julho 05, 2023

TAÇA SAGRADA – UMA QUESTÃO CONTROVERTIDA - Pedro Juk



O desenvolvimento dessa peça de arquitetura está direcionado para sentido do esclarecimento de questões constantemente debatidas e interrogadas que envolve a prova denominada a “Taça Sagrada” dentro dos rituais maçônicos e, nesse particular, o que abrange o Rito Escocês Antigo e Aceito no contexto das Obediências Maçônicas brasileiras.

Embora o arrazoado esteja especificamente dirigido aos praticantes do escocesismo, urge, pelo caráter controverso do fato, ser citado o Rito Adonhiramita, principalmente pela prática litúrgica do ato em questão que, na forma praticada em nosso país pelos integrantes do escocesismo, está intimamente ligada ao Rito citado.

É bem verdade que há abrangência da prova da Taça Sagrada em outros Ritos, independente dos que até aqui foram citados, todavia, essa prova está também associada a outras particularidades que se distinguem na forma e conteúdo da prática, a exemplo do Rito Francês, ou Moderno, onde na França, a prova é determinada como a “Taça e a Bebida Amarga” – este Rito emprega apenas a bebida amarga.


QUESTÃO CONTROVERSA NO SENTIDO DE PUREZA E ORIGEM HISTÓRICA.

A TAÇA SAGRADA NO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO.


Um exame mais acurado dos tradicionais rituais escoceses aponta para a inexistência da teatral prova da Taça Sagrada tal qual se conhece atualmente em certos rituais brasileiros. Todavia, quando se aborda o que é tradicional, fica o alerta de que é aconselhável a adoção de um método que dispense pesquisas em antigos rituais escoceses deturpados impressos no Brasil. Em tese, é saber separar o autêntico do duvidoso. Um fato que dever levado, sobretudo em consideração, é o de que, embora o nome sugestivo do Rito seja Escocês, ele é na verdade de origem francesa. Atinar para esse detalhe é por demais importante para que se evitem conclusões apressadas e desprovidas de um compromisso mais sério para com o que é autêntico e verdadeiro.

No tradicional escocesismo, as Taças da Boa e Má Sorte, ou das Vicissitudes – esse é o nome mais condizente ao se tratar do Rito Escocês Antigo e Aceito – estarão dispostas para observação do candidato na Câmara de Reflexão, tal qual um alerta de alto significado moral, sendo que, mais tarde, durante o cerimonial de Iniciação, quando o candidato for inquirido sobre as suas impressões de quando esteve encerrado “naquele lugar sombrio”, o Venerável dará as explicações necessárias sobre o significado simbólico do conteúdo das taças, sem que com isso, haja qualquer necessidade do candidato sorver desta ou daquela bebida - basta a explicação e, neste caso, o simbolismo está muito longe de ser confundido com um trote ou coisas do gênero.

Dito isso, pergunta-se: então qual a razão dessa prova teatral estar tão disseminada em certos rituais escoceses no Brasil?

É inexoravelmente claro que a origem desta anomalia, em termos de rituais escoceses, está ligada diretamente aos primórdios da Maçonaria regular no Brasil.

Sob a ótica de uma análise mais profunda, depara-se com a questão dos ritos praticados à época no Brasil, mais precisamente no início do século XIX.

Sem querer se desviar do objetivo desta lauda, se faz cogente a compreensão de que a primeira Loja regular no Brasil foi fundada em 1.801, no Rio de Janeiro, com o título distintivo de Loja “Reunião”, movida pela liturgia e com fins político-sociais, sob a égide - segundo o manifesto de 1.832, do Grão-Mestre José Bonifácio – do Grande Oriente da Ilha de França, representado pelo Cavaleiro Laurent, que presidira a sua instalação.  (Ilha de França (Ille de France) é o antigo nome da ilha Maurício, uma pequena ilha situada no Oceano Índico, no Arquipélago das Mascarenhas, atualmente pertencente à Grã-Bretanha. Foi descoberta pelos portugueses, em 1.505, dominada pelos holandeses e pelos franceses, a partir de 1.710, tornando-se posteriormente colônia britânica.)

Essa Loja trabalhava no Rito Francês, ou Moderno.

Dois anos depois, de acordo com o mesmo manifesto, o Grande Oriente Lusitano, desejando propagar, no Brasil, a verdadeira doutrina Maçônica, nomeou para esse fim, três delegados, com plenos poderes para criar Lojas Regulares no Rio de Janeiro, filiadas àquele Grande Oriente. Foram então criadas as Lojas “Constância” e “Filantropia”, as quais, junto com a “Reunião” serviram de centro comum para todos os Maçons existentes no Rio de Janeiro – ainda de acordo com manifesto de 1832, do Grão-Mestre José Bonifácio.

As Lojas “Constância” e “Filantropia”  trabalhavam no Rito Adonhiramita.

A se notar que quando se trata de Maçonaria Regular no Brasil naquela época, o Rito Escocês Antigo e Aceito era tido como um ilustre desconhecido, até por que, a despeito de suas origens francesas e com o nome de Rito de Heredom  com seu sistema de vinte e cinco graus, somente tomaria o nome de Escocês, como rito, a partir de 31 de maio de 1.801, data de sua fundação na cidade de Charleston, na Carolina do Sul, nos Estados Unidos da América do Norte, inaugurando na oportunidade o sistema de trinta e três graus. Seria somente a partir do ano de 1.832, isto é, trinta e um anos após a fundação da Maçonaria regular brasileira, que o Rito Escocês entraria oficialmente no Brasil instalado pelas mãos de Francisco Gê Acayaba de Montezuma – o Visconde de Jequitinhonha. Até então, e isso é importante ressaltar, a Maçonaria regular brasileira praticava apenas dois ritos: o Francês, ou Moderno e o Adonhiramita.

Dadas essas breves e superficiais considerações, pode-se notar que a prática litúrgica inicial da Maçonaria em nosso país era feita através dos ritos denominados então como Ritos Azuis (Moderno e Adonhiramita), enquanto era desconhecido o Rito Vermelho (Escocês). Entretanto, com o advento da instalação do sistema escocês com seus trinta e três graus no Brasil, a partir de 1.832, o fato despertou substancial interesse dos maçons brasileiros que, atraídos talvez pelo novo sistema de trinta e três altos graus, consolidaram o escocesismo em um curto espaço de     tempo, a tal ponto de que, em um futuro não muito distante, o Soberano Grande Comendador do Grau 33.º seria também o Grão-Mestre da Maçonaria simbólica brasileira.

