março 17, 2023

FILOSOFIA MAÇÔNICA E SUAS PROPRIEDADES - Newton Agrella











Como definição clássica,  *Filosofia*, conforme sua etimologia, é uma palavra de origem grega que se compõe dos vocábulos *"philos"* que significa amizade, amor fraternal e *"sophia"*  que quer dizer sabedoria. 

Sua função é a de propor, refletir, pensar e ponderar a respeito das questões básicas que se referem à vida humana.

Assim, o exercício contemplativo de buscar respostas quanto à nossa própria existência, nosso papel no universo, bem como o propósito da vida, são questões que envolvem inúmeras especulações humanas das quais a Filosofia se ocupa.

Diante de um imenso arcabouço de questionamentos a Filosofia acabou ganhando inúmeras correntes, que tentam explicar e esclarecer, cada uma a seu modo, todas as dúvidas e inquietudes que envolvem a Razão e a Emoção, mediadas por uma propriedade singular chamada Inteligência.

Neste cenário, merece destaque especial a chamada "Maçonaria Especulativa" que constitui-se numa das mais legítimas, abrangentes e profundas instituições filosóficas.

Cabe aí um parêntesis, dando conta que o adjetivo “especulativo” passou a ser aplicado aos Maçons “Aceitos” em meados do século XVIII.

 A expressão “especulativo” era dada, no século XVII, a toda pessoa propensa à contemplação e à meditação. Bem como à dedicação ao estudo e análise, a partir do exercício intelectual do Pensamento.

O “especulativo” era o idealista e não o homem de ação ou profissional.

A expressão fazia referência aos homens cultos, naturalistas, artistas, literatas, pensadores, eruditos e historiadores.

Eram os MAÇONS ACEITOS, aqueles que passaram a integrar a Sublime Ordem, emprestando-lhe gradativamente um caráter mais intelectual do que operativo, até então submetido aos dogmas estabelecidos pela Igreja. 

Registre-se que durante a Idade Média principalmente, o Pensamento Humano, em particular no mundo ocidental, era ⁶essencialmente representado pela Igreja e por conseguinte pela fé cristã.

Fechando o parêntesis, cumpre registrar que a Filosofia, busca propor e especular meios para se construir uma sociedade justa, ou como distinguir entre o que verdadeiramente sabemos e o que apenas opinamos. 

Busca além disso, criar meios para enfrentar os dilemas morais, éticos e comportamentais.

No caso da Maçonaria, a complexidade de sua extensão de significados,  faculta a seus adeptos que a pratiquem, tendo porém como referência, o reconhecimento da  existência de um princípio criador e incriado do universo, como base para que se entenda e se explique a própria existência humana.

Essa complexidade maçônica contém entre suas caraterísticas elementos esotéricos, anímicos, espirituais, simbólicos e ritualísticos, sem contudo, deixar evidenciada a sua vocação antropocêntrica, ontológica e hominal.

Conforme asserção do filósofo grego Platão, a Filosofia é o instrumento intelectual de que o ser humano se vale para a investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum que se mantém cativa da realidade empírica e das aparências sensíveis.



O OBJETIVO DO ESTUDO NA MAÇONARIA - Ir. Louis Block



É correto dizer que o grande problema diante de nós é o da pedagogia da Maçonaria. Isso significa que o ensino dos fatos sobre um grande movimento histórico baseado na teoria de que a verdadeira felicidade do homem só pode ser alcançada pela união de todos em uma democracia alicerçada no espírito da fraternidade, onde cada um não seja apenas o guardião de seu irmão, mas também seu defensor, seu porto seguro, seu auxílio, seu incentivador, seu ombro amigo, seu inspirador e seu exemplo de amor ao próximo e a si mesmo. Tudo isso se ensina através do imaginário e das alegorias da Maçonaria, e de seu simbolismo místico. Não devemos nos perder na busca por algo sombrio, em teorias abstratas perdidas dentro de perspectivas obscuras, confusas, nebulosas e insignificantes; devemos sim estarmos próximos e nos dedicarmos aos verdadeiros valores humanos. Princípios devem existir para estarem realmente inseridos nas vidas das pessoas, se não for assim não farão diferença alguma. Nosso estudo deve aliar teoria e prática, com o estudante realmente utilizando-se de seu aprendizado e compartilhando os valores adquiridos, senão nossos esforços serão em vão.

Também não podemos deixar de mostrar que são os pensamentos que importam, que são eles que controlam a conduta dos homens; que, se seus pensamentos não são bons, o seu comportamento também não pode ser. O que precisamos é fazer com que os pensamentos certos sejam claramente formulados, imbuídos de amor, e profundamente gravados no subconsciente, de modo que eles irão inevitavelmente se expressar em nossos atos no dia-a-dia de nossas vidas. A meu ver, essa é a missão da Maçonaria: a construção desses grandes pensamentos na mente dos homens, transformando-os em atos cotidianos, com a certeza de que eles devem predominar, governar e prevalecer para os homens viverem juntos em paz e harmonia, e desfrutarem da verdadeira felicidade.

Como fazer isso é a grande questão. Como fazer a Ordem sentir que essas ideias não são abstrações vazias, mas reais, poderosas, vivas, atuais e sólidas – essa é a grande tarefa a se realizar. Precisamos compreender juntos os fatos sobre a Maçonaria: o que ela realizou no passado que a faz viver até os dia de hoje por seus próprios méritos? Como ela tem, durante sua existência, auxiliado o homem? Então precisamos colocá-los juntos em uma história de tal forma que ela vá capturar a atenção e manter o interesse do aluno. A capacidade de fazer coisas interessantes, para atiçar uma busca por mais “luz”, é o segredo de todo ensino. Você não pode abrir a cabeça de um estudante e colocar o conhecimento ali dentro, mas você pode incentivá-lo a estudar e aprender por si mesmo, e essa será sua vitória. Já temos a vantagem do grande poder de atração de nossos “segredos” e “mistérios”. Temos de mostrar aos iniciados o quão pouco sabem, quantos mistérios fascinantes ainda precisam ser explorados, investigados, analisados e estudados, para enfim poderem ser compreendidos.

