julho 01, 2023

TERCEIRA VIAGEM: A PROVA DO FOGO - Almir Sant’Anna Cruz


O Fogo é o mais sutil, ativo e puro dos quatro elementos. Para os antigos, era considerado o princípio ativo, germe e origem da geração, fonte de energia, princípio animador e masculino, em oposição à Água. Para os hermetistas, representava as qualidades quente e seca, análogas ao verão, ao meio-dia, à cor vermelha e à inteligência brilhante. Na Maçonaria, o elemento Fogo é emblema da purificação iniciática, do fervor, do zelo e da Verdade.

O fogo foi adorado e considerado sagrado por inúmeros povos, seja como símbolo de vida ou da força animadora, seja diretamente como fogo aceso, seja como Sol, ou ainda como a própria divindade.

Na liturgia da Igreja Católica, o fogo novo simboliza Cristo, a Luz do Mundo, na cerimônia da Vigília Pascal, onde, no vestíbulo ou fora da Igreja, obtido pelo atrito de pedras, o novo fogo vai iluminar todo o templo. Esta cerimônia lembra a figura de Cristo ressuscitado, pelo que se acende o Círio Pascal até o dia da Ascensão.

Na Bíblia, no Antigo ou no Novo Testamento, a palavra fogo é usada, tanto no sentido literal quanto no figurado, com inúmeros significados e em diversos contextos, todos de denso sentido simbólico. Recolhemos alguns deles:

1 - O fogo do inferno, que queima, no sentido figurado, tanto a alma, que é espiritual, quanto o corpo, que é material, sem consumi-los. 

2 - O fogo como símbolo da providência divina:

Êxodo 13:21: E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite.

Salmos 78:14: De dia os guiou com uma nuvem, e toda a noite com um clarão de fogo.

3 - O fogo testando as virtudes:

Zacarias 13:9: E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro: ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo, e ele dirá: O Senhor é meu Deus.

I Coríntios 3:13: A obra de cada um se manifestará: na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.

4 - O fogo simbolizando a purificação moral e espiritual:

Malaquias 3:2: Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem substituirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros.

5 - O fogo como manifestação de Deus:

Gênesis 15:17: E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumo, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades.

Êxodo 3:2-4: E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia em fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés .

6 - O fogo associado ao Espírito Santo:

Atos 2:3-4: E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

7 - O fogo associado ao Espírito Santo e a um batismo superior ao da água:

Mateus 3:11: E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.

Lucas 3:16: Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

Portanto, embora todas as religiões cristãs utilizem a Água para as suas cerimônias de iniciação, batismo e purificação, seu próprio Livro Sagrado, a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, indica que existe um batismo superior, pelo Espírito Santo e pelo Fogo.

Na terceira viagem o recipiendário é conduzido por um dos Expertos por um caminho sem qualquer obstáculo e totalmente silencioso, pedindo passagem ao chegar ao altar do Venerável Mestre.

Para a Escola Oculta, o completo silêncio da terceira viagem representa a parte superior do mundo astral, contígua ao mundo celeste. Leadbeater in A Vida Oculta na Maçonaria, assim se expressa: Atrás de si ficou o mundo inferior; diante dele estão as alegrias do céu, e no espaço intermediário reina o silêncio.

Ao chegar ao altar do Venerável Mestre, será purificado pelo elemento Fogo, última purificação simbólica. Com a purificação pelo Fogo, o recipiendário chega, enfim, à Iniciação pura, à purificação superior, livrando-se das nódoas dos vícios do mundo inferior.


Do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 30, 2023

TRAÇANDO PARALELOS - Newton Agrella



A originalidade é uma expressão única e singular da capacidade humana de tornar absolutamente autêntica sua engenhosidade e seu processo de criatividade.

Particularmente no campo das Artes, da Música e da Literatura essa condição se torna evidente quando provoca reações que podem variar de humor conforme o perfil de seu ineditismo.

A originalidade está implicitamente associada ao modo de expressar-se, mas sobretudo à forma independente e individual de expor uma pintura, uma escultura, uma música ou uma obra literária. 

Ela se substancia a partir do momento que consiga traduzir "legitimamente" um novo conceito ou uma nova ideia que impacte o espectador, o ouvinte ou o leitor, e cuja essência seja capaz de convencê-los disso.

A originalidade remete-nos desde os textos bíblicos, quando a mesma se manifestava como inequívoco qualificativo do Pecado.

Sim, o Pecado Original, no universo cristão, dá conta sobre a autenticidade da imperfeição humana.

De qualquer forma é uma propriedade que traz consigo o caráter de ser genuína, inimitada e inteiramente própria em sua compleição.

No que diz respeito às peças literárias, o que mais se vê no dia a dia é o famoso "chupa e cola" ; 

Pois é, esse tal do "chupa e cola" ou a  desaforada "não-citação de fontes e autores" de que se valem muitos dos que se atrevem a mergulhar no terreno da escrita são extremamente prejudiciais à saúde cultural.

Por mais infame que possa parecer, no ambiente maçônico é algo um tanto rotineiro, aventureiros travestidos de escritores procederem cópias fiéis de inúmeros textos, sem ao menos se preocuparem em dar um mínimo de caráter pessoal aos mesmos.