Em face desses acontecimentos, era impresso, já em 1.834, no Rio de Janeiro, através da Tipografia Impressora de Seignot – Plancher & C. º, à rua do Ouvidor, n. º 95, para o Grande Oriente Brasileiro, o “Guia dos Maçons Escossezes ou Reguladores dos Três Gráos Symbolicos do Rito Antigo e Aceito” (a grafia é da época). Todavia, esse Regulador, ou Ritual (o primeiro dito escocês impresso no Brasil) absorveu, talvez ao gosto dos que já achavam na época esta ou aquela passagem mais bonita, dentre outras, a prova teatral da Taça Sagrada, bem conhecida através dos Rituais Adonhiramitas.

É bem provável que esteja aí o germe dessa controvérsia nos Rituais Escoceses de algumas Obediências brasileiras que perduram arraigados até os dias atuais assumindo uma espécie de norma consuetudinária que tem causado verdadeiros alaridos de protestos ao se mencionar qualquer probabilidade em se extirpar tal prática do Rito Escocês.

A questão, pela sua relevância, será abordada em momento oportuno no decorrer da explicação da exegese do símbolo.

A propósito de esclarecimento e sem querer entrar no campo da prolixidade, é assaz importante se compreender que o tema abordado se prende aos conceitos ritualísticos dos rituais escoceses, portanto, nenhuma crítica é feita a doutrina de qualquer outro Rito.

Da mesma forma, fica aqui robustecida a observância de que qualquer pesquisa séria deverá ser feita em rituais tradicionais de origem francesa ou alguns outros bons rituais, brasileiros ou não, desde que isentos de enxertos e deturpações. De nada vale para qualquer conclusão, se tomado por base, estejam certos rituais ditos antigos, porém repletos de invencionices e deturpações. Nem sempre a antiguidade dá um caráter de autenticidade. É preciso método para tal. A questão controversa aborda a pureza de um Rito e não a beleza deste ou daquele procedimento ritualístico.


A QUESTÃO CONTROVERSA  QUANTO AO SENTIDO DA PROVA.


Foi durante o período de transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa, ou dos Aceitos e a sua afirmação como Moderna Maçonaria, séculos XVII, XVIII e XIX que a Sublime Instituição se inspirou nas antigas civilizações, buscando símbolos, lendas e alegorias, inclusive da própria Bíblia, procurando adaptar-se a certos princípios, retirando o melhor da essência do misticismo, da doutrina moral e da filosofia, buscando com isso formar um arcabouço doutrinário especulativo, que fez, e ainda dela faz, uma Instituição eclética.

A Maçonaria como construtora social, observa e é depositária de uma grande parte da manifestação do pensamento humano, todavia, isso não dá o direito a certos Maçons pensarem que qualquer tema abordado pela Ordem é fato germinado no seio da Instituição. A Maçonaria observa, colhe e ensina, mas não se apropria do grande relicário cultural artístico e científico da humanidade.

Com relação ao simbolismo da “Taça Sagrada”, é inquestionável a sua antiguidade, entretanto, não é uma exclusividade da Ordem, muito menos da uma pretensa existência da Instituição nos tempos imemoriais. A Maçonaria tem uma história documental de aproximadamente setecentos anos, mas nunca uma existência de cunho milenar.

Em quase todas as manifestações do pensamento religioso e dos mitos antigos, existem alusões a respeito da “Taça”, ora aparecendo como um cálice, ora como um vaso, porém, apesar de algumas diferenças quanto a sua forma, conteúdo e lendas, há uma concordância que se converge sempre para certa semelhança.

O simbolismo da taça já era conhecido nos mistérios do Antigo Egito, onde nas iniciações era dado ao neófito conhecer três tipos de bebida em uma taça triangular. Nos mistérios de Eleusis eram apresentadas duas taças ao iniciando, ao mesmo tempo em que era informado de que em uma delas havia veneno. Não tivesse ele medo da morte, deveria apanhar uma delas e sorver o seu conteúdo. Na mística hebraica, a Taça do Amargor era o símbolo da cólera de “DEUS”. Na Antiga Grécia o neófito era conduzido à frente de um trono chamado de Trono da Impostura, no qual uma bela mulher tinha às mãos um cálice que continha uma bebida que nunca se esgotava.

O sentido era de que se  quisesse ir além, seria necessário ingerir aquela bebida. No Cristianismo, por exemplo, se apresenta a lenda do Santo Graal, cujo receptáculo havia sido usado por “JESUS CRISTO” na celebração da última ceia e que, mais tarde, seria o mesmo vaso com o qual José de Arimateia teria recolhido o sangue de uma das feridas do “CRISTO” crucificado.

Por aí se pode ter ciência desse antigo simbolismo ligado às tradições da antiga civilização, sem, contudo, se imaginar uma precoce existência da Maçonaria desde aqueles tempos. No intuito de concretizar o seu arcabouço doutrinário, foi a Maçonaria que adotou, dentre outros, esse antigo simbolismo.

A despeito dessas observações, o controverso disso tudo é a prática teatral usada atualmente em certos rituais escoceses no Brasil. O belo conteúdo moral aplicado pelas alegorias lendárias acabou sendo substituído mais por uma espécie de trote, do que pela lição expressa pelo seu verdadeiro significado. Na verdade, essa teatralização mais intimida do que esclarece o candidato.

Uma exposição racional dos fatos está acima de certos “juramentos” e atos truculentos de uma retirada intempestiva que muitas vezes está cercado de certos lances de sadismo por parte de alguns protagonistas, assistidos por uma assembleia risonha que se deleita com a cena bem ao gosto dos adeptos do trágico e do cômico de um caricato espetáculo dantesco.

Ainda dentro do contraditório, no que tange à Maçonaria, que não é uma religião, aparece o termo “sagrado” relacionado à prova da taça. Pergunta-se: o que há de santo, sacro, ou sagrado que se possa relacionar a duas taças contendo líquidos amargo e doce? Ainda mais: que espécie de juramento é esse sobre uma pretensa “Taça Sagrada” para se guardar silêncio, se o candidato antes de receber a Luz, prestará o verdadeiro juramento maçônico que engloba todo o compromisso dele para com a Sublime Instituição? É cristalino e verdadeiro que compromisso solene é apenas aquele feito diante das Três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria ( O Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso)   antes de se receber a Luz. Haveria, pois, outro juramento tão importante em uma cena teatral cercada por ameaças e goles de bebidas doces e amargas acompanhado de uma truculenta retirada, sem que o pobre candidato possa ao menos saber o que se passa à sua volta? Então, que juramento de honra é este feito sobre uma taça que ora contém uma bebida doce e ora uma bebida amarga? Onde está o ato santificado?

