setembro 01, 2023

INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO MAÇÔNICA - Charles Boller

Especula-se que: 

O universo é resultado de projeto inteligente com finalidade definida; 

— Não é o resultado de ocasionais ocorrências aleatórias; 

— Que a vida tem propósito significativo; 

— Que é lógico pensar na vida com intenção de preencher finalidade determinada, planejada.

Na contramão disso, o homem percebe que muitas de suas atividades são dispersivas e alienantes no uso da vida. 

Para a maioria a vida não tem sentido, principalmente na forma correta de usufruir o que realmente a natureza intenciona no viver bem.

Na atividade do homem não se concebe que se faça o que é certo em um aspecto da vida, enquanto comete erros em outros. 

Como fará em sua caminhada para não perder a visão de sua vida em sentido lato? 

Como deve agir para usufruí-la como um conjunto indivisível?

O homem que se iniciou nos mistérios da Maçonaria descobre na vida a existência de maravilhas a serem exploradas, questionadas e aplicadas para usufruir de sua existência da maneira mais equilibrada possível, com o propósito do Criador. 

Pela educação maçônica, o homem deixa de ser um morto-vivo de comprometida visão da vida.

A Maçonaria e seus mistérios oferecem ferramentas e instruções que removem barreiras e possibilita o usufruto da vida em sua plenitude.

O senso do mistério alimenta emoções residentes na psique e que são trabalhados nas atividades maçônicas.

A ciência em forma de arte traduz a emoção fundamental para o progresso pessoal.

São mistérios que não inspiram medos, o maçom faz o bem porque isso é parte de sua nova vida e não porque tem medo de algum castigo ou almeje hipotético prêmio depois de morto.

Se aplicada passo-a passo, de forma simples, a essência da vida é aprendida e, se for da vontade do adepto, liberta-o da escravidão, do servilismo ao sistema desumano de vida, que o espreme e suga toda a sua força ativa até sobrar apenas bagaço. 

Ao sujeitar a ambição ao controle racional, liberta-se do pior tipo de servilismo, pior até que a própria fome e pobreza. 

Ao inspirar coragem e decisão no adepto, a filosofia da Maçonaria conduz àquele que passa a confiar em si mesmo e conduz seus próprios passos ao prazer de conquistar a vitória sobre si mesmo. 

Ao sentir que é capaz de conduzir a si mesmo torna-se apto a conduzir aos que ainda não despertaram.

As noções filosóficas da Maçonaria auxiliam na absorção do conhecimento que livra do obscurantismo e da alienação ao trabalho. 

São aplicadas apenas umas poucas horas semanais em treinamento e convivência que eliminam anos de frustrantes tentativas de acertos e erros até obter a visão necessária para dar sentido à vida. 

Não se trata de entendimento intelectual, político ou crença, mas de um sentido misterioso, ainda inexplicável, de intuição individual que dá sentido à vida. 

Cada adepto usa da Maçonaria para dar o seu próprio sentido para a vida sem ficar batendo cabeça em tentativas inúteis e fantasiosas.

O sucesso pessoal não é devido exclusivamente à força ou ao conhecimento, mas diz respeito à vontade férrea, de coragem para agir. 

O entendimento de como caminhar por conta própria advém do conhecimento esotérico que conduz ao sucesso pessoal, familiar, social e profissional. 

A convivência maçônica inspira o conhecimento intuitivo e o fortalecimento do caráter que conduzem o maçom, que inicia a si mesmo, a uma consciência superior. 

Não um super-homem, mas um homem renascido de sua própria decisão de fazer de si mesmo uma criatura em permanente evolução.

Ao trabalhar em si mesmo, na pedra, o adepto participa na construção de um templo social onde ele é incentivado a ocupar cada vez mais cargos, públicos ou privados, de modo a conduzir a sociedade por bons pastos. 

Não se trata de conduzir gado de corte por fértil campo de engorda e deste ao matadouro da exploração, mas de propiciar oportunidades razoáveis de vida sem eliminar as diferenças e os desníveis que são característica de civilizações saudáveis. 

É a sabedoria salomônica aplicada no dia-a-dia do cidadão. 

O homem sábio é muito mais forte que o bruto, pois o conhecimento aplicado com sabedoria é muito mais forte. 

O conhecimento provê a base sólida da construção pessoal que se afasta da alienação do sistema de coisas humano pela aplicação do pensamento sábio.

Maçonaria é arte. 

É uma ciência que permite construir o intelecto cuja compreensão possibilita o despertar, o abraçar da iluminação que vem da racionalidade conduzida por balanceada espiritualidade - diferente de religiosidade. 

A luz que o maçom busca é o aperfeiçoamento pessoal em seu dia-a-dia. 

A Maçonaria faz deste entendimento o ponto essencial a ser alcançado. 

É mero coadjuvante o esforço das atividades maçônicas restantes ao objeto central que é a evolução do homem. 

O estado de iluminação inspirado pela Maçonaria destrói a mascara da ilusão do sistema de coisas humano que manipula separações e quebra de relações que conduzem a alienação da vida para objetivos fúteis e inúteis. 

No instante em que o maçom abre os olhos e vê a luz do que é certo e errado torna-se sensato. 

Desaparece a ilusão e ele deixa de experimentar o que está errado na tentativa de acertar, torna-se mais objetivo e acerta no primeiro ensaio muito mais vezes. 

Some o ilusionismo com seus truques que submetem o homem a um servilismo voluntário em virtude da perda de noção da realidade.

Surge nova consciência quando a iluminação esclarece a diferença entre religiosidade e espiritualidade. 

Fica claro o entendimento de que a crença em verdades absolutas ditadas pelos sistemas religiosos não torna seus adeptos pessoas espiritualizadas. 

Também não é espiritualizado o maçom que não iniciou a si mesmo, que insiste em aprisionar-se na execução de rituais sem penetrar em seus significados. 

A intenção da educação maçônica é criar a identidade própria do indivíduo afastado de influência ditatorial externa e aproxima-lo da dimensão espiritual que já reside dentro dele. 

Esta dimensão existe em todos. 

Basta que acorde. 

Não está contida no pensamento, mas numa dimensão diferente e inspirada na intuição. 

Por isso a filosofia maçônica incentiva à diversidade de pensamentos. 

Procura-se provocar no homem a obtenção de matéria prima para construir pontes evolutivas que progridem aos saltos sobre os precipícios da ignorância. 

Não se admitem limitações ao pensamento como é objetivo dos sistemas alienantes de crenças. 

O fato de a espiritualidade surgir em larga escala fora do sistema de crenças é novo para a sociedade em geral, mas é usado faz séculos pelos maçons que iniciaram a si mesmos nos mistérios da arte da Maçonaria.

A iluminação, o andar com as próprias pernas inspirado pela Maçonaria desperta a compaixão que se traduz num homem dotado de menos cobiça; torna-o mais alegre porque a sabedoria o afasta do sofrimento; alimenta a igualdade onde se produzem mais amigos unidos pelo poderoso laço do amor; inspira a ternura que remove a discriminação que produz tantos inimigos. 

Afasta ignorância, falsas imaginações, desejos viciantes e estultícia, todas nascidas na própria mente, manifestadas pelas ilusões e manipuladas pelo ego.

A mudança estimulada pela educação maçônica repele os desejos da mente e afastam os sofrimentos, lutas inúteis alimentadas pela cobiça, estultícia e ira. 

Maçom que se iniciou é homem armado com espada - a sua língua, a sua oratória —, e escudo, - o conhecimento de seu cérebro. 

Pela iluminação, - kant, Aufklärung - anda com os próprios pés. 

Está sempre pronto para o bom combate com mente treinada para alcançar o objetivo de construir uma sociedade humana dentro dos desígnios estabelecidos pelo Grande Arquiteto do Universo.

*Bibliografia:*

1. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, A Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas, ISBN 978-85-370-0158-5, primeira edição, Madras Editora limitada., 320 páginas, São Paulo, 2007;

2. SILVA, Georges da, Budismo, Psicologia do Autoconhecimento, 222 páginas, Editora Pensamento Limitada, São Paulo;

3. TOLLE, Eckhart, Um Mundo Novo, o Despertar de uma Nova Consciência, tradução: Henrique Monteiro, ISBN 978-85-7542-313-4, primeira edição, Editora Sextante Limitada, 266 páginas, Rio de Janeiro, 2005.




agosto 31, 2023

LANDMARKS - CLASSIFICAÇÃO DE PIKE




A palavra inglesa "landmark", literalmente, significa marco de limite, marco miliário; figuradamente, significa ponto de referência. No idioma vernáculo, podem ser usados os termos limite, ou lindeiro.

