junho 06, 2023

VER – OUVIR - CALAR








 ...“Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum”...

Irmão Iniciado: Um forte querer vos impeliu a buscar admissão aos umbrais do Templo, aspirando receber a Luz, como outrora peregrinavam os buscadores, nas regiões do Oriente, também desejosos de obter a Iniciação nos Mistérios. 

Descendo à sombria câmara, fostes buscar no interior da Terra a Pedra Oculta – o encontro com o Eu real – como o Mestre que se recolheu ao deserto para vencer suas tentações.

O terror do Umbral não vos causou medo, nem ao percorrer os caminhos largos e estreitos, guiado por mãos tão desconhecidas quanto às provas que vos aguardavam. 

Passando por Fogo, Terra, Ar e Água, seguistes o exemplo do Mestre que triunfou das tentações e foi servido pelos Anjos. 

Por ousar vencer essas provas, a Luz vos foi concedida, como prêmio da Iniciação: Ali estava a Luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo. 

Como mais um Iniciado, livre e aceito, tomai vosso lugar no Templo.

No Oriente, o Mestre pouco a pouco vos desvelará os Augustos Mistérios da Tradição antiga, orientando para as obras de Luz, o fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal.

Ousai fazer, e o Poder vos será dado. 

Mas lembre-se de sua responsabilidade: No dia em que comeres deste fruto, serás ferido de morte. 

Que o saber não lhe deslumbre, nem acirre sua vaidade, que é destruidora da Luz. 

O saber vos tornará o Mestre de vosso próprio Templo, pois o Reino de Deus está dentro de vós.

Para que o Negro em Branco, e o Branco em Vermelho, seja transformado, o Iniciado separa o sutil do espesso, domina os elementos e opera a quadratura do círculo, tornando cúbica a pedra que era bruta. 

Está, enfim, diante da Realização da Grande Obra, e agora só lhe resta calar.

Velai prudentemente a Verdade oculta nos símbolos e alegorias cujo real sentido a poucos é dado conhecer, para não entregardes as luzes do Conhecimento às contradições humanas. 

Não lanceis vossas pérolas aos porcos.

O silêncio é o testemunho de tudo o que vistes e aprendestes – é o fecho de ouro dos quatro verbos do Iniciado. ...

Bom dia meus irmãos. 

(Desconheço a autoria)

junho 05, 2023

A ÉTICA E O VALOR MORAL NA MAÇONARIA - José Airton de Carvalho











A Ética, denominada de Filosofia Moral ou Ciência Moral, trata da análise e a reflexão sobre as condutas humanas, tanto individuais, quanto coletivas, e as normas morais como princípios dos comportamentos. Sua finalidade é fazer com que o desenvolvimento humano atinja a plenitude, respeitando as diferenças individuais.

Segundo Aristóteles, “a Ética estabelece o que se deve ou se pode fazer, e o que não se deve ou não se pode fazer”.

É evidente que quando se estuda o procedimento do homem no meio social, deve-se levar em conta que o homem é um ser moral, justamente por ser ele um se político. É um ser político porque a isso o obriga a sua natureza humana.

Mais do que nunca o homem tem que se adaptar à vida em comunidade, mormente nos tempos de globalização, quando o mundo virou uma “aldeota”, onde a aviação e os meios de comunicação acabaram com as distâncias.

O homem vive em sociedade e o Estado onde ele vive precisa dele, como ele precisa do Estado. Na sua larga visão, Aristóteles em “A Política” assinala:

…“Está claro que o Estado é produto da natureza e superior ao indivíduo; quem não fosse capaz de viver na comunidade civil ou dela não tivesse necessidade para bastar-se a si mesmo, não se tornaria nenhuma parte do Estado…”.

Tenhamos em mira que a teoria aristotélica da moral é o fundamento dessa corrente do pensamento chamado Ética.

É interessante verificar que a palavra ética, em português, é derivada do vocábulo grego ethos que significa hábito, costume.

Os romanos traduziram o ethos grego por moralis. Cícero diz em uma das suas obras, referindo-se ao vocábulo grego, que “Aquilo que tem a ver com os costumes, que eles (os gregos) chamam ethos, nós, nesta parte da filosofia referente aos hábitos, costumamos chamar de moral”.

O dicionário esclarece que Moral é a parte da filosofia que trata dos costumes ou deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo mesmo.

Aristóteles não separa a Ética da Virtude, porque, para ele, toda a virtude se gera e perece dos mesmos atos, e mediante os mesmos atos; e exemplifica dizendo que “de tocar cítara surgem os bons e os maus citareiros”. Isto significa que, pelos atos, se conhece se o indivíduo é virtuoso ou não.

Mais adiante ele enfatiza: “É necessário, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porque consoante a sua diferença resulta a diferença dos hábitos.”

Se o homem considerar que a prática dos deveres para com os outros e para consigo mesmo é o único caminho que leva à perfeita harmonia social, estará, pois, procedendo corretamente e pode considerar-se feliz.

Analisemos o que Aristóteles estabelece de fundamental na sua “Ética”:

“Os atos morais são livres, motivo por que o indivíduo assume a sua responsabilidade. Em assim sendo, torna-se, para quem os pratica, causa de mérito ou demérito. A responsabilidade supõe, com certeza, o que denominamos de imputabilidade, pelo qual o ato é atribuído a um indivíduo como seu autor”.

“Existem duas espécies de responsabilidade: aquela pela qual o indivíduo responde por seus atos diante da própria consciência, ou seja, a responsabilidade moral, e a responsabilidade social que faz com que o indivíduo responda por seus atos, às vezes, perante a justiça, quando violar as leis civis”.

Aristóteles ensina que “A virtude é um hábito não só diante da reta razão, mas a ela conjunta. E a reta razão nada mais é que sabedoria”.

Resumindo, Virtude é o hábito de praticar o Bem, e vício, o hábito de praticar o mal.

Voltemos a Aristóteles e vejamos o que ele tem para nos ensinar:

“A Virtude, diz ele, se distingue segundo esta diferença: das virtudes, algumas chamo dianoéticas, a sapiência, a inteligência e a prudência; éticas, a liberalidade e a temperança. Quando, de fato, falamos dos costumes de alguém, não dizemos ser sapiente ou inteligente, mas sim, brando de ânimo ou temperante; e louvamos também, referindo-nos ao hábito: que nós chamamos virtudes aqueles hábitos que merecem ser louvados.”

Aristóteles procura estabelecer diferença entre aquilo que ele chama de virtudes dianoéticas e virtudes éticas:

“As primeiras são inatas no homem e podem crescer através do estudo, do ensinamento, razão por que têm necessidade de experiência e de tempo. Já as virtudes éticas são frutos do hábito, o que vale dizer que nenhuma delas se gera no homem por natureza, são as chamadas virtudes adquiridas. Elas não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em nós que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito”.

O estagirita conceitua a natureza humana como sendo equilibrada. Para ele, todo ideal tem base natural e todo natural tem desenvolvimento ideal. Reconhece, e o faz objetivamente, que a meta da vida não é o Bem por si mesmo, mas a felicidade. Assegura que a felicidade aparece como um bem perfeito, sendo a meta de todas as ações.

A Maçonaria é por excelência, uma Entidade de Moral, pois, seus princípios alcançam, em suas ações, os níveis mais elevados da Ética Universal. Sua obra, tanto material quanto espiritual advém de um passado remoto. Educando e disciplinando, prepara seus membros para que participem na busca da verdade, elevando-os em sua dignidade, fazendo com que ajam com justiça, desfrutando da liberdade, praticando a fraternidade e dedicando-se com amor à Humanidade.

Diante da evolução por que passa o mundo é necessário que visualizemos, à luz maçônica, os grandes desafios. O rigor moral e a força da autêntica solidariedade social se fazem necessários para que corrijamos os deslizes individuais, as más instituições políticas, econômicas e sociais, com o intuito de que o relacionamento humano seja mais fraterno.

A resposta não é simples, mas, podemos assegurar que sem ela enveredamos os mais tristes e funestos destinos. A Moral permite o cultivo de todas as virtudes, o que garante uma promissora convivência com nossos pares.

O imoral e o amoral, hoje ou amanhã, pagarão alto preço de uma conduta desmedida, destruindo, assim, suas vidas. “A História, mestra da vida”, testemunha a decadência dos que se distanciam da moral.

Nenhuma nação, nenhum povo e nenhum homem poderão concretizar seus sonhos, se não estiverem embasados nos conceitos da Moral. Seria como construir castelos ao vento, ainda que a aparência pareça estável.

Portanto, a cada um, a concepção do dever, do bem, da justiça, das virtudes e, sobretudo, da verdade, pois aí está a formatação da moral, revelando-nos os valores que norteiam o homem e os povos, prestigiando suas instituições e reafirmando na fé, a verdadeira perfectibilidade humana.

A Maçonaria nos chama ao cultivo da Moral e à sua nobre prática, para que sejamos cada dia, mais virtuosos.

*Zé Airton é Mestre Instalado, membro da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, presidente da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida e membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda.

junho 04, 2023

NINGUÉM É O QUE VESTE... - Joab Nascimento

 







Ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!


Fui criado com tão pouco,

Com pouco sinto-me bem,

Não me iludo com o muito,

Nem com dinheiro também,

Gosto da simplicidade,

Abomino a vaidade,

E todo orgulho de alguém,

Mando a riqueza pra peste,

Pois ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!


Fui criança de pé no chão,

Usei calção remendado,

Almocei café sem pão,

Tinha farinha ou grolado,

Nunca conheci fartura,

Sempre tive vida dura,

No bolso nenhum vintém,

Quem quiser que me conteste,

Pois ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!


