abril 23, 2023

23 DE ABRIL, DIA DE SÃO JORGE , SINCRETISMO e HISTÓRIA - Newton Agrella



Do ponto de vista eminentemente cultural, cabe nesta data, fazermos um resgate em homenagem a São Jorge, um dos Santos mais cultuados pelos brasileiros.

Cabe porém, uma breve consideração histórica e sociocultural.

Dada a miscigenação ética ocorrida em nosso país, o resultado disto é um "melting pot" de elementos culturais e religiosos.

Isto, seguramente, contribui para explicar o Sincretismo que se processa em torno da figura de São Jorge.

O sincretismo religioso tem suas maiores expressões no Brasil por uma questão histórica. 

A colonização na  formação do povo brasileiro ultrapassou os limites daquilo que foi documentado e do que é oficialmente reportado.

Em razão disto, o culto e a devoção, particularmente a este santo, obedeceu uma condição muito peculiar.

Cabe registrar que ao enorme contingente de negros vindos da África na condição de escravos, eram proibidas as manifestações de suas crenças religiosas e a veneração a seus deuses.

Entretanto, com extrema inteligência, criatividade, sagacidade e o espírito de libertação que sempre trouxeram dentro de sí - e que por ela tanto lutaram - estas pessoas e seus descendentes encontraram meios de manter a fé em suas divindades e  desenvolveram uma analogia ou talvez um processo de alegoria, em que invocavam seus deuses (orixás) valendo-se de imagens de santos do catolicismo cristão.

Assim, criaram-se equivalências sincréticas : 

Oxóssi, como São Sebastião, Iansã, na forma de Santa Bárbara, Oxalá, como Jesus Cristo, Ogum, como São Jorge, dentre tantas outras.

Foi portanto, a partir deste ação sincretista, que as religiões ou cultos de matriz afro-brasileira, como a Umbanda e o Candomblé, construíram uma identidade singular, em que cada Orixá passou a representar um ou mais santos da Igreja Católica.

São Jorge, talvez tenha sido aquele que se tornou o mais popular dentro todos e cujo simbolismo se apoia sobre a crença de que se trata do Santo das estradas, dos caminhos, da proteção e da noite.

Há uma extensa literatura, cujos fragmentos históricos retratam com muita profundidade e propriedade todo esse Sincretismo tão inerente a uma significativa parcela de nossa sociedade.



abril 22, 2023

O DESEMBARQUE DE CABRAL NO BRASIL - Junior Hamilton



 No século XV, Portugal se torna um reino unificado e centralizado, menos sujeito a convulsão e disputas, diferente da França, Inglaterra, Espanha. Em torno do rei, se agruparam vários setores influentes como a nobreza e a burguesia, no qual as duas eram favorecidas pela expansão.

Foi assim que as Caravelas de Cabral saíram de Portugal no dia 09 de Março de 1500, contando com aproximadamente 1400 homens, entre marinheiros, técnicos em navegação, escrivãos, cozinheiros, padres e ajudantes, e acabaram por se desviar do caminho das Índias (intencionalmente ou não), chegando ao Continente Americano, mais precisamente ao Brasil, em 22 de Abril de 1500. Nesta data as caravelas da esquadra portuguesa chegaram ao litoral sul do atual estado da Bahia, onde avistaram um monte ao qual batizaram de Monte Pascoal, pois chegaram aqui na época da Páscoa.

Ao chegarem aqui, mantiveram contato com os nativos, escreveram ao Rei de Portugal contando a respeito de todas as riquezas naturais que encontraram, e se estabeleceram aqui com uma colônia de exploração.

O desembarque aconteceu no dia 23 de Abril, 45 dias após a partida de Portugal. Dois dias depois, em 26 de abril, é rezada a primeira missa no território. No dia 1º de maio, Pedro Álvares Cabral oficializa a posse das terras brasileiras pela Coroa portuguesa com a celebração da segunda missa diante de uma cruz marcada com o brasão real.

QUEM FOI TIRADENTES - Rodrigo Basile




 
Joaquim José da Silva Xavier foi militar, comerciante, ativista político e dentista, ofício que lhe rendeu a alcunha de Tiradentes. Nascido em Minas Gerais em 12 de novembro de 1746, se tornou símbolo da Inconfidência Mineira, movimento separatista que ocorreu na então capitania de Minas Gerais, e que, dentre outras bandeiras, lutou contra o domínio português e a cobrança de tributos

Tiradentes, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, entre outros, organizaram o levante, porém antes que a conspiração se transformasse em revolução – em 15 de março de 1789 – foram delatados às autoridades por Joaquim Silvério dos Reis, Basílio de Brito Malheiro do Lago, e Inácio Correia de Pamplona, em troca do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda. Todos os inconfidentes foram presos e aguardaram o julgamento durante três anos. Após o perdão de D. Maria I, alguns foram condenados ao degredo e Tiradentes foi condenado à morte. Foi enforcado, esquartejado e sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica – atual município de Ouro Preto (MG) – com os demais restos mortais distribuídos ao longo do Caminho Novo do Ouro.

Desde a Proclamação da República no Brasil, em 1889, Tiradentes é considerado herói nacional e é patrono cívico do Brasil, além de patrono das Polícias Militares e Polícias Civis dos Estados. A cidade mineira de Tiradentes – antiga Vila de São José do Rio das Mortes – foi renomeada em sua homenagem e diversas cidades brasileiras prestam homenagem ao mártir, nomeando praças, como em Ouro Preto e no Rio de Janeiro. Seu nome está escrito no Panteão da Pátria e da Liberdade Brasileiro (conhecido como o “Livro dos Heróis da Pátria”) desde 21 de abril de 1992. A Lei Nº 4.897, de 9 de dezembro de 1965, durante o governo do presidente Castelo Branco, estabeleceu o feriado.

A Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional custodia diversos documentos sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira com destaque para:

A Coleção Tiradentes, que contém documentos de Joaquim José da Silva Xavier referentes ao cargo de alferes, correspondência de Inácio José de Alvarenga, João Rodrigues de Macedo, Bárbara Heliodora da Silveira e Joaquim Silvério dos Reis; requerimentos e pareceres emitidos por Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa; sequestro de bens dos envolvidos com a Inconfidência Mineira; documentos referentes ao traslado do corpo de Tiradentes.

A Coleção Casa dos Contos contém documentação fiscal e de controle sobre a extração do ouro e diamante em Minas Gerais.  Abrange o período do Regime dos contos, estatuto que regulou o controle fiscal do reino de Portugal entre 1650 e 1761 e, posteriormente do Erário Régio. Ao Erário Régio cabia a arrecadação e contabilidade das rendas geradas nas capitanias e nos domínios ultramarinos, tendo sido elevado à categoria de Secretaria de Estado em 1788. Por alvará de 17 de dezembro de 1790, o Erário foi incorporado ao Conselho de Fazenda, centralizando-se as questões de fazenda. A criação do Erário Régio, em 1761, em Portugal, inaugura alterações profundas nos métodos de arrecadação e contabilidade das rendas régias. O acervo foi transferido pela Casa dos Contos de Ouro Preto e Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional de Belo Horizonte, entre 1919 e 1923. Contém correspondências e documentos diversos referentes à história administrativa da antiga capitania de Minas Gerais como contratos, certidões, procurações, licenças, provisões, relações de pagamentos tratando, principalmente, de temas como impostos, Conjuração Mineira, escravidão, Real Erário, contrabando de ouro e diamante, sesmarias, mineração.



abril 21, 2023

VINTE E UM DE ABRIL - Adilson Zotovici








Sem se conter, por Liberdade, 

Conjuração com pertinência 

A defender sua propriedade 

Com obstinação, resistência


Inflama a arbitrariedade, 

A exploração, a truculência  

E clama a sociedade 

Contra a Derrama, inclemência  


Homens da fraternidade 

Quiseram igualdade, decência, 

Para si e à posteridade 

Tiveram a intransigência 


E a traição persuade  

À punição em essência !

