março 21, 2023

A JUSTIÇA SOB A ÓTICA MAÇÔNICA - Kennyo Ismail




Justiça é um termo muito presente na Maçonaria, principalmente porque está diretamente ligada a um personagem presente nas lendas maçônicas, Rei Salomão, tido como o rei mais sábio e justo de todos.

Mas a justiça não é algo natural, não é um elemento da natureza, encontrado em todos os lugares.

A justiça é algo alcançado, conquistado.

E assim como para se fazer a Luz havia antes a Escuridão, ou não haveria necessidade da Luz ser feita, para se fazer Justiça deve haver antes a Injustiça, ou não haverá a necessidade de Justiça.

Entendendo a ligação entre Injustiça e Justiça como início e fim, ação e reação, causa e efeito, percebe-se a necessidade de um “fio condutor”, de um “combustível” que promova tal mudança.

E, nesse caso, é a Compaixão.

É muito fácil compreender o papel fundamental da Compaixão.

Afinal de contas, mesmo num mundo inundado de Injustiças, se não houvesse Compaixão, por que alguém desejaria e buscaria promover a Justiça para outros?

Faltaria o tal fio condutor, o combustível.

Compaixão é exatamente aquele sentimento benévolo que domina o homem ao presenciar uma infelicidade ou mal alheio.

Nós sentimos compaixão quando vemos alguém sofrendo uma injustiça.

Ou quando assistimos pessoas passando fome e outras necessidades, não por opção, mas pela falta de opção, pela injustiça socioeconômica.

O maçom deve ter os olhos abertos para os males da sociedade.

Ele não pode fechar os olhos para o sofrimento do próximo, pois o compromisso do maçom é buscar a felicidade da humanidade.

O maçom é um homem de atitude, que procura construir templos às virtudes e cavar masmorras aos vícios.

Ele busca trabalhar de forma Justa e Perfeita.

E a compaixão nada mais é do que um sentimento de quem se incomoda com a infelicidade alheia, pois deseja a felicidade da humanidade.

Nada mais é do que um sentimento de quem se irrita com as injustiças, pois tem um compromisso com o que é justo.

Enfim, a Compaixão é um sentimento próprio do Maçom, que faz parte do seu ser enquanto houver injustiças no mundo.

É o seu combustível, o mobiliza para seu objetivo como Maçom.

E quais são os caminhos que essa Compaixão nos leva, em direção à Justiça?

Podemos crer que, dentre tantos caminhos, o principal talvez seja a Caridade.

Como um dos três pilares da Escada de Jacó, a Caridade pode ser interpretada como a ação de um homem livre e de bons costumes quando sente compaixão perante o sofrimento do próximo.

Ele tenta reduzir as injustiças com as quais se depara através de um ato de amor.

Não há caminho melhor.

A compaixão é sentimento típico daqueles puros de coração, daqueles que amam ao próximo e não fecham seus olhos.

E a caridade nada mais é do que a prática desse amor.

A caridade é a reação, o efeito da Compaixão.

A busca pela Justiça é um trabalho diário de autodesenvolvimento.

E esse aperfeiçoamento pessoal não tem valor se não é voltado ao bem do próximo e da humanidade.

Albert Pike bem registrou que "O que fazemos por nós mesmos morre conosco. 
O que fazemos fazemos pelos outros e pelo mundo permanece e é imortal".

Vê-se que a Compaixão é parte fundamental em todo o processo de evolução maçônica, porque um maçom nunca se faz de cego perante uma injustiça, ele a sente como se fosse a si mesmo.

E se a evolução se alcança pelo amor ou pela dor, a compaixão está diretamente ligada a ambos.

E o maçom, como construtor social, não se restringe a sentir a compaixão, ele age a partir dela.


21 DE MARÇO - DIA MUNDIAL DA POESIA

 


         O Dia Mundial da Poesia é comemorado no dia 21 de março e foi instituído pela Unesco em 1999. Ele busca reconhecer os movimentos poéticos e a tradição literária, incentivar a leitura, promover a diversidade linguística e celebrar essa forma de arte, entre diversos outros objetivos. Sendo uma arte milenar, a poesia conta com diversos autores, nacionais e internacionais.

         Através do soneto de nosso irmão e poeta Adilson Zotovici, um dos mais frequentes colaboradores deste blog, homenageamos todos aqueles artistas da palavra, que com seus versos, despertam em nossas mentes e corações, as mais elevadas emoções.


*UNA MAÇONARIA*


Teses, pelos cantos, pontuais

A mim sem encantos, sintonia,

Que por tantos, quantos, rituais

_Não há uma só maçonaria_


Inda que alterem feitos, sinais

E diversa a simbologia

Há antigos preceitos, cabais,

Tais conceitos e a liturgia


Com respeito aos meus iguais

Potências, ritos, regalia...

Espreito os preditos e não mais


Inefável prova evidencia

Que inolvidável em seus anais

“Uno Grande Arquiteto e Guia” !



21 DE MARÇO - DIA DE EQUINÓCIO - José Roberto D"Abronzo



Hoje, é dia do Equinócio.

O que é equinócio? O termo refere-se ao momento em que os raios solares incidem a Zênite, o mesmo que a Pino, sobre a linha do Equador do globo terrestre, iluminando a Terra de polo a polo, quando o dia e a noite duram iguais 12 horas.

Temos dois Equinócios por ano:  

1- o de 21 Março.

2- o de 23 de Setembro.

O REAA é um Rito Solar. E fenômenos solares da natureza são aplicados na dinâmica desse Rito demonstrados pela Astronomia, (uma das *Sete Artes* reconhecidas pela Sublime Ordem.

Do mesmo modo que a luz do Sol da natureza incide luz por ângulos variáveis no Globo no decorrer do ano, o mesmo se deve considerar com o Sol do Templo, que se movimenta nele também.