Não gosto de ostentação,

Nem tão pouco me mostrar,

O trocado que eu tenho,

Eu sei muito bem gastar,

Prefiro não ser notado,

Ficar um pouco afastado,

Passar-me por Zé Ninguém,

Ser matuto do agreste,

Pois ninguém é o que veste,

Muito menos o que tem!



ALQUIMIA -



A finalidade principal da Alquimia (do árabe al-kimia) era a transformação de substâncias por processos químicos e as tentativas de transmutação dos metais. Embora a sua época de apogeu tenha sido a Idade Média, quando, sob esse nome, ela foi introduzida, no Ocidente, pelos árabes (século VII), a verdade é que ela foi praticada desde tempos muito antigos, no Egito, na Pérsia, na China, na  Índia e na Grécia arcaica. Os egípcios já a utilizavam, de maneira prática, para curtir couros, preparar ligas de metais comuns e fabricar corantes e cosméticos; os persas tiveram grande interesse por esse novo tipo de conhecimento e o espalharam entre os povos conquistados; através dos persas, ela chegou à Grécia, onde os gregos a incorporaram aos seus conhecimentos teóricos sobre os mistérios da vida.

É necessário, já de início, que se estabeleça a existência de dois tipos de alquimia: a prática, precursora da química e estabelecida pelo médico suiço Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (1493-1541), e a alquimia oculta, muito associada à magia.

Em todas as teorias cosmogônicas do mundo antigo, existe a idéia da existência de um elemento primordial, do qual derivam todos os demais elementos. A mais antiga idéia, relativa a esse conceito, é aquela que considerava a água como elemento fundamental, associada aos trabalhos do sábio grego Thales, de Mileto. Na mesma Grécia, entretanto, muitos filósofos defenderam idéias diferentes. Anaxímenes afirmava que o elemento primordial era o ar, pois ele podia ser condensado, formando nuvens e chuvas, cujas águas, ao se evaporar, formando, novamente, o ar, deixavam um resíduo sólido de terra. O mitraísmo persa via a manifestação do poder divino no fogo, crendo, portanto que esse era o elemento formador de todas as coisas; Heráclito também defendia a teoria do fogo, afirmando que tudo, no mundo, está em constante transformação e que o elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o fogo, daí a máxima hermética Igne Natura Renovatur Integra (o fogo renova toda a Natureza). Já Feresides escolheu, como fundamental o elemento terra, pois, afirmava, ao se queimar um corpo sólido, obtém-se água e ar. E Aristóteles, finalmente, defendendo uma concepção de Empédocles, afirmava que esses quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram formados por combinações deles.

As ideias de Aristóteles, básicas para a alquimia, eram ensinadas nas escolas de pensadores da cidade de Alexandria, no Egito, a qual foi o grande centro alquimista da Antiguidade, nela se dando a fusão entre as práticas egípcias e as teorias gregas, mais tarde desenvolvidas pelos árabes. Estes, ao conquistar, em 642, o Egito, atingindo, depois, a Síria e a Pérsia, trouxeram, para o ocidente, a nova contribuição, que gerou aquilo que, hoje, é chamado de alquimia.

Dos árabes conquistadores, originou-se um dos maiores alquimistas de todos os tempos: Jabir ibn Hayyan (721-813), conhecido, na Europa, como Geber. Este aceitava a teoria aristotélica dos quatro elementos, adicionando, todavia, outros dois elementos essenciais, o mercúrio e o enxofre, os quais explicavam certas propriedades dos metais; um terceiro elemento, o sal, foi, posteriormente, incluído, formando, com os outros dois, o trio fundamental (trio prima) de Paracelso e de seus discípulos, no século XVI.

Essencialmente, a alquimia era caracterizada pela busca de duas substâncias: a pedra filosofal, capaz de transformar os metais inferiores em ouro, e o elixir da longa vida, capaz de manter os homens eternamente jovens. Para Geber, todos os metais seriam formados apenas de enxofre e de mercúrio; desses elementos, deveriam ser extraídas as essências, que transformariam todos os metais "em ouro mais puro do que o das minas". Partindo do princípio de que todas as substâncias possuem uma única raiz, parecia possível, para os alquimistas, transformar os corpos, entre os quais os metais, em ouro, o qual, além de ser o princípio concreto da força, que serve para comprar a glória e a felicidade material, é, também, o símbolo do Sol, da luz, do poder criativo, da revelação divina.

Teosoficamente, a alquimia trata das forças sutis da natureza e das diversas condições da matéria, nas quais aquelas forças agem. Quando, dá, aos iniciados, a idéia do mysterium magnum, sob o véu regularmente artificial da linguagem, para que não represente perigo nas mãos de egoístas, o alquimista aceita, como primeiro postulado, a existência de um determinado dissolvente universal da substância homogênea, de onde evoluíram os elementos, ao qual chamam de ouro puro, ou summum materiae. Este, possuía o poder de lançar fora do corpo humano todos os germes de doença de renovar a juventude e de prolongar a vida: assim é a Pedra Filosofal (Lapis Philosophorum).

A alquimia é, na realidade, tratada sob três aspectos distintos: o cósmico, o humano e oterrestre; esses três aspectos eram típicos, sob as três propriedades alquímicas: o mercúrio, o sal e o enxofre, que são os três princípios da Grande Obra (transformação dos metais inferiores em ouro).

No aspecto terrestre, ou meramente material da alquimia, o objetivo é transmutar os metais grosseiros em ouro puro, já que é indiscutível que, na natureza, ocorre a transmutação de metais inferiores em outros, melhorados. Existe, todavia, um aspecto muito mais místico, o ocultista, da alquimia. O alquimista ocultista despreza o ouro terrestre, material, e dirige todos os seus esforços na transmutação do quaternário inferior em ternário divino superior ao homem, os quais, quando se unem, acabam constituindo um só. Os planos da existência humana, espiritual, mental, psíquico e físico, comparam-se, na alquimia oculta, aos quatro elementos da teoria de Aristóteles (o fogo, o ar, a terra e a água); cada um deles é capaz de uma tríplice constituição, ou seja: fixa, instável e volátil.

A Grande Obra, para a alquimia oculta, consistia no constante renascer, para que o iniciado percorresse o caminho do aperfeiçoamento e do conhecimento, até chegar à comunhão com a divindade, conceito muito parecido com os do hinduísmo e os da doutrina de revelação do mitraísmo persa. Assim, os metais inferiores simbolizam as paixões humanas e os vícios, que devem ser combatidos e transformados em ouro do espírito, que é o objetivo da Grande Obra, ou Obra do Sol, ou Crisopéia, ou Arte Real. 

As operações da natureza são, praticamente, as mesmas da alquimia, diferenciando-se somente na denominação, podendo ser reduzidas a sete principais: calcinação, solução, putrefação, destilação, sublimação, conjunção e coagulação, ou fixação. É necessário, porém, tomar essas palavras no sentido filosófico, de acordo com o procedimento da natureza, a qual deve ser bem estudada e conhecida, antes de ser imitada.

Não se pode negar que a Química moderna deve os seus melhores descobrimentos à alquimia, a partir de Paracelso, que achava que "apenas os idiotas pensam que a alquimia é o conhecimento de como obter ouro; o objetivo da alquimia é procurar descobrir novos remédios". Os antigos e infatigáveis trabalhos alquímicos relativos à transmutação dos metais até ao ouro potável (conseguida pela Química moderna), originaram inúmeras descobertas, às quais deve, a humanidade. o seu progresso atual. Muitos dos descobrimentos tidos, exclusivamente, como modernos, já eram conhecidos pelos magos e alquimistas de tempos bem remotos: os sacerdotes etruscos, adeptos da magia, conheciam bem a eletricidade e fizeram uso dela para a defesa de cidades; o arquiteto e alquimista Anselmo de Tralle já conhecia os efeitos do vapor, enquanto o monge alquimista, Pauselenas, fala, em suas obras, sobre a aplicação da química nas fotografias e afirma que autores jônicos falam desse mesmo processo, assim como de câmara escura, sensibilidade de placas e aparelhos ópticos.

Com a união, na Idade Média, principalmente a partir do século XIII, dos alquimistas com os cabalistas, hermetistas e adeptos da magia, surgiriam diversas seitas e grupos secretos, como o dos adeptos e o dos iluminados, os quais, posteriormente, como elementos aceitos, incorporaram-se às associações de construtores medievais, levando, para a nascente Maçonaria dos Aceitos (ou "especulativa"), os seus conceitos, ideias e símbolos.

A Maçonaria ainda conserva muitos símbolos dos alquimistas, para armar a sua doutrina moral e espiritual. Um exemplo é, em muitos ritos, a chamada Câmara de Reflexão, onde o candidato à iniciação permanece, em meditação, antes da cerimônia; a câmara, que representa o útero (da terra), do qual o candidato nasce para uma nova vida, representa a "prova da terra", um dos quatro elementos aristotélicos. Nela, entre diversos símbolos representativos da espiritualidade e do valor da vida honrada, encontram-se as substâncias necessárias à Grande Obra --- sal, enxofre e mercúrio --- para lembrar, ao candidato, que ele deve percorrer o caminho do conhecimento, para chegar ao aperfeiçoamento espiritual e moral, que é a Grande Obra da vida. Na mesma câmara, uma máxima alquímica --- representada pelas iniciais de suas palavras, V.I.T.R.I.O.L. --- adverte: Visita Interiore Terrae Rectificandoque Invenies Ocultum Lapidem (vá ao interior da terra e, seguindo em linha reta, em profundidade, encontrarás a pedra oculta), a qual, além de uma referência à Pedra Filosofal, é um convite à procura do "eu interior" de cada um. Alquímicas, também, são as provas simbólicas de alguns ritos, ligadas aos outros três elementos: ar, fogo e terra.

