junho 19, 2023

PARTE, PARTÍCULA, TOTALIDADE - Aldo Vecchine



“O homem é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”. Sartre.

Quantas partículas formam uma parte e qual é a proporção de cada parte na totalidade? O que haveremos de conceber como totalidade num cenário onde a humildade e a caridade são requisitos determinantes e divisores de águas?

Certamente, o contexto é que indicará, informará e formará a tese investigativa. Se a análise for, e é, em ambiente maçônico, sobre o povo maçônico, encontraremos amiúde diferentes escores que corroborarão com a trilogia encimada.

Se tomarmos, por analogia, da biologia a premissa de que as células formam os tecidos; os tecidos formam os órgãos; os órgãos formam os aparelhos e o conjunto dos aparelhos forma o organismo... Cada iniciado, cada construtor social, é partícula no universo maçônico, é parte na sua Loja e é totalidade na execução do prometido.

“Cada pessoa é uma escolha absoluta de si”. J. P. Sartre.

E no canteiro de obras a arte de desbastar tomará novo sentido, pois a situação, as atualizações e a compreensão do devir, mais os ajustes e encaixes, fomentarão a responsabilidade do obreiro consigo mesmo, com o seu compromisso, com o próximo e a nossa Sublime Instituição.

Que as alegorias sejam suficientes e reveladoras nessa formação inicial. Que a Iniciação seja bastante significativa para colocar o neófito num lugar entre todos, por pertencimento, pela fraternidade. Que cada viagem seja vivenciada, entendida e internalizada para produzir bons efeitos.

Assim e enquanto o emérito não chega, enquanto o desbaste não alcança a polidez pretendida, a construção prossegue no ritmo e nas batidas do maço sobre o cinzel, com a devida afiação e zelo para retirar apenas o excesso sem o risco de rachar o bloco todo, sucumbindo-se, peremptoriamente, o trabalho delineado.

Nesse comenos o saber fazer destaca e enaltece o esoterismo. A observação e a comunicação vinda dos decanos asseguram a exatidão e a regularidade dos movimentos. E é nesse sentido que os ensinamentos são transmitidos ajudando o aprender a ser. Ser senciente, livre e existente em plenitude com seu cabedal, sua singularidade e sensibilidade, na melhor sintonia e em cada situação, com todos os irmãos.

Sartre ensinou-nos: “Nós não somos originariamente nada, apenas seres totalmente livres”. 

Destacando-se a dimensão do saber: “Sabei-o pouco, mas sabei-o bem”, não é a quantidade, mas a qualidade que distingue o obreiro dedicado e comprometido com os progressos sugeridos, e feito as peças de um quebra-cabeça, cada parte ocupa seu lugar completando-se a imagem figurada. Nessa analogia a forma e os encaixes são definidos pelo conhecimento.

Ainda que das colunas ou no oriente, o “Ir mais longe”, ganha significativa proporção na medida em que o construtor se esforça no trabalho intelectual; silencia e exercita, articula e edifica o entendimento e a sabedoria. Compondo e recompondo outras possibilidades aprofundando na busca de mais elementos que trarão, à superfície, mais luminosidade e clareza.

Sob “A canícula do meio-dia”, foi a luz interior do investigador, aquele facho intermitente, abrasador e nutriente de energias o fator determinante e imanente que o capacitou a buscar algo a mais, por todas as linhas e em todos os traçados, reencontrando a ponta do novelo que o conduz desde o ocidente, ao setentrião e também ao sul, pois mesmo que se afaste do eixo, saberá voltar.

Sabe também que é “Um recipiendário, mas pensante”, por natureza e destino. Sabe que sabe, pois o sei que nada sei, é apenas o outro lado da mesma joia. E o nada, diferente do não-ser, também é totalidade no mesmo discurso.  A propósito disso Sartre já ensinou: “É o pensamento, a consciência que faz toda a originalidade e a dignidade humana dentro da natureza”.

Duas obras e seus conteúdos foram utilizados nessa reflexão: Ser livre com Sartre, editora Nobilis, 2019, Frédéric Allouche; e Caminhos para a sabedoria, editora Vozes, 2022, karl Jaspers. E é na diversidade da filosofia condensada nelas, que ousamos recortar da segunda, o seguinte: “É no limite das possibilidades humanas que podemos aprender a significação daquilo que se tenta velar ou ignorar”. K. J.

Queremos crer que a Maçonaria, Ordem Iniciática, que objetiva tornar feliz a humanidade, pelo amor e aperfeiçoamento dos costumes, preparando os seus eleitos para esse propósito, sob uma fundamentação indubitável e revolucionária, tridimensional por necessidade, ou seja: esotérica, filosófica e catequética.

Esotérica porque as filigranas são compartilhadas a partir dos mais experientes. Nossos Mestres, pelo exemplo e zelo, disseminam a exatidão das batidas no cinzel intelectual, mais a mentalização do perfil que se pretende finalizar, mas que permanece escondido na bruteza e dureza da pedra.

Filosófica porque já não somos operativos, mas especulativos, ou seja, articuladores de proposituras e conjecturas, possíveis e necessárias por causa da nossa necessidade de pensar e compreender tudo o que se apresenta velado, por concluir e/ou acrescentar.

Catequética porque sem o ritual e o arcabouço legal/regimental, correremos o risco de desviarmos da construção, dos ensinamentos e do esoterismo, ou seja, dos parâmetros estabelecidos desde antigamente. Certamente esse é o motivo de a Maçonaria Simbólica conter os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.  

“Por sofrível e desgastante que possa ser, nós não podemos nos abstrair do outro”. F. A.

Agora, e por isso, a imagem do três, cinco e sete (3, 5 e 7), faz todo o sentido para nós. Uma Loja necessita, para ser per perfeita, que três a governe; cinco a componha e, sete a complete. Temos necessidade da perfeição, aquela contida no seis total e final, resultante da expressão matemática em tela, e por meio dos números primos iniciais: divisíveis apenas por si mesmo e pela unidade.

Acontece que é na multiplicidade que o produto, mesmo que se altere os fatores, confere-lhes significação e proporção; isso porque suas propriedades, iguala, distribui, associa, neutraliza e inverte o resultado. Em uma Loja a composição, a sapiência, o conjunto da obra será total na medida em que a distribuição for maior que o resto.

Admitamos a complexidade da formação maçônica, bem como a simplicidade dos elementos disponibilizados para isso. Só a persistência do estudioso o conduzirá ao êxito. Também a dedicação trará bons frutos, considerando-se que a materialidade dos fatos seja superada pela espiritualidade desenvolvida, pois o maçom é um ser em construção.

“Não conseguimos esgotar o que é o ser-humano pelo ser-sabido dele, mas apenas podemos vivenciá-lo na origem de nosso pensar e agir. Basicamente, somos mais do que conseguimos saber sobre nós mesmos. K. J.

E antes mesmo de prepararmos o encerramento, para abraçar toda essa imperfeita reflexão, trazemos o momento do nascedouro. Queremos crer, ser ele, o instante de maior liberdade para o iniciante. Sem nenhuma noção do que virá, o neófito congrega em si o mais elementar significado de “Livre e de bons costumes”, haja vista a pureza desse momento.

“O objetivo de nosso combate pela liberdade é nos libertar de todas as formas de alienação. Os valores que escolhemos devem ir nesse sentido, sem esquecer o outro. Pois também somos responsáveis por aquilo que nos tornamos em relação aos outros, ou seja, defensores ou não de sua liberdade por meio de nossas ações”. F. A.

Agora, sim, encaminhamos nossas conclusões lembrando de um saudoso professor e filósofo que bradava: “Sou a parte no todo e a totalidade na parte. Por isso coopero comigo e com todos”. E por essa sentença articulava seu filosofismo, sua sabedoria com seus alunos, levando-os a questionar os limites do conhecido, sempre na busca do desconhecido.

