a partir da ação sobre mecanismos sociais e mentais mais profundos e muito mais elaborados.

Como no pretérito, o novo iluminismo revive a crença no progresso, mas, a partir do pensamento deleuziano, perde a ilusão de que este se dê de forma linear e automática, passando a entendê-lo como contingente, e, a partir das ações do indivíduo consciente da sua significação; parte da filosofia maçónica que prega que o bem-estar de todos é o único modo de progresso humano e social relevante. Tal progresso neste caso, não é mera construção da técnica e da racionalidade puras, mas construção intencional e arbórea pela qual o homem decide o que se deve produzir na posteridade.

O iluminismo mantém a sua fé na ciência, mas percebe que ela deve ser socialmente controlada por meio de fins e valores emanados deste mesmo território humano esclarecido.

A epistemologia maçónica do rito moderno, ao resgatar um ideal de cosmopolitismo, carrega como bandeira mais cara a doutrina dos direitos humanos, pleiteando para a devida territorialização e incorporação social destes pressupostos, profundas reformas sociais e políticas ao longo dos tempos para seu efetivo fluxo.

O novo iluminismo conforme entendido pelo rito moderno continua a combater os ilegítimos poderes, que se caracterizam, por não se adequar ao projeto acima exposto; mas não se ilude em se perder num infrutífero combate a um leviatã tirânico e despótico, pois percebe que este combate se dá molecularmente, na difusa rede estrutural de indivíduos que compõem a sociedade.

O exercício de uma razão plena, mas permeada por uma consciência dos efeitos rizomáticos deste exercício é a tarefa deste novo iluminismo.

Uma nova razão crítica intenta fazer a própria crítica dos limites dentro-fora de uma racionalidade consciente da sua coexistência com esferas de irracionalidade. Deve ainda, estabelecer princípios éticos; território onde entra a ordem epistemológica maçónica em âmbito geral; que busca, ao manter a sua tradição de centro de união, vincular este constructo à contemporaneidade, em solo social prenhe de novos significados produzidos pela multiplicidade dos sujeitos sociais; elaboradores e consumidores de argumentos críticos baseados nas suas múltiplas motivações subjacentes que, arboreamente, devem ser adaptadas aos princípios maiores e generalizantes de uma sociedade que se pensa para todos; baseada na busca do esclarecimento, da justiça e da autonomia.

Para Deleuze, a filosofia não deve ser abstrata, exclusiva dos entendidos ou iniciados. Assim como os iniciados pela Maçonaria, ele entende que compete aos estudiosos de qualquer área pintar retratos que abordem com respeito os conceitos filosóficos após anos de preparação.

Considerações finais

Entender o iluminismo do rito moderno na atual Maçonaria, como é, mais do que pregado, praticado, requer longa preparação, que este estudo incipiente apenas arranha ainda. Como em tudo o que se faz, é preciso trabalhar-lapidar constantemente e com afinco a ideia, seja de um novo iluminismo, seja a de uma epistemologia maçónica ancorada na contemporaneidade. Entre estes pontos de fuga, ensaiamos encontrar algumas ligações com o pensamento filosófico deleuziano: Um filósofo não é alguém que contempla e reflete. Um filósofo é alguém que cria. Cria conceitos, novas ideias que desterritorializam conceitos anteriores. O conceito novo deve ser tratado como dúvida humilde por longo tempo, como um cachorro em quem não se confia inicialmente, colocado à prova frente a outros conceitos para testar o seu valor.

Quando se afirma: Há um novo iluminismo vigorando, deve-se questionar em relação aos que não o crêem, pois só assim o conceito hipotético se poderá transmutar em ideia estabelecida. É óptimo que o conceito de um novo iluminismo e de uma precisa epistemologia maçónica nele baseada levante questões, pois só assim, trazendo e amalgamando questões de outros, o conceito se fortalecerá pelos embates.

Problemas levantados fortalecem os novos conceitos. Ulisses não seria o que foi sem os pretendentes à sua Penélope (H de História da Filosofia. In: O Abecedário de Gilles Deleuze. Pp. 43-51 )

Por fim, existe um novo iluminismo? Há uma epistemologia maçónica a ser traduzida a partir do cabedal filosófico do rito moderno? Os problemas estão colocados. Espera-se que evoluam. Não há certezas, apenas questões; forças históricas e sociais encarregar-se-ão de tratá-los no devir. Os problemas estão constituídos. Busquemos-lhes os sentidos. Busquemos a transcendência. Libertemos os nossos pensamentos.

Notas

[1] Alexander-Louis Roettiers de Montaleau (1748-1807); ourives, medalhista e gravador de moedas do rei, auditor da Câmara contábil e director da casa da Moeda, em Paris. Presidiu a Câmara dos Graus do Grande Oriente de França entre 1799 e 1802. Herdeiro de considerável fortuna e um título de marquês concedido a seu pai, ainda assim, aderiu às novas ideias e demonstrou simpatia pela Revolução. Mesmo assim, foi preso durante o Terror, por esconder os arquivos da obediência. Por esta atitude, é personagem-chave da história da Maçonaria francesa.