Hoje, 21 de Março é Equinócio em todos os Templos Maçônicos construídos na Terra, onde o Sol de todos os Templos Maçônicos está, simbolicamente, a *pino* no Equador de todos eles, sejam aqueles construídos, no Hemisfério Norte como nos do Hemisfério Sul.

No passado, as iniciações ocorriam no Solstício de Dezembro, uma das razões dos neófitos iniciarem jornada de luz crescente, tendo como ponto de partida a noite de 24 horas da Coluna do Norte, local do Círculo Polar Ártico.

E, as elevações no Solstício de Junho, uma das razões dos companheiros iniciarem jornada de luz mais intensa e crescente na noite de 24 horas do Círculo Polar Antártico.

E as exaltações ocorriam nos equinócios (Câmara de máxima luz) pois nos equinócios a Terra, ao meio-dia, fica iluminada de polo a polo, quando o Sol está no meio, por isso Câmara do Meio.

Seguem as Sete Artes reconhecidas pela Sublime Ordem para melhor compreensão desse Rito Solar.

1- Lógica,

2- Gramática,

3- Retórica,

4- Geometria,

5- Astronomia,

6- Música

7- Aritmética

Os exercícios delas apelam ao intelecto, onde uma delas, a Lógica, exerce papel fundamental no estudo das sete.

Observação:

Como podemos notar, a Astrologia não está entre elas.



março 20, 2023

COMO RECONHECER UM MAÇOM? - (Publicado na JB News nº 908)



Ser reconhecido Maçom podemos até por um simples PIN na lapela.

Por isso nossa preocupação deve ser:

Que qualidade de Maçom sou reconhecido?

Um Maçom de ouro ou um Maçom apenas dourado (ou nem isso…)?

Existem Maçons que se acomodam, julgando que, atingindo o grau de Mestre estão na plenitude maçônica.

Na verdade, considerando a Maçonaria Simbólica é o último grau.

Porém, não se pode dizer com isso sejam, “justos e perfeitos”, vez que o desbaste da pedra bruta somente termina com a nossa ida para o Oriente Eterno.

Assim sendo, triste do Maçom que aposenta seu Maço e seu Cinzel.

Porque a construção de nosso Templo interior só termina com o final de nossa vida material.

E não é suficiente somente esquadrejarmos a Pedra Bruta.

Necessário se faz também deixá-la bem polida.

Diz o LL que fomos criados à imagem do G:.A:.D:.U:. (Gên. 1,26); porém a semelhança precisa ser conquistada.

O desbaste da nossa pedra bruta, poderá resultar numa “obra de arte” ou num “monstrengo”.

Se o monstrengo for o resultado final, o Criador nos irá arguir: “É isto que me apresenta no final de sua caminhada”?!

Nossa responsabilidade vai além do próprio desbaste.

Precisamos ajudar os Irmãos na caminhada, não só com nosso bom exemplo, como alertando os acomodados para um melhor desempenho maçônico.

Não basta ser reconhecido Maçom.

É preciso também ser reconhecido como MISSIONÁRIO, como autêntico CONSTRUTOR SOCIAL.

As duas horas templárias são importantíssimas para recarregarmos nossas baterias.

Assim, não devemos faltar às reuniões da nossa Loja.

Até como desculpa, alguns dizem que já fazem maçonaria, fora do templo.

Ótimo!

Isso é um dever de todo bom maçom.

Mas não o isenta do comparecimento às Reuniões.

Alguns dizem que não vão à Loja, porque as reuniões são da mesmice.

Ora, se a Loja entrou numa mesmice a culpa é de todos e de cada um.

Use-se então o Saco de Propostas e Informações, não para criticar mas para sugerir melhoras.

O bom Maçom participa de tudo de sua Loja, de suas decisões, de seus projetos.

O bom Maçom não se distancia de seus Irmãos; a prática da fraternidade se faz com o bom convívio (Sl 133).

Quando falo aos Aprendizes costumo perguntar „quem é o responsável pela Loja‟ e a maioria deles dizem ser o Venerável Mestre.

Apontando para ele(s) afirmo: O responsável é você.

Somos todos nós.

Talvez muitos Mestres não digam que a responsabilidade da Loja seja do Venerável, mas pensam e agem como se assim o fossem.

Por isso não acham grave faltar às Reuniões, motivo porque algumas Lojas têm até abatido colunas.

Seria bom cada um contemplasse o “OLHO QUE TUDO VÊ”, a onisciência divina, e refletisse: “Como me vê o G:.A:.D:.U:.?

Um maçom responsável, presente, participativo, fraterno, preocupado com o bom desempenho da Maçonaria?”

O progresso na maçonaria também se consegue pelo estudo, pela pesquisa, pela apresentação de Peças de Arquitetura.

Quem assim faz aprende sempre mais e enriquecem também os outros com seus conhecimentos partilhados.

(“A luz que tu levas para alguém, vai iluminar-te também”).

*Não faz sentido Mestre que não ensina...*





AS VAIDADES E O PERDÃO - Sidnei Godinho



Meus irmãos,

Ao iniciar na senda da virtude, todos juram cavar masmorras aos vícios e edificar Templos às virtudes.

Contudo, com o passar do tempo, fica notório comprovar aqueles que realmente se identificam com a Ordem.

Isto porque as vaidades são tantas que, por vezes, ao galgar os degraus da escada de Jacó, alguns irmãos se perdem pelo pseudo poder que julgam possuir e ignoram aquele JURAMENTO que fizeram.

É triste quando nos deparamos com irmãos que nos foram referência na iniciação, pela inocência do principiante, e que depois, já na maturidade da consciência maçônica, damo-nos conta de quão vis são suas ações de tão vaidosas e então acontece a tristeza da decepção...