Limite, do latim: lime, itis, designa a linha de demarcação existente entre terrenos, ou territórios contíguos; o marco, a baliza, a raia, ou fronteira natural, que separa um país de outro; o ponto máximo, que não se deve, ou não se pode ultrapassar.

Lindeiro, com a mesma origem etimológica, designa o que é relativo a linde, ou seja, limite, raia, marco, baliza.   Também se usa a forma landmarque.    

O vocábulo "landmark" surge, pela primeira vez, na compilação dos Regulamentos Gerais de 1721,incluídos na Constituição de Anderson, onde o 39º e último dos regulamentos diz:

"Cada Grande Loja anual tem o inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento, ou redigir um novo, em benefício da Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis  os antigos landmarks....

". A Assembléia Geral de 25 de novembro de 1723, da Premier Grand Lodge, todavia, resolvia substituir o termo "landmark" por "rule", que significa REGRA e que já iria constar nas edições seguintes do Livro das Constituições.

Desta maneira, pode-se concluir que a Regras, ou Landmarks, não eram aquelas expressas nos Regulamentos Gerais, mas, sim, normas não escritas.    

Considerando, então, que existiam esses limites, que regulam a atividade e o comportamento ético dos obreiros, consuetudinários, ou já expressos na Constituição de Anderson, surgiram, a partir da metade do século XIX, diversas classificações de landmarques, com maior ou menor número deles.

E a maior parte não resiste a uma análise crítica profunda, pois a maior parte dos conceitos nelas alinhavados não representais reais antigos limites, ou antigos e universais costumes da Ordem, os quais, paulatinamente, foram sendo estabelecidos, como regras básicas da atuação maçônica.    

Na realidade, para que uma regra seja considerada um verdadeiro limite, ela deve ser imemorial, espontânea e universalmente aceita, o que, na verdade, não ocorre com a quase totalidade das classificações conhecidas (mais de 60).

O conceito de imemorial, significa que uma regra, para ser um lindeiro, deve ter uma antiguidade suficiente para que não se possa estabelecer, no tempo, a sua origem. O de espontânea, significa que um verdadeiro landmarque não tem autor conhecido, mas foi gerado pelo uso da comunidade.

O conceito de universal aceitação, significa que uma norma só aceita em algumas comunidades não é um legítimo limite, mas, sim, uma regra particular de conduta.  

As cinco principais classificações são as de Findel, Pike, Mackey, Pound e Berthelon. A de Pike é, de longe, a mais sensata de todas.    

Classificação de Pike    

Albert Pike (1809-1891) foi um célebre maçom norte-americano, nascido em Boston. Poeta, advogado e militar --- que chegou ao generalato --- foi Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos.

Sua obra principal é "Morals and Dogma", de 1871, onde estida os Altos Graus, um a um.

Sua classificação de landmarques foi resultado de um amplo estudo e de uma arrasadora e erudita crítica contra o emaranhado de falsos limites, apresentados pelos autores da época, incluído, aí, o seu discípulo Albert Gallatin Mackey. Para Pike, os landmarques são apenas cinco:    

1º - A necessidade dos maçons  reunirem-se em Lojas ;    

2º - O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes ;    

3º - A crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura ;    

4º - A cobertura dos trabalhos da Loja ;    

5º - A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçônico.    

Pouco há a comentar sobre um trabalho como esse, bastando dizer o seguinte: todas as regras relacionadas são verdadeiros landmarques; e é a única classificação conhecida em que isso ocorre. Mesmo que alguns autores contestem uma ou outra dessas regras, nenhum deles pode deixar de reconhecer essa verdade. Subsidiariamente, é forçoso que se note que, nesta classificação, não consta a iniciação exclusiva de homens, que sejam livres e não mutilados.    

Pela sua erudição maçônica, pela síntese absoluta que faz em sua relação de limites, e por relacionar somente verdadeiros landmarques, Pike, com sua compilação, é que deveria merecer a maior credibilidade dos maçons.

Lamentavelmente, não é isso que acontece nos países latinos, onde a classificação de Mackey reina soberana, sendo, quase sempre a única conhecida e tomada como lei incontestável, embora seja uma das mais falhas e mais mentalmente castradoras de todas as compilações existentes, tendo vinte, das vinte e cinco regras, que não são verdadeiros landmarques e não tendo prestígio nem dos EUA, país natal de Mackey, onde só quatro das cinquenta e duas Grandes Lojas a aceitam.

agosto 30, 2023

COMONITÓRIO MAÇÔNICO- Sérgio Quirino



Espero não estar ferindo qualquer suscetibilidade religiosa, pois estou me apropriando de um termo ligado, há mais de 15 séculos, à Fé Cristã.

Em verdade, a palavra “comonitório” vem do latim Commonitorium esignifica “notas”, “apontamentos”, simples frases que remetem a algo maior. A consolidação da palavra no Cristianismo ocorreu através de São Vicente de Lerins.

Há poucos dados biográficos acerca desse padre gaulês do século V. Sua notoriedade foi conquistada por sua obra “Comonitório: regras para conhecer a fé verdadeira”, que, além de fortalecer a fé, propunha-se ao combate dos hereges, além de manifestações bem perspicazes sobre alguns papas.

Seu pequeno livro destaca-se pela forma sucinta e objetiva por meio da qual defende, exorta e, sobretudo, esclarece as instruções da Igreja Católica.

Mas o que isso tem a ver com a Ordem Maçônica?

Simplesmente Tradição! São Vicente de Lerins teve a sensibilidade de perceber que estavam “agregando” estória, símbolos, liturgias, ritos, usos e costumes regionais às homilias. Em vez de produzir grandes Tratados de Perfeição Sacerdotal, elaborou um pequeno livro que provocava no leitor a reflexão sobre como começou e em que ponto estava.

Assim também o maçom, no salutar hábito da especulação consciente, percebe naturalmente os desvios e a necessidade de se realinhar, resultando no fortalecimento dos Sãos Princípios.

O COMONITÓRIO MAÇÔNICO FAZ-SE NECESSÁRIO PARA DESMISTIFICAR

E DESPERSONIFICAR, PRINCIPALMENTE, A DESVINCULAÇÃO RELIGIOSA.

Observamos que, dos Velhos Mestres aos Jovens Aprendizes, todos têm algo para “completar” ou “melhorar” a Maçonaria e que, muitas vezes, até não agem com má intenção. O Obreiro chega com a “bagagem” de outra instituição ou linha de pensamento e, a princípio, começa a procurar intercessões de valores e propósitos.

Em alguns casos, vai mais além e começa a “encontrar o oculto” nas entrelinhas e traçar uma colcha de retalhos numerológicos, astrológicos, místicos, religiosos e reptilianos. O perigo que isso ilude afasta os Obreiros e nos demoniza.

Devemos, portanto, nos ater à essência da Ordem, ir à sua gênese à procura do que motivou sua criação. Observar o que as Lojas, as Potências nacionais e internacionais têm em comum. Estudar se o que hoje praticamos está em consonância com o que foi praticado nos séculos passados.

Disse São Vicente: “quod semper, quod ubique, quod ab ómnibus”, que se traduz: “só e tudo quanto foi crido sempre, por todos e em todas as partes”. Ou seja, devemos nos ater à tradição. O resto é invencionice.

Um bom exemplo de Comonitório Maçônico encontra-se em nossa definição:

O Maçom pratica o Bem, levando sua solicitude aos infelizes, sejam quem forem, mas na medida de suas forças. Devemos, com sinceridade, combater o egoísmo e a imoralidade.

 Assim, é pelo mundo há séculos; assim serão séculos por todo o mundo!