[2] Yeats, mais do que meramente religioso, era um homem supersticioso, com um interesse acrítico por tudo que fosse mais ou menos esotérico, das grandes religiões orientais a histórias de fantasmas, passando pela teosofia de Blavatsky, alquimia e magia (foi membro, entre outras, da Sociedade Hermética de Dublin, da Ordem da Aurora Dourada e da Segunda Ordem da Rosa de Ouro; onde se praticavam o tarot, a “clarividência” e a projecção astral. Antecipa, de certa forma, o irracionalismo militante (incluindo o modismo dos vários orientalismos) que se tornaria uma tendência crescente na cultura ocidental a partir dos anos 60. O que o distingue, é o que faz com a matéria cultural de que se alimenta: alguns dos poemas mais sublimes da língua inglesa.

[3] YEATS, W.B. The autobiography of William Butler Yeats. N. York, Macmillam, 1957. apud. EBON, Martin. Eles conheceram o desconhecido. São Paulo: Pensamento, 1977.

[4] Rizoma é um modelo descritivo ou epistemológico na teoria filosófica de Gilles Deleuze e Félix Guattari. A noção de rizoma foi adoptada da estrutura de algumas plantas cujos brotos podem ramificar-se em qualquer ponto, assim como engrossar e transformar-se num bolbo ou tubérculo; o rizoma da botânica, que tanto pode funcionar como raiz, talo ou ramo, independente da sua localização na figura da planta, servindo para exemplificar um sistema epistemológico onde não há raízes; ou seja, proposições ou afirmações mais fundamentais do que outras; que se ramifiquem segundo dicotomias estritas. Deleuze e Guattari sustentam o que, na tradição anglo-saxã da filosofia da ciência, costumou-se chamar de anti fundacionalismo: a estrutura do conhecimento não deriva, por meios lógicos, de um conjunto de princípios primeiros, mas sim elabora-se simultaneamente, a partir de todos os pontos sob a influência de diferentes observações e conceitualizações. Isto não implica que uma estrutura rizomática seja necessariamente flexível ou instável, porém exige que qualquer modelo de ordem possa ser modificado.

[5] Ao utilizar o conceito deleuziano de Território e Desterritorialização, pretendemos concentrar-nos no sentido relacionado às questões físicas e antropológicas da humanidade. Não a um território geográfico, mas sim ao que tange ao próprio homem enquanto espécie, deixando o seu território natural, saindo da sua “floresta” e entrando na sua “cidade”. “O homem é um animal despojando-se da espécie” (DELEUZE, 1955). Se observarmos a natureza com um pouco de atenção, perceberemos que embora tenhamo-nos distanciado daquele território original, ainda estamos envolvidos com a nossa “essência” desta natureza. Este processo de desterritorialização e reterritorialização, quando mais lento, era provavelmente menos sofrido ou traumático, pois a lentidão milenar é algo totalmente diferente deste novo processo pelo qual passa a humanidade; um processo em aceleração progressiva, não mais milenar. Há algum tempo passou a ser secular e agora estamos “transformando-nos” em décadas e quem sabe apenas a cada novo ano.

[6] BARROS, Manoel de. O livro das Ignorãças. 2 ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993. pág. 13. Toda repetição é uma celebração das formas finitas e transitórias. Para cada aparição, a surpresa de um desvelamento, uma notação diferente que se dissolve no instante, de modo que não podemos afirmar que o objeto é sempre o mesmo, idêntico. A incompletude é o que determina o retorno para dar continuidade e recomeçar mais uma vez. Por ser inacabada, a acção de pensar, por exemplo, pode recomeçar de qualquer ponto, numa agitação aleatória sem tempo para terminar. Desta forma, expõe-se a precariedade dos pontos de referência: o início, o meio e o fim. O duplo rasura a ilusória coerência da unidade, esse pilar que sustenta nossas arrogâncias religiosas e filosóficas.

[7] Conceitualizado por Deleuze, o modelo de pensamento arbóreo é o oposto do rizoma. Num modelo arbóreo de organização do conhecimento, como as classificações das ciências, o que é afirmado dos elementos de maior nível é necessariamente verdadeiro também para os elementos subordinados, mas o contrário não é válido; já num modelo rizomático, qualquer afirmação que incida sobre algum elemento poderá também incidir sobre outros elementos da estrutura, sem importar a sua posição recíproca. O rizoma carece, portanto, de centro, característica que o torna particularmente interessante na filosofia da ciência, e também para a semiótica e as teorias da comunicação contemporâneas.

Bibliografia

ANTUNES, Álcio de Alencar. O Rito Moderno no Contexto da Maçonaria Universal. In: Supremo Conselho do Rito Moderno. O Rito Francês ou Moderno: A Maçonaria do Terceiro Milênio. Londrina, PR, Ed. Maçónica A Trolha, 1994

BAPTISTA, Antonio Samuel. Rito Moderno: Uma Interpretação. In: Supremo Conselho do Rito Moderno. O Rito Francês ou Moderno: A Maçonaria do Terceiro Milênio. Londrina, PR, Ed. Maçónica A Trolha, 1994.

BARROS, Manoel de. O livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2ª – Ed., 1993.

CASTELLANI, José. Manual do Rito Moderno. Editora A Gazeta Maçónica, 1991.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo, Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 1999.

DELEUZE, Gilles. Instintos e instituições. In: ESCOBAR, Carlos H (org.). Dossier Deleuze. Rio de Janeiro, Hólon, 1991.

EBON, Martin. Eles conheceram o desconhecido. SP, Pensamento, 1977.

GAGLIANONE, Paulo César. Graus filosóficos do rito moderno ou francês; considerações históricas. São Paulo, Gazeta Maçónica, 2ª – Ed., 2014.