Fica para todos os obreiros da Arte Real esses insights como ponto de partida para outras construções que abrigarão novas possibilidades. E que seja assim mesmo. Que haja crítica, acertos e reformulações para haver progressos. Que tragam mais luzes e clareza para essas linhas mal traçadas, pois nossa incumbência é a mesma do venerável, a abertura.


junho 18, 2023

VENERÁVEL MESTRE NA LOJA SIMBÓLICA - Ir.’. Newton Dan Faoro



Etimologia, definições e origens

O título de Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Loja Maçônica, remonta aos meados do Século XVII, quando se iniciava a transformação da Maçonaria operativa em especulativa. Na época ainda não existia o Grau de Mestre Maçom, que só apareceria no Século XVIII (entre 1724 e 1738). O Presidente da Loja era escolhido entre os Companheiros mais antigos e experientes e se tornava vitalício na direção dos seus trabalhos. O Rito Escocês Antigo e Aceito, antigamente, atribuía ao maçom que fosse iniciado no Grau 20 o título de Mestre AD VITAM, de forma vitalícia o que lhe dava o direito de exercer a função de Venerável Mestre na Loja Simbólica. Esta designação era atribuída pelo Supremo Conselho do Grau.

O título ‘Venerável’ tem origem na palavra inglesa ‘Worship’, que como substantivo significa adoração, culto religioso, respeito, admiração e como verbo significa adorar, venerar, idolatrar. Your Worship é a expressão inglesa para Vossa Excelência, Vossa Senhoria. A expressão Worshipfull Máster passou a ser traduzida, portanto, como Venerável Mestre e como tal foi adotada pelos maçons. 

O Venerável Mestre é o responsável como Presidente pela condução dos trabalhos da Loja e como Mestre Maior pela concessão de Graus, incluindo-se a iniciação de profanos. Um Presidente que não tenha recebido a sagração ou investidura como Venerável Mestre poderá tão somente dirigir os trabalhos administrativos da Loja; a investidura de profanos ou mesmo a dos graus de Companheiro e Mestre é prerrogativa de um Venerável Mestre que tenha sido investido com estes poderes por pelo menos três Veneráveis Mestres.

Características e traços de personalidade

O Venerável Mestre é o Líder do grupo de Irmãos de sua Loja. Sabemos que a verdadeira liderança é uma das funções mais difíceis a serem exercidas em qualquer atividade humana.

Nas Lojas Maçônicas, não é diferente; às vezes até mais difícil, pois esta liderança deve ser conquistada aos demais Irmãos pelos valores que possa o líder demonstrar e praticar. A situação é bastante diferente do caso de lideranças empresariais ou mesmo políticas, que são impostas por cargos ou negociadas por benefícios e vantagens. Os Irmãos de uma Loja Maçônica ali se reúnem para buscar seu aperfeiçoamento moral e de caráter e para ter uma convivência a mais fraterna quanto possível. Quando o Venerável não consegue demonstrar sua capacidade de liderar homens maduros nestas condições, dificilmente consegue que sua liderança seja aceita e que o grupo se mantenha coeso, alinhado e dedicado a um esforço pelo qual espera nada mais do que seu crescimento pessoal.

Apesar do muito que já se escreveu sobre liderança, não há uma fórmula pronta para que alguém se torne um líder. Na realidade, não importa o que o líder faz, mas sim o que ele é. Os próprios líderes pouquíssimas vezes conseguiriam descrever o que fazem ou quais são suas características pessoais que fazem com que as pessoas os sigam, mas as pessoas respondem a estas características.

O Líder, por sua vez, deve usar não só a cabeça, mas também o coração; a liderança, em sua essência, deve tocar o coração e a alma das pessoas. De um modo geral, está fundamentada em uma relação muito mais emocional do que racional.

Philip Crosby tem uma definição para Liderança, que, adaptada para a linguagem maçônica poderia ser assim traduzida: “Liderança é, deliberadamente, fazer com que as ações executadas pelos Irmãos da Loja sejam planejadas para permitir a realização do plano de trabalho do Venerável Mestre.”

Deliberadamente significa que a Loja deve eleger um determinado caminho e um propósito, estabelecendo objetivos e metas claros nas mentes de todos os Irmãos. Ações executadas pelos Irmãos significa que estes objetivos e metas devem ser alcançados por ações empreendidas por todos os Irmãos e não por um deles ou deles um pequeno grupo. Planejadas significa propor uma cadeia de ações cujos produtos esperados sejam de pleno conhecimento de todos os Irmãos. Finalmente, Plano de Trabalho do Venerável Mestre deve ser entendido como o conjunto de realizações que foi consensado com o grupo todo. 

Há ainda, e não menos importante, a consideração da tendência do Líder. A história nos fez tomar conhecimento de líderes que tenderam para o bem e outros que tenderam para o mal. Liderança é dom da pessoa, que não tem a ver com seu caráter. Como a Maçonaria “é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito à autoridade e à crença de cada um’” ou ainda “para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade, exaltando a virtude e combatendo o vício”, o Venerável Mestre, como seu Líder, estará alinhado com estes traços de personalidade. Se assim não for, não poderá exercer liderança alguma sobre um grupo de homens de bem.

Não será um homem perfeito, porque ninguém o é; mas será um homem sinceramente em busca de sua perfeição.

Desafios a vencer 

Exercer a função de Venerável Mestre, muito mais do que uma honraria, me parece como uma missão e um serviço a cumprir. Por mais espinhosa e árdua que esta missão possa parecer ou mesmo ser, sempre servirá para o crescimento individual daquele que a exercer; e se bem exercida, será benéfica e gratificante para todos os participantes.

O exercício do Veneralato com sucesso requer que o Líder tenha estudado e continue disposto a estudar a ciência maçônica. Que tenha desempenhado funções outras e diversas no corpo da Loja. 

O homem que assumir esta função deve ter um bom conhecimento do ser humano e da sociedade além de ter um caráter firme, porém razoável. O Ir.’. José Gonzáles Ginório (Venezuela), apregoa os seguintes desafios a vencer para que possa bem desempenhar o cargo de Venerável Mestre: 

Sentir-se maçom;

Ser discreto e justo;

Estar entusiasmado;

Ser disciplinado, tolerante, conformado não se irritar com facilidade;

Não ser invejoso, apaixonado, rancoroso e intrigante;

Ser estudioso e profundo nos estudos;

Não alardear ou abusar de sua inteligência;

Não pedir, suplicar ou desejar posições. 

Em outras palavras, talvez pudéssemos dizer que o Venerável Mestre deve ser um Mestre Maçom que possua reputação ilibada; seja sincero e verdadeiro; afável no trato, inabalável, firme, arraigado, intrépido e intransigente em seus princípios; seja amante da sabedoria e estudioso dos mistérios da Arte Real. 

Ora, diríamos: este homem não existe! Certamente não existe, mas alguém que se proponha a ser este homem, terá dado o passo mais importante para se qualificar para o desempenho da missão e do serviço que lhe é proposto. 

Este homem deverá ser o espelho de sua Oficina, ou sua Oficina seu espelho! 

Investidura, instalação ou posse 

O exercício pleno da função de Venerável Mestre, na Maçonaria, requer que o Mestre seja investido no cargo pela cerimônia de Instalação. Somente após esta investidura poderá o mesmo iniciar profanos e conceder graus a outros Irmãos.

A cerimônia de instalação, na Maçonaria, entrou em uso já nos primórdios da sua fase especulativa. As constituições de 1723 já rezavam que “O Grão-Mestre, por certas cerimônias significativas e segundo os antigos usos, instalará o Primeiro Mestre lhe apresentado as Constituições, o Livro da Loja e os instrumentos do seu ofício, não todos juntos, mas um por um; e depois de cada um deles, o Grão-Mestre ou seu Delegado, se referirá ao limitado e expressivo dever adequado ao objeto apresentado”.

A regra maçônica exige a presença de pelo menos três Past-Masters na cerimônia de Instalação de um Venerável. 

Past-Master é a denominação adotada nas Grandes Lojas para o ex-Venerável de uma Loja Simbólica. O Grande Oriente adota a expressão ex-Venerável. Ser Past-Master significa que já passou pela cadeira do Rei Salomão e que, ao término de seu mandato, transmitiu o cargo a outro Mestre Maçom eleito regularmente pelos membros do quadro. O Past-Master conserva, perpetuamente, a sua condição de Mestre Instalado ao deixar de exercer as funções de presidente da oficina. 