Neste ­17o ano de compartilhamento de instruções maçônicas e provocações para o enlevo moral e ético dos Irmãos, permanecemos no nosso propósito maior de disponibilizar uma curta reflexão a ser discutida em Loja. O Ritual não pode ser delapidado. A Ritualística deve ser seguida integralmente. O Quarto-de-hora-de-estudo é fundamental em uma sessão Justa e Perfeita.



agosto 29, 2023

O RITUAL É DISCIPLINA E ORDEM - Laurindo Roberto Gutierrez


“Me consola é saber que maçom não morre, vai para o oriente eterno”

A sessão maçônica é sempre uma ocasião especial, e deve ser regida pelo cumprimento inflexível do ritual, que é simplesmente a maneira como as coisas devem ser feitas. O ritual é um procedimento padrão para impor a ordem, disciplina e respeito aos trabalhos. Até nas atividades diárias existe uma ritualística que precisa ser obedecida por todos para que haja ordem. Numa reunião empresarial deve haver uma norma ritualizada que disciplina a sequência dos trabalhos, para discussão de cada item agendado, sem isso haveria falta de ordem na condução dos assuntos, gerando uma preciosa perda de tempo. Assim haveria um mal resultado, e o que se discutiu, seria até questionável.

E o Ritual, na Loja, como tem sido tratado? Muito mal às vezes. Fico desconsolado, quando vejo um Venerável, sem que o irmão tenha direito, o autorize a baixar o sinal de ordem ao falar. Aliás, esta “gentileza” as vezes é só aos irmãos postados no Oriente, nem sempre aos do Ocidente, criando assim duas classes de irmãos no templo, os que obedecem o ritual, e os que pela “bondade” do venerável não obedecem). 

Desinformados e maçonicamente incultos, ou por desconhecerem a ritualística, alguns Veneráveis, não sabem o significado esotérico que é “Estar de Pé e à Ordem”, esquecendo-se que isso é uma exigência do ritual. Poucos são os casos em que se tolera dispensar o maçom do Sinal de Ordem, entre eles; para altas dignidades maçônicas, para irmãos em idade provecta e para irmãos que estejam com algum problema de saúde. Pasmem irmãos, até aos aprendizes tem sido dispensado a obrigatoriedade de falar de pé e a ordem.

Não veem, esses Veneráveis, que nessa posição (de pé e à ordem), em relação aos demais que estão sentados, o irmão pode mais facilmente ser visto e ouvido, e pelo sinal que faz, mostra o grau em que a Loja está trabalhando. Mais ainda, assim postado, a palavra mal pronunciada, a ideia mal explicada soam mais altas e claras, sendo necessário todo o cuidado ao enunciá-las. E não é só isso, estar de pé e à ordem, nos faz lembrar que o sinal gutural é o compromisso de honra de guardar segredo, que juramos no dia de nossa iniciação.

O ritual serve para organizar e ordenar os trabalhos em Loja, garantindo a todos igualmente a participação, a seu tempo. 

Outro ponto importante, é que o irmão não pode fazer apartes, caso a palavra já tenha passado ritualisticamente pela sua coluna, e somente na sessão seguinte, ele poderá tratar do assunto. As normas contidas no ritual, são sábias, pois passada uma semana, ambas as partes terão meditado e a solução surgirá de maneira conciliadora e racional. 

A Maçonaria usa o ritual de forma a expor seus ensinamentos filosóficos, seguindo passo a passo, esse conjunto de normas que é muito rico e antigo, remontando aos primórdios da secular criação da Ordem. Não pode, nossa geração, deturpar esse conjunto de regras, criado por Elias Ashmole, há quase quatro séculos, que nos tem guiado por todo esse tempo.

Se a Bíblia, é o Livro da Lei, nosso código de moral, ética e religiosidade, O Ritual, é o manual que nos ensina a maneira correta de falar, caminhar, se portar, ouvir e falar em Loja. É um conjunto perfeito que deve ser obedecido “ipsis literis”, como está.

A Ordem Maçônica se mantém justa e perfeita no caminho reto e plano, pavimentado com pedras ritualisticamente desbastadas e polidas, como exige o ritual. Se executado corretamente, nem notamos seu desenvolvimento na sessão, pois o ritual é vida, é o coração que pulsa enviando sangue para todo o corpo maçônico, reunidos em Loja na mais perfeita e harmoniosa egrégora.

agosto 28, 2023

CONSTANTE VIGILÂNCIA - Roberto Ribeiro Reis


As colunas da Força e Beleza são capitaneadas por dois Obreiros atentos, os irmãos vigilantes, de cujas mãos ecoam o som pujante e disciplinador do malhete, essencial para a ordem e beleza de nossos trabalhos.

Inicialmente, há de se ater à etimologia da palavra vigilante. “Vigilância”: em Latim, significa VIGILANTIA, de VIGILARE, “tomar conta, estar acordado”. Por sua vez, esta palavra se originou de uma raiz Indo-europeia WEG-, “vigor”.

Logo, é preciso que os irmãos vigilantes tomem   conta das colunas, e que  estejam acordados durante os trabalhos, com o vigor   necessário, a fim de que os  trabalhos sejam, posteriormente, reputados como justos e perfeitos. 

Via de regra, isso é o que deve ocorrer em uma Oficina da Arte Real. Contudo, é preciso fazer uma análise esotérica acerca do tema vigilância. Nos profundos recônditos   de nossa alma, temos sido   constantes vigilantes?   

Estamos acordados, tomando conta de nosso patrimônio íntimo, com o zelo e dedicação necessários para o florescimento do jardim de nossa consciência?

O maior líder do qual a   humanidade tem   conhecimento vaticinava,   com ênfase: “conhece-te   a   ti mesmo”. Será que   temos observado esse   imperativo existencial, colocando-nos, diária e   exaustivamente, em   estado de contemplação   de nós mesmos?

Não raro, buscamos a resolução de nossos problemas em algum ambiente externo e material, menoscabando a importância que há de sermos construtores de nosso edifício mental e  espiritual.

Muitas das vezes, nossa vida parece desmoronar, especialmente quando as dificuldades se nos aproximam, e não temos equilíbrio emocional para lidar com elas.

Parecemos fazer ouvidos moucos à determinação e força que nos são ensinadas pelo simbolismo do malho; consequentemente, não temos tido êxito em cinzelar (aparar, mitigar, atenuar) as arestas (problemas e contendas do cotidiano). 

Tem-nos faltado a vigília e a oração, ferramentas indispensáveis ao nosso equilíbrio emocional e racional. 

Tudo o que fizermos em nossa vida deve ser dirigido à Glória do Grande Arquiteto do Universo. Não   olvidemos o fato de que o   Reino de Deus foi   estabelecido com estabilidade e força,  representando as duas  colunas pelas quais são  responsáveis os irmãos vigilantes. 

Logo, a cada cataclismo   que nos for  apresentado   em nossa marcha   evolutiva, que tenhamos a estabilidade e a força, primeiramente para enfrentarmos nossos fantasmas interiores,  para -somente depois- lutarmos   contra nossos inimigos   projetados pelo mundo material.

Roguemos Sabedoria ao Supremo Artífice dos Mundos! 




agosto 27, 2023

DEVAGAR... - Adilson Zotovici



Segue irmão  livre pedreiro

Pelos encantos, os teus intentos

À cada canto alvissareiro

Após a Luz, tantos eventos


Não faz da Ordem teu cativeiro

Na revelação dos teus talentos

Inda que te instigue o roteiro

À obtenção de bons proventos


Semanais no inicio os momentos

Logo, todas noites, ano inteiro...

E demais compromissos...aos ventos


Que consequente,  por derradeiro ,

Não tenhas junto aos paramentos

Escova de dente, travesseiro...



O TEMPO E OS CALENDÁRIOS - Angelo Spoladore



“Não tem sido fácil para o Homem encarar o tempo”. Alguns, “na tentativa de elucidar aspectos do abismo do tempo” acabaram caindo no abismo da ignorância. (Claude C. Albritton, The Abyss of time)

Algumas vezes nos deparamos com números incrivelmente grandes, outras com espaços enormes. Não é raro ouvirmos alguma coisa sobre o átomo ou outra partícula qualquer infimamente pequena Será que de fato entendemos o que essas dimensões significam? De uma maneira em geral, quando nos deparamos com dimensões com que não estamos acostumados, temos dificuldade em expandir a nossa concepção de realidade e entender o significado do que vemos ou ouvimos.

Talvez tal fato seja mais marcante quando temos de criar uma concepção de tempo que vá além daquela que nossa mente nos coloca como passado, presente e futuro. Devido a nossa vida relativamente curta, estamos acostumados a pensar em 10 ou 20 anos. Um século (100 anos) costuma ser uma referência de um longo período de tempo. Todavia, considerando a história da Terra, 100 anos representam apenas um breve instante.