WIKIPÉDIA. Rito Moderno. in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rito_Moderno

YEATS, W.B. The autobiography of William Butler Yeats. York, Macmillam, 1957.

Essays and introduction. New York, Macmillan, http://www.questia.com/library/643795/essays-and-introductions#/

NIVELANDO POR CIMA - Roberto Ribeiro Reis



Nivelando por cima,

Um dia eu me aprumo;

Preciso achar um rumo,

Para melhorar a estima.


O esquadro legitima

A retidão como insumo;

O compasso é suprassumo,

E a matéria subestima. 


A egrégora muda o clima,

E o escriba faz o resumo;

A oratória eu consumo,

Para que a paz se exprima.


Os Vvig.⛬ fazem a Obra Prima,

O Venerável é a Luz que presumo;

Fecha-se a Loja, eu me arrumo, 

E meu espírito se anima. 






março 04, 2023

A TOLERÂNCIA - Charles Evaldo Boller



Dentro daquilo que a Maçonaria preconiza como ideal, a mente do Maçom equilibrado não tolera tudo. É incentivado a ser inimigo figadal dos que tolhem a liberdade das massas e tentam agrilhoar a ele ou seus irmãos. Recebe treino para repudiar emoções desenfreadas, que induzem à tirania e conduzem ao despotismo. É intransigente com a intolerância desenfreada que conduz a perseguição ou a ignorância das massas conduzidas por homens inescrupulosos. A sua tolerância deve ser tal que não fique posando qual ingénuo, que confunde tolerância com licenciosidade.


A Maçonaria educa aqueles que são iniciados nos seus segredos porque é da sua crença que um povo desenvolvido não pode ser escravizado e um povo ignorante não pode ser libertado. O verdadeiro Maçom é um estudioso prático, um intelectual que age. Sem estudo não existe progresso. Sem discussão e exercício do pensar não existe evolução.


A história da Maçonaria tem cerca de dois séculos. Afirmar que seja mais velha é apenas vaidade de uns poucos que acreditam que quanto mais no passado estiver a origem de uma organização maior é a sua credibilidade e grandeza. E neste espaço de tempo ela já angariou miríades de inimigos implacáveis e vingativos, sempre movidos pela intolerância, ignorância e escravidão mental e espiritual. No Brasil, um grande exemplo de intolerância com a escravidão física, mental e espiritual proveio do homem Maçom Deodoro da Fonseca. São da sua iniciativa: institucionalizar o casamento civil, tornar sem efeito jurídico o matrimónio religioso; instituir o registo civil; proibir o ensino de religião em escolas públicas; tirar os cemitérios do domínio das igrejas, secularizando-os; promulgar o Código Penal que extinguiu a pena de morte em tempo de paz no Brasil. Mesmo que tenha dirigido o país por curto tempo sob ditadura, ele é um exemplo do homem Maçom que actuou na defesa das liberdades constitucionais e direitos inerentes ao povo. Usava da tolerância e da intolerância com equilíbrio.


É treinando os seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania, fanatismo, brutalidade e ignorância. O facto de desenvolver a tolerância, não significa que seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal orientados, mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento há bastante tempo. No exercício da tolerância e no seu treino a Maçonaria ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o Maçom filosofa, faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o outro Maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de morrer para defender o pensamento de seu irmão.


Ao Maçom é ensinado que o filosofar é pensar sem provas, isto exige tolerância, mas perseverar num erro é para ele uma falta que deve ser combatida, é a intolerância disparada pela ultrapassagem aos limites estabelecidos. É o limite do que é tolerável. Parte do princípio que ao intolerante imoral falta mesmo é inteligência, é desprovido de liberdade e não quer por isto dar liberdade aos outros. Para o Maçom a liberdade de espírito vem da experiência e da razão exercida com tolerância limitada, pois só assim ela é efectiva.


E como a necessidade de tolerância surge apenas em questões de opinião, então nas suas discussões ou estudos, normalmente é de praxe ao Maçom sábio fazer severos exercícios de dicotomia, apresentar as mais diversas linhas de pensamento para qualquer verdade que defenda; deixa-se para o irmão ouvinte tirar as suas próprias conclusões daquilo que postula no seu constante filosofar.


O Maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exactamente porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo alienante de uma pessoa ou instituição.


Com humildade aceita que não há tolerância quando nada se tem a perder, haja vista que tolerar é se responsabilizar, porque uma tolerância que responsabiliza o outro já não é mais tolerância. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que outros são vítimas, o horror que o poupa, já não é mais tolerância; é indiferença, egoísmo ou algo pior. Antes ódio, antes fúria, antes violência do que a passividade diante do horror, do que a aceitação vergonhosa do pior! Pela imposição de limites que o homem Maçom se impõe em resultado do seu treino, uma tolerância universal seria tolerância do atroz. E quando levada ao extremo, a tolerância acabaria por se negar a si mesma.


A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua própria salvaguarda e da preservação das suas condições e possibilidades. Se o Maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância. O treino maçónico revela que uma sociedade em que uma tolerância universal fosse possível, já não seria humana. As conclusões da ordem maçónica levam seus adeptos a verificar que a tolerância é essencialmente limitada, pois uma tolerância infinita seria a fim da própria tolerância. Não se deve tolerar tudo, pois destina a tolerância à sua perda. Também não se deve renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Aquele que só é justo com os justos, generoso com os generosos, misericordioso com os misericordiosos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo facto do injusto não poder se queixar.


Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade. Moralmente condenável e politicamente condenada, uma tolerância universal não seria nem virtuosa nem viável. A tolerância como força prática, como virtude, tem os seus fundamentos alicerçados no facto de que a fraqueza humana resulta da sua incapacidade de alcançar o absoluto.


A prática das oficinas maçónicas, naquelas aonde permanentemente é exercitada a capacidade de pensar, discutir, debater, ouvir e calar revela que a evidência é uma qualidade relativa. Mesmo que algo pareça exacto, verdade, correcto, pode no decurso de um debate mostrar que não é absoluto, daí nunca se admitir que uma verdade é absoluta e final. As discussões, longe de afastar um irmão do outro, aproxima-os quando praticam dentro dos limites impostos pela tolerância que todos os seres humanos, indistintamente, são constituídos de fraquezas e de erros. Com isto em vista, o verdadeiro homem Maçom, aquele que está desperto e activo, perdoa as tolices que o outro comete e aguarda que aquele irmão de pensamento equivocado acorde da sua inconsciência, dando cumprimento para com esta primeira lei da sua natureza: a falibilidade.


A grande salvaguarda do homem Maçom quando se contrapõe aos tiranos, é o conhecimento de que aquele, mesmo que possua nas suas mãos o poder absoluto, não tem condições de impô-lo a ninguém, porque não poderia forçar um indivíduo a pensar diferente do que pensa, nem a crer verdadeiro o que lhe parece falso. Esta a razão da Maçonaria ter sido hostilizada e proibida desde quando surgiu na França e Holanda, países onde foi proscrita logo no início da sua expansão. É no pensamento que o Maçom deve ser livre de forma absoluta, pois não há liberdade nem sociedade próspera sem inteligência.


A tolerância é tema fundamental da Maçonaria, inclusive a sua existência é devida a ela, pois nasceu em decorrência da intolerância entre facções políticas e religiosas. É uma tolerância calcada na definição de limites claros. Ultrapassou o limite definido pelas leis em vigor na sua linha de tempo, não tem comiseração, o castigo deve ser aplicado com todo o rigor ou a sociedade fenece.


Cada Maçom é estimulado de forma diferente pelo ensino da Maçonaria. O lastro que carrega mostra que o principal aspecto da ordem maçónica é o desenvolvimento de princípios morais calcados na espiritualidade. A simbologia, a ritualística e toda a filosofia envolvida, sempre no seu centro destaca a espiritualidade. O meio para desenvolver em espírito, apesar de ressaltado, não fica tão evidente. Apenas os mais sensíveis e aplicados a desenvolvem. Existem homens Maçons já bem antigos na ordem maçónica que sequer sabem de facto o que alguns símbolos representam. Um exemplo é o símbolo composto formado pelo esquadro, compasso e o livro da lei, onde o olho perspicaz visualiza um homem circunscrito por uma estrela de cinco pontas, significando a criatura religada ao Grande Arquitecto do Universo por laços de carne, pela espiritualidade encarnada. E disto se deduz a união com o Grande Arquitecto do Universo, a sua religação com a divindade.


A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia, onde esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquitecto do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre si.


Bibliografia

BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora Ltda., 368 páginas, São Paulo, 2004;

BENNETT, William John, O Livro das Virtudes, Antologia, título original: A Tresaury of Great Moral Stories, ISBN 85-209-0672-9, primeira edição, Editora Nova Fronteira S/A, 534 páginas, Rio de Janeiro, 1993;

CAPRA, Fritjof, A Teia da Vida, Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos, título original: The Web of Life, a New Scientific Understandding Ofliving Systems, tradução: Newton Roberval Eichemberg, ISBN 85-316-0556-3, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 256 páginas, São Paulo, 1996;

COMTE-SPONVILLE, André, O Espírito do Ateísmo, título original: L’esprit de L’théisme, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 978-85-60156-66-5, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 192 páginas, São Paulo, 2007;

COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 392 páginas, São Paulo, 1995;

GREGÓRIO, Fernando César, Chaves da Espiritualidade Maçónica, ISBN 978-85-7252-236-6, primeira edição, Editora Maçónica a Trolha Ltda., 184 páginas, Londrina, 2007;

ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, 140 páginas, São Paulo, 2007;

SOUTO, Élcio, O Iniciado, Drama Cósmico Maçónico, ISBN 85-7374-331-X, primeira edição, Madras Editora Ltda., 106 páginas, São Paulo, 2001.

SIMBOLISMO MAÇÔNICO NO VODU HAITIANO - Tony Kail



As práticas da religião tradicional africana se manifestaram como diversas culturas espirituais em todo o Caribe. À medida que os africanos eram tomados como escravos de suas terras natais, as tradições indígenas de cura e espirituais da religião africana entraram no solo da ilha de Hispaniola. As práticas espirituais sobreviventes da África podem ser vistas no Haiti e na República Dominicana de diferentes formas. No Haiti, a religião formou o que conhecemos como ‘Vodu’, um termo do povo Fon da região de Daomé, na África Ocidental, que significa ‘espírito’. A religião de Vodu concentra-se na adoração de espíritos conhecidos como ‘Loa’, que governam a natureza e a humanidade. O culto envolve vários rituais mágico-religiosos, a criação de santuários sagrados e a interação com deidades.