Pergunte por que ele ainda permanece na Ordem. Ela o ajudou? Em caso afirmativo, como e de que maneira? Faça uma série de perguntas socráticas a ele; faça-o pensar! Se ela o auxiliou em algo, de alguma forma, sem dúvida, ela poderá fazer mais. Há mais lá, se ele souber procurar: “buscai e achareis.” Não é fácil ensinar os homens a observar o mundo ao seu redor, muito menos é ensinar-lhes a arte do discernimento espiritual. Mas é possível. Pode ser ensinado, pode ser desenvolvido, pode-se fazer essa habilidade florescer. Muito de nossa pedagogia moderna não é nada mais do que um árido, mecânico e vazio processo. Nossas crianças são instruídas a decorar, imitar, copiar, para seguir “o costume”, e não são nunca preparadas para pensar. Tal procedimento acaba por formar adultos incapazes de formular pensamentos simples, mas originais, não sendo capazes de fazer uma avaliação crítica do que ocorre ao seu redor; e muitos são os que em loja praticam a ritualística de forma errada, por que os Mestres “mais antigos” lhe “ensinaram” que assim é “o uso e o costume” daquela oficina.

Devemos preparar nossos novos maçons, incentivando-os a se dedicarem aos estudos e à pesquisa sobre a Ordem. Devemos incentivá-los a trabalhar sua mente, a construir seu templo espiritual, mas também o intelectual. Devemos incentivá-los a serem originais. Devemos incentivá-los a pensar!


Autor: Hon. Louis Block, Past Grand Master, Iowa. - Tradução: Luiz Marcelo Viegas

Fonte: The Builder Magazine. Volume I, Número 4, abril-1915

março 16, 2023

ABERTURA DO LIVRO DA LEI NO PRIMEIRO GRAU DO REAA - SALMO OU S. JOÃO? - Pedro Juk



Em 25/06/2020 o Respeitável Irmão Leonardo Abreu Amorim Neves, atual Secretário das Relações Exteriores do Grande Oriente da Bahia, COMAB, Estado da Bahia, apresenta o que segue:

Antes de assumir essa função eu estava em um local mais natural e confortável para mim, a Grande Secretaria de Orientação Ritualística. Como fiz um bom trabalho, acaba que me tornei referência para os Irmãos de nossa Obediência e de nosso Oriente sobre essas questões. Atualmente estou trabalhando em um artigo sobre o Evangelho de São João na Abertura do Grau de Aprendiz e me deparei com uma publicação sua em diversos sites. Porém não há referências de pesquisa, sendo esses a que busco diretamente com o Irmão através desta. Tenho alguns Rituais antigos, mas em nenhum deles é mencionado qual o trecho do Livro da Lei, é usado para a abertura da cerimônia. Achei em Rituais franceses, portugueses e alemães a abertura feita no Evangelho de João, mas não nos brasileiros. Será que posso contar com a sua ajuda?

CONSIDERAÇÕES:

Caro Irmão, em se tratando de rituais brasileiros mais antigos há de fato uma deficiência de indicação pertinente a abertura do Livro e a leitura do evangelho, em João I, 1 – 5 no REAA. 

Existem falhas propositais e outras de mero esquecimento. Assim, esse tratado deve ser abordado no contexto doutrinário do REAA que prevê, no 1º Grau, a prevalência da Luz sobre as trevas. Reitera-se, é isso que a liturgia do Rito propõe.

Em termos de Brasil, nem todos os rituais trazem essa abertura, contudo também não a excluem, provavelmente pelo seu caráter de obviedade. 

Infelizmente vivemos no Brasil uma Maçonaria de origem francesa, peripatética e abusivamente sob o estigma de carimbos e convenções. Assim, criou-se a marca de que se deve fazer o que está escrito, mesmo estando o escrito equivocado ou mesmo omisso. Isso acabou despertando muitas mentes preguiçosas que se valem da comodidade do “aonde está escrito”, ao contrário de proporcionar discussões de entendimento ou aplicação de bom senso sobre o conteúdo ritualístico.

Já sob a óptica da autenticidade e de se saber a razão das coisas é que pesquisadores legítimos têm procurado fontes de água limpa para pesquisas a esse respeito. Ou seja, nos rituais franceses. É bem verdade que na França também apareceu um tal São João da Escócia que, a bem da verdade nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.

Autores respeitadíssimos como José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, dentre outros, sempre fizeram a afirmativa de que a abertura no grau de Aprendiz no REAA é feita em João, I, 1 – 5. A essência socrática do grau prevê ao iniciado primeiro conhecer-se a si mesmo, o que em linhas gerais instiga o autoconhecimento, por conseguinte a procura da Luz (... e as trevas não a compreenderam.). 

Nesse sentido, sugiro que o Irmão busque nas obras desses autores, também referências bibliográficas, contudo alerto que nada está pronto. É preciso antes, como já dito, envolver a pesquisa no contexto doutrinário do Rito.

Em termos de rituais escoceses, aqui no Brasil existem alguns que trazem a abertura em João, é o caso de muitos rituais da COMAB, além dos famosos rituais de capa vermelha compostos por Varolli Filho. Numa pesquisa mais abrangente o Irmão encontrará inclusive em rituais antigos do GOB (mesmo que sob o estigma do João da Escócia). Isso não invalida a abertura em João I, 1-5.

Desafortunadamente, muitos rituais brasileiros em vigência trazem o Salmo 133, ou 132 conforme a versão bíblica. Esse é um erro crasso haurido de rituais contraditórios, sobretudo os advindos após a cisão de 1.927 e a fundação das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras. Essa anomalia acabou se espalhando, investindo inclusive sobre os rituais escoceses do GOB como se pode ver atualmente.

A leitura do Salmo 133 teve sua origem no Yorkshire, na Inglaterra. Segundo Harry Carr esse costume logo teria sido abandonado. 

Não como abertura do Livro da Lei, mas como passagem iniciática, o Salmo 133 é lido durante a iniciação nas Blue Lodges (Maçonaria Norte-Americana). É muito provável que foi daí que Bhéring trouxe esse costume e o incluiu no REAA, sobretudo com a edição de novos rituais para as suas Grandes Lojas que por aqui haviam sido recém-criadas. Em síntese o Salmo não possui nenhum caráter de autenticidade, principalmente se tratando do REAA.

De tudo meu Irmão, concito-o a pesquisar na fonte do REAA que é na França. Certamente assim, com uma grade bem fundamentada de pesquisa, conclusões acertadas haverão de ser tomadas. 

Afirmar apenas que um determinado assunto está num ritual, em princípio pode parecer lógico, contudo, é preciso antes perscrutar os “porquês” dos fatos, caso contrário o rumo do estudo poderá estar legado à meras repetições.