Imprescindível lembrar, que além de  indevido, este tipo de expediente em nada contribui para um suposto desenvolvimento intelectual do "pseudo-autor".

Ainda no que tange à natureza da originalidade, espera-se de um artista, músico, escultor ou escritor  um mínimo de esforço, discernimento, reflexão e arbítrio para elaborar sua obra na esfera de sua verdadeira capacidade intelectual.

O pensamento e o raciocínio são os agentes transmissores desse exercício, os quais encerram em sí um caráter incomparável.

No que contempla a originalidade no campo literário, o texto deve possuir um mérito dialético e argumentativo, alicerçado antes de mais nada, pela ética, como diretriz pelos princípios que motivam e disciplinam o comportamento humano,   manifestando o respeito da essência das normas e valores, atinentes a qualquer realidade social.



junho 29, 2023

A INSTRUMENTAÇÃO PARA A EVOLUÇÃO DO MAÇOM


 


Praticamente a grande maioria dos escritores maçons, em algum momento de suas obras, dedicaram importantes e substanciais linhas, senão trabalhos e livros inteiros, a discorrer sobre a importância da simbologia para a Maçonaria.

Torna-se praticamente impossível referir-se a Ordem Maçônica, sem aludir aos símbolos que a representam e àqueles utilizados no processo de repasse de sua doutrina e ensinamentos.

Cada vez que se analisa um símbolo referente à Maçonaria, esta análise por mais que seja baseada em outras tantas já publicadas, será normalmente original.

A visão que se possui sobre um símbolo é sempre pessoal e intransferível.

São estas múltiplas visões que dão a Ordem Maçônica o caráter dinâmico e de adaptação aos novos tempos e as novas ideias que constantemente surgem.

Segundo Fernando Pessoa, em nota preliminar ao seu livro “Mensagem”, o entendimento e a assimilação das mensagens contidas em um símbolo dependem de cinco qualidades ou condições consideradas básicas:

. Simpatia;

. Intuição;

. Inteligência;

. Compreensão ou Discernimento;

. Graça ou Revelação.

Na Maçonaria a maior parte dos símbolos e metáforas que são utilizados, provêm da antiga atividade profissional e corporativa dos pedreiros medievais.

Construtores que eram, principalmente de Igrejas, grandiosas Catedrais, sólidos castelos e fortalezas, os pedreiros medievais corporativamente organizados constituíam a Maçonaria Operativa que evoluiu para as Organizações Maçônicas Simbólicas e Especulativas contemporâneas: “Embora não haja documentação que o comprove, deve-se admitir que os Maçons Operativos, os franco maçons, usavam seus instrumentos de trabalho como símbolos de sua profissão, pois caso contrário não se teria esse simbolismo na Maçonaria Moderna.

A existência desse simbolismo é a mais evidente demonstração de que houve (…), contatos diretos entre os Maçons Modernos e os franco maçons profissionais, e demorados o suficiente para que essa transmissão se consolidasse (…)” (PETERS, 2003, passim).

O escritor Ambrósio Peters, nos coloca ainda que aqueles que seriam os símbolos principais e essenciais a existência da atual Maçonaria Especulativa (Simbólica).

Cabe destacar também que são destes símbolos que os Maçons metaforicamente retiram os princípios básicos e os seus principais ensinamentos éticos e morais: “O trabalho dos franco-maçons, limitava-se aos canteiros de obras e à construção em si.

Os instrumentos que eles usavam eram o esquadro, o compasso e a régua para determinar a forma exata das pedras a serem lavradas, o maço e o cinzel, para dar-lhes a forma adequada, e o nível e o prumo, para assentá-las com perfeição nos lugares previstos na estrutura da obra.

Eram, portanto três diferentes grupos de instrumentos, cada qual representando uma etapa da obra (…)” (Idem).

Podemos, com base no trabalho desenvolvido pelos pedreiros medievais, concluir que existiam três diferentes grupos de instrumentos operativos.

Cada um destes instrumentos estava ligado a uma das fases da construção. Cada fase exigia do construtor um nível diferente de conhecimento para a sua execução e finalização:

. A medição ou especificação do tamanho e do formato das pedras;

. O desbaste, adequação das formas e o polimento para dar o acabamento adequado às pedras;

. A aplicação e o assentamento das pedras na construção.

Estes conjuntos de instrumentos que são necessários a execução de cada etapa da obra, indicam na Ordem Maçônica, simbolicamente os diversos Graus que nela existem.

Cada Grau, representa na Maçonaria, todo um conjunto de conhecimentos que são necessários ao aperfeiçoamento e ao crescimento moral e ético dos Maçons.

Uma das muitas certezas que a vida em sociedade e a evolução do conhecimento humano nos deram, foi a de que nem todos os homens assimilam de maneira semelhante as mensagens da Simbologia Maçônica.

Como se coloca em alguns rituais: devemos pensar mais do que falamos.

A reflexão e a consequente meditação são essenciais a compreensão da linguagem maçônica..

O avanço pelos diversos graus, portanto não deve ser considerado pelo tempo que está sendo empregado, não devem ser conduzidos pela pressa.

O que deve ser levado em conta é o esforço individual e o desprendimento pessoal de cada Maçom, conforme o seu potencial e capacidades para poder galgar com segurança e sabedoria os degraus da Escada de Jacó.