Ao concluir, tomo a liberdade de parodiar o Irmão Valdemar Sansão quando diz: “Podemos dizer que somente seremos fortes, individual e coletivamente, no dia em que conhecermos nossas fraquezas e nos dispusermos ao trabalho de sustentação das Colunas, suporte, amparo e apoio do Venerável Mestre de nossa Augusta e Respeitável Loja Simbólica, pois sabemos que o homem se mantém e cresce na proporção da força de apoio de seus irmãos”.

junho 17, 2023

SALVE ANTIGOS - Adilson Zotovici




Salve  antigos literatos

Amigos livres pedreiros

Pelo que hoje somos gratos

Artigos, ritos pioneiros


Cerrem os lábios os ingratos

Com os iguais vanguardeiros

Que de seus sábios relatos

Demos os passos primeiros


O tempo alterou alguns fatos

A inércia, os próprios obreiros

Em controvérsias,  hiatos


Gratidão aos Cavaleiros

A base aos desideratos

Da construção, dos canteiros !




junho 16, 2023

R E S S I G N I F I C A Ç Ã O - Newton Agrella




Mais uma palavra tem ganho protagonismo cada vez maior no cenário linguístico.

Senão pela sua versatilidade de emprego, mas sobretudo pela sua representatividade no âmbito social e do comportamento humano.

Referimo-nos aqui ao substantivo abstrato "Ressignificação".

O termo tem a  atribuição de conferir um novo sentido ou alternativamente o de dar um novo significado a alguma coisa. 

Ressignificação, a bem da verdade, é o processo neuro linguístico que possibilita às pessoas elaborarem uma espécie de releitura ou inovar a interpretação de fatos e acontecimentos como fruto da mudança de sua visão de mundo.

A ciência neurolinguística dispõe de inúmeros mecanismos e técnicas para fazer com que as pessoas  percebam o mundo de uma maneira mais agradável, proveitosa e eficiente.

Se de um lado a "ressignificação" pode trazer consigo uma proposta transformadora,   levando inclusive a uma sensação de vanguarda e  evolução, por outro, ela pode desvirtuar a característica e a verdadeira natureza da originalidade de termos  consagrados pelo vernáculo e pela própria História.

Surge aí um dado, que se faz determinante no que reporta à Maçonaria.

A Sublime Ordem se constitui de princípios filosóficos baseados em Símbolos, Alegorias, Sinais, Toques e Palavras, que pouco se diferenciam entre os ritos, senão por algumas circunstâncias de relevância histórica, ou sócio-culturais, porém cuja essência e finalidade mantêm-se perenes até os nossos dias, graças à  observância de seus limites demarcatórios, também conhecidos como "landmarks" - (que em alguns casos estão sujeitos a divergências quanto ao seu número entre os ritos) - além é claro; de toda a sua Tradição Oral, Lendária, Mística, mas antes de tudo, de seu caráter eminentemente "especulativo". 

Por tudo isso e pela própria legitimidade conferida pelo tempo ficam as perguntas :

Como é possível conferir uma ressignificação a uma instituição diferenciada e incomparável como a Maçonaria ?

Toda a Simbologia ganharia um ressignificado ?

Os princípios fundamentais da Ordem precisariam ser reinterpretados ?

As Iniciações deveriam obedecer uma nova dinâmica ?

Os Sinais, Toques e Palavras também teriam que se submeter a um processo de ressignificação ?

Em suma, a notável proposta de alguns defensores seria a reinvenção da roda ?

Menos, bem menos.

A Maçonaria e seus instrumentos em prol da evolução do homem e do aprimoramento de seu templo interior  e principalmente da Consciência,  não requer ressignificação na sua dialética.  

A Maçonaria é perfeita (faz-se completa em toda sua extensão) - quem não é perfeito é o homem, que a cada pouco necessita se autoafirmar e convencer-se que precisa se valer de neologismos e de argumentos frágeis e intangíveis para empreender ressignificados àquilo que mal conhece.

É inegável que a Ressignificação, tem sim, um valor intrínseco no universo da psicologia, da psicoterapia, do marketing e de outras tantas áreas do conhecimento humano.

Porém, no âmbito intelectual maçônico trata-se de uma insossa tentativa de imputar novidades a uma instituição cujo DNA já dispõe de um "trademark" genuíno e autenticado.


junho 15, 2023

A INTUIÇÃO E O INSTINTO... - Aildo Virginio Carolino

 







*A intuição e o instinto: uma breve reflexão para aplicação na Maçonaria* 


Todo ser humano reúne em si estruturas inatas de comportamento que conduzem a determinada ação. 

Esta característica difere da capacidade, que também é comum a todo ser humano: a de usar o pensamento para se alcançar algo positivo. 

A este, denominamos intuição, àquele, instinto. 

A intuição pode ser definida como o acto ou a capacidade de pressentir factos ou acontecimentos. 

Na verdade, a intuição funciona como uma verdadeira e potente antena, que capta as informações através de símbolos ou sensações. 

Segundo Einstein, um dos maiores físicos de todos os tempos, as verdades mais elementares do universo somente são alcançadas através da nossa intuição. 

Nesta linha de pensamento, outros estudiosos do assunto, consideram que a faculdade intuitiva não pode ser analisada sob o ângulo racional, uma vez que transcende a razão humana, isto é, vai além da sua dimensão. 

O Instinto, diversamente da Intuição, pode ser definido como o comportamento de origem biológica, inerente aos seres em geral e, principalmente, aos animais irracionais, que actuam de modo inconsciente, sendo que, alguns com finalidade precisa, independentemente de qualquer aprendizagem. 

A estas informações, que podemos receber como desejos inexplicáveis ou emoções negativas, damos o nome de instinto. 

Parecem vir do consciente, e comandadas pelo Livre-Arbítrio, “parecem ser um aviso” ou a “nossa própria vontade”. 

Acredita-se que, o Instinto se manifesta, em regra, através de um impulso espontâneo e alheio à razão, enquanto que a intuição é um saber íntimo, oculto, misterioso e divino. 

Já está comprovado que o nosso subconsciente age como uma supermente, poderosa, que pode ser acionada tanto na sua frequência positiva quanto negativa, de acordo com o que pensamos e sentimos. 

Assim, ao sentirmo-nos positivados, entramos em contacto com os registos positivos do nosso subconsciente e, passamos a receber dele informações que visam preservar a nossa vida, proteger-nos, responder às nossas perguntas e orientar-nos positivamente. 

Tudo o que é bom e positivo para nós, está aí gravado. 

Estas informações emanadas do nosso subconsciente podem ser por nós recebidas de várias formas: através de sonhos, podem surgir como um desejo aparentemente inexplicável, como uma voz interna, a qual denominamos intuição. 

Ela tem a finalidade de nos evitar um mal, conduzindo-nos ao bem e atraindo algo de positivo. 

Por sua vez, quando estamos negativos, entramos em sintonia com a parte negativa do subconsciente negativo, e isto não é nada bom, pelo contrário. 

Pois, passamos também a receber dele informações que visam interromper, destruir ou atrapalhar a nossa vida e os nossos projetos, já que esta parte nos orienta negativamente. 

Tudo o que é mal e negativo para nós mesmos está nele gravado. 

O que devemos perguntar-nos é se sabemos como nos estamos a sentir: se positivos ou negativos. 

Primeiro, faz-se necessário observar como está a nossa mente e o nosso estado emocional. 

Então, se estamos positivos, podemos deixar-nos levar pela intuição e ouvir a VOZ INTERIOR. 

Esta voz é uma espécie de “impulso positivo inexplicável”, a qual nos faz agir de uma forma, muita das vezes inesperada, mas, benéfica. 

Devemos confiar sempre na nossa intuição, mas é preciso distingui-la do instinto, o qual jamais deve ser ouvido e seguido. 

O instinto é negativo e aparece quando estamos negativos. 

A intuição é positiva e aparece quando estamos positivos. 

Estar positivo é estar bem, calmo, satisfeito, em harmonia. 

Estar negativo é estar irritado, insatisfeito, zangado, magoado, sofrendo… 

Agora você tem condições para avaliar e saber se passa a maior parte do tempo positivo ou negativo. 

Está a fazer isso? 

Todos nós vivemos em sociedade, em família, cercados de outras pessoas, mas, infelizmente, poucos conhecem ou procuram conhecer as Leis Mentais. 

É necessário que saibamos como agir em relação ao facto de estarmos em convívio com pessoas diversas, a fim de que estejamos sempre protegidos mentalmente e livres de influências negativas, haja o que houver. 

Uma pessoa em estado mental positivo jamais deseja o mal de outra. 

Ao contrário, pensa e sente apenas o que é positivo, irradia essa energia positiva e a recebe aumentada. 

Se a outra pessoa também está positiva, retribui, recebendo e irradiando também energia positiva para ela. 

