abril 25, 2023

DO JEJUM - Heitor Rodrigues Freire



Das práticas para se alcançar a iluminação e a elevação espiritual, o jejum tem papel importante, tanto que vem sendo praticado sob orientação espiritual e religiosa há milênios.

O jejum é a privação de comida ou a redução das refeições diárias durante um determinado período, e apresenta diversas formas de ser praticado. São vários os motivos que levam uma pessoa a fazer jejum: religiosos, medicinais ou até por simples questões de dieta alimentar para emagrecimento.

Essa é uma prática recomendada que deve observar alguns cuidados, como orientação médica (indispensável) ou nutricional, a fim de atingir os seus melhores propósitos.  

Uma vez submetido à orientação médica, deve se decidir a forma e a duração do jejum, que pode ser total, por um período de 24 horas, ou intermitente, por períodos menores  – prática mais aconselhável, pois não provoca perda muscular. O acompanhamento médico é necessário para que se avalie a priori o estado de saúde do paciente e sejam indicadas as orientações nutricionais, que variam de acordo com os objetivos de cada pessoa.

Como pretendo adotar essa prática de forma continuada na modalidade intermitente, consultei o meu médico, dr. José Roberto Campos Souza, homeopata que há mais de quarenta anos me orienta em todas as ações que adoto na área da saúde. Assim foi, por exemplo, há 18 anos, quando comecei a praticar, semanalmente, a auto-hemoterapia, que me proporciona alta imunidade. Adotei também a ingestão diária de cloreto de magnésio com ginkgo biloba. Mais recentemente, passei a fazer a terapia com ozônio. A orientação do dr. José Roberto me é sempre muito eficaz.

É importante que a prática do jejum seja feita sem nenhuma manifestação exterior que possa identificá-lo, porque se trata de uma decisão pessoal, e estabelecido pela própria pessoa. Recomendo manter a fisionomia alegre e confiante durante o jejum, pois ele deve trazer alegria, confiança e entusiasmo na vida daquele que participa desta experiência maravilhosa.

Muitas religiões orientam seus fiéis a respeito da prática do jejum, na qual o seguidor se abstém de todo e qualquer alimento, ou o faz de forma parcial, a fim de cumprir um ritual de penitência.

Na Bíblia, temos alguns exemplos do poder do jejum na vida de homens como Moisés, que jejuou por 40 dias (Êxodo 34:28); Esdras, por 3 dias (Esdras 10:6); Elias, por 40 dias (1 Reis 19:8); Daniel, por 21 dias (Daniel 10:3); Paulo, por 3 dias (Atos 9:9); e, finalmente, 


o próprio Jesus Cristo, por 40 dias (Lucas 4:2). 

Para a religião católica, a Sexta-Feira Santa é o dia em que os fiéis devem fazer o sacrifício do jejum parcial, abstendo-se de comer carne. Para a Igreja, o jejum é uma forma de renunciar ao prazer da carne vermelha e buscar nas orações a experiência do sofrimento de Cristo, passado na cruz.

Para os judeus, o Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do judaísmo, é festejada com a prática do jejum total por 24 horas, simultâneo a celebrações religiosas. Essa modalidade de jejum se inicia no pôr-do-sol de um dia e se encerra no pôr-do-sol do dia seguinte. É considerado um tempo de renovação e fortalecimento da fé.

Na religião muçulmana, o jejum é praticado durante o Ramadan, onde geralmente fica-se um período de 12 horas sem comer e beber, do amanhecer ao pôr-do-sol, alternando com um período de 12 horas de alimentação e hidratação. No entanto, durante o Ramadan geralmente não se faz restrição de alimentos nos períodos pós jejum.

Quando se pratica o jejum intermitente, é importante excluir da dieta os alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura, como bolo, sorvete, refrigerantes, doces, frituras e refeições do tipo fast food alguns dias antes de iniciá-lo, para que se tenha um resultado mais efetivo de purificação do corpo. O jejum intermitente pode ter duração entre 12 e 18 horas.

Durante o jejum apenas se pode beber água e bebidas não calóricas, como chás ou café, sem açúcar ou adoçante.

O jejum intermitente ajuda a fortalecer o sistema imunológico, melhora a disposição e a agilidade mental, previne o envelhecimento precoce, além de aumentar a queima de gordura corporal, promovendo o emagrecimento. O jejum também diminui a inflamação  e melhora as funções das bactérias benéficas do intestino, equilibrando a flora intestinal e prevenindo a diarreia e a prisão de ventre.

Essa prática só é aconselhada para pessoas saudáveis e, por isso – repito –, é indispensável a orientação de um médico ou nutricionista, para avaliar o melhor tipo de jejum intermitente, de acordo com o objetivo e a tolerância de cada pessoa.

A orientação para o jejum religioso varia de acordo com o tipo de prática religiosa, podendo ser recomendado consumir somente alguns tipos de alimentos ou excluir todos os alimentos e líquidos da dieta.

O jejum religioso geralmente é praticado com o objetivo de melhorar o estado de consciência, a conexão com o divino e o bem estar geral, variando de acordo com a religião que se pratica.

Enfim, aí está um prato feito para quem quiser experimentar.

Bom proveito.


DA ALIMENTAÇÃO - Heitor Rodrigues Freire



A alimentação é uma daquelas áreas do conhecimento humano que é pouco valorizada. Talvez por ser tão elementar e por se tratar de uma ação mecânica do aparelho digestivo, acaba sendo realizada de forma automática.

Mas o que é a alimentação?

É o processo de ativação do nosso corpo interior – que é o templo do nosso espírito –,

por meio da ingestão de alimentos e que, por isso mesmo, deve merecer uma atenção adequada, pois é fundamental para a nossa saúde, que nasce e se fortalece exatamente pela qualidade dos ingredientes que ingerimos. E nem sempre é observada, sendo, muitas vezes, negligenciada.