Entretanto, temos de nos lembrar de que a nossa história, e quando digo isso me refiro a história do nosso planeta e da raça humana, vai muito mais além do que os livros nos contam. Para chegarmos até aqui, muita coisa se passou ficando posteriormente esquecida ou perdida no abismo do tempo.

Devemos nos lembrar então que existem períodos de tempo muito maiores. Assim, devemos pensar em de milhões e bilhões de anos.

Mas, como podemos quantificar o tempo? Como medir esses longos períodos temporais? Existem métodos ou sistemas adequados para a contagem do tempo? O que é o tempo? O tempo existe ou é apenas mais uma das invenções humanas? O nosso sistema de contagem de tempo, ou em outras palavras, o nosso calendário, está correto? Teria ocorrido realmente o nascimento de Jesus na data de 25 de dezembro?

O tempo é entendido e medido por mudanças.

Estamos todos sujeitos ao crescimento e às mudanças físicas e biológicas. Dessa forma é que percebemos o tempo. O tempo é medido por mudanças, e as mudanças ocorrem em muitas escalas. Existem muitas formas de marcar o tempo como por exemplo o pêndulo, relógio de areia, movimento da Lua ao redor da Terra e da Terra ao redor do Sol. Tratam-se de fenômenos físicos cíclicos ou periódicos, ou seja, se repetem em períodos determinados e sempre iguais. Podemos utilizar como marcadores de tempo até mesmo os intervalos biológicos cíclicos, em outras palavras, períodos entre fenômenos biológicos tais como o sono, a fome, a menstruação, dentre outros.

A Terra é seu próprio marcador de tempo. Nela vemos mudanças nos dias, estações, anos, etc. Determinar a idade da Terra é basicamente determinar o tempo que a ela está girando ao redor do sol, o que para nós seria então o início do tempo.

O relógio (marcador cronológico) é um mecanismo usado para a contagem do tempo. Normalmente estamos acostumados a relógios mecânicos construídos para medir horas, minutos; todavia, existe uma grande quantidade de relógios naturais que fornecem bons parâmetros para se medir o tempo. Com eles podemos medir pequenos ou grandes intervalos de tempo. Vibrações dos átomos, por exemplo, fornecem intervalos pequenos com incrível precisão. Já as órbitas dos planetas e outros corpos do espaço sideral servem para marcar períodos de tempo maiores.

Por calendário (do latim calendae que significando primeiro dia do ano no calendário romano que por sinal era o dia em que as contas eram pagas) entende-se que seja o sistema de divisão do tempo em que se aplica um conjunto de regras baseadas na astronomia e em convenções próprias, capazes de fixar a duração do ano civil e de suas diferentes datas.

Em outras palavras, os calendários seriam formas, esquemas ou sistemas feitos pelo homem, obedecendo determinadas regras, utilizados para a contagem do tempo, tentando organizar e medir da melhor maneira possível o tempo conhecido.

Resumidamente, o calendário pode ser definido como sendo um sistema de divisão e contagem do tempo através da aplicação de uma série de normas e regras normalmente baseadas na astronomia.

O homem sempre tentou medir o tempo para saber a sua própria idade e também para saber a idade da Terra, sendo que várias formulas e metodologias para a medição e quantificação do tempo já foram propostas. Para tal, utilizou-se dos relógios naturais, ou marcadores cronológicos periódicos existentes na natureza. Uma vez quantificado, o tempo passou-se então para a tarefa de organização dos chamados calendários.

Falemos um pouco sobre a nossa noção de tempo e de como ela se desenvolveu.

Inicialmente a civilização ocidental pensava que a Terra seria tão velha quanto os seres humanos, possuindo aproximadamente 6000 anos. Em outras palavras, Tudo teria sido criado, inclusive o tempo, a aproximadamente 6000 anos.

O fato de que a Terra e o tempo eram mais antigos do que se pensava foi “descoberto” em Edimburgo, mais ou menos em 1770, por estudiosos liderado por James Hutton. Esses homens, estudando as rochas da região costeira da Escócia, perceberam que cada pedra, sem importar a idade, era formada por fragmentos de outras pedras mais velhas.

Esta foi talvez a descoberta mais importante do século XVIII, pois mudou o pensamento e a forma de encarar a Terra, os planetas, o Sol e outras estrelas, e, como consequência, a forma de olharmos para nós mesmos.

Da interpretação de que as rochas são produtos e registros de eventos ocorridos na história da Terra gerou-se a ideia de que as leis da natureza não mudam com o tempo. 

Hutton viu ainda evidências de que a Terra teria tido uma evolução uniforme e por processos lentos e graduais que atuavam durante um longo período de tempo. Da mesma forma que uma P⸫ B⸫ através do desgaste lento e gradual, é trabalhada até se transformar em P⸫P⸫, a Terra evolui e rios pequenos podem erodir por completo toda uma cordilheira de montanhas, se lhe for dado tempo suficiente. 

As obras importantes que se seguiram, como por exemplo o celebre trabalho de Sir Charles Darwin que tratou da evolução das espécies, utilizaram estes conceitos. 

As ideias de Hutton foram muito criticadas e demoraram para serem aceitas. Até o final do século XVIII a história da Terra bem o tempo eram contados baseando-se na Bíblia. Acreditava-se que a Terra e tudo o que nela existe, tal como ela é hoje, teria sido criada em apenas 6 dias por obra direta e pela vontade de um Deus Criador. A criação em tão pouco tempo, mesmo considerando um Criador, envolveria forças de tremenda violência, ultrapassando qualquer coisa experimentada pela natureza. Esta teoria ficou conhecida como teoria do catastrofismo sendo proposta oficialmente pelo Barão George Cuvier (1769-1832) - naturalista francês.

Com relação à idade da Terra, várias foram as tentativas de quantificação bem como saber há quando tempo existe a raça humana.

Uma tentativa de quantificação importante posto que ainda é considerada em calendários de alguns Ritos até os nossos dias, é aquela feita em 1654, por um arcebispo irlandês que calculou, tendo por bases dados bíblicos, que a Terra teria sido criada 4004 anos antes de Cristo, no dia 26 de outubro, as nove horas da manhã. Um outro cálculo foi feito pelo pastor anglicano James Usher chegou a uma idade para a criação da Terra de 4000 anos antes de Cristo.

Atualmente, além dos calendários para a contagem e organização do tempo, utilizamos dois conceitos diferentes de tempo e duas metodologias distintas a quantificação do tempo: a datação relativa (que nada mais é senão a simples determinação de uma ordem cronológica de uma sequência de eventos) e a datação absoluta (estabelece idades em termos quantitativos, ou seja, anos, séculos, milhões ou bilhões de anos, através dos métodos C14, U/Pb, K/Ar, dentre outros).

Estabeleceu-se assim a idade da Terra a qual teria se formado a aproximadamente 5,0 bilhões de anos. As rochas mais antigas datam de 4,5 bilhões de anos e que a vida humana surgiu a apenas a aproximadamente 2 milhões de anos.

Para termos uma ideia do esses números significam, se a idade da Terra fosse igual a um ano, o homem teria surgido no dia 31 de dezembro às 23 horas e 55 minutos. Portando, os registros históricos que possuímos representam uma gota de água em um oceano, e mesmo neste pequeno intervalo, demorou-se para chegar um uma forma razoavelmente adequada de quantificação e organização cronológica.

Conforme verificamos anteriormente, a ideia do tempo tal qual conhecemos hoje, tem suas origens relacionadas à estudos das rochas e da Terra em si.

Com relação aos calendários, várias são as tentativas de elaboração de sistemas baseando-se em fenômenos astronômicos especialmente àqueles envolvendo a posição e movimento do Sol e da Lua.

De acordo com o fenômeno adotado, podemos ter o calendário lunar, o solar e o lunissolar. Um calendário solar é um calendário organizado com vista especificamente à revolução da Terra em torno do Sol. Já o calendário lunar é organizado com base específica na revolução lunar enquanto que o calendário lunissolar leva em conta simultaneamente as revoluções da Lua em torno da Terra e desta em torno do Sol.