...Do livro "Origens do Misticismo na Maçonaria", 1a. ed.: Traço Editora - 1982 - 2a. ed.: A Gazeta Maçônica: 1995.

junho 03, 2023

SOLITUDE MAÇONICA - Sérgio QUIRINO Guimarães



O termo "Solitude" é utilizado na Psicologia e na Psicanálise para expressar, de forma reduzida, o gostar de estar sozinho. Entretanto, deixa-se bem claro que Solitude não é Solidão!

Mas o que esse conceito tem a ver com Maçonaria?

Com a Maçonaria, pouco! Com os Maçons, muito!

Conceitualmente a Ordem Maçônica "é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram Irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de reciproca estima, confiança e amizade, estimulando-se, uns aos outros, na prática das virtudes"

Os grifos já colocariam por terra a possível aplicação do conceito de Solitude entre nós. Porém, permitam uma alegoria Imaginemos que, se a Maçonaria fosse uma floresta, o conceito seria: é uma associação de árvores frondosas e vigorosas que se consideram Irmãs entre si e cujo fim é viver em perfeita equidade, intimamente enraizadas na reciproca protetiva e na geração do microclima e da retroalimentação, favorecendo umas às outras na manutenção do ecossistema.

A estrutura da floresta protege as árvores dos ventos fortes e mantém a umidade, e cada folha caida ao chão transforma-se em alimento para as demais.

Apesar dessa perfeita igualdade de função, dessa intimidade de ação e reação e do estímulo que uma possa dar à outra, isso não garante o crescimento da árvore.

O que faz a árvore, de fato, crescer é sua determinação interna. Só ela, em seu amago, produz a força necessária para romper os torrões de terra e aprofundar suas raizes à procura de seu VITRIOL. Só ela é capaz de avaliar onde lançar seus galhos em busca da LUZ que ilumina e não cega.

Nesta alegoria, espero que os Irmãos entendam que estarmos juntos é muito bom. Contudo, o Irmão deve primeiro se encontrar.

Solitude é gostar de estar consigo mesmo. É ser Maçom pelo progresso, e não pela Ordem. É a dicotomia de entender que, embora participemos de atividades em conjunto, precisamos de um isolamento voluntário para tranquilizarmos a mente à procura da essência da Maçonaria.

TORNAR FELIZ A HUMANIDADE NÃO DEVE SER VISTO COMO UMA MISSÃO DA MAÇONARIA, MAS SIM DOS MAÇONS, POIS O LAR E A FAMILIA SÃO AS CÉLULAS DE TODAS AS SOCIEDADES QUE COMPÕEM A HUMANIDADE.

As vezes nos concentramos tanto em Sessões Magnas e reuniões que nos esquecemos de que, para mudarmos o mundo, precisamos mudar o homem.

A SOLITUDE MAÇONICA É O ENCONTRO CONSIGO MESMO! É RESERVADAMENTE ESTARMOS SEM EQUIVOCOS, SOFISMAS OU RESERVAS MENTAIS DIANTE DE NOSSA CONSCIÊNCIA!

O VITRIOL É A ESPIRITUALIDADE QUE SE ENCONTRA DENTRO DE NÓS MESMOS!

Quando ela é encontrada, brota a fonte límpida e inesgotável do autoconhecimento e da autoconfiança e nos tornamos geradores de Luz.



junho 02, 2023

REFLEXÃO SOBRE A MAÇONARIA - Rui Bandeira






No século XVIII, quando se expandiu a Maçonaria Especulativa, esta seguia e divulgava os princípios do Iluminismo. A Maçonaria foi então um farol que apontou o caminho da evolução social, da conceção laica, livre, igual, fraterna e tolerante do mundo, da sociedade e do lugar nela do Homem. 

O pensamento escolástico é substituído pela Ciência Experimental; racionalismo e empirismo substituem o pensamento arcaico apenas fundado nas interpretações teológicas dominantes; Locke teoriza a Tolerância como valor social; emerge o reconhecimento e proteção dos direitos humanos; o absolutismo é substituído pela submissão à Lei; a soberania por direito divino é substituída pelo conceito de que a soberania pertence ao Povo e deve ser exercida em nome do Povo, para o Povo e pelos representantes designados pelo Povo; emerge e triunfa a noção de que as sociedades devem prezar e preservar a Liberdade, assegurar a Igualdade, possibilitar a vivência em Fraternidade; o princípio da separação de poderes triunfa. Em toda esta evolução os maçons deram o seu contributo.

Trezentos anos depois, o mundo e a sociedade são radicalmente diferentes em relação ao que eram no início do século XVIII. Os valores que a Maçonaria adotou implantaram-se progressivamente em toda a sociedade e - felizmente! - hoje são essencialmente valores da sociedade, não de qualquer estrutura social, Maçonaria incluída.

Trezentos anos depois, verificando-se que o essencial do ideário maçónico venceu e está institucionalizado no mundo desenvolvido, inevitavelmente que surge a interrogação: continua, nos dias de hoje, a Maçonaria a fazer sentido? Não será hoje uma instituição ultrapassada pelo sucesso do seu ideário, transitada da modernidade no passado para o arcaísmo no presente? 

Em termos sociais, só o que mantém utilidade e sentido permanece. Tudo o que não preenche já o requisito da necessidade, do interesse, inevitavelmente estiola, fenece, cai em desuso, desaparece. Ou então transforma-se, assegurando a sua existência e pujança pela assunção de valores e interesses socialmente úteis e necessários no momento presente. Qual a função da Maçonaria hoje? Apenas a defesa dos valores que o tempo e a evolução social consagrou? Apenas uma instituição "anti-reviralho"? Ou será que a matriz genética da Maçonaria lhe permite vislumbrar, aprofundar, consensualizar novos caminhos ainda por explorar ou desenvolver, valores a implementar? Se assim é, quais os caminhos a que dar atenção, como consensualizar a direção a tomar?

Os tempos de hoje são radicalmente diferentes dos de há trezentos anos, de há duzentos anos, de há cem anos, mesmo de há cinquenta anos. As sociedades complexizaram-se visivelmente. A comunicação e os meios de a efetuar evoluíram, modernizaram-se, democratizaram-se, vulgarizaram-se. Onde antes havia poucos meios apenas ao alcance de uns poucos privilegiados, hoje tudo está praticamente à disposição de todos. A informação hoje é tudo menos escassa. Pelo contrário, começamos a ter dificuldade em selecionar, em determinar de entre a abundante cascata que incessantemente jorra sobre nós o que verdadeiramente interessa e o que é dispensável, o que é fundamentado e o que é apenas boato, palpite ou mesmo patranha. A segmentação de interesses e a extrema variedade de temas para os múltiplos interesses pessoais instalou-se. A informação hoje é multipolar e mundividente, cabendo ao indivíduo - a cada indivíduo - selecionar o que lhe agrada, o que lhe interessa, o que pretende. Neste circunstancialismo, qual o papel da maçonaria? Como pode e deve comunicar? Com que meios? Seguindo que estratégias? Procurando assegurar que objetivos?

Trezentos anos depois, estamos no fim do caminho, chegámos a uma encruzilhada ou simplesmente somos nós que temos de desbravar o caminho para que a Humanidade chegue aonde ainda não imaginou sequer poder chegar? O nosso - dos maçons, da Maçonaria, mas também da Humanidade - caminho chega até ao horizonte ou vai para além dele?

Tudo isto são interrogações que hoje se abrem à reflexão dos maçons e que é bom que os maçons se coloquem, em reflexão individual ou em análise coletiva, mas sempre plural.  

Por mim, penso que há ainda muito a fazer, que os sonhos e anseios do ideário maçónico estão ainda por completar. Quanta intolerância ainda campeia! Como são ainda vulneráveis muitos dos valores que, muitas vezes ligeiramente, consideramos solidamente implantados! E continua a haver - sempre continuará, acho - espaço e meio para cada um de nós poder melhorar e contribuir para a melhoria da sociedade. 

Mas também penso que as interrogações que atrás coloquei devem ser postas e que é tempo de lhes darmos atenção, de estudarmos os seus contornos e de buscarmos as respostas mais adequadas para cada uma delas. Nesse aspecto, a Maçonaria tem em si mesma uma caraterística organizacional que constitui uma poderosa ferramenta: a sua estrutura nuclear, com plena autonomia de cada Loja e, dentro destas, com plena aceitação dos caminhos e reflexões individuais de cada um. Isto permite que todas as interrogações acima colocadas - e muitas outras - sejam tratadas de formas diferentes, por gente diferente, em tempos diferentes, com diversas perspectivas. Cada Loja escolhe ou naturalmente dedica-se a um pequeno aspecto de um problema. Cada maçom interroga-se sobre o que lhe chama a atenção. Umas e outros buscam caminhos, propõem soluções. Cada Loja por si. Cada maçom em si. Em aparente desorganização e descoordenação. Mas é precisamente essa desorganização que se revela, afinal, muito bem organizada, na medida em que permite e gera o máximo de liberdade na reflexão dos grupos e dos indivíduos. Desse cadinho, a seu tempo emerge uma ideia que se espalha. Das ideias que se espalham, algumas fortalecem-se. Das que se fortalecem, algumas atingirão o patamar do consenso. E assim as ideias e os valores que o tempo presente reclama emergem e fazem o seu caminho, em sociedades modernas cada vez mais complexas.