Além, naturalmente da qualidade dos alimentos, a mastigação é parte fundamental do processo digestivo. Se não for bem observada, a boa digestão acaba comprometida, porque no nosso estômago não há dentes e a trituração dos alimentos só pode ser feita na boca. É nela que começa o conjunto de transformações que os alimentos sofrem ao longo do sistema digestivo para se converterem em compostos menores a serem absorvidos e utilizados pelo organismo.

Há inclusive aquela máxima, “Beber os sólidos e mastigar os líquidos”, que precisa ser entendida para ser praticada com proveito.

O ambiente de pressa e correria de nossa sociedade criou um meio propício à obesidade, pois acabamos engolindo o alimento aos pedaços. E a mastigação exerce papel importante no controle desse problema. 

Quando a mastigação passar a obedecer a um ato consciente e constante, as células do estômago e do aparelho digestivo naturalmente se sentirão respeitadas e agradecerão, porque esse ato será considerado como um ato de amor e de integração ao organismo.

Como dizia Persius, poeta italiano nascido na aldeia etrusca de Volterra no primeiro século da era cristã, em suas sátiras: “Magister artis ingenique largitor venter”, ou seja, “O estômago, mestre das artes e distribuidor do gênio”.

A mastigação, na realidade, é apenas uma parte do processo alimentar. Existe outro fator que é fundamental: a qualidade dos alimentos que ingerimos.

Recentemente um médico brasileiro, o professor Carlos Augusto Monteiro, epidemiologista que dedicou a vida ao estudo da qualidade dos alimentos, elaborou um Guia Alimentar, aprovado pela ONU e aplaudido em todo o mundo científico de forma entusiástica, no qual classificou os alimentos de acordo com seu nível de processamento industrial. O Guia foi adotado pelo Ministério da Saúde em 2014. Pelo destaque de seu trabalho, mereceu uma extensa matéria na revista piauí.

Carlos Monteiro foi o primeiro médico a usar indicadores de saúde coletiva para propor um sistema organizado de classificação da alimentação. Ele classificou, então, os alimentos em quatro categorias:

Primeira – Chamados in natura ou minimamente processados, inclui alimentos que são consumidos como foram trazidos da natureza ou passam por pouca transformação até chegarem à mesa (frutas, verduras e legumes, grãos, milho, feijão, trigo, ovos, leite, peixes, carnes, frutas secas, castanhas).

Segunda – Ingredientes culinários processados. Óleos, gorduras, azeite, manteiga, sal ou açúcar, que devem ser usados com moderação para o preparo de culinária caseira. Conforme Monteiro declarou à piauí, “Se usados em pequenas quantidades, estão a serviço de hábitos alimentares tradicionais, agregadores de pessoas – e que não matam ninguém”

Terceira – Alimentos processados ou combinados com ingredientes para o preparo culinário, que inclui a segunda categoria. Em geral, são os itens que usamos para cozinhar em casa, como queijos, farinha, carnes secas, peixes conservados em óleo, legumes ou frutas em conserva, combinados com ingredientes in natura. Aqui entram os pães e bolos caseiros.

Quarta – alimentos ultra processados. São produtos que derivam do fracionamento agressivo de alimentos in natura e, depois, passam por sucessivos processos e adição de substâncias de uso industrial. Nesse rol estão refrigerantes, sucos com sabor de frutas, biscoitos recheados, lasanhas e pizzas congeladas, cereais matinais adoçados, iogurtes adoçados, salgadinhos em sacos plásticos, pães de forma, macarrões instantâneos e produtos de carne reconstituída (embutidos em geral).

Disso tudo, o professor Monteiro estabeleceu uma “regra de ouro”: prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados, e preparações culinárias a alimentos ultra processados. Concluindo que o problema não é a comida nem os nutrientes, mas sim, o processamento.

Como vemos, alimentação é coisa séria.


abril 24, 2023

O CORTEJO DE ENTRADA NA LOJA - Almir Sant’Anna Cruz



A liturgia de uma Sessão Maçônica inicia-se com o Cortejo (Procissão), que é a entrada ritualizada no templo. 

Os Irmãos devem estar mentalmente preparados para a Sessão que irá se realizar, deixando de lado todas as preocupações mundanas e entendendo que as Sessões Maçônicas, entre outros aspectos, devem funcionar como um “aliviador de tensões” e como um “recarregador de baterias”. 

Com os membros da Loja devidamente preparados e formados no Átrio, o Mestre de Cerimônias organiza o Cortejo, entrando todos em fila dupla, em ordem hierárquica, começando pelos Aprendizes à esquerda e Companheiros à direita; os Mestres em um ou outro lado de conformidade com os cargos que exercem; os Vigilantes; os Mestres Instalados e por último o Venerável Mestre. 

Munido de seu bastão, o Mestre de Cerimônias bate de forma ritualizada à porta do templo, sendo esta aberta pelo Cobridor Interno. O Cortejo então tem início, entrando todos em grave silêncio, ocupando cada qual o seu lugar, e conservando-se de pé até que o Venerável Mestre autorize que se sentem.

Segundo a Escola Ocultista, o Cortejo, ao entrar no Templo, magnetiza o seu piso (Pavimento Mosaico), saturando-o da mais alta influência possível e levantando ao seu redor uma muralha para que a referida influência ali se conserve. 

Charles Webster Leadbeater in A Vida Oculta na Maçonaria, assim se expressa: “A função desempenhada pela forma mental é bem análoga à de um condensador. Em mecânica de nada serve gerar grande quantidade de vapor d’água se não se mantém a necessária pressão; analogamente, ao magnetizar-se a Loja, tem-se que acumular condensadamente a energia, para que não se dissipe pela vizinhança”.


Excertos do Livro *Maçonaria para Maçons, Simpatizantes, Curiosos e Detratores  - 
Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

A VAIDADE - E. Fondello

 




A vaidade, como quase tudo que se apresenta de forma excessiva no ser humano, afeta não só a saúde emocional e física do indivíduo, mas também, o seu relacionamento com o mundo em que vive cegando-o, do mínimo bom senso. 