Ao olharmos para a religião do vodu de base haitiana, podemos ver uma estética maçônica familiar. O esquadro e o compasso, o uso da letra ‘G’ e várias ferramentas maçônicas podem ser vistos entre os diferentes rituais e santuários do Vodu. Ao olharmos mais profundamente para a cultura, também podemos ver várias práticas e símbolos encontrados na Maçonaria

História

O domínio francês da ilha de Hispaniola estabeleceu a colônia de São Domingos de 1659 a 1804 na área do que hoje conhecemos como Haiti. A Maçonaria foi oficialmente estabelecida na colônia quando duas lojas lá foram estabelecidas em 1749. Em 1778, uma Grande Loja Provincial também foi estabelecida sob a direção do Grande Oriente da França.

Os escravos eram inicialmente proibidos nas lojas porque eles eram obrigados a serem ‘nascidos livres’; no entanto, algumas pessoas livres de cor foram admitidas em lojas onde muitos alcançaram sabedoria maçônica. Alguns viajaram para a França e se tornaram membros de lojas. Escravos libertados de Saint Domingue eram registrados como membros da loja em Bordéus, França. Ao voltarem à ilha, alguns membros estabeleceriam lojas com base em sua familiaridade e associação com a maçonaria.

A historiadora Sally McKee observou que “a Maçonaria de Rito Escocês ligava a colônia de São Domingos e Bordéus. As lojas maçônicas estabelecidas no Caribe francês faziam parte de uma rede transatlântica, cuja loja mãe ficava em Bordéus. ” Stephen Morin, considerado por alguns como o fundador do Rito Escocês, estabeleceu várias Lojas Escocesas em Saint Domingue, assim como o fez Martinés de Pasqually, o fundador da ordem esotérica conhecida como ‘Eleitos de Cohën’. A ordem de Pasqually combinava operações angélicas, magia cerimonial e Maçonaria de Rito Escocês como um caminho para devolver o homem ao seu estado antes da queda Adâmica. Morin era membro da loja de Bordéus e em Saint Domingue iniciou uma loja ‘Escocesa’ ou ‘Scots Masters’ na cidade de Le Cap Francais.

O impacto da Maçonaria sobre a cultura Vodu pôde ser visto na vida de uma das figuras históricas mais reconhecidas do Vodu no Haiti. François-Dominique Toussaint Louverture, o líder da Revolução Haitiana, era um ex-escravo e, segundo alguns historiadores, era maçom. No entanto, muitos baseiam sua afiliação à Maçonaria com base no uso de uma possível assinatura maçônica que ele usava ao assinar documentos. Um dos outros líderes da revolução haitiana, Jean-Jacques Dessalines, que mais tarde se tornou o governante do Haiti sob a constituição de 1805, era um maçom conhecido e tinha grande influência na cultura haitiana local. O conhecimento maçônico também seria disseminado nas práticas de algumas das sociedades secretas da África que também operavam em segredo na ilha.

Reflexos da Maçonaria

Alguns dos reflexos sutis da Maçonaria no Vodu estão refletidas no uso de termos culturais como “Grão-Mestre”, um termo usado para descrever Deus ou “Grand Met Bondye”, o “bom Deus”. Práticas maçônicas, incluindo o uso de senhas, gestos e apertos de mão, podem ser vistos em rituais e várias iniciações na religião Vodu. Um exemplo disso pode ser visto como o sacerdote conhecido como ‘Houngan’ cumprimenta os sacerdotes com um aperto de mão sagrado. Isso acontece quando sacerdotes concorrentes se reúnem. Donald J. Cosentino, professor de inglês e artes e culturas mundiais da UCLA, observou que ‘quando os oungans concorrentes se encontram no início das cerimônias, eles se cumprimentam com apertos de mão maçônicos elaborados”.

O panteão de deuses e deusas da religião Vodu é composto por vários espíritos conhecidos como ‘Loa’. Os ensinamentos que cercam o Loa falam de muitos espíritos como sendo maçons. O guerreiro Loa de ferro conhecido como Ogou e o Loa da encruzilhada conhecido como Legba são frequentemente chamados de maçons. Ogou é representado e simbolizado pela espada, um símbolo militar e uma ferramenta encontrada também na cultura maçônica. O simbolismo maçônico é abundante nas imagens do maçônico Loa Baron Samedi. Barão Samedi, Barão Kriminel e Barão La Kwa são espíritos associadas ao cemitério. O Barão usa uma cartola familiar, muito parecida com os paramentos de loja, e muitas vezes é retratado com símbolos maçônicos familiares de caixões, esqueletos e várias ferramentas maçônicas. Algumas imagens dos Barões são retratadas usando aventais maçônicos. O Loa Agassu, Linglenso e Agau também são vistos como Loa Maçônicos.

Vévé são símbolos tradicionalmente usados para invocar o Loa. Sacerdotes (Houngans) e sacerdotisas (Mambos) criam diagramas sagrados de fubá e vários pós para invocar as energias de divindades específicas. O esquadro e o compasso são refletidos no Vévé do Loa Ayizan e no Véve dos espíritos dos mortos, conhecidos como ‘Ghede’. No Vodu, o esquadro e o compasso também assumem o significado de simbolizar o masculino e o feminino unidos. Um escritor apontou que o Vévé do Loa Ayizan Velekete não só parece muito semelhante ao esquadro e compasso com sua sobreposição das letras ‘a’ e v ‘, mas também possui um componente filosófico que fala também de conceitos maçônicos. Ayizan Velekete é o protetor do templo e da pureza ritual e atua como defensor da moralidade. Na prática maçônica, o esquadro e o compasso falam dos ideais de corrigir nossas ações à medida que buscamos pureza e moralidade (Robinson 2013).