Contra o Alferes...atrocidade

Degredo a outros em sequência


Travos de insídia, ambiguidade 

Timbravam de Inconfidência

Aos bravos heróis, que em verdade, 

Ansiavam a Independência ! 




ACADEMIA MAÇÔNICA VIRTUAL BRASILEIRA DE LETRAS - *SAPERE AUDE - Adilson Zotovici


Um dos mais belos textos filosóficos de todos os tempos, de autoria de Immanuel Kant, deu o mote para o dístico da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras, que hoje comemora o seu segundo ano de fundação com um quadro de 49 dos mais eminentes intelectuais da maçonaria pátria. E em comemoração a esta efeméride o acadêmico poeta Adilson Zotovici nos brinda com este lindo poema.


"A ilustração (Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o próprio responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de um outro. O homem é o próprio culpado dessa menoridade quando sua causa reside não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de um outro. Sapere aude!  'tenha coragem de usar seu próprio entendimento!' 


Forte e serena motivação

Tal cinzel e maço o conceito

Pergaminho e pena à mão  

Caminho em cada traço feito 


Magia das letras em ação 

Da Arte Real o preceito

Na “Academia” a ascensão

Cultural, perenal o preito 


Um livro é feito um coração 

Abri-lo é como abrir o peito 

E dar asas à sua emoção 


Cria-lo é ato de respeito 

Ousar a ser sábio  a razão 

Que de fato é justo, perfeito... !



abril 20, 2023

SER MESTRE MAÇOM É... - Rui Bandeira



Ser mestre maçom é mais do que uma chegada, uma nova partida, não um objetivo atingido mas um projeto sempre em execução. A Exaltação à Mestria possibilita que o Obreiro atento o entenda desde logo.


Simplesmente, enquanto até aí o maçom teve guias e apontadores de caminhos, quando a Loja concede a um maçom a sua “carta” de Mestre, este sente-se um pouco como aquele que, após as suas lições e o seu exame de condutor, recebe a sua carta de condução: está habilitado a conduzir (a conduzir-se…) mas… inevitavelmente que sente alguma ansiedade por estar por sua conta e risco, sem rede que ampare suas quedas em possíveis erros.


Assim, apesar de serem as mais visíveis manifestações da mudança de estado conferida pela Exaltação à Mestria, não são o seu direito à palavra e o seu direito ao voto que são importantes. Importante é a sua total capacidade de exercer o seu verdadeiro e pleno direito ao seu caminho. O direito a trilhar o seu caminho por si, só, se assim escolher ou assim tiver que ser, ou acompanhado por quem quiser que o acompanhe e que o queira acompanhar, se assim for de vontade dos interessados, pelo tempo que quiser, por onde quiser, como quiser, para o que quiser.


O direito ao seu caminho enquanto cidadão já o tinha desde que atingiu a idade adulta e como adulto foi pela lei do Estado considerado. O direito ao seu caminho enquanto maçom, ou seja, o caminho do aperfeiçoamento, da busca da excelência, da proximidade tão próxima quanto humanamente possível for, da Perfeição, a ser trilhado por si só, como quiser, quando quiser, pela forma que quiser, adquire-o o Maçom com a sua Exaltação à Mestria, após o tempo de preparação que necessário foi para que não seja em vão que esse direito lhe seja conferido, para que efetivamente o exerça. Porque é um direito que o Mestre Maçom deve exercer como um dever, com a diligência do cumprimento de uma obrigação.


Ser Mestre Maçom é, assim, essencialmente cumprir o dever de exercer o seu direito de escolher e percorrer o seu caminho para a excelência.


Para quem andou longo tempo a ser guiado, não é fácil ver-se, de um momento para o outro, responsável pelo seu caminho, sem ajuda, sem orientação, sem rede. Responsável, porque livre, porque pronto, porque assim é o destino do homem que busca o brilho da Luz, da sua Luz. Mas, após uma pausa para ganhar orientação e pesar as suas escolhas, todos os Mestres Maçons seguem o seu caminho – porque para isso foram preparados, por isso são Maçons, com isso são verdadeiramente Mestres.


O caminho que cada Mestre Maçom decide escolher tem em conta a primacial pergunta que faz a si mesmo: Que fazer, como fazer, para ser melhor? A essa pergunta cada Mestre Maçom vai obtendo a sua resposta, pessoal, íntima, tão diferente das respostas de outros quanto diferente dos demais ele é. E é na execução da resposta que vai obtendo, no traçar do trabalho que essa resposta propõe, que o Mestre Maçom constrói, porque construtor é, o seu percurso. E a cada estação conquistada, novamente a mesma pergunta de sempre se lhe coloca: que fazer, como fazer agora para ser de novo melhor? E nova resposta e novo percurso e nova paragem, com nova e sempre a mesma pergunta, com outra resposta e outro percurso, incessantemente se apresentam.


Mas o Mestre Maçom não sabe apenas buscar a resposta à sua pergunta. Sabe também que, embora cada um trilhe o seu solitário caminho, os caminhos dos maçons têm muito de comum e sobretudo são postos por eles muito em comum.


O Mestre Maçom sabe assim que o que adquire, o que ganha, o que aprende, o que consegue, não é para ser avaramente fruído apenas por si, antes é para ser posto em comum com a Loja, pois também é do comum da Loja que recolhe contributos, ajudas, meios, ferramentas, para melhor e mais frutuosamente obter respostas às suas perguntas.


Ser Mestre Maçom é, assim, sempre, dar o seu contributo à Loja, seja no que a Loja lhe pede e ele está em condições de dar, seja no que ele próprio considera poder tomar a iniciativa de proporcionar à Loja. Porque ser Mestre Maçom é também saber que, quanto mais der, mais receberá, que a sua parte contribui para o todo mas também aumenta em função do aumento desse todo e que, afinal, não é vão o dito de que “dar é receber”.


Ser Mestre Maçom é portanto saber que o seu percurso pessoal será mais bem e mais facilmente percorrido se o for com a Loja, pela Loja, a bem da Loja. Porque o bem da Loja se traduz em acrescido ganho para o maçom, que assim consegue realizar o paradoxo de ser um individualista gregário, porque integra e contribui para um grupo que é gregário porque preza e impulsiona a individualidade dos que o compõem.


Ser Mestre Maçom é descobrir que a melhor forma de aprender é ensinar e assim escrupulosamente executar o egoísmo de ensinar os mais novos, os que ainda estão a trilhar caminhos que já trilhou, dando-lhes o valor das suas lições e assim ganhando o valor acrescido do que aprende ensinando – e sempre o homem atento aprende mais um pouco de cada vez que ensina.


Ser Mestre Maçom é comparecer e trabalhar na Loja, mas sobretudo trabalhar muito mais fora da Loja. Porque o que se faz em Loja não passa de “serviços mínimos” que apenas permitem a sobrevivência da Loja e o nível mínimo de subsistência do maçom. O trabalho em Loja é apenas um princípio, uma partícula, uma gota, uma pequena parte do trabalho que o Mestre Maçom deve executar em cada um dos momentos da sua existência.


Ser Mestre Maçom é portanto mais do que aguardar que algo lhe seja pedido, antes tomar a iniciativa de fazer algo – não para ser reconhecido pela Loja, mas essencialmente por si, que é o que verdadeiramente interessa.


Ser Mestre Maçom não é necessariamente fazer grandes coisas, excelsos trabalhos, admiráveis construções. Mais válido e produtivo é o Mestre Maçom que dedica apenas cinco minutos do seu dia a fazer algo muito simples em prol da sua Loja, da Maçonaria, afinal de si próprio, desde que o faça efetivamente todos os dias, do que aqueloutro que uma vez na vida faz algo estentório, notado, em grande estilo, mas sem continuidade. Porque a vida não se esgota num momento, nem numa hora, nem num dia. A vida dura toda a vida e é para ser vivida todos os dias de toda a vida.