Daqui a outros trezentos anos, quem então viver e se interessar fará o balanço sobre o êxito dos trabalhos, pistas, soluções e caminhos que agora efetuamos, buscamos, encontramos e prosseguimos.


junho 01, 2023

ENTRE COLUNAS - Adilson Zotovici



São lembranças oportunas

Atento livre pedreiro

A não deixares lacunas

Em teu labor sobranceiro


Arcanos que são fortunas

Vividos o tempo inteiro

Que sem enganos coadunas

No desbaste rotineiro


Mestre, aprendiz, companheiro

Lembra-te por derradeiro

Bradam Mestres das tribunas


Onde estiveres obreiro

Nos limites do canteiro

Estarás entre colunas !!


O TESTAMENTO DE QUINTINO BOCAIUVA - José Castellani




Podendo suceder que eu faleça repentinamente, ou em condições de não poder exprimir as minhas últimas vontades, deixo escritas estas instruções, cuja execução recomendo às pessoas de minha família e cujo cumprimento rogo às pessoas estranhas, entre as quais, por acaso, eu venha a falecer.

Desejo ser sepultado no cemitério mais próximo do lugar onde eu faleça, sem honras civis ou religiosas de nenhuma espécie.

Se eu falecer na cidade do Rio de Janeiro e na minha residência habitual, desejo ser enterrado no cemitério de Jacarepaguá. Se eu falecer em Pindamonhangaba, deve o meu corpo ser sepultado no cemitério dessa cidade.

A condução do meu corpo, neste caso, deve ser feita por camaradas da fazenda de Santa Helena (seis ou oito), a cada um dos quais se abonará a gratificação de dez mil réis.

Desejo ser sepultado em cova rasa, sobre a qual não se fará lápide ou qualquer outro símbolo material, que recorde a minha existência.

Em nenhuma hipótese, faleça eu onde falecer, o meu corpo será embalsamado ou conservado por qualquer outro processo.

Minha família não fará anúncio ou convites para o meu enterro, nem tampouco mandará dizer missas por minha alma, conforme o estilo comum.

Na minha qualidade de maçom e livre pensador, não tenho direito aos sufrágios da igreja católica romana.

Penso ter sido intimamente cristão e suponho que o cristianismo, na sua pureza de origem, é ainda um ideal afastado da humanidade nos tempos que correm.

O meu enterro deve ser decente, mas singelo --- não quero armação de eça na minha casa, nem encomendação de nenhum padre, ainda que algum se ofereça para isso.

Findo o prazo legal, os meus despojos devem ir para o ossuário comum. Mais ou menos, é este o resumo das minhas disposições testamentárias.

Rio de Janeiro, julho de 1907

Q. Bocaiuva


Quintino Bocaiúva , nascido a 4 de dezembro de 1836, em Itaguaí (RJ), foi jornalista, político e um dos maiores nomes do movimento republicano brasileiro. Seu nome de batismo era Quintino de Sousa Ferreira; todavia, na época em que estudava Direito em S. Paulo, ele adotou um nome nativista --- prática em voga, na época --- passando a Quintino de Sousa Bocaiúva e, depois, simplesmente a Quintino Bocaiúva (bocaiúva é uma espécie de coqueiro brasileiro, também chamado de macaúba e coco-de-catarro).

Matriculado na Faculdade de Direito de São Paulo, no curso de Humanidades, em 1851, iniciou sua carreira jornalística como tipógrafo, redator e revisor do "O Ipiranga", jornal do Partido Liberal. Em 1852, a 29 de junho, era iniciado na Loja Piratininga, da capital de São Paulo --- fundada a 28 de agosto de 1850 ---bem antes de ter completado a idade regulamentar, por ser filho de maçom (na ata consta que ele tinha 19 anos de idade, mas tinha menos) (1).

Radicado, posteriormente, no Rio de Janeiro, teve brilhante trajetória na imprensa, primeiro no "Diário do Rio" e, depois, no "Correio Mercantil". Em abril de 1864, ele aparece como um dos instaladores da Loja Segredo, pertencente ao Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, liderado por Joaquim Saldanha Marinho. Em junho do mesmo ano, era admitido como membro do quadro da Loja Comércio, do mesmo círculo. Essa dissidência criada por Saldanha Marinho iria chegar ao fim em janeiro de 1883, quando suas Lojas foram integradas, ou reintegradas ao Grande Oriente do Brasil.

Em 1870, Quintino foi o redator do famoso manifesto republicano, publicado no primeiro número do jornal "A República", que viria a ser empastelado em 1873. Em 1874, fundou o "O Globo" e, em 1884, o "O País", tendo, este último, exercido grande influência na campanha republicana. Por sua atuação na imprensa, ele foi cognominado, por seus contemporâneos, "o Príncipe dos Jornalistas Brasileiros" (2).

Tão grande era o seu prestígio, como líder republicano, em todos os meios, inclusive no militar, que, na madrugada de 15 de novembro de 1889, Quintino cavalgou ao lado de Deodoro da Fonseca, como único civil a participar, ativamente, do capítulo final do movimento republicano, com a queda do Segundo Império. Implantada a República, ele ocupou o Ministério do Exterior, durante o Governo Provisório.

No Grande Oriente do Brasil, Quintino foi eleito Grão-Mestre Adjunto, em 1897. Eleito presidente do Estado do Rio, tomou posse a 31 de dezembro de 1900 e estava no cargo quando foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, em fevereiro de 1901, tendo sido empossado em junho e tendo, como Adjunto, Henrique Valadares. Foi durante o seu mandato que começaram a ser implantados os Grandes Orientes Estaduais federados, de acordo com a Constituição sancionada pelo Decreto No. 179, de 31 de dezembro de 1900, a qual facultava essa implantação. O primeiro foi o de São Paulo, autorizado a funcionar, através do Decreto No. 195, de 1º de outubro de 1901, e regularmente instalado a 24 de junho de 1902. A 21 de junho de 1904, Quintino entregava o malhete de supremo mandatário da Maçonaria brasileira ao senador e general Lauro Sodré.

Em 1909, foi eleito senador da República, vindo a falecer a 11 de julho de 1912, no Rio de Janeiro, no atual subúrbio que tem o seu nome. Morreu em um ambiente de pobreza, no qual sempre viveu, pois jamais se locupletou com os cargos que exerceu.

O seu testamento é de uma absoluta coerência com o seu modo de ser, durante toda a sua vida: homem simples, rejeitou qualquer pompa em seus funerais; espiritualista, rejeitou qualquer símbolo material, que, sobre sua cova, recordasse sua existência; filho de uma época de intolerância religiosa, entendia que a pureza da doutrina cristã ainda estava longe de ser alcançada pela humanidade, exatamente em decorrência do radicalismo do clero da época; com a dignidade e a coragem de se declarar, sem subterfúgios, maçom e livre pensador, rejeitou os sufrágios da Igreja, numa época em que muitos ocultavam sua qualidade maçônica e procuravam as benesses do clero, como passaporte seguro para o reino dos céus (3).

maio 31, 2023

REGRAS PARA AS ABREVIATURAS TRIPONTUADAS - Almir Sant’Anna Cruz






Os três pontos em forma de triângulo equilátero são utilizados na Maçonaria como abreviatura, criada na França no século XVIII.

O uso dos três pontos, que é ignorado na Inglaterra e nos Ritos de origem inglesa, tornou-se então um sistema prático de abreviação de palavras e ainda uma forma de se ocultar os termos e afirmativas de ordem doutrinária, desvirtuando e ocultando da curiosidade dos não iniciados o significado do que é restrito aos Maçons.

O Irmão Henrique Valadares, em seu livreto “O Aprendiz Maçom” (também conhecido como Ritual Cayru), publicado em 1896 e uma das obras Maçônicas mais antigas de um Maçom brasileiro, no capítulo “Abreviaturas” já nos ensinava: “É regra geral que a supressão se faça sempre no meio de uma sílaba e que a primeira letra suprimida seja uma vogal e a última deixada uma consoante. Há algumas exceções a esta regra, como Ir.’. (Irmão) que deveria ser Irm.’., também usado”.

E acrescenta: “O plural dos nomes é representado nas palavras abreviadas repetindo a inicial respectiva”.

O Irmão francês Jules Boucher in “A Simbólica Maçônica” corrobora com essa regra: “ ... escreve-se a primeira sílaba da palavra e a primeira consoante da seguinte” e entre outros exemplos, cita a abreviatura de Companheiro (Comp.’.). 

Todavia, admite que algumas palavras podem ser abreviadas somente com a primeira letra, quando não houver qualquer dúvida ou confusão quanto ao que se está abreviando e exemplifica com E.’.V.’. (Era Vulgar) e I.’. (Irmão)

Diz também que “Por regra, as abreviaturas só deveriam ser usadas nas palavras do vocabulário maçônico e jamais para as palavras profanas”.


Do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber* Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

maio 30, 2023

MAÇONARIA NA SOCIEDADE - PRESENTE E FUTURO - Irmão Michael W. Walker


Algumas considerações pessoais pelo Irmão Michael W. Walker, Grande Secretário da Grande Loja da Irlanda

Durante os últimos anos, nomeadamente nos mais recentes, muitos Irmãos e Grandes Lojas parecem estar a envolver-se cada vez mais em assuntos que estão claramente fora do âmbito dos “Objetivos e Relacionamentos da Ordem”.

Serão provavelmente tantas as razões para isso como o número de casos que teve lugar mas, pelo simples facto de que está a acontecer, indica que é altura de questionar o que é a Maçonaria, o que lhe está a acontecer e que acções, se quaisquer, devem ser tomadas para inverter alguma tendência menos desejável, canalizando energias e o nosso entusiasmo para caminhos aceitáveis, à medida que nos aproximamos do próximo século.