Ora, não seria mais aproveitável e condizente com o ato uma explicação lógica e racional sobre os limites dos prazeres da vida evitando-se que essa doçura não viesse a se tornar em um paladar acre? Ou a ingestão de líquidos em prol de uma pretensa exposição de coragem e um compromisso de guardar sigilo das provas é tão mais aplicável? Afinal, durante o verdadeiro compromisso, aquele prestado no Alt:.  dos JJur:., o maçom não jura tudo isso?

Há que se compreender que uma Iniciação Maçônica possui profundidade espiritual para a transformação vivida e verdadeira do homem, calando, sobretudo, no seu intelecto.

Aos adeptos de uma pretensa tradição, que mais é na verdade um enxerto no Rito fica mais uma vez o alerta de que a prova teatral da Taça Sagrada não faz parte do primitivo escocesismo. Havia sim, duas taças, mas que ficavam na Câmara de Reflexão e não saiam de lá. Uma continha um líquido amargo e a outra um doce. Quando era mencionado o conteúdo da Câmara ao candidato, o Venerável dava as devidas explicações sobre o simbolismo do líquido amargo e doce, ressaltando que este é um antigo símbolo, presente inclusive na Bíblia. No escocesismo original não existe a prática do candidato ingerir o conteúdo simbólico, muito menos ser o protagonista principal de uma prova truculenta e de um juramento qualificado como sagrado que de santo nada existe.

CONCLUSÃO.

Pelas origens da Maçonaria estarem interligadas em um passado remoto à proteção do clero e ao cunho religioso dado ao trabalho pelas corporações de ofício medievais, é bastante plausível que o contexto da alegoria que envolve as taças da boa e da má bebida em sua tradição tenha se  originado – na Maçonaria – nas tradições dos Salmos, 74,9: “Há na mão do Senhor, uma taça, de vinho espumante e aromático. Dela dá a beber e até às vezes hão de esgotá-la. Hão de sorve-la os ímpios todos da terra”. Para os antigos povos, principalmente os hebreus, uma taça era o símbolo justiceiro de “DEUS” (a Taça do Amargor).

Na Maçonaria em geral e no escocesismo em particular, as Taças da Boa e da Má bebida, como os demais símbolos, representam os opostos, frequentemente apresentados na vida humana e que acabam por determinar a própria evolução espiritual do homem: o vício e a virtude, o bem e o mal, o espírito e a matéria, etc. Simbolizam também a boa e a má sorte, mostrando que aqueles que se afastam do bem à procura de efêmera doçura dos prazeres dos vícios, terão, depois, de suportar os amargores dos revezes adquiridos como resultado das suas atitudes.

A despeito do escrito, reforça-se que não se está aqui fazendo crítica a quaisquer dos demais ritos maçônicos. Também não é um texto laudatório, mas sim objetiva apontar aspectos controversos da história e da filosofia relacionada a alguns rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito em vigor no Brasil.

O que aqui se buscou, foi um ensaio interpretativo apontando para questões controversas, estando, portanto, longe de ser conceituado como a afirmativa de uma opinião final.

O tema é vasto e requer muita atenção e profundidade de estudo para que se possa obter um resultado conclusivo, sério e transparente, todavia, alguns aspectos aqui abordados subtraem uma melhor observação, cujo objetivo é mostrar o verdadeiro sentido da mensagem simbólica, e não um despojado entendimento de que o ato é uma simples prova de coragem aplicada durante o ato iniciático.

Dando por fim a esse arrazoado, segue a transcrição de um precioso texto decalcado do Ritual de Aprendiz Maçom, R:.E:.A:.A:., organizado pelo saudoso Ir:.  Theobaldo Varoli Filho no ano de 1.973, onde o Venerável dá a devida explicação sobre o simbolismo das Taças da Boa e da Má Bebida (Taça das Vicissitudes) ao candidato durante a cerimônia de Iniciação. É interessante atentar para o texto de forma que se possa avaliar o que é mais importante: a mensagem moral, ou uma prova de truculência que mais assusta do que ensina.

“É certo que a vida pode trazer-nos amarguras inesperadas, menos por nossa culpa do que pelas circunstâncias que nos rodeiam. Nós, maçons, buscamos enfrentar com serenidade as boas e más vicissitudes. Sabemos que durante a nossa existência teremos de provar as taças de boa ou má bebida, como não desconhecemos que todo aquele que se afasta da virtude, buscando apenas prazeres, provará do amargor do fel, que resulta de uma doença precária e ilusória. Por isso, os maçons buscam moderação no usufruir dos prazeres da vida”.

ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO:

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LANTOINE, A., Le Rite Escossais Ancien et Accepté – Lyon, 1.934.

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SÉGUR, L. G., Les Franc-maçons, Paris, 1.887.

LINDSAY, R. S., The Scottch Rite for Scotland, Edimburg, 1.957.

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CASTELLANI, J., O Rito Escocês Antigo e Aceito, A Trôlha, Londrina, 1.988.

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DIVERSOS, As Cores Vermelhas do Rito Escocês, A Trôlha, Londrina, 1.994.

CARVALHO, F. A., Ritos e Rituais, Vol. III, A Trôlha, Londrina, 1.993.

BOUCHER, J., A Simbólica Maçônica, Pensamento, São Paulo, 1.979.

SPOLADORE, H., Caderno de Pesquisas n.º 03, A Trôlha, Londrina, 1.991.

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PARANÁ, G. O., Ritual de Aprendiz Maçom - REAA, Curitiba, 1.990.

JUK, P., Instruções Para a Loja de Aprendiz, REAA, Curitiba, 2.002.

______, Manual de Procedimentos – Grau 01, REAA, Curitiba, 2.001.

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julho 04, 2023

RESPEITÁVEL x RESPEITOSO(A) - Newton Agrella



Há algum tempo que venho sido tomado por um certo incômodo vernacular, mas sobretudo no que diz respeito à sua natureza semântica.

Como é sabido, num sistema linguístico, a semântica é o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados.

Nessa linha de raciocínio vale a pena fazermos uma breve consideração vocabular.

Referência é feita aos adjetivos *respeitável* e *respeitoso(a).*

Grosso modo estes adjetivos definem-se como seguem:

*Respeitável* significa merecer respeito.

*Respeitoso*:significa marcado ou caracterizado pelo respeito.

Todavia do ponto de vista conceitual  *Respeitável* traz consigo o significado de: digno(a) de respeito; de elevada importância; de altíssima consideração; de venerabilidade e distinção. 

O adjetivo é  especialmente utilizado quando nos referimos a uma relevante entidade ou instituição.