Ser Mestre Maçom não é necessariamente ser brilhante, mas é imprescindivelmente ser persistente E o Mestre Maçom que persistentemente realize dia a dia, pouco a pouco, o seu trabalho, pode porventura passar despercebido, não receber méritos nem medalhas nem honrarias, mas tem seguramente o maior mérito, a maior honra, a melhor medalha, o maior reconhecimento a que deve aspirar: o de ele próprio reconhecer que fez sempre o seu trabalho, deu o seu melhor, persistiu na sua tarefa e, de cada vez que olhou para si próprio, viu-se um pouco, um poucochinho que seja, melhor do que se vira da vez anterior. E assim sabe que, pouco a pouco, no íntimo do seu íntimo, sem necessidade que outros o honrem por tal, ganhou um pouco mais de brilho, está um passo mais próximo do seu objetivo, continua frutuosamente percorrendo o seu caminho para o que sabe ser inatingível e, no entanto, persiste em procurar estar tão próximo de atingir quanto possível: a Perfeição!


Em suma, ser Mestre Maçom define-se com o auxílio de uma frase que li há algum tempo e que foi dita por alguém que creio até que nem sequer foi maçom, Manuel António Pina, jornalista, escritor, poeta, laureado com o Prémio Camões em 2011, falecido em 19 de outubro de 2012: o Mestre Maçom é aquele que aprendeu e que pratica que o mínimo que nos é exigível é o máximo que podemos fazer.

...

Rui Bandeira. Publicado no Blog “A partir pedra” em 24 de Abril de 2013.

LIÇÕES DE TEILHARD DE CHARDIN

 





Textos de Pierre Teilhard de Chardin (Nascido em Orcines, 1 de maio de 1881 — Falecido em Nova Iorque, 10 de abril de1955), que foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês, que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia:*


*"A religião não é apenas uma, são centenas.*

*A espiritualidade é apenas uma.*

 

*A religião é para os que dormem.* 

*A espiritualidade é para os que estão despertos.*


*A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.* 

*A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.* 


*A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.* 

*A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.* 


*A religião ameaça e amedronta.* 

*A espiritualidade lhe dá Paz Interior.* 


*A religião fala de pecado e de culpa.* 

*A espiritualidade lhe diz: "aprenda com o erro"...* 


*A religião reprime tudo, te faz falso.*

*A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!* 


*A religião não é Deus.* 

*A espiritualidade é Tudo e, portanto é Deus.* 


*A religião inventa.* 

*A espiritualidade descobre.* 


*A religião não indaga nem questiona.* 

*A espiritualidade questiona tudo.* 


*A religião é humana, é uma organização com regras.* 

*A espiritualidade é Divina, sem regras.* 


*A religião é causa de divisões.* 

*A espiritualidade é causa de União.* 


*A religião lhe busca para que acredite.* 

*A espiritualidade você tem que buscá-la.* 


*A religião segue os preceitos de um livro sagrado.* 

*A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.* 


*A religião se alimenta do medo.* 

*A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.* 


*A religião faz viver no pensamento.* 

*A espiritualidade faz Viver na Consciência...* 


*A religião se ocupa com fazer.* 

*A espiritualidade se ocupa com Ser.* 


*A religião alimenta o ego.* 

*A espiritualidade nos faz Transcender.* 


*A religião nos faz renunciar ao mundo.* 

*A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.* 


*A religião é adoração.* 

*A espiritualidade é Meditação.* 


*A religião sonha com a glória e com o paraíso.* 

*A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.* 


*A religião vive no passado e no futuro.* 

*A espiritualidade vive no presente.* 


*A religião enclausura nossa memória.* 

*A espiritualidade liberta nossa Consciência.* 


*A religião crê na vida eterna.* 

*A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.* 


*A religião promete para depois da morte.* 

*A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.*


*"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual...* 

*Somos seres espirituais passando por uma experiência humana..."*

abril 19, 2023

A PEDRA BRUTA E SUAS APLICAÇÕES FILOSÓFICAS - Geraldo Batista de Camargos





PREFÁCIO

A pedra bruta é a pedra de cantaria, que é uma pedra própria para ser esquadrejada e usada nas construções, já que só a pedra esquadrejada cúbica, ou em forma de paralelepípedo – é que encaixa perfeitamente nas construções, sem deixar vãos. Os homens que nela trabalhavam eram os canteiros, ou esquadrejadores da pedra, os quais a transformavam na pedra cúbica. Daí os dos símbolos em Loja, já que praticamente tudo o que fazemos, hoje, tem sua origem nas organizações dos franco-maçons de ofício, ou operativos, como a dos canteiros. (José Castellani)

INTRODUÇÃO

Para os iniciados nos Augustos Mistérios da Maçonaria, a apresentação do seu primeiro trabalho é um passo de valor imensurável, por tratar da importância de pesquisar, comparar obras de mais de um autor, tirar conclusões próprias, externar o que pôde aprender e o que progrediu com os ensinamentos prestados pelos irmãos de Loja.

O tema escolhido é palpitante haja vista sua aplicabilidade tanto no meio profano como na maçonaria simbólica, de vez que podemos verificar desde as mais antigas civilizações já se faziam menções sobre as pedras, que ao longo do tempo foram utilizadas das mais diversas formas para expor o pensamento humano, seja ele religioso como filosófico. Não obstante a maçonaria especulativa muito sabiamente aproveita esses conceitos retirados das pedras a expressão marcante e lança ensinamentos para todos seus membros, desde sua iniciação.

O objetivo principal desse trabalho é apresentar a simbologia das pedras presentes em várias civilizações e em diferentes épocas e sua aplicação na formação dos maçons aceitos.

DESENVOLVIMENTO

A história da humanidade desde seu inicio tem um vínculo forte com as pedras. O homem das cavernas descobriu-as como grandes aliadas. A pedra foi utilizada para vários fins seja como arma ou outra ferramenta qualquer que facilitara a vida de nossos ancestrais.

O tempo foi passando e o homem evoluía cada vez mais, seus aprendizados foram aprofundando-se, até que adquiriu o domínio de várias técnicas, as quais eram vitais para sua sobrevivência. Essas técnicas deram origem a ciência, produto do intelecto humano, como somatório dos conhecimentos adquiridos. Ainda em sua primitividade o homem, por seus caracteres que diferem dos outros animais (corpo, alma e mente), sentia a necessidade de comunicar com o ser superior, pois percebia em sua espiritualidade que foi criado, logo, desse sentimento nasceu a religião que era manifestada de forma muito variada conforme cada região onde habitava.

As pedras dentro da religiosidade têm um valor sem par, elas eram erigidas para representar seus deuses. E vemos que de simples pedras não-talhadas, gradativamente os homens foram utilizando pilares lavrados e depois para colunas talhadas esculturalmente segundo a semelhança de animais ou homens destinados a tornarem objetos de reverência e culto como representação de deuses, que por sua solidez e durabilidade servia para sugerir o poder e a estabilidade de uma divindade.

O culto utilizando pedras tem sido rastreado em quase todas as regiões da terra e entre quase todos os povos bárbaros. A Bíblia Cristã, desde o livro do Gênese até o Apocalipse, faz alusões às pedras, vejam alguns exemplos:

Em Gênese, capítulo vinte e oito, versículo dezoito, lemos: “No dia seguinte pela manhã, tomou Jacó A PEDRA sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em Estela derramando óleo sobre ela;

As tábuas onde foram escritos os dez mandamentos eram de PEDRA (Êxodo, capítulo trinta, versículo dezoito);

Há referências bem conhecidas tanto no Velho com no Novo Testamento sobre as pedras símbolos. No Livro dos Salmos, capítulo cento e dezoito, lemos: “ A PEDRA que os construtores rejeitaram, tornou-se PEDRA ANGULAR”. Considera-se isso uma profecia dirigida a Jesus, como o Cristo, que foi rejeitado pelos judeus, mas tornou-se a PEDRA fundamental da igreja.