Os primeiros calendários tentavam marcar o início e o fim do inverno e verão. Estes períodos eram importantes posto que representam respectivamente épocas de escassez e abundância de alimentos. O homem logo percebeu que em determinadas épocas do ano o Sol estaria mais próximo ou mais afastado da Terra. Assim foram definidos os chamados equinócios (21 de março e 23 de setembro - datas do ano em que o dia e a noite são exatamente iguais em duração correspondendo ao cruzamento entre a elíptica - movimento aparente do Sol - e a projeção do equador in “A Voz de Kronus/set. 96) e solstício (22 ou 23 de junho e 22 ou 23 de dezembro - datas do ano em que são desiguais ao extremo a duração do dia e da noite são desiguais em decorrência da máxima distância entre a elíptica e o equador celeste in “A Voz de Kronus/set. 96). Uma forma simples e eficiente bastante utilizada pelos povos antigos para saber da aproximação da nova estação era elaborar construções “alinhadas” com o local no horizonte onde o Sol nasceria nas datas dos equinócios de inverno e verão. Com o passar dos tempos o sistema de contagem de tempo ficou mais sofisticado.

Vejamos alguns exemplos de diferentes calendários utilizados ao longo de nossa história (extraídos de trabalhos dos IIrm⸫ Hércule Spoladore, Mário A. Cardoso, José Castellani e ainda do Dicionário Aurélio):

Calendário civil - Aquele em que se considera o ano como formado de um número inteiro de dias e meses, segundo as regras próprias de cada povo ou nação.

Calendário egípcio - Calendário usado no antigo Egito, formado por anos de 365 dias grupados em 12 meses de 30 dias e cinco dias epagômenos que o completavam. O início deste calendário ocorre quando o Sol entre no signo Zodiacal de Leo, quando Siriús entra em conjugação com o Sol coincidindo com a canícula a 20 à 22 de julho às 11 horas. Esta data coincide com as cheias do Rio Nilo. O primeiro mês é chamado de Thot. Alguns autores apontam este como o primeiro calendário solar. As estações eram divididas em: inundações ou cheias (Akket), semeaduras (Pen) e colheitas (Shemu).

Calendário Babilônico - Calendário lunar com 354 dias divididos 12 meses de 29 ou 30 dias sendo que o início era assinalado pela lua nova. Devido ao fato do calendário ser lunar, ao final de 3 anos existiria uma defasagem de aproximadamente um mês em relação ao calendário solar. Para solucionar este problema, ao final de cada 3 anos foi acrescentado um mês complementar.

Calendário grego - Calendário usado na Grécia antiga, originário de Atenas, com um ano do tipo lunissolar. Era formado de 12 meses de 29 e 30 dias, alternados, começando próximo do solstíscio do verão. É mais curto cerca de 11 dias que o ano solar. Esta diferença se acumulava de modo que em cada oito anos havia um excesso de 87 dias, que eram compensados com o aparecimento de três anos de 13 meses, os denominados anos embolísmicos de 383 dias.

Calendário romano - Calendário utilizado na antiga Roma antes da criação do calendário juliano, e que não obedecia a regras fixas, sendo o ano dividido em 10 meses de 20 ou de 55 dias, variando de acordo com os trabalhos da agricultura e as ideias políticas e religiosas dominantes.

Calendário juliano - Chama-se de calendário juliano ao resultante da reforma do calendário romano. Foi introduzida por Júlio César no ano de 45 a.C. mediante conselhos do astrônomo Sosígenes. Tal mudança foi realizada pois o antigo calendário romana era muito confuso. No calendário juliano em cada quatro anos existiria um ano bissexto, de 366 dias. Este calendário apresentava séria discrepância entre o ano civil e o ano trópico.

Calendário Hindu - Calendário com 12 meses de 30 dias cada e seis estações (primavera, verão, chuvas, outono inverno e orvalho). Devido a defasagem em relação ao calendário solar, a cada cinco anos era acrescentado um mês suplementar.

Calendário gregoriano - O chamado calendário gregoriano é resultante da reforma do calendário juliano e foi introduzido pelo Papa Gregório XIII (1502-1585). Neste calendário em cada quatro anos existe um ano bissexto, com exceção dos anos seculares, em que o número formado pelos algarismos das centenas e dos milhares não é divisível por 4. Para efeito de acerto para implantação, foi estabelecido na ocasião que o dia 04/10/1562 passaria a ser 15/10/1562.

Calendário eclesiástico ou litúrgico - O baseado nas festas das igrejas cristãs, todavia seu objetivo principal era a determinação da Páscoa. Este calendário, cujo cálculo é muito complexo, foi muito utilizado na idade média sendo elaborado no Concílio de Nicéia em 325 d.C. e é utilizado até os nossos dias pela Igreja Católica.

Calendário muçulmano - Calendário lunar constituído de 12 meses de 30 e 29 dias, que principiam sempre na lua nova. O ano civil muçulmano tem 354 ou 355 dias, e o início do ano retrograda de 10 a 11 dias em relação ao ano do calendário gregoriano. Ele é considerado a partir da Hégira no ano de 622 da nossa era, quando o Profeta Maomé partiu de Medina. Esta se celebra no primeiro dia do terceiro mês e o Ramadã é comemorado no nono mês.

Calendário maia - O calendário maia consiste em três sistemas simultâneos de contagem de dias: um, de interesse civil, com um período de 365 dias; outro, religioso, de 260 dias; e um terceiro de longo curso.

Calendário republicano ou francês - Calendário instituído na França pela Convenção, na Revolução Francesa, a 24/10/1793, pelo qual o ano tinha 12 meses de 30 dias cada um, acrescidos de cinco dias complementares, dedicados às festas republicanas, e começava no equinócio do outono do hemisfério norte (22 de setembro). Os meses tinham nomes um tanto que curiosos. Eis, por ordem, os nomes dos meses: vendemiário, brumário, frimário, nivoso, pluvioso, ventoso, germinal, floreal, prairial, messidor, termidor e frutidor. Convencionou-se que o ano I da República teria começo em 22 de setembro de 1792. Era um calendário anti-clerical.

Calendário israelita ou hebraico - Calendário hebraico é lunar e solar ao mesmo tempo. É constituído de 12 ou 13 meses de 29 e 30 dias, que principiam sempre na lua nova. Tal fato ocorre pois os 12 meses lunares (com 354 dias) não englobam o ano solar (365 dias), ocorrendo assim uma diferença de 11 dias, criando assim, de tempo em tempo um mês a mais. Os meses com 29 e 30 dias ocorrem pois o período de cada lunação é de 29 dias, 12 horas e 40 minutos. Como cada dia e cada mês começa e termina a meia noite, haverá uma diferença que após um período criará um mês com 30 dias.

Este calendário leva em consideração o ano agrícola, religioso e o civil (ou econômico). Se considerarmos o ano agrícola e o religioso, o ano hebraico se inicia no mês de Nissam (correspondente a março/abril). Considerando o ano econômico ou civil, o ano tem início em Tishiri (setembro / outubro).

O ano civil israelita tem 354 dias, e para fazê-lo coincidir com o ano solar se introduzem sete anos embolísmicos de 13 meses em cada grupo de 19 anos. Para se calcular o ano no calendário hebraico basta somar ao ano da E\ V\ o número 3760.

Este calendário é, aparentemente, complexo e de difícil compreensão, sendo utilizado normalmente através de tabelas.

Calendário maçônico gregoriano - O ano tem início em 21 de março sendo dividido em 12 meses com 30 ou 31 dias. O 12° mês possui apenas 28 dias. Tanto os meses como os dias não recebem denominações especiais. Trata-se na verdade de uma mistura entre os calendários gregoriano e hebraico. Para se saber o ano, acrescenta-se o número 4000 ao ano da E⸫ V⸫

Calendário perpétuo - Calendário formado de tal maneira que as datas do ano são fixas em relação aos dias da semana. Este tipo de calendário já foi proposto várias vezes, sob diversas formas, todavia, ainda não foi adotado, em razão das dificuldades que viriam com uma reforma a nível mundial que teria de ser realizada para a implantação do mesmo.

A Maçonaria criou novos calendários ou modificou os já existentes gerando dessa forma calendários particulares que podem variar de acordo com o Rito ou com a Potência. Vejamos alguns exemplos.

O Rito de Menfis se utiliza do calendário egípcio de mesma forma que a maioria dos Ritos orientais.

Já o Rito do Real Arco utiliza um calendário próprio pelo qual é acrescentado a ano da E⸫V⸫ o número 530. De acordo com este calendário, o ano zero seria o ano da fundação do segundo Templo de Jerusalém (ou Templo de Zorobabel).