Vem daí, a necessidade de estarmos em estado de permanente vigilância para repelirmos essa indesejável e maléfica anomalia. 

A “vaidade”, promove nos indivíduos que a ela dão guarida, a busca desenfreada por padrões outros, fazendo com que “pessoas vaidosas”, acabem se tornando insatisfeitas consigo mesmas enfrentando variados transtornos ao longo de suas vidas;

No meio maçônico, a vaidade  também faz vítimas trazendo inúmeras consequências negativas, já que as pessoas vaidosas, se acham superiores as demais, sentem-se os “professores de Deus”…. Por questões e pseudoargumentos que não se coadunam com nosso princípios, notadamente os princípios do: Amor Fraternal, da Assistência e da Lealdade. Eis que, em seus ensinamentos são enfatizados os postulados da mais elevada moral e a prática de virtudes cardeais proclamadas em todas as eras: Temperança, Firmeza, Prudência, Justiça, Fé, Esperança e Caridade. 

Por fim, a análise da vaidade, tem demonstrado que ela também leva as pessoas a se tornarem superficiais e egoístas, valorizando apenas a exteriorização aparente de suas próprias condições físicas, financeiras, intelectuais ou profissionais; em detrimento das qualidades e da profundidade nas relações maçônicas de igualdades interpessoais. 

Assim, o estudo prático da maçonaria, busca incansavelmente combater essa predatória vaidade,  valorizando aspectos como caráter, fraternidade e empatia, busca conexões serias e significativas pautadas na defesa prática da igualdade entre os irmãos maçons praticantes  da nobre Ordem.



abril 23, 2023

DIA MUNDIAL DO LIVRO - Newton Agrella




 "O dia 23 de abril foi escolhido para ser o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor pela Unesco, em sua XXVIII Conferência Geral, ocorrida em 1995. Essa data homenageia os escritores Inca Garcilaso de la Vega, Miguel de Cervantes e William Shakespeare, que, coincidentemente, morreram em 23 de abril de 1616."

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Sem querer entrar no conceito estético, formal e nem de seus primeiros indícios materiais é imprescindível que se faça uma breve referência histórica sobre o surgimento do Livro, cuja origem está intima e contemporaneamente ligada à escrita. 

A primeira versão do que se conhece por Livro, diz respeito aos Sumérios, que o criaram há cerca de 3200 anos A.C.  na Mesopotâmia, com seus escritos sobre "tabletes de argila".  

Posteriormente desenvolvido pelos gregos na cidade de Pergos, de onde surgiu a expressão pergaminho, que nada mais eram do que peles de vaca, ovelhas ou carneiros através do que se faziam as transcrições.

Inúmeros relatos históricos dão conta de que no início da Idade Média, os Judeus e os Muçulmanos foram os responsáveis por trazerem o "papel"  para a Europa, e que com o tempo deu origem à versão clássica do livro confeccionado  através deste elemento.

Mais recentemente, o Livro ganhou uma versão "high-tech", os chamados  e-books, diminutivo em Inglês para (Electronic  Books) ou seja; um arquivo configurado em forma de um livro, que funciona num computador.

O substantivo "livro" na língua portuguesa tem sua etimologia proveniente do latim "liber", termo relacionado à cortiça da árvore.

Porém, o conceito filosófico e semanticamente o que guarda melhor definição para o Livro, é o que traduz seu significado como uma obra de cunho literário, artístico, filosófico, lendário, científico ou de qualquer outra natureza fruto do conhecimento e da experiência humana..

Metaforicamente  o livro é um ser vivo, cuja família real se constitui de Autor e Leitor, e seu habitat pode ser uma editora, uma livraria, uma biblioteca, ou a casa de cada um de nós.

São sob os nossos olhos e debaixo de nossos braços que o sentimos, compartilhamos de seu conteúdo e discutimos ou debatemos livremente sobre seu teor, tal qual "um livro aberto".

O livro traduz fórmulas, experimentos, contos, prosas e poesias que se tornam referências e objeto de desejo, mas que concomitantemente são capazes de provocar dualismo,  alternâncias e pontos de divergências e convergências, tal qual ocorre no seio de qualquer família.

O livro é em si, um pedaço de vida que seu autor delega à história, e dele se esperam as mais profundas e diferentes reações.

Manusear suas páginas é um nobre exercício físico, mas sobretudo mental, em que a intelectualidade promove um conflito íntimo e inquietante de cada folha superada e diante de cada novo capítulo que se pronuncia.

O livro é antes de tudo, um guardião de pensamentos e reflexões, de lógica e de raciocínio que constrói uma ponte de interação entre o autor e o leitor.

O mérito de um livro não se julga pelo seu conteúdo, sua estética, suas ilustrações, sinais ou imagens, mas sim pelo simples fato de existir.



23 DE ABRIL, DIA DE SÃO JORGE , SINCRETISMO e HISTÓRIA - Newton Agrella



Do ponto de vista eminentemente cultural, cabe nesta data, fazermos um resgate em homenagem a São Jorge, um dos Santos mais cultuados pelos brasileiros.

Cabe porém, uma breve consideração histórica e sociocultural.

Dada a miscigenação ética ocorrida em nosso país, o resultado disto é um "melting pot" de elementos culturais e religiosos.

Isto, seguramente, contribui para explicar o Sincretismo que se processa em torno da figura de São Jorge.

O sincretismo religioso tem suas maiores expressões no Brasil por uma questão histórica. 

A colonização na  formação do povo brasileiro ultrapassou os limites daquilo que foi documentado e do que é oficialmente reportado.

Em razão disto, o culto e a devoção, particularmente a este santo, obedeceu uma condição muito peculiar.

Cabe registrar que ao enorme contingente de negros vindos da África na condição de escravos, eram proibidas as manifestações de suas crenças religiosas e a veneração a seus deuses.