No caso por exemplo de uma Loja Maçônica a utilização da titulação Augusta e *Respeitável* Loja Maçônica....,  precedendo o nome da mesma, é a forma consagrada e majoritariamente utilizada pela Maçonaria no que diz respeito à língua portuguesa em nosso país.

Outrossim, o adjetivo *Respeitoso(a)* encerra em sí um significado voltado para a questão do "sentimento"  que leva alguém a tratar outra pessoa com consideração, cortesia,  comportamento respeitoso.

Traz consigo um caráter mais pessoal e em muitos casos, na língua portuguesa, quando se refere à questão etária.

Para fechar o pacote vale registrar que ambos os vocábulos derivaram-se do Latim *"respectus"* proveniente do verbo *"respectāre"* ,  composto pelo prefixo *re-*, em função de reiteração e ênfase apontando dedicação, e *spectāre* indicando a ação de apreciar, olhar ou observar.




julho 03, 2023

AUMENTO DE SALÁRIO - Valdemar Sansão











O verdadeiro aprendizado acontece depois que você acha que já sabe tudo!

AUMENTO DE SALÁRIO – É a elevação de um Grau a outro, que lhe é imediatamente superior.

Segundo os graus, estas cerimônias têm outras designações como: passagem, elevação, exaltação, iniciação, eleição, nomeação, investidura, consagração.

Na Maçonaria de Ofício, ou seja, nas corporações operativas, o salário era real e feito pelo senhor, ou patrão, das obras.

Na Maçonaria atual, a dos Aceitos, ele é simbólico e recebido na forma de ensinamentos e doutrinação, na Coluna que lhe compete, através do Vigilante dessa mesma Coluna.

O aumento de salário depende da aprovação da Loja e envolve, evidentemente, certas condições de merecimento e avaliação do aperfeiçoamento do Obreiro.

Isto é medido através dos trabalhos prestados, da freqüência às Sessões da Loja e das provas de conhecimento do Grau em que o Maçom se encontra.

Ninguém pode ter aumento de salário sem ter mérito e sem ter adquirido os conhecimentos necessários para isso, devendo ser justificados por uma conduta irrepreensível no mundo maçônico e no mundo profano, além da idade exigida constitucionalmente e pelo interstício necessário.

As Instruções louvadas em um guia seguro (Ritual do Grau) são aulas expostas didaticamente pelas quais vamos nos redescobrindo até despertar nosso interior.

É a compreensão das leis da vida maçônica.

Aprendemos a conhecer-nos, a crer em nós mesmos e a crer no Grande Arquiteto do Universo, que é Deus.

Aprendemos que o homem é alguma coisa mais do que um simples animal que traja roupas e que a sua natureza íntima e divina, ainda que a sua divindade se conserve oculta, adquire o hábito da Virtude, a aluminação da Inteligência e a purificação da Alma que o faz refletir, pois, sem isso, o homem seria um animal entregue aos mais grosseiros instintos.

Com o Cinzel, dá forma e regularidade a massa informe da Pedra Bruta.

Por ele aprende que a Educação e a Perseverança são precisas para chegar a perfeição; Aprende, também, que o homem não é simplesmente um fenômeno da vida ou um joguete da casualidade, mas uma potência e o Criador e o destruidor da casualidade.

Por meio de sua força interior vencerá sua indolência, libertar-se-á da ignorância.

Então sentirá amor por tudo o que vive e se constituirá em poder inexaurível para o bem da espécie, neste mundo de permutas, de confusões, de vicissitudes e de incertezas.

Aprende que o objetivo da Maçonaria para o futuro é que o homem aja, então, com toda a justiça e ame seu irmão como a si mesmo, porque ele e seus semelhantes são parte de um todo e que o todo é “Uno”; ele não pode ferir o seu irmão sem ferir-se.

Desbastadas as asperezas, a Pedra Bruta é transformada em Pedra Polida.

Recomenda o Ritual do 1º Grau que todos os membros de uma Loja devem se esforçar quanto possível, para compreenderem as vantagens dos ensinamentos das instruções.

Apresenta mensagens que devem ser assimiladas para que tenham sempre em mente o dever de pautarem seus atos individuais de todos os dias, por esse rico e antiquíssimo manancial de sabedoria.

O Aprendiz tendo recebido a luz sabe que seus pensamentos, palavras e obras devem demonstrar, sempre, a consciência de seu juramento ao ingressar no Templo do Ideal cujo serviço aceitou livremente, sem constrangimento, nem restrição de espécie alguma.

A vontade de evoluir oportuniza lhe chances de crescimento e de progresso.

O uso persistente e tenaz dessa faculdade soberana permite-lhe modificar sua natureza, vencer todos os obstáculos.

Aprende a meditar, a concentrar-se, sintonizando com as esferas superiores e com as nobres aspirações.

Conhecendo passo a passo, a extensão dos recursos que nele germinam, fica deslumbrado, não mais teme o futuro, tampouco se julga fraco.

Conhece, agora, o templo Simbólico, e sabe perfeitamente que ele não se constrói com pedras e madeiras, mas com Virtude, Sabedoria, Força, Prudência, Glória, e Beleza; enfim, com todos os elementos morais que devem ser ornamento dos Maçons.

Consciente de si mesmo compreende seus recursos latentes, sente crescer dia-a-dia suas forças na razão de seus esforços, acredita na possibilidade de ele próprio alterar seu presente e seu futuro.

Assim ele há de se conservar firme na vontade inabalável de enobrecer-se e elevar-se.

Atrai, com o auxílio de seus Mestres e de sua inteligência, riquezas morais e constrói para ele uma personalidade melhor.

Concluídas as instruções de Aprendiz, diz-se que o instruendo está apto a galgar o segundo degrau para elevação, representada como subida, fazendo-se reconhecer que todos somos Irmãos, aprendendo a eliminar o apego, o egoísmo, a intolerância, a intranquilidade, a desarmonia.

Sabe também que tudo que recebemos de Deus, devemos irradiar para todos, sem buscarmos qualquer recompensa.

Em se tratando de “aumento de salário” o maçom é honrado pela concessão do ingresso em uma nova coluna, trocando os instrumentos de trabalho para melhor se ajustar na busca de outras luzes.

É um erro julgar que podemos fazer tudo sozinho, sem o auxílio dos demais.

É também um equívoco acreditar que o trabalho só sairá bom se formos nós os executores.

Nenhum de nós sabe e pode tudo, nosso saber e poder são relativos.

Todos nós estamos na condição de Aprendizes, em regime de interdependência, destinados a aprender uns com os outros o que ignoramos.

Também deverá ser apurado o que o candidato haja feito em favor dos semelhantes, quais os cuidados que tenha dispensado ao seu próprio aprimoramento pessoal.