O Rito da Estrita Observância considera o início de seu calendário no ano 1314 ou o ano da destruição da Ordem do Templo. Neste caso ano invés de acrescentar um determinado número no ano a E⸫V⸫, é subtraído o número 1314 da mesma.

O Rito de Misrain soma ao ano da era vulgar o número 4004 pois o calendário deste Rito considera a datação citada anteriormente pela qual a Terra teria sido criada no ano 4004 a.C. 

O Rito Adonhiramita se utiliza de um calendário muito próximo do calendário hebraico desde 1815.

O Rito Escocês Antigo e Aceito utiliza nos Graus Superiores o calendário hebraico devido ao fato deste Rito ter sido fundado por Irmãos de origem judaica. Este mesmo Rito utiliza no Brasil um calendário baseado no hebraico com início em 21 de março (Missan) acrescentando-se ao ano da E⸫V⸫ o número 4000.

O calendário do Rito Moderno atribui aos meses igual número de dias que o calendário gregoriano, acrescentando o número 4000 ao ano da E⸫V⸫ Antigamente, este calendário tinha seu início no dia 21 de março. Todavia em 1774, o Grande Or⸫ da França mudou o início do ano para 1° de março alegando que a antiga data (21 de março) causava muita confusão.

O Rito de York utiliza um calendário próprio e simples sendo que apenas é acrescentado o número 4000 ao ano da E⸫V⸫ 

Rito Brasileiro usa o calendário maçônico gregoriano

Da mesma forma que o calendário pode variar, variam também as expressões que acompanham o ano. Assim, o Rito do Real Arco acrescenta a expressão A⸫Inv⸫ (Anno Invencio) enquanto que o Rito de York utiliza A⸫L⸫ (Anno Lucis). Para os Ritos Moderno e Brasileiro é utilizada a expressão V⸫ L⸫ (Verdadeira Luz ou Vera Lucis). Para os Ritos que utilizam o calendário hebraico a expressão é A⸫M⸫ (Anno Mundi).

Apesar dos Ritos adotarem oficialmente um determinado calendário, nem sempre essa determinação é seguida. 

Conforme relatos de diversos IIrm⸫ dentre eles os IIrm\ Hércule Spoladore e José Castellani, quando da fundação do então Grande Oriente Brasiliano foi adotado o calendário utilizado pelo Rito Adonhiramita posto que este Rito era o adotado pela Potência.

Sabe-se também que o Supremo Conselho de Montezuma utilizava o calendário do Rito Moderno. Quando posteriormente este Supremo Conselho, em 1855, uniu-se ao Grande Oriente do Brasil, possa ter influenciado a adoção, por parte do GOB, do calendário do Rito Moderno. Todavia, segundo o Ir⸫Hércule Spoladore e o Irm⸫ Kurt Prober, o calendário do Rito Moderno nem sempre era obedecido existindo alternância entre a utilização dos calendários dos Ritos Francês e Adonhiramita e até mesmo o gregoriano de acordo com o Grão-Mestre no poder conforme segue abaixo. 

De acordo com diversos documentos analisados pelo Irm⸫ Kurt Prober e também pelo Irm⸫ Gomes e posteriormente citados pelo Irm⸫ Hércule Spoladore, oficialmente, o calendário do Rito moderno foi utilizado pelo GOB entre os anos de 1856 e 1870 quando então passou-se a usar o calendário gregoriano. No período correspondente aos anos de 1871 à 1876 foi utilizado o calendário Adonhiramita e a partir de 1876 até 1889 foi utilizado novamente o calendário gregoriano.

Entre novembro de 1889 a março de 1890 foi utilizado o calendário do Rito Moderno quando então voltou-se a seguir o calendário gregoriano.

Foi somente a partir de fevereiro de 1892 que o Grande Oriente do Brasil passou a utilizar o calendário do Rito Moderno sendo que este é o calendário oficial até os nossos dias.

Ainda de acordo com os IIrm⸫ citados anteriormente, o Supremo Conselho do Brasil, aproximadamente em 1898, passou a utilizar o calendário hebraico para os graus 31 à 33. Posteriormente, depois do cisma de 1927, o Supremo Conselho adotou este calendário para todos os graus filosóficos.

As Grandes Lojas Brasileiras utilizam até os nossos dias, o calendário do Rito Moderno ou Francês.

Tantas mudanças e tantos calendários assim podem causar problemas principalmente quando pessoas pouco avisadas tentam manuseá-los e interpretá-los.

No Brasil é célebre a confusão causada pela má interpretação e pelo desconhecimento histórico e sobre calendários por parte de certos pesquisadores. A confusão diz respeito a data de fundação do Grande Oriente do Brasil, da iniciação e a posse como Grão Mestre de D. Pedro I e na data da famosa 14ª Sessão quando é tido que o Ir⸫ Gonçalves Ledo teria proclamado a Independência do Brasil.

Uma das decorrências dessas confusões, além de discussões apaixonadas, foi a instituição em 1957 do 20 de agosto como sendo o “Dia do Maçom”, data esta, comemorada e por uns e criticada por outros posto que nesta data não houve sessão no Grande Oriente do Brasil. Dessa forma, o 20/08 não teria significado maçônico sendo apenas fruto de interpretações errôneas de IIr⸫ pouco avisados.

Este assunto já foi muito bem discutido pelos IIrm⸫ Hércule Spoladore, José Castellani Manoel Gomes e João Alberto de Carvalho. Todavia, devido ao pouco interesse por cultura maçônico da maioria dos Obreiros da nossa Real Ordem, muitos ignoram os verdadeiros fatos, assumindo o 20 de agosto como verdadeiro ou o que é pior, não sabe ao menos o porque que esta data foi estipulada como sendo o Dia do Maçom.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, M.A. (1996) - A Maçonaria no Computador. 

CARVALHO, J.A. (1986) - Dia 20 de agosto de 1822: equívoco histórico. Bol. n° 7 do Grande Oriente de Minas Gerais.

CASTELLANI, J. (1986) - Dia 20 de agosto de 1822 : Não houve sessão na maçonaria. Bol. n° 7 do Grande Oriente de Minas Gerais.

Dicionário Aurélio Eletrônico

GOMES, M.(1986) - 20 de agosto ou 9 de setembro. Bol. n° 7 do Grande Oriente de Minas Gerais.

Periódico: A VOZ DE KRONUS, n° 06 / set. 96.

PROBER, K. Coletânia Bigorna, n° 1 e 2.

SPOLADORE, H. (1991) - Calendários e Maçonaria. 3° Encontro de Membros Correspondentes da Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil.

agosto 26, 2023

MAÇONARIA E A QUESTÃO DO RACIONALISMO - João Rodrigues


A partir do século XVII uma cultura orientada para o científico e para o lógico invadiu as consciências de tal modo, que nada mais podia ser sustentado no terreno do pensamento e da experiência social, se não fosse passível de ser reduzida à uma fórmula matemática ou à uma proposta epistemológica que a mente humana pudesse entender e explicar racionalmente. 

Tudo tinha que ser explicado com estrita clareza, ordem, concisão e exatidão.

Esta cultura pelo exato, pelo matematicamente provável, pelo passível de repetição em laboratórios, expulsou dos meios intelectuais a antiga tradição esotérica dos “Filhos de Hermes” e dos “Obreiros do Bom Deus”, que escondiam nos símbolos da sua atividade profissional os tesouros da sua ciência. 

Numa sociedade fundada sob a certeza das suas fórmulas, na organização das suas estruturas, na demonstração inequívoca de resultados, no amor pela evidência racional, não havia lugar para uma metafísica apoiada em símbolos que somente iniciados podiam desvendar, e mesmo assim, sem certeza da obtenção de qualquer resultado concreto.

A chamada “alta ciência” que se hospedava na pratica da alquimia e da maçonaria operativa teve de se adaptar as exigências do racionalismo. 

Daí o nascimento da moderna Arte Real, com a introdução daqueles elementos que Ambelain chamou de caminho político da Maçonaria, onde se aliavam, segundo as suas próprias palavras: “as melhores noções de progresso e evolução, mas também, infelizmente, ideias novas, desconhecidas dos antigos franco maçons, como o ateísmo, o materialismo, o laxismo, que conduzem ao materialismo desagregador e que tenderiam, pouco a pouco, a minar certos valores que fazem a dignidade do homem”.