Mas a sabedoria da Maçonaria também reside nestes casos, afinal aqui se busca ser Justo e Perfeito, o que denota um estado de ação, algo a alcançar.

É uma trajetória que pugna pela Tolerância, mas nunca pela conivência.

Ou seja, os irmãos sempre estarão de braços abertos para perdoar e receber aquele que em algum momento fraquejou, desde que o arrependimento seja eficaz.

Todos estamos sujeitos às decepções de nossas vaidades.

Um dia elas afloram e são postas à público. 

Nada fica omisso aos olhos do Criador. 

Portanto, mesmo nos momentos cruciais, quando se deparar com a exposição de suas fraquezas e se fizerem reveladas suas vaidades, não tome por derradeiro, como se não houvesse mais o que fazer.

Ao contrário, volte ao primeiro Amor, ao Primeiro Juramento e reconheça sua fraqueza.

Peça perdão aos seus irmãos pelo mal que causou enquanto cego pelo poder e volte a trilhar o caminho dos Aprendizes.

Afinal, até a escritura sagrada registra que os céus cabem às crianças, pela inocência de seus atos.

Assim também é o arquétipo dos Aprendizes em nossa Ordem.

A pureza do primeiro juramento é o segredo para se chegar ao Santo dos Santos e ofertar suas ações como sacrifício de incenso, para serem recebidas Justas e Puras pelo Grande Arquiteto. 

À começar por mim, Perdão àqueles que um dia, no afã de ser melhor,  provavelmente ofendi.


março 19, 2023

RELATOS DE UM VELHO BARDO - Roberto Ribeiro Reis



Narra uma sensacional lenda

Que antiga Ordem viveu a senda

Que trouxe ao mundo conhecimento;

Uma história profunda, de muita fé,

Que muitos afirmam ser desde Noé,

O que só aumenta seu encantamento.


Transmissão da palavra de forma oral,

Um costume que viraria um ritual,

Alguns atribuem tudo isso à Cabala;

E foi passando, de geração a geração,

Através de Moisés e também de Abraão,

Quão poderosa é a tradição da fala.


Uma coisa que o bom Maçom leva

É saber que desde Adão e Eva

Já se usava o avental;

Por terem comido do fruto proibido

Ficaram nus, recebendo um “vestido”

Feito de pele para cobrir o casal.


O que para a Igreja inda seja heresia,

Para nós, felizmente, é  Maçonaria,

Milenar, desde gênesis ela é glória!

A Sabedoria nunca nos foi um fardo,

Existem relatos dum velho bardo,

Que transmitiu nossa rica história!





E AGORA JOSÉ ? (hoje é seu dia) - Newton Agrella


Aos "Josés" cristãos, judeus ou de qualquer outra denominação religiosa no mundo, o que vale é que hoje, 19 de Março, este dia é seu !

O nome José em Português é a transliteração de YOUSEF em Hebraico, cujo significado é : “aquele que acrescenta”, fazendo uma referência a Deus. 

Interessante destacar que relatos históricos dão conta de que no início este nome era popular somente entre os judeus. 

Porém no começo da Idade Media, e em especial no continente europeu, o referido nome começou a tornar-se mais frequente entre os cristãos especialmente na Espanha e na Itália em homenagem a São José.

Na Inglaterra, o nome começou a se popularizar após a Reforma Protestante, assim como na Alemanha e Holanda.

A História ainda revela que o nome José começou a se tornar mais comum em Portugal em documentos datados da primeira metade do século XVI, na forma transliterada "Joseph".

O nome em si, sempre esteve intimamente relacionado a um preceito divinal, em razão de seu significado.

Relatos bíblicos, dão conta de alguns personagens de destaque,  fazendo referência no Antigo Testamento a José do Egito, como o décimo primeiro filho de Jacó e Raquel.

No  Novo Testamento cita-se José de Nazaré, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus.

Posteriormente, reverenciado pela Igreja Católica como São José, declarado em 1870 pelo papa Pio IX como o patrono da igreja universal.

E outro José de destaque é José de Arimatéia, um dos discípulos de Jesus.

José ainda ancora o nome de inúmeros santos no catolicismo, via de regra como um agente toponímico, ou seja; fazendo referência ao nome de seus locais de respectivas origens.

As transliterações do nome Yousef em hebraico, ganharam as seguintes formas mais conhecidas:  Giuseppe, em italiano, Joseph, em inglês, Jose em espanhol e José em português.

Sob a égide da interpretação semântica e muito mais sob o ponto de vista das emoções humanas tracos gerais do nome José ensejam as seguintes características: uma personalidade firme, uma pessoa que tem "os pés no chão", resiliente, incansável e que precisa se esforçar mais que os outros para conseguir o merecido reconhecimento.

Eis portanto, uma breve amostra do significado, da etimologia e do universo circunstante, que revelam características atinentes aos inúmeros Josés que compartilham de sua existência  mundo afora.

A própria Bíblia, e o Antigo Dicionário de Nomes Próprios, são fontes de pesquisa e apoio que serviram com base para a elaboração deste sucinto texto.



março 18, 2023

JACQUES DE MOLAY, O ÚLTIMO GRÃO MESTRE DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS - Manuel Beninger



📸 Placa assinalando o lugar da execução de Jacques de Molay, na Île de la Cité, em Paris


Precisamente neste dia, a 18 de Março de 1314, ocorreu um dos acontecimentos mais misteriosos e ao mesmo tempo dramáticos da Idade Média.

Nesta data foi queimado na fogueira em França, o último mestre da Ordem dos Templários Jacques de Molay. E o Rei de França, Filipe o Belo, fez questão de o presenciar pessoalmente. E as extraordinárias implicações que isto teve, inclusive para Portugal...

