junho 22, 2023

UM APRENDIZ A BEIRA DA MORTE



Conta-se de um incidente ocorrido numa cidadela durante o século XIX em algum lugar da Inglaterra.

Uma criança foi encontrada morta. Logo acusaram um camponês Aprendiz Maçom de ser o assassino, por ter encontrado próximo ao corpo dela um objeto pessoal do mesmo e alegando-se que a vítima fora usada para a realização de rituais macabros.

O Aprendiz foi preso e ficou desesperado. Sabia que era um bode expiatório e que não teria a menor chance em seu julgamento, especialmente conhecendo o juiz local, famoso pelo rigor na aplicação da punição de pena de morte por enforcamento e contrário naquela região aos princípios maçônicos por desconhecê-los e acreditar ser incompatível com a fé que ele professava.

O Aprendiz pediu então que trouxessem um Mestre Maçom de sua Loja com quem pudesse conversar. E assim foi feito

Inconsolável, o Aprendiz lastimou-se com o seu irmão Mestre pela pena de morte por enforcamento que o aguardava, pois tinha certeza de que fariam de tudo para executá-lo. O Mestre Maçom acalmou-o, dizendo:

– Em nenhum momento acredite que não há solução. Um verdadeiro Maçom não teme a morte, tem sua fé inabalável e acredita na verdade e na justiça, e nunca se entrega à ideia de que não há saída.

– Mas o que devo fazer meu irmão?, perguntou o Aprendiz angustiado.

– Não desista, e o G.’. A.’. D.’. U.´. lhe mostrará um caminho inimaginável.

Chegando o dia do julgamento, o juiz, mancomunado com a conspiração para condenar ao enforcamento o pobre Aprendiz, quis ainda assim fingir que lhe permitiria um julgamento justo, dando-lhe uma oportunidade para provar sua inocência. Chamou-o e disse: – Já que vocês Maçons são homens livres e de bons costumes e que acreditam no tal G.’.A.’.D.’.U, vou deixar que a sua fé cuide desta questão. Num pedaço de papel, escreverei a palavra ‘inocente’; no outro, ‘culpado’. Você escolherá um dos dois, e o G.’.A.’.D.’.U.'. decidirá seu destino.

O Aprendiz começou a suar frio. Tinha certeza de que tudo aquilo não passava de uma encenação e que iriam condená-lo de qualquer maneira.

Tal que previra, ao preparar os pedaços de papel, o juiz escreveu em ambos a palavra ‘culpado’. Normalmente se diria que as chances de nosso acusado em questão acabavam de cair de 50% para rigorosamente 0%. Não havia qualquer possibilidade estatística de que ele viesse a retirar o papel contendo a inscrição ‘inocente’, pois este não existia.

Lembrando das palavras de seu irmão Mestre, o acusado meditou por alguns instantes e, com o brilho nos olhos que já mencionamos, lançou-se sobre os papéis, escolheu um deles e imediatamente o engoliu. Todos os presentes protestaram:

“O que você fez? Como vamos saber agora qual o destino que lhe cabia?” Mais que prontamente, ele respondeu: “É simples! Basta olhar o que diz o outro papel, e saberemos que escolhi o contrário.”

Descobrimos então que a chance que era de 0% era verdadeira apenas para os limites impostos por uma dada situação. Com um pouco da sagacidade, fruto da necessidade foi possível recriar um contexto onde as chances do acusado de superar a adversidade saltaram de 0% para 100%. Ou seja, a simples re contextualização da mesma situação permitiu a reviravolta da realidade.

*Por isso um dos ensinamentos maçônicos está na observação cautelosa da realidade das coisas, rompendo suas estruturas cristalizadas de ignorância que não reconhecem os diferentes componentes da realidade*.

*A impossibilidade pode ser uma condição momentânea e o verdadeiro Maçom que entende isso não desiste facilmente e sua força se expressa na possibilidade da sobrevivência diante das diversidades e de sua inabalável fé no Supremo Arquiteto do Universo*.

Adaptação de trecho do Livro: O segredo judaico de resolução de problemas: Iídiche kop de N. Bonder

junho 21, 2023

O OFÍCIO DOS DIÁCONOS NO REAA - Pedro Juk




Em 21/03/2023 o Irmão Aprendiz Gustavo Goulart, Loja Concórdia, 0368, REAA, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, solicita o que segue:

DIÁCONOS NO REAA

Primeiramente, digo que é uma honra poder estar lhe enviando um e-mail para tentar sanar uma dúvida.

Sabe-se que em breve teremos o ERAC no GOB-PR.

O tema escolhido para o nosso trabalho é sobre o trabalho dos Diáconos no grau de Aprendiz.

Porém, estou tendo dificuldades para encontrar literaturas acerca deste tema. Nos poucos livros que encontrei, a abordagem sobre os Diáconos é bem simples.

Na próxima quinta feira participarei de uma sessão de iniciação na Sede do GOB-PR, e soube que lá temos a disposição uma boa biblioteca.

Por este motivo lhe pergunto, poderia me indicar algum(s) livro(s) que seja robusto no que diz respeito aos Diáconos?

Desde logo agradeço e expresso votos de elevada estima e consideração.

COMENTÁRIOS:

A respeito dos Diáconos como oficias que participam dos trabalhos maçônicos, no Brasil não há muita literatura a respeito. Isso se explica porque dos três principais ritos de origem francesa por aqui praticados - REAA, Rito Frances ou Moderno e o Rito Adonhiramita - apenas o REAA utiliza o cargo de 1º e 2º Diáconos no desenvolvimento ritualístico dos seus trabalhos.           

Essa característica ocorre graças à influência dos maçons irlandeses da Grande Loja dos "Antigos" de 1751 na Inglaterra que indiretamente acabariam ajudando a construir o primeiro ritual para o simbolismo do REAA em 1804 na França.

No mais, para melhor compreensão do assunto remeto-o a estudar com afinco a história da Maçonaria Inglesa, particularmente sobre a demonstração da nova forma de trabalho ritualístico após a união das duas Grandes Lojas Rivais inglesas que ocorreu em novembro de 1813. Nesse contexto é possível se observar que os Diáconos, antigos oficiais de chão, foram inseridos na liturgia maçônica do ritual inglês pelos maçons irlandeses, então ligados, segundo eles, à forma antiga de trabalho.

Ainda posso lhe adiantar que no REAA a única função dos Diáconos na Loja é a de atuar como mensageiros na liturgia da transmissão da Palavra durante a abertura e encerramento dos trabalhos.

Nesse sentido, apesar da dialética de abertura expressa no ritual, eles têm apenas e tão somente essa função na Loja, não estando ali para atuar como ajudantes de ordem do Venerável e dos Vigilantes.