Jesus cita essas palavras em Mateus, capítulo vinte e um, acrescentando: “Aquele que tropeçar nesta PEDRA, far-se-á em pedaços, e aquele sobre quem cair será esmagado”.

Pedro denomina Jesus em sua segunda epístola, capítulo quatro, como PEDRA PRECIOSA;

Ao passo que Pedro foi chamado CEPHAS, quer dizer PEDRA, pelo próprio Jesus em Mateus, capítulo vinte e seis, versículo dezoito.

Já no judaísmo se vê a velha lenda sobre o maravilhoso depósito de PEDRA DE FUNDAÇÃO, É encontrada no livro Talmúdio-yoma, que afirma, ela tinha sobre si o nome sagrado de DEUS gravado na síntese da sigla G.A.O.T.U. Alguns rabinos hebraicos dos tempos antigos adeptos à doutrina metempsicose acreditavam que uma alma humana podia após a morte não só renascer num corpo humano, mas também, por culpa de seus pecados, num corpo de animal e até mesmo aprisionado numa PEDRA. No fólio hebraico número cento e cinqüenta e três, podemos ler: “A alma de um caluniador pode ser forçada a habitar uma PEDRA SILENCIOSA.

Os antigos gregos costumavam erguer colunas de pedras consagradas diante de seus templos e ginásios e até mesmo as habitações de seus cidadãos insignes. No mundo árabe em Meca (cidade de peregrinação islâmica), acha-se a PEDRA mais notável do mundo, é uma PEDRA PRETA, que está preservada na “kaaba” ou casa cúbica que fica no átrio da mesquita sagrada. Acredita-se que seja um aerólito ou pedra meteórica. Esta PEDRA PRETA tem sete polegadas de comprimento aproximadamente, e é oval, segundo diz, ela foi quebrada durante o assédio de Meca em 683 DC, foi recomposta com cimento e encerrada numa cinta de prata. Está embutida na parede do ângulo nordeste da kaaba a uma altura que permite que os devotos a beijem em ato de adoração.

Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos da correlação homem e pedra, presente na cultura religiosa que é a mais antiga manifestação circundada na vida humana. Assim também para a maçonaria as pedras têm um valor imensurável, posto que a própria origem desta instituição tenha muito haver com elas, uma vez que é herdeira o conhecimento de várias associações de construtores, principalmente daquelas manifestada durante a Idade Média. A representação simbólica das pedras está intimamente ligada com a vida de um maçom, desde sua iniciação, seu primeiro trabalho realizado à frente do irmão primeiro vigilante, onde ele ainda não percebe a riqueza existente nesse gesto.

A PEDRA BRUTA é o ponto de partida para a grande transformação a ser feita no espírito do maçom. Desbastar esta PEDRA BRUTA significa que esse trabalho simbólico deve-se dedicar o maçom para chegar a ser o obreiro que domina a boa arte de construir. Na realização desse trabalho o iniciado é ao mesmo tempo obreiro, matéria-prima e instrumento. Ele mesmo é a PEDRA BRUTA, que representa seu atual estado de imperfeito desenvolvimento, que deve converter-se em forma de perfeição interior.

Como a perfeição é infinita e seu absoluto é inacessível, o que nos resta fazer é tão somente aproximar da perfeição ideal, por etapas de progresso, desenvolvendo-as através de sucessivos graus de perfeição relativa. O próprio reconhecimento de nossa imperfeição por um lado e de outro um ideal desejado são as primeiras condições indispensáveis para que possa existir o trabalho de desbaste. Se o Aprendiz souber relevar, quando algum irmão o aborrecer, estará retirando uma aresta, se ele usar o exercício da tolerância contra as agressões, mais arestas caem. O construir, o participar, o contribuir e o atender são atributos que também retiram arestas.

Contudo a melhor maneira de desbastar a PEDRA BRUTA é a própria comprovação fraterna – chave para abrir portas aos irmãos e assim estaremos dando mostras de que os amamos. Este é o caminho certo, o início do aperfeiçoamento, que certamente será longo, áspero e de sacrifícios, mas vale a pena ser trilhado. É dando que se recebe lembra-nos Francisco de Assis, em uma mensagem de amor.

Assim pedem os aprendizes maçons, sempre haja alguém que os ajudam a suportar o fardo, a torná-lo leve, colaborando com seu progresso mostrando sempre o caminho do bem e da virtude. É necessário ainda que cada um de nós, sendo PEDRA BRUTA conheça sua natureza, descubra de que material é feito, que resistência possui, se é pedra-ferro, pedra mármore, granito ou outra composição.

Esse trabalho deve ser uma contínua rotina em nossas vidas, uma vez que a necessidade de aprimoramento seja ele intelectual; espiritual ou psíquico faz parte da natureza humana para atingir novos paradigmas do verdadeiro progresso, a serviço da própria humanidade que vai adentrando por séculos e séculos cumprindo seu destino. Pois somos degraus na cadeia da divindade, e cada degrau sustenta um e é sustentado por outro, o ser evolucionado além de limpar e polir seu degrau tem também o dever de contribuir para a limpeza dos outros, para que nada de feio se veja, assim estaremos evoluindo e colaborando para a evolução do todo, pois “o todo é muito maior que a simples soma das partes”.

CONCLUSÃO:

O valor alegórico inspirado nas pedras, desde os primórdios tempos, é refletido para toda a existência, que o homem moderno precisa obter os ensinamentos que elas – as pedras proporcionam, a fim de melhorar sua própria vida, para contribuir na construção de uma sociedade centrada nos bons costumes. Desta forma, faz-se necessário buscar incessantemente o aprimoramento individual e coletivo, quer nos trabalhos das oficinas, nos encontros fraternos, na aplicação da doutrina, no ensinamento geral a que todos abrangem, nas ocupações do mundo profano, que o maçom cumpre integralmente sua finalidade na sociedade humana.

A transformação de PEDRA BRUTA EM PEDRA POLIDA só encontra seu significado real com o trabalho primitivo dos PEDREIROS LIVRES, quando, a própria oficina procura anular as arestas de seus próprios membros quaisquer que sejam as suas posições em Loja, sejam quais forem seus títulos iniciáticos.


Bibliografia:

Constituição do Grande Oriente do Brasil

Ritual (REAA) 1º Grau – Aprendiz

Enciclopédia Barsa

“A simbólica Maçônica” – Jules Boucher

“Caderno de Estudos Maçônico” – José Castellani

Manual do Aprendiz-Maçom

Bíblia Sagrada

Enciclopédia da Sociedade de Ciências Antigas

LOJA MAÇÔNICA - Kennyo Ismail

Qual maçom nunca foi questionado por um profano do porquê do termo “LOJA”?

Muitos são aqueles que perguntam se vendemos alguma coisa nas Lojas, para justificar o nome.

Alguns, fanáticos e ignorantes, chegam a ponto de indagar que é na Loja que os maçons vendem suas almas!

Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que, só porque “loja”, em português, denomina um estabelecimento comercial, isso não significa que o mesmo termo em outras línguas tem o mesmo significado. Vejamos:

“Loge”, palavra francesa, pode se referir à casa de um caseiro ou porteiro, um estábulo, ou mesmo o camarote de um teatro. Mas os termos franceses para um estabelecimento comercial são “magasin”, “boutique” ou “commerce”.

Da mesma forma, o termo usado na língua inglesa, “lodge”, significa cabana, casa rústica, alojamento de funcionários ou a casa de um caseiro, porteiro ou outro funcionário. Os termos mais apropriados para um estabelecimento comercial em inglês são “store” ou “shop”.