Desta forma, as duas ajudam-se e protegem-se, trocam energias positivas, formando, assim, uma corrente positiva que não permite que nenhum mal afete, interfira ou afaste essas pessoas. 

Assim, estas pessoas estão unidas espiritual e mentalmente e, “aqueles a quem Deus uniu, ninguém pode separar!” 

Nesse caso, o exemplo é válido, pois, a energia positiva que une os dois é de origem divina: é como se uma parcela da divindade, presente em cada um de nós, os unisse, o que vale dizer, então, que não há força na Terra capaz de os separar. 

Acredita-se que, no passado, as pessoas eram mais intuitivas. 

Hoje, entretanto, com o advento da informação massificada, elas acabam por não dedicarem tempo ao pensar, muito menos ao meditar. 

A meditação é, pois, a principal forma de ativação do processo intuitivo. 

Meu Irmão, como está agora, neste exato momento? 

A quem seguiria? 

A intuição ou ao instinto?

Policie-se: “Orai e Vigiai”. 

Tome conta de si para não ouvir a voz errada… 

Mantenha-se positivo e harmonizado para que seja conduzido, através da intuição, de forma correcta ao ponto desejado por você mesmo.



junho 14, 2023

TRANSMISSÃO DA PALAVRA NA ABERTURA E ENCERRAMENTO - REAA - Pedro Juk









Em 18/07/2017 o Eminente Irmão Luis Carlos de Castro Coelho, Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente do Brasil – Goiás, a pedido de um Respeitável Irmão do Estado de Goiás, formula a seguinte questão pertinente ao REAA:

Estou sendo questionado no seguinte teor abaixo e gostaria de obter do mano a orientação devida que sei será cabível e precisa como sempre vem realizando para o engrandecimento de nossa Ordem.

"Eminente irmão Luis Carlos. Uma pergunta que sempre faço e até o momento não recebi uma resposta lógica. Se a Palavra Sagrada na abertura dos trabalhos sai do Venerável, por que no encerramento ela não volta a ele? No mundo inteiro no REAA a ritualística é essa?"

Desde já agradeço ao amado irmão pelo carinho sempre a nós demonstrado e externado.


CONSIDERAÇÕES:

É um grande erro imaginar que a Palavra Sagrada ao ser transmitida na abertura dos trabalhos, no seu encerramento ela tenha que voltar. 

Esse não é um simbolismo de partida e de retorno, mas sim de uma Palavra que dá sustentação a uma alegoria comum ao REAA. 

Em síntese, essa não é uma questão de “se ela partiu do Venerável”, tenha que ao final para ele voltar.

A alegoria da transmissão da Palavra, por comparação, simboliza o costume operativo antigo de se nivelar a base e aprumar os cantos da obra como condição primordial para que os trabalhos pudessem ser iniciados e também ao final da jornada, ou da etapa da construção, com a conferência dos serviços para se certificar se os trabalhos haviam transcorrido nos conformes. 

Nos canteiros de obras medievais, antes do início dos trabalhos o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre) solicitava através dos seus oficiais de chão (mais tarde, os Diáconos mensageiros) que transmitissem sua ordem aos seus auxiliares imediatos (Vigilantes, antigos wardens) para que eles, usando o nível e o prumo, nivelassem e aprumassem os cantos da obra (vide atualmente as joias dos Vigilantes). Aprumado e nivelado, estando tudo “justo e perfeito”, os Vigilantes comunicavam via oficiais de chão ao Mestre da Obra que então ordenava que os trabalhos fossem iniciados. 

Do mesmo modo isso acontecia ao final da etapa contratada da construção, quando então o Mestre, antes de pagar os seus obreiros, mandava os oficiais de chão transmitir ordens aos Vigilantes para que eles fizessem a conferência do trabalho executado. Se tudo estivesse de acordo com as exigências da arte, eles informavam que os trabalhos foram executados justos e perfeitos. Ao receber essa comunicação, o Mestre da Obra então mandava o Primeiro Vigilante fechar a Loja (canteiro de trabalho), pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos para o justo e merecido repouso, não sem antes recomendar que em breve (depois do inverno) deveriam retornar para o início de uma nova jornada de trabalho. 

Em síntese, note que é isso que exara o ritual de modo especulativo.

Como a Moderna Maçonaria não é mais uma construtora operativa, mas sim uma construtora social e nela o elemento primário (matéria prima) é o homem, o REAA⸫ adotou simbolicamente nos seus trabalhos a transmissão da Palavra Sagrada como elemento representativo da etapa inicial e final de um ciclo da construção (sessão da Loja). 

Assim, essa alegoria demonstra na Maçonaria Especulativa e do Rito Escocês Antigo e Aceito em particular que se a Palavra for transmitida conforme as exigências e costumes significa que tudo no canteiro (Loja) está apropriado para o trabalho e para a sua conclusão. Obviamente que tudo é simbólico e os Vigilantes não aprumam e nem nivelam literalmente cada um dos obreiros construtores do seu próprio interior, porém se a Palavra estiver correta, essa alegoria já satisfaz o objetivo. De modo especulativo a palavra correta significa uma base nivelada e um canto aprumado, mais especificamente uma pedra desbastada e esquadrejada pronta para ser utilizada na construção do edifício social.

Há que se notar então que é exatamente isso que o ritual procura demonstrar na transmissão conforme prevê a liturgia e a ritualística da Palavra Sagrada. Aliás, é oportuno mencionar que essa transmissão nada tem a ver com procedimentos de telhamento, assim como também nada tem a ver com ida e volta da Palavra no REAA. No ato de transmitir a Palavra pelos Diáconos para os Vigilantes, ela sempre se inicia pelo Venerável Mestre, tanto para a verificação inicial como para a verificação conclusiva – não existe “volta da palavra”.

É esse o significado simbólico da transmissão da Palavra Sagrada na abertura e encerramento dos trabalhos que ocorre no simbolismo do REAA.

Cabe mencionar que a liturgia da transmissão da Palavra só passou a ganhar forma gradativamente no REAA⸫ a partir do último quartel do século XIX e início do XX com a evolução dos seus rituais na França. Os primeiros rituais escoceses (a partir de 1804) não mencionavam a transmissão da Palavra.

Figuradamente o que dessa alegoria depende para estar “justo e perfeito” na Loja não é a eventual partida ou o retorno da Palavra, mas sim da forma como ela é transmitida, lembrando que essa transmissão sempre se dá entre Mestres Maçons (detentores de cargos em Loja), não importando o grau em que porventura a Loja esteja trabalhando. Ratifico: essa transmissão não é telhamento.

Como eu costumo publicar as respostas no meu blog, penso que é oportuno mencionar aos meus leitores que pesquisas sobre a história da Ordem e em particular a respeito da origem desse tema, devem ser direcionadas ao período operativo da Maçonaria, onde podem ser encontradas diversas informações fragmentadas nas antigas obrigações. Lembro ao pesquisador que nada se encontra pronto sobre a mesa. O historiador maçônico deve saber juntar as peças uma a uma para que as conclusões apareçam. Quem quiser pesquisar que o faça por esse caminho e não fique por ai cobrando uma obra pronta sobre o tema, ou o maldito peripatético “onde está escrito”. Muitas das definições da história estão nas entrelinhas dos registros documentais (hermenêutica).


junho 13, 2023

O GOLEM, Nossa Própria Criatura Lendária - Mendy Tal


 











Na tradição judaica, o Golem é mais conhecido como uma criatura artificial criada por magia, muitas vezes para servir ao seu criador.

A palavra "Golem" aparece apenas uma vez na Bíblia (Salmo 139: 16). Em hebraico, "Golem" significa "massa informe".

O Talmud usa a palavra como "não formado" ou "imperfeito" e, de acordo com a lenda talmúdica, Adam é chamado de "Golem", que significa "corpo sem alma" durante as primeiras 12 horas de sua existência.

O Golem também aparece em outros lugares do Talmud. Uma lenda diz que o profeta Jeremias fez um Golem. No entanto, alguns místicos acreditam que a criação de um Golem tem significado apenas simbólico, como uma experiência espiritual após um rito religioso.

O Golem é uma criatura de argila que foi magicamente trazida à vida. 

O Talmud relata uma história de rabinos que ficaram com fome durante uma viagem - então eles criaram um bezerro da terra e o comeram no jantar. 

Os cabalistas (místicos judeus) determinaram que os rabinos realizaram esse ato mágico por meio da permutação da linguagem, principalmente utilizando as fórmulas apresentadas no Sefer Yetzirah, ou Livro da Criação. 