Bibliografia:

BONDARIK, Roberto – A Interpretação e o Entendimento dos Símbolos.

Escolas do Pensamento Maçônico. In: A Trolha: Coletânea 6. Londrina: A Trolha, 2003. p.141-151;

CAMPANHA, Luiz Roberto – A Filosofia e a Análise dos Símbolos. In: Caderno de Pesquisas 20. Londrina: A Trolha, 2003. p.33-40;

PESSOA, Fernando – Associações Secretas.

PETERS, Ambrósio – O Simbolismo dos Instrumentos.

junho 28, 2023

É UM LIVRO ... - Adilson Zotovici




Tua vida é um livro obreiro

Que escreves passo a passo

Lida dum Livre pedreiro

Descreves a cinzel e maço


No capítulo primeiro

Vives ufano embaraço

No negrume derradeiro

Do fim do profano laço


Breve a Luz ao teu canteiro

Atilas tua pedra em compasso

Folha a folha medra o roteiro


Em verso, prosa, flor e aço...

História e o labor verdadeiro

_O teu estilo...teu traço_ !


junho 27, 2023

TOLERÂNCIA E RESPEITO - Sidnei Godinho



Os dias e principalmente aquilo que colhemos dele pelo convívio com outros irmãos, nos proporcionam verdadeiras pérolas, que fundamentam fartas reflexões.

Em nome da boa fraternidade que nos propomos, muitas vezes clamamos por Tolerância e devido talvez as constantes invocações, parece que o termo adentrou para a vala comum, na defesa de nossos interesses.

Muitas vezes em que o termo foi “invocado”, parecia mais apropriado substituir pelo respeito.

Parece meus Amados Irmãos, que estamos substituindo gradativamente o sentido do termo respeitar, mesmo quando discordando, para no seu lugar, invocar o termo tolerância.

E aqui nos envolvemos com os contraditórios, nas diferentes situações que estamos diariamente sujeitos no mundo globalizado de hoje.

Vejamos um contexto bem atual (rede sociais) e por razões conhecidas, são estabelecidas regras para a circulação de postagens nos diferentes grupos maçônicos.

Estabelecidas as regras, a energia geradora daquele grupo, vai se consolidando... consolidando... consolidando até que a Egrégora reinante do grupo, envolva a todos.

De repente para exemplificar... alguém propaga indevidamente, um tipo de postagem contrária as regras do grupo e naturalmente, colherá prós e contras.

O que é isso que sentimos na forma de um desconforto gerado?

Mesmo quando não nos apercebermos disso, sentimos a quebra da Egrégora do grupo.

Para que uma Egrégora seja reinante, é necessário que todos respeitem a liberdade de cada um viver e conviver com suas preferências, sejam elas quais forem, noutro local que lhe seja apropriado, longe do grupo exatamente para não conflitar a predominância energética do grupo.

Porém e mesmo discordando, o grupo DEVE RESPEITAR a preferência daquele membro.

Mas vejam como fica desafiante se tentarmos encaixar na situação, o termo Tolerar.

Tolerar seria relevar aquele tipo de postagem?

Tolerar seria permitir que aquele tipo de postagem contrária as regras do grupo continue ocorrendo? Somente uma vez pode?

Tolerar é se omitir diante da situação?

Por isso fico pensando, qual a significação que estamos atribuindo para o termo Tolerar?

Quando educamos nossos filhos PELO EXEMPLO, toleramos seus tropeços advindos das incompreensões, nos precavendo em todos os sentidos e com todos os recursos disponíveis, para que aqueles erros sejam corrigidos, não é assim?

E quando um mestre erra não mais pela incompreensão, mas pelo velho hábito de permanecer “plugado” em determinadas energias?

O que devemos fazer?

Desafiante não é mesmo?

Por isso que vamos nos plugando em determinados grupos que agregam para nossos interesses, e silenciosamente nos afastamos, EMBORA REPEITANDO, daqueles grupos com outros interesses de postagens, rogando... que a sagrada liberdade de escolha, não nos torne intolerantes.

Respeito e Tolerância.

Como preserva-los em essência, na fraternidade que nos propomos?

A consciência e o conhecimento hão de nutrir a Sabedoria para decidir entre a Tolerância e continuar amargurado ou o Respeito à adversidade e seguir em frente em outro grupo que tenha afinidade. 

Boas Reflexões meus irmãos. 



junho 26, 2023

A FALSA SABEDORIA - Anestor Silva



Não se trata de novidade a palavra “achismo”.

Já tinha ouvido sua citação por eloquentes oradores, mas confesso, nunca me tinha atentado em saber o seu real significado até que certo dia, ao ouvir mais uma vez, alguém afirmar que “pau é pedra,” só porque, na sua concepção o fato era tido como verdadeiro, dei-me conta rapidamente de que a conotação daquela palavra não me era assim tão estranha, mas, ao contrário, eu já vinha convivendo, havia algum tempo, com o que o “achismo” significa.

O citado vocábulo tem como sentido a convicção de quem, de modo irresponsável, sustenta um fato tipificado em norma ou em instruções similares, de outra forma baseando-se em meras suposições.

Ele retrata uma cultura que, a despeito da incerteza, leva o indivíduo a crer que o modo como os fatos devem ser corretamente interpretados não seja o da interpretação das regras que o tipificam, o do conhecimento da verdade, mas o que se baseia no auto entendimento e na convicção pessoal.