O santo padroeiro maçônico de João Batista também assume um papel importante no Vodu haitiano. O lendário sacerdote e estudioso de Vodu, Max Beavior, afirmava que João Batista ensinou a Jesus os segredos de Vodu. Sua importância também se reflete em uma música tradicional de Vodu. Como o dia de São João é um feriado comemorado na cultura maçônica, ele também é comemorado no Vodu haitiano.

Sigilo mágico em Botanica haitiana

Legrace Benson no trabalho Nou La, Nós Aqui: Lembrança e Poder nas Artes do Vodu Haitiano fala de como o maçônico ‘Olho que tudo vê’ ma;cônico pode ser visto em algumas das elaboradas bandeiras de lantejoulas (Drapos) usadas no Vodu haitiano. Benson afirma que a imagem veio de jesuítas e maçons que vieram para o Haiti. (Uma sacerdotisa de Vodu em particular com quem falei afirma que a Maçonaria introduziu a Cabala e o uso de segredo no Vodu.) Existem alguns relatos históricos que falam de exemplos de imagens esotéricas, como o tetragrammaton e o olho que tudo vê encontrado na decoração ritual de templos de Vodu no Haiti.

Acredita-se que a tradição maçônica tenha afetado a maneira pela qual algumas cerimônias de Vodu são realizadas. Milo Rigaud, em seu livro Secrets of Voodoo, afirma: “O houngan mais velho solicita a assistência de dois outros houngans – o mais antigo que ele puder encontrar – em virtude da prescrição esotérica que sustenta que três maçons juntos formam uma loja regular”.

Sociedades Secretas

Há sociedades secretas que existem na cultura haitiana de Vodu, como as sociedades Bizango e Sanpwèl. Referências maçônicas abundam nessas culturas, com a participação em ambas as sociedades observando 33 graus como na Maçonaria do Rito Escocês.

Os membros dessas sociedades utilizam várias formas de reconhecimento codificado. O antropólogo Wade Davis observa que muitas das sociedades, tais como a sociedade Bizango, utilizam uma série de signos e sinais ao entrar e sair de espaços rituais e cumprimentar uns aos outros. Existe um uso interessante da “inversão” simbólica em dar e receber tais sinais. O etnólogo Andrew Aptar conclui que “muitas trocas de sinais são reproduzidas em símbolos maçônicos e até mesmo apertos de mão, sugerindo uma apropriação de sinais europeus ou crioulos de poder e valor por meio de codificação secundária”.

Templos

O templo tradicional de Vodu é conhecido como Houmfort. A principal área ritual em que ocorre a maioria das cerimônias é conhecida como Peristilo e, muito parecido com as lojas maçônicas, possui peças de arquitetura específicas que simbolizam vários princípios espirituais.

Legrace Benson fala de uma cerimônia de Bizango onde o Olho Que Tudo Vê da Providência é pintado no poste central (Poto Mitan) no templo. Ela também documentou o líder de uma sociedade Sanpwèl que adornava seu templo com fotografias de si mesmo em paramentos maçônicos, além de vários símbolos de loja. Ela também observou o líder usando um avental maçônico branco enquanto criava um banho espiritual. Benson também observou caixões de madeira usados por muitas das sociedades secretas que são colocados ao lado de altares sagrados. O caixão é um símbolo da Maçonaria usado para representar a morte e a ressurreição.

Como maçom e estudante de estudos africanos, sou fascinado pelo encontro desses dois mundos. Lembro-me de que ambas as tradições contêm elementos que são mantidos em segredo para preservar sua sabedoria. Lembro-me de que ambas as tradições sobreviveram a anos de perseguição e demonização daqueles que vivem com medo e ignorância. Por fim, lembro-me que ambas as tradições mantiveram uma linhagem sagrada que fornecia comunidade, orientação e satisfação a milhares de iniciados.

Fontes

Vingadores do Novo Mundo, Laurent Dubois, Belknap Press, 2004

Cavaleiros Divinos: Os deuses vivos do Haiti Maya Deren, McPherson, 1983

Face dos deuses: Arte e altares da África e das Américas africanas, Robert F. Thompson, Museu de Arte Africana, 1993

Maçonaria e Vodu, Revista do Vodu, 2013

Hegel, Haiti e História Universal, Susan Buck Morss, Imprensa da Universidade de Pittsburgh, 2009

Instituto da Maison Impériale ď Haiti, http://www.imperialhaiti.fr/the-haitian-empire/freemasonry/

Placa do Livro de Morin Josef Wäges, The Plumbline: O Boletim Trimestral da Sociedade de Pesquisa do Rito Escocês, primavera de 2017, volume 24, №1

Sobre origem africana: Creolização e Conhecimento em Vodu haitiano Andrew Aptar, Etnólogo americano, Vol. 29, №2 (May, 2002), pp. 233–260

Artes Sagradas do Vodu haitiano, Donald J. Cosentino, Museu da Universidade da Califórnia, 1995