Esta história começou um pouco antes, numa Sexta-Feira 13, em Outubro de 1307. Neste dia, começou a perseguição à Ordem do Templo, ficando a Sexta-Feira 13 associada para sempre como o dia de azar. Tal facto aconteceu por diversos motivos, complexos de descrever, mas um deles será devido à Ordem do Templo ser um forte credor de França, na altura a braços com uma grave crise.

Não deixa de ser extraordinário, o facto de uma Ordem que foi criada apenas com 9 cavaleiros, ter-se tornado na Ordem mais poderosa do planeta, durante mais de 200 anos. Respondiam apenas perante o Papa e não deviam lealdade a nenhum Rei. Nove cavaleiros esses que passaram imenso tempo nas ruinas do Templo de Salomão, para entre outras coisas, procurar informação relativa ao cristianismo primitivo. Certo é que escreveram para São Bernardo de Claraval, afirmando terem encontrado algo de valor incalculável, que nunca se soube ao certo o que foi, tendo daqui nascido lendas que teriam encontrado ou o Santo Graal, ou a Arca da Aliança... 

Fato: A partir dai, a Ordem e o seu poder cresceram de maneira extraordinária.

No fim de linha, possuíam uma enorme fortuna. Parte dessa fortuna, desapareceu misteriosamente com o fim da Ordem. Depois da extinção da Ordem é facto que os Templários que não foram queimados na fogueira, fugiram para diversos locais, onde um deles foi certamente Portugal.

D. Dinis, desafiando em certa medida a ordem internacional concedeu-lhes abrigo, basicamente mudando o nome da Ordem dos Templários em Portugal, para Ordem de Cristo.

Sensivelmente a partir do fim da Ordem do Templo e do inicio da formação da Ordem de Cristo, Portugal dava inicio à sua expansão marítima e à posterior formação do seu Império, com a Cruz de Cristo sempre presente nas Caravelas Portuguesas...

Mas isso já é outra história... :)

A MALDIÇÃO DE JACQUES DE MOLAY:

Diz a lenda que nas suas últimas palavras Jacques de Molay lançou uma terrível maldição aos seus algozes, "...convocando Filipe e Clement para encontrá-lo dentro de um ano e um dia perante Deus, para serem julgados por seus crimes..."

Seja a lenda verdadeira ou não, no exacto período de tempo descrito por Jaques de Molay ambos os responsáveis pelo fim dos templários estavam mortos.

"Não por nós Senhor, não por nós, mas para a maior glória de Teu Nome."



O GRAU INSÍPIDO - Ir:. Jerônimo Borges


Tive um irmão que me confessava frustrado em sua caminhada maçônica. Apenas algumas poucas semanas lhe serviram de âncora à exaltação. Só muito mais tarde percebeu a inconsistência desse ato indigesto. Era época do famigerado período eleitoral prevendo uma disputa acirrada na Potência e a Loja teve pressa em fomentar novos mestres.

Com o passar do tempo esse irmão, por seus próprios esforços, deglutiu o conhecimento não contemplado no 2º. grau. Mas foi um sabor insosso, sem as emoções de desfrutar com garbo, de uma aprendizagem com assento na Coluna do Sul, com a abeta baixada de seu avental de cor branca.

Como na vida real, na Maçonaria Simbólica existem as três fases distintas que são o nascimento, adolescência e fase adulta. Esta última pode ser nada ou muito produtiva dependendo do aproveitamento de cada um. A verdade é que muitas lojas se acomodam não proporcionando ao obreiro maiores oportunidades de preparo para ingresso e no próprio percurso do mestrado. Se já existe um tempo exíguo para instruções no 2º. grau imagine o comodismo instrucional no grau posterior.

Enquanto que o Aprendiz simboliza o nascimento vindo das trevas, o grau de Companheiro deveria se espelhar como a real vivência a partir da adolescência de um ser humano: um período mais prolongado e melhor aproveitado rumo à fase mais madura.

O grau de Mestre, que simboliza a velhice, melhor poderia ser atingido não fosse à discriminação do Segundo grau. Até mesmo se percebe a simplicidade das sessões magnas para ingresso no 2º. grau, se comparadas à Iniciação ou Exaltação (REAA), inobstante a passagem da “pedra bruta” para a “pedra polida” resultar num processo profundo, altamente filosófico.

Hoje, entretanto, uma boa gama das Lojas e Potências, mesmo as customizadas, não se preocupa no esmero desse significativo grau.

Há instrutores “esquisotéricos” - no dizer do Irmão Kennyo Ismail - que pregam ser essa a idade das indecisões, dos perigos e da falsidade, insinuando ser o número 2 um número temerário, fatídico e cuja permanência nesse estágio,
consequentemente, deva ser a mais curta. Curta, não.

Deveria ser a mais prolongada possível no meu entender.

Esse período, para começar, deveria ter o beneplácito da extravagância dos conhecimentos das Sete Ciências da Antiguidade, cujo conjunto, quando dominado, expressasse o cume da sabedoria humana para alcançar com altivez cultural, o mestrado.

Quantas vezes o Irmão 1º. Vigilante é indagado na abertura dos trabalhos de uma Loja de A:.M:. sobre a nossa condição de Maçom e de forma maquinal nosso subconsciente responde: MM:.IIr:.C:.T:.M:.R:. sem nos darmos conta da profundidade filosófica dessa resposta?

É no grau de Companheiro que o maçom desenvolve os cinco sentidos humanos em sua plenitude para dominar as Sete Ciências como Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. Não adianta sonhar em technicolor pois o mais importante não é o ponto de chegada ao Mestrado ou ao próprio grau 33, mas possuir uma caminhada instrucional consistente.