É o vocábulo que se atribui às pessoas que fazem comentários ou sustentam posições com pontos de vista definidos, com argumentação firme, porém, sem propriedade.

Por isso o achismo é a demonstração do falso conhecimento.

É o erro que alguém comete em afirmar convictamente algo que acha ser verdadeiro, correto, com base apenas em suposições.

Com todo esse arcabouço em torno de si o “achismo” ainda se completa passando-se por mecanismo ilusório, enganoso acerca da verdade.

Se prestarmos um pouco mais de atenção no comportamento das pessoas quando estão fazendo parte de uma reunião, de uma assembleia, de um plenário etc., notaremos, com facilidade, quem é "achista" entre os que fazem uso da palavra.

Ele normalmente é o que mais pede aparte e, por consequência, é o que mais vezes faz uso da palavra tentando assim persuadir os que o ouvem a aceitarem seus argumentos.

Embora incorporando o falso juízo da verdade, por não ter conhecimento absoluto do conteúdo daquilo que afirma, o “achista” é sempre categórico na sustentação de seus argumentos, da maneira que os supõe ser, por considerar os que o ouvem como menos esclarecidos.

Mas na escala dos valores intelectuais essa situação acha-se invertida, pois o “achista” é aquele que acha que sabe, porém, o suporte, o ponto de apoio daquilo que ele pensa nunca é o conhecimento, mas as conclusões a que ele chega segundo sua própria convicção.

A prova disso são as evidências. Certo dia, em uma Loja Maçônica interiorana, realizava-se uma sessão em que na Ordem do Dia tratavam os Irmãos da “filiação” de um candidato oriundo de outra Loja, portador de “Quite Placet” não vencido (o maçom só se torna irregular depois de vencido o prazo de validade do seu “Quite Placet”), quando alguém invocando claramente o princípio do “achismo”, levantou a voz para dizer que o processo em discussão deveria ser tratado como “regularização” e não “filiação.”

Diante do que foi dito, o desenrolar dos trabalhos, que até àquele momento era normal, tumultuou-se de repente em meio a inúmeros apartes.

Muitos falavam fazendo uso do “achismo.” Outros tantos, os eruditos, falavam citando bases legais como argumentos de seus pontos de vista e só depois de um bom tempo de acalorado debate concluiu-se acertadamente que o caso tinha mesmo que ser tratado como “filiação.”

*Naquele dia muito se trabalhou e pouco se produziu...*

Houve perda de tempo por conta de uma intervenção inócua, desprovida de cunho legal e motivada pelo exercício do chamado “achismo”, tendo sido seu protagonista o responsável pela grande confusão, pela discussão desnecessária o que, no final, quase levou ao erro os que se encontravam no caminho de um trabalho sério, justo e perfeito.

*Em nome da vaidade muitos querem reverberar refletindo falsa sabedoria...*

Este fato parece coisa banal, de pouco interesse, mas quando se refere a trabalhos litúrgicos da maçonaria o mesmo assume proporções desastrosas para a Ordem uma vez que a adoção do incerto e duvidoso é o desprezo à sabedoria e ao conhecimento dos princípios, normas e regulamentos que regem a mencionada instituição.

E aí eu próprio me pergunto: "Por que intervir, por que querer se impor sem ter conhecimento da verdade"??? 

... "Vaidade de Vaidades"... 



junho 25, 2023

REENCONTRO FILOSÓFICO - Newton Agrella







Há muito que não se viam.

Houve época em que seus encontros eram até relativamente mais frequentes e amistosos.

Porém, no campo da dialética, cada um sempre manteve-se fiel aos seus princípios.

Coincidentemente ambos encontraram-se, graças a um desses lances da vida,  justamente na acrópole, entre as colunas do templo.

Sofisma e Falácia antes de trocarem algumas palavras entreolharam-se e discretamente esboçaram um breve sorriso de satisfação.

Sob uma abóbada estrelada que testemunhava o encontro, as primeiras considerações entre si, eram o prenúncio do espírito contestador que invariavelmente colidiam em distorções filosóficas.

Como não poderia deixar de ser, a Falácia trazia consigo o argumento que  se tipifica através de uma espécie de mentira, que se sustenta sob uma lógica frágil e inconsistente de um conceito que se pretende provar como real e inequívoco.

Via de regra, por meio da persuasão, com o claro propósito de convencimento.

Por sua vez,  o Sofisma valia-se de um expediente cuja essência é uma mentira, propositada disfarçada e maquiada por argumentos consistentes e verdadeiros, para que possa parecer legítima e real.

Nos estudos da Lógica, a Falácia se evidencia como um erro de raciocínio ou argumentação, mas que parece estar correto. ...

Por outro lado, o Sofisma é um engano, um argumento inválido, uma ideia equivocada ou ainda, uma crença falsa.   

Desse fortuito encontro que se reveste de um princípio filosófico, que abriga os interesses humanos,  estabelece-se um processo de argumentação como forma de convencer sobre a verdade, de maneira incontestável.

Fica perceptível que existem formas de convencimento, a partir de argumentações incorretas ou ilegítimas. 