Assim como Deus fala e cria, na história do Gênesis, o místico também pode. (A palavra Abracadabra, aliás, deriva de avra k'davra, aramaico para "Eu crio enquanto falo".) 

Assim, sob as mais raras circunstâncias, um ser humano pode imbuir matéria sem vida com aquela centelha de vida intangível, mas essencial: a alma.

De acordo com uma história, para dar vida a um Golem, deve-se modelá-lo do solo e, em seguida, caminhar ou dançar ao redor dele, dizendo uma combinação de letras do alfabeto e o nome secreto de Deus. 

Nos primeiros contos do Golem, o Golem era geralmente um servo perfeito, sua única falha sendo um cumprimento muito literal ou mecânico das ordens de seu mestre. 

No século 16 o Golem adquiriu o caráter de protetor dos judeus em tempos de perseguição, mas também tinha um aspecto assustador. 

Ao visitar a cidade de Praga, podemos nos deparar com a famosa narrativa envolvendo o Golem e o Rabi Yehuda Löw ben Betzalel, conhecido como o Maharal de Praga (1520-1609)

Na época do Maharal, eram grandes o ódio e a violência contra os judeus da cidade, o que resultava em muito sangue judeu derramado.

Rabi Löw teria criado o Golem com argila do rio Moldava para defender o gueto de ataques antissemitas e libelos de sangue.

Diz a lenda que ele moldou um boneco de argila com a aparência de um homem, que ganhou “vida” quando Rabi Löw escreveu em sua testa a palavra Emet e pronunciou um versículo de Gênesis.

O Golem deveria ser sempre obediente ao Maharal, que o escondia durante o dia, no sótão da Antiga-Nova Sinagoga da cidade.

Mas, eventualmente, o Golem se torna terrível e violento, e Rabi Low é forçado a destruí-lo. (A lenda diz que o Golem permanece no sótão da sinagoga de Altneushul em Praga, pronto para ser reativado se necessário.

Na verdade, não temos nenhuma ideia real da aparência do Golem ou de sua natureza. 

As especulações vão de uma bolha de argila amorfa, mas vagamente humanoide, a um simulacro quase perfeito de um homem, carecendo apenas de razão e de livre arbítrio. 

Não sabemos se era simplesmente matéria grosseira com aparência de vida, ou uma criatura viva cujo material formativo passou a ser matéria bruta, como Adão era antes do sopro divino.

Em outras palavras, ele era algo totalmente diferente ou apenas um ser humano incompleto? Talvez ele fosse os dois ou nenhum.

Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de Literatura, escreveu a sua versão da lenda do Golem, em 1969. 

O computador pioneiro criado em Israel pelo cientista Chaim Pekeris, recebeu o nome de “Golem”.

Essa é a feliz liberdade das lendas. Hoje, o Golem permanece silenciosamente onipresente, mas também opaco e indescritível.

Embora a cultura popular tenha visualizado e digerido com sucesso o vampiro, o lobisomem, o fantasma, o unicórnio, fadas, trolls, bruxas e inúmeras outras personificações antigas do estranho e do impossível, o Golem ainda não tem uma iconografia visual concreta. 

Todos nós sabemos sobre o Drácula de Bela Lugosi e Frankenstein do Boris Karloff, mas a única representação cinematográfica ainda vagamente memorável do Golem está em um filme mudo de Gustav Meyrink’s, agora conhecido principalmente por historiadores, cinéfilos e excêntricos.

E ainda assim encontramos o próprio Golem em toda parte: em livros, programas de televisão, filmes, videogames, histórias em quadrinhos e até mesmo nas obras da ciência. 

Vários comentaristas o declararam como o progenitor do monstro de Frankenstein, do Exterminador do Futuro, Superman, HAL 9000 e quase qualquer outra entidade não humana que, no entanto, exibe características vagamente humanas. 

Como uma metáfora universal, ele supera até mesmo Fausto como um símbolo do lado negro do conhecimento, iluminação e tecnologia, se não da própria modernidade. 

O Golem tem sido a bomba atômica, o computador, a biotecnologia, a produção industrial, na verdade qualquer avanço científico que, em um ponto ou outro, aterrorizou a raça humana e às vezes seus próprios criadores.

Como isso sugere, há duas narrativas da carreira do Golem - a da criatura enlouquecida que se voltou contra seu criador – e a que capturou de forma decisiva a imaginação comum. 

O Golem é um dos poucos monstros que não são remanescentes óbvios do mito pagão, e o primeiro que foi inequivocamente feito pelo homem. 

Em outras palavras, ele é indiscutivelmente moderno: a imagem sombria de uma era mecânica e tecnológica que sugere na qual, pela primeira vez, o artificial começaria a ter precedência sobre a natureza como força determinante da vida humana.

 

Mendy Tal é Cientista Político e Ativista Comunitário

junho 12, 2023

O APRENDIZ - Gonçalves Lêdo



É aquele que aprende, e sempre em aprendizagem vai tirando as suas conclusões: 

Aprendi... que ninguém é perfeito 

Aprendi... que a vida é dura mas eu sou mais que ela!! 

Aprendi que... as oportunidades nunca se perdem, aquelas que desperdiças... alguém as aproveita 

Aprendi que... quando te importas com rancores e amarguras a felicidade vai para outra parte. 

Aprendi que... devemos sempre dar palavras boas... porque amanhã nunca se sabe as que temos que ouvir. 

Aprendi que... um sorriso é uma maneira económica de melhorar o teu aspecto. 

Aprendi que... não posso escolher como me sinto...mas posso sempre fazer alguma coisa. 

Aprendi que... quando o teu filho recém-nascido segura o teu dedo na sua mão têm-te preso para toda a vida.

Aprendi que... todos querem viver no cimo da montanha... mas toda a felicidade está durante a subida. 

Aprendi que... temos que gozar da viagem e não apenas pensar na chegada. 

Aprendi que... o melhor é dar conselhos só em duas circunstâncias... quando são pedidos e quando deles depende a vida. 

Aprendi que... quanto menos tempo se desperdiça...mais coisas posso fazer. 



junho 11, 2023

O QUE ACONTECEU NO DIA 7 DE SETEMBRO DE 1822 ÀS MARGENS DO IPIRANGA? - Almir Sant’Anna Cruz





Embora a História oficial não conte, alguns historiadores relatam, com base em depoimentos de participantes da comitiva do Príncipe, que D. Pedro, regressando de Santos, vinha afetado por uma disenteria que o obrigava a todo momento apear-se para prover-se. Mas não citam a fonte dessa informação.

Esse relato ouvi pela primeira vez no primeiro ano da faculdade, pelo professor de História Econômica do Brasil, que me chocou, acostumado com a Historia oficial contada nos livros didáticos. Evidentemente em seu relato usou uma linguagem popular e acrescentou o motivo pelo qual D. Pedro estava às margens do Ipiranga: “por que na época ainda não haviam inventado o papel higiênico”.

Mas esse relato de alguns historiadores, que a História oficial não conta, confirma-se ser verdadeiro numa carta publicada em 1826 pelo Maçom e Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira (Nome Histórico Sócrates, membro da Loja Commercio e Artes e atuante no movimento patriótico para a Independência do Brasil desde 1812).

Também relata quais foram os documentos efetivamente recebidos por D. Pedro na ocasião, sua raiva ao tomar conhecimento do conteúdo deles e, sobretudo, como declarou a Independência do Brasil.

O Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira era amigo e confidente de D. Pedro e participava sempre das comitivas do Príncipe quando visitava outras províncias, como a de 25 de março a Minas Gerais e nessa a São Paulo.

Eis o trecho que nos interessa da carta:

“O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro (correio) e Antônio Cordeiro (Major que o escoltava)

“Eram elas: uma instrução das Cortes, uma carta de D. João, outra da Princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain, agente secreto do Príncipe. 

“As Cortes exigiam o regresso imediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; a Princesa recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos de seu Ministro; José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dois caminhos a seguir: partir para Portugal imediatamente e entregar-se prisioneiro das Cortes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; Chamberlain informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se falava abertamente na deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa.

‘D. Pedro, tremendo de raiva arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixando-os sobe a relva. Eu os apanhei e guardei.