Uma advertência que poderíamos considerar é de que não pode ser homem de bem aquele que não é justo.

Contudo, não deixamos de ser injustos e imperfeitos pelo simples fato de abraçarmos os princípios maçônicos: “Um erro muito frequente entre alguns neófitos é o de se julgarem “justos e perfeitos” após alguns meses de estudo”.

Há nessa pretensão de não mais necessitar de conselhos e de se julgar acima de todos, uma prova de incompetência, pois não atende a um dos preceitos da Ordem: tornar-se sempre um elemento Humilde, de Paz, de Concórdia, de Harmonia no seio da Maçonaria.

Não são apenas os novos adeptos; muitas vezes, alguns mestres, antigos e experientes, equivocadamente, também pensam assim.

Depois, quando, no término do trabalho de aperfeiçoamento moral, simbolizado pelo desbastar das asperezas dessa massa informe, a que chamamos Pedra Bruta, pela Fé e pelo Esforço, conseguimos transformá-la em Pedra Polida, então sim, deve ter lugar o “aumento de salário” concedido com consciência tranquila, a fim de que, mais tarde, tais decisões não venham a dar causa a arrependimentos.

Apta à construção do edifício, podemos descansar o Maço e o Cinzel, para empunharmos outros utensílios, subindo a escala da hierarquia maçônica, ou seja, recebendo o merecido AUMENTO DO SALÁRIO.



julho 02, 2023

DOIS DE JULHO INDEPENDÊNCIA DA BAHIA E DO BRASIL


Hoje na Bahia comemoramos o 2 de julho, dia no qual se concretizou a independência do Brasil proclamada por D. Pedro em São Paulo no 7 de setembro de 1822. 

Tropas portuguesas permaneciam na Bahia. 

O primeiro tiro que levou ao 2 de julho de 1823 aconteceu no dia 25 de junho de 1822 na Cidade de Cachoeira próxima à Salvador. 

Para libertar definitivamente a Bahia e o Brasil, por indicação do Min. José Bonifácio, D. Pedro contratou o General Pedro Labatut, francês de origem, famoso por servir o Exército de Napoleão. 

O General chegou ao Rio de Janeiro de lá embarcou para a Bahia em 14 de julho de 1822, porém não conseguiu desembarcar em Salvador, pois a armada portuguesa o impediu, e ele desembarcou em Maceió.

Chegou na Feira do Capuame (hoje Dias D'Ávila em 28.10.1822). 

Foram travadas 16 batalhas, dentre elas Funil, Itaparica, Pirajá e Itapuã. Houve muita luta, muito sangue derramado para que em 02.07.1823 a Bahia e o Brasil conquistassem  definitivamente a liberdade com a expulsão das tropas portuguesas. 

O corpo do General Labatut encontra-se enterrado no Museu do Panteão, ao lado da Igreja de São Bartolomeu no Bairro de Pirajá em Salvador. 

Todos que lutaram essa guerra, desde D. Pedro, soldados e o povo baiano merecem nossa gratidão e respeito.  

Precisamos em nome deles e da sua coragem preservar essa liberdade tão duramente conquistada neste episódio honroso da História do Brasil e da Bahia e tão pouco conhecido pelos brasileiros."

NASCE O SOL A 2 DE JULHO BRILHA MAIS QUE NO PRIMEIRO É SINAL QUE NESTE DIA ATÉ O SOL É BRASILEIRO! 

 Fala-se aos 4 ventos, clamam-se pelo fim dos preconceitos, mas até hoje  quase ninguém quer aceitar que hoje é a verdadeira independência do Brasil e claro  foi na Bahia , se tivesse sido em outra localidade tava tudo certo. 

Mas foi na Bahia.

Orgulho de ser BAHIANO.

GLESP - 96 ANOS - Adilson Zotovici



Behring, o vanguardeiro

Com sua visão transcendental

Trouxe projeto pioneiro

Instituição fundamental


Edificar grande canteiro

Face a evolução social

A estimular livre pedreiro

E exortasse missão fraternal


Um intento alvissareiro

Reconhecido, universal

A contento e brasileiro


Noventa e seis anos afinal !

“*Grande Loja*”, por derradeiro...

Morada da Arte Real  !


julho 01, 2023

TERCEIRA VIAGEM: A PROVA DO FOGO - Almir Sant’Anna Cruz


O Fogo é o mais sutil, ativo e puro dos quatro elementos. Para os antigos, era considerado o princípio ativo, germe e origem da geração, fonte de energia, princípio animador e masculino, em oposição à Água. Para os hermetistas, representava as qualidades quente e seca, análogas ao verão, ao meio-dia, à cor vermelha e à inteligência brilhante. Na Maçonaria, o elemento Fogo é emblema da purificação iniciática, do fervor, do zelo e da Verdade.

O fogo foi adorado e considerado sagrado por inúmeros povos, seja como símbolo de vida ou da força animadora, seja diretamente como fogo aceso, seja como Sol, ou ainda como a própria divindade.

Na liturgia da Igreja Católica, o fogo novo simboliza Cristo, a Luz do Mundo, na cerimônia da Vigília Pascal, onde, no vestíbulo ou fora da Igreja, obtido pelo atrito de pedras, o novo fogo vai iluminar todo o templo. Esta cerimônia lembra a figura de Cristo ressuscitado, pelo que se acende o Círio Pascal até o dia da Ascensão.

Na Bíblia, no Antigo ou no Novo Testamento, a palavra fogo é usada, tanto no sentido literal quanto no figurado, com inúmeros significados e em diversos contextos, todos de denso sentido simbólico. Recolhemos alguns deles:

1 - O fogo do inferno, que queima, no sentido figurado, tanto a alma, que é espiritual, quanto o corpo, que é material, sem consumi-los. 

2 - O fogo como símbolo da providência divina:

Êxodo 13:21: E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite.

Salmos 78:14: De dia os guiou com uma nuvem, e toda a noite com um clarão de fogo.

3 - O fogo testando as virtudes:

Zacarias 13:9: E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro: ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo, e ele dirá: O Senhor é meu Deus.

I Coríntios 3:13: A obra de cada um se manifestará: na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.

4 - O fogo simbolizando a purificação moral e espiritual:

Malaquias 3:2: Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem substituirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros.

5 - O fogo como manifestação de Deus:

Gênesis 15:17: E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumo, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades.

Êxodo 3:2-4: E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia em fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés .

6 - O fogo associado ao Espírito Santo:

Atos 2:3-4: E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

7 - O fogo associado ao Espírito Santo e a um batismo superior ao da água:

Mateus 3:11: E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.