Entretanto, com extrema inteligência, criatividade, sagacidade e o espírito de libertação que sempre trouxeram dentro de sí - e que por ela tanto lutaram - estas pessoas e seus descendentes encontraram meios de manter a fé em suas divindades e  desenvolveram uma analogia ou talvez um processo de alegoria, em que invocavam seus deuses (orixás) valendo-se de imagens de santos do catolicismo cristão.

Assim, criaram-se equivalências sincréticas : 

Oxóssi, como São Sebastião, Iansã, na forma de Santa Bárbara, Oxalá, como Jesus Cristo, Ogum, como São Jorge, dentre tantas outras.

Foi portanto, a partir deste ação sincretista, que as religiões ou cultos de matriz afro-brasileira, como a Umbanda e o Candomblé, construíram uma identidade singular, em que cada Orixá passou a representar um ou mais santos da Igreja Católica.

São Jorge, talvez tenha sido aquele que se tornou o mais popular dentro todos e cujo simbolismo se apoia sobre a crença de que se trata do Santo das estradas, dos caminhos, da proteção e da noite.

Há uma extensa literatura, cujos fragmentos históricos retratam com muita profundidade e propriedade todo esse Sincretismo tão inerente a uma significativa parcela de nossa sociedade.



abril 22, 2023

O DESEMBARQUE DE CABRAL NO BRASIL - Junior Hamilton



 No século XV, Portugal se torna um reino unificado e centralizado, menos sujeito a convulsão e disputas, diferente da França, Inglaterra, Espanha. Em torno do rei, se agruparam vários setores influentes como a nobreza e a burguesia, no qual as duas eram favorecidas pela expansão.

Foi assim que as Caravelas de Cabral saíram de Portugal no dia 09 de Março de 1500, contando com aproximadamente 1400 homens, entre marinheiros, técnicos em navegação, escrivãos, cozinheiros, padres e ajudantes, e acabaram por se desviar do caminho das Índias (intencionalmente ou não), chegando ao Continente Americano, mais precisamente ao Brasil, em 22 de Abril de 1500. Nesta data as caravelas da esquadra portuguesa chegaram ao litoral sul do atual estado da Bahia, onde avistaram um monte ao qual batizaram de Monte Pascoal, pois chegaram aqui na época da Páscoa.

Ao chegarem aqui, mantiveram contato com os nativos, escreveram ao Rei de Portugal contando a respeito de todas as riquezas naturais que encontraram, e se estabeleceram aqui com uma colônia de exploração.

O desembarque aconteceu no dia 23 de Abril, 45 dias após a partida de Portugal. Dois dias depois, em 26 de abril, é rezada a primeira missa no território. No dia 1º de maio, Pedro Álvares Cabral oficializa a posse das terras brasileiras pela Coroa portuguesa com a celebração da segunda missa diante de uma cruz marcada com o brasão real.

QUEM FOI TIRADENTES - Rodrigo Basile




 
Joaquim José da Silva Xavier foi militar, comerciante, ativista político e dentista, ofício que lhe rendeu a alcunha de Tiradentes. Nascido em Minas Gerais em 12 de novembro de 1746, se tornou símbolo da Inconfidência Mineira, movimento separatista que ocorreu na então capitania de Minas Gerais, e que, dentre outras bandeiras, lutou contra o domínio português e a cobrança de tributos

Tiradentes, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, entre outros, organizaram o levante, porém antes que a conspiração se transformasse em revolução – em 15 de março de 1789 – foram delatados às autoridades por Joaquim Silvério dos Reis, Basílio de Brito Malheiro do Lago, e Inácio Correia de Pamplona, em troca do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda. Todos os inconfidentes foram presos e aguardaram o julgamento durante três anos. Após o perdão de D. Maria I, alguns foram condenados ao degredo e Tiradentes foi condenado à morte. Foi enforcado, esquartejado e sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica – atual município de Ouro Preto (MG) – com os demais restos mortais distribuídos ao longo do Caminho Novo do Ouro.

Desde a Proclamação da República no Brasil, em 1889, Tiradentes é considerado herói nacional e é patrono cívico do Brasil, além de patrono das Polícias Militares e Polícias Civis dos Estados. A cidade mineira de Tiradentes – antiga Vila de São José do Rio das Mortes – foi renomeada em sua homenagem e diversas cidades brasileiras prestam homenagem ao mártir, nomeando praças, como em Ouro Preto e no Rio de Janeiro. Seu nome está escrito no Panteão da Pátria e da Liberdade Brasileiro (conhecido como o “Livro dos Heróis da Pátria”) desde 21 de abril de 1992. A Lei Nº 4.897, de 9 de dezembro de 1965, durante o governo do presidente Castelo Branco, estabeleceu o feriado.

A Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional custodia diversos documentos sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira com destaque para:

A Coleção Tiradentes, que contém documentos de Joaquim José da Silva Xavier referentes ao cargo de alferes, correspondência de Inácio José de Alvarenga, João Rodrigues de Macedo, Bárbara Heliodora da Silveira e Joaquim Silvério dos Reis; requerimentos e pareceres emitidos por Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa; sequestro de bens dos envolvidos com a Inconfidência Mineira; documentos referentes ao traslado do corpo de Tiradentes.