“Depois, abotoando-se e compondo a fardeta, pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho Ipiranga, agoniado por uma disenteria com dores, que apanhara em Santos, virou-se para mim e disse:

- E agora Padre Belchior?

E eu respondi prontamente:

- Se V. Alteza não se faz Rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a Independência e a separação.

“D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros em direção aos nossos animais que se achavam à beira da estrada. De repente estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me:

- Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de Rapazinho e de Brasileiro. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho. 

*De hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero do Governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal*.

Essa é a História que a História não conta, relatada por uma testemunha ocular e auditiva do que ocorreu às margens plácidas do riacho Ipiranga.

Mas, se depois que D. Pedro disse o que o Padre Belchior disse o que D. Pedro disse, D. Pedro disse o que a História oficial disse o que D. Pedro disse, fica a critério do leitor.


Excertos do livro *A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil - Interessados no livro contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 10, 2023

O POEMA REGIUS E O SEGREDO - Almir Sant’Anna Cruz


O Poema Regius, Manuscrito Regius ou Documento Halliwell, que se acha atualmente no Museu Britânico de Londres, foi manuscrito entre 1356 e 1450 e encontrado em 1839 na Régia Biblioteca do Museu Britânico de Dnodes pelo antiquário inglês não maçom Orchard Halliwell.

Trata-se de uma compilação dos antigos regulamentos, de data incerta, dos talhadores de pedra (Maçons), apresentada em 33 folhas de pergaminho, numa bela escrita gótica e sob a forma de um poema de 790 versos, para que os operários analfabetos pudessem facilmente decorá-los.

Seu autor foi provavelmente um clérigo com conhecimento de vários antigos documentos relativos à história da Ordem, pois, naquela época, os letrados eclesiásticos assumiam frequentemente as funções de secretário nas Lojas dos Maçons operativos, ou seja, foram os primeiros Maçons aceitos.

Presume-se também que o autor tenha sido encarregado de redigir um manual com as lendas do ofício e as regras da fraternidade, compilando-as das que já eram usadas nas assembleias dos Maçons. 

Está dividido em nove seções (três vezes três).

A terceira seção compreende quinze Pontos, sendo particularmente interessante o terceiro, que impõe o segredo profissional, provável embrião do segredo maçônico: 

*Os conselhos de seu Mestre devem ser guardados e não revelados, assim como os conselhos de seus Companheiros. Não revelar a ninguém o que se passa na Loja O que ouvir ou que veja fazer deve ser guardado em seu coração. Não dizer a ninguém, onde quer que vá, os conselhos da sala e os conselhos da câmara. Guardar os segredos com a maior honra, temeroso de que os revelando se torne culpável e, com sua falta, seja motivo de opróbrio para o ofício*


Excertos do livro *O que um Mestre Maçom deve saber*Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp *(21) 99568-1350*

junho 09, 2023

A IMPORTÂNCIA DO RITUAL - Rui Bandeira





Meus Irmãos, saúdo-vos fraternalmente, em todos os vossos graus e qualidades.

A suspensão dos trabalhos presenciais por virtude da pandemia em curso revelou-nos a falta que o Ritual, a execução do Ritual, nos faz. É essa a natureza humana: muitas vezes só nos damos conta do que é importante quando o não temos. Mas não é sob esta perspetiva que escolhi expor a Importância do Ritual. Vou procurar incidir a nossa atenção sobre a razão por que o Ritual é importante, porque só tendo-se essa noção é que nos apercebemos completamente da importância do mesmo.

Começo por fazer uma afirmação que aparentemente não tem nada a ver com o tema e que é – como todas! – discutível, mas cujo mérito vos peço que julgueis apenas no final desta nossa conversa: a Maçonaria não se ensina, aprende-se!

Não quero com esta afirmação dizer que os mais experientes não devem partilhar com os mais novos o que aprenderam, o que sabem. Com esta frase, enfatizo que, em Maçonaria, o que é importante, não é o que se transmite, mas antes o que se apreende. Porque a experiência, a vivência, a personalidade, do que transmite são diferentes das do que recebe. Assim, o que verdadeiramente interessa não é o que se ensina, se partilha, se transmite. O que importa é o que se aprende e, mais do que isso, o que se apreende, o que se interioriza. E aquelas e estas não são necessariamente - atrevo-me mesmo a dizer que raramente são - a mesma coisa. E, bem vistas as coisas, é inevitável que assim seja, pois, como já há pouco referi, o que transmite e o que recebe têm personalidades, vivências, capacidades, características diferentes. Assim, o que transmite tem necessariamente uma noção diversa do que aquele que recebe. Este, daquilo que é transmitido, receberá o que, na ocasião, estiver apto e pronto a receber, será tocado pelo que, no momento, o sensibilize. Em suma, o que ficará é o que ele aprende e apreende, não o que o que transmitiu julga que ensinou…

Não tenho, portanto, a pretensão de ensinar nada! Tenho apenas a esperança de que, da maçada a que agora vos submeto, cada um de vós retenha algo de útil.

Em meu entender, para uma correta abordagem da importância do ritual impõe-se que previamente distingamos entre Conhecimento e Sabedoria. O Conhecimento é tudo aquilo que aprendemos e estamos aptos a utilizar, quando necessitemos. A Sabedoria é algo mais profundo. Baseia-se, é um facto, nos conhecimentos que adquirimos. Mas reside na intuição, na capacidade adquirida de, relacionando tudo o que conhecemos, daí selecionar o que efetivamente importa, o que é adequado para um momento específico, uma situação concreta. Nem sempre aquele que tem mais conhecimentos é o que tem a sabedoria necessária para escolher a via justa, a palavra indicada, o gesto preciso, a atitude certa perante uma dada situação concreta. Numa muito grosseira aproximação, poderíamos dizer que a sabedoria resulta do conhecimento sublimado pela experiência. É através dos êxitos e fracassos na nossa escolha na utilização dos nossos conhecimentos que sublimamos o nosso Conhecimento em Sabedoria, que passamos do Conhecer ao Saber.

Memoriza-se e utiliza-se o que se conhece; desenvolve-se e internaliza-se o que se sabe.

O meio privilegiado para rápida aquisição de Conhecimento é o Estudo. Para se chegar à Sabedoria é preciso tempo e vivência. Mas há um meio para acelerar esse percurso, para induzir a Sabedoria: a utilização, execução e prática do Ritual. Se o Estudo é um meio de aquisição de Conhecimento, o Ritual é indutor de Sabedoria.

Com efeito, o Estudo estimula, faz funcionar, desenvolve a Inteligência Racional. Mas o Ritual, a sua prática, esse, estimula e desenvolve a Inteligência Emocional. E esta é bem mais profunda do que aquela, pois combina o conhecimento, o raciocínio, com a Intuição. O que estudamos pode não nos tocar e dar-nos apenas, pela memorização, a ferramenta necessária para agir. Mas só o que nos toca, nos emociona, efetivamente guardamos para saber como utilizar a ferramenta. A ferramenta é útil, mas saber utilizá-la pela melhor forma é indispensável…

Para entendermos porque e como o Ritual e o seu exercício estimulam a nossa Inteligência Emocional e, logo, induzem a obtenção de Sabedoria, devemos ter presente que, nos primórdios da Humanidade, quando ainda não tinha sido inventada a escrita – e muitas e muitas gerações de humanos viveram sem que houvesse escrita… -, a aquisição de conhecimentos e o acesso à Sabedoria processavam-se através da Tradição Oral. Era exclusivamente por essa via que os mais velhos e os mais experientes transmitiam o que sabiam aos mais novos e sem experiência.

Não havia então propriamente aulas, nem escolas. Os mais velhos e experientes diziam o que tinham aprendido, executavam perante os mais novos os gestos que era necessário fazer, repetiam, uma e outra vez, e faziam repetir muitas e muitas vezes, as palavras, os gestos, os atos de que dependiam, tantas vezes, a alimentação, a segurança e a sobrevivência, não só individuais como do grupo.

Ora, repetir uma e outra vez as mesmas palavras, para transmitir as mesmas noções, executar muitas e muitas vezes os gestos e as ações adequados para a obtenção dos resultados pretendidos mais não é do que… executar um ritual! Um Ritual é um conjunto de palavras, gestos e atos proferidas e executados sempre da forma similar.

Então, nos primórdios da Humanidade, aprendia-se e vinha-se a saber através da repetida execução de rituais. Era pelo que se via, pelo que se ouvia, pelo que se executava, pelo que exaustivamente se repetia, que se entranhava em cada um o que fazer e como fazer para obter alimento, para garantir segurança, para melhorar e curar maleitas, para adquirir o conforto possível.