Lucas 3:16: Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

Portanto, embora todas as religiões cristãs utilizem a Água para as suas cerimônias de iniciação, batismo e purificação, seu próprio Livro Sagrado, a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, indica que existe um batismo superior, pelo Espírito Santo e pelo Fogo.

Na terceira viagem o recipiendário é conduzido por um dos Expertos por um caminho sem qualquer obstáculo e totalmente silencioso, pedindo passagem ao chegar ao altar do Venerável Mestre.

Para a Escola Oculta, o completo silêncio da terceira viagem representa a parte superior do mundo astral, contígua ao mundo celeste. Leadbeater in A Vida Oculta na Maçonaria, assim se expressa: Atrás de si ficou o mundo inferior; diante dele estão as alegrias do céu, e no espaço intermediário reina o silêncio.

Ao chegar ao altar do Venerável Mestre, será purificado pelo elemento Fogo, última purificação simbólica. Com a purificação pelo Fogo, o recipiendário chega, enfim, à Iniciação pura, à purificação superior, livrando-se das nódoas dos vícios do mundo inferior.


Do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

junho 30, 2023

TRAÇANDO PARALELOS - Newton Agrella



A originalidade é uma expressão única e singular da capacidade humana de tornar absolutamente autêntica sua engenhosidade e seu processo de criatividade.

Particularmente no campo das Artes, da Música e da Literatura essa condição se torna evidente quando provoca reações que podem variar de humor conforme o perfil de seu ineditismo.

A originalidade está implicitamente associada ao modo de expressar-se, mas sobretudo à forma independente e individual de expor uma pintura, uma escultura, uma música ou uma obra literária. 

Ela se substancia a partir do momento que consiga traduzir "legitimamente" um novo conceito ou uma nova ideia que impacte o espectador, o ouvinte ou o leitor, e cuja essência seja capaz de convencê-los disso.

A originalidade remete-nos desde os textos bíblicos, quando a mesma se manifestava como inequívoco qualificativo do Pecado.

Sim, o Pecado Original, no universo cristão, dá conta sobre a autenticidade da imperfeição humana.

De qualquer forma é uma propriedade que traz consigo o caráter de ser genuína, inimitada e inteiramente própria em sua compleição.

No que diz respeito às peças literárias, o que mais se vê no dia a dia é o famoso "chupa e cola" ; 

Pois é, esse tal do "chupa e cola" ou a  desaforada "não-citação de fontes e autores" de que se valem muitos dos que se atrevem a mergulhar no terreno da escrita são extremamente prejudiciais à saúde cultural.

Por mais infame que possa parecer, no ambiente maçônico é algo um tanto rotineiro, aventureiros travestidos de escritores procederem cópias fiéis de inúmeros textos, sem ao menos se preocuparem em dar um mínimo de caráter pessoal aos mesmos.

Imprescindível lembrar, que além de  indevido, este tipo de expediente em nada contribui para um suposto desenvolvimento intelectual do "pseudo-autor".

Ainda no que tange à natureza da originalidade, espera-se de um artista, músico, escultor ou escritor  um mínimo de esforço, discernimento, reflexão e arbítrio para elaborar sua obra na esfera de sua verdadeira capacidade intelectual.

O pensamento e o raciocínio são os agentes transmissores desse exercício, os quais encerram em sí um caráter incomparável.

No que contempla a originalidade no campo literário, o texto deve possuir um mérito dialético e argumentativo, alicerçado antes de mais nada, pela ética, como diretriz pelos princípios que motivam e disciplinam o comportamento humano,   manifestando o respeito da essência das normas e valores, atinentes a qualquer realidade social.



junho 29, 2023

A INSTRUMENTAÇÃO PARA A EVOLUÇÃO DO MAÇOM


 


Praticamente a grande maioria dos escritores maçons, em algum momento de suas obras, dedicaram importantes e substanciais linhas, senão trabalhos e livros inteiros, a discorrer sobre a importância da simbologia para a Maçonaria.

Torna-se praticamente impossível referir-se a Ordem Maçônica, sem aludir aos símbolos que a representam e àqueles utilizados no processo de repasse de sua doutrina e ensinamentos.

Cada vez que se analisa um símbolo referente à Maçonaria, esta análise por mais que seja baseada em outras tantas já publicadas, será normalmente original.

A visão que se possui sobre um símbolo é sempre pessoal e intransferível.

São estas múltiplas visões que dão a Ordem Maçônica o caráter dinâmico e de adaptação aos novos tempos e as novas ideias que constantemente surgem.

Segundo Fernando Pessoa, em nota preliminar ao seu livro “Mensagem”, o entendimento e a assimilação das mensagens contidas em um símbolo dependem de cinco qualidades ou condições consideradas básicas:

. Simpatia;

. Intuição;

. Inteligência;

. Compreensão ou Discernimento;

. Graça ou Revelação.

Na Maçonaria a maior parte dos símbolos e metáforas que são utilizados, provêm da antiga atividade profissional e corporativa dos pedreiros medievais.

Construtores que eram, principalmente de Igrejas, grandiosas Catedrais, sólidos castelos e fortalezas, os pedreiros medievais corporativamente organizados constituíam a Maçonaria Operativa que evoluiu para as Organizações Maçônicas Simbólicas e Especulativas contemporâneas: “Embora não haja documentação que o comprove, deve-se admitir que os Maçons Operativos, os franco maçons, usavam seus instrumentos de trabalho como símbolos de sua profissão, pois caso contrário não se teria esse simbolismo na Maçonaria Moderna.

A existência desse simbolismo é a mais evidente demonstração de que houve (…), contatos diretos entre os Maçons Modernos e os franco maçons profissionais, e demorados o suficiente para que essa transmissão se consolidasse (…)” (PETERS, 2003, passim).

O escritor Ambrósio Peters, nos coloca ainda que aqueles que seriam os símbolos principais e essenciais a existência da atual Maçonaria Especulativa (Simbólica).

Cabe destacar também que são destes símbolos que os Maçons metaforicamente retiram os princípios básicos e os seus principais ensinamentos éticos e morais: “O trabalho dos franco-maçons, limitava-se aos canteiros de obras e à construção em si.

Os instrumentos que eles usavam eram o esquadro, o compasso e a régua para determinar a forma exata das pedras a serem lavradas, o maço e o cinzel, para dar-lhes a forma adequada, e o nível e o prumo, para assentá-las com perfeição nos lugares previstos na estrutura da obra.

Eram, portanto três diferentes grupos de instrumentos, cada qual representando uma etapa da obra (…)” (Idem).

Podemos, com base no trabalho desenvolvido pelos pedreiros medievais, concluir que existiam três diferentes grupos de instrumentos operativos.