Historicamente, como os velhos oficiais de chão, os Diáconos relembram na Moderna Maçonaria os mensageiros que atuavam nos imensos canteiros de obras da Maçonaria Operativa. Essa é uma longa história e não pode ser confundida com Diáconos levando bilhetes, recados e outros expedientes nos atuais trabalhos da Loja na Moderna Maçonaria.

Entenda-se que no REAA o ajudante de ordens do Venerável Mestre é apenas o Mestre de Cerimônias, cabendo somente a ele levar expediente e mensagens durante os trabalhos, nunca os Diáconos, pois como visto, esses se fazem presentes no REAA só para atuar na liturgia da transmissão da Palavra.

Quanto à biblioteca, recomendo consultar o Irmão Hamilton Sampaio Jr no GOB-PR.


junho 20, 2023

HÁ COMO FUGIR DE SEU DESTINO? - Sidnei Godinho








Há muito se costuma repetir, quando algo nos acontece, de que foi o destino e de que não havia como ser diferente. 

Será isto realmente verdade??? 

É provável que a fragilidade humana, em assumir suas próprias falhas, conduza a um processo Inconsciente de sublimação do ato, para que a frustração de uma perda não seja tão dolorosa. 

Afinal, é muito mais convincente atribuir a outrem, e mesmo ao dito destino, a responsabilidade por seus atos. 

É preciso ter a convicção de que nós é que construímos o nosso destino. 

E muitos de nós, imputamos a ele tudo o que nos acontece e ainda acentuado, as coisas ruins do tipo, acidente, doença, desemprego, separações, desentendimentos familiares e até a pobreza. 

Não é correto pensarmos assim!!! 

A vida sempre nos responde na medida em que pensamos e agimos, através das nossas escolhas, bem feitas ou não. 

Uma escolha é sempre um ato consciente, racionalizado dentre as opções disponíveis. 

Portanto, nós mesmos é que somos responsáveis pelo que nos acontece, e ninguém mais, pois, colhemos os frutos do que plantamos, doces ou amargos. 

Um destino de paz e felicidade é construído através de ações do bem. O destino de tristeza e dor advém de nossas omissões comprometedoras, de pensamentos negativos e atos lesivos a nós e ao nosso próximo. 

Por vezes basta nada fazer para atrair a negatividade da omissão por não intervir no socorro alheio. 

Ou mesmo aquela ação do mínimo solicitado, quando se deixa escapar a oportunidade da contribuição voluntária por uma simples posição ideológica contrária. 

Talvez seja bom entender que o destino se escreve, primeiramente, na nossa mente, com as consequências das nossas decisões e atitudes, para depois chegar às situações da vida cotidiana. 

Para os céticos, o Universo conspira.

Para os Cristãos, a FÉ é a redenção.

Para os filósofos, aqui se colhe o que aqui se planta. 

E para você??? 

Faça deste um dia de reflexões e de autoafirmação, na busca de concretizar um destino de sucesso e de Paz.



junho 19, 2023

PARTE, PARTÍCULA, TOTALIDADE - Aldo Vecchine



“O homem é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”. Sartre.

Quantas partículas formam uma parte e qual é a proporção de cada parte na totalidade? O que haveremos de conceber como totalidade num cenário onde a humildade e a caridade são requisitos determinantes e divisores de águas?

Certamente, o contexto é que indicará, informará e formará a tese investigativa. Se a análise for, e é, em ambiente maçônico, sobre o povo maçônico, encontraremos amiúde diferentes escores que corroborarão com a trilogia encimada.

Se tomarmos, por analogia, da biologia a premissa de que as células formam os tecidos; os tecidos formam os órgãos; os órgãos formam os aparelhos e o conjunto dos aparelhos forma o organismo... Cada iniciado, cada construtor social, é partícula no universo maçônico, é parte na sua Loja e é totalidade na execução do prometido.

“Cada pessoa é uma escolha absoluta de si”. J. P. Sartre.

E no canteiro de obras a arte de desbastar tomará novo sentido, pois a situação, as atualizações e a compreensão do devir, mais os ajustes e encaixes, fomentarão a responsabilidade do obreiro consigo mesmo, com o seu compromisso, com o próximo e a nossa Sublime Instituição.

Que as alegorias sejam suficientes e reveladoras nessa formação inicial. Que a Iniciação seja bastante significativa para colocar o neófito num lugar entre todos, por pertencimento, pela fraternidade. Que cada viagem seja vivenciada, entendida e internalizada para produzir bons efeitos.

Assim e enquanto o emérito não chega, enquanto o desbaste não alcança a polidez pretendida, a construção prossegue no ritmo e nas batidas do maço sobre o cinzel, com a devida afiação e zelo para retirar apenas o excesso sem o risco de rachar o bloco todo, sucumbindo-se, peremptoriamente, o trabalho delineado.

Nesse comenos o saber fazer destaca e enaltece o esoterismo. A observação e a comunicação vinda dos decanos asseguram a exatidão e a regularidade dos movimentos. E é nesse sentido que os ensinamentos são transmitidos ajudando o aprender a ser. Ser senciente, livre e existente em plenitude com seu cabedal, sua singularidade e sensibilidade, na melhor sintonia e em cada situação, com todos os irmãos.

Sartre ensinou-nos: “Nós não somos originariamente nada, apenas seres totalmente livres”. 

Destacando-se a dimensão do saber: “Sabei-o pouco, mas sabei-o bem”, não é a quantidade, mas a qualidade que distingue o obreiro dedicado e comprometido com os progressos sugeridos, e feito as peças de um quebra-cabeça, cada parte ocupa seu lugar completando-se a imagem figurada. Nessa analogia a forma e os encaixes são definidos pelo conhecimento.

Ainda que das colunas ou no oriente, o “Ir mais longe”, ganha significativa proporção na medida em que o construtor se esforça no trabalho intelectual; silencia e exercita, articula e edifica o entendimento e a sabedoria. Compondo e recompondo outras possibilidades aprofundando na busca de mais elementos que trarão, à superfície, mais luminosidade e clareza.

Sob “A canícula do meio-dia”, foi a luz interior do investigador, aquele facho intermitente, abrasador e nutriente de energias o fator determinante e imanente que o capacitou a buscar algo a mais, por todas as linhas e em todos os traçados, reencontrando a ponta do novelo que o conduz desde o ocidente, ao setentrião e também ao sul, pois mesmo que se afaste do eixo, saberá voltar.

Sabe também que é “Um recipiendário, mas pensante”, por natureza e destino. Sabe que sabe, pois o sei que nada sei, é apenas o outro lado da mesma joia. E o nada, diferente do não-ser, também é totalidade no mesmo discurso.  A propósito disso Sartre já ensinou: “É o pensamento, a consciência que faz toda a originalidade e a dignidade humana dentro da natureza”.