Já o termo italiano “loggia” significa cabana, pequeno cômodo, tenda, mas também pode designar galeria de arte ou mesmo varanda. Os termos corretos para um estabelecimento comercial são “magazzino”, “bottega” ou “negozio”.

Em espanhol, “logia”, derivada do termo italiano “loggia”, denomina alpendre ou quarto de repouso. As palavras mais adequadas para estabelecimento comercial são “tienda” e “comercio”.

Por último, podemos pegar o exemplo alemão, “loge”, que não tem apenas a grafia em comum com o francês, mas também o significado: um pequeno cômodo mobiliado para porteiro ou caseiro, ou um camarote. Já os melhores termos para estabelecimento comercial em alemão são “kaufhaus”, “geschaft” ou “laden”.

Com base nesses termos, que denominam as Lojas Maçônicas nas línguas francesa, italiana, espanhola, alemã e inglesa, pode-se compreender que as expressões referem-se a uma edificação rústica utilizada para alojar trabalhadores, e não a um estabelecimento comercial. Verifica-se então uma relação direta com a Maçonaria Operativa, em que os pedreiros costumavam e até hoje costumam construir estruturas rústicas dentro do canteiro de obras, onde eles guardam suas ferramentas e fazem seus descansos. Essas simples edificações que abrigam os pedreiros e suas ferramentas nas construções são chamadas de “loge, lodge, loggia, logia” nos países de língua francesa, alemã, inglesa, italiana e espanhola.

A palavra na língua portuguesa que mais se aproxima desse significado não seria “loja” e sim “alojamento”. Nossas Lojas Maçônicas são exatamente isso: alojamentos simbólicos de construtores especulativos. Isso fica evidente ao se estudar a história da Maçonaria em muitos países de língua espanhola, que algumas vezes utilizavam os termos “Alojamiento” em substituição à “Logia”, o que denuncia que ambas as palavras têm o mesmo significado.

À luz dos significados dos termos que designam as Lojas Maçônicas em outras línguas, podemos observar que a teoria amplamente divulgada no Brasil de que o uso da palavra “Loja” é herança das lojas onde os artesãos vendiam o “handcraft”, ou seja, o fruto de seu trabalho manual, além de simplista, é furada. Se fosse assim, os termos utilizados nas outras línguas citadas teriam significado similar ao de estabelecimento comercial, se seria usado em substituição às outras palavras que servem a esse fim.

Na próxima vez que você passar em frente a um canteiro de obras e ver à margem aquela estrutura simples de madeira compensada ou placas de zinco, cheia de trolhas, níveis, prumos e outros utensílios em seu interior, muitas vezes equipada também com um colchão para o pedreiro descansar à noite, lembre-se que essa estrutura é a versão atual daquelas que abrigaram nossos antepassados, os maçons operativos, e que serviram de base para nossas Lojas Simbólicas de hoje.

Fonte: www.noesquadro.blogspot.com -

abril 18, 2023

VOCE ME AJUDOU PORQUE SOU MAÇOM?



O carro de um vendedor que viajava pelo interior quebrou e conversando com um fazendeiro de um campo próximo eles descobrem que são Irmãos. 

O vendedor está preocupado porque ele tem um compromisso importante na cidade local. - Não se preocupe - diz o fazendeiro, - você pode usar meu carro. Vou chamar um amigo e mandar consertar o carro enquanto você vai ao seu compromisso.  

E lá foi o vendedor e umas duas horas mais tarde ele voltou, mas infelizmente o carro precisava de uma peça que chegará somente no dia seguinte. - Sem problemas,  - diz o fazendeiro, - use meu telefone e reprograme seu primeiro compromisso de amanhã, fique conosco hoje, e providenciaremos para que seu carro esteja pronto logo cedo!

 A esposa do fazendeiro preparou um jantar maravilhoso e eles tomaram um pouco de malte puro em uma noite agradável. O vendedor dormiu profundamente e quando acordou, lá estava seu carro, consertado e pronto para ir.

 Após um excelente café da manhã, o vendedor agradeceu a ambos pela hospitalidade. Quando ele e o fazendeiro caminhavam para seu carro, ele se voltou e perguntou : - meu irmão, muito obrigado, mas preciso perguntar, você me ajudou porque sou Maçom?

 - Não - foi a resposta  - eu ajudei você porque eu sou Maçom.


(Autor Desconhecido).

abril 17, 2023

A PEDRA ANGULAR




Da substância à pedra angular

O que poderia ser mais fundamental do que uma pedra e o simbolismo associado a ela.

Para o leigo que está prestes a se tornar aprendiz, uma pedra é uma pedra, nada mais que uma matéria-prima, uma substância que pode ou não lhe servir.

Por outro ângulo, é também a clássica questão dos leigos e por vezes de alguns maçons “ o famoso para que serve a Maçonaria ”, como se tudo tivesse de ser reduzido a um uso para uma utilidade. A matéria, como a Maçonaria, não pode ser reduzida a meras utilidades.

Mas na loja simbólica, a primeira coisa que falamos e vemos é a pedra bruta. É esta matéria que se sente deve estar pesada com alguma coisa, mas com o quê?

Esta pedra se oferece ao trabalho do homem, “ o material tem propriedade reflexiva, é um espelho embaçado pelo nosso hálito. Basta limpar o espelho e ler os símbolos que estão escritos na matéria desde toda a eternidade (1) ”. O trabalho por si só trará algo mais. O gesto do semeador ajuda a reavivar a semente na terra, os golpes do cinzel do trabalhador dão à pedra a sua finalidade. Todos nós já sentimos esse respiro, o prazer de aplainar uma tábua no veio da madeira, de cortar uma pedra em seu leito, na direção em que a natureza a colocou na pedreira, de ver os contrafortes transmitirem os esforços, e ainda por cima como diz o poeta “ um espírito puro cresce sob a casca das pedras! »

Etimologicamente, a substância é concebida como “ o que está embaixo (sub stare) ”, expressão na qual se distingue implicitamente um determinado modo de ser de outro, talvez uma emergência que poderia ser revelada pelo trabalho.

O primeiro modo é aquele das coisas que não podem existir sem estar em relação com algo diferente de si mesmas .

O segundo modo é o das coisas que existem por si mesmas , e que assim constituem o foco ou o suporte do primeiro.

Todos como a matéria, são homens, uns só existem através dos outros, outros são autónomos, estes assimilaram a Arte Régia - são Reis de si mesmos e libertam os primeiros estão à espera de serem agredidos, à espera da liberdade, à espera de passar.

Intuitivamente o jovem iniciado adivinha que existe algo mais por baixo desta pedra, distingue aí a ideia de um princípio de permanência, mas também que a pedra pode ser outra coisa que não o que é. Essa permanência é um ponto de partida. Uma criação a ser concluída, da qual ele é chamado a participar.

Se essa pedra não for nomeada ou examinada, ela permanecerá, na melhor das hipóteses, um seixo, na pior, um material, nem mesmo matéria-prima, nem mesmo uma substância. Se ela não trabalhar na Loja, ela nunca participará do estabelecimento do Templo.

A Pedra está grávida de um futuro, espera uma forma e porque não um nome, por exemplo, um sonho como o de Jacob que adormeceu com a cabeça sobre uma pedra. Essa pedrinha que lhe servia de travesseiro tornou-se a pedra de Betel, de Jacó, tornou-se Israel. Uma substituição é feita. Entre a mão e o espírito há interação recíproca.

O mundo é como uma gramática; agrupar letras faz emergir palavras, unir palavras favorece a emergência do sentido e da ação, é toda a força do verbo criativo evocado por Jean em seu prólogo. É esse verbo posto em ação que a pedra e o aprendiz esperam. A pedra em hebraico é chamada Eben, uma palavra composta pelas letras Alef, Beth, Nun. Já Alef é a letra da unidade, de valor 1, é portanto o que era antes do começo, a letra Beth segunda letra simboliza o lar, nosso mundo, a letra Substantivo simboliza o homem. Colocado em perspectiva, Eben, a pedra, significaria que a divindade encontra residência na pedra para se revelar ao homem. Confere as Tábuas da Lei.