Durante a Iniciação, é assegurado aos Irmãos que o candidato “é livre e de bons costumes”. Portanto, ele é, ou deve ser, um cidadão pacífico e respeitador da lei. Um pouco mais adiante, é-lhe dito que é necessário que receba os ensinamentos e conselhos que dele farão mais tarde um homem útil e virtuoso. Mais tarde ainda, indica-se que um dos deveres dos Maçons é praticar as virtudes que tendem a tornar o Homem um ser perfeito. Ao candidato pede-se todo o empenho no exercício das suas responsabilidades perante o seu Deus, o seu semelhante e ele próprio; pede-se ainda que seja um cidadão exemplar e que, como indivíduo, pratique a virtude a todos os níveis e mantenha vivas as verdadeiras características da Maçonaria, que são a benevolência e caridade, e o amor fraterno.

Ao atingir o segundo grau, é-lhe dito que deverá não só estar de acordo com os princípios da Ordem como também diligentemente praticá-los. Finalmente, no terceiro grau, pede-se que o seu comportamento sirva de exemplo à conduta de outros.

Mais tarde ainda, no topo da sua escalada como Maçom, ao ser instalado na Cadeira da sua Loja, dá o seu consentimento a um conjunto de princípios pelos quais deverá pautar o seu comportamento e atitude. Em suma, o princípio fundamental adjacente é de que, ao ser aceite na Maçonaria, ao concordar com os seus preceitos e princípios, o Maçom honrará não só a sua pessoa como será um exemplo e um benfeitor respectivamente para e de outros. Espera-se que a Maçonaria contribua para que se atinja aqueles objetivos mas que, na sua vida diária, um Maçom venha a interagir com outros como indivíduo e não na sua capacidade de Maçon. A Maçonaria é pois uma prática intelectual e filosófica destinada a fazer com que a contribuição do indivíduo para com a sociedade, assim como o seu próprio desenvolvimento pessoal, seja mais forte e maior do que teria sido conseguido se não tivesse tido a oportunidade de pertencer à Ordem.

Ser admitido à iniciação e a própria cerimónia da iniciação são uma clara indicação e confirmação do valor intrínseco do indivíduo e do seu reconhecimento pelos irmãos. Por si só, este facto deverá conduzir a um aumento da autoestima e, espera-se, estimular o desejo consciente ou subconsciente, de provar que se é merecedor da confiança dos outros. As subsequentes passagens aos segundo e terceiro graus são uma demonstração simbólica da satisfação dos irmãos pela correta escolha e decisão iniciais sobre a iniciação do candidato, não só pelas aptidões inatas como pelo seu interesse e zelo em aperfeiçoar a prática maçónica. Estas indicações iniciais de estima deveriam conduzir a um acréscimo de satisfação e autoestima do candidato.

Na Ordem adquirem-se muitas aptidões, o que não acontece em muitas outras instituições. Um irmão deve ser capaz de falar em público, decidir e opinar sobre vários assuntos e liderar reuniões. Estes atributos são muito valiosos em outros aspectos da vida profana; para muitos, é a única oportunidade que alguma vez terão de aprofundar, praticar e aperfeiçoar aquelas capacidades e técnicas.

Na realidade, penso que, atualmente, muitos daqueles atributos e benefícios – o Produto Maçónico – devem ser desenvolvidos pelo próprio candidato. Uma grande parte do simbolismo perde-se se o candidato não estiver devidamente sintonizado. Em verdade, a Maçonaria vai de encontro à satisfação das necessidades psicológicas do homem comum. Acredito que os homens, muito mais que as mulheres, são criaturas gregárias que sentem o instinto de grupo duma forma mais intensa. O homem necessita de pertencer a algo, como uma escola ou clube. A Loja assume esse papel, tendo mesmo, como numa estrutura militar, a hierarquia e uniformes ou vestimentas diferenciadas que indicam o grau do indivíduo ou o nível hierárquico que já foi atingido. Além disso, a Loja facilita a satisfação dos interesses pessoais, o que em muitos casos não é possível nem no ambiente familiar nem profissional. Acima de tudo, a Loja transmite paz e tranquilidade, um local onde se encontra o que se espera e onde a turbulência da vida profana não se manifestará com certeza e será esquecida por uns momentos. E um lugar onde se pode recarregar as baterias para assim se poder melhor apetrechados enfrentar as batalhas no mundo profano.

Aqueles que já passaram ou possam estar a passar por alguma situação traumática, como o desemprego ou a depressão causada pelo “stress” imposto pela vida moderna, saberão da verdade deste facto e poderão confirmar o efeito apaziguador e calmante do único e inestimável meio ambiente, tal como existe na Loja.

É a Maçonaria uma associação de caridade?

A resposta é negativa mas, como em qualquer ambiente fraternal, as necessidades de um irmão ou dos seus dependentes receberão a simpatia e apoio incondicional dos seus irmãos, nem sempre necessariamente de natureza financeira. A caridade é o resultado natural do amor fraterno e é incentivada na Maçonaria, mas não é a razão de ser da Ordem.

A critica que frequentemente se ouve da Ordem, de que só se preocupa com os seus, é totalmente falsa e carece de validade. A caridade maçónica não se restringe aos seus membros, sendo que é cada vez mais direccionada para qualquer causa ou situação merecedora, desde que não contrarie os termos da Declaração de 1938. O Maçon é, de qualquer modo, livre de, na sua vida quotidiana e capacidade pessoal, apoiar qualquer organização que mereça a sua simpatia.

O objetivo da Maçonaria

O objetivo da Maçonaria é o autoaperfeiçoamento – não no sentido material mas nas vertentes intelectual, moral e filosófica, a fim de desenvolver o ser no seu todo e, como indicado na bonita e emotiva linguagem do ritual, “prepararmo-nos para tomar os nossos lugares como pedras vivas no grande edifício espiritual, que é eterno nos céus e não foi feito pelas mãos do homem”. Este hipotético indivíduo, desenvolvido no seu todo, deve, através da sua viagem pela vida e interação com os outros, contribuir duma forma significativa para a sociedade em geral, realizando e cumprindo assim o desejo expresso durante a iniciação de se tornar cada vez mais útil aos seus semelhantes.

A minha interpretação da Maçonaria assemelha-se ao que pensou W. B. Yeats da aristocracia – “proteger os seus membros e devotos das tempestades da mudança, quase que como do abrigo do ventre materno se tratasse; e como um esquema para promover um tipo de espiritualidade, ao nível da alma e ao mesmo tempo profano e temporal.”

Eu gostaria certamente de dizer da Loja o mesmo que Yeats afirmou uma vez sobre a casa de Lady Gregory, em Coole, no condado de Clare, certamente um “abrigo materno” para artífices duma profissão diferente, pois “esta casa enriqueceu imensamente a minha alma porque aqui a vida move-se em formas graciosas, sem limitações”.

A sociedade de hoje

À medida que as mudanças no mundo acontecem a um ritmo cada vez mais rápido, duma forma complexa e imprevisível, a nossa necessidade natural de segurança, controlo, certeza e previsibilidade começa a ser corroída. Este tipo de ambiente constitui campo fértil para o desenvolvimento do que é chamado o ’’Síndroma de Aquiles”, que faz com que cada vez mais pessoas com objectivos ambiciosos padeçam de um sério défice de autoestima, aparentemente mais no caso masculino. Este facto pode bem depreender-se de um artigo da autoria de Petruska Carlson, urna psicóloga clínica e consultora.

Isto torna-se patente num crescente número de indivíduos que têm demonstrado esta preocupação pela rapidez em que valores culturais da sociedade têm sofrido alterações e pela sua influência no homem. Gerard Casey defende que “em todas as sociedades, a razão funciona dentro do conceito de mitos, sendo estes narrativas culturais fundamentais que fornecem princípios e valores inquestionáveis em que se baseia a sociedade e sem os quais ela não se pode desenvolver. Infelizmente, aqueles que se consideram especialistas em educação não têm hoje aparentemente noção da importância destes fatores, talvez pressionados também pelos que procuram uma educação baseada unicamente em temas técnicos e direcionados para aspectos de carreira profissional, e também pela pressão “educativa” exercida pela televisão sobre muitos jovens em detrimento dos próprios pais. Como sociedade, estamos a perder, ou já perdemos, os nossos padrões culturais, provocando um autentico deambular, sem objetivos ou direção definidos, como qualquer meteorito perdido algures no espaço.

Casey advoga que as pressões exercidas pela sociedade moderna provocaram um estado de caos e colapso moral na Irlanda, tendo já atingido proporções epidémicas no mundo ocidental. Defende a necessidade de se encontrar uma base ética racional para o comportamento humano, o que será uma tarefa difícil, sem garantias de sucesso. O Dr. Donald Murray, ex assistente do bispo de Dublin e atualmente bispo de Limerick, reconhece a existência duma “fome que não está a ser satisfeita. As pessoas necessitam de sentir que pertencem a alguma coisa; têm de se sentir dedicados a algo. O estado de espírito que prevalece é de desilusão e cinismo. Sentimos que vivemos num mundo de instituições estruturadas, pertencendo não a um país mas a uma economia. Avaliamos a nossa vida nacional em termos de recursos e estatísticas e pensamos no Estado como uma máquina, em vez de como pessoas e valores culturais”.

O Dr. Murray defende que “presumimos cada vez mais que o cidadão ideal não tem valores religiosos ou morais fortes, ou pelo menos que tenha a decência de não os imiscuir na cena pública. Isto é, o indivíduo não é suposto participar na vida activa com o seu Eu, com as suas convicções morais e religiosas. São considerados assuntos privados. Estamos claramente em risco de construir uma sociedade com valores culturais que consideram irrelevantes as verdadeiras realidades da vida. As divisões e separações ocorrem só quando a religião e moral não são entendidas. A consciência individual merece respeito porque procura a verdade, que é a obrigação de todo o ser humano”.