SÓLON - O PAI DA DEMOCRACIA (638-558 a.C.) - Eduardo Szklarz




Sólon acabou com a transmissão de poder hereditária e abriu o acesso aos altos cargos do governo para todos os cidadãos

Na Grécia antiga, os aristocratas tinham tanto orgulho da sua origem que se diziam descendentes dos deuses. Cada família recitava a longa lista de antepassados até chegar ao patriarca divino. Com Sólon (638-558 a.C.), não foi diferente: ele traçava a sua origem até Poseidon, o deus grego dos mares. Mas, diferentemente dos outros nobres, Sólon importava-se com os “reles mortais” e dedicou a vida a construir uma sociedade mais justa e igualitária. De tal forma que os historiadores o consideram o pai da democracia ateniense.

“Sólon integra a lista dos Sete Sábios da Grécia ao lado de figuras como o matemático Tales de Mileto“, diz o filósofo Ron Owens, da Universidade de Newcastle (Austrália), no livro Solon of Athens. “Foram feitas várias listas dos sete sábios, e Sólon está em todas elas. A sua influência não era mesmo de desprezar: ao menos 115 autoridades do mundo antigo mencionam-no nos seus escritos, entre eles Aristóteles (384-322 a.C.).”

Apesar da glória entre os seus pares, Sólon é hoje quase um ilustre desconhecido. Sempre que se fala em Atenas, vêm à mente filósofos e matemáticos, mas nunca um sujeito como ele – misto de mercador, poeta e legislador. Afinal, quem foi Sólon? E o que ele agregou à história das ideias?

Sociedade em frangalhos

Sólon nasceu provavelmente em 638 a.C., em Atenas, numa família nobre em decadência. A Grécia estava dividida em dezenas de cidades-estados (poleis, plural de pólis), com governos independentes e uma cultura religiosa comum. Em Atenas, mandava a aristocracia dos eupátridas (os “bem nascidos”), que nomeavam arcontes (magistrados) para legislar em causa própria. Os pobres não tinham acesso ao poder político e muitas vezes pagavam as suas dívidas com escravidão.

Sólon presenciou estas injustiças ainda jovem, quando embarcou em viagens mercantes para tentar recompor a fortuna da família. Ele viu que artesãos e pequenos proprietários de terras eram alijados das decisões políticas e sempre perdiam para os nobres em disputas judiciais.

“A maioria dos camponeses era leal aos aristocratas porque dependia deles para se proteger dos inimigos de Atenas. Mas a população em geral estava cada vez mais insatisfeita“, diz o historiador Bernard Randall no livro Solon: The Lawmaker of Athens.

A oligarquia vetava até os mercadores que enriqueceram com o comércio entre a Grécia e o mundo mediterrâneo. Eles tinham dinheiro suficiente para adquirir armas e terras e por isso esperavam obter uma fatia do poder político. Mas continuaram fora do Areópago, o conselho que escolhia os magistrados. A sua única forma de ganhar uma causa na Justiça era subornando o juiz.

“Com o tempo, mais mercadores se tornaram ricos e viram que a única forma de obter poder seria por meio da força“, diz Randall. De facto, ao longo do século 7 a.C., vários tiranos deram golpes em oligarquias gregas com o apoio dos novos-ricos. Em 632 a.C., o nobre Cylon tentou usurpar o poder em Atenas com o respaldo da ilha vizinha de Megara, onde o seu sogro governava com mão de ferro. Mas o plano falhou e Cylon fugiu.

Em 621 a.C., para tentar colocar ordem no caos, o arconte Drácon elaborou um código de leis duríssimas contra o crime. Um simples roubo era punido com a morte. Não é à toa que “draconiano” passou a ser sinónimo de extrema rigidez. No entanto, nem mesmo as leis de Drácon acalmaram os ânimos.

Da poesia para as leis

Sólon foi o primeiro poeta ateniense cujos versos sobreviveram até aos nossos dias. Fragmentos da sua obra, citados por Plutarco (46-120) e outros filósofos, mostram que ele denunciava as iniquidades da época. E nem por isso ele deixou de ser respeitado pelos nobres. Aliás, sempre manteve a fama de sábio e justo. A sua entrada na política aconteceu durante uma guerra entre Atenas e Megara pela soberania da ilha de Salamina (onde nasceu). Não há registos precisos, mas estima-se que milhares de atenienses tenham morrido em combate. O governo teria até desistido, mas tudo mudou quando Sólon correu para a ágora (praça principal da pólis) e declamou uma ode a Salamina.

“Prefiro renunciar à minha cidade natal e me tornar cidadão de Folegandros (minúscula ilha grega no mar Egeu) a continuar sendo chamado de ateniense, marcado pela vergonha da rendição de Salamina!“, teria dito, motivando os conterrâneos a retornar à batalha.

Segundo Plutarco, Sólon teve papel ativo na estratégia militar que debilitou o inimigo e levou Atenas à vitória. Foi assim que ganhou fama de soldado. Em 594 a.C., foi nomeado arconte e realizou reformas que ajudaram a cimentar o caminho ateniense rumo à democracia.

A sua primeira medida foi promulgar um código de leis escritas que aboliu a escravidão por dívida e proibiu os homens de vender filhas e irmãs. Também alterou o código penal de Drácon. Segundo a nova lei, o ladrão teria de compensar a vítima com o dobro do valor do produto roubado. Ao que tudo indica, o arconte poeta só manteve a pena capital para os homicidas.

Ascensão social

Talvez a grande decisão de Sólon tenha sido substituir o sistema de poder hereditário por outro baseado no dinheiro. Parece injusto, mas foi uma forma de aproveitar a mobilidade social para ampliar o acesso ao poder político. Classificou os habitantes em 4 classes. No topo, estavam os pentacosiomedimnos, donos de terras. Abaixo vinham os hippeis, que tinham dinheiro suficiente para manter um cavalo ao serviço do Estado nas guerras – um luxo para poucos. Em seguida, estavam os zeugitas (a “classe média”) e finalmente os tetes, os mais pobres.

Quanto mais rico o cidadão, mais alto o cargo público que ele podia ocupar. Para quem viveu nesse tempo, quando o poder se perpetuava entre os mesmos sobrenomes, esta foi uma bela mudança rumo à democracia.