O aprendiz parte da pedra bruta, ou seja, de si mesmo.

Ele é esta Pedra Inaugural , que, através da iniciação, se torna o lançamento da “ Primeira pedra fundamental do seu Templo ”, o lançamento da sua pedra inaugural. Templo que deve ser construído de acordo com a tradição dos construtores, ou seja com o que está no local. Essa maneira tradicional de fazer as coisas gradualmente abre a mente para uma espiritualidade. Ele não precisa fazer uma limpeza em si mesmo, ele se reconstrói a partir de si mesmo. Passo a passo, grau a grau, portanto sem dogma, sem revelação, ele é objeto e sujeito de seu templo, matéria e espírito ao mesmo tempo, o processo é certamente mais longo. É preciso força de vontade, não se torna pedreiro por impregnação.

Esta espiritualidade sem dogmas, desvinculada de qualquer religiosidade, arte ou poesia poderia tê-lo sugerido a ele antes da iniciação.

Suponha que duas massas de pedra foram colocadas uma em frente à outra. O primeiro permaneceu cru. A segunda, o artista converteu-a numa estátua de um homem ou de um deus.

A pedra convertida em estátua parecerá a mais bela, não porque seja de pedra, pois então a outra massa não poderia ser inferior a ela, mas porque tem uma forma que lhe é dada pela arte.

Essa forma, porém, não pertence à matéria; pois antes de se manifestar na pedra, estava na mente do artista, não porque ele tenha pés, mãos ou sentidos, mas porque ele tem um sentimento pela arte. Mesmo na imitação da natureza há um pensamento, é esta vida do espírito que nos preocupa na AASR.

Mas havia nessa arte uma beleza muito maior que não podia se manifestar na pedra; a manifestação dessa beleza no material é apenas uma forma inferior ao desejo do artista, aquele que apenas obedeceu aos princípios da arte.

A forma que passa para a matéria relaxa e se afasta e se torna mais fraca do que aquela que permaneceu encerrada no pensamento. É assim que a força vem da força, o calor do calor, a beleza da beleza, o desejo de agradar do desejo, a imitação ou cópia da criação, o crime de não cortar a pedra em sua cama. A faculdade produtiva é sempre mais excelente do que o objeto produzido. A culpa não é imputável à matéria, mas ao homem.

As artes não apenas imitam o que nossos olhos veem, mas remontam às leis da razão e da intuição.

A arte não pode ser reduzida a efeitos sociológicos, a um status social em troca do domínio de um impulso, a posturas para aparecer ou sobreviver, para obter a paz social.

Quando entramos na Loja, sabíamos de tudo isso? Acho que não, mas estávamos procurando algo obscuramente.

Durante nossa iniciação percebemos que estávamos colocando a primeira pedra de um edifício? Não claramente eu acho. Mais preocupado em fingir dominar as situações, levado por uma torrente, mais espectador do que ator, mais imitador do que verdadeiro. Nem mesmo víamos os alicerces sobre os quais iríamos nos construir. Nós os percebemos melhor hoje?

As fundações

Quando se deseja erguer um templo, mesmo interior, nunca se deve perder de vista três pontos principais, sem os quais nenhuma boa construção é possível.

A primeira é a escolha do local adequado, a segunda a solidez das fundações, a terceira a perfeição da execução dos detalhes e do todo.

A primeira depende do objetivo. Fundar uma sociedade, uma nação, uma empresa, uma irmandade, um homem, uma espiritualidade. Tudo está na orientação do prédio, no destino do lugar, no prédio, na igreja, no templo. Construção exterior ou construção interior.

O segundo ponto diz respeito às fundações. Cujos ângulos regulares das pedras angulares indicam a regularidade do edifício, e cuja posição perpendicular deve dar uma ideia do prumo das paredes e do equilíbrio perfeito de todo o edifício.

Bons alicerces significam escolher bem seus valores e mantê-los ao longo do tempo. Este trabalho é realizado nas profundezas misteriosas que cavamos após longas e profundas meditações. Quais são nossos objetivos, lucrativos, emocionais, sexuais, desejo de poder, sociais, políticos, religiosos, iniciáticos, etc.? tantas perguntas, você tem que se conhecer antes de cavar os alicerces.

O terceiro ponto é dizer, a perfeição da execução dos detalhes e do todo. O que requer a cooperação de todos os ofícios, de todas as artes. É a arte desse bem cercado não ser traído por quem trabalha conosco no trabalho.

O trabalho do pedreiro está predestinado a passar despercebido. A terra esconde os alicerces, os alicerces, os fundamentos que ele construiu com tanta dor e tanta inteligência; ele nem tem o direito de reclamar. As superestruturas devem refletir os valores que estão nos alicerces, pois tudo o que fazemos no mundo deve refletir nossos princípios.

Feito a escolha do local, e a orientação definida, há que pensar nesta pedra que vai garantir a coesão do todo, uma unidade que vai fazer com que cada uma das pedras forme um todo, a pedra angular, depois a pedra angular que coroará tudo.

De antemão, essa pedra bruta que deve ser lapidada representa o homem em suas duas dimensões principais, a terrestre e a celeste. Um lado voltado para a terra, o outro voltado para o céu. Essa tarefa é colocar a forma em relação ao seu destino, colocar o homem em relação ao seu destino, é objetivo da Arte Real polir e transformar, ao mesmo tempo o objeto e o sujeito.

A pedra angular ou quadrangular (nos quatro cantos do templo).

O trabalho manual da pedra é duplicado por um trabalho espiritual, um acto mental, ao cortar pedras para um destino, o pedreiro faz mais do que um gesto prático, avança para um domínio interior, uma tomada de consciência, inscreve, grava em o silêncio da pedra o eco de uma consciência, de uma palavra.

Eco que sentimos ao visitar uma catedral, um monumento. A arquitetura é, de fato, a única arte que pode ser visitada por dentro.

Com a pedra quadrangular, dirigimo-nos ao altar orientado que apresenta as suas quatro faces voltadas para os quatro pontos cardeais. A companhia manteve esse simbolismo, veja Isaías 28-16 (2). “ Quem o toma por apoio não terá pressa em fugir ”. Em outras palavras, aquele que sabe onde está e quem é, não precisa fugir ou fugir de si mesmo.

O objeto final desta prancha é a pedra angular também chamada de pedra do cume , aquela que fica no topo do prédio que coroa o prédio. A pirâmide que coroa a pirâmide, os egípcios ali gravaram o nome dos defuntos, orações, era a passagem para o que nos ultrapassa. Esta pedra é única em sua forma única. Esta pedra angular é também a marca da unidade, materializa o todo. O ciclo se fecha.

Esta pedra é diferente de qualquer outra, é diferente, tanto em forma quanto em função. Aqui forma e destino se encontram, não há mais perto, a forma é uma função do destino.

A pedra cúbica se integra, faz a corrente com as demais, é o aspecto igualitário da fraternidade, " você é meu irmão porque não é diferente de mim ", é uma verdadeira fraternidade aquela do amor apenas a sua imagem, ou seu idêntico ?

Esta pedra superior deve facilitar a distribuição das cargas da cobertura e do céu, para equilibrá-las em cada lado da abóbada ou cúpula. Ela distribui a Lei a todos. É a esta pedra que se liga o fio de prumo, as outras pedras formam uma espécie de corrente de união, de forma a passar a Lei em todas as partes do edifício.