Cada um destes instrumentos estava ligado a uma das fases da construção. Cada fase exigia do construtor um nível diferente de conhecimento para a sua execução e finalização:

. A medição ou especificação do tamanho e do formato das pedras;

. O desbaste, adequação das formas e o polimento para dar o acabamento adequado às pedras;

. A aplicação e o assentamento das pedras na construção.

Estes conjuntos de instrumentos que são necessários a execução de cada etapa da obra, indicam na Ordem Maçônica, simbolicamente os diversos Graus que nela existem.

Cada Grau, representa na Maçonaria, todo um conjunto de conhecimentos que são necessários ao aperfeiçoamento e ao crescimento moral e ético dos Maçons.

Uma das muitas certezas que a vida em sociedade e a evolução do conhecimento humano nos deram, foi a de que nem todos os homens assimilam de maneira semelhante as mensagens da Simbologia Maçônica.

Como se coloca em alguns rituais: devemos pensar mais do que falamos.

A reflexão e a consequente meditação são essenciais a compreensão da linguagem maçônica..

O avanço pelos diversos graus, portanto não deve ser considerado pelo tempo que está sendo empregado, não devem ser conduzidos pela pressa.

O que deve ser levado em conta é o esforço individual e o desprendimento pessoal de cada Maçom, conforme o seu potencial e capacidades para poder galgar com segurança e sabedoria os degraus da Escada de Jacó.

Bibliografia:

BONDARIK, Roberto – A Interpretação e o Entendimento dos Símbolos.

Escolas do Pensamento Maçônico. In: A Trolha: Coletânea 6. Londrina: A Trolha, 2003. p.141-151;

CAMPANHA, Luiz Roberto – A Filosofia e a Análise dos Símbolos. In: Caderno de Pesquisas 20. Londrina: A Trolha, 2003. p.33-40;

PESSOA, Fernando – Associações Secretas.

PETERS, Ambrósio – O Simbolismo dos Instrumentos.

junho 28, 2023

É UM LIVRO ... - Adilson Zotovici




Tua vida é um livro obreiro

Que escreves passo a passo

Lida dum Livre pedreiro

Descreves a cinzel e maço


No capítulo primeiro

Vives ufano embaraço

No negrume derradeiro

Do fim do profano laço


Breve a Luz ao teu canteiro

Atilas tua pedra em compasso

Folha a folha medra o roteiro


Em verso, prosa, flor e aço...

História e o labor verdadeiro

_O teu estilo...teu traço_ !


junho 27, 2023

TOLERÂNCIA E RESPEITO - Sidnei Godinho



Os dias e principalmente aquilo que colhemos dele pelo convívio com outros irmãos, nos proporcionam verdadeiras pérolas, que fundamentam fartas reflexões.

Em nome da boa fraternidade que nos propomos, muitas vezes clamamos por Tolerância e devido talvez as constantes invocações, parece que o termo adentrou para a vala comum, na defesa de nossos interesses.

Muitas vezes em que o termo foi “invocado”, parecia mais apropriado substituir pelo respeito.

Parece meus Amados Irmãos, que estamos substituindo gradativamente o sentido do termo respeitar, mesmo quando discordando, para no seu lugar, invocar o termo tolerância.

E aqui nos envolvemos com os contraditórios, nas diferentes situações que estamos diariamente sujeitos no mundo globalizado de hoje.

Vejamos um contexto bem atual (rede sociais) e por razões conhecidas, são estabelecidas regras para a circulação de postagens nos diferentes grupos maçônicos.

Estabelecidas as regras, a energia geradora daquele grupo, vai se consolidando... consolidando... consolidando até que a Egrégora reinante do grupo, envolva a todos.

De repente para exemplificar... alguém propaga indevidamente, um tipo de postagem contrária as regras do grupo e naturalmente, colherá prós e contras.

O que é isso que sentimos na forma de um desconforto gerado?

Mesmo quando não nos apercebermos disso, sentimos a quebra da Egrégora do grupo.

Para que uma Egrégora seja reinante, é necessário que todos respeitem a liberdade de cada um viver e conviver com suas preferências, sejam elas quais forem, noutro local que lhe seja apropriado, longe do grupo exatamente para não conflitar a predominância energética do grupo.

Porém e mesmo discordando, o grupo DEVE RESPEITAR a preferência daquele membro.

Mas vejam como fica desafiante se tentarmos encaixar na situação, o termo Tolerar.

Tolerar seria relevar aquele tipo de postagem?

Tolerar seria permitir que aquele tipo de postagem contrária as regras do grupo continue ocorrendo? Somente uma vez pode?

Tolerar é se omitir diante da situação?

Por isso fico pensando, qual a significação que estamos atribuindo para o termo Tolerar?

Quando educamos nossos filhos PELO EXEMPLO, toleramos seus tropeços advindos das incompreensões, nos precavendo em todos os sentidos e com todos os recursos disponíveis, para que aqueles erros sejam corrigidos, não é assim?

E quando um mestre erra não mais pela incompreensão, mas pelo velho hábito de permanecer “plugado” em determinadas energias?

O que devemos fazer?

Desafiante não é mesmo?

Por isso que vamos nos plugando em determinados grupos que agregam para nossos interesses, e silenciosamente nos afastamos, EMBORA REPEITANDO, daqueles grupos com outros interesses de postagens, rogando... que a sagrada liberdade de escolha, não nos torne intolerantes.

Respeito e Tolerância.

Como preserva-los em essência, na fraternidade que nos propomos?

A consciência e o conhecimento hão de nutrir a Sabedoria para decidir entre a Tolerância e continuar amargurado ou o Respeito à adversidade e seguir em frente em outro grupo que tenha afinidade. 

Boas Reflexões meus irmãos. 



junho 26, 2023

A FALSA SABEDORIA - Anestor Silva



Não se trata de novidade a palavra “achismo”.

Já tinha ouvido sua citação por eloquentes oradores, mas confesso, nunca me tinha atentado em saber o seu real significado até que certo dia, ao ouvir mais uma vez, alguém afirmar que “pau é pedra,” só porque, na sua concepção o fato era tido como verdadeiro, dei-me conta rapidamente de que a conotação daquela palavra não me era assim tão estranha, mas, ao contrário, eu já vinha convivendo, havia algum tempo, com o que o “achismo” significa.

O citado vocábulo tem como sentido a convicção de quem, de modo irresponsável, sustenta um fato tipificado em norma ou em instruções similares, de outra forma baseando-se em meras suposições.

Ele retrata uma cultura que, a despeito da incerteza, leva o indivíduo a crer que o modo como os fatos devem ser corretamente interpretados não seja o da interpretação das regras que o tipificam, o do conhecimento da verdade, mas o que se baseia no auto entendimento e na convicção pessoal.