Como muita gente podia acumular certa riqueza – graças ao comércio crescente, por exemplo -, o novo sistema era mais igualitário que o anterior. Os tetes não podiam disputar os cargos, pois temia-se que fossem mais propensos a receber subornos. Mas Sólon deu-lhes o direito de se defender nos processos judiciais e de integrar o júri. Mais importante: deu luz verde para que o cidadão com mais de 18 anos participasse da Ekklesia (Assembleia), inclusive os tetes (mas não os escravos, pois esses não eram considerados cidadãos). A Assembleia promulgava leis e decretos, decidia a concessão de privilégios, servia de palco para debates políticos e influía na escolha de arcontes (magistrados). Portanto, quem diria, os mais pobres podiam influir na formação do temível Areópago.

A pauta da Ekklesia era definida pelo Conselho dos 400 (formado por 400 cidadãos de todas as classes, exceto os tetes). As mulheres não votavam, mas justiça seja feita: veja-se o que aconteceu por todo o mundo nos tempos modernos.

“Assim como o filósofo Sócrates (469-399 a.C.), Sólon tentou criar pontes entre os extremos da sociedade e uma nova unidade dentro do Estado“, diz Victor Ehrenberg em From Solon to Socrates (De Sólon a Sócrates). “Ambos são símbolos da moderação e clareza mental que fizeram a grandeza de Atenas“. Em 561 a.C., 30 anos depois das reformas, o tirano Psístrato usurpou o poder em Atenas – com a bênção do Conselho dos 400.

Ao saber da notícia, Sólon interrompeu uma longa viagem pelo Egipto e Chipre e voltou a Atenas para tentar mobilizar a massa. Não conseguiu. Mas a democracia continuou a evoluir mesmo após a sua morte (3 anos depois). Em 508 a.C., as suas reformas foram levadas adiante pelo legislador grego Clístenes. E, no século 5 a.C., continuaram com Péricles e Efialtes. “O principal método de escolha para cargos públicos era o sorteio, tido como o mais igualitário“, diz o cientista político Robert Dahl no livro “Sobre a Democracia”.

Para ele, um cidadão ateniense tinha uma possibilidade razoável de ser sorteado ao menos uma vez na vida.

Segundo alguns historiadores, Sólon decepcionou muita gente. Os ricos diziam que as suas inovações foram longe demais, e os pobres reclamavam que foram insuficientes (queriam a reforma agrária). Nem o sábio conseguiu agradar a gregos e troianos.



PALESTRA EM INDAIATUBA





Fiz a palestra "Maçonaria, de Isaac Newton à internet", na noite de ontem, 15/3,  na ARLS Liberdade. Igualdade e Fraternidade 477 em Indaiatuba com a presença de 29 irmãos de diversas Lojas e do Juiz do STM Ir. Carlos Olímpio.

 Foi uma noite muito agradável com os irmãos participando ativamente com questionamentos e perguntas. Ao final um delicioso ágape. 

Agradeço ao VM Edvaldo Ribeiro o convite e a doação para Beneficência como retribuição da palestra.

março 15, 2023

ANALFABETISMO FUNCIONAL - Saidul Rahman Mahomed

 


Frases que vemos sempre por aí " leia a Bíblia" , "Um país se faz com homens e livros", etc... Eu trabalhei um tempo como voluntário em grupo de leitura onde adultos, até com diplomas técnicos, eram analfabetos funcionais. Liam, mas não compreendiam o texto. Ou seja, não adiantava ler. Alguns, muito esforçados, lá chegavam com livros que haviam lido 3 vezes, contudo ainda eram obscuros. Não adianta mandá-los ler, tem que ler junto com eles o livro que você deu de presente. 

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O analfabetismo funcional está relacionado com a dificuldade de compreensão de textos, muito embora o indivíduo seja tecnicamente alfabetizado ...

São chamados de analfabetos funcionais os indivíduos que, embora saibam reconhecer letras e números, são incapazes de compreender textos simples, bem como realizar operações matemáticas mais elaboradas. No Brasil, conforme pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro, 50% dos entrevistados declararam não ler livros por não conseguirem compreender seu conteúdo, embora sejam tecnicamente alfabetizados.

Outra pesquisa, realizada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela Ação Educativa, revelou dados da oitava edição do Indicador de Analfabetismo Funcional, o Inaf, cujos resultados são alarmantes, o domínio pleno da leitura vem sofrendo queda entre todos os entrevistados,

Embora o número de analfabetos tenha diminuído no Brasil nos últimos quinze anos, o analfabetismo funcional ainda é um fantasma que atinge até mesmo estudantes que frequentam o ensino superior, desfazendo o mito de que ele estaria intrinsecamente relacionado à baixa escolaridade.

As pesquisas desenvolvidas sobre o índice de analfabetismo funcional no país são de extrema importância, já que promovem o debate entre diversos grupos sociais responsáveis por desenvolver um novo parâmetro educacional a partir da discussão das causas e efeitos do Inaf.

Desenvolver métodos que priorizem o letramento é fundamental para que o analfabetismo funcional seja superado, e para isso é inquestionável a importância do trabalho conjunto entre pais e professores.

Engana-se quem acredita que cabe somente à escola o papel de alfabetizar e letrar, visto que o letramento é uma prática presente em diversas situações do cotidiano, envolvendo não apenas a leitura tecnicista de textos, mas também o desenvolvimento da criticidade e capacidade de elaborar opiniões próprias diante dos conteúdos acessados.

A aprendizagem deve ser universalizada, propiciando assim que todos os leitores atinjam o nível pleno da alfabetização funcional.


Fonte: Brasilescola. - Grupo: Divulgação de fatos e conhecimentos: ciências e afins.

A TOLERÂNCIA - Charles Evaldo Boller


Dentro daquilo que a Maçonaria preconiza como ideal, a mente do Maçom equilibrado não tolera tudo. É incentivado a ser inimigo figadal dos que tolhem a liberdade das massas e tentam agrilhoar a ele ou seus irmãos. Recebe treino para repudiar emoções desenfreadas, que induzem à tirania e conduzem ao despotismo. É intransigente com a intolerância desenfreada que conduz a perseguição ou a ignorância das massas conduzidas por homens inescrupulosos. A sua tolerância deve ser tal que não fique posando qual ingénuo, que confunde tolerância com licenciosidade.

A Maçonaria educa aqueles que são iniciados nos seus segredos porque é da sua crença que um povo desenvolvido não pode ser escravizado e um povo ignorante não pode ser libertado. O verdadeiro Maçom é um estudioso prático, um intelectual que age. Sem estudo não existe progresso. Sem discussão e exercício do pensar não existe evolução.