A Grande Loja de Santa Catarina, por exemplo – apenas me limito a enfocar a Potência a qual estou jurisdicionado - tem um agendamento cultural importantíssimo no preparo do obreiro, estribado em quatro instruções clássicas, além de significativos fascículos e complementos que auxiliam na aprendizagem durante a trajetória de um ano no mínimo do Companheiro, como: Introdução à Filosofia Iniciática da Maçonaria – Introdução Geral aos Mistérios Antigos – A Índia e o Egito, com características gerais religiosas e Mitologia; Filosofia Normativa (Lógica); História da Maçonaria Brasileira; Simbolismo do “Salário dos Aprendizes”; Geometria, gravidade, Gênio e Gnose – Fartura e Abundância e Instrução Iniciática; A Lei dos Opostos, Inteligência e Razão, Sistema e Chave Numerológica de Wronski e Barlet; Os Números e suas Propriedades; Achegas Filosóficas e a Cabala e o Tetragrama Hebraico.

 Mesmo assim, há obreiros que ingressam no 3º. Grau, sem o preparo ideal, por desleixo próprio.

Fossem-me ofertadas oportunidades de regressão e optaria novamente para recomeçar na Arte Real lenta e pausadamente, no topo da Coluna do Norte, sem pressa de atingir a Câmara do Meio e com muito mais vagar na Coluna do Sul.. É no grau de Companheiro, que o maçom mais aprende a ciência maçônica, não se constituindo esse grau, em absoluto, em nenhum peso administrativo.

A propósito, como perguntar não ofende, você, meu caro Mestre, estaria em condições de responder algumas perguntinhas sobre esses assuntos delineados no parágrafo anterior?

março 17, 2023

FILOSOFIA MAÇÔNICA E SUAS PROPRIEDADES - Newton Agrella











Como definição clássica,  *Filosofia*, conforme sua etimologia, é uma palavra de origem grega que se compõe dos vocábulos *"philos"* que significa amizade, amor fraternal e *"sophia"*  que quer dizer sabedoria. 

Sua função é a de propor, refletir, pensar e ponderar a respeito das questões básicas que se referem à vida humana.

Assim, o exercício contemplativo de buscar respostas quanto à nossa própria existência, nosso papel no universo, bem como o propósito da vida, são questões que envolvem inúmeras especulações humanas das quais a Filosofia se ocupa.

Diante de um imenso arcabouço de questionamentos a Filosofia acabou ganhando inúmeras correntes, que tentam explicar e esclarecer, cada uma a seu modo, todas as dúvidas e inquietudes que envolvem a Razão e a Emoção, mediadas por uma propriedade singular chamada Inteligência.

Neste cenário, merece destaque especial a chamada "Maçonaria Especulativa" que constitui-se numa das mais legítimas, abrangentes e profundas instituições filosóficas.

Cabe aí um parêntesis, dando conta que o adjetivo “especulativo” passou a ser aplicado aos Maçons “Aceitos” em meados do século XVIII.

 A expressão “especulativo” era dada, no século XVII, a toda pessoa propensa à contemplação e à meditação. Bem como à dedicação ao estudo e análise, a partir do exercício intelectual do Pensamento.

O “especulativo” era o idealista e não o homem de ação ou profissional.

A expressão fazia referência aos homens cultos, naturalistas, artistas, literatas, pensadores, eruditos e historiadores.

Eram os MAÇONS ACEITOS, aqueles que passaram a integrar a Sublime Ordem, emprestando-lhe gradativamente um caráter mais intelectual do que operativo, até então submetido aos dogmas estabelecidos pela Igreja. 

Registre-se que durante a Idade Média principalmente, o Pensamento Humano, em particular no mundo ocidental, era ⁶essencialmente representado pela Igreja e por conseguinte pela fé cristã.

Fechando o parêntesis, cumpre registrar que a Filosofia, busca propor e especular meios para se construir uma sociedade justa, ou como distinguir entre o que verdadeiramente sabemos e o que apenas opinamos. 

Busca além disso, criar meios para enfrentar os dilemas morais, éticos e comportamentais.

No caso da Maçonaria, a complexidade de sua extensão de significados,  faculta a seus adeptos que a pratiquem, tendo porém como referência, o reconhecimento da  existência de um princípio criador e incriado do universo, como base para que se entenda e se explique a própria existência humana.

Essa complexidade maçônica contém entre suas caraterísticas elementos esotéricos, anímicos, espirituais, simbólicos e ritualísticos, sem contudo, deixar evidenciada a sua vocação antropocêntrica, ontológica e hominal.

Conforme asserção do filósofo grego Platão, a Filosofia é o instrumento intelectual de que o ser humano se vale para a investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum que se mantém cativa da realidade empírica e das aparências sensíveis.



O OBJETIVO DO ESTUDO NA MAÇONARIA - Ir. Louis Block



É correto dizer que o grande problema diante de nós é o da pedagogia da Maçonaria. Isso significa que o ensino dos fatos sobre um grande movimento histórico baseado na teoria de que a verdadeira felicidade do homem só pode ser alcançada pela união de todos em uma democracia alicerçada no espírito da fraternidade, onde cada um não seja apenas o guardião de seu irmão, mas também seu defensor, seu porto seguro, seu auxílio, seu incentivador, seu ombro amigo, seu inspirador e seu exemplo de amor ao próximo e a si mesmo. Tudo isso se ensina através do imaginário e das alegorias da Maçonaria, e de seu simbolismo místico. Não devemos nos perder na busca por algo sombrio, em teorias abstratas perdidas dentro de perspectivas obscuras, confusas, nebulosas e insignificantes; devemos sim estarmos próximos e nos dedicarmos aos verdadeiros valores humanos. Princípios devem existir para estarem realmente inseridos nas vidas das pessoas, se não for assim não farão diferença alguma. Nosso estudo deve aliar teoria e prática, com o estudante realmente utilizando-se de seu aprendizado e compartilhando os valores adquiridos, senão nossos esforços serão em vão.