A Coleção Casa dos Contos contém documentação fiscal e de controle sobre a extração do ouro e diamante em Minas Gerais.  Abrange o período do Regime dos contos, estatuto que regulou o controle fiscal do reino de Portugal entre 1650 e 1761 e, posteriormente do Erário Régio. Ao Erário Régio cabia a arrecadação e contabilidade das rendas geradas nas capitanias e nos domínios ultramarinos, tendo sido elevado à categoria de Secretaria de Estado em 1788. Por alvará de 17 de dezembro de 1790, o Erário foi incorporado ao Conselho de Fazenda, centralizando-se as questões de fazenda. A criação do Erário Régio, em 1761, em Portugal, inaugura alterações profundas nos métodos de arrecadação e contabilidade das rendas régias. O acervo foi transferido pela Casa dos Contos de Ouro Preto e Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional de Belo Horizonte, entre 1919 e 1923. Contém correspondências e documentos diversos referentes à história administrativa da antiga capitania de Minas Gerais como contratos, certidões, procurações, licenças, provisões, relações de pagamentos tratando, principalmente, de temas como impostos, Conjuração Mineira, escravidão, Real Erário, contrabando de ouro e diamante, sesmarias, mineração.



abril 21, 2023

VINTE E UM DE ABRIL - Adilson Zotovici








Sem se conter, por Liberdade, 

Conjuração com pertinência 

A defender sua propriedade 

Com obstinação, resistência


Inflama a arbitrariedade, 

A exploração, a truculência  

E clama a sociedade 

Contra a Derrama, inclemência  


Homens da fraternidade 

Quiseram igualdade, decência, 

Para si e à posteridade 

Tiveram a intransigência 


E a traição persuade  

À punição em essência !

Contra o Alferes...atrocidade

Degredo a outros em sequência


Travos de insídia, ambiguidade 

Timbravam de Inconfidência

Aos bravos heróis, que em verdade, 

Ansiavam a Independência ! 




ACADEMIA MAÇÔNICA VIRTUAL BRASILEIRA DE LETRAS - *SAPERE AUDE - Adilson Zotovici


Um dos mais belos textos filosóficos de todos os tempos, de autoria de Immanuel Kant, deu o mote para o dístico da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras, que hoje comemora o seu segundo ano de fundação com um quadro de 49 dos mais eminentes intelectuais da maçonaria pátria. E em comemoração a esta efeméride o acadêmico poeta Adilson Zotovici nos brinda com este lindo poema.


"A ilustração (Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o próprio responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de um outro. O homem é o próprio culpado dessa menoridade quando sua causa reside não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de um outro. Sapere aude!  'tenha coragem de usar seu próprio entendimento!' 


Forte e serena motivação

Tal cinzel e maço o conceito

Pergaminho e pena à mão  

Caminho em cada traço feito 


Magia das letras em ação 

Da Arte Real o preceito

Na “Academia” a ascensão

Cultural, perenal o preito 


Um livro é feito um coração 

Abri-lo é como abrir o peito 

E dar asas à sua emoção 


Cria-lo é ato de respeito 

Ousar a ser sábio  a razão 

Que de fato é justo, perfeito... !



abril 20, 2023

SER MESTRE MAÇOM É... - Rui Bandeira



Ser mestre maçom é mais do que uma chegada, uma nova partida, não um objetivo atingido mas um projeto sempre em execução. A Exaltação à Mestria possibilita que o Obreiro atento o entenda desde logo.


Simplesmente, enquanto até aí o maçom teve guias e apontadores de caminhos, quando a Loja concede a um maçom a sua “carta” de Mestre, este sente-se um pouco como aquele que, após as suas lições e o seu exame de condutor, recebe a sua carta de condução: está habilitado a conduzir (a conduzir-se…) mas… inevitavelmente que sente alguma ansiedade por estar por sua conta e risco, sem rede que ampare suas quedas em possíveis erros.


Assim, apesar de serem as mais visíveis manifestações da mudança de estado conferida pela Exaltação à Mestria, não são o seu direito à palavra e o seu direito ao voto que são importantes. Importante é a sua total capacidade de exercer o seu verdadeiro e pleno direito ao seu caminho. O direito a trilhar o seu caminho por si, só, se assim escolher ou assim tiver que ser, ou acompanhado por quem quiser que o acompanhe e que o queira acompanhar, se assim for de vontade dos interessados, pelo tempo que quiser, por onde quiser, como quiser, para o que quiser.


O direito ao seu caminho enquanto cidadão já o tinha desde que atingiu a idade adulta e como adulto foi pela lei do Estado considerado. O direito ao seu caminho enquanto maçom, ou seja, o caminho do aperfeiçoamento, da busca da excelência, da proximidade tão próxima quanto humanamente possível for, da Perfeição, a ser trilhado por si só, como quiser, quando quiser, pela forma que quiser, adquire-o o Maçom com a sua Exaltação à Mestria, após o tempo de preparação que necessário foi para que não seja em vão que esse direito lhe seja conferido, para que efetivamente o exerça. Porque é um direito que o Mestre Maçom deve exercer como um dever, com a diligência do cumprimento de uma obrigação.


Ser Mestre Maçom é, assim, essencialmente cumprir o dever de exercer o seu direito de escolher e percorrer o seu caminho para a excelência.


Para quem andou longo tempo a ser guiado, não é fácil ver-se, de um momento para o outro, responsável pelo seu caminho, sem ajuda, sem orientação, sem rede. Responsável, porque livre, porque pronto, porque assim é o destino do homem que busca o brilho da Luz, da sua Luz. Mas, após uma pausa para ganhar orientação e pesar as suas escolhas, todos os Mestres Maçons seguem o seu caminho – porque para isso foram preparados, por isso são Maçons, com isso são verdadeiramente Mestres.


O caminho que cada Mestre Maçom decide escolher tem em conta a primacial pergunta que faz a si mesmo: Que fazer, como fazer, para ser melhor? A essa pergunta cada Mestre Maçom vai obtendo a sua resposta, pessoal, íntima, tão diferente das respostas de outros quanto diferente dos demais ele é. E é na execução da resposta que vai obtendo, no traçar do trabalho que essa resposta propõe, que o Mestre Maçom constrói, porque construtor é, o seu percurso. E a cada estação conquistada, novamente a mesma pergunta de sempre se lhe coloca: que fazer, como fazer agora para ser de novo melhor? E nova resposta e novo percurso e nova paragem, com nova e sempre a mesma pergunta, com outra resposta e outro percurso, incessantemente se apresentam.