É o vocábulo que se atribui às pessoas que fazem comentários ou sustentam posições com pontos de vista definidos, com argumentação firme, porém, sem propriedade.

Por isso o achismo é a demonstração do falso conhecimento.

É o erro que alguém comete em afirmar convictamente algo que acha ser verdadeiro, correto, com base apenas em suposições.

Com todo esse arcabouço em torno de si o “achismo” ainda se completa passando-se por mecanismo ilusório, enganoso acerca da verdade.

Se prestarmos um pouco mais de atenção no comportamento das pessoas quando estão fazendo parte de uma reunião, de uma assembleia, de um plenário etc., notaremos, com facilidade, quem é "achista" entre os que fazem uso da palavra.

Ele normalmente é o que mais pede aparte e, por consequência, é o que mais vezes faz uso da palavra tentando assim persuadir os que o ouvem a aceitarem seus argumentos.

Embora incorporando o falso juízo da verdade, por não ter conhecimento absoluto do conteúdo daquilo que afirma, o “achista” é sempre categórico na sustentação de seus argumentos, da maneira que os supõe ser, por considerar os que o ouvem como menos esclarecidos.

Mas na escala dos valores intelectuais essa situação acha-se invertida, pois o “achista” é aquele que acha que sabe, porém, o suporte, o ponto de apoio daquilo que ele pensa nunca é o conhecimento, mas as conclusões a que ele chega segundo sua própria convicção.

A prova disso são as evidências. Certo dia, em uma Loja Maçônica interiorana, realizava-se uma sessão em que na Ordem do Dia tratavam os Irmãos da “filiação” de um candidato oriundo de outra Loja, portador de “Quite Placet” não vencido (o maçom só se torna irregular depois de vencido o prazo de validade do seu “Quite Placet”), quando alguém invocando claramente o princípio do “achismo”, levantou a voz para dizer que o processo em discussão deveria ser tratado como “regularização” e não “filiação.”

Diante do que foi dito, o desenrolar dos trabalhos, que até àquele momento era normal, tumultuou-se de repente em meio a inúmeros apartes.

Muitos falavam fazendo uso do “achismo.” Outros tantos, os eruditos, falavam citando bases legais como argumentos de seus pontos de vista e só depois de um bom tempo de acalorado debate concluiu-se acertadamente que o caso tinha mesmo que ser tratado como “filiação.”

*Naquele dia muito se trabalhou e pouco se produziu...*

Houve perda de tempo por conta de uma intervenção inócua, desprovida de cunho legal e motivada pelo exercício do chamado “achismo”, tendo sido seu protagonista o responsável pela grande confusão, pela discussão desnecessária o que, no final, quase levou ao erro os que se encontravam no caminho de um trabalho sério, justo e perfeito.

*Em nome da vaidade muitos querem reverberar refletindo falsa sabedoria...*

Este fato parece coisa banal, de pouco interesse, mas quando se refere a trabalhos litúrgicos da maçonaria o mesmo assume proporções desastrosas para a Ordem uma vez que a adoção do incerto e duvidoso é o desprezo à sabedoria e ao conhecimento dos princípios, normas e regulamentos que regem a mencionada instituição.

E aí eu próprio me pergunto: "Por que intervir, por que querer se impor sem ter conhecimento da verdade"??? 

... "Vaidade de Vaidades"... 



junho 25, 2023

REENCONTRO FILOSÓFICO - Newton Agrella







Há muito que não se viam.

Houve época em que seus encontros eram até relativamente mais frequentes e amistosos.

Porém, no campo da dialética, cada um sempre manteve-se fiel aos seus princípios.

Coincidentemente ambos encontraram-se, graças a um desses lances da vida,  justamente na acrópole, entre as colunas do templo.

Sofisma e Falácia antes de trocarem algumas palavras entreolharam-se e discretamente esboçaram um breve sorriso de satisfação.

Sob uma abóbada estrelada que testemunhava o encontro, as primeiras considerações entre si, eram o prenúncio do espírito contestador que invariavelmente colidiam em distorções filosóficas.

Como não poderia deixar de ser, a Falácia trazia consigo o argumento que  se tipifica através de uma espécie de mentira, que se sustenta sob uma lógica frágil e inconsistente de um conceito que se pretende provar como real e inequívoco.

Via de regra, por meio da persuasão, com o claro propósito de convencimento.

Por sua vez,  o Sofisma valia-se de um expediente cuja essência é uma mentira, propositada disfarçada e maquiada por argumentos consistentes e verdadeiros, para que possa parecer legítima e real.

Nos estudos da Lógica, a Falácia se evidencia como um erro de raciocínio ou argumentação, mas que parece estar correto. ...

Por outro lado, o Sofisma é um engano, um argumento inválido, uma ideia equivocada ou ainda, uma crença falsa.   

Desse fortuito encontro que se reveste de um princípio filosófico, que abriga os interesses humanos,  estabelece-se um processo de argumentação como forma de convencer sobre a verdade, de maneira incontestável.

Fica perceptível que existem formas de convencimento, a partir de argumentações incorretas ou ilegítimas. 

Tais formas nos convencem, mas não necessariamente da verdade, e recebem a alcunha de Falácias ou Sofismas, dependendo das circunstâncias em que protagonizam seus papéis.

Caso fôssemos  transitar pelo universo jurídico da matéria, caberia deixar no ar a seguinte indagação:

"A  Culpa ou o Dolo seriam respectivamente atinentes à Falácia ou ao Sofisma ?"



junho 24, 2023

POESIA MATEMÁTICA - Millor Fernandes




Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.


Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base…

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides.


Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela.

Até que se encontraram

No Infinito.


“Quem és tu?” indagou ele

Com ânsia radical.

“Sou a raiz quadrada da soma dos quadrados dos catetos.

Mas pode chamar-me Hipotenusa.”


E falando descobriram que eram

O que, em aritmética, corresponde

A alma irmãs

Primos-entre-si.


E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Retas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.


Escandalizaram os ortodoxos

das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito.


Romperam convenções newtonianas

e pitagóricas.

E, enfim, resolveram casar-se.

Constituir um lar.

Mais que um lar,

Uma Perpendicular.


Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e

diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.


E casaram-se e tiveram

uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

se torna monotonia.


Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum…

Frequentador de Círculos Concêntricos

Viciosos.

Ofereceu, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.


Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo,

Uma Unidade.

Era o Triângulo,

chamado amoroso.

E desse problema, ela era a fracção

Mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a

Relatividade.

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade.

Como aliás, em qualquer

Sociedade.