Segredos do vodu, Milo Rigaud, Editores das Luzes da Cidade, 2001

A Canção do Exílio: Edmond Dédé e as revoluções inacabadas do mundo atlântico, Sally McKee, Imprensa da Universidade de Yale, 2017

A máquina de plantação: Capitalismo atlântico em Saint Domingue francês e Jamaica britânica (Américas modernas) Trevor Burnard, University of Pennsylvania Press, 2018

Vodu no Haiti, Alfred Métraux, Pantheon, 1989

Tony Kail é escritor, Etnógrafo e Folclorista - Tradução: J. Filardo

Fonte: Bibliot3ca.

março 03, 2023

O HOSPITALEIRO - Rui Bandeira


O Hospitaleiro é o elemento da Loja que tem o ofício, a tarefa, de detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio destas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando, através da Grande Loja e do Grande Oficial com esse específico encargo, o Grande Hospitaleiro ou Grande Esmoler, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos membros.


Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros. Solidariedade que não significa cumplicidade em ações ilícitas ou imorais, ou encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral. O maçom deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes, não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque autodeterminado e, portanto, responsável pelos seus atos, bons e maus. Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos afetam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem.


Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno daquele que, nesse momento, precisa do calor dos seus Irmãos. Este auxílio, este conforto, esta presença, são coordenados pelo Hospitaleiro. Note-se que a palavra utilizada é “coordenados”, não “efetuados” ou “realizados”. O Hospitaleiro não é o Oficial que efetua as ações de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja destas ações. O Hospitaleiro é aquele elemento a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita.


É claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efetuar a tarefa, ou a delegar a mesma noutro Irmão que seja mais conveniente que a efetue. Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria, isso já não seria auxílio, seria perturbação. O Hospitaleiro assume, assim, em primeira linha, a tarefa de se informar do estado do irmão, de o auxiliar e confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado, nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou constantemente assediado pelos contatos dos demais, prejudicando a sua recuperação e o seu descanso, maçando-o, mais do que confortando-o. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio é fundamental…


A solidariedade maçónica pode traduzir-se em atos (visitas, execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece confiança no inseguro), no simples acto de estar presente ou disponível para o que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa, mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível…) ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões…). A escolha, a combinação, o acionar das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do que os atos generosos, mas anárquicos e descoordenados…


O Hospitaleiro deve estar atento ao surgir de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e atuar em conformidade. Mas não é omnisciente. Portanto, qualquer maçom que detecte ou conheça uma dessas situações deve comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, atuar, coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça. Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia é que sejam “todos por um”, não “cada um pelo outro, todos ao molho e fé em Deus”…


A solidariedade maçónica é assegurada, em primeira linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue com a vida. Porque cada maçom, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente!


E a solidariedade é algo que não se esgota em circuito fechado. Para o maçom, a beneficência é um simples cumprimento de um dever. As ações de solidariedade ou beneficência em relação a quem – maçom ou profano – necessita, em auxílio das organizações ou ações que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo Hospitaleiro.


O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito importante em qualquer Loja maçónica. Deve, por isso, ser desempenhado por um maço experiente, se possível um Antigo Venerável.


O símbolo do Hospitaleiro é uma bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçom dá para o Tronco da Viúva. Mão segurando o saco, no modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o Tronco da Viúva, o Hospitaleiro exibe o saco contendo estes óbolos perante a Loja, demonstrando estar à disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material. Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu adequado e útil uso.



OLHO DA PROVIDÊNCIA - Luiz Castro M.'.M.'


Considerado por alguns um símbolo da onisciência divina e para outros uma influência sinistra, o olho da providência ou olho que tudo vê, como também é conhecido, é sem duvida um dos símbolos mais poderosos e utilizados do mundo. 

Entretanto, embora possua uma representação simples, devemos conhecer quais são os significados e história associados a este símbolo.

Acredita-se que o olho que tudo vê, nasceu há milhares de anos e se dispersou entre as antigas culturas, embora em quase todas elas com um significado semelhante, evocando uma força ou deidade vigilante que nos protege e ajuda; ou uma clara alusão ao despertar do espírito humano.

Não obstante, uma das primeiras referências conhecidas deste símbolo aparece no Rigveda, um dos mais antigos textos da humanidade, que data do ano 3000 antes de Cristo. 

Nele se faz referência a deidades oculares como Shiva, deus hindu que possui um terceiro olho no meio da testa em representação do conhecimento ilimitado, que ao se abrir, é capaz de destruir o mal. 

O terceiro olho também é relacionado com o despertar espiritual das pessoas

Conforme a cultura egípcia, sua origem é atribuída ao mito do olho de Hórus, o qual relata que depois de batalhar com o deus Seth, este haveria recebido um olho com poderes mágicos, com o que reviveria a seu pai, Osíris, se convertendo assim em um símbolo de vida e ressurreição. Embora uma interpretação mais atual, sugere que o olho de Hórus representa um mapa da certeza cerebral, onde representa o tálamo, a glândula pituitária e pineal. 

Esta última conhecida como o centro da consciência divina.

No oriente médio este símbolo pode encontrar-se na forma de uma mão, normalmente direita com um olho em seu interior, que é conhecida como Hamsa. 

Um talismã que protege do mau-olhado, cuja origem se encontra em outro símbolo da proteção divina, a mão da deusa Ishtar.