Mas o Mestre Maçom não sabe apenas buscar a resposta à sua pergunta. Sabe também que, embora cada um trilhe o seu solitário caminho, os caminhos dos maçons têm muito de comum e sobretudo são postos por eles muito em comum.


O Mestre Maçom sabe assim que o que adquire, o que ganha, o que aprende, o que consegue, não é para ser avaramente fruído apenas por si, antes é para ser posto em comum com a Loja, pois também é do comum da Loja que recolhe contributos, ajudas, meios, ferramentas, para melhor e mais frutuosamente obter respostas às suas perguntas.


Ser Mestre Maçom é, assim, sempre, dar o seu contributo à Loja, seja no que a Loja lhe pede e ele está em condições de dar, seja no que ele próprio considera poder tomar a iniciativa de proporcionar à Loja. Porque ser Mestre Maçom é também saber que, quanto mais der, mais receberá, que a sua parte contribui para o todo mas também aumenta em função do aumento desse todo e que, afinal, não é vão o dito de que “dar é receber”.


Ser Mestre Maçom é portanto saber que o seu percurso pessoal será mais bem e mais facilmente percorrido se o for com a Loja, pela Loja, a bem da Loja. Porque o bem da Loja se traduz em acrescido ganho para o maçom, que assim consegue realizar o paradoxo de ser um individualista gregário, porque integra e contribui para um grupo que é gregário porque preza e impulsiona a individualidade dos que o compõem.


Ser Mestre Maçom é descobrir que a melhor forma de aprender é ensinar e assim escrupulosamente executar o egoísmo de ensinar os mais novos, os que ainda estão a trilhar caminhos que já trilhou, dando-lhes o valor das suas lições e assim ganhando o valor acrescido do que aprende ensinando – e sempre o homem atento aprende mais um pouco de cada vez que ensina.


Ser Mestre Maçom é comparecer e trabalhar na Loja, mas sobretudo trabalhar muito mais fora da Loja. Porque o que se faz em Loja não passa de “serviços mínimos” que apenas permitem a sobrevivência da Loja e o nível mínimo de subsistência do maçom. O trabalho em Loja é apenas um princípio, uma partícula, uma gota, uma pequena parte do trabalho que o Mestre Maçom deve executar em cada um dos momentos da sua existência.


Ser Mestre Maçom é portanto mais do que aguardar que algo lhe seja pedido, antes tomar a iniciativa de fazer algo – não para ser reconhecido pela Loja, mas essencialmente por si, que é o que verdadeiramente interessa.


Ser Mestre Maçom não é necessariamente fazer grandes coisas, excelsos trabalhos, admiráveis construções. Mais válido e produtivo é o Mestre Maçom que dedica apenas cinco minutos do seu dia a fazer algo muito simples em prol da sua Loja, da Maçonaria, afinal de si próprio, desde que o faça efetivamente todos os dias, do que aqueloutro que uma vez na vida faz algo estentório, notado, em grande estilo, mas sem continuidade. Porque a vida não se esgota num momento, nem numa hora, nem num dia. A vida dura toda a vida e é para ser vivida todos os dias de toda a vida.


Ser Mestre Maçom não é necessariamente ser brilhante, mas é imprescindivelmente ser persistente E o Mestre Maçom que persistentemente realize dia a dia, pouco a pouco, o seu trabalho, pode porventura passar despercebido, não receber méritos nem medalhas nem honrarias, mas tem seguramente o maior mérito, a maior honra, a melhor medalha, o maior reconhecimento a que deve aspirar: o de ele próprio reconhecer que fez sempre o seu trabalho, deu o seu melhor, persistiu na sua tarefa e, de cada vez que olhou para si próprio, viu-se um pouco, um poucochinho que seja, melhor do que se vira da vez anterior. E assim sabe que, pouco a pouco, no íntimo do seu íntimo, sem necessidade que outros o honrem por tal, ganhou um pouco mais de brilho, está um passo mais próximo do seu objetivo, continua frutuosamente percorrendo o seu caminho para o que sabe ser inatingível e, no entanto, persiste em procurar estar tão próximo de atingir quanto possível: a Perfeição!


Em suma, ser Mestre Maçom define-se com o auxílio de uma frase que li há algum tempo e que foi dita por alguém que creio até que nem sequer foi maçom, Manuel António Pina, jornalista, escritor, poeta, laureado com o Prémio Camões em 2011, falecido em 19 de outubro de 2012: o Mestre Maçom é aquele que aprendeu e que pratica que o mínimo que nos é exigível é o máximo que podemos fazer.

...

Rui Bandeira. Publicado no Blog “A partir pedra” em 24 de Abril de 2013.

LIÇÕES DE TEILHARD DE CHARDIN

 





Textos de Pierre Teilhard de Chardin (Nascido em Orcines, 1 de maio de 1881 — Falecido em Nova Iorque, 10 de abril de1955), que foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês, que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia:*


*"A religião não é apenas uma, são centenas.*

*A espiritualidade é apenas uma.*

 