Duas obras e seus conteúdos foram utilizados nessa reflexão: Ser livre com Sartre, editora Nobilis, 2019, Frédéric Allouche; e Caminhos para a sabedoria, editora Vozes, 2022, karl Jaspers. E é na diversidade da filosofia condensada nelas, que ousamos recortar da segunda, o seguinte: “É no limite das possibilidades humanas que podemos aprender a significação daquilo que se tenta velar ou ignorar”. K. J.

Queremos crer que a Maçonaria, Ordem Iniciática, que objetiva tornar feliz a humanidade, pelo amor e aperfeiçoamento dos costumes, preparando os seus eleitos para esse propósito, sob uma fundamentação indubitável e revolucionária, tridimensional por necessidade, ou seja: esotérica, filosófica e catequética.

Esotérica porque as filigranas são compartilhadas a partir dos mais experientes. Nossos Mestres, pelo exemplo e zelo, disseminam a exatidão das batidas no cinzel intelectual, mais a mentalização do perfil que se pretende finalizar, mas que permanece escondido na bruteza e dureza da pedra.

Filosófica porque já não somos operativos, mas especulativos, ou seja, articuladores de proposituras e conjecturas, possíveis e necessárias por causa da nossa necessidade de pensar e compreender tudo o que se apresenta velado, por concluir e/ou acrescentar.

Catequética porque sem o ritual e o arcabouço legal/regimental, correremos o risco de desviarmos da construção, dos ensinamentos e do esoterismo, ou seja, dos parâmetros estabelecidos desde antigamente. Certamente esse é o motivo de a Maçonaria Simbólica conter os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.  

“Por sofrível e desgastante que possa ser, nós não podemos nos abstrair do outro”. F. A.

Agora, e por isso, a imagem do três, cinco e sete (3, 5 e 7), faz todo o sentido para nós. Uma Loja necessita, para ser per perfeita, que três a governe; cinco a componha e, sete a complete. Temos necessidade da perfeição, aquela contida no seis total e final, resultante da expressão matemática em tela, e por meio dos números primos iniciais: divisíveis apenas por si mesmo e pela unidade.

Acontece que é na multiplicidade que o produto, mesmo que se altere os fatores, confere-lhes significação e proporção; isso porque suas propriedades, iguala, distribui, associa, neutraliza e inverte o resultado. Em uma Loja a composição, a sapiência, o conjunto da obra será total na medida em que a distribuição for maior que o resto.

Admitamos a complexidade da formação maçônica, bem como a simplicidade dos elementos disponibilizados para isso. Só a persistência do estudioso o conduzirá ao êxito. Também a dedicação trará bons frutos, considerando-se que a materialidade dos fatos seja superada pela espiritualidade desenvolvida, pois o maçom é um ser em construção.

“Não conseguimos esgotar o que é o ser-humano pelo ser-sabido dele, mas apenas podemos vivenciá-lo na origem de nosso pensar e agir. Basicamente, somos mais do que conseguimos saber sobre nós mesmos. K. J.

E antes mesmo de prepararmos o encerramento, para abraçar toda essa imperfeita reflexão, trazemos o momento do nascedouro. Queremos crer, ser ele, o instante de maior liberdade para o iniciante. Sem nenhuma noção do que virá, o neófito congrega em si o mais elementar significado de “Livre e de bons costumes”, haja vista a pureza desse momento.

“O objetivo de nosso combate pela liberdade é nos libertar de todas as formas de alienação. Os valores que escolhemos devem ir nesse sentido, sem esquecer o outro. Pois também somos responsáveis por aquilo que nos tornamos em relação aos outros, ou seja, defensores ou não de sua liberdade por meio de nossas ações”. F. A.

Agora, sim, encaminhamos nossas conclusões lembrando de um saudoso professor e filósofo que bradava: “Sou a parte no todo e a totalidade na parte. Por isso coopero comigo e com todos”. E por essa sentença articulava seu filosofismo, sua sabedoria com seus alunos, levando-os a questionar os limites do conhecido, sempre na busca do desconhecido.

Fica para todos os obreiros da Arte Real esses insights como ponto de partida para outras construções que abrigarão novas possibilidades. E que seja assim mesmo. Que haja crítica, acertos e reformulações para haver progressos. Que tragam mais luzes e clareza para essas linhas mal traçadas, pois nossa incumbência é a mesma do venerável, a abertura.


junho 18, 2023

VENERÁVEL MESTRE NA LOJA SIMBÓLICA - Ir.’. Newton Dan Faoro



Etimologia, definições e origens

O título de Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Loja Maçônica, remonta aos meados do Século XVII, quando se iniciava a transformação da Maçonaria operativa em especulativa. Na época ainda não existia o Grau de Mestre Maçom, que só apareceria no Século XVIII (entre 1724 e 1738). O Presidente da Loja era escolhido entre os Companheiros mais antigos e experientes e se tornava vitalício na direção dos seus trabalhos. O Rito Escocês Antigo e Aceito, antigamente, atribuía ao maçom que fosse iniciado no Grau 20 o título de Mestre AD VITAM, de forma vitalícia o que lhe dava o direito de exercer a função de Venerável Mestre na Loja Simbólica. Esta designação era atribuída pelo Supremo Conselho do Grau.

O título ‘Venerável’ tem origem na palavra inglesa ‘Worship’, que como substantivo significa adoração, culto religioso, respeito, admiração e como verbo significa adorar, venerar, idolatrar. Your Worship é a expressão inglesa para Vossa Excelência, Vossa Senhoria. A expressão Worshipfull Máster passou a ser traduzida, portanto, como Venerável Mestre e como tal foi adotada pelos maçons. 

O Venerável Mestre é o responsável como Presidente pela condução dos trabalhos da Loja e como Mestre Maior pela concessão de Graus, incluindo-se a iniciação de profanos. Um Presidente que não tenha recebido a sagração ou investidura como Venerável Mestre poderá tão somente dirigir os trabalhos administrativos da Loja; a investidura de profanos ou mesmo a dos graus de Companheiro e Mestre é prerrogativa de um Venerável Mestre que tenha sido investido com estes poderes por pelo menos três Veneráveis Mestres.

Características e traços de personalidade

O Venerável Mestre é o Líder do grupo de Irmãos de sua Loja. Sabemos que a verdadeira liderança é uma das funções mais difíceis a serem exercidas em qualquer atividade humana.

Nas Lojas Maçônicas, não é diferente; às vezes até mais difícil, pois esta liderança deve ser conquistada aos demais Irmãos pelos valores que possa o líder demonstrar e praticar. A situação é bastante diferente do caso de lideranças empresariais ou mesmo políticas, que são impostas por cargos ou negociadas por benefícios e vantagens. Os Irmãos de uma Loja Maçônica ali se reúnem para buscar seu aperfeiçoamento moral e de caráter e para ter uma convivência a mais fraterna quanto possível. Quando o Venerável não consegue demonstrar sua capacidade de liderar homens maduros nestas condições, dificilmente consegue que sua liderança seja aceita e que o grupo se mantenha coeso, alinhado e dedicado a um esforço pelo qual espera nada mais do que seu crescimento pessoal.