Os Maçons facilmente compreenderão estas referências à ética, verdade e moral como parte dos verdadeiros fundamentos dos ensinamentos maçónicos. Mas estes valores estão a ser minados por forças destruidoras que estão a corromper as próprias fundações nas quais se baseiam. Conor Cruise O’Brian – um estadista e comentador de renome – afirma mesmo que “desde há muito na história que o discurso humano no que se refere à ética tem sido ferido, em graus diversos, pela hipocrisia”. O bispo de Waterford denunciou recentemente o excessivo culto do individualismo.

Este excesso de individualismo conduziu a uma falsa ideia de liberdade. O indivíduo foi levado a pensar que a liberdade não tinha limites e a acreditar na supremacia dos seus direitos sobre os dos outros. O culto do individualismo colocou o indivíduo, homem ou mulher, num pedestal, no centro de tudo, e não permite a inclusão da “comunidade” no seu verdadeiro sentido, além de que dificulta a realização da “vida plena”, à qual todos somos chamados.

Quer gostemos quer não, quer saibamos quer não, há muitas forças subtis, e até mais óbvias, diariamente influenciando-nos, produzindo à medida que se multiplicam, uma espécie de tortura e consequente desequilibro – nem sempre perceptível- que nos faz sentir inseguros e dúbios relativamente ao caminho que percorremos.

São estas as forças que fazem enriquecer os psiquiatras, à medida que cada vez mais pessoas sentem que “algo” não vai bem e que está a afetar todo o seu ser e qualidade de vida mas sem saber identificar o quê. O que é realmente necessário é uma espécie de âncora mental, como que um objetivo de navegação que, mesmo com nuvens espessas, permita ao “viajante” uma viagem em que possa identificar exatamente a sua posição e assim retornar, se necessário, ao verdadeiro caminho.

Maçonaria – inserida, ou não, na sociedade?

Qualquer pessoa é ocasionalmente um pouco introspectiva, ao perguntar-se “quem sou eu e para onde vou?”. Mesmo uma organização como a Maçonaria deve fazer-se a si mesma esta pergunta. Somos uma organização cujos objetivos são o amor fraternal, ajudar os nossos irmãos e seus dependentes em dificuldades, procurar a “Verdade” que devemos exprimir e difundir como um padrão de moral público e privado, conhecer e temer a Deus, e, como consequência, respeitar e amar o nosso semelhante. Isto significa tolerância pelas opiniões pessoais, crenças religiosas e tendências políticas. Se persistirmos em analisar os objetivos da Ordem, a nossa procura deve alargar-se mas sem desfocar a nossa visão, ao mesmo tempo que devemos cada vez mais aproximarmo-nos do Grande Arquitecto do Universo, espiritualizando-nos e tentando aprofundar a nossa compreensão Daquilo que não podemos nunca esperar compreender e apreender completamente – algo como a procura e luta pelo místico Graal, tal como os nossos prováveis antepassados operativos – os Cavaleiros Templários – que se seguiram, à sua maneira, aos míticos Cavaleiros dos Romances do Graal e às Lendas Arturianas. A Maçonaria é muito mais que uma superficial análise de e pela sociedade de hoje, obcecada com o sucesso material do indivíduo muito mais do que a sua contribuição para a sociedade. O sucesso na sociedade de hoje mede-se por padrões materiais e económicos, pela posição ou aquisições que essa capacidade económica permite. Não é relevante se essa posição ou aquisições foram obtidas de uma forma imoral ou mesmo ilegal ou se prejudicou alguém no processo.

A Maçonaria não é apenas mais uma organização como os Rotários, Câmara do Comércio ou outras, com objetivos e funções diferenciadas. Se a Maçonaria tivesse alguns desse objetivos, então provavelmente algumas dessas organizações não se teriam formado. Somos o que somos e qualquer tentativa em assumir alguns dos outros objetivos afastar-nos-ia do nosso caminho. Provavelmente, muitos se juntaram à Maçonaria pensando que era algo diferente ou, depois da iniciação, procuraram influenciá-la e até moldá-la aos seus desígnios. Não somos a cura para os males de cada um.

Pode afirmar-se que o número de novas admissões à Maçonaria em todo o mundo tem vindo a decrescer. As razões para este facto prendem-se com o superficialismo da sociedade de hoje, a multiplicidade de oportunidades e pressões socais existentes relativas à utilização dos tempos livres.

Estudos feitos nos E.U.A. indicam a existência de uma forte relação inversa entre o tempo livre necessário para o exercício de uma atividade e o seu grau de popularidade. As exigências cada vez maiores da vida profissional têm gradualmente reduzido o tempo livre disponível, o que obriga ao seu racionamento a fim de evitar, muitas vezes sem sucesso, competir com a família e outros interesses considerados prioritários. Qualquer atividade que exija um compromisso de tempo substancial e que não seja entendida como tendo um retorno justificável (medido eventualmente de uma forma subjetiva), não será favorecida e, em termos maçónicos, traduzir-se-á numa redução de presenças em sessões, independentemente do orgulho, honra ou satisfação que o irmão terá em ser membro da Ordem. O número de irmãos que esporadicamente estão presentes indica que reconhecem “pertencer” a uma organização que não tem a capacidade para estimular uma presença regular.

Os meus avós, com a provável exclusão do seu clube e da sua Loja, tiveram possivelmente muito menos oportunidades onde utilizar os seus tempos livres, sendo que as sessões de Loja eram ansiosamente esperadas. Hoje, uma grande quantidade e variedade de atividades estão acessíveis a quase todas as classes, quer social quer economicamente. A sessão (ou sessões) mensais, em vez de oportunidades, concorrem frequentemente com outras atividades, cujo “retorno” é visto como mais atrativo.

Em terminologia de marketing, devemos ver a Maçonaria como um produto. E isso que estamos a “vender” (ou a providenciar) para consumo dos membros ou potenciais membros. Devemos pois melhorar o produto ou tornar a embalagem mais atrativa.

A Maçonaria é em si um produto estável – pouco se pode alterar sem mudar significativamente a sua essência e aparência. Os seus princípios e preceitos são tão válidos hoje como outrora o foram. Não podemos mudar o produto e mantermo-nos na mesma; devemos ser verdadeiros para nós mesmos neste ponto. Se mudarmos de direção (ou, em termos empresariais, de estratégia) temos de reconhecer e aceitar que é isso exatamente que se está a fazer. Seria bem possível que, algum tempo depois, alguém decidiria que o novo “produto” não estaria correto e que requereria ajustamentos a fim de o adaptar às exigências da sociedade. Sugiro que esta não é para nós uma opção. O que temos e o que representamos estará sempre correto, mesmo se o seu grau de aceitação desça ou suba no tempo.

O que podemos fazer é melhorar a embalagem e torná-la mais atrativa a potenciais “clientes” e mais apetecível aos actuais. No primeiro caso, podemos ativamente adoptar um novo perfil e, suave mas firmemente, “deixar a nossa luz brilhar perante os homens”. A vela à janela é um símbolo de um convite compreendido por todos; alguns aceitá-lo-ão e baterão à porta. Sou contrário à atitude de quase “forçá-los a entrar”; esta atitude não é compatível com a Maçonaria, independentemente da forma como se poderá justificar. A Maçonaria existe para ser adoptada, até saboreada, pelas mentes já sintonizadas (ou em busca) com os seus objetivos e práticas. A Maçonaria não é para qualquer um; mas haverá sempre aqueles, em todas as épocas e áreas geográficas, para quem terá um interesse muito particular. Através da embalagem e apresentação, estes “clientes” poderão ser identificados mas nunca criados. “Eu sou o que sou” e nenhum artifício ou manipulação mudará isso.

Deve aproveitar-se as oportunidades apropriadas para nos desembaraçar dos velhos mitos e concentrarmo-nos nos benefícios da Maçonaria. Nisto desempenhamos todos o nosso papel, pois como disse um Grão-Mestre Norte-americano, “somos todos a percepção de outros da Maçonaria”. Identifiquemos os “benefícios” da Ordem, falemos abertamente deles, promovendo-os. Isto obrigará às mais diversas iniciativas, começando pela família, passando pelo círculo de amigos e conhecidos até aos locais de trabalho, reservando obviamente à Grande Loja a tarefa de lidar com os meios de comunicação social a fim de que a mensagem transmitida seja constante e coerente. Se assim não for, poderá haver tantos pontos de vista como membros da Ordem, o que inevitavelmente conduziria a que o público continuasse mal informado e confuso em relação ao que somos e ao que aspiramos ser.

A fim de renovar o interesse em frequentar as Lojas e encorajar aqueles que frequentemente não regressam para serem membros ativos, há que definir um programa de acção com um objectivo fundamental: tornar as sessões de Loja atrativas, onde se está presente porque se quer e não porque há obrigação em o fazer.

Pode analisar-se esta problemática sob diversas perspectivas mas, em última análise, é algo que cada Loja tem de resolver por si. Em tempos antigos, antes do sistema das Grandes Lojas ter sido desenvolvido, cada Loja era um órgão autónomo e independente, medida que a Maçonaria Especulativa sobrepondo à Operativa, e grande parte dos irmãos deixaram de estar relacionados com a atividade de construção, teve de ser instituído um código de ética e conduta.

A Grande Loja é um órgão administrativo e regulador, com uma estrutura hierárquica que passa pelas Grandes Lojas Provinciais até às Lojas em si. Porém, no contexto do regulamento e constituição da Grande Loja, cada Loja é ainda um órgão independente e autónomo, responsável pelas suas atividades, funções e, em última instância, pela sua própria sobrevivência.