A história da Maçonaria tem cerca de dois séculos. Afirmar que seja mais velha é apenas vaidade de uns poucos que acreditam que quanto mais no passado estiver a origem de uma organização maior é a sua credibilidade e grandeza. E neste espaço de tempo ela já angariou miríades de inimigos implacáveis e vingativos, sempre movidos pela intolerância, ignorância e escravidão mental e espiritual. No Brasil, um grande exemplo de intolerância com a escravidão física, mental e espiritual proveio do homem Maçom Deodoro da Fonseca. São da sua iniciativa: institucionalizar o casamento civil, tornar sem efeito jurídico o matrimónio religioso; instituir o registo civil; proibir o ensino de religião em escolas públicas; tirar os cemitérios do domínio das igrejas, secularizando-os; promulgar o Código Penal que extinguiu a pena de morte em tempo de paz no Brasil. Mesmo que tenha dirigido o país por curto tempo sob ditadura, ele é um exemplo do homem Maçom que atuou na defesa das liberdades constitucionais e direitos inerentes ao povo. Usava da tolerância e da intolerância com equilíbrio.

É treinando os seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania, fanatismo, brutalidade e ignorância. O facto de desenvolver a tolerância, não significa que seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal orientados, mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento há bastante tempo. No exercício da tolerância e no seu treino a Maçonaria ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o Maçom filosofa, faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o outro Maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de morrer para defender o pensamento de seu irmão.

Ao Maçom é ensinado que o filosofar é pensar sem provas, isto exige tolerância, mas perseverar num erro é para ele uma falta que deve ser combatida, é a intolerância disparada pela ultrapassagem aos limites estabelecidos. É o limite do que é tolerável. Parte do princípio que ao intolerante imoral falta mesmo é inteligência, é desprovido de liberdade e não quer por isto dar liberdade aos outros. Para o Maçom a liberdade de espírito vem da experiência e da razão exercida com tolerância limitada, pois só assim ela é efetiva.

E como a necessidade de tolerância surge apenas em questões de opinião, então nas suas discussões ou estudos, normalmente é de praxe ao Maçom sábio fazer severos exercícios de dicotomia, apresentar as mais diversas linhas de pensamento para qualquer verdade que defenda; deixa-se para o irmão ouvinte tirar as suas próprias conclusões daquilo que postula no seu constante filosofar.

O Maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exatamente porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo alienante de uma pessoa ou instituição.

Com humildade aceita que não há tolerância quando nada se tem a perder, haja vista que tolerar é se responsabilizar, porque uma tolerância que responsabiliza o outro já não é mais tolerância. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que outros são vítimas, o horror que o poupa, já não é mais tolerância; é indiferença, egoísmo ou algo pior. Antes ódio, antes fúria, antes violência do que a passividade diante do horror, do que a aceitação vergonhosa do pior! Pela imposição de limites que o homem Maçom se impõe em resultado do seu treino, uma tolerância universal seria tolerância do atroz. E quando levada ao extremo, a tolerância acabaria por se negar a si mesma.

A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua própria salvaguarda e da preservação das suas condições e possibilidades. Se o Maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância. O treino maçónico revela que uma sociedade em que uma tolerância universal fosse possível, já não seria humana. As conclusões da ordem maçónica levam seus adeptos a verificar que a tolerância é essencialmente limitada, pois uma tolerância infinita seria a fim da própria tolerância. Não se deve tolerar tudo, pois destina a tolerância à sua perda. Também não se deve renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Aquele que só é justo com os justos, generoso com os generosos, misericordioso com os misericordiosos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo facto do injusto não poder se queixar.

Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade. Moralmente condenável e politicamente condenada, uma tolerância universal não seria nem virtuosa nem viável. A tolerância como força prática, como virtude, tem os seus fundamentos alicerçados no fato de que a fraqueza humana resulta da sua incapacidade de alcançar o absoluto.

A prática das oficinas maçónicas, naquelas aonde permanentemente é exercitada a capacidade de pensar, discutir, debater, ouvir e calar revela que a evidência é uma qualidade relativa. Mesmo que algo pareça exato, verdade, correto, pode no decurso de um debate mostrar que não é absoluto, daí nunca se admitir que uma verdade é absoluta e final. As discussões, longe de afastar um irmão do outro, aproxima-os quando praticam dentro dos limites impostos pela tolerância que todos os seres humanos, indistintamente, são constituídos de fraquezas e de erros. Com isto em vista, o verdadeiro homem Maçom, aquele que está desperto e activo, perdoa as tolices que o outro comete e aguarda que aquele irmão de pensamento equivocado acorde da sua inconsciência, dando cumprimento para com esta primeira lei da sua natureza: a falibilidade.

A grande salvaguarda do homem Maçom quando se contrapõe aos tiranos, é o conhecimento de que aquele, mesmo que possua nas suas mãos o poder absoluto, não tem condições de impô-lo a ninguém, porque não poderia forçar um indivíduo a pensar diferente do que pensa, nem a crer verdadeiro o que lhe parece falso. Esta a razão da Maçonaria ter sido hostilizada e proibida desde quando surgiu na França e Holanda, países onde foi proscrita logo no início da sua expansão. É no pensamento que o Maçom deve ser livre de forma absoluta, pois não há liberdade nem sociedade próspera sem inteligência.

A tolerância é tema fundamental da Maçonaria, inclusive a sua existência é devida a ela, pois nasceu em decorrência da intolerância entre facções políticas e religiosas. É uma tolerância calcada na definição de limites claros. Ultrapassou o limite definido pelas leis em vigor na sua linha de tempo, não tem comiseração, o castigo deve ser aplicado com todo o rigor ou a sociedade fenece.

Cada Maçom é estimulado de forma diferente pelo ensino da Maçonaria. O lastro que carrega mostra que o principal aspecto da ordem maçónica é o desenvolvimento de princípios morais calcados na espiritualidade. A simbologia, a ritualística e toda a filosofia envolvida, sempre no seu centro destaca a espiritualidade. O meio para desenvolver em espírito, apesar de ressaltado, não fica tão evidente. Apenas os mais sensíveis e aplicados a desenvolvem. Existem homens Maçons já bem antigos na ordem maçónica que sequer sabem de facto o que alguns símbolos representam. Um exemplo é o símbolo composto formado pelo esquadro, compasso e o livro da lei, onde o olho perspicaz visualiza um homem circunscrito por uma estrela de cinco pontas, significando a criatura religada ao Grande Arquiteto do Universo por laços de carne, pela espiritualidade encarnada. E disto se deduz a união com o Grande Arquiteto do Universo, a sua religação com a divindade.