Na Idade Média ainda não se conhecia a resistência dos materiais, para construir apesar de tudo, os nossos antepassados ​​recorriam a regras (os dogmas da época) das proporções entre alturas, larguras etc. portanto, não é surpreendente encontrar o número de ouro na batalha, aqui o ângulo de ouro, para presidir as linhas desta pedra angular.

Esse layout exigia grande maestria, uma conquista na vida de um construtor (a estereotomia). Imagine ter que traçar a interseção de três, quatro ou seis abóbadas que se cruzam em um ponto. De outro ângulo, é a arte de combinar diferentes planos, de ir das retas às curvas, de combinar o esquadro e o compasso, de mudar de plano e voltar a eles.

Uma solução poderia ser tapar o buraco central com cimento e alisar tudo com uma espátula, o que nos separaria da espiritualidade ligada ao nosso Rito.

A pedra bruta ou pedra cúbica é muito mais fácil de entender, pois sua forma é banal e não revela facilmente seu destino. Para apreender o seu destino, é necessário consultar a planta do arquitecto. Sem planos não há destino e, inversamente, é o plano que faz aparecer o GADLU. Sem programa, sem plano, sem Loja.

A pedra cúbica serve para quase tudo, faz uma prisão tão bem quanto um templo, a diferença vem do destino. Mas lembremos que da indiferenciação, da monotonia, não nasce o destino, mas que é da liberdade e da autonomia, ambas sujeitas à Lei, que pode surgir o desígnio, o plano.

Nem todos compartilham deste ponto de vista, como Plantageneta em seu curso filosófico apontou: que entre os arianos, era ao contrário a pedra lapidada que era o símbolo das trevas e da servidão, e a pedra bruta o símbolo da liberdade. A pedra lapidada, acabada, comenta Plantageneta, é feita de preconceitos, paixões, dogmatismos aceitos sem controle.

A iniciação devolve ao aprendiz e à pedra seu potencial e liberdade natural. Assim cortamos a nossa pedra não para sermos idênticos a " de " ou o resultado de um grupo, mas para sermos livres e participarmos como homem autónomo na estabilidade do edifício, sem necessitarmos de cimento para nós. silêncio com o princípio criativo.

A Pedra do Piso , se for mal traçada, mal calculada face aos ensaios a submeter, é rejeitada ou rejeitável, ou não encaixa, ou os constrangimentos externos a rejeitam. É recusado pelo edifício ou pelo gerente de projeto.

Mas em qualquer caso, muito diferente dos outros, seu destino, antes de estar no lugar, é ser rejeitado porque incompreendido no local antes do final da obra, porque rastreável apenas por um Arquiteto Mestre.

Este mal-entendido é simbolicamente marcado pela rejeição dos responsáveis ​​da Loja, por não parecer enquadrar-se no quadro que tinham planeado, do que pensavam ser a realização final do edifício. Muita diferença, não regular em seus olhos, difícil até impossível de tornar cúbico.

Acabará sendo reconhecido, por quem conhece o plano da obra, pelo Mestre, aquele que busca seu ideal no princípio e não no consenso.

Por aquele que sabe onde está o “ buraco da lareira ” por onde passa a Lei, o ponto onde o templo se une ao cosmos. Além disso, era a única pedra assinada por aquele que era considerado digno de suceder aos seus pares.

A assinatura, o nome gravado como forma de invocação de outra coisa.

Este lar, esta fonte, este centro, este olho por onde passa simbolicamente o eixo do mundo, que o ordena, que lhe dá sentido.

Eixo vertical voltado para o mais alto, única saída real no labirinto do mundo profano. Mas cuidado para não subir muito rápido, muito alto, correndo o risco de queimar as asas como Ícaro.

A única saída de situações complexas é de cima, por uma mudança de lógica, por um retorno ao centro, ao Princípio.

Mas a pedra cúbica também pode ser desdobrada, achatada, em forma de cruz. O cubo contém, portanto, algo mais dentro de si, uma forma implícita, uma cruz. Forma e substância estão intimamente ligadas, unidas.

Quatro lados, quatro ângulos, quatro pedras nos cantos do Templo. Tantos significados e formas de ver o mundo. Para entender o princípio criativo.

Esses quatro significados já formulados na Idade Média: a letra ensina os fatos, a alegoria o que você deve acreditar, a moral o que você deve fazer, a anagogia o que você deve almejar. (Littera gesta docet, quid credas allegoria, moralis quid agas, quo tendas anagogia).

A mesma coisa no judaísmo sobre as formas de entender um texto de forma literal, alusiva (literalmente: alusão), alegórica (literalmente: cavar, sondar, procurar), mística (literalmente: segredo).

As quatro pedras angulares, cantos , nas quais também podemos ver a representação dos evangelistas (Marcos, Lucas, Mateus, João). Ou o homem Adão de Mateus, o Touro (o homem natural) de Lucas, o Leão (o homem psíquico) de Marcos e a Águia (o homem espiritual) de João. O homem em todas as suas dimensões.

No manuscrito maçônico de Graham, as quatro pedras são, São Pedro (Cephas em grego), Moisés que esculpiu os mandamentos, Bezaléel o construtor do tabernáculo e Hiram o sábio, ainda outra visão das dimensões do mundo.

As pedras não vão para qualquer lugar, elas têm um destino definido por um plano .

Na tradição cristã:

A pedra fundamental está colocada no coro do edifício , ao centro da base: nela está gravada uma cruz.

A pedra de dedicação , geralmente colocada no pilar nordeste do coro. Na face interior estão gravadas as dimensões do edifício, as datas, algumas particularidades, se necessário, e os nomes dos construtores.

A pedra angular, pedra angular , cortada em flor-de-lis, vertical à pedra fundamental.

Esta " pedra angular " do cume também é chamada de " olho " da cúpula), ela é " refletida " em cada uma das " pedras fundamentais " dos quatro ângulos da base. É a representação do centro. Em outras palavras, do Princípio presente nos fatos, na alegoria, na base da moralidade e na anagogia.

É esta pedra diferente de todas as outras, rejeitada pela sua diferença, que se tornará a pedra que dá sentido às restantes.

É talvez o profano quem bate à porta, « bate, ela abrir-te-á, procura, encontrarás ». Ou o aprendiz muito diferente para ser aceito como jornaleiro. É talvez o manual que os intelectuais rejeitam, o intelectual que os manuais rejeitam, o poeta que os racionalistas negligenciam, o sagrado afugentado pelo profano, o visível perseguindo o invisível, a lista é longa demais. É a diversidade que enriquece, que permite aproximar-se do Plano.

Isso não significa que você deva aceitar qualquer pessoa, especialmente se houver ausência de fundamentos.

Termino citando G. de Nerval.

Macho ! Pensador livre - você acha que é o único pensador.

Neste mundo onde a vida explode em tudo:

Forças que você detém sua liberdade dispõe,

Mas de todos os seus conselhos o universo está ausente.

Respeite na besta um espírito ativo: ….

Cada flor é uma alma para a Natureza florescente;

Um mistério de amor no metal reside:

" Tudo é sensível! " - E tudo sobre o seu ser é poderoso!

Teme na parede cega um olhar que te espia

À própria matéria um verbo se liga...

Não a faças servir a algum uso ímpio!

Muitas vezes, no ser obscuro habita um Deus oculto;

E como um olho nascente coberto por suas pálpebras,

Um espírito puro cresce sob a casca das pedras!

Geraldo de Nerval


(1) Simone Weil 1905-1943.

(2) 16 Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que lancei uma pedra por alicerce em Sião, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, bem assentada; Quem o tomar como apoio não terá pressa em fugir.

17 Farei da retidão uma regra, e da retidão um padrão; E a saraiva varrerá o refúgio da falsidade, E as águas inundarão o abrigo da falsidade.


Autor desconhecido

DESPEÇO-ME AQUI - Newton Agrella




É instigante como a Despedida desperta intensidades tão diferentes na alma.