Tais formas nos convencem, mas não necessariamente da verdade, e recebem a alcunha de Falácias ou Sofismas, dependendo das circunstâncias em que protagonizam seus papéis.

Caso fôssemos  transitar pelo universo jurídico da matéria, caberia deixar no ar a seguinte indagação:

"A  Culpa ou o Dolo seriam respectivamente atinentes à Falácia ou ao Sofisma ?"



junho 24, 2023

POESIA MATEMÁTICA - Millor Fernandes




Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.


Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base…

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides.


Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela.

Até que se encontraram

No Infinito.


“Quem és tu?” indagou ele

Com ânsia radical.

“Sou a raiz quadrada da soma dos quadrados dos catetos.

Mas pode chamar-me Hipotenusa.”


E falando descobriram que eram

O que, em aritmética, corresponde

A alma irmãs

Primos-entre-si.


E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Retas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.


Escandalizaram os ortodoxos

das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito.


Romperam convenções newtonianas

e pitagóricas.

E, enfim, resolveram casar-se.

Constituir um lar.

Mais que um lar,

Uma Perpendicular.


Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e

diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.


E casaram-se e tiveram

uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

se torna monotonia.


Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum…

Frequentador de Círculos Concêntricos

Viciosos.

Ofereceu, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.


Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo,

Uma Unidade.

Era o Triângulo,

chamado amoroso.

E desse problema, ela era a fracção

Mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a

Relatividade.

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade.

Como aliás, em qualquer

Sociedade.



junho 23, 2023

DICAS AOS APRENDIZES - Denison Forato






Nesta semana perdemos o brilhante irmão MI Denilson Forato, que levou a sua cultura e inteligência para o Oriente Eterno. Em homenagem à sua memória publicamos este texto.


1- Estude o Ritual de Aprendiz

2-Abra os olhos, ouvidos e feche a boca

3-Colha os bons exemplos e descarte os ruins

4-Observe tudo a sua volta, mas não teça críticas, sois ainda aprendiz

5-Macom só tem uma palavra, cuidado ao dize-la, se disser cumpra-se

6- Saiba que estamos em crise, de pessoas e de organização, então seja paciente e relevante.

7- Faça você, participe, vá a Loja, faça trabalhos, pois nem todos "usam nossos sapatos" e cada um sobe a escada de um jeito diferente.

8-Seja fiel a você e aos outros.

9-Olhe nos olhos

10- tenha postura reta, palavra mansa e atitudes com medida certa.

11-Estude o passado,o presente e o futuro, pois de gente ignóbil e idiota o mundo está cheio.

12-Converse com seu irmão sempre.

13-Visite seu irmão e família.

14-Respeite seu irmão, seu espaço,seu ponto de vista, seus gostos, sua família, mesmo que não goste de algumas coisas, a palavra mágica é respeito.

15-Sempre haverão 3 verdades, a sua, a do outro e a real verdade, busque-a.

16-Cave masmorras aos vícios, seja ele qual for.

17-Seja exemplo bom em casa, na sociedade e na maçonaria.

18- Quando se achar o sabe tudo, pegue seu avental, seu malho e seu cinzel e vá trabalhar na pedra bruta.

Se seguirem essas dicas, não terão problemas na Ordem e nem fora dela.


junho 22, 2023

UM APRENDIZ A BEIRA DA MORTE



Conta-se de um incidente ocorrido numa cidadela durante o século XIX em algum lugar da Inglaterra.

Uma criança foi encontrada morta. Logo acusaram um camponês Aprendiz Maçom de ser o assassino, por ter encontrado próximo ao corpo dela um objeto pessoal do mesmo e alegando-se que a vítima fora usada para a realização de rituais macabros.

O Aprendiz foi preso e ficou desesperado. Sabia que era um bode expiatório e que não teria a menor chance em seu julgamento, especialmente conhecendo o juiz local, famoso pelo rigor na aplicação da punição de pena de morte por enforcamento e contrário naquela região aos princípios maçônicos por desconhecê-los e acreditar ser incompatível com a fé que ele professava.

O Aprendiz pediu então que trouxessem um Mestre Maçom de sua Loja com quem pudesse conversar. E assim foi feito

Inconsolável, o Aprendiz lastimou-se com o seu irmão Mestre pela pena de morte por enforcamento que o aguardava, pois tinha certeza de que fariam de tudo para executá-lo. O Mestre Maçom acalmou-o, dizendo:

– Em nenhum momento acredite que não há solução. Um verdadeiro Maçom não teme a morte, tem sua fé inabalável e acredita na verdade e na justiça, e nunca se entrega à ideia de que não há saída.

– Mas o que devo fazer meu irmão?, perguntou o Aprendiz angustiado.

– Não desista, e o G.’. A.’. D.’. U.´. lhe mostrará um caminho inimaginável.

Chegando o dia do julgamento, o juiz, mancomunado com a conspiração para condenar ao enforcamento o pobre Aprendiz, quis ainda assim fingir que lhe permitiria um julgamento justo, dando-lhe uma oportunidade para provar sua inocência. Chamou-o e disse: – Já que vocês Maçons são homens livres e de bons costumes e que acreditam no tal G.’.A.’.D.’.U, vou deixar que a sua fé cuide desta questão. Num pedaço de papel, escreverei a palavra ‘inocente’; no outro, ‘culpado’. Você escolherá um dos dois, e o G.’.A.’.D.’.U.'. decidirá seu destino.