Também não podemos deixar de mostrar que são os pensamentos que importam, que são eles que controlam a conduta dos homens; que, se seus pensamentos não são bons, o seu comportamento também não pode ser. O que precisamos é fazer com que os pensamentos certos sejam claramente formulados, imbuídos de amor, e profundamente gravados no subconsciente, de modo que eles irão inevitavelmente se expressar em nossos atos no dia-a-dia de nossas vidas. A meu ver, essa é a missão da Maçonaria: a construção desses grandes pensamentos na mente dos homens, transformando-os em atos cotidianos, com a certeza de que eles devem predominar, governar e prevalecer para os homens viverem juntos em paz e harmonia, e desfrutarem da verdadeira felicidade.

Como fazer isso é a grande questão. Como fazer a Ordem sentir que essas ideias não são abstrações vazias, mas reais, poderosas, vivas, atuais e sólidas – essa é a grande tarefa a se realizar. Precisamos compreender juntos os fatos sobre a Maçonaria: o que ela realizou no passado que a faz viver até os dia de hoje por seus próprios méritos? Como ela tem, durante sua existência, auxiliado o homem? Então precisamos colocá-los juntos em uma história de tal forma que ela vá capturar a atenção e manter o interesse do aluno. A capacidade de fazer coisas interessantes, para atiçar uma busca por mais “luz”, é o segredo de todo ensino. Você não pode abrir a cabeça de um estudante e colocar o conhecimento ali dentro, mas você pode incentivá-lo a estudar e aprender por si mesmo, e essa será sua vitória. Já temos a vantagem do grande poder de atração de nossos “segredos” e “mistérios”. Temos de mostrar aos iniciados o quão pouco sabem, quantos mistérios fascinantes ainda precisam ser explorados, investigados, analisados e estudados, para enfim poderem ser compreendidos.

Pergunte por que ele ainda permanece na Ordem. Ela o ajudou? Em caso afirmativo, como e de que maneira? Faça uma série de perguntas socráticas a ele; faça-o pensar! Se ela o auxiliou em algo, de alguma forma, sem dúvida, ela poderá fazer mais. Há mais lá, se ele souber procurar: “buscai e achareis.” Não é fácil ensinar os homens a observar o mundo ao seu redor, muito menos é ensinar-lhes a arte do discernimento espiritual. Mas é possível. Pode ser ensinado, pode ser desenvolvido, pode-se fazer essa habilidade florescer. Muito de nossa pedagogia moderna não é nada mais do que um árido, mecânico e vazio processo. Nossas crianças são instruídas a decorar, imitar, copiar, para seguir “o costume”, e não são nunca preparadas para pensar. Tal procedimento acaba por formar adultos incapazes de formular pensamentos simples, mas originais, não sendo capazes de fazer uma avaliação crítica do que ocorre ao seu redor; e muitos são os que em loja praticam a ritualística de forma errada, por que os Mestres “mais antigos” lhe “ensinaram” que assim é “o uso e o costume” daquela oficina.

Devemos preparar nossos novos maçons, incentivando-os a se dedicarem aos estudos e à pesquisa sobre a Ordem. Devemos incentivá-los a trabalhar sua mente, a construir seu templo espiritual, mas também o intelectual. Devemos incentivá-los a serem originais. Devemos incentivá-los a pensar!


Autor: Hon. Louis Block, Past Grand Master, Iowa. - Tradução: Luiz Marcelo Viegas

Fonte: The Builder Magazine. Volume I, Número 4, abril-1915

março 16, 2023

ABERTURA DO LIVRO DA LEI NO PRIMEIRO GRAU DO REAA - SALMO OU S. JOÃO? - Pedro Juk



Em 25/06/2020 o Respeitável Irmão Leonardo Abreu Amorim Neves, atual Secretário das Relações Exteriores do Grande Oriente da Bahia, COMAB, Estado da Bahia, apresenta o que segue:

Antes de assumir essa função eu estava em um local mais natural e confortável para mim, a Grande Secretaria de Orientação Ritualística. Como fiz um bom trabalho, acaba que me tornei referência para os Irmãos de nossa Obediência e de nosso Oriente sobre essas questões. Atualmente estou trabalhando em um artigo sobre o Evangelho de São João na Abertura do Grau de Aprendiz e me deparei com uma publicação sua em diversos sites. Porém não há referências de pesquisa, sendo esses a que busco diretamente com o Irmão através desta. Tenho alguns Rituais antigos, mas em nenhum deles é mencionado qual o trecho do Livro da Lei, é usado para a abertura da cerimônia. Achei em Rituais franceses, portugueses e alemães a abertura feita no Evangelho de João, mas não nos brasileiros. Será que posso contar com a sua ajuda?

CONSIDERAÇÕES:

Caro Irmão, em se tratando de rituais brasileiros mais antigos há de fato uma deficiência de indicação pertinente a abertura do Livro e a leitura do evangelho, em João I, 1 – 5 no REAA. 

Existem falhas propositais e outras de mero esquecimento. Assim, esse tratado deve ser abordado no contexto doutrinário do REAA que prevê, no 1º Grau, a prevalência da Luz sobre as trevas. Reitera-se, é isso que a liturgia do Rito propõe.

Em termos de Brasil, nem todos os rituais trazem essa abertura, contudo também não a excluem, provavelmente pelo seu caráter de obviedade. 

Infelizmente vivemos no Brasil uma Maçonaria de origem francesa, peripatética e abusivamente sob o estigma de carimbos e convenções. Assim, criou-se a marca de que se deve fazer o que está escrito, mesmo estando o escrito equivocado ou mesmo omisso. Isso acabou despertando muitas mentes preguiçosas que se valem da comodidade do “aonde está escrito”, ao contrário de proporcionar discussões de entendimento ou aplicação de bom senso sobre o conteúdo ritualístico.