Para o cristianismo, o olho da providência data do século XVI e se compõe de um olho dentro de um triângulo, rodeado por raios de luz brilhantes. 

Figura geométrica que representa a Santíssima Trindade que em seu conjunto significa a omnipresença de Deus e sua observação constante da criação.

Do mesmo modo, embora não começou a ser usado desde 1797, este símbolo se tornou em um dos mais usados dentro da Maçonaria, onde por sua similitude com a letra grega delta, se conhece como delta luminoso e representa ao grande arquiteto do universo.



março 02, 2023

IRMÃO ADORMECIDO


Muitas vezes ouvimos alguém dizer assim: "aquele Irmão está adormecido", aquele ali é um Maçom adormecido", e outras palavras parecidas.


Mas afinal, o que é um "Irmão Adormecido"? Se tiver uma resposta como por exemplo, que é aquele Irmão que pediu seu Quite Placet e está há muito tempo sem frequentar uma Loja Maçônica, podemos até concordar em certo ponto, porém, há outra forma de intitular um verdadeiro "Irmão Adormecido", ou até mesmo num "Coma Induzido".


O Irmão adormecido por muito tempo, na verdade, é como um passarinho caído do ninho, que desaparecerá sem deixar vestígios, mas, temos também aquele que encontramos em "todas".


Num ponto de vista, o Irmão Adormecido é aquele que está Regular com sua Loja, que está em em dia com as suas mensalidades, com as mútuas, que vez ou outra participa do ágape, mas, quando participa, está presente em algumas Sessões apenas para cumprir com o número regular de presença.


O Irmão Adormecido é também aquele que quando comparece aos trabalhos, muitas vezes atrasado, não sabe o seu lugar na formação do cortejo de entrada, abre a sua pasta e não encontra seu ritual, quando o encontra não sabe a página em que deve abri-lo, não sabe o que deve ler ou falar quando ocupa um cargo e por aí vai.


Irmão Adormecido é também aquele que durante os trabalhos está de olhos fechados, acreditando que aqueles que o estão vendo, acha que está meditando sobre as instruções que estão sendo transmitidas, no entanto, com o pensamento lá fora, olhando para o relógio e contando os minutos para o encerramento da Sessão, muitas vezes já ansioso para saber o cardápio do ágape.


Irmão Adormecido é aquele que só retira o seu Ritual no dia da Sessão, que não lê, que não escreve ou apresenta uma Peça de Arquitetura, sempre com a desculpa de que não teve tempo para isso.


Irmão Adormecido é aquele que só é reconhecido como Maçom perante seus Irmãos em Loja, vestido com seu Avental mas, longe dali, se torna um simples mortal, um profano.


Portanto, não podemos esquecer aquele Irmão regularmente adormecido, ou seja, que está quite com sua Loja mas, nunca deixou de colocar em prática os ensinamentos que  obteve em Loja, que nunca deixou de ler livros e Peças de Arquitetura, que nunca deixou de estender suas mãos a um outro Irmão.


Na prática, o Irmão adormecido é aquele que está de posse do quite Placet, embora temos também o Maçom entorpecido, aquele que está regular porém inativo em relação aos trabalhos Maçônicos. Se movimenta como um ser sem vida e incapaz de olhar para os lados onde estão seus irmãos.


Então, antes de intitularmos um Irmão Adormecido, temos primeiro que avaliar sua conduta, sua inteligência, sua capacidade, suas qualidades e principalmente seu caráter e personalidade no mundo profano, muitas vezes melhor que um Irmão Regular.


(Desconheço autor)

CALENDÁRIO MAÇONICO

    


     O calendário maçônico é a maneira particular utilizada pelos maçons para numerar os anos e designar os meses.

    O ano um do calendário maçônico é o Ano da Verdadeira Luz – Anno Lucis em Latim. Ele marca o início da Era da Verdadeira Luz (VL). Antes que o Anno Lucis aparecesse a partir do século XVIIIe nos documentos ingleses, os temos Anno Masonry e depois Anno Latomorum , Anno Lithotomoru ou Anno Laotomiae(Era dos Cortadores de Pedra)1. A datação do Ano da Verdadeira Luz seria baseada nos cálculos de James Ussher, prelado anglicano nascido em 1580 em Dublin. Ele tinha desenvolvido uma cronologia começando com a criação do mundo segundo o Genesis que ele estimava em 4000 A.C. baseando se no texto Massorético ao invés da Septuaginta 2.

    O Pastor Anderson a defendeu em suas Constituições de 1723 para afirmar simbolicamente a universalidade da Maçonaria através da adoção de uma cronologia supostamente independente de particularidades religiosas, pelo menos no contexto britânico da época . A data escolhida para o início da Era maçônica é 4000 antes da Era Comum.

    O ano maçônico tem a mesma duração do ano gregoriano, mas começa em 1o de Março como o ano Juliano ainda em vigor na época da redação das Constituições de Anderson. Ela tomou o milésimo do ano gregoriano em andamento e aumentou 4000, os meses são designados apenas por seus números ordinais.

Exemplos: 29 de Fevereiro de 2004 era o 29o dia do 12o mês do ano 6004 da Verdadeira Luz

O ano maçônico tem duas festas: São João de Verão (João Batista, comemorado em 24 de junho) e São João de Inverno (João Evangelista, comemorado em 27 de Dezembro), coincidindo simbolicamente com os solstícios.

(Wikipedia)