O Aprendiz começou a suar frio. Tinha certeza de que tudo aquilo não passava de uma encenação e que iriam condená-lo de qualquer maneira.

Tal que previra, ao preparar os pedaços de papel, o juiz escreveu em ambos a palavra ‘culpado’. Normalmente se diria que as chances de nosso acusado em questão acabavam de cair de 50% para rigorosamente 0%. Não havia qualquer possibilidade estatística de que ele viesse a retirar o papel contendo a inscrição ‘inocente’, pois este não existia.

Lembrando das palavras de seu irmão Mestre, o acusado meditou por alguns instantes e, com o brilho nos olhos que já mencionamos, lançou-se sobre os papéis, escolheu um deles e imediatamente o engoliu. Todos os presentes protestaram:

“O que você fez? Como vamos saber agora qual o destino que lhe cabia?” Mais que prontamente, ele respondeu: “É simples! Basta olhar o que diz o outro papel, e saberemos que escolhi o contrário.”

Descobrimos então que a chance que era de 0% era verdadeira apenas para os limites impostos por uma dada situação. Com um pouco da sagacidade, fruto da necessidade foi possível recriar um contexto onde as chances do acusado de superar a adversidade saltaram de 0% para 100%. Ou seja, a simples re contextualização da mesma situação permitiu a reviravolta da realidade.

*Por isso um dos ensinamentos maçônicos está na observação cautelosa da realidade das coisas, rompendo suas estruturas cristalizadas de ignorância que não reconhecem os diferentes componentes da realidade*.

*A impossibilidade pode ser uma condição momentânea e o verdadeiro Maçom que entende isso não desiste facilmente e sua força se expressa na possibilidade da sobrevivência diante das diversidades e de sua inabalável fé no Supremo Arquiteto do Universo*.

Adaptação de trecho do Livro: O segredo judaico de resolução de problemas: Iídiche kop de N. Bonder

junho 21, 2023

O OFÍCIO DOS DIÁCONOS NO REAA - Pedro Juk




Em 21/03/2023 o Irmão Aprendiz Gustavo Goulart, Loja Concórdia, 0368, REAA, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, solicita o que segue:

DIÁCONOS NO REAA

Primeiramente, digo que é uma honra poder estar lhe enviando um e-mail para tentar sanar uma dúvida.

Sabe-se que em breve teremos o ERAC no GOB-PR.

O tema escolhido para o nosso trabalho é sobre o trabalho dos Diáconos no grau de Aprendiz.

Porém, estou tendo dificuldades para encontrar literaturas acerca deste tema. Nos poucos livros que encontrei, a abordagem sobre os Diáconos é bem simples.

Na próxima quinta feira participarei de uma sessão de iniciação na Sede do GOB-PR, e soube que lá temos a disposição uma boa biblioteca.

Por este motivo lhe pergunto, poderia me indicar algum(s) livro(s) que seja robusto no que diz respeito aos Diáconos?

Desde logo agradeço e expresso votos de elevada estima e consideração.

COMENTÁRIOS:

A respeito dos Diáconos como oficias que participam dos trabalhos maçônicos, no Brasil não há muita literatura a respeito. Isso se explica porque dos três principais ritos de origem francesa por aqui praticados - REAA, Rito Frances ou Moderno e o Rito Adonhiramita - apenas o REAA utiliza o cargo de 1º e 2º Diáconos no desenvolvimento ritualístico dos seus trabalhos.           

Essa característica ocorre graças à influência dos maçons irlandeses da Grande Loja dos "Antigos" de 1751 na Inglaterra que indiretamente acabariam ajudando a construir o primeiro ritual para o simbolismo do REAA em 1804 na França.

No mais, para melhor compreensão do assunto remeto-o a estudar com afinco a história da Maçonaria Inglesa, particularmente sobre a demonstração da nova forma de trabalho ritualístico após a união das duas Grandes Lojas Rivais inglesas que ocorreu em novembro de 1813. Nesse contexto é possível se observar que os Diáconos, antigos oficiais de chão, foram inseridos na liturgia maçônica do ritual inglês pelos maçons irlandeses, então ligados, segundo eles, à forma antiga de trabalho.

Ainda posso lhe adiantar que no REAA a única função dos Diáconos na Loja é a de atuar como mensageiros na liturgia da transmissão da Palavra durante a abertura e encerramento dos trabalhos.

Nesse sentido, apesar da dialética de abertura expressa no ritual, eles têm apenas e tão somente essa função na Loja, não estando ali para atuar como ajudantes de ordem do Venerável e dos Vigilantes.

Historicamente, como os velhos oficiais de chão, os Diáconos relembram na Moderna Maçonaria os mensageiros que atuavam nos imensos canteiros de obras da Maçonaria Operativa. Essa é uma longa história e não pode ser confundida com Diáconos levando bilhetes, recados e outros expedientes nos atuais trabalhos da Loja na Moderna Maçonaria.

Entenda-se que no REAA o ajudante de ordens do Venerável Mestre é apenas o Mestre de Cerimônias, cabendo somente a ele levar expediente e mensagens durante os trabalhos, nunca os Diáconos, pois como visto, esses se fazem presentes no REAA só para atuar na liturgia da transmissão da Palavra.