Já sob a óptica da autenticidade e de se saber a razão das coisas é que pesquisadores legítimos têm procurado fontes de água limpa para pesquisas a esse respeito. Ou seja, nos rituais franceses. É bem verdade que na França também apareceu um tal São João da Escócia que, a bem da verdade nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.

Autores respeitadíssimos como José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, dentre outros, sempre fizeram a afirmativa de que a abertura no grau de Aprendiz no REAA é feita em João, I, 1 – 5. A essência socrática do grau prevê ao iniciado primeiro conhecer-se a si mesmo, o que em linhas gerais instiga o autoconhecimento, por conseguinte a procura da Luz (... e as trevas não a compreenderam.). 

Nesse sentido, sugiro que o Irmão busque nas obras desses autores, também referências bibliográficas, contudo alerto que nada está pronto. É preciso antes, como já dito, envolver a pesquisa no contexto doutrinário do Rito.

Em termos de rituais escoceses, aqui no Brasil existem alguns que trazem a abertura em João, é o caso de muitos rituais da COMAB, além dos famosos rituais de capa vermelha compostos por Varolli Filho. Numa pesquisa mais abrangente o Irmão encontrará inclusive em rituais antigos do GOB (mesmo que sob o estigma do João da Escócia). Isso não invalida a abertura em João I, 1-5.

Desafortunadamente, muitos rituais brasileiros em vigência trazem o Salmo 133, ou 132 conforme a versão bíblica. Esse é um erro crasso haurido de rituais contraditórios, sobretudo os advindos após a cisão de 1.927 e a fundação das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras. Essa anomalia acabou se espalhando, investindo inclusive sobre os rituais escoceses do GOB como se pode ver atualmente.

A leitura do Salmo 133 teve sua origem no Yorkshire, na Inglaterra. Segundo Harry Carr esse costume logo teria sido abandonado. 

Não como abertura do Livro da Lei, mas como passagem iniciática, o Salmo 133 é lido durante a iniciação nas Blue Lodges (Maçonaria Norte-Americana). É muito provável que foi daí que Bhéring trouxe esse costume e o incluiu no REAA, sobretudo com a edição de novos rituais para as suas Grandes Lojas que por aqui haviam sido recém-criadas. Em síntese o Salmo não possui nenhum caráter de autenticidade, principalmente se tratando do REAA.

De tudo meu Irmão, concito-o a pesquisar na fonte do REAA que é na França. Certamente assim, com uma grade bem fundamentada de pesquisa, conclusões acertadas haverão de ser tomadas. 

Afirmar apenas que um determinado assunto está num ritual, em princípio pode parecer lógico, contudo, é preciso antes perscrutar os “porquês” dos fatos, caso contrário o rumo do estudo poderá estar legado à meras repetições.


SÓLON - O PAI DA DEMOCRACIA (638-558 a.C.) - Eduardo Szklarz




Sólon acabou com a transmissão de poder hereditária e abriu o acesso aos altos cargos do governo para todos os cidadãos

Na Grécia antiga, os aristocratas tinham tanto orgulho da sua origem que se diziam descendentes dos deuses. Cada família recitava a longa lista de antepassados até chegar ao patriarca divino. Com Sólon (638-558 a.C.), não foi diferente: ele traçava a sua origem até Poseidon, o deus grego dos mares. Mas, diferentemente dos outros nobres, Sólon importava-se com os “reles mortais” e dedicou a vida a construir uma sociedade mais justa e igualitária. De tal forma que os historiadores o consideram o pai da democracia ateniense.

“Sólon integra a lista dos Sete Sábios da Grécia ao lado de figuras como o matemático Tales de Mileto“, diz o filósofo Ron Owens, da Universidade de Newcastle (Austrália), no livro Solon of Athens. “Foram feitas várias listas dos sete sábios, e Sólon está em todas elas. A sua influência não era mesmo de desprezar: ao menos 115 autoridades do mundo antigo mencionam-no nos seus escritos, entre eles Aristóteles (384-322 a.C.).”

Apesar da glória entre os seus pares, Sólon é hoje quase um ilustre desconhecido. Sempre que se fala em Atenas, vêm à mente filósofos e matemáticos, mas nunca um sujeito como ele – misto de mercador, poeta e legislador. Afinal, quem foi Sólon? E o que ele agregou à história das ideias?

Sociedade em frangalhos

Sólon nasceu provavelmente em 638 a.C., em Atenas, numa família nobre em decadência. A Grécia estava dividida em dezenas de cidades-estados (poleis, plural de pólis), com governos independentes e uma cultura religiosa comum. Em Atenas, mandava a aristocracia dos eupátridas (os “bem nascidos”), que nomeavam arcontes (magistrados) para legislar em causa própria. Os pobres não tinham acesso ao poder político e muitas vezes pagavam as suas dívidas com escravidão.

Sólon presenciou estas injustiças ainda jovem, quando embarcou em viagens mercantes para tentar recompor a fortuna da família. Ele viu que artesãos e pequenos proprietários de terras eram alijados das decisões políticas e sempre perdiam para os nobres em disputas judiciais.

“A maioria dos camponeses era leal aos aristocratas porque dependia deles para se proteger dos inimigos de Atenas. Mas a população em geral estava cada vez mais insatisfeita“, diz o historiador Bernard Randall no livro Solon: The Lawmaker of Athens.

A oligarquia vetava até os mercadores que enriqueceram com o comércio entre a Grécia e o mundo mediterrâneo. Eles tinham dinheiro suficiente para adquirir armas e terras e por isso esperavam obter uma fatia do poder político. Mas continuaram fora do Areópago, o conselho que escolhia os magistrados. A sua única forma de ganhar uma causa na Justiça era subornando o juiz.