A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia, onde esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquitecto do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre si.


Bibliografia

BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora Ltda., 368 páginas, São Paulo, 2004;

BENNETT, William John, O Livro das Virtudes, Antologia, título original: A Tresaury of Great Moral Stories, ISBN 85-209-0672-9, primeira edição, Editora Nova Fronteira S/A, 534 páginas, Rio de Janeiro, 1993;

CAPRA, Fritjof, A Teia da Vida, Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos, título original: The Web of Life, a New Scientific Understandding Ofliving Systems, tradução: Newton Roberval Eichemberg, ISBN 85-316-0556-3, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 256 páginas, São Paulo, 1996;

COMTE-SPONVILLE, André, O Espírito do Ateísmo, título original: L’esprit de L’théisme, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 978-85-60156-66-5, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 192 páginas, São Paulo, 2007;

COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 392 páginas, São Paulo, 1995;

GREGÓRIO, Fernando César, Chaves da Espiritualidade Maçónica, ISBN 978-85-7252-236-6, primeira edição, Editora Maçónica a Trolha Ltda., 184 páginas, Londrina, 2007;

ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, 140 páginas, São Paulo, 2007;

SOUTO, Élcio, O Iniciado, Drama Cósmico Maçónico, ISBN 85-7374-331-X, primeira edição, Madras Editora Ltda., 106 páginas, São Paulo, 2001.

março 14, 2023

QUATORZE DE MARÇO, DIA NACIONAL DA POESIA BRASILEIRA - Evangelista Mota Nascimento



Essa data foi criada em homenagem a poeta Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, em 14 de março de 1847, filho de Antônio José Alves, médico e também professor, e de Clélia Brasília da Silva Castro, foi representante da Terceira Geração dos Poetas Românticos no Brasil. Ele expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo.

Em 1858 ingressou no Ginásio Baiano, onde foi colega de Rui Barbosa, para quem demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Aos 13 anos, recitou sua primeira poesia em público em uma festa que aconteceu no dia 9 de setembro de 1860, na escola que ele estudava.

No dia 25, janeiro de 1862, com seu pai, sua madrasta e seu irmão José Antônio, Castro Alves parte no vapor Oiapoque para a cidade do Recife, onde ele se preparou para ingressar na Faculdade de Direito, onde efervescia as ideais abolicionistas e republicanas. Cinco meses após chegar, publicou no Jornal do Recife o poema “A Destruição de Jerusalém”, os editores e diretores do jornal deram-lhe muitos elogios.

No Teatro Santa Isabel, que se tornou quase um prolongamento da faculdade, realizavam-se verdadeiros torneios entre os estudantes. Nesse ambiente, em março de 1863, durante uma apresentação da peça Dalila, de Octave Feuillet, Castro Alves se encanta com a atriz Eugênia Câmara. Em sua homenagem, ele publicou em 17 de maio pública no jornal “A Primavera”, sua primeira poesia sobre a escravidão: “Lá na última senzala, /Sentado na estreita sala, /Junto ao braseiro, no chão, /Entoa o escravo seu canto /E ao cantar correm-lhe em pranto /Saudades do seu torrão”.

Um mês depois, enquanto escrevia uma sátira à academia sobre os estudos jurídicos e uma poesia romântica para Eugênia, publicadas no jornal “O Futuro”, ele sentiu os sintomas da tuberculose, dor no peito e uma tosse incontrolável o faz lembrar, da mãe e dos poetas que morreram com a doença e escreveu “Mocidade e Morte”.

Ao visitar o amigo Maciel Pinheiro, condenado à prisão escolar, no térreo do Colégio das Artes, por haver criticado a academia em um artigo no Diário de Pernambuco, escreve o poema “Pedro Ivo”, exaltando o revolucionário da Praieira e o ideal republicano: “Voo ousado/ Do homem feito condor! /Novamente a palavra o condor aparece em sua poesia, /simbolizando a liberdade. Mais tarde, foi chamado de “Poeta Condoreiro”.

No dia 11 de agosto de 1865, na abertura solene das aulas, a sociedade pernambucana se reunia no salão nobre da faculdade para ouvir os discursos e saudações das autoridades, professores e alunos.

Castro Alves é um deles: “Quebre-se o cetro do Papa, / Faça-se dele uma cruz! /A púrpura sirva ao povo/ Para cobrir os ombros nus. (...)”. Os mais velhos olhavam admirados e os mais jovens deliravam.

Em 1866, Castro Alves inicia um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele. Em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele, “O Gonzaga ou a Revolução de Minas”. Em seguida, Castro Alves parte para o Rio de Janeiro, onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários e foi para São Paulo, onde conclui o Curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.

Em 1868 rompe com Eugênia, andando a pé numa caçada nos bosques da Lapa, fere o pé esquerdo com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé.

Em 1870 volta para Salvador onde publica “Espumas Flutuantes”, único livro editado em vida, onde apresenta uma poesia lírica, exaltando o amor sensual e a natureza, como no poema “Boa Noite”: “Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.

A lua nas janelas bate em cheio.../ Boa noite, Maria! É tarde... é tarde.../ Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes - Boa noite. / Mas não digas assim por entre beijos.../ Mas não me diga descobrindo o peito, / - Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve... a calhandra/ já rumoreja o canto da matina. / Tu dizes que eu menti?..., pois foi mentira.../ ... Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios/ Derrama nos jardins do Capuleto, /

Eu direi, me esquecendo d'alvorada:/ "É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia/ - Desmanchado o roupão, a espádua nua - / o globo de teu peito entre os arminhos/ Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta! / Recende a alcova ao trescalar das flores, / Fechemos sobre nós estas cortinas.../ - São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada/ Lambe voluptuosa os teus contornos.../ Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos/ Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos/ Treme tua alma, como a lira ao vento, / Das teclas de teu seio que harmonias, / Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio, / Ri, suspira, soluça, anseia e chora.../ Marion! Marion!... É noite ainda. / Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento, / Sobre mim desenrola teu cabelo.../

E deixa-me dormir balbuciando:/ - Boa noite! -, formosa, Consuelo...

Castro Alves faleceu em Salvador, no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose, com apenas 24 anos.