Quanto à biblioteca, recomendo consultar o Irmão Hamilton Sampaio Jr no GOB-PR.


junho 20, 2023

HÁ COMO FUGIR DE SEU DESTINO? - Sidnei Godinho








Há muito se costuma repetir, quando algo nos acontece, de que foi o destino e de que não havia como ser diferente. 

Será isto realmente verdade??? 

É provável que a fragilidade humana, em assumir suas próprias falhas, conduza a um processo Inconsciente de sublimação do ato, para que a frustração de uma perda não seja tão dolorosa. 

Afinal, é muito mais convincente atribuir a outrem, e mesmo ao dito destino, a responsabilidade por seus atos. 

É preciso ter a convicção de que nós é que construímos o nosso destino. 

E muitos de nós, imputamos a ele tudo o que nos acontece e ainda acentuado, as coisas ruins do tipo, acidente, doença, desemprego, separações, desentendimentos familiares e até a pobreza. 

Não é correto pensarmos assim!!! 

A vida sempre nos responde na medida em que pensamos e agimos, através das nossas escolhas, bem feitas ou não. 

Uma escolha é sempre um ato consciente, racionalizado dentre as opções disponíveis. 

Portanto, nós mesmos é que somos responsáveis pelo que nos acontece, e ninguém mais, pois, colhemos os frutos do que plantamos, doces ou amargos. 

Um destino de paz e felicidade é construído através de ações do bem. O destino de tristeza e dor advém de nossas omissões comprometedoras, de pensamentos negativos e atos lesivos a nós e ao nosso próximo. 

Por vezes basta nada fazer para atrair a negatividade da omissão por não intervir no socorro alheio. 

Ou mesmo aquela ação do mínimo solicitado, quando se deixa escapar a oportunidade da contribuição voluntária por uma simples posição ideológica contrária. 

Talvez seja bom entender que o destino se escreve, primeiramente, na nossa mente, com as consequências das nossas decisões e atitudes, para depois chegar às situações da vida cotidiana. 

Para os céticos, o Universo conspira.

Para os Cristãos, a FÉ é a redenção.

Para os filósofos, aqui se colhe o que aqui se planta. 

E para você??? 

Faça deste um dia de reflexões e de autoafirmação, na busca de concretizar um destino de sucesso e de Paz.



junho 19, 2023

PARTE, PARTÍCULA, TOTALIDADE - Aldo Vecchine



“O homem é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”. Sartre.

Quantas partículas formam uma parte e qual é a proporção de cada parte na totalidade? O que haveremos de conceber como totalidade num cenário onde a humildade e a caridade são requisitos determinantes e divisores de águas?

Certamente, o contexto é que indicará, informará e formará a tese investigativa. Se a análise for, e é, em ambiente maçônico, sobre o povo maçônico, encontraremos amiúde diferentes escores que corroborarão com a trilogia encimada.

Se tomarmos, por analogia, da biologia a premissa de que as células formam os tecidos; os tecidos formam os órgãos; os órgãos formam os aparelhos e o conjunto dos aparelhos forma o organismo... Cada iniciado, cada construtor social, é partícula no universo maçônico, é parte na sua Loja e é totalidade na execução do prometido.

“Cada pessoa é uma escolha absoluta de si”. J. P. Sartre.

E no canteiro de obras a arte de desbastar tomará novo sentido, pois a situação, as atualizações e a compreensão do devir, mais os ajustes e encaixes, fomentarão a responsabilidade do obreiro consigo mesmo, com o seu compromisso, com o próximo e a nossa Sublime Instituição.

Que as alegorias sejam suficientes e reveladoras nessa formação inicial. Que a Iniciação seja bastante significativa para colocar o neófito num lugar entre todos, por pertencimento, pela fraternidade. Que cada viagem seja vivenciada, entendida e internalizada para produzir bons efeitos.

Assim e enquanto o emérito não chega, enquanto o desbaste não alcança a polidez pretendida, a construção prossegue no ritmo e nas batidas do maço sobre o cinzel, com a devida afiação e zelo para retirar apenas o excesso sem o risco de rachar o bloco todo, sucumbindo-se, peremptoriamente, o trabalho delineado.

Nesse comenos o saber fazer destaca e enaltece o esoterismo. A observação e a comunicação vinda dos decanos asseguram a exatidão e a regularidade dos movimentos. E é nesse sentido que os ensinamentos são transmitidos ajudando o aprender a ser. Ser senciente, livre e existente em plenitude com seu cabedal, sua singularidade e sensibilidade, na melhor sintonia e em cada situação, com todos os irmãos.

Sartre ensinou-nos: “Nós não somos originariamente nada, apenas seres totalmente livres”. 

Destacando-se a dimensão do saber: “Sabei-o pouco, mas sabei-o bem”, não é a quantidade, mas a qualidade que distingue o obreiro dedicado e comprometido com os progressos sugeridos, e feito as peças de um quebra-cabeça, cada parte ocupa seu lugar completando-se a imagem figurada. Nessa analogia a forma e os encaixes são definidos pelo conhecimento.

Ainda que das colunas ou no oriente, o “Ir mais longe”, ganha significativa proporção na medida em que o construtor se esforça no trabalho intelectual; silencia e exercita, articula e edifica o entendimento e a sabedoria. Compondo e recompondo outras possibilidades aprofundando na busca de mais elementos que trarão, à superfície, mais luminosidade e clareza.