*A religião é para os que dormem.* 

*A espiritualidade é para os que estão despertos.*


*A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.* 

*A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.* 


*A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.* 

*A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.* 


*A religião ameaça e amedronta.* 

*A espiritualidade lhe dá Paz Interior.* 


*A religião fala de pecado e de culpa.* 

*A espiritualidade lhe diz: "aprenda com o erro"...* 


*A religião reprime tudo, te faz falso.*

*A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!* 


*A religião não é Deus.* 

*A espiritualidade é Tudo e, portanto é Deus.* 


*A religião inventa.* 

*A espiritualidade descobre.* 


*A religião não indaga nem questiona.* 

*A espiritualidade questiona tudo.* 


*A religião é humana, é uma organização com regras.* 

*A espiritualidade é Divina, sem regras.* 


*A religião é causa de divisões.* 

*A espiritualidade é causa de União.* 


*A religião lhe busca para que acredite.* 

*A espiritualidade você tem que buscá-la.* 


*A religião segue os preceitos de um livro sagrado.* 

*A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.* 


*A religião se alimenta do medo.* 

*A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.* 


*A religião faz viver no pensamento.* 

*A espiritualidade faz Viver na Consciência...* 


*A religião se ocupa com fazer.* 

*A espiritualidade se ocupa com Ser.* 


*A religião alimenta o ego.* 

*A espiritualidade nos faz Transcender.* 


*A religião nos faz renunciar ao mundo.* 

*A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.* 


*A religião é adoração.* 

*A espiritualidade é Meditação.* 


*A religião sonha com a glória e com o paraíso.* 

*A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.* 


*A religião vive no passado e no futuro.* 

*A espiritualidade vive no presente.* 


*A religião enclausura nossa memória.* 

*A espiritualidade liberta nossa Consciência.* 


*A religião crê na vida eterna.* 

*A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.* 


*A religião promete para depois da morte.* 

*A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.*


*"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual...* 

*Somos seres espirituais passando por uma experiência humana..."*

abril 19, 2023

A PEDRA BRUTA E SUAS APLICAÇÕES FILOSÓFICAS - Geraldo Batista de Camargos





PREFÁCIO

A pedra bruta é a pedra de cantaria, que é uma pedra própria para ser esquadrejada e usada nas construções, já que só a pedra esquadrejada cúbica, ou em forma de paralelepípedo – é que encaixa perfeitamente nas construções, sem deixar vãos. Os homens que nela trabalhavam eram os canteiros, ou esquadrejadores da pedra, os quais a transformavam na pedra cúbica. Daí os dos símbolos em Loja, já que praticamente tudo o que fazemos, hoje, tem sua origem nas organizações dos franco-maçons de ofício, ou operativos, como a dos canteiros. (José Castellani)

INTRODUÇÃO

Para os iniciados nos Augustos Mistérios da Maçonaria, a apresentação do seu primeiro trabalho é um passo de valor imensurável, por tratar da importância de pesquisar, comparar obras de mais de um autor, tirar conclusões próprias, externar o que pôde aprender e o que progrediu com os ensinamentos prestados pelos irmãos de Loja.

O tema escolhido é palpitante haja vista sua aplicabilidade tanto no meio profano como na maçonaria simbólica, de vez que podemos verificar desde as mais antigas civilizações já se faziam menções sobre as pedras, que ao longo do tempo foram utilizadas das mais diversas formas para expor o pensamento humano, seja ele religioso como filosófico. Não obstante a maçonaria especulativa muito sabiamente aproveita esses conceitos retirados das pedras a expressão marcante e lança ensinamentos para todos seus membros, desde sua iniciação.

O objetivo principal desse trabalho é apresentar a simbologia das pedras presentes em várias civilizações e em diferentes épocas e sua aplicação na formação dos maçons aceitos.

DESENVOLVIMENTO

A história da humanidade desde seu inicio tem um vínculo forte com as pedras. O homem das cavernas descobriu-as como grandes aliadas. A pedra foi utilizada para vários fins seja como arma ou outra ferramenta qualquer que facilitara a vida de nossos ancestrais.

O tempo foi passando e o homem evoluía cada vez mais, seus aprendizados foram aprofundando-se, até que adquiriu o domínio de várias técnicas, as quais eram vitais para sua sobrevivência. Essas técnicas deram origem a ciência, produto do intelecto humano, como somatório dos conhecimentos adquiridos. Ainda em sua primitividade o homem, por seus caracteres que diferem dos outros animais (corpo, alma e mente), sentia a necessidade de comunicar com o ser superior, pois percebia em sua espiritualidade que foi criado, logo, desse sentimento nasceu a religião que era manifestada de forma muito variada conforme cada região onde habitava.

As pedras dentro da religiosidade têm um valor sem par, elas eram erigidas para representar seus deuses. E vemos que de simples pedras não-talhadas, gradativamente os homens foram utilizando pilares lavrados e depois para colunas talhadas esculturalmente segundo a semelhança de animais ou homens destinados a tornarem objetos de reverência e culto como representação de deuses, que por sua solidez e durabilidade servia para sugerir o poder e a estabilidade de uma divindade.

O culto utilizando pedras tem sido rastreado em quase todas as regiões da terra e entre quase todos os povos bárbaros. A Bíblia Cristã, desde o livro do Gênese até o Apocalipse, faz alusões às pedras, vejam alguns exemplos:

Em Gênese, capítulo vinte e oito, versículo dezoito, lemos: “No dia seguinte pela manhã, tomou Jacó A PEDRA sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em Estela derramando óleo sobre ela;

As tábuas onde foram escritos os dez mandamentos eram de PEDRA (Êxodo, capítulo trinta, versículo dezoito);

Há referências bem conhecidas tanto no Velho com no Novo Testamento sobre as pedras símbolos. No Livro dos Salmos, capítulo cento e dezoito, lemos: “ A PEDRA que os construtores rejeitaram, tornou-se PEDRA ANGULAR”. Considera-se isso uma profecia dirigida a Jesus, como o Cristo, que foi rejeitado pelos judeus, mas tornou-se a PEDRA fundamental da igreja.

Jesus cita essas palavras em Mateus, capítulo vinte e um, acrescentando: “Aquele que tropeçar nesta PEDRA, far-se-á em pedaços, e aquele sobre quem cair será esmagado”.

Pedro denomina Jesus em sua segunda epístola, capítulo quatro, como PEDRA PRECIOSA;

Ao passo que Pedro foi chamado CEPHAS, quer dizer PEDRA, pelo próprio Jesus em Mateus, capítulo vinte e seis, versículo dezoito.