Os rituais aprendidos e executados propiciavam, assim, a sabedoria necessária para sobreviver e viver o melhor possível.

O cérebro humano foi portanto, desde muito cedo, formatado em primeiro lugar para reagir aos estímulos visuais e auditivos.

Só mais tarde, muito mais tarde, o cérebro humano adquiriu a capacidade e habilidade de decifrar o código da escrita. A criação da escrita foi um avanço civilizacional imenso. Permitiu registar o que se tinha por importante, aquilo que anteriormente tinha de ser adquirido e mantido à custa de repetições. A escrita e a habilidade de a utilizar permitiram à Humanidade um meio mais fácil de registar e dar acesso ao Conhecimento. O cérebro humano naturalmente adquiriu, assim, também a capacidade de adquirir Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo.

Mas tenhamos presente que a camada mais profunda do nosso cérebro é desde sempre estimulada auditiva e visualmente e por execuções ritualizadas do que se pretende transmitir. A aquisição de Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo é uma habilidade mais recentemente adquirida, logo, mais superficial no nosso cérebro.

Não nos enganemos: o estudo, a aquisição de Conhecimento pelo estudo, dá trabalho. Esse trabalho é recompensado pelo desenvolvimento da nossa Inteligência Racional, pela habilidade de memorizar, de relacionar, de aplicar. Mas é apenas a Razão que é aplicada e fortalecida.

Para se desenvolver, para se utilizar a Inteligência Emocional, a que nos permite, quantas vezes sem sabermos como, intuitivamente dizer a palavra certa, executar o gesto adequado, efetuar a ação necessária sem termos de longamente pesar os prós e os contras, sem necessitarmos de fazer exaustivas análises e cálculos, para isso temos de recorrer às camadas mais profundas do nosso cérebro – e essas desde o início dos tempos foram estimuladas pelo que se via e ouvia, pelo que se repetia uma e outra e muitas vezes, pelo que se ritualizava.

Por isso afirmo que o Ritual é o indutor de mais rápida passagem do Conhecimento à Sabedoria, acelerando o que só a Experiência, a Vida vivida, os erros cometidos e as vitórias alcançadas nos permitiria atingir, não fora ele.

Meus Irmãos: até agora tenho sempre falado de Ritual, sem adjetivar e, sobretudo, sem utilizar o adjetivo maçónico.

Porque o ritual, penso tê-lo demonstrado, existe desde sempre e desde sempre aumenta a capacidade humana de discernir, em suma, de saber. E não há “o “ ritual, há muitos rituais, respeitando a muitos momentos, ocasiões e atividades. Existem, bem o sabemos, rituais religiosos. Mas também de outra natureza, uns mais solenes e utilizados em ambiente de Poder ou de significado social, outros mais simples, íntimos até. Atrevo-me a dizer, por exemplo, que todos os casais com algum tempo de ligação criam os seus rituais próprios, indutores de segurança, conforto e manutenção da relação afetiva. 

Uma categoria de rituais que merece referência é o ritual que podemos denominar de grupal, o que marca, define e corporiza a integração de alguém num determinado grupo. Aí não está em causa a aquisição ou consolidação de conhecimentos ou o acesso a sabedoria, mas simplesmente o estabelecimento de uma união grupal, a que o neófito passa a aceder.

Todo o ritual é importante, precisamente porque correspondendo à mais antiga e natural forma de a Humanidade processar a aquisição de conhecimentos, ganhar e manter confiança, obter conforto e segurança. Não é assim porque queremos que seja, assim é porque a nossa evolução como espécie o determinou. Talvez algo grandiloquentemente, pode-se afirmar que a Civilização se alicerça em rituais. 

Mas os Rituais Maçónicos, esses, partilhando com os demais a mesma natureza de meios indutores de aquisição de Sabedoria, têm ainda uma valência própria, quiçá não exclusiva, mas seguramente que identitária.

Os rituais maçónicos têm uma tríade de caraterísticas, duas delas já referidas e uma terceira que podemos considerar própria. Os rituais maçónicos assumem a natureza de indutores de Sabedoria, são também, particularmente nos rituais de Iniciação e de Aumento de Salário rituais grupais, mas também assumem a natureza de explanação e aprofundamento de Princípios e Valores.

Esta uma especificidade não negligenciável. Os vários rituais dos diferentes ritos maçónicos apresentam-nos e definem-nos Valores e Princípios a que os maçons devem corresponder. Não estão aqui em causa conhecimentos a interiorizar. Estão, diretamente, aspectos e referências morais a seguir, a cumprir, a divulgar.

Os rituais maçónicos ao promoverem Princípios e Valores apelam diretamente às caraterísticas básicas do cérebro humano. Os princípios e Valores expostos, facultados, não se destinam a ser meramente apreendidos pela Inteligência Racional, através do estudo e da aquisição de conhecimentos. Procura-se atingir a Inteligência emocional, o âmago da personalidade de cada um e aí efetuar as modificações inerentes a esses Princípios e Valores.

Busca-se a aceleração do processo. Em vez da mera aquisição pela Inteligência Racional e posterior enraizamento através da experiência, busca-se a inserção direta e eficaz na mente do maçom, atingindo o que o Ritual, desde os primórdios da Humanidade toca: a Inteligência Emocional, logo as profundezas do ser que cada um de nós é. Não se semeia, para que porventura nasça e cresça. Planta-se para que, no mais curto espaço de tempo, haja frutos. 

Os rituais maçónicos destinam-se assim, para além da integração de indivíduos em grupos, a propiciar a modificação de cada um, através da interiorização de Princípios e Valores morais, que devem nortear a conduta de cada um,

Expostos de forma ritualizada, muitas vezes repetida, encenada e praticada, tais Princípios e Valores entranham-se diretamente no âmago essencial de cada um, assim propiciando o seu aperfeiçoamento.

Este processo de aperfeiçoamento não é imediato. É demorado, é evolutivo, depende de patamares.

É por isso que é um erro pensar-se que, sabido o ritual, aprendido a executar o mesmo com perfeição, o nosso trabalho está terminado.

Posso garantir-vos, com base na minha experiência de mais de 30 anos de maçom, que não é assim que funciona.

Decorar o ritual, executá-lo na perfeição, são ainda tarefas do Intelecto, da Inteligência Racional. O que importa é senti-lo, vivenciá-lo, apreender aqui e ali algo de novo, algo que nos chama agora a atenção e em que não reparáramos antes. Porque esse é o processo de entranhamento das noções transmitidas pelo ritual, esse é o processo de passagem do Conhecimento à Sabedoria.

Se há algo que verdadeiramente aprendi com os nossos rituais é que se está sempre a aprender algo de novo com os mesmos. Em mais de trinta anos de Maçonaria, já repeti, já executei, já vi serem repetidos, já vi serem executados, os nossos rituais centenas de vezes. Nunca me incomodei com a repetição. Nunca deixei de me concentrar na sua execução. E, trinta anos passado, ainda me sucede que subitamente encontro algo de novo, apesar de ser o mesmo ritual que pratico e a que assisto ao longo deste tempo.

Tal sucede por uma simples razão: encontro numa ocasião aquilo que então estou preparado para encontrar. As palavras, os gestos, os atos, são os mesmos desde o princípio. Mas antes eu não compreendera aquele particular significado, porque ainda não estava preparado para tal. Porque tive de seguir uma evolução, compreendendo aqui algo que mais tarde me permitiu perceber aquilo, que me modificou e levou a entrever aqueloutro pormenor, num processo evolutivo permanente.

É para isso que serve o nosso ritual. Porque o ritual maçónico não é um simples ritual igual a todos os outros que a Humanidade segue. O ritual maçónico é um meio de Construção e Aperfeiçoamento de Nós.

É esta a sua importância!

junho 08, 2023

MANÁ - Adilson Zotovici



Tudo pronto no canteiro

Oficiais preparados

Instrumentos adequados

Cruciais ao livre pedreiro


De aventais, paramentados,

Mestre,  aprendiz, companheiro

Formais, diretriz e roteiro

Por Grande Arquiteto guiados


Saga em templo sobranceiro

Labores realizados

Sem qualquer paga em dinheiro


Vez que aos assalariados

_O saber_ alvissareiro

_É o maná_dos iniciados !