A Grande Loja não é uma comissão de entretenimento e, embora possa sugerir ou regulamentar, a verdade é que é o Grão-Mestre quem, em última análise, assume a responsabilidade. É ele quem deve assegurar que o ritual é bem conduzido, que a gestão é eficiente, que o conteúdo do que se faz é de interesse e não mera rotina mas, acima de tudo, que os irmãos – normalmente sempre os mesmos – não falem demais. A lei de Parkinson nunca é vista com tal clareza como na reunião de Loja, e em particular, na noite em que se festeja a Instalação. Pranchas pobres, demasiado longas, são uma receita segura para enfraquecer a motivação dos irmãos em frequentar sessões de Loja ou Grande Loja quando, com efeito, o que se deveria perguntar é “se terei de esperar mais um ano pela próxima sessão”.

Como foi dito acima, acredito que o produto não pode ser alterado; portanto, devemos alterar a embalagem. Os elementos da embalagem a serem modificados foram identificados no documento de discussão do Grão-Mestre intitulado “Programa para a Mudança : O Caminho em Frente” como sendo : a nossa imagem pública; ser membro, caridade; esperar que a percepção do público a nosso respeito, conforme um recente anúncio de jornal procurando um gabinete de advogados, possa ser a de uma organização de “espíritos saudáveis, da mais alta integridade, honestidade e ‘ confiança, apresentando um estilo de vida claramente demonstrativo de uma atitude desprendida relativamente a bens materiais e da presença do amor de Deus através de serviço ao ser humano”. As qualidades referiam-se ao gabinete, claro, não ao cliente.

Devemos tentar demonstrar ao mundo em geral, e assim tornar a nossa Ordem mais atrativa a potenciais membros, que as palavras do Pro Grão-Mestre de Inglaterra, V. M. Lord Farnham, Maçon irlandês e anteriormente Grão-Mestre Sénior da Irlanda, são verdadeiras: “A Maçonaria tem como objetivo desenvolver o indivíduo como bom cidadão e como homem com uma forte formação moral. Poderão seguir-se outros benefícios para a sociedade mas vêm de indivíduos actuando por si e não como Maçons.

Não é fácil no mundo moderno convencer as pessoas de que a Maçonaria como Instituição não serve para qualquer coisa não é certamente um grupo de pressão. A sua influência no comportamento pessoal dos seus membros deverá ser bom para a sociedade em geral e deverá ser bem-vinda”

Em direção ao novo milénio

Tentei identificar quem somos, o que somos e onde estamos – é sempre de meditar no para onde vamos? Somos um grupo que está fora de moda e com o número de membros a diminuir – talvez não nos países em desenvolvimento mas, no mundo desenvolvido, somos vistos como um anacronismo, com um modo de estar que constitui um embaraço.

“Donde vens, Gehazi?” Lembrar-vos-eis da devastadora pergunta que Eliseu pôs ao seu servo que tinha cercado de cortesias Naaman, procurando obter vantagens à custa dos talentos do seu Senhor -ou seja, de outrem.

Depois da segunda guerra mundial, um grande número de indivíduos aderiram à Maçonaria porque era a alternativa ou substituto mais próximo para o companheirismo e apoio que encontraram nas forças armadas. A medida que estas pessoas vão passando ao Oriente Eterno, não tem existido nenhuma afluência significativa de candidatos para os substituir. Torna-se pois necessário recrutar, embora os meios a utilizar assim como o ênfase que esse esforço possa ter deva ser cuidadosamente ponderado. Algumas Grandes Lojas iniciaram programas de recrutamento em que os irmãos que apresentem um determinado número de candidatos elegíveis são recompensados. Este tipo de campanha tem muitos perigos e não pode, penso eu, ser benéfica. Devemos, em minha opinião, adoptar o método de “levar o cavalo à água”. Podemos mostrar- lhe a água e indicar que está disponível mas, a não ser que o cavalo tenha sede, não podemos fazer mais que o encorajar a beber.

O Grande Secretário da Grande Loja Suíça Alpina disse, na sua alocução durante a reunião dos Grandes Secretários em 1994, que “é essencial evitar qualquer tipo de proselitismo pois o objectivo principal não é procurar novos candidatos mas sim melhorar a percepção dos profanos sobre a nossa Ordem, o que, espera-se, conduzirá a que novos candidatos se apresentem”.

Devemos tentar corrigir a falsa percepção que têm, em particular, os meios de comunicação social e as Igrejas pois ambos têm influência directa sobre a opinião pública, sendo também nossos antagonistas e altamente suspeitosos da Maçonaria.

As Igrejas não conseguem aceitar que não somos concorrência mas que, na realidade, até apoiamos a religião e encorajamos cada irmão a interessar-se cada vez mais pela sua crença através do desenvolvimento do seu intelecto e espiritualidade. Não temos teologia nem sacramentos nem nos envolvemos, como Maçons, em nenhuma devoção nas nossas Lojas. Também não oferecemos ou indicamos o caminho da salvação através das boas acções ou qualquer outro meio. Estamos cientes destes factos – mas como transmiti- los a quem não os sabe e por vezes também não quer saber porque não lhe convém? Devemos recordar-nos que as Igrejas estão também a ter uma quebra acentuada no número de fiéis, talvez até mais severa do que no nosso caso, em termos percentuais. A causa deste facto deve-se parcialmente às próprias instituições mas também ao facto de que, hoje, qualquer religião formalizada e estruturada está simplesmente desatualizada e fora de moda. Â sua maneira, as Igrejas estão também a tentar responder o melhor possível a estas tendências como, por exemplo, popularizando e facilitando a linguagem utilizada pela Igreja Católica durante a celebração da missa; ou reduzindo a lugares comuns a beleza e a elevação da linguagem na versão autorizada da Bíblia da Igreja Anglicana. De qualquer modo, as transformações efetuadas não tiveram resultado positivo porque não trataram dos problemas reais.

Em pânico, algumas Igrejas têm-se aproximado do evangelismo carismático e até do fundamentalismo. A Sra. Gwenjermyn, uma metodista do condado de Cork no sul da Irlanda, conseguiu que uma interessante carta sua ao “Irish Times” fosse publicada por este jornal a 22 de Junho de 1995. Nela, referia-se ao aparecimento do fundamentalismo extremo que se tem feito passar por “evangelismo”. Escreve ainda a Sra. Jermyn que “este ênfase fundamentalista é extremamente doutrinário, não concede a possibilidade de verdadeira exploração espiritual. E uma interpretação limitada, ofensiva, divisionista e arrogante, aproveitando-se de medos e emoções negativas que em pouco ou nada respeitam os ensinamentos claros dos evangelhos.”

O exemplo típico desta ultra reação foi o “Nine O’Clock Rave Service” em Sheffield, aplaudido por muitos, desde o Arcebispo de Cantuária até aos párocos locais. O inevitável resultado tornou-se um dos maiores embaraços que a Igreja sofreu nos últimos tempos quando, depois desta generalizada histeria hipnótica induzida pelas tradicionais técnicas de manipulação em massa, o Cavaleiro Branco da Nova Era – o Rev. Christopher Brain – foi primeiro suspenso de celebrar e mais tarde obrigado a pedir a exoneração após participação num deboche orgíaco, vilipendiado pelos seus mais fiéis seguidores, e com as Autoridades Eclesiásticas a lavarem daí as mãos.

Apesar destes acontecimentos, devemos estar atentos e aprender com eles pois a Ordem Maçónica também já teve o seu “Rave Service”! Em Março de 1995, teve lugar no México o chamado Congresso Mundial, apoiado por uma das pequenas Grandes Lojas Estaduais de México, que é ainda considerada irregular por muitos – a Grande Loja de Valle de México. Nesta ocasião, a acreditar em alguns relatórios, todo o tipo de organizações irregulares estiveram presentes e algumas incríveis afirmações e atitudes não maçónicas foram proferidas e tomadas, terminando com uma declaração, a que se chamou a Carta de Anahuac, assinada pelos representantes de todas as trinta e sete Grandes Lojas que participaram. As reuniões seguintes eram para ter tido lugar em Portugal em 1996 e em Itália em 1997, aparentemente neste último caso apoiado pelo irregular Grande Oriente de Itália. A agenda para 1997 foi apresentada pelo Grão- Mestre italiano e incluía o seguinte: “Acreditamos que o nosso estudo se deve reger pelas seguintes linhas mestras : procura de soluções para o excesso de população no nosso planeta, programação da utilização dos recursos alimentares e energéticos, lutar contra a poluição do nosso planeta e no espaço, cooperação entre países ricos e pobres a fim de eliminar conflitos assim como diferenças económicas e tecnológicas, controle sobre descobertas científicas direcionando-as para o bem e progresso da humanidade, respeitando a liberdade e dignidade do indivíduo e dos povos, protegendo os direitos e obrigações do Homem”.

Isto não é Maçonaria e estes não são temas que deveriam alguma vez ser discutidos num ambiente maçónico e os que o fizerem são Maçons irregulares. O que fizemos ver com veemência.

Este é um caso em que a Maçonaria claramente exagerou. Apostar no cavalo errado é pior do que não apostar em nenhum e claramente prejudicará o nome da Ordem. Se não tiveres nada de útil para fazer, não faças nada. Como disse um nosso Grande Arquivista: “se estiveres metido num buraco, pára de escavar”.