Já no judaísmo se vê a velha lenda sobre o maravilhoso depósito de PEDRA DE FUNDAÇÃO, É encontrada no livro Talmúdio-yoma, que afirma, ela tinha sobre si o nome sagrado de DEUS gravado na síntese da sigla G.A.O.T.U. Alguns rabinos hebraicos dos tempos antigos adeptos à doutrina metempsicose acreditavam que uma alma humana podia após a morte não só renascer num corpo humano, mas também, por culpa de seus pecados, num corpo de animal e até mesmo aprisionado numa PEDRA. No fólio hebraico número cento e cinqüenta e três, podemos ler: “A alma de um caluniador pode ser forçada a habitar uma PEDRA SILENCIOSA.

Os antigos gregos costumavam erguer colunas de pedras consagradas diante de seus templos e ginásios e até mesmo as habitações de seus cidadãos insignes. No mundo árabe em Meca (cidade de peregrinação islâmica), acha-se a PEDRA mais notável do mundo, é uma PEDRA PRETA, que está preservada na “kaaba” ou casa cúbica que fica no átrio da mesquita sagrada. Acredita-se que seja um aerólito ou pedra meteórica. Esta PEDRA PRETA tem sete polegadas de comprimento aproximadamente, e é oval, segundo diz, ela foi quebrada durante o assédio de Meca em 683 DC, foi recomposta com cimento e encerrada numa cinta de prata. Está embutida na parede do ângulo nordeste da kaaba a uma altura que permite que os devotos a beijem em ato de adoração.

Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos da correlação homem e pedra, presente na cultura religiosa que é a mais antiga manifestação circundada na vida humana. Assim também para a maçonaria as pedras têm um valor imensurável, posto que a própria origem desta instituição tenha muito haver com elas, uma vez que é herdeira o conhecimento de várias associações de construtores, principalmente daquelas manifestada durante a Idade Média. A representação simbólica das pedras está intimamente ligada com a vida de um maçom, desde sua iniciação, seu primeiro trabalho realizado à frente do irmão primeiro vigilante, onde ele ainda não percebe a riqueza existente nesse gesto.

A PEDRA BRUTA é o ponto de partida para a grande transformação a ser feita no espírito do maçom. Desbastar esta PEDRA BRUTA significa que esse trabalho simbólico deve-se dedicar o maçom para chegar a ser o obreiro que domina a boa arte de construir. Na realização desse trabalho o iniciado é ao mesmo tempo obreiro, matéria-prima e instrumento. Ele mesmo é a PEDRA BRUTA, que representa seu atual estado de imperfeito desenvolvimento, que deve converter-se em forma de perfeição interior.

Como a perfeição é infinita e seu absoluto é inacessível, o que nos resta fazer é tão somente aproximar da perfeição ideal, por etapas de progresso, desenvolvendo-as através de sucessivos graus de perfeição relativa. O próprio reconhecimento de nossa imperfeição por um lado e de outro um ideal desejado são as primeiras condições indispensáveis para que possa existir o trabalho de desbaste. Se o Aprendiz souber relevar, quando algum irmão o aborrecer, estará retirando uma aresta, se ele usar o exercício da tolerância contra as agressões, mais arestas caem. O construir, o participar, o contribuir e o atender são atributos que também retiram arestas.

Contudo a melhor maneira de desbastar a PEDRA BRUTA é a própria comprovação fraterna – chave para abrir portas aos irmãos e assim estaremos dando mostras de que os amamos. Este é o caminho certo, o início do aperfeiçoamento, que certamente será longo, áspero e de sacrifícios, mas vale a pena ser trilhado. É dando que se recebe lembra-nos Francisco de Assis, em uma mensagem de amor.

Assim pedem os aprendizes maçons, sempre haja alguém que os ajudam a suportar o fardo, a torná-lo leve, colaborando com seu progresso mostrando sempre o caminho do bem e da virtude. É necessário ainda que cada um de nós, sendo PEDRA BRUTA conheça sua natureza, descubra de que material é feito, que resistência possui, se é pedra-ferro, pedra mármore, granito ou outra composição.

Esse trabalho deve ser uma contínua rotina em nossas vidas, uma vez que a necessidade de aprimoramento seja ele intelectual; espiritual ou psíquico faz parte da natureza humana para atingir novos paradigmas do verdadeiro progresso, a serviço da própria humanidade que vai adentrando por séculos e séculos cumprindo seu destino. Pois somos degraus na cadeia da divindade, e cada degrau sustenta um e é sustentado por outro, o ser evolucionado além de limpar e polir seu degrau tem também o dever de contribuir para a limpeza dos outros, para que nada de feio se veja, assim estaremos evoluindo e colaborando para a evolução do todo, pois “o todo é muito maior que a simples soma das partes”.

CONCLUSÃO:

O valor alegórico inspirado nas pedras, desde os primórdios tempos, é refletido para toda a existência, que o homem moderno precisa obter os ensinamentos que elas – as pedras proporcionam, a fim de melhorar sua própria vida, para contribuir na construção de uma sociedade centrada nos bons costumes. Desta forma, faz-se necessário buscar incessantemente o aprimoramento individual e coletivo, quer nos trabalhos das oficinas, nos encontros fraternos, na aplicação da doutrina, no ensinamento geral a que todos abrangem, nas ocupações do mundo profano, que o maçom cumpre integralmente sua finalidade na sociedade humana.

A transformação de PEDRA BRUTA EM PEDRA POLIDA só encontra seu significado real com o trabalho primitivo dos PEDREIROS LIVRES, quando, a própria oficina procura anular as arestas de seus próprios membros quaisquer que sejam as suas posições em Loja, sejam quais forem seus títulos iniciáticos.


Bibliografia:

Constituição do Grande Oriente do Brasil

Ritual (REAA) 1º Grau – Aprendiz

Enciclopédia Barsa

“A simbólica Maçônica” – Jules Boucher

“Caderno de Estudos Maçônico” – José Castellani

Manual do Aprendiz-Maçom

Bíblia Sagrada

Enciclopédia da Sociedade de Ciências Antigas