Sob “A canícula do meio-dia”, foi a luz interior do investigador, aquele facho intermitente, abrasador e nutriente de energias o fator determinante e imanente que o capacitou a buscar algo a mais, por todas as linhas e em todos os traçados, reencontrando a ponta do novelo que o conduz desde o ocidente, ao setentrião e também ao sul, pois mesmo que se afaste do eixo, saberá voltar.

Sabe também que é “Um recipiendário, mas pensante”, por natureza e destino. Sabe que sabe, pois o sei que nada sei, é apenas o outro lado da mesma joia. E o nada, diferente do não-ser, também é totalidade no mesmo discurso.  A propósito disso Sartre já ensinou: “É o pensamento, a consciência que faz toda a originalidade e a dignidade humana dentro da natureza”.

Duas obras e seus conteúdos foram utilizados nessa reflexão: Ser livre com Sartre, editora Nobilis, 2019, Frédéric Allouche; e Caminhos para a sabedoria, editora Vozes, 2022, karl Jaspers. E é na diversidade da filosofia condensada nelas, que ousamos recortar da segunda, o seguinte: “É no limite das possibilidades humanas que podemos aprender a significação daquilo que se tenta velar ou ignorar”. K. J.

Queremos crer que a Maçonaria, Ordem Iniciática, que objetiva tornar feliz a humanidade, pelo amor e aperfeiçoamento dos costumes, preparando os seus eleitos para esse propósito, sob uma fundamentação indubitável e revolucionária, tridimensional por necessidade, ou seja: esotérica, filosófica e catequética.

Esotérica porque as filigranas são compartilhadas a partir dos mais experientes. Nossos Mestres, pelo exemplo e zelo, disseminam a exatidão das batidas no cinzel intelectual, mais a mentalização do perfil que se pretende finalizar, mas que permanece escondido na bruteza e dureza da pedra.

Filosófica porque já não somos operativos, mas especulativos, ou seja, articuladores de proposituras e conjecturas, possíveis e necessárias por causa da nossa necessidade de pensar e compreender tudo o que se apresenta velado, por concluir e/ou acrescentar.

Catequética porque sem o ritual e o arcabouço legal/regimental, correremos o risco de desviarmos da construção, dos ensinamentos e do esoterismo, ou seja, dos parâmetros estabelecidos desde antigamente. Certamente esse é o motivo de a Maçonaria Simbólica conter os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.  

“Por sofrível e desgastante que possa ser, nós não podemos nos abstrair do outro”. F. A.

Agora, e por isso, a imagem do três, cinco e sete (3, 5 e 7), faz todo o sentido para nós. Uma Loja necessita, para ser per perfeita, que três a governe; cinco a componha e, sete a complete. Temos necessidade da perfeição, aquela contida no seis total e final, resultante da expressão matemática em tela, e por meio dos números primos iniciais: divisíveis apenas por si mesmo e pela unidade.

Acontece que é na multiplicidade que o produto, mesmo que se altere os fatores, confere-lhes significação e proporção; isso porque suas propriedades, iguala, distribui, associa, neutraliza e inverte o resultado. Em uma Loja a composição, a sapiência, o conjunto da obra será total na medida em que a distribuição for maior que o resto.

Admitamos a complexidade da formação maçônica, bem como a simplicidade dos elementos disponibilizados para isso. Só a persistência do estudioso o conduzirá ao êxito. Também a dedicação trará bons frutos, considerando-se que a materialidade dos fatos seja superada pela espiritualidade desenvolvida, pois o maçom é um ser em construção.

“Não conseguimos esgotar o que é o ser-humano pelo ser-sabido dele, mas apenas podemos vivenciá-lo na origem de nosso pensar e agir. Basicamente, somos mais do que conseguimos saber sobre nós mesmos. K. J.

E antes mesmo de prepararmos o encerramento, para abraçar toda essa imperfeita reflexão, trazemos o momento do nascedouro. Queremos crer, ser ele, o instante de maior liberdade para o iniciante. Sem nenhuma noção do que virá, o neófito congrega em si o mais elementar significado de “Livre e de bons costumes”, haja vista a pureza desse momento.

“O objetivo de nosso combate pela liberdade é nos libertar de todas as formas de alienação. Os valores que escolhemos devem ir nesse sentido, sem esquecer o outro. Pois também somos responsáveis por aquilo que nos tornamos em relação aos outros, ou seja, defensores ou não de sua liberdade por meio de nossas ações”. F. A.

Agora, sim, encaminhamos nossas conclusões lembrando de um saudoso professor e filósofo que bradava: “Sou a parte no todo e a totalidade na parte. Por isso coopero comigo e com todos”. E por essa sentença articulava seu filosofismo, sua sabedoria com seus alunos, levando-os a questionar os limites do conhecido, sempre na busca do desconhecido.

Fica para todos os obreiros da Arte Real esses insights como ponto de partida para outras construções que abrigarão novas possibilidades. E que seja assim mesmo. Que haja crítica, acertos e reformulações para haver progressos. Que tragam mais luzes e clareza para essas linhas mal traçadas, pois nossa incumbência é a mesma do venerável, a abertura.