Apesar do muito que já se escreveu sobre liderança, não há uma fórmula pronta para que alguém se torne um líder. Na realidade, não importa o que o líder faz, mas sim o que ele é. Os próprios líderes pouquíssimas vezes conseguiriam descrever o que fazem ou quais são suas características pessoais que fazem com que as pessoas os sigam, mas as pessoas respondem a estas características.

O Líder, por sua vez, deve usar não só a cabeça, mas também o coração; a liderança, em sua essência, deve tocar o coração e a alma das pessoas. De um modo geral, está fundamentada em uma relação muito mais emocional do que racional.

Philip Crosby tem uma definição para Liderança, que, adaptada para a linguagem maçônica poderia ser assim traduzida: “Liderança é, deliberadamente, fazer com que as ações executadas pelos Irmãos da Loja sejam planejadas para permitir a realização do plano de trabalho do Venerável Mestre.”

Deliberadamente significa que a Loja deve eleger um determinado caminho e um propósito, estabelecendo objetivos e metas claros nas mentes de todos os Irmãos. Ações executadas pelos Irmãos significa que estes objetivos e metas devem ser alcançados por ações empreendidas por todos os Irmãos e não por um deles ou deles um pequeno grupo. Planejadas significa propor uma cadeia de ações cujos produtos esperados sejam de pleno conhecimento de todos os Irmãos. Finalmente, Plano de Trabalho do Venerável Mestre deve ser entendido como o conjunto de realizações que foi consensado com o grupo todo. 

Há ainda, e não menos importante, a consideração da tendência do Líder. A história nos fez tomar conhecimento de líderes que tenderam para o bem e outros que tenderam para o mal. Liderança é dom da pessoa, que não tem a ver com seu caráter. Como a Maçonaria “é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade e pelo respeito à autoridade e à crença de cada um’” ou ainda “para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade, exaltando a virtude e combatendo o vício”, o Venerável Mestre, como seu Líder, estará alinhado com estes traços de personalidade. Se assim não for, não poderá exercer liderança alguma sobre um grupo de homens de bem.

Não será um homem perfeito, porque ninguém o é; mas será um homem sinceramente em busca de sua perfeição.

Desafios a vencer 

Exercer a função de Venerável Mestre, muito mais do que uma honraria, me parece como uma missão e um serviço a cumprir. Por mais espinhosa e árdua que esta missão possa parecer ou mesmo ser, sempre servirá para o crescimento individual daquele que a exercer; e se bem exercida, será benéfica e gratificante para todos os participantes.

O exercício do Veneralato com sucesso requer que o Líder tenha estudado e continue disposto a estudar a ciência maçônica. Que tenha desempenhado funções outras e diversas no corpo da Loja. 

O homem que assumir esta função deve ter um bom conhecimento do ser humano e da sociedade além de ter um caráter firme, porém razoável. O Ir.’. José Gonzáles Ginório (Venezuela), apregoa os seguintes desafios a vencer para que possa bem desempenhar o cargo de Venerável Mestre: 

Sentir-se maçom;

Ser discreto e justo;

Estar entusiasmado;

Ser disciplinado, tolerante, conformado não se irritar com facilidade;

Não ser invejoso, apaixonado, rancoroso e intrigante;

Ser estudioso e profundo nos estudos;

Não alardear ou abusar de sua inteligência;

Não pedir, suplicar ou desejar posições. 

Em outras palavras, talvez pudéssemos dizer que o Venerável Mestre deve ser um Mestre Maçom que possua reputação ilibada; seja sincero e verdadeiro; afável no trato, inabalável, firme, arraigado, intrépido e intransigente em seus princípios; seja amante da sabedoria e estudioso dos mistérios da Arte Real. 

Ora, diríamos: este homem não existe! Certamente não existe, mas alguém que se proponha a ser este homem, terá dado o passo mais importante para se qualificar para o desempenho da missão e do serviço que lhe é proposto. 

Este homem deverá ser o espelho de sua Oficina, ou sua Oficina seu espelho! 

Investidura, instalação ou posse 

O exercício pleno da função de Venerável Mestre, na Maçonaria, requer que o Mestre seja investido no cargo pela cerimônia de Instalação. Somente após esta investidura poderá o mesmo iniciar profanos e conceder graus a outros Irmãos.

A cerimônia de instalação, na Maçonaria, entrou em uso já nos primórdios da sua fase especulativa. As constituições de 1723 já rezavam que “O Grão-Mestre, por certas cerimônias significativas e segundo os antigos usos, instalará o Primeiro Mestre lhe apresentado as Constituições, o Livro da Loja e os instrumentos do seu ofício, não todos juntos, mas um por um; e depois de cada um deles, o Grão-Mestre ou seu Delegado, se referirá ao limitado e expressivo dever adequado ao objeto apresentado”.

A regra maçônica exige a presença de pelo menos três Past-Masters na cerimônia de Instalação de um Venerável. 

Past-Master é a denominação adotada nas Grandes Lojas para o ex-Venerável de uma Loja Simbólica. O Grande Oriente adota a expressão ex-Venerável. Ser Past-Master significa que já passou pela cadeira do Rei Salomão e que, ao término de seu mandato, transmitiu o cargo a outro Mestre Maçom eleito regularmente pelos membros do quadro. O Past-Master conserva, perpetuamente, a sua condição de Mestre Instalado ao deixar de exercer as funções de presidente da oficina. 

Ao concluir, tomo a liberdade de parodiar o Irmão Valdemar Sansão quando diz: “Podemos dizer que somente seremos fortes, individual e coletivamente, no dia em que conhecermos nossas fraquezas e nos dispusermos ao trabalho de sustentação das Colunas, suporte, amparo e apoio do Venerável Mestre de nossa Augusta e Respeitável Loja Simbólica, pois sabemos que o homem se mantém e cresce na proporção da força de apoio de seus irmãos”.

junho 17, 2023

SALVE ANTIGOS - Adilson Zotovici




Salve  antigos literatos

Amigos livres pedreiros

Pelo que hoje somos gratos

Artigos, ritos pioneiros


Cerrem os lábios os ingratos

Com os iguais vanguardeiros

Que de seus sábios relatos

Demos os passos primeiros


O tempo alterou alguns fatos

A inércia, os próprios obreiros

Em controvérsias,  hiatos


Gratidão aos Cavaleiros

A base aos desideratos

Da construção, dos canteiros !




junho 16, 2023

R E S S I G N I F I C A Ç Ã O - Newton Agrella




Mais uma palavra tem ganho protagonismo cada vez maior no cenário linguístico.

Senão pela sua versatilidade de emprego, mas sobretudo pela sua representatividade no âmbito social e do comportamento humano.