Evangelista Mota Nascimento, é professor e escritor, membro das Academias: Açailandense de Letras; Tauaense de Letras e Maçônica Virtual Brasileira de Letras, do Supremo Conselho do Grau 33º da Maçonaria Universal, das Beneméritas Lojas Maçônicas: Visconde de Vieira da Silva nº 14 - Oriente de Barra do Corda e Heitor Correa de Melo nº 19, Oriente de Açailândia e da 1ª Igreja Cristã Evangélica de Açailândia. Tem inúmeros Contos e Crônicas, publicados em Jornais e revistas de grande circulação e também, 43 livros de Histórias, Biografias e Literatura.

Contato: Telefone (99) 91192232, WhatsApp (99) 981274656, Facebook Evangelista Mota, E-mail: evangelistamota@hotmail.com e site www.evangelistamota.com.br.


O HOSPITALEIRO - Almir Sant’Anna Cruz


Joia: Bolsa

A Bolsa representa simbolicamente o farnel do peregrino, do viajante, do pedinte, sendo esta a joia do Hospitaleiro que recolhe os óbolos dos Obreiros para as ações de caridade, solidariedade e beneficência da Loja.

Investidura e Posse: 

Com a seguinte locução do Venerável Mestre eleito: “Irmão Hospitaleiro, investindo-vos no cargo de Hospitaleiro, representado pela Bolsa de Beneficência, entrego à vossa guarda uma das mais sublimes atividades maçônicas, a Solidariedade. Humana; Deveis estar sempre atento para que as necessidades de nossos Irmãos sejam sanadas pela mão de nossa beneficência, a tempo e a hora. O resultado de vosso trabalho estará na razão direta da atividade que desenvolverdes no desempenho de vosso cargo. Quanto mais diligenciardes, maiores serão os benefícios que nossa Loja poderá prestar. Confio em vós e sei que sabereis mediar essa grande responsabilidade que lhe foi imposta.”

Alfaias: Avental de Mestre e Colar com a joia do cargo.

Instrumentos de trabalho: Sacola para o recolhimento ritualístico dos óbolos dos Obreiros presentes na sessão.

Recebe diversas nomenclaturas: Bolsa ou Tronco; de Beneficência, de Solidariedade ou da Viúva.

Muitos autores afirmam, sem o necessário espírito crítico, que a prática se originou durante a construção do Templo de Salomão e nas Corporações de Ofício de Pedreiros, tecnicamente conhecidas como Maçonaria Operativa.

Comprova-se em inúmeras Old Charges, que essas Corporações, além de outras atribuições, disciplinava o trabalho e mantinha sistemas de proteção aos obreiros e suas famílias nos casos em que o membro estivesse impossibilitado de trabalhar. Pode-se dizer que essas Corporações seriam comparáveis aos modernos sindicatos e cooperativas.

Todavia, sabemos todos que a transformação da Maçonaria Operativa em Especulativa se deu paulatinamente, até que os membros não ligados a arte da construção, os “aceitos”, se tornaram maioria. Com a fundação da Grande Loja de Londres em 24 de junho de 1717, firma-se definitivamente a Maçonaria Especulativa.

Pois bem, nos Ritos de origem anglo-saxão não existe a prática da coleta dos óbolos durante as sessões.

Essa prática foi criada na França, inspirada na Caixa de Esmolas das Igrejas Católicas e usada nos Ritos de origem francesa.

O termo Tronco vem da palavra francesa “Tronc”, que tanto pode significar o tronco de uma árvore ou do corpo humano, como para a caixa de esmolas.  

O primeiro registro histórico da introdução dessa prática na Maçonaria brasileira encontra-se na 14ª Ata do Livro de Ouro do Grande Oriente do Brasil, de 9 de setembro de 1822, Assembléia presidida pelo Irmão Joaquim Gonçalves Ledo, na falta do Grão Mestre José Bonifácio. Eis o texto do trecho da Ata, com a ortografia atualizada e com informações adicionais entre parênteses: “Fazendo-se por fim do sólio o costumado anúncio para as proposições a Bem da Ordem, concluiu o Irmão que tomara o Grande Malhete (Gonçalves Ledo), propondo a colocação de uma Caixa de Beneficência na Sala dos Passos Perdidos, onde em todas as sessões os Irmãos que a elas concorressem ficassem obrigados a lançar algumas moedas em sinal de sua caridade e que fazendo-se receita em separado do produto dessa caixa ele fosse aplicado ao socorro de viúvas necessitadas e educação de órfãos carecedores de meios de frequentar as escolas das primeiras letras. Esta proposição que bem dá a conhecer a sensibilidade e humanidade do proponente, foi geralmente aprovada com um entusiasmo cujos efeitos a Assembléia fará sem dúvida proveitosos aos objetos da mais bem empregada caridade”.

Correspondência na Abobada Celeste: Não há.

Atributos do cargo:

Dependendo da Potência Maçônica, o Hospitaleiro tem assento na Coluna do Sul próximo a mesa do Chanceler ou na Coluna do Norte próximo a do Tesoureiro e, por consequência, o Mestre de Cerimônias fica na posição inversa a do Hospitaleiro. No nosso entendimento, a localização mais lógica desses dois Oficiais seria o Mestre de Cerimônias ao Sul e o Hospitaleiro ao Norte, ficando próximo do Tesoureiro, com quem interage, até por dever do ofício, dentro e fora da Loja.

Durante as sessões faz circular ritualisticamente o Tronco de Beneficência, recolhendo os óbolos dos presentes e, ao final, dirige-se à mesa do Tesoureiro ajudando-o a conferir a coleta, cujo resultado fica entregue ao Tesoureiro, mas creditado ao Hospitaleiro, que é o gestor, juntamente com o Venerável Mestre, dos recursos gerados no Tronco, que devem ser utilizados unicamente para os seus fins, a beneficência, a solidariedade e à caridade.

As funções do Hospitaleiro são complexas e de diversas índoles, sendo responsável pelas atividades beneficentes da Loja, mas também incumbido de visitar os Irmãos enfermos e prover os que se encontram em dificuldades.

Nos aspectos beneficentes, deve priorizar os Irmãos da Loja, inclusive consultando o Tesoureiro sobre os que estão em atraso com suas contribuições pecuniárias e, antes de qualquer cobrança aos inadimplentes, deve contatá-los para verificar se estão com problemas financeiros e propor a ajuda que se fizer necessária.

A escolha do Mestre que deverá exercer a função de Hospitaleiro deve recair sobre um Irmão com forte espírito fraternal e caritativo e que disponha de tempo livre no mundo profano para estar sempre de “Pé e à Ordem” quando for necessário ajudar um Irmão ou uma obra beneficente da Loja.