Ambelain, como outros críticos da maçonaria moderna, achava que influência psíquica dos ritos maçónicos tinha sido envilecida na sua passagem operativa para o plano puramente especulativo, pois a espiritualidade que havia na prática operativa foi substituída por uma ritualística vazia de sentido e extremamente pobre em conteúdo emocional. 

A Maçonaria antiga, que incorporava na sua prática uma noção de sacralidade, cederia o passo à nova organização, que nada mais era do que um clube de elite, que refletia as tendências culturais de uma época extremamente conturbada, onde a desconstrução do antigo era a moda.

Não obstante o seu sentimento saudosista, Ambelain, como outros autores da mesma escola, reconhecia que a Maçonaria secularizada, como todas as instituições oriundas da cultura medieval, precisava se adaptar às exigências do ambiente da época, que elegera o racionalismo como nova religião oficial. 

Não fosse essa concessão ao espírito da época ela também não teria sobrevivido como tradição, e acabaria no mesmo escaninho em que foram postas outras grandes tradições desenvolvidas pelo espirito humano, como a alquimia e a aritmosofia, que sobrevivem apenas como curiosidades históricas.

Pois na nova estrutura cultural que então se instalara com o advento da Reforma Religiosa e do seu filho filosófico, o Iluminismo, também o esotérico precisava de uma epistemologia que o fizesse palatável às novas classes intelectuais. 

A Maçonaria que emergiu desse caldo cultural é a que conhecemos hoje: Um iluminismo romântico, temperado com elementos de esoterismo.


agosto 25, 2023

O MISTÉRIO DA ROMÃ-


A romã com sua abundância de suculentas sementes de rubi, seu vibrante sabor doce e azedo, a beleza de uma joia é cercada de mistério e simbolismo. A fruta que floresce pensada no Oriente Médio, países mediterrâneos da Ásia Central é derivada da palavra latina 'granatis, que significa semente de grão. Os gregos chamavam granatis, a gema chamada granada é nomeada como um presente de amor que é continuamente convidativo.

O símbolo da romã de retidão, fertilidade e abundância é um símbolo especifico da primavera. Aludiu ao mito clássico de Perséfone, filha da deusa Deméter da colheita. O mito afirma que Perséfone foi sequestrada por Hades, irmão de Deméter, que se apaixonou por ela e queria torná-la sua noiva no submundo. Hades pediu a Zeus, seu irmão, que o ajudasse a abduzir Perséfone. Juntos eles decidiram um plano para prendê-la e um dia quando Perséfone estava brincando com suas amigas solteiras No Vale de Enna onde "a primavera reina perpétua" ela encontrou uma "Flor Cósmica". Assim que ela o arrancou, a terra se abriu e Hades roubou seu subsolo para sua rainha. 

Sua mãe, Deméter, foi consumida pela dor e pela raiva e entrou em luto pela perda de sua filha, durante a qual toda a vegetação parou de crescer. Ela implorou a Zeus que sua filha lhe fosse devolvida. Zeus, o mais alto nível dos deuses, então ordenou que Hades devolvesse Perséfone à terra, desde que ela não tivesse comido nada no Inferno. Assim, Hades enganou Perséfone para que comesse seis sementes de romã enquanto ele ainda a mantinha em cativeiro e por causa disso ela foi condenada a gastar seis meses do ano no submundo.

 Durante esses seis meses em que ela é rainha ao lado de Hades no submundo, sua mãe fica de luto e não faz mais as coisas crescerem na terra, daí a explicação para o inverno. O ressurgimento de Perséfone a cada ano, introduzindo a abundância de crescimento de frutas e vegetação, fazendo com que Perséfone e a romã estejam para sempre ligados ao surgimento da primavera

A romã também está ligada à Crucificação e à Páscoa, representando assim a Ressurreição. Renascimento da Natureza. E Imortalidade.. Depois de sua morte, Cristo também como Perséfone teria descido ao inferno para derrotar o mal e a vida incerta após a morte para a humanidade. 

A romã também está associada ao próprio Cristo e seu suco vermelho também está associado ao sangue de Cristo, seu sofrimento na cruz e seu sacrifício que ele entregou pela humanidade. Suas sementes também representam a igreja e suas muitas congregações.

agosto 24, 2023

A ÉTICA E O VALOR MORAL NA MAÇONARIA - José Carvalho

A Ética, denominada de Filosofia Moral ou Ciência Moral, trata da análise e a reflexão sobre as condutas humanas, tanto individuais, quanto coletivas, e as normas morais como princípios dos comportamentos. 

Sua finalidade é fazer com que o desenvolvimento humano atinja a plenitude, respeitando as diferenças individuais.

Segundo Aristóteles, “a Ética estabelece o que se deve ou se pode fazer, e o que não se deve ou não se pode fazer”.

É evidente que quando se estuda o procedimento do homem no meio social, deve-se levar em conta que o homem é um ser moral, justamente por ser ele um se político. 

É um ser político porque a isso o obriga a sua natureza humana.

Mais do que nunca o homem tem que se adaptar à vida em comunidade, mormente nos tempos de globalização, quando o mundo virou uma “aldeota”, onde a aviação e os meios de comunicação acabaram com as distâncias.

O homem vive em sociedade e o Estado onde ele vive precisa dele, como ele precisa do Estado. 

Na sua larga visão, Aristóteles em “A Política” assinala:…“Está claro que o Estado é produto da natureza e superior ao indivíduo; quem não fosse capaz de viver na comunidade civil ou dela não tivesse necessidade para bastar-se a si mesmo, não se tornaria nenhuma parte do Estado…”.

Tenhamos em mira que a teoria aristotélica da moral é o fundamento dessa corrente do pensamento chamado Ética.

É interessante verificar que a palavra ética, em português, é derivada do vocábulo grego ethos que significa hábito, costume.

Os romanos traduziram o ethos grego por moralis. 

Cícero diz em uma das suas obras, referindo-se ao vocábulo grego, que “Aquilo que tem a ver com os costumes, que eles (os gregos) chamam ethos, nós, nesta parte da filosofia referente aos hábitos, costumamos chamar de moral”.

O dicionário esclarece que Moral é a parte da filosofia que trata dos costumes ou deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo mesmo.

Aristóteles não separa a Ética da Virtude, porque, para ele, toda a virtude se gera e perece dos mesmos atos, e mediante os mesmos atos; e exemplifica dizendo que “de tocar cítara surgem os bons e os maus citareiros”. Isto significa que, pelos atos, se conhece se o indivíduo é virtuoso ou não.

Mais adiante ele enfatiza: “É necessário, pois, atentar para a qualidade dos atos que praticamos, porque consoante a sua diferença resulta a diferença dos hábitos.”

Se o homem considerar que a prática dos deveres para com os outros e para consigo mesmo é o único caminho que leva à perfeita harmonia social, estará, pois, procedendo corretamente e pode considerar-se feliz.

Analisemos o que Aristóteles estabelece de fundamental na sua “Ética”: “Os atos morais são livres, motivo por que o indivíduo assume a sua responsabilidade. 

Em assim sendo, torna-se, para quem os pratica, causa de mérito ou demérito. 

A responsabilidade supõe, com certeza, o que denominamos de imputabilidade, pelo qual o ato é atribuído a um indivíduo como seu autor”.

“Existem duas espécies de responsabilidade: aquela pela qual o indivíduo responde por seus atos diante da própria consciência, ou seja, a responsabilidade moral, e a responsabilidade social que faz com que o indivíduo responda por seus atos, às vezes, perante a justiça, quando violar as leis civis”.

Aristóteles ensina que “A virtude é um hábito não só diante da reta razão, mas a ela conjunta. E a reta razão nada mais é que sabedoria”.

Resumindo, Virtude é o hábito de praticar o Bem, e vício, o hábito de praticar o mal.

Voltemos a Aristóteles e vejamos o que ele tem para nos ensinar: “A Virtude, diz ele, se distingue segundo esta diferença: das virtudes, algumas chamo dianoéticas, a sapiência, a inteligência e a prudência; éticas, a liberalidade e a temperança. 

Quando, de fato, falamos dos costumes de alguém, não dizemos ser sapiente ou inteligente, mas sim, brando de ânimo ou temperante; e louvamos também, referindo-nos ao hábito: que nós chamamos virtudes aqueles hábitos que merecem ser louvados.”

Aristóteles procura estabelecer diferença entre aquilo que ele chama de virtudes dianoéticas e virtudes éticas: “As primeiras são inatas no homem e podem crescer através do estudo, do ensinamento, razão por que têm necessidade de experiência e de tempo. 