Referimo-nos aqui ao substantivo abstrato "Ressignificação".

O termo tem a  atribuição de conferir um novo sentido ou alternativamente o de dar um novo significado a alguma coisa. 

Ressignificação, a bem da verdade, é o processo neuro linguístico que possibilita às pessoas elaborarem uma espécie de releitura ou inovar a interpretação de fatos e acontecimentos como fruto da mudança de sua visão de mundo.

A ciência neurolinguística dispõe de inúmeros mecanismos e técnicas para fazer com que as pessoas  percebam o mundo de uma maneira mais agradável, proveitosa e eficiente.

Se de um lado a "ressignificação" pode trazer consigo uma proposta transformadora,   levando inclusive a uma sensação de vanguarda e  evolução, por outro, ela pode desvirtuar a característica e a verdadeira natureza da originalidade de termos  consagrados pelo vernáculo e pela própria História.

Surge aí um dado, que se faz determinante no que reporta à Maçonaria.

A Sublime Ordem se constitui de princípios filosóficos baseados em Símbolos, Alegorias, Sinais, Toques e Palavras, que pouco se diferenciam entre os ritos, senão por algumas circunstâncias de relevância histórica, ou sócio-culturais, porém cuja essência e finalidade mantêm-se perenes até os nossos dias, graças à  observância de seus limites demarcatórios, também conhecidos como "landmarks" - (que em alguns casos estão sujeitos a divergências quanto ao seu número entre os ritos) - além é claro; de toda a sua Tradição Oral, Lendária, Mística, mas antes de tudo, de seu caráter eminentemente "especulativo". 

Por tudo isso e pela própria legitimidade conferida pelo tempo ficam as perguntas :

Como é possível conferir uma ressignificação a uma instituição diferenciada e incomparável como a Maçonaria ?

Toda a Simbologia ganharia um ressignificado ?

Os princípios fundamentais da Ordem precisariam ser reinterpretados ?

As Iniciações deveriam obedecer uma nova dinâmica ?

Os Sinais, Toques e Palavras também teriam que se submeter a um processo de ressignificação ?

Em suma, a notável proposta de alguns defensores seria a reinvenção da roda ?

Menos, bem menos.

A Maçonaria e seus instrumentos em prol da evolução do homem e do aprimoramento de seu templo interior  e principalmente da Consciência,  não requer ressignificação na sua dialética.  

A Maçonaria é perfeita (faz-se completa em toda sua extensão) - quem não é perfeito é o homem, que a cada pouco necessita se autoafirmar e convencer-se que precisa se valer de neologismos e de argumentos frágeis e intangíveis para empreender ressignificados àquilo que mal conhece.

É inegável que a Ressignificação, tem sim, um valor intrínseco no universo da psicologia, da psicoterapia, do marketing e de outras tantas áreas do conhecimento humano.

Porém, no âmbito intelectual maçônico trata-se de uma insossa tentativa de imputar novidades a uma instituição cujo DNA já dispõe de um "trademark" genuíno e autenticado.


junho 15, 2023

A INTUIÇÃO E O INSTINTO... - Aildo Virginio Carolino

 







*A intuição e o instinto: uma breve reflexão para aplicação na Maçonaria* 


Todo ser humano reúne em si estruturas inatas de comportamento que conduzem a determinada ação. 

Esta característica difere da capacidade, que também é comum a todo ser humano: a de usar o pensamento para se alcançar algo positivo. 

A este, denominamos intuição, àquele, instinto. 

A intuição pode ser definida como o acto ou a capacidade de pressentir factos ou acontecimentos. 

Na verdade, a intuição funciona como uma verdadeira e potente antena, que capta as informações através de símbolos ou sensações. 

Segundo Einstein, um dos maiores físicos de todos os tempos, as verdades mais elementares do universo somente são alcançadas através da nossa intuição. 

Nesta linha de pensamento, outros estudiosos do assunto, consideram que a faculdade intuitiva não pode ser analisada sob o ângulo racional, uma vez que transcende a razão humana, isto é, vai além da sua dimensão. 

O Instinto, diversamente da Intuição, pode ser definido como o comportamento de origem biológica, inerente aos seres em geral e, principalmente, aos animais irracionais, que actuam de modo inconsciente, sendo que, alguns com finalidade precisa, independentemente de qualquer aprendizagem. 

A estas informações, que podemos receber como desejos inexplicáveis ou emoções negativas, damos o nome de instinto. 

Parecem vir do consciente, e comandadas pelo Livre-Arbítrio, “parecem ser um aviso” ou a “nossa própria vontade”. 

Acredita-se que, o Instinto se manifesta, em regra, através de um impulso espontâneo e alheio à razão, enquanto que a intuição é um saber íntimo, oculto, misterioso e divino. 

Já está comprovado que o nosso subconsciente age como uma supermente, poderosa, que pode ser acionada tanto na sua frequência positiva quanto negativa, de acordo com o que pensamos e sentimos. 

Assim, ao sentirmo-nos positivados, entramos em contacto com os registos positivos do nosso subconsciente e, passamos a receber dele informações que visam preservar a nossa vida, proteger-nos, responder às nossas perguntas e orientar-nos positivamente. 

Tudo o que é bom e positivo para nós, está aí gravado. 

Estas informações emanadas do nosso subconsciente podem ser por nós recebidas de várias formas: através de sonhos, podem surgir como um desejo aparentemente inexplicável, como uma voz interna, a qual denominamos intuição. 

Ela tem a finalidade de nos evitar um mal, conduzindo-nos ao bem e atraindo algo de positivo. 

Por sua vez, quando estamos negativos, entramos em sintonia com a parte negativa do subconsciente negativo, e isto não é nada bom, pelo contrário. 

Pois, passamos também a receber dele informações que visam interromper, destruir ou atrapalhar a nossa vida e os nossos projetos, já que esta parte nos orienta negativamente. 

Tudo o que é mal e negativo para nós mesmos está nele gravado. 

O que devemos perguntar-nos é se sabemos como nos estamos a sentir: se positivos ou negativos. 

Primeiro, faz-se necessário observar como está a nossa mente e o nosso estado emocional. 

Então, se estamos positivos, podemos deixar-nos levar pela intuição e ouvir a VOZ INTERIOR. 

Esta voz é uma espécie de “impulso positivo inexplicável”, a qual nos faz agir de uma forma, muita das vezes inesperada, mas, benéfica. 

Devemos confiar sempre na nossa intuição, mas é preciso distingui-la do instinto, o qual jamais deve ser ouvido e seguido. 

O instinto é negativo e aparece quando estamos negativos. 

A intuição é positiva e aparece quando estamos positivos. 

Estar positivo é estar bem, calmo, satisfeito, em harmonia. 