OS MAÇONS E A MAÇONARIA - HUMANISMO E GLOBALIZAÇÃO - Luis Carlos M.'.M.'.(Grande Oriente Lusitano)


Ao longo destas quase duas décadas decorridas sobre a minha Iniciação, e que se seguiram a outras quase duas décadas de aproximação aos valores do Humanismo, da Liberdade de Pensamento e de uma crescente consciência social e de cidadania, tenho vindo a sedimentar alguns valores, alguns princípios que, na minha modesta opinião, são fundamento, fundação e significado do fato de se ser Franco Maçom. 

Ser Maçom, significa, antes de tudo, ser reconhecido como tal pelos restantes Maçons. 

Não se trata de um atributo a que se acede com "cunhas", pelo pagamento de cotas ou pela assinatura livre de uma condição. 

Não é o mesmo que se ser sócio de um clube ou membro de uma associação. 

Para ser Maçom, é condição sine-qua-non, o ser reconhecido inter-pares. 

O processo que conduz à possibilidade de o ser, passa por uma série de provações - os contactos, as sindicâncias, os interrogatórios, a exposição nos "passos perdidos" - e por um ato iniciático. 

Este começa por assentar numa descida ao limbo, ao útero, à escuridão primordial, como uma semente que passa a germinar no silêncio e nas trevas do subsolo, seguindo-se-lhe uma gradual ascensão, por ação dos restantes elementos tradicionais - a água, o ar e o fogo -, os pais, os companheiros e o amigo, no sentido da LUZ. 

O dar a Luz ou vir à Luz é apenas o início de algo, que o porvir irá ou não determinar. 

Quantas sementes lançamos a terra e nela apodrecem sem ver a Luz?

Quantas germinam, para logo padecer às agruras do clima, sem nunca virem a frutificar?

Vejamos: A verdadeira iniciação não é o momento da "tomada da Luz" nem o da aclamação pelos Irmãos presentes, que representam ali todos os Irmãos Maçons do Universo. 

A verdadeira Iniciação estou em crer, é toda a vida futura após aquele momento iniciático. 

Por mais que pareça ser um lugar comum, continuo a acreditar e a afirmar que serei sempre um eterno Aprendiz! 

A Iniciação leia-se, ignição, é apenas a abertura, o prelúdio de todo um devir iniciático, que envolve um solene e profundo até de responsabilização perante todos os outros, os presentes, os ausentes, os antecessores e aqueles que nos virão a suceder. 

Assumimos, nesse momento mágico, a responsabilidade de trabalhar, com preserve rança e entrega totais, no sentido do nosso aperfeiçoamento espiritual: o tal trabalho simbólico sobre a pedra bruta. 

É em Loja que nos entregamos a esse Trabalho. 

É a Loja que nos guia, nos acolhe, nos incita, nos transmite os hábitos, a técnicas, os preceitos e fundamentos teóricos da ARTE. 

Essa transmissão é-nos feita ou dada através do método que a Tradição nos ensinou: o RITUAL. 

É na sistemática e repetida prática do Ritual que interiorizamos e nos confrontamos com a simbólica, os valores e os signos que conformam a Arte Real. 

A Abertura dos Trabalhos, a Cadeia de União e o Encerramento dos Trabalhos, juntamente com a decoração do Templo, contêm em si mesmos, em qualquer dos três Graus Simbólicos, em qualquer Rito, todo o acervo de informação de que o Aprendiz precisa para prosseguir o seu infindável processo de Iniciação. 

Podem e devem ser debatidas pranchas simbólicas e filosóficas no período da Ordem do Dia, debater-se questões administrativas, profanas ou conjunturais na Palavra a Bem da Ordem, mas é na prática efetiva do Ritual que se centra o trabalho sobre a pedra bruta, ou seja, o verdadeiro trabalho maçônico. 

Perdoem-me a analogia de cordel, mas tendo a crer que a Loja é como um meio de transporte (chamemos-lhe autocarro), que pára em diversas estações, transportando passageiros de diversas origens para diversos destinos, segundo regras comumente aceites e por todos partilhadas. 

Em linguagem profana coeva, diria que cada um desses autocarros, desenhados segundo determinado modelo (Rito), preparados para determinados tipos de viagem (Rito), e conduzidos por uma determinada tripulação (Luzes), por razões logísticas e culturais faz parte de uma frota (Obediência) que, conjuntamente com a globalidade das frotas (Obediências) conforma aquilo a que chamamos um sistema de transportes (a Maçonaria Universal). 

Todas nos assentam mesmo objetivo, todas procuram participar na construção de um Mundo mais humano, mais livre, mais fraterno, mais justo, mais ilustrado. 

(Algumas frotas, contudo, só transportam passageiros de um determinado sexo, outras de determinada cor, outras procuram transportar o maior número possível de passageiros, outras, ainda, dão preferência a determinados credos ou oferecem e exigem tipos diferenciados de serviço. Trata-se de outra Pedra Bruta a trabalhar, conjuntamente, por todos os Pedreiros verdadeiramente Livres e de bons costumes. Estou plenamente convencido que lá chegaremos, mais cedo ou mais tarde. Como é óbvio, a Obra está longe de estar concluída!). 

Não acredito na existência de um "novo Humanismo". O Humanismo foi, é e será sempre o mesmo objetivo a atingir e assenta redondamente no nosso sistema de valores. 

Os meios e sistemas de organização política e social ao nosso alcance em cada momento histórico, geográfico e cultural é que poderão variar, mas o conceito de Humanismo será sempre o mesmo: a liberdade de opinião, a liberdade de escolha, o respeito do Homem pelo seu semelhante e pela Natureza, o respeito pela opinião e pela diferença, o sentimento de cooperação e de interajuda, a noção cada vez mais presente de que habitamos todos sob um mesmo texto, vão-se construindo, à medida que a História e a Ciência nos desvelam o mundo nas suas diversas dimensões. 

O Homem foi, é e será sempre, uma espécie em construção, sob pena da sua total diluição no abismo da amnésia cósmica. 

O mundo atual revela-nos a globalização, a generalização da informação, a possibilidade de um sistemático estado heterotópico no habitar, no ser, no existir. 

Alguns de nós somos meros transeuntes apressados num mundo virtual (tele móveis, aeroportos, supermercados, fast-food, televisão, Internet, etc.), outros, optamos por ser viajantes atentos de um mundo real 

- não dispenso ir à janela do meu quarto, quando acordo ou chego a casa; de confraternizar à mesa, com amigos ou familiares, com frequência, ou de sistematicamente participar nas sessões da minha Loja, não faltando nunca ao ágape que se lhes segue, com os meus Irmãos. 

Houve um tempo em que, transgredir - condição única para o progresso -, significava, como em Lewis Carroll, passar para o outro lado do espelho. 

Hoje, a grande maioria da população urbana dita civilizada vive do outro lado do espelho, na net, nos programas de televisão, nos espaços virtuais que o mundo contemporâneo tem vindo a engendrar em catadupa. 

Estou convencido de que transgredir, hoje - atitude revolucionária como sempre -, significa manter a lucidez suficiente para ver, olhar, sentir, ouvir, tocar, degustar, cheirar tudo aquilo que é sensível e real, nos envolve e enriquece, nos faz pensar e agir, conjuntamente com pessoas reais (Cadeia de União), em práticas objetivos e materiais (o Ritual) que nos transportem para o onírico mundo dos hábitos, dos saberes e dos sabores, que nos devolvam os reais prazeres do corpo e da mente, em equilíbrio, numa consciente e profícua atitude de atuação e mudança: como poderei eu sentir-me bem comigo mesmo se tenho consciência do sofrimento e da dor dos meus Irmãos? 

Sendo que estes são, no sentido lato, toda a Humanidade Sofredora que me antecedeu, me acompanha e me sucederá através do tempo e do espaço. 

Assim, em jeito de remate, gostaria de vos dizer, meus Irmãos, do mais fundo das minhas convicções e saberes, que o papel dos Franco Maçons e da Maçonaria na construção do Humanismo, na consumação dos Valores, dos quais destaco como mais importante de todos o da Felicidade Universal, é o do persistente, sistemático e consciente trabalho sobre a pedra bruta que cada um de nós é, através de um profícuo trabalho Ritual em Loja, para que, nos diversos momentos em que somos, vivemos e atuamos , possamos contribuir serena e seguramente para a construção coletiva do Templo do Homem