Enquanto um "tchau" expressa uma distância emocional curta e informal, seu conteúdo pode encerrar uma ação transitória, passiva de ser repetida em algum lugar do tempo, como pode encerrar a idéia de uma ação que se apaga, sem qualquer compromisso consigo mesmo.

Nesta caminhada semântica um "até logo" , "até breve", "até a vista" ou "até mais" merecem uma consideração um pouco mais detida e que de algum modo,  deixam em aberto, um certo ar de comprometimento para com um eventual retorno, cuja essência, necessariamente não precisa revelar uma vontade ou obrigação.

Correndo em paralelo a estas formas circunstanciais de despedidas, nossa língua nos faculta outras expressões que denotam um caráter mais alentador e amável ao serem empregadas:

"Vai com Deus"

"Fica com Deus"

"Deus te acompanhe"

dentre algumas outras que obedecem seus regionalismos.

Lá adiante porém, surge uma curva mais acentuada, cujo sinal indica uma forma mais categórica, onde se lê:  "Adeus" 

Ei-lo finalmente diante de  nossos olhos e sobretudo de nosso pensamento.

"Adeus", além de substantivo é igualmente um advérbio de modo, mas que traz consigo um profundo caráter de temporalidade, visto o significado que encerra em sí.

A etimologia da palavra "Adeus" obedece a uma forma sintética da antiga expressão utilizada pelos padres que quando eram convocados a comparecer ao leito de morte de alguém que estivesse na iminência de partir, para "encomendar a alma" valiam-se da expressão: 

"A Deus vos recomendo".

Como se percebe, ao longo da própria dinâmica linguística, dizer "adeus" hoje enseja a idéia de abrir mão de alguém ou de algo; abdicar, renunciar; invariavelmente indicando um âmbito de encerramento ou ruptura e em outros casos, o de "trancendentalismo"  em que o conceito de volta a Deus e de conclusão de um ciclo de vida se manifestam.

Vai aqui uma tênue despedida, sem a pretensão de despertar qualquer caráter dialético, mas na certeza de poder compartilhar outros conceitos de propriedade humana, longe de qualquer natureza proselitista.



abril 16, 2023

A SENHORA E O MENDIGO - Joab Nascimento





        Caía à tarde, o calor começava a fugir, amenizando um pouco a temperatura de quase 40° que dominou por todo o dia aquele lugar. as sombras das casas e dos prédios, abafavam um pouco o reflexo do sol que teimava em queimar e aquecer, como o fogo a arder, sob uma panela de pressão. 

numa certa rua desse lugar, na região central, próximo ao centro comercial, encontrava-se um velho, um senhor de idade bem avançada, com barba branca por fazer, mas no momento meio amarelada, maltrapilho, desprovido de valores , tanto moral quanto material, mal cheiroso, os poucos cabelos que ainda restavam em sua cabeça e teimavam em não cair, estavam despenteados e sujos, os dentes em sua boca não passavam de um par, na parte superior, seus pés descalços, mostrando calos e rachaduras no calcanhar, informavam que há anos não sabiam o que era um calçado; suas unhas grandes e sujas, alojavam detritos escuros oriundos da falta de higiene, ao seu lado uma manta suja que lhe servia de cobertor, em volta muitos papelões que serviam de colchão pro seu descanso. numa sacola velha, pedaços de pano e restos de roupas rasgadas que serviam pra ele vestir. sua barriga tão vazia, faltava pouco para se encontrar com as costas, pois, sua alimentação só acontecia quando alguém de bom coração doava algo pra ele comer. 

        Tinha dificuldade de andar, as pernas já não mais obedeciam aos seus comandos, pois a resistência há tempos, já tinha ido embora também. 

        Esse homem de rua, estava naquele dia, sem esperanças, com tanta fome, que a dor fazia descer lagrimas do seu rosto, e ele rogava a deus a chegada da noite, para que o sono chegasse e assim amenizasse um pouco o seu sofrimento.

     Quando de repente, se aproxima uma senhora, muito bonita, bem vestida, a aparentemente demonstrava uma pessoa de muita posse, uma condição de vida que ele nunca imaginou, mas, seu semblante, mostrava, que um dia também maus bocados, já havia passado. 

E tudo aconteceu porque essa senhora, que raramente passava nessa rua, nesse dia resolveu sair pra jantar, e, ao passar com seu carro por alí, algo lhe chamou a atenção naquele indigente, pois, o olhar daquele homem, estava marcado pra sempre na sua memória. ela, estacionou seu carro importado, e foi ao seu encontro. o homem, ao vê-la se aproximar, sentiu algo familiar também no seu olhar, mas, nada disse, pois, o medo que sentia das pessoas, o aterrorizava, independente de quem se aproximasse, fosse homem, mulher ou criança, todos o evitavam e o ignoravam, ele ainda se dava por satisfeito quando não era maltratado, quando passavam e o deixavam em paz.

        Sentiu o coração acelerar, o corpo tremer, quando a mulher se aproximou, pois, imaginava que mais uma tortura iria sofrer. mas, pra sua surpresa e espanto, a mulher se agachou, tomou-lhe as suas mãos entre as suas, encostando seu rosto junto ao seu, o cumprimentou com um sorriso tão familiar, e o convidou para jantar. nesse instante, um guarda ia passando, e, imediatamente se prontificou a protegê-la, daquele ser nocivo que estava a incomodá-la. 

        A senhora, sem tirar a vista daquele olhar, pediu ao guarda que lhe ajudasse a atravessar a rua e o conduzisse ao restaurante que ficava quase em frente. o pobre homem cambaleante, com muita dificuldade pra se conduzir, foi levado e numa cadeira foi acomodado. o restaurante era muito chic, padrão cinco estrelas, com ar central, pianos bar, comidas raras, local frequentado por pessoas da alta sociedade, com grande fartura de dinheiro. 

        No mesmo instante que a senhora, e o mendigo, junto com o guarda adentraram o estabelecimento e se acomodaram, um garçom, educadamente se aproximou, e, pediu que eles se retirassem, pois, aquele mendigo não poderia ali ficar, pois, iria expulsar todos os clientes do estabelecimento. a senhora também muito educada, perguntou ao garçom quem era o gerente dali. imediatamente o gerente se aproximou e se apresentou, também pedindo que o mesmo dali fosse retirado. a senhora perguntou se ele conhecia o dono daquela rede de restaurantes espalhadas por todo o brasil, o mesmo disse que não conhecia e que nunca ouviu falar. a senhora se apresentou, como a proprietária da rede daquele restaurante, e, explicou o motivo do seu ato de caridade: - há muitos anos atrás, quando aqui cheguei, vindo do interior, pra cursar uma faculdade, eu não tinha pra onde ir e nem aonde comer. esse homem, que agora vocês querem daqui expulsar, foi quem me deu casa e comida todo dia, nesse local que aqui estamos, e que na época, era apenas uma pequena pensão que vendia comida caseira. aqui eu trabalhei, estudei e me formei. por motivos pessoais, que só ele sabe, um certo dia ele sumiu, desapareceu sem dar notícias, como ele não tinha família, ou se tinha, ninguém o procurou, eu fiquei trabalhando, trabalhando...até que fui crescendo, administrando com unhas e dentes, e hoje sou a responsável por essa rede de lojas, administradas por mim, pois o verdadeiro dono, é esse aqui, o patrão de vocês. há anos o procurava, até que hoje tive a felicidade de me deparar com esse olhar que um dia com tanta caridade me acolheu e matou minha fome. ele sim, é o dono de tudo isso, por direito. por isso nunca julguem ninguém pela aparência, esse homem deveria estar há dias nesse local, nunca veio pedir um prato de comida pra saciar sua fome, no próprio restaurante onde ele é o proprietário.

        Carreguem sempre nas veias de vocês, o sangue da caridade. façam o bem, que um dia ele retornará multiplicado.