Estar negativo é estar irritado, insatisfeito, zangado, magoado, sofrendo… 

Agora você tem condições para avaliar e saber se passa a maior parte do tempo positivo ou negativo. 

Está a fazer isso? 

Todos nós vivemos em sociedade, em família, cercados de outras pessoas, mas, infelizmente, poucos conhecem ou procuram conhecer as Leis Mentais. 

É necessário que saibamos como agir em relação ao facto de estarmos em convívio com pessoas diversas, a fim de que estejamos sempre protegidos mentalmente e livres de influências negativas, haja o que houver. 

Uma pessoa em estado mental positivo jamais deseja o mal de outra. 

Ao contrário, pensa e sente apenas o que é positivo, irradia essa energia positiva e a recebe aumentada. 

Se a outra pessoa também está positiva, retribui, recebendo e irradiando também energia positiva para ela. 

Desta forma, as duas ajudam-se e protegem-se, trocam energias positivas, formando, assim, uma corrente positiva que não permite que nenhum mal afete, interfira ou afaste essas pessoas. 

Assim, estas pessoas estão unidas espiritual e mentalmente e, “aqueles a quem Deus uniu, ninguém pode separar!” 

Nesse caso, o exemplo é válido, pois, a energia positiva que une os dois é de origem divina: é como se uma parcela da divindade, presente em cada um de nós, os unisse, o que vale dizer, então, que não há força na Terra capaz de os separar. 

Acredita-se que, no passado, as pessoas eram mais intuitivas. 

Hoje, entretanto, com o advento da informação massificada, elas acabam por não dedicarem tempo ao pensar, muito menos ao meditar. 

A meditação é, pois, a principal forma de ativação do processo intuitivo. 

Meu Irmão, como está agora, neste exato momento? 

A quem seguiria? 

A intuição ou ao instinto?

Policie-se: “Orai e Vigiai”. 

Tome conta de si para não ouvir a voz errada… 

Mantenha-se positivo e harmonizado para que seja conduzido, através da intuição, de forma correcta ao ponto desejado por você mesmo.



junho 14, 2023

TRANSMISSÃO DA PALAVRA NA ABERTURA E ENCERRAMENTO - REAA - Pedro Juk









Em 18/07/2017 o Eminente Irmão Luis Carlos de Castro Coelho, Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente do Brasil – Goiás, a pedido de um Respeitável Irmão do Estado de Goiás, formula a seguinte questão pertinente ao REAA:

Estou sendo questionado no seguinte teor abaixo e gostaria de obter do mano a orientação devida que sei será cabível e precisa como sempre vem realizando para o engrandecimento de nossa Ordem.

"Eminente irmão Luis Carlos. Uma pergunta que sempre faço e até o momento não recebi uma resposta lógica. Se a Palavra Sagrada na abertura dos trabalhos sai do Venerável, por que no encerramento ela não volta a ele? No mundo inteiro no REAA a ritualística é essa?"

Desde já agradeço ao amado irmão pelo carinho sempre a nós demonstrado e externado.


CONSIDERAÇÕES:

É um grande erro imaginar que a Palavra Sagrada ao ser transmitida na abertura dos trabalhos, no seu encerramento ela tenha que voltar. 

Esse não é um simbolismo de partida e de retorno, mas sim de uma Palavra que dá sustentação a uma alegoria comum ao REAA. 

Em síntese, essa não é uma questão de “se ela partiu do Venerável”, tenha que ao final para ele voltar.

A alegoria da transmissão da Palavra, por comparação, simboliza o costume operativo antigo de se nivelar a base e aprumar os cantos da obra como condição primordial para que os trabalhos pudessem ser iniciados e também ao final da jornada, ou da etapa da construção, com a conferência dos serviços para se certificar se os trabalhos haviam transcorrido nos conformes. 

Nos canteiros de obras medievais, antes do início dos trabalhos o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre) solicitava através dos seus oficiais de chão (mais tarde, os Diáconos mensageiros) que transmitissem sua ordem aos seus auxiliares imediatos (Vigilantes, antigos wardens) para que eles, usando o nível e o prumo, nivelassem e aprumassem os cantos da obra (vide atualmente as joias dos Vigilantes). Aprumado e nivelado, estando tudo “justo e perfeito”, os Vigilantes comunicavam via oficiais de chão ao Mestre da Obra que então ordenava que os trabalhos fossem iniciados. 

Do mesmo modo isso acontecia ao final da etapa contratada da construção, quando então o Mestre, antes de pagar os seus obreiros, mandava os oficiais de chão transmitir ordens aos Vigilantes para que eles fizessem a conferência do trabalho executado. Se tudo estivesse de acordo com as exigências da arte, eles informavam que os trabalhos foram executados justos e perfeitos. Ao receber essa comunicação, o Mestre da Obra então mandava o Primeiro Vigilante fechar a Loja (canteiro de trabalho), pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos para o justo e merecido repouso, não sem antes recomendar que em breve (depois do inverno) deveriam retornar para o início de uma nova jornada de trabalho. 

Em síntese, note que é isso que exara o ritual de modo especulativo.

Como a Moderna Maçonaria não é mais uma construtora operativa, mas sim uma construtora social e nela o elemento primário (matéria prima) é o homem, o REAA⸫ adotou simbolicamente nos seus trabalhos a transmissão da Palavra Sagrada como elemento representativo da etapa inicial e final de um ciclo da construção (sessão da Loja). 

Assim, essa alegoria demonstra na Maçonaria Especulativa e do Rito Escocês Antigo e Aceito em particular que se a Palavra for transmitida conforme as exigências e costumes significa que tudo no canteiro (Loja) está apropriado para o trabalho e para a sua conclusão. Obviamente que tudo é simbólico e os Vigilantes não aprumam e nem nivelam literalmente cada um dos obreiros construtores do seu próprio interior, porém se a Palavra estiver correta, essa alegoria já satisfaz o objetivo. De modo especulativo a palavra correta significa uma base nivelada e um canto aprumado, mais especificamente uma pedra desbastada e esquadrejada pronta para ser utilizada na construção do edifício social.

Há que se notar então que é exatamente isso que o ritual procura demonstrar na transmissão conforme prevê a liturgia e a ritualística da Palavra Sagrada. Aliás, é oportuno mencionar que essa transmissão nada tem a ver com procedimentos de telhamento, assim como também nada tem a ver com ida e volta da Palavra no REAA. No ato de transmitir a Palavra pelos Diáconos para os Vigilantes, ela sempre se inicia pelo Venerável Mestre, tanto para a verificação inicial como para a verificação conclusiva – não existe “volta da palavra”.

É esse o significado simbólico da transmissão da Palavra Sagrada na abertura e encerramento dos trabalhos que ocorre no simbolismo do REAA.