Já as virtudes éticas são frutos do hábito, o que vale dizer que nenhuma delas se gera no homem por natureza, são as chamadas virtudes adquiridas. 

Elas não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em nós que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito”.

O estagirita conceitua a natureza humana como sendo equilibrada. 

Para ele, todo ideal tem base natural e todo natural tem desenvolvimento ideal. 

Reconhece, e o faz objetivamente, que a meta da vida não é o Bem por si mesmo, mas a felicidade. 

Assegura que a felicidade aparece como um bem perfeito, sendo a meta de todas as ações.

A Maçonaria é por excelência, uma Entidade de Moral, pois, seus princípios alcançam, em suas ações, os níveis mais elevados da Ética Universal. Sua obra, tanto material quanto espiritual advém de um passado remoto. 

Educando e disciplinando, prepara seus membros para que participem na busca da verdade, elevando-os em sua dignidade, fazendo com que ajam com justiça, desfrutando da liberdade, praticando a fraternidade e dedicando-se com amor à Humanidade.

Diante da evolução por que passa o mundo é necessário que visualizemos, à luz maçônica, os grandes desafios. 

O rigor moral e a força da autêntica solidariedade social se fazem necessários para que corrijamos os deslizes individuais, as más instituições políticas, econômicas e sociais, com o intuito de que o relacionamento humano seja mais fraterno.

A resposta não é simples, mas, podemos assegurar que sem ela enveredamos os mais tristes e funestos destinos. 

A Moral permite o cultivo de todas as virtudes, o que garante uma promissora convivência com nossos pares.

O imoral e o amoral, hoje ou amanhã, pagarão alto preço de uma conduta desmedida, destruindo, assim, suas vidas. 

“A História, mestra da vida”, testemunha a decadência dos que se distanciam da moral.

Nenhuma nação, nenhum povo e nenhum homem poderão concretizar seus sonhos, se não estiverem embasados nos conceitos da Moral. Seria como construir castelos ao vento, ainda que a aparência pareça estável.

Portanto, a cada um, a concepção do dever, do bem, da justiça, das virtudes e, sobretudo, da verdade, pois aí está a formatação da moral, revelando-nos os valores que norteiam o homem e os povos, prestigiando suas instituições e reafirmando na fé, a verdadeira perfectibilidade humana.

A Maçonaria nos chama ao cultivo da Moral e à sua nobre prática, para que sejamos cada dia, mais virtuosos.


agosto 23, 2023

ONDE FOI PARA O ESTUDO ? Jorge André Wilbert









Foi depois de uma discussão tola que reavaliei a minha atitude e notei que eu não estava, naquele momento, submetendo as minhas paixões, ou mesmo cavando as malditas masmorras ao vício. Aquilo que repetimos tantas vezes, e que é o básico do nosso trabalho, eu estava desconsiderando de forma inconsciente e trivial. Tão ruim quanto isso, foi notar que os demais envolvidos na discussão, irmãos com muito mais tempo que eu na Ordem, já “instalados” e frequentemente elogiados pelos seus pares, estavam tendo a mesma atitude. Onde foi parar a luz?

Somos homens livres para pensar? Sim. A tolerância é uma das virtudes mais alardeadas no meio maçônico? Sim. Então, porque é tão difícil aceitar que o irmão tenha uma opinião contrária à sua, e queira exprimi-la? Conversar ainda é uma das melhores formas de chegar à verdade. O debate é a premissa básica da democracia, e onde se procura encontrar o ponto de convergência entre as opiniões acerca de um assunto. Sempre pensei que a capacidade de decidir sozinho sobre um assunto não é privilégio dos mais sábios, mas sim, dos solitários e dos arrogantes.

Para conduzir a busca da verdade, o maçom estuda e debate com seus irmãos, e a Oficina é o ambiente propício para isso; principalmente para os assuntos mais controversos. Na Oficina aberta é garantida a livre expressão, onde se busca o auxílio inadvertido e imparcial daqueles que se tratam por iguais. São vedadas a ofensa, a crítica preconceituosa e qualquer forma de cerceamento da razão pura. Ainda assim, as paixões e vícios tomam lugar diariamente nas colunas; dissimulados em termos como “eu acho”, “eu penso” e “quem sabe”, avançam sobre a razão dos fatos até o amor fraternal, e encontram reforços naqueles que ainda tropeçam na vaidade e se consideram preparados.

Porém, temos o problema de quando empreitar enquanto a Oficina estiver aberta. Dentre os diversos Ritos, temos quatro momentos comuns onde há algum trabalho dos Obreiros, que são o Expediente, a Ordem do Dia, o Tempo de Estudos (ou seja qual o termo adotado), e a Palavra a bem da Ordem. Os trabalhos do Expediente são para divulgação de mudanças ou determinações, os da Ordem do Dia são para decisões, a Palavra a bem da Ordem é a oportunidade para pequenas contribuições de cada um, sem gerar debate; restando assim o Tempo de Estudos.

O Tempo de Estudos possui diversos nomes, e este pode ser um dos motivos de ser tão desvalorizado. Alguns chamam de “quarto de hora”, e acreditam que isso significa que não deve passar de 15 minutos, eliminando qualquer chance de se estabelecer um estudo sério e aprofundado. Outros trocam a palavra “estudos” por “instrução”, e acabam convencidos de que se trata de utilizar o tempo para instruir aprendizes e companheiros (como se um mestre não precisasse mais de instrução), e com isso elogiam aquele que copia um texto da internet, e cerram-se as portas para que um questionamento real estabeleça um debate mais longo.

Poderia então o debate franco, ser algo praticado somente nos graus superiores, do grau quatro para cima? Não há lógica alguma nisso, pois, não só estaríamos “elitizando” o conhecimento ao deixar de fora os irmãos dos graus simbólicos, como cada assunto ficaria tão restrito à apenas um grau que não há nem como desenvolver a correlação entre eles. De qualquer forma, o termo “pensador livre” não mais poderia ser aplicado, e a própria razão da maçonaria especulativa deixaria de existir.

Este assunto fica sem um encerramento, mas deixa um questionamento final: Se não estamos realmente estudando e debatendo livremente os assuntos pertinentes, o que estamos fazendo em Loja meus Irmãos?



PALESTRA NA ARLS TRIPLICE ALIANÇA DE MONGAGUÁ







    Na sessão pública de terça-feira, 22 de agosto, em comemoração ao Dia do Maçom, realizei palestra em minha própria Loja, ARLS Tríplice Aliança n. 341 de Mongaguá, SP, em sessão conjunta como a ARLS XI de agosto n. 656 de Itanhaém, representada pelo seu Venerável Mestre irmão Jefferson Nogueira Dias.

 Sob o comado do Venerável Mestre irmão Osvaldo Takakura cerca de 50 pessoas entre irmãos, cunhadas, famílias e convidados participaram da apresentação do tema "O caminho da felicidade", palestra que há mais de 20 anos vem emocionando todos os ouvintes.

    A Loja agradeceu me ofertando um mimo, um lindo abajur em formato de esquadro e compasso que foi entregue pelo Delegado Distrital, e por ambos os Veneráveis Mestres. Ao final foi oferecido delicioso coquetel de quitandas e caldos aos presentes.





 

agosto 22, 2023

LEÃOS NÃO COMEM CAPIM



Na crise ou não, você jamais verá um Leão comendo capim.

Na tentativa de matar sua fome, ele tomou um revés com uma patada certeira da girafa. Voltou ferido e de barriga vazia.

Será que no dia seguinte ele desistiu de tentar sair para caçar e preferiu ficar com seus filhotes? Não. Ele tem a certeza que se não sair pra caçar, ele e suas crias morrerão.

Na selva não há espaço pra desanimo. Ou você caça (trabalha), come e vive, ou morre.

Mostrar beija-flor e borboletas é belo e necessário. Mas há muito mais que isso, o outro lado da moeda, que assusta e ninguém quer ver ou fazer. 

Muitos preferem ficar no aconchego da zona de conforto, morrendo aos poucos. A cantiga dos preguiçosos é porque o governo não dá emprego. O governo não é fábrica ou
empreendimento para criar emprego para todo o mundo. 

Só não se esqueça que, independente da sua posição na cadeia alimentar, de uma forma ou de outra, você precisará se alimentar para sobreviver. Seja comendo mel de flores ou carne crua.