“Com o tempo, mais mercadores se tornaram ricos e viram que a única forma de obter poder seria por meio da força“, diz Randall. De facto, ao longo do século 7 a.C., vários tiranos deram golpes em oligarquias gregas com o apoio dos novos-ricos. Em 632 a.C., o nobre Cylon tentou usurpar o poder em Atenas com o respaldo da ilha vizinha de Megara, onde o seu sogro governava com mão de ferro. Mas o plano falhou e Cylon fugiu.

Em 621 a.C., para tentar colocar ordem no caos, o arconte Drácon elaborou um código de leis duríssimas contra o crime. Um simples roubo era punido com a morte. Não é à toa que “draconiano” passou a ser sinónimo de extrema rigidez. No entanto, nem mesmo as leis de Drácon acalmaram os ânimos.

Da poesia para as leis

Sólon foi o primeiro poeta ateniense cujos versos sobreviveram até aos nossos dias. Fragmentos da sua obra, citados por Plutarco (46-120) e outros filósofos, mostram que ele denunciava as iniquidades da época. E nem por isso ele deixou de ser respeitado pelos nobres. Aliás, sempre manteve a fama de sábio e justo. A sua entrada na política aconteceu durante uma guerra entre Atenas e Megara pela soberania da ilha de Salamina (onde nasceu). Não há registos precisos, mas estima-se que milhares de atenienses tenham morrido em combate. O governo teria até desistido, mas tudo mudou quando Sólon correu para a ágora (praça principal da pólis) e declamou uma ode a Salamina.

“Prefiro renunciar à minha cidade natal e me tornar cidadão de Folegandros (minúscula ilha grega no mar Egeu) a continuar sendo chamado de ateniense, marcado pela vergonha da rendição de Salamina!“, teria dito, motivando os conterrâneos a retornar à batalha.

Segundo Plutarco, Sólon teve papel ativo na estratégia militar que debilitou o inimigo e levou Atenas à vitória. Foi assim que ganhou fama de soldado. Em 594 a.C., foi nomeado arconte e realizou reformas que ajudaram a cimentar o caminho ateniense rumo à democracia.

A sua primeira medida foi promulgar um código de leis escritas que aboliu a escravidão por dívida e proibiu os homens de vender filhas e irmãs. Também alterou o código penal de Drácon. Segundo a nova lei, o ladrão teria de compensar a vítima com o dobro do valor do produto roubado. Ao que tudo indica, o arconte poeta só manteve a pena capital para os homicidas.

Ascensão social

Talvez a grande decisão de Sólon tenha sido substituir o sistema de poder hereditário por outro baseado no dinheiro. Parece injusto, mas foi uma forma de aproveitar a mobilidade social para ampliar o acesso ao poder político. Classificou os habitantes em 4 classes. No topo, estavam os pentacosiomedimnos, donos de terras. Abaixo vinham os hippeis, que tinham dinheiro suficiente para manter um cavalo ao serviço do Estado nas guerras – um luxo para poucos. Em seguida, estavam os zeugitas (a “classe média”) e finalmente os tetes, os mais pobres.

Quanto mais rico o cidadão, mais alto o cargo público que ele podia ocupar. Para quem viveu nesse tempo, quando o poder se perpetuava entre os mesmos sobrenomes, esta foi uma bela mudança rumo à democracia.

Como muita gente podia acumular certa riqueza – graças ao comércio crescente, por exemplo -, o novo sistema era mais igualitário que o anterior. Os tetes não podiam disputar os cargos, pois temia-se que fossem mais propensos a receber subornos. Mas Sólon deu-lhes o direito de se defender nos processos judiciais e de integrar o júri. Mais importante: deu luz verde para que o cidadão com mais de 18 anos participasse da Ekklesia (Assembleia), inclusive os tetes (mas não os escravos, pois esses não eram considerados cidadãos). A Assembleia promulgava leis e decretos, decidia a concessão de privilégios, servia de palco para debates políticos e influía na escolha de arcontes (magistrados). Portanto, quem diria, os mais pobres podiam influir na formação do temível Areópago.

A pauta da Ekklesia era definida pelo Conselho dos 400 (formado por 400 cidadãos de todas as classes, exceto os tetes). As mulheres não votavam, mas justiça seja feita: veja-se o que aconteceu por todo o mundo nos tempos modernos.

“Assim como o filósofo Sócrates (469-399 a.C.), Sólon tentou criar pontes entre os extremos da sociedade e uma nova unidade dentro do Estado“, diz Victor Ehrenberg em From Solon to Socrates (De Sólon a Sócrates). “Ambos são símbolos da moderação e clareza mental que fizeram a grandeza de Atenas“. Em 561 a.C., 30 anos depois das reformas, o tirano Psístrato usurpou o poder em Atenas – com a bênção do Conselho dos 400.

Ao saber da notícia, Sólon interrompeu uma longa viagem pelo Egipto e Chipre e voltou a Atenas para tentar mobilizar a massa. Não conseguiu. Mas a democracia continuou a evoluir mesmo após a sua morte (3 anos depois). Em 508 a.C., as suas reformas foram levadas adiante pelo legislador grego Clístenes. E, no século 5 a.C., continuaram com Péricles e Efialtes. “O principal método de escolha para cargos públicos era o sorteio, tido como o mais igualitário“, diz o cientista político Robert Dahl no livro “Sobre a Democracia”.

Para ele, um cidadão ateniense tinha uma possibilidade razoável de ser sorteado ao menos uma vez na vida.

Segundo alguns historiadores, Sólon decepcionou muita gente. Os ricos diziam que as suas inovações foram longe demais, e os pobres reclamavam que foram insuficientes (queriam a reforma agrária). Nem o sábio conseguiu agradar a gregos e troianos.