Cabe mencionar que a liturgia da transmissão da Palavra só passou a ganhar forma gradativamente no REAA⸫ a partir do último quartel do século XIX e início do XX com a evolução dos seus rituais na França. Os primeiros rituais escoceses (a partir de 1804) não mencionavam a transmissão da Palavra.

Figuradamente o que dessa alegoria depende para estar “justo e perfeito” na Loja não é a eventual partida ou o retorno da Palavra, mas sim da forma como ela é transmitida, lembrando que essa transmissão sempre se dá entre Mestres Maçons (detentores de cargos em Loja), não importando o grau em que porventura a Loja esteja trabalhando. Ratifico: essa transmissão não é telhamento.

Como eu costumo publicar as respostas no meu blog, penso que é oportuno mencionar aos meus leitores que pesquisas sobre a história da Ordem e em particular a respeito da origem desse tema, devem ser direcionadas ao período operativo da Maçonaria, onde podem ser encontradas diversas informações fragmentadas nas antigas obrigações. Lembro ao pesquisador que nada se encontra pronto sobre a mesa. O historiador maçônico deve saber juntar as peças uma a uma para que as conclusões apareçam. Quem quiser pesquisar que o faça por esse caminho e não fique por ai cobrando uma obra pronta sobre o tema, ou o maldito peripatético “onde está escrito”. Muitas das definições da história estão nas entrelinhas dos registros documentais (hermenêutica).


junho 13, 2023

O GOLEM, Nossa Própria Criatura Lendária - Mendy Tal


 











Na tradição judaica, o Golem é mais conhecido como uma criatura artificial criada por magia, muitas vezes para servir ao seu criador.

A palavra "Golem" aparece apenas uma vez na Bíblia (Salmo 139: 16). Em hebraico, "Golem" significa "massa informe".

O Talmud usa a palavra como "não formado" ou "imperfeito" e, de acordo com a lenda talmúdica, Adam é chamado de "Golem", que significa "corpo sem alma" durante as primeiras 12 horas de sua existência.

O Golem também aparece em outros lugares do Talmud. Uma lenda diz que o profeta Jeremias fez um Golem. No entanto, alguns místicos acreditam que a criação de um Golem tem significado apenas simbólico, como uma experiência espiritual após um rito religioso.

O Golem é uma criatura de argila que foi magicamente trazida à vida. 

O Talmud relata uma história de rabinos que ficaram com fome durante uma viagem - então eles criaram um bezerro da terra e o comeram no jantar. 

Os cabalistas (místicos judeus) determinaram que os rabinos realizaram esse ato mágico por meio da permutação da linguagem, principalmente utilizando as fórmulas apresentadas no Sefer Yetzirah, ou Livro da Criação. 

Assim como Deus fala e cria, na história do Gênesis, o místico também pode. (A palavra Abracadabra, aliás, deriva de avra k'davra, aramaico para "Eu crio enquanto falo".) 

Assim, sob as mais raras circunstâncias, um ser humano pode imbuir matéria sem vida com aquela centelha de vida intangível, mas essencial: a alma.

De acordo com uma história, para dar vida a um Golem, deve-se modelá-lo do solo e, em seguida, caminhar ou dançar ao redor dele, dizendo uma combinação de letras do alfabeto e o nome secreto de Deus. 

Nos primeiros contos do Golem, o Golem era geralmente um servo perfeito, sua única falha sendo um cumprimento muito literal ou mecânico das ordens de seu mestre. 

No século 16 o Golem adquiriu o caráter de protetor dos judeus em tempos de perseguição, mas também tinha um aspecto assustador. 

Ao visitar a cidade de Praga, podemos nos deparar com a famosa narrativa envolvendo o Golem e o Rabi Yehuda Löw ben Betzalel, conhecido como o Maharal de Praga (1520-1609)

Na época do Maharal, eram grandes o ódio e a violência contra os judeus da cidade, o que resultava em muito sangue judeu derramado.

Rabi Löw teria criado o Golem com argila do rio Moldava para defender o gueto de ataques antissemitas e libelos de sangue.

Diz a lenda que ele moldou um boneco de argila com a aparência de um homem, que ganhou “vida” quando Rabi Löw escreveu em sua testa a palavra Emet e pronunciou um versículo de Gênesis.

O Golem deveria ser sempre obediente ao Maharal, que o escondia durante o dia, no sótão da Antiga-Nova Sinagoga da cidade.

Mas, eventualmente, o Golem se torna terrível e violento, e Rabi Low é forçado a destruí-lo. (A lenda diz que o Golem permanece no sótão da sinagoga de Altneushul em Praga, pronto para ser reativado se necessário.

Na verdade, não temos nenhuma ideia real da aparência do Golem ou de sua natureza. 

As especulações vão de uma bolha de argila amorfa, mas vagamente humanoide, a um simulacro quase perfeito de um homem, carecendo apenas de razão e de livre arbítrio. 

Não sabemos se era simplesmente matéria grosseira com aparência de vida, ou uma criatura viva cujo material formativo passou a ser matéria bruta, como Adão era antes do sopro divino.

Em outras palavras, ele era algo totalmente diferente ou apenas um ser humano incompleto? Talvez ele fosse os dois ou nenhum.

Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de Literatura, escreveu a sua versão da lenda do Golem, em 1969. 

O computador pioneiro criado em Israel pelo cientista Chaim Pekeris, recebeu o nome de “Golem”.

Essa é a feliz liberdade das lendas. Hoje, o Golem permanece silenciosamente onipresente, mas também opaco e indescritível.

Embora a cultura popular tenha visualizado e digerido com sucesso o vampiro, o lobisomem, o fantasma, o unicórnio, fadas, trolls, bruxas e inúmeras outras personificações antigas do estranho e do impossível, o Golem ainda não tem uma iconografia visual concreta. 

Todos nós sabemos sobre o Drácula de Bela Lugosi e Frankenstein do Boris Karloff, mas a única representação cinematográfica ainda vagamente memorável do Golem está em um filme mudo de Gustav Meyrink’s, agora conhecido principalmente por historiadores, cinéfilos e excêntricos.

E ainda assim encontramos o próprio Golem em toda parte: em livros, programas de televisão, filmes, videogames, histórias em quadrinhos e até mesmo nas obras da ciência. 

Vários comentaristas o declararam como o progenitor do monstro de Frankenstein, do Exterminador do Futuro, Superman, HAL 9000 e quase qualquer outra entidade não humana que, no entanto, exibe características vagamente humanas. 

Como uma metáfora universal, ele supera até mesmo Fausto como um símbolo do lado negro do conhecimento, iluminação e tecnologia, se não da própria modernidade. 

O Golem tem sido a bomba atômica, o computador, a biotecnologia, a produção industrial, na verdade qualquer avanço científico que, em um ponto ou outro, aterrorizou a raça humana e às vezes seus próprios criadores.

Como isso sugere, há duas narrativas da carreira do Golem - a da criatura enlouquecida que se voltou contra seu criador – e a que capturou de forma decisiva a imaginação comum. 