Os meios de comunicação social também não toleram a nossa privacidade que vêem como secretismo e com o intuito de esconder qualquer intenção de subversão ou qualquer outra acção malévola. De qualquer modo, não somos a única organização “perseguida” por aqueles meios porque deseja manter-se privada. A Opus Dei, um grupo de direita dentro da Igreja Católica romana, também já foi na Irlanda um dos alvos da comunicação social: “Ouvimos alguns dos mais destacados funcionários públicos indicar que membros da Opus Dei deviam ser excluídos de exercerem altos cargos públicos”. Nenhuma explicação foi dada, o que é extraordinário se considerarmos que aquela afirmação foi escrita no contexto de se poder a vir a considerar cidadãos como inabilitados para certas cargos em função das suas crenças religiosas. Porquê, por exemplo, se afirmar como factual que a Opus Dei é secreta? O que é que o responsável pelo artigo sabe referente a esse facto que contrarie o que a Opus Dei tem repetidamente negado? As pessoas não se apresentam normalmente como membros de uma diocese ou outra. Compreende-se prontamente que esse assunto é privado, não secreto, da mesma forma que membros da Opus Dei não se apresentam dessa forma. Ser membro da Opus Dei, ou qualquer outra organização, não é uma credencial pública. De qualquer forma, a liberdade de pensamento e expressão de cada membro em assuntos públicos estaria seriamente comprometida se outros atuassem como se representassem toda a organização.

O que estou a tentar realçar é que, à entrada do novo milénio, devemos permanecer firmes na aderência e defesa dos nossos Obectivos e Princípios e não procurar obter aprovação pública através da autopromoção ou práticas não maçónicas que só podem, a longo prazo, prejudicar. Devemos pacientemente esperar porque a nossa hora voltará. Ouço dizer que o nosso estilo de vida tornar-se-á ainda mais frenético e “estressante”; poderemos provavelmente fazer frente a essa tendência intelectualmente mas é questionável se o conseguiremos emocionalmente. Com a Internet a bombardear-nos com todo o tipo de informação, por vezes eticamente duvidosa, na privacidade dos nossos lares, acredito nas palavras do nosso irmão Michael Yaxley, Presidente do Conselho da Grande Loja da Tasmânia, quando escreve que “a sociedade necessita de uma organização como a Maçonaria. Esta necessidade, acredito, torna-se cada vez mais premente. No próximo século, o local de trabalho não proporcionará o grau de camaradagem e companheirismo suficientes para satisfazer os instintos sociais das pessoas. Muitos trabalharão em casa, conectados aos seus escritórios por um computador e telefone. Outros trabalharão num escritório rodeados de equipamento complexo mas inanimado. A ironia da nova Era da Comunicação é de que as pessoas passarão mais tempo sós.”

Devemos ser cuidadosos quando nos exortam constantemente a adequar a Arte ao século XXI. Devemos fazê-lo, mas lentamente. O irmão neozelandês Robert H. Abel quer ver a Arte respeitada pelo esforço dos seus irmãos na comunidade em que estão inseridos; nós somos todos a percepção de alguém do que é a Maçonaria. Não devemos desbaratar o nosso nome em público; devemos fazer com que a nossa dignidade seja respeitada.

Robert Abel acredita que a espiritualidade do homem tem altos e baixos, como se de um longo ciclo se tratasse; devemos assegurar que a nossa Arte se manterá inalterada no futuro a fim de que gerações vindouras, talvez menos frívolas, a possam desfrutar e apreciar.

Pode talvez dizer-se que a Maçonaria está atualmente a atravessar um período semelhante ao Verão de S. Martinho, antes das duras realidades do Inverno se fazerem sentir. Como dizia o poeta Humbert Wolfe :

Ouve, o vento levanta-se

E as folhas estão ao sabor da sua força selvagem

Já tivemos as nossas noites de Verão

Agora vêm as do Outono!

Este poema termina num tom ligeiramente ameaçador, indicando simbolicamente a tempestade que se avizinha e para a qual nos temos de preparar. Mas será talvez mais um exercício de contenção, de “apertar o cinto”, enquanto preparamos o barco para a maré da espiritualidade do homem chegar e transportar a nossa Arte segura e calmamente para águas mais seguras e acolhedoras. Como disse o escritor americano Henry Adams : “O Verão de S. Martinho da vida deveria ser simultaneamente um tanto solarengo e um pouco triste, infinito na sua profundidade de tons, como a própria estação”.

Penso que esta frase descreve exatamente a Maçonaria de hoje. Um pouco triste, lembrando-nos da grandeza do passado e dos tempos mais calmos em que a Maçonaria era respeitada e aceite na sociedade. Será que o nosso tempo virá novamente? Certamente que sim – não talvez uma cópia exacta do passado, pois não queremos atrasar os ponteiros do relógio, mas numa versão mais “leve”, mais “magra”, com novo vigor e entusiasmo para enfrentar o novo milénio.

Mas lembrem-se, irmãos, à medida que entramos no “Inverno do nosso descontentamento”, devemos preservar os nossos padrões e dignidade. Não se poderá comprometer a qualidade de qualquer faceta ou sector da nossa instituição. Um dos maiores atores irlandeses, Michael Mac Liammoir, foi em tempos acusado de ser “quadrado”. Respondeu que era melhor ser “quadrado” do que não ter nenhuma forma! Quão apropriada é esta resposta para a Maçonaria de hoje; devemos manter-nos fiéis ao simbolismo do esquadro e do compasso e que sejam estes os meios de restaurar “Ordo ab Chao” – ordem no caos moral e mental – à medida que nos esforçamos para nos reajustar emocionalmente às pressões crescentes da vida moderna.

Vou terminar, irmãos, com uma exortação extraída da maravilhosa linguagem do nosso ritual: “Certifiquem- se de que se conduzem, quer em Loja quer for a dela, como homens bons e como Maçons”. Lembrem-se das imortais palavras de Polónio, na peça “Hamlet” de W Shakespeare, ao aconselhar seu filho aquando da sua partida da Dinamarca para França: “Acima de tudo, sê verdadeiro para contigo mesmo; e, assim, tal como o dia se segue à noite, não serás falso para ninguém”.

Quase todo o ideal maçónico está contido nestas parcas palavras, tão fáceis de recordar mas tão difíceis de se aplicarem na prática.


Tradução de APF – R∴ L∴ Mestre Affonso Domingues

Nota do tradutor: Embora o trabalho do irmão Walker não trate de um tópico de pesquisa tradicional, a sua análise sobre o estado atual da Maçonaria é relevante e oportuno. Esperamos que possa estimular trabalhos adicionais sobre as causas fundamentais nas flutuações do grau de aceitação – ou rejeição – da Maçonaria pela sociedade em geral.

maio 29, 2023

CADEIRA DAS REFLEXÕES - Sérgio QUIRINO Guimarães












Comecemos questionando se estamos tratando de um elemento simbólico ou de um objeto concreto.

Se os considerarmos separadamente, chegaremos à conclusão de que há tanto um objetivo simbólico quanto um elemento material. Porém, se observarmos de modo atento, a referida cadeira não tem uma estrutura predeterminada. Pode ser um trono ou um tamborete; contudo, serve para assentar o corpo.

A CADEIRA É, POIS, O SÍMBOLO DE AQUIETAR A MATÉRIA PARA VIBRAR O ESPIRITO.

Parados, nos interiorizamos. Livres dos estimulos da movimentação, é possível captarmos energias sutis.

A fim de entendermos a "Reflexão", resgataremos o aprendizado dos bancos escolares. Em Física, aprendemos que a reflexão é o fenômeno pelo qual um raio de luz que incide sobre uma superfície é refletido.

Lembremos que, nos processos iniciáticos, "raios de luz" (perguntas, estímulos e movimentos) são "lançados no candidato, para que o neófito manifeste respostas, reações, coragem e determinação. É essa a reflexão, ou seja, é o que e como "volta" à fonte emanadora.

Ainda no estudo da Física, aprendemos que a reflexão da luz pode ser especular, havendo sinergia entre os ângulos que atingem o objeto/iniciando e seu retorno ao ambiente. É o efeito espelho que ocorre quando presenciamos uma iniciação e visualizamos a nossa. Mas há também a reflexão difusa, na qual os "raios de luz são refletidos em diferentes direções, muitas vezes por conta de materiais diferentes, em que se projetou a mesma luz.

POR ISSO, DEVEMOS COMPREENDER QUE A INICIAÇÃO É UM PROCESSO PESSOAL E INDIVIDUALIZADO. FAZER SESSÕES MAGNAS COM VÁRIOS CANDIDATOS NÃO PRODUZ A VIBRAÇÃO HARMÓNICA NECESSÁRIA PARA, DE FATO, INICIAR UMA NOVA ETAPA DE VIDA.

Entretanto, ainda existem dois aspectos relevantes que devemos resgatar na Cadeira das Reflexões. Primeiro, como Maçons, devemos ter um tempo/espaço para concentrarmos nosso espirito sobre nós mesmos.

Nesse caso, ouvirmos a voz da consciência moral espiritual acerca de nossas representações no teatro da vida, em que somos convidados a desempenhar muitos papéis. Refletirmos sobre nossas ideias e nossos ideais, sentirmos os nossos sentimentos e descobrirmos suas origens e seus destinos.

O segundo ponto é nos conscientizarmos de que a reflexão é uma virtude, pois é uma disposição da alma que nos convida a pensar e a evitar o pré-julgamento, a imprudência, a lascívia perniciosa e, sobretudo, a abandonar os vícios.

 A reflexão difusa, em que os raios de luz, ao incidirem sobre a superfície, espalham-se em várias direções, é facilmente compreendida ao observarmos uma Pedra Bruta com tantas arestas

E muitas dessas arestas que temos não necessitam do Cinzel e do Malho. Basta apenas um lampejo de consciência nascido no momento de quietude e no desejo de ser mais polido.