Do livro *Manual dos Cargos em Loja do REAA* do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz

Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp (21) 99568-1350

março 13, 2023

LÍNGUA e LINGUAGEM, POLÍTICA e POLITICAGEM - Newton Agrella



Sem qualquer intenção de subestimar o nível intelectual de nosso povo, mas fazendo um breve exercício de constatação quanto ao nível de compreensão de sua própria língua, fica a seguinte pergunta: 

Você entende que o brasileiro conhece ou pelo menos consegue entender grande parte dos vocábulos que fazem parte de seu Hino Nacional ?

Senão vejamos alguns destes vocábulos como:

plácidas, brado, retumbante, fúlgidos, penhor, vívido, impávido, fulguras, florão, garrida, lábaro, ergues, clava...

Pois é, se neste mero exemplo, seguramente um imenso contingente ficará desconcertado para interpretar o significado dos termos acima, que aliás, são legítima propriedade imaterial de cada um de nós, que dirá querer discutir a elaboração semântica, a raiz morfológica, a etimologia e o processo de construção gramatical e sintático do idioma, sem ao menos conseguir conjugar um verbo com naturalidade e tampouco saber o que significa uma flexão de gênero, número e grau, em nome de uma pretensa apologia pela instauração da neo-qualificada Linguagem Neutra, impactando a estrutura da Língua ???

Sejamos razoáveis. 

Respeito, Direitos e Obrigações não se conquistam através de um cínico patrulhamento linguístico ou de humorísticas tentativas inócuas e sem qualquer consistência no sentido de valer-se da língua como instrumento político ideológico.

O que falta mesmo neste país é vontade de estudar, de aprender, de entender que a Língua é a nossa própria Pátria e constitui-se no símbolo mais legítimo que representa a identidade de um povo e não pode ser agredida e vilipendiada como se isso fosse sinônimo de evolução e vanguardismo.

A propósito, a Língua em si, constitui-se num conjunto organizado de elementos (sons, fonemas e articulações) que possibilitam a comunicação e que tem na palavra, o seu código e elemento principal.

A Língua possui uma "estrutura gramatical".

Por outro lado a Linguagem é a maneira utilizada para interpretar ou representar nosso pensamento ou sentimento. 

A Linguagem, é qualquer forma de expressão utilizada pelo ser humano para se comunicar.

O que um determinado grupo da mídia e de outros segmentos que se autoproclamam intelectuais estão fazendo é uma sopa de letrinhas insossa, confundindo Língua e Linguagem, como forma de querer padronizar e impor a aceitação de determinados comportamentos, subvertendo a ordem em favor de alguns grupos sociais.



ACIDENTE VERNACULAR - Newton Agrella


Observe um dado interessante no qual a influência religiosa se manifesta no dialeto "Reggitanu", falado na região da Reggio Calábria , sul da Itália, e se expressa na Declaração Universal de Direitos Humanos no referido dialeto.

"...Tutti i *cristiani* nàsciunu lìbbiri e ntâ stessa manèra 'i l'autri pi' dignità e diritti. Iddhi hannu ognunu u so' ciriveddhu mi raggiùnunu e hannu a campari unu cu l'autru comu si fùssiru  frati râ stessa matri..."

Todos os *seres humanos* nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Como se percebe *cristiani* (cristãos) é a tradução para *seres humanos*.

Algo realmente instigante e ao mesmo tempo inquietante no que diz respeito ao dogmatismo religioso e à imposição histórica que involuntariamente o povo de uma determinada região (no caso a Calábria) acabou assimilando como um vocábulo de altíssimo teor de significado.

Afinal de contas, o que se  expressa no referido dialeto é que "cristiani" é a palavra que significa "seres humanos" o que por conseguinte, pode incitar a um conceito sofismático de que todos aqueles que não são *"cristiani"* não são seres humanos.

Durma-se então com um barulho destes, pois de um modo ou de outro a referida palavra - cujo singular é "cristianu" - pode ser interpretada como um "preconceito religioso".

Será que o Dialetto Reggitanu, terá que reconfigurar ou re-significar o seu substantivo "cristianu" e encontrar uma outra terminologia idiomática para legitimar a existência do ser humano ?

Neste meio tempo, aqui no Brasil a linguagem neutra, continua sendo objeto de discussão em alguns segmentos sociais.



março 12, 2023

ESCULTURA - Adilson Zotovici




Busca o livre  pedreiro com penhor

Em seu canteiro própria escultura

Da sua pedra  bruta o esplendor

Que medra, arguta,  inda obscura


Forte soa em sua mente o clangor

Por sorte viu a Luz, propositura,

E se conduz fremente com amor

Maço e cinzel produz semeadura


Livre da clausura, todo seu  valor,

Na superna  lida  doce ventura

Na eterna vida junto ao Senhor


Perenal lapidação, às vezes dura,

Inda que a perfeição só "O Criador" 

D’Arte Real lição à criatura !



ANIVERSÁRIO DE "OS LUSÍADAS"

 



Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram:

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

- Luís de Camões, "Os Lusíadas", Canto I

Há 451 anos, no 12 de Março de 1572, é publicada a obra portuguesa mais conhecida: Os Lusíadas.

Um dos 34 valiosos exemplares da primeira edição ainda existentes encontra-se na cidade do Rio de Janeiro.

Conta a lenda que no retorno a Portugal com a sua namorada na época o navio naufragou e Camões poderia salvar ou a amada, ou o manuscrito. Todos sabemos o que aconteceu e para imortalizar o fato o poeta escreveu: "Alma minha, gentil, que te partiste, - Tão cedo desta vida descontente..."

O poema épico de Luís de Camões, escrito numa época em que Portugal e Espanha dividiam o mundo, constitui não só a exaltação dos feitos dos portugueses, mas também a elevação da língua pátria – o português. 

A epopeia marítima publicada 70 anos depois da descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, dedicada a D. Sebastião, imortaliza os momentos marcantes da História de Portugal, segundo as regras e convenções da epopeia clássica, que Camões enriquece com o seu imenso saber e requintada criatividade, como quando coloca os heróis portugueses em confronto com os deuses, atribuindo-lhes uma condição divina. 

Uma característica fundamental do poema é de resto a existência de um herói coletivo – o povo português,  – o «peito ilustre lusitano». 

O poema é composto por dez cantos, cada um com um número variável de estrofes. Cada estrofe é composta por versos de dez sílabas, usando o esquema de rimas conhecido como “oitava rima”. É internacionalmente reconhecido como uma obra-prima e está traduzido em inúmeras línguas, do chinês ao russo.