O Golem é um dos poucos monstros que não são remanescentes óbvios do mito pagão, e o primeiro que foi inequivocamente feito pelo homem. 

Em outras palavras, ele é indiscutivelmente moderno: a imagem sombria de uma era mecânica e tecnológica que sugere na qual, pela primeira vez, o artificial começaria a ter precedência sobre a natureza como força determinante da vida humana.

 

Mendy Tal é Cientista Político e Ativista Comunitário

junho 12, 2023

O APRENDIZ - Gonçalves Lêdo



É aquele que aprende, e sempre em aprendizagem vai tirando as suas conclusões: 

Aprendi... que ninguém é perfeito 

Aprendi... que a vida é dura mas eu sou mais que ela!! 

Aprendi que... as oportunidades nunca se perdem, aquelas que desperdiças... alguém as aproveita 

Aprendi que... quando te importas com rancores e amarguras a felicidade vai para outra parte. 

Aprendi que... devemos sempre dar palavras boas... porque amanhã nunca se sabe as que temos que ouvir. 

Aprendi que... um sorriso é uma maneira económica de melhorar o teu aspecto. 

Aprendi que... não posso escolher como me sinto...mas posso sempre fazer alguma coisa. 

Aprendi que... quando o teu filho recém-nascido segura o teu dedo na sua mão têm-te preso para toda a vida.

Aprendi que... todos querem viver no cimo da montanha... mas toda a felicidade está durante a subida. 

Aprendi que... temos que gozar da viagem e não apenas pensar na chegada. 

Aprendi que... o melhor é dar conselhos só em duas circunstâncias... quando são pedidos e quando deles depende a vida. 

Aprendi que... quanto menos tempo se desperdiça...mais coisas posso fazer. 



junho 11, 2023

O QUE ACONTECEU NO DIA 7 DE SETEMBRO DE 1822 ÀS MARGENS DO IPIRANGA? - Almir Sant’Anna Cruz





Embora a História oficial não conte, alguns historiadores relatam, com base em depoimentos de participantes da comitiva do Príncipe, que D. Pedro, regressando de Santos, vinha afetado por uma disenteria que o obrigava a todo momento apear-se para prover-se. Mas não citam a fonte dessa informação.

Esse relato ouvi pela primeira vez no primeiro ano da faculdade, pelo professor de História Econômica do Brasil, que me chocou, acostumado com a Historia oficial contada nos livros didáticos. Evidentemente em seu relato usou uma linguagem popular e acrescentou o motivo pelo qual D. Pedro estava às margens do Ipiranga: “por que na época ainda não haviam inventado o papel higiênico”.

Mas esse relato de alguns historiadores, que a História oficial não conta, confirma-se ser verdadeiro numa carta publicada em 1826 pelo Maçom e Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira (Nome Histórico Sócrates, membro da Loja Commercio e Artes e atuante no movimento patriótico para a Independência do Brasil desde 1812).

Também relata quais foram os documentos efetivamente recebidos por D. Pedro na ocasião, sua raiva ao tomar conhecimento do conteúdo deles e, sobretudo, como declarou a Independência do Brasil.

O Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira era amigo e confidente de D. Pedro e participava sempre das comitivas do Príncipe quando visitava outras províncias, como a de 25 de março a Minas Gerais e nessa a São Paulo.

Eis o trecho que nos interessa da carta:

“O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro (correio) e Antônio Cordeiro (Major que o escoltava)

“Eram elas: uma instrução das Cortes, uma carta de D. João, outra da Princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain, agente secreto do Príncipe. 

“As Cortes exigiam o regresso imediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; a Princesa recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos de seu Ministro; José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dois caminhos a seguir: partir para Portugal imediatamente e entregar-se prisioneiro das Cortes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; Chamberlain informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se falava abertamente na deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa.

‘D. Pedro, tremendo de raiva arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixando-os sobe a relva. Eu os apanhei e guardei.

“Depois, abotoando-se e compondo a fardeta, pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho Ipiranga, agoniado por uma disenteria com dores, que apanhara em Santos, virou-se para mim e disse:

- E agora Padre Belchior?

E eu respondi prontamente:

- Se V. Alteza não se faz Rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a Independência e a separação.

“D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros em direção aos nossos animais que se achavam à beira da estrada. De repente estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me:

- Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de Rapazinho e de Brasileiro. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho. 

*De hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero do Governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal*.

Essa é a História que a História não conta, relatada por uma testemunha ocular e auditiva do que ocorreu às margens plácidas do riacho Ipiranga.

Mas, se depois que D. Pedro disse o que o Padre Belchior disse o que D. Pedro disse, D. Pedro disse o que a História oficial disse o que D. Pedro disse, fica a critério do leitor.


Excertos do livro *A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil - Interessados no livro contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 10, 2023

O POEMA REGIUS E O SEGREDO - Almir Sant’Anna Cruz


O Poema Regius, Manuscrito Regius ou Documento Halliwell, que se acha atualmente no Museu Britânico de Londres, foi manuscrito entre 1356 e 1450 e encontrado em 1839 na Régia Biblioteca do Museu Britânico de Dnodes pelo antiquário inglês não maçom Orchard Halliwell.

Trata-se de uma compilação dos antigos regulamentos, de data incerta, dos talhadores de pedra (Maçons), apresentada em 33 folhas de pergaminho, numa bela escrita gótica e sob a forma de um poema de 790 versos, para que os operários analfabetos pudessem facilmente decorá-los.

Seu autor foi provavelmente um clérigo com conhecimento de vários antigos documentos relativos à história da Ordem, pois, naquela época, os letrados eclesiásticos assumiam frequentemente as funções de secretário nas Lojas dos Maçons operativos, ou seja, foram os primeiros Maçons aceitos.

Presume-se também que o autor tenha sido encarregado de redigir um manual com as lendas do ofício e as regras da fraternidade, compilando-as das que já eram usadas nas assembleias dos Maçons. 

Está dividido em nove seções (três vezes três).

A terceira seção compreende quinze Pontos, sendo particularmente interessante o terceiro, que impõe o segredo profissional, provável embrião do segredo maçônico: 

*Os conselhos de seu Mestre devem ser guardados e não revelados, assim como os conselhos de seus Companheiros. Não revelar a ninguém o que se passa na Loja O que ouvir ou que veja fazer deve ser guardado em seu coração. Não dizer a ninguém, onde quer que vá, os conselhos da sala e os conselhos da câmara. Guardar os segredos com a maior honra, temeroso de que os revelando se torne culpável e, com sua falta, seja motivo de opróbrio para o ofício*


Excertos do livro *O que um Mestre Maçom deve saber*Interessados no livro contatar o autor, Irm.’. Almir, no WhatsApp *